Tese Final - Yara Salvador PDF
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Trabalho de Licenciatura
Declarao De Honra
Declaro que este trabalho da minha autoria e resulta da minha investigao. Esta a
primeira vez que o submeto para obter um grau acadmico numa instituio
educacional.
_________________, Aos _____ de __________________ de _________________
Aprovao Do Jri
Este trabalho foi aprovado no dia ______ de ___________ de 20___ por ns, membros
do jri examinador nomeado pela Faculdade de Economia da Universidade Eduardo
Mondlane.
Presidente __________________________________
Supervisor __________________________________
Arguente ___________________________________
Dedicatria
Em memria do meu pai, que esteve ao meu lado nos meus primeiros passos da vida
dando fora, a minha me que incansavelmente esteve ao meu lado, aos meus queridos
amigos e colegas de faculdade. Obrigado por tudo que fizeram por mim nestes 4 anos de
faculdade, a eles dedico o meu trabalho com muito carinho e amor.
ii
Agradecimentos
1. Agradeo a Deus por ter me dado o dom da vida, e por ter iluminado o meu
caminho dando muita fora, olhando por mim sempre.
2. minha famlia, em particular a minha Me Gilberta, as minhas tias Percina,
Martinha, Incia, Lusa e ao meu tio Lazro que tudo fizeram para que me
dedicasse aos estudos e concretiza-se o meu sonho.
3. Aos meus primos e amigas Iara e Milena que sempre deram-me fora e
ajudaram-me a vencer esta batalha.
4. As minhas colegas de carteira e amigas que sempre estiveram batalhando pelos
mesmos sonhos e ajudando-me a no desistir mesmo quando o caminho era
rduo, dando apoio para manter-me firme e acreditar em mim, nomeadamente:
Catarina, Deyzes, Lavnia, Shaiza, Drcia e Naila.
5. Ao meu supervisor, Professor Doutor Benjamim Alfredo, pela pacincia,
dedicao e pela excelente orientao para tornar possvel este trabalho de
licenciatura.
6. Ao corpo docente da Faculdade de Economia que apoiaram na formao.
7. Ao Sr. Marcos Miguel e Sr. Rafique pela pacincia e pela disponibilizao de
material crucial para o meu estudo.
8. Aos fiscais dos mercados escolhidos e aos presidentes das Associaes por
terem dado o suporte necessrio para o estudo.
De modo geral, agradecer a todos que contriburam nesta longa caminhada para o
meu estudo. Agradeo por tudo.
iii
Lista de Abreviaturas
AT Autoridade Tributria de Moambique.
CMCM Conselho Municipal da Cidade de Maputo.
DAFs Direces de reas Fiscais.
ICE Imposto de Consumo Especifico.
INE Instituto Nacional de Estatitstica.
IRPC Imposto sobre Rendimento de Pessoas Colectivas.
IRPS Imposto sobre Rendimento de Pessoas Singulares.
ISPC Imposto Simplificado para Pequenos Contribuintes.
IVA Imposto sobre Valor Acrescentado.
OIT Organizao Internacional do Trabalho.
PIB Produto Interno Bruto.
PRE Programa de Reabilitao Econmica.
iv
Sumrio
Foco de Pesquisa: O presente trabalho tem como tema O Imposto Simplificado Para
Pequenos Contribuintes no Sector Informal sua insero. Pretende-se demonstrar
que se o ISPC for implementado para os operadores econmicos informais pode trazer
benefcios palpveis tanto para o Estado como para os prprios operadores econmicos
informais, fazendo com que estes possam passar a categoria de operadores formais com
todos os benefcios que esse estatuto lhes trar.
Mtodos de Pesquisa: O trabalho de pesquisa realizou-se utilizando mtodos de
pesquisa bibliogrfica, pesquisa documental, pesquisa de levantamento e estudo de
caso. Com base numa amostra no probabilstica fez-se um levantamento de dados
atravs de questionrios destinados aos operadores econmicos informais dos mercados
Zimpeto, Xipamanine, Central, Xiquelene, Estrela Vermelha e do Peixe.
Principais concluses e recomendaes: Verifica-se que a implementao do Imposto
Simplificado para Pequenos Contribuintes est numa fase de crescimento e que este
imposto uma forma de formalizar as actividades do sector informal, tornando este
sector contribuinte das Receitas Fiscais.
Nota-se uma fraca cidadania fiscal por parte dos operadores econmicos informais, por
um lado por falta de conhecimento das suas vantagens em ser contribuinte, e por outro
lado pela falta de rendimentos suficientes para o seu pagamento. Embora, haja uma
grande disparidade entre os mercados, em mdia verificam se cerca de 60% dos
operadores informais que actuam nos mercados da cidade de Maputo ainda no pagam
os impostos por acharem que sofreram uma reduo nos seus lucros.
Deste modo, recomenda-se principalmente as seguintes aces:
vi
INDICE
Declarao De Honra
Aprovao Do Jri
Dedicatria
Agradecimentos
Lista de Abreviaturas
Sumrio
I.
INTRODUO
1.1.
Problema De Pesquisa
1.2.
Hipteses
1.3.
Objectivos Do Trabalho
1.3.1. Objetivo Geral
1.3.2. Objectivos Especficos
1.4.
Metodologia
1.4.1. Tipo de Pesquisa
1.4.2. Delineamento da Pesquisa
1.5.
Justificao da Escolha do Tema
1.6.
Estrutura do Trabalho
II. REVISO DE LITERATURA
2.1.
Conceitualizao Sector Informal
2.2.
Diferenas entre o Sector Formal e Sector Informal
2.3.
Caractersticas do Sector Informal
2.4.
Expanso do Sector Informal em Moambique
III. SISTEMA TRIBUTRIO MOAMBICANO
3.1.
Perodo antes da Independncia
3.2.
Perodo data de Independncia
3.3.
Perodo aps a Independncia
3.4. O Imposto Simplificado para Pequenos Contribuintes
3.4.1. Regime Jurdico
3.4.2. Natureza e mbito
3.4.2. Excluso da Aplicao do IVA, IRPS e IRPC
IV. ANLISE E AVALIAO DO SECTOR INFORMAL NO ISPC E O IMPACTO
NAS RECEITAS FISCAIS.
4.1. Anlise do Imposto Simplificado para Pequenos Contribuintes
4.1.1. Vantagens
4.1.2. Desvantagens
4.2. Discusso de Resultados
V. CONCLUSES E RECOMENDAES
5.1. Concluso
5.2. Recomendaes
V.I. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
ANEXOS
i
i
ii
iii
iv
v
1
3
4
4
4
4
5
5
5
7
8
9
9
12
14
16
19
19
21
23
28
28
29
29
31
31
31
31
39
41
41
42
44
i
I. INTRODUO
O sector informal abrange uma vasta gama de actividades no mercado de trabalho que
combinam dois grupos de natureza diferente. Por um lado, este sector formado por
famlias que desenvolvem actividades econmicas de sobrevivncia, e, por outro, o
sector informal um produto do comportamento racional de empresrios que desejam
escapar das suas obrigaes fiscais.
Em Moambique, registam-se altos nveis de pobreza aliados s altas taxas de
analfabetismo. Grande parte da populao jovem e desempregada, razo pela qual se
verifica uma tendncia de propagao da actividade informal. As regras aplicadas pelos
operadores destes mercados baseiam-se no princpio da oferta e da procura que se
assume como uma regulamentao do mercado, com operaes de pequena escala e de
propriedade familiar. Porm, este sector encontra vrias dificuldades no mercado, com
realce para a dificuldade de obteno de crditos bancrios dado que, os operadores
informais no tm muita credibilidade no mercado financeiro dada a precariedade e a
vulnerabilidade da sua actividade.
Sabe se que o Estado tm como funo e fim a satisfao das necessidades colectivas,
tais como segurana e ordem pblica, acesso educao e sade, e construo de infraestruturas econmicas e sociais, bem como a garantia da estabilidade macroeconmica
para que o Estado alcance os objectivos tendentes a criao do bem-estar social, este
necessita de arrecadar receitas e estas podem ser fiscais, patrimoniais, donativos e
emprstimos pblicos.
Apesar da colecta destas receitas, o Estado ainda est muito aqum de reunir os fundos
suficientes para fazer face as despesas pblicas, pelo que a contribuio dos operadores
econmicos informais com o pagamento dos impostos seria de grande utilidade,
podendo alargar de forma significativa a base tributria, factor que ajudaria no
melhoramento do desempenho do Oramento do Estado.
1.1.
Problema De Pesquisa
E, porque o Estado atende as necessidades colectivas no mbito dos seus fins e funes
e como agente re-distribuidor da riqueza, utiliza o seu poder de soberania para arrecadar
a receita pblica afim de afecta-la a despesa pblica, sendo esta receita maioritariamente
Ver tabela 2 em anexo extrado do INE, O Sector Informal em Moambique: Estudos Temticos. Maro
de 2009. Maputo. Pp 22.
obtida atravs da colecta dos impostos impe-se, pois que se encontre mecanismos
visando a arrecadao de impostos aos operadores do sector informal.
1.2.
Hipteses
1.3.
Objectivos Do Trabalho
Descrever
Imposto
Simplificado
para
Pequenos
Contribuintes,
1.4.
Metodologia
2
3
b) Amostra
A pesquisa no abrange toda a populao devido a sua amplitude, deste modo o estudo
ter duas amostras nomeadamente: uma amostra que est direccionada para as
entrevistas e outra amostra direccionada aos questionrios.
c) Colecta de Dados
Para que os objectivos do trabalho sejam alcanados, usou-se os seguintes mtodos e
tcnicas:
d) Anlise de Dados
Para anlise e interpretao dos dados, utilizou-se ferramentas informticas como o
Microsoft Excel com o objectivo de facilitar os clculos estatsticos necessrios para
inferir concluses sobre a amostra escolhida, o que permitiu testar as hipteses
definidas.
1.5.
1.6.
Estrutura do Trabalho
o processo de sensibilizao e informao dos direitos e deveres de cidado para poder exerc-los
em sua plenitude, visando uma melhor qualidade de vida para toda a populao.
http://www.educacaoliteratura.com.br/index%20169.htm, extrado no dia 26 de Junho de 2012 s 10:23h
Trabalho de Licenciatura - Yara Lcia Salvador
A definio de Vito Tanzi, citada por Abreu (1996:3) o sector informal o produto
nacional bruto que por causa da sua no declarao ou declarao abaixo da realidade,
no medido pelas estatsticas oficiais. Os dois importantes grupos de factores que
criam uma economia subterrnea so os impostos (carga fiscal e contribuies para
segurana social) e as restries (leis, regulamentaes, licenas e barreiras). Por um
lado, os operadores deste sector incorrem com custos altos para aquisio das
mercadorias e por ausncia de informao sentem que pagando os impostos so mais
custos a incorrer, e por outro lado a falta de honestidade dos operadores ao declarar os
seus rendimentos para serem tributados concorre para uma medio nas estatsticas
oficiais incorrecta a realidade.
O relatrio do Banco Mundial (1990:137), define o sector informal como sendo um
sector onde operam pequenas empresas dirigidas pelo proprietrio e que no se
encontram dentro do contexto regulamentar oficial.
Claude de Miras (1991), define o sector informal como o "conjunto de actos
econmicos mercantis que escapam s normas legais em matria fiscal, social, laboral
ou de registo estatstico e que engloba a pequena produo mercantil, o pequeno
comrcio, os mercados paralelos e as actividades financeiras informais; so actividades
realizadas geralmente a uma escala reduzida, com tecnologias adaptadas, com
competncias frequentemente adquiridas fora do sistema formal de ensino, com recurso
a mo-de-obra intensiva e no assalariada, as mais das vezes realizadas como forma de
obteno dos recursos indispensveis sobrevivncia dos agentes econmicos e
respectivas famlias".
Segundo Chichava (1998:6), alguns autores buscam a sua base de definio do sector
informal em aspectos jurdico-legais (os que definem o sector informal como fora da lei,
ilegal, clandestina, subterrnea, etc.), outros olham para os aspectos estatsticos - legais
(sector informal como aquele que caracterizado por actividades no registadas nas
contas nacionais). Outros autores do nfase aspectos econmicos (sector informal
como uma economia secundria, alternativa, marginal, etc.), ou aqueles que,
politicamente, vm o sector informal como uma alternativa de desenvolvimento.
Trabalho de Licenciatura - Yara Lcia Salvador
10
11
2.2.
O Sector Informal difere do Sector Formal em alguns aspectos, alguns dos quais so
citados por 2 autores abaixo mencionados.
Segundo Navalha (2000:17), uma actividade que no proibida por lei, a entidade que
pratica pode estar no Sector Formal se:
Tiver procedido ao seu registo;
Tiver obtido o devido licenciamento;
Produzir e prestar informao contabilstica;
Prestar informao estatstica segundo a norma;
Pagar imposto.
Enquanto uma actividade no proibida por lei a entidade que a pratica pode estar no
Sector Informal se:
No tiver procedido ao seu registo;
No tiver obtido licenciamento;
No prestar informao contabilstica;
No prestar informao estatstica;
No pagar impostos.
Sector Formal
Sector Informal
De fcil entrada;
Empresa capitalista;
Empresa famliar;
12
mas
qualquer
muito
controle
A sua produo est reflectida nas Contas A sua actividade no expressa pelas
Nacionais;
Contas Nacionais;
Baseado em contratos rgidos e no Os acordos informais, verbais, funcionais
funcionais;
e flexveis;
Mundo
dominado
machismo.
por
13
De salientar que quando se refere ao sector informal, algumas das diferenas que este
apresenta ao sector formal o facto de no ter uma regulamentao, ser uma empresa
familiar o que torna o volume de capitais reduzido, a inexistncia de uma contabilidade
organizada, nmero de trabalhadores reduzido e no cumprimento das obrigaes
fiscais.
Sendo assim, ser que pode se assumir que uma empresa que esta registada e tem a
regulamentao organizada, somente por no obedecer as obrigaes fiscais pertence ao
sector informal ou ao sector formal?
Esta questo merece a devida ateno por parte das autoridades competentes, pois na
sociedade existem regras e todas elas tem que ser cumpridas. Contudo, a empresa ao
assumir as suas obrigaes fiscais, j tem a contabilidade organizada, a sua
regulamentao esta organizada, os seus trabalhadores provavelmente esto a aumentar,
isto mostra que esta empresa pertence ao sector formal.
2.3.
O sector informal tem servido como tbua de salvao para muitos moambicanos, pois
serve como forma de sobrevivncia as dificuldades que eles encontram no dia-a-dia.
Neste contexto, o sector informal em Moambique hoje um conjunto de operadores
dinmicos e economicamente agressivos que buscando a sua sobrevivncia, tem
ocupado e proporcionado rendimentos alternativos muitas famlias moambicanas.
Pela sua importncia e dinmica, vale a pena referir algumas das suas caractersticas
(CHICHAVA 1998:18):
Existe em quase todo o Pas mas com maior intensidade nos centros urbanos;
14
No tem horrios fixos, nem dias fixos de trabalho, o que torna-o sempre til
qualquer momento;
15
2.4.
Abreu, S. E. Abreu A. 1996. O Sector informal em Mocambique: Uma abordagem Monetria. Staff
16
Nos anos 80, o pas encontrava-se mergulhado numa grande falta de bens de consumo
devido a crises econmicas que o Pas atravessava, o que de certa forma contribuiu para
o desenvolvimento de mercados paralelos e para subida dos preos dos bens essenciais.
Esta crise aumentou a vulnerabilidade das famlias mais pobres. O consequente
incremento da sua fraca capacidade de sobrevivncia neste perodo, exigia a procura das
mais diversas estratgias para fazer face ao dia a dia. O nvel de degradao econmica
e social das populaes sofreu um aceleramento ao longo dos anos 80 e durante a
dcada de 90, devido7:
Situao de guerra e a economia ps guerra, que levou a destruio de unidades
produtivas e consequente migrao da populao para os centros urbanos;
Regresso ao pas dos deslocados imigrantes retornados dos pases vizinhos e da
ex-repblica Democrtica Alem, o que dificultou o enquadramento dos
imigrantes em termos de emprego;
Privatizaes que levaram ao despedimento de muitos trabalhadores, facto que
criou um aumento considervel do nmero de desempregados que no tendo
solues ingressam para as actividades do sector informal.
Por um lado, a questo da informalidade aumentou por factores referenciados acima,
mas segundo o INE (2009:63), olha para a informalidade como uma questo que
devida ao tipo de instituies, ou regras estabelecidas e dominantes na sociedade
moambicana. Assim, a maior ou menos informalidade resulta, por um lado, das
barreiras que dificultam ou impedem as pessoas de exercer com eficcia e eficincia as
suas actividades econmicas, com vista a melhorarem o seu bem-estar e aumentarem a
sua proteco social. Por outro lado, a informalidade ilegtima deriva da fraqueza e
Cruz, Teresa. 2005. A organizao dos trabalhadores do sector informal dos mercados de Maputo e sua
17
dificuldade das instituies, em impor uma legalidade eficiente atravs dum combate
explcito impunidade.
Com a introduo do Programa de Reabilitao Econmica (PRE) d-se um mpeto ao
desenvolvimento das actividades informais na economia. O PRE deu origem a um
amplo e profundo processo de reformas institucionais e de todo modelo da economia de
Moambique, permitindo que a economia informal sasse da clandestinidade a que
estava remetida, essencialmente por imposio legal e determinao poltica do Estado.
Os programas de aco social introduzidos pelo Estado a partir de finais de 1980, que
vieram a constituir os programas de proteco social para apoio s populaes mais
desfavorecidas no pas, bem como os programas ligados aos planos de aco na
estratgia nacional de reduo da pobreza, introduzidos ao longo da dcada de 1990, so
manifestamente insuficientes para conter os efeitos das crises econmica e social que o
pas atravessava, situao agravada pelas cheias que afectaram as zonas sul e centro em
2000 e 2001.8
O termo sector informal inicialmente utilizada para se referir a actividades ilegais ou
ilcitas, popularmente designadas por candonga (que significa actividade ilegal ou
ilcita) ou dumba nengue (uma expresso que em Tsonga, falado no sul de
Moambique, significa textualmente: confia nas tuas pernas), para alm de outras
expresses utilizadas ao longo do pas, em lnguas locais, o conceito sector informal,
enquadra os novos tipos de actores que operando na rea do comrcio, no so
reconhecidos pelos regulamentos vigentes, e por isso so reprimidos pelas autoridades
policiais, no exerccio das suas actividades. Apesar destas circunstncias, hoje, esse
mesmo termo utilizado na linguagem das organizaes, agncias doadoras e governo,
e representa formas novas ou ajustadas do exerccio da actividade comercial, resultantes
das experincias da guerra e ps-guerra, e influenciadas pelo processo de liberalizao
da economia (Bowen, 2000:23).
8
Cruz, Teresa. 2005. A organizao dos trabalhadores do sector informal dos mercados de Maputo e
18
III.
3.1.
Segundo Ibraimo (2002), mesmo antes da chegada dos portugueses j existia o imposto
em Moambique e era pago em forma de roupa, gado, escravos e outros bens. Mas uma
das principais evidncias da existncia do imposto em Moambique, foi com o
surgimento dos prazos da Zambzia, em que utilizou o tributo tradicional pela primeira
vez.
Segundo alguns historiadores, citados por Ibraimo (2002), o vale do Zambeze em
meados do sc. XVII estava organizado politicamente e tradicionalmente por vrios
chefes em cada regio. O governador do distrito era designado por mambo que era
assistido por um chefe local npfumu, e pelo chefe das povoaes. Uma das
atribuies do pfumu era de cobrar o imposto.
Dentro dos prazos, todos os habitantes estavam sujeitos ao pagamento de um imposto
anual designado por mussoco, que era pago como forma de afirmar o poderio do
mambo sobre a terra. O contedo, a taxa e o montante do mussoco atribudo a cada
famlia no era fixo nem estabelecido, variava de prazo a prazo e de regio para regio.
Os camponeses atravs do mussoco, renda em gneros, canalizavam parte dos seus
excedentes agrcolas para a elite dos prazos, sendo, muitas das vezes, utilizados para
alimentao. Com a penetrao crescente do capitalismo colonial, o mussoco passou a
ser cobrado em trabalho e, depois, em dinheiro, o que exprime uma mudana profunda
nas relaes sociais de produo.9
Segundo Carlos Serra (2000:318), o imposto de palhota foi introduzido ao abrigo do
decreto de 9 de Julho de 1982 e cobrado luz do Regulamento do Imposto de Palhota
de 30 de Julho de 1892. Os proprietrios das palhotas situadas no interior ficavam
obrigados ao pagamento anual de 900 Reis por palhota utilizada como habitao. Nos
dois primeiros anos, o imposto de palhota podia ser cobrado em dinheiro ou gnero, mas
9
SERRA, Carlos (2000). Historia de Mocambique, Volume 1. Livraria Universitria. Maputo. Pp 318.
19
20
3.2.
Segundo Ibraimo (2002), nesta poca vigorava um sistema tributrio adequado aos
objectivos do Estado que estava dimensionado as necessidades oramentais deste
mesmo Estado. Para tal, estava organizado um sistema administrativo adequado e
dotado de pessoal apropriado, convenientemente treinado.
21
Era um sistema fiscal com uma legislao complexa e quase inacessvel grande
maioria dos contribuintes, e no respeitava os princpios de justia social10, onde todos
deviam pagar impostos independentemente da sua condio social e financeira.
Para Ibraimo (2002), o Estado Portugus em Moambique tinha um oramento que
integrava as receitas por um lado e as despesas por outro lado. E, a tabela de despesas
procurava responder s necessidades dos gastos do Estado na altura.
Para fazer face as despesas, o Estado Portugus tinha uma tabela de receitas correntes
alimentada em 82% pelas receitas fiscais. O conjunto das receitas destes impostos
equilibrava o oramento corrente do Estado Portugus em Moambique.
De acordo com Ibraimo (2002), os impostos indirectos por exemplo como o imposto de
consumo e direitos aduaneiros, tinham algumas taxas proteccionistas para a importao
de produtos que aparentemente eram suprfluos e taxas mais pesadas para outros
produtos considerados essenciais para consumo da populao, mas que beneficiavam se
de taxas aduaneiras preferenciais, quando importadas de certos pases.
O sistema fiscal data da independncia caracterizava se por11:
10
Critrio de Justia Social, (i) permitia uma tributao diferenciada de rendimentos de trabalho e de
capital, a sua personalizao progressiva do imposto, Ibraimo Ibraimo 2002 pp 99 e (ii) ... visa garantir
uma justa repartio dos rendimentos e da riqueza artigo 90 da Constituio da Repblica de
Moambique de 2004.
11
22
industriais e comerciais;
este por sua vez eram sujeitos a imposto quando auferidos por pessoas
singulares, nacionais ou estrangeiras, que em Moambique exerciam qualquer
actividade por conta de outrem ou por conta prpria;
3.3.
12
Imposto uma prestao coactiva, pecuniria, definitiva e unilateral, estabelecida por lei, sem caracter
de sano, a favor do estado, para realizaao de fins pblicos (Ibraimo 2002)
23
13
24
aces nas reas de formao de preos, de taxas de cmbio, de poltica fiscal e outras
estruturais e administrativas visando melhorar a eficincia dos agentes econmicos,
aumentar o abastecimento e a produo, ajudar a restabelecer o equilbrio financeiro.
Dentre estas aces pretendia se algumas alteraes legislao fiscal.
Com esta reforma fiscal, revogou-se a Resoluo 5/1977 pela Lei 3/1987, que passou a
fixar os novos princpios em que o sistema tributrio devia assentar se com o objectivo
de aumentar a elasticidade das receitas em relao ao crescimento do Produto Interno
Bruto (PIB) e alargar a base tributria.
O sistema tributrio definido na Lei 3/1987 integrava impostos directos e indirectos. A
tributao directa dos rendimentos era feita com base no seguinte sistema de impostos14:
14
25
Imposto sobre valor acrescentado, que incide sobre o valor das transmisses de
bens e prestaes de servios realizados no Pas;
26
27
28
29
Os sujeitos passivos do ISPC que aufiram outros rendimentos, para alm de redimentos
classificados como da Segunda Categoria tais como rendimentos prediais, rendimentos
de capitais do IRPS, so tributados em ISPC apenas relativamente aos rendimentos
desta categoria, devendo os restantes rendimentos serem declarados para efeitos de
tributao em IRPS.
30
4.1.1. Vantagens
4.1.2. Desvantagens
31
32
a) Aplicao do ISPC
Quanto ao sector informal no possvel fazer uma anlise da adeso do ISPC uma vez
que a AT no os tm devidamente identificado no sistema, pois no grupo de sujeitos
passivos pagantes deste imposto esto inclusos, sem distino alguma tanto os
operadores econmicos informais como as pequenas e mdias empresas registadas
(portanto as consideradas formais). Contudo com base nos dados do INE no inqurito
do sector informal de 2005, conclui-se que h uma maior percentagem de trabalhadores
do sector informal (75,2%) do que o sector formal (7.9%), o que a partida a haver uma
adeso massiva dos operadores informais ao pagamento do ISPC fariam uma diferena
substancial e positiva nas receitas do Estado.
Nota-se uma falta de conhecimento e de divulgao das leis que faz com que muitos dos
operadores informais paguem impostos sem saber o que esto a pagar e quanto devem
pagar, e em alguns casos sem saberem que ao pagar a prestao de um servio esto a
pagar um imposto que posteriormente lhes ser til.
De acordo com o Inqurito informal levado a cabo pelo INE em 2006, a percepo dos
operadores informais nas zonas urbanas de Moambique mais de 2/3 dos operadores
informais, 68%16 tm esperana que o Estado possa ajudar para o melhoramento das
condies em que praticam as suas actividades, como por exemplo, melhoramento das
condies sanitrias, melhoramento dos espaos de venda e oficializao de alguns
mercados para dar continuidade aos seus negcios. Alguns dos operadores informais,
salientam que devido a reduo do poder de compra de alguns clientes e a expanso
deste sector nos ltimos anos os seus rendimentos decresceram drasticamente.
Estas constataes so confirmadas atravs do inqurito feito pelo INE em 2006, em
que os clientes tm a tendncia de decrescerem em 50%17, e consequentemente os seus
lucros tem decrescido tambm em 54%18.
16
33
Constatou se que com a aplicao do ISPC em 2009 migraram para este sistema 486
contribuintes e no ano seguinte migraram 425 contribuintes. Entretanto, para o ano 2009
foram registados 9.040 contribuintes e cobrada uma receita no valor 2,1 milhes de
meticais. No ano de 2010 foram registados 33.130 contribuintes e cobrada a receita de
23,6 milhes de meticais. E no ano de 2011 foram registados 46.341 contribuintes e
cobrada a receita de 48,1 milhes de meticais. O nmero de contribuintes e o valor
cobrado o total de todas as regies do pas, e nota-se que a maioria dos contribuintes
prefere o modelo de pagamento de 3% em relao ao pagamento de 75.000 Mt.19
Alguns dos operadores econmicos informais preferem o modelo de pagamento de 3%,
por um lado por ser trimestral o valor a pagar e por outro lado, por pensar que ao pagar
trimestralmente nunca vo chegar ao valor anual de 75.000 Mt, porm podem at
ultrapassar esse valor.
Para melhor apuramento de um imposto necessrio que exista um documento de
suporte que a factura de compra e venda, acompanhado de um registo em cada
transaco, mas a Administrao no dispe de capital humano e financeiro para o
redimensionamento das reas fiscais para um controlo mais eficiente aos contribuintes
que violam as leis, facilitando a fuga ao fisco.
O intervalo de idade dos inquiridos dentro dos mercados analisados est entre 18 aos
47 anos de idade. Constata-se que em alguns mercados mais de 50% so mulheres
vocacionadas venda de alimentos j confeccionados, com excepo do mercado
Estrela e Xiquelene. Nestes mercados, predomina maioritariamente operadores
econmicos informais jovens do sexo masculino vocacionados a venda de
acessrios de carro, material de construo e alguns electrodomsticos que por vezes
19
34
ii.
Nvel de Escolaridade
iii.
Motivaes na actividade
35
iv.
Concesso de crditos
Para este sector a concesso de crdito o maior problema para o incremento dos
seus negcios. Este grupo tem enfrentado muitas dificuldades na sua insero no
mercado, isto por falta de capital inicial, e muitas vezes recorrem mais a
emprstimos familiares ou entre os prprios vendedores com base nas boas relaes
existentes. Isto porque, este sector no tem garantias reais para contrapartida o que
lhes dificulta a concesso de crditos por parte das instituies financeiras.
v.
36
devido controlo, mas alguns usam os cadernos de recibos20 que ajuda tanto aos
operadores como a Autoridade Tributria quando vo declarar os seus rendimentos
nas finanas.
vi.
Taxas pagas
Em relao as taxas afirmam que pagam uma taxa fixa que depende do tipo de
negcio, espao que o mesmo ocupa e que podem em alguns casos pagar
diariamente como mensalmente ao Conselho Municipal, as taxas dirias variam
entre 3 Mt 100 Mt e as taxas mensais variam entre 200 Mt 1500 Mt. No caso da
barraca ser alugada, paga-se uma taxa mensal ao proprietrio pelo valor do
arrendamento do imvel que variam de 1.000 Mt 2.000 Mt.
vii.
Nota-se que muito dos operadores informais pagam o imposto e as taxas sem saber
para e porqu deste pagamento, o que faz com que estes estejam insatisfeitos com o
facto de estarem a pagar algo que no vm qual o seu benefcio. Alis, uns pagam
por serem condies impostas pelos mercados para continuar dentro deles, e outros
pagam por saber realmente quais os benefcios que tem ao cumprir os seus deveres
como cidados. Verifica-se que a maioria no paga o ISPC com excepo do
mercado Zimpeto e Central que tem conscincia de quanto importante o
pagamento deste imposto, no obstante aos outros mercados que alegam no ter
condio para o pagamento do imposto e sentirem desvantagem em paga l.
20
Ver anexo D
37
viii.
Algumas das condies criadas hoje em dia nos mercados, foram financiadas pelos
comerciantes para seu melhoramento.
Entretanto, para uma implementao do ISPC eficaz h que comear por avaliar as
infra-estruturas existentes nos mercados neste caso, e conclui-se que melhorando as
condies dos mercados h uma maior possibilidade de satisfazer os operadores
econmicos informais, o que implica mudana de comportamento dos contribuintes.
Nota-se que, a maioria dos operadores econmicos informais querem sentir se
prestigiados e desta forma eles sentem necessidade de ajudar o pas a crescer.
Trabalho de Licenciatura - Yara Lcia Salvador
38
Contudo, a baixa taxa de cumprimento fiscal no nosso pas como os dados mostram que
59% no paga os impostos, agravada pela percepo vigente, que tanto as empresas
como os indivduos, que o pagamento de impostos lhes traz poucas vantagens em
termos de servios pblicos. Para alm disso, tendem a considerar que o custo da fuga
dos impostos e o risco de serem responsabilizados so baixos, o que corri a
legitimidade do sistema, uma vez que os contribuintes individuais e as empresas que
pagam, os seus impostos se queixam de uma tributao injusta, quando vem outros que
no cumprem as suas obrigaes.
Entretanto, com base na anlise feita nos mercados escolhidos conclui-se que a maior
parte dos operadores econmicos informais conseguem acumular rendimentos
considerveis por forma a ajudarem no aumento de receitas do estado, porm os
operadores econmicos tornam-se relutantes ao pagamento do imposto por vrios
motivos, nomeadamente:
Trabalho de Licenciatura - Yara Lcia Salvador
39
40
V. CONCLUSES E RECOMENDAES
5.1. Concluso
O sector informal tem contribuindo de forma significativa em Moambique para criao
de emprego, aliviando deste modo as famlias mais vulnerveis, porm importante que
o Governo regule esta actividade.
Com a anlise feita atravs do estudo de caso constatou-se que, o Sector Informal vem
crescendo de forma desordenada, isto porque, a medida que vai operando vai
aumentando a sua rea de servios, ampliando as instalaes mas sem perspectivas, pois
a qualquer momento pode deixar de existir, tanto por razes legais (por determinao
das autoridades legais competentes), como por razes meramente operacionais (o
espao tornar se insuficiente para continuar com o negocio). Esta instabilidade faz com
que o investimento, por exemplo na ampliao das instalaes, seja apenas para
acomodar as necessidades do negcio sem nenhum cuidado com outros factores, como
as exigncias ambientais, a postura camarria da zona onde se faz a obra
(particularmente no caso das cidades) e o ordenamento territorial no geral. Porm, a
medida que o tempo vai passando sem que haja interveno das autoridades
competentes, os operadores vo ampliando os seus negcios e quando chegar a vez de
serem removidos o problema poder ter contornos sociais mais graves com a
necessidade de indemnizao dos operadores provavelmente, para alm da imagem
desagradvel que apresenta perante os cidados que praticam esta actividade para sua
sobrevivncia.
O Imposto Simplificado para Pequenos Contribuintes vem para tornar o sector informal
pagante de um imposto contribuindo de forma significativa para as Receitas Fiscais. A
aplicao deste imposto tem tido algumas dificuldades, particularmente na insuficincia
recursos humanos por parte da AT para o registo dos contribuintes em diversas regies
ainda no abrangidas, o que torna moroso o processo de arrecadao de contribuintes.
41
5.2. Recomendaes
Para melhoramento das medidas de implementao do Imposto Simplificado para
Pequenos Contribuintes, alargando deste modo a base tributria recomenda-se:
5.2.1. Melhoria da gesto do ISPC nos operadores econmicos informais
Maior controlo por parte dos fiscais dos mercados quanto ao nmero de
contribuintes dentro do mercado e se estes esto a cumprir com as suas
obrigaes fiscais;
42
Para maximizao das colectas fiscais, a Administrao Fiscal deve criar postos
de cobrana mveis nos circuitos com maior fluxo de modo a facilitar o
pagamento dos impostos por parte dos contribuintes;
43
44
http://www.multiculturas.com/angolanos/carlos_lopes_sector_informal.htm
consultado no dia 18 de Maro as 22:17;
MINISTRIO DAS
FINANAS,
TANZI Vito. (1982). The underground economy in the United States and
abroad. D.C. heath and company. Usa. Pgs. 69-81 E 103-105.
45
LEGISLAO
46
ANEXOS
ANEXO A: Tabelas e Figuras
ii
iv
vii
ANEXO E: Questionrio
xv
xvi
Homem
Niassa
Cabo Delgado
Nampula
Zambzia
Tete
Manica
Sofala
Inhambane
Gaza
Maputo Provncia
Maputo Cidade
Total
474.5
764.0
1,847.7
1,802.8
741.7
616.3
774.9
624.7
586.8
499.2
531.4
9,264.0
Mulher
Total
515
861.7
1,793.4
1,940.1
757.5
704.3
844.9
808.4
771
614.8
557.2
10,168.0
989.5
1,625.7
3,641.1
3,742.9
1,499.2
1,320.6
1,619.8
1,433.1
1,357.8
1,114.0
1,088.6
19,432.0
Tipo de Actividade
Total da fora de
Geogrfica
Informal
Formal
Desempregados
trabalho
Norte
78.7
4.2
17.1
100.0
Centro
80.8
6.8
12.4
100.0
Sul
61.3
14.2
24.4
100.0
Total
75.2
7.9
17.0
100.0
ii
iii
iv
vi
vii
Total de
Inscries
Novas
Inscries
Imigrados
para o ISPC
Receita
Cobrada em
Mil Meticais
SUL
2227
2106
121
757.68
CENTRO
3805
3635
170
1.040.70
NORTE
3008
2813
195
306.43
Total
9040
8554
486
2.104.81
75.000
3%
Iseno
SUL
Total de
Inscries
2227
27
2093
107
CENTRO
3805
15
3539
251
NORTE
3008
20
2971
17
Total
9040
62
8603
355
Ano de 2010
Tabela 3 Numero de Sujeitos Passivos que Iniciaram Actividade
Regio
Total de
Inscries
Novas
Inscries
Imigrados para
o ISPC
Receita
Cobrada em
Mil Meticais
SUL
16730
16689
41
8.290.04
CENTRO
10778
10425
353
11.605.61
NORTE
5622
5591
31
3.734.32
Total
33130
32705
425
23.629.97
viii
Total de
Inscries
75.000
3%
Iseno
SUL
16730
16645
83
CENTRO
10778
10253
516
NORTE
5622
5600
20
Total
33130
13
32498
619
ix
ANEXO E: Questionrio
Questionrio aos operadores econmicos informais
1. Nome: _________________________________________________________
2. Sexo: ______________________.
3. Idade: ____________________
4. Grau de Escolaridade:
Primria Incompleta
Primaria Completa
Secundria Geral
Mdio Superior
xi
Provncias de Maputo (
15. O seu negcio melhorou desde que pagam o imposto ou no? Se sim o que
melhorou? Se no, o que aconteceu?
________________________________________________________________
________________________________________________________________
________________________________________________________________
________________________________________________________________.
xiii
________________________________________________________________
________________________________.
xiv
xv
xvi