Implementacao Do ISPC em Mocambique

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UNIVERSIDADE SÃO TOMÁS DE MOÇAMBIQUE

MESTRADO EM DIREITO TRIBUTÁRIO

MÓDULO: IMPOSTOS SIMPLIFICADO PARA PEQUENOS

CONTRIBUINTES (ISPC)

TEMA:

IMPLEMENTACAO DO ISPC EM MOCAMBIQUE (LICOES PARA O FUTURO)

Discentes: Docente:
Edson Marcolino Manuel Muhabe
Jusuina Rumbane
Leila Tubias
Milude Zunguze

Maputo, Março de 2023


Índice

1. Introdução............................................................................................................................2

2. Conceitualização..................................................................................................................3

2.1. Sector informal.............................................................................................................3

2.2. Diferenças entre o Sector Formal e Sector Informal.....................................................4

2.3. Características do Sector Informal................................................................................4

3. O Imposto Simplificado para Pequenos Contribuintes (ISPC).............................................5

3.1. Contextualização..........................................................................................................5

3.2. Regime Juridico............................................................................................................5

3.3. Natureza e Ambito Juridico..........................................................................................6

3.4. Exclusão da Aplicação do IVA, IRPS e IRPC...............................................................6

4. Implementação do ISPC em Moçambique...........................................................................7

4.1. Vantagens.....................................................................................................................7

4.2. Desvantagens................................................................................................................8

5. Conclusões...........................................................................................................................9

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...............................................................................10

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1. Introdução

Em Moçambique o sector informal abrange uma vasta gama de actividades no mercado


de trabalho que combinam dois grupos de natureza diferente. Por um lado, este sector é
formado por famílias que desenvolvem actividades económicas de sobrevivência, e, por
outro, o sector informal é um produto do comportamento racional de empresários que
desejam escapar das suas obrigações fiscais.

Actualmente registam-se níveis muito altos de pobreza aliados às altas taxas de


analfabetismo. Grande parte da população é jovem e desempregada, razão pela qual se
verifica uma tendência de propagação da actividade informal. As regras aplicadas pelos
operadores destes mercados baseiam-se no princípio da oferta e da procura que se
assume como uma regulamentação do mercado, com operações de pequena escala e de
propriedade familiar. Porém, este sector encontra várias dificuldades no mercado, com
realce para a dificuldade de obtenção de créditos bancários dado que, os operadores
informais não têm muita credibilidade no mercado financeiro dada a precariedade e a
vulnerabilidade da sua actividade.

Tendo em conta que o sector informal é um dos sectores que gera rendimentos elevados
e contém um grande número de operadores económicos informais que não se encontram
registados formalmente, e através da sua actividade existe matéria colectável que escapa
ao fisco o que implica, ao Estado a perda de muita receita comprometendo assim, a sua
função e fim. Por isso, a implementação de um imposto, ou a inserção dos informais
como sujeitos passivos do imposto para os pequenos operadores, traria um benefício
para o Estado, pelo menos em matéria de colecta de um volume de receitas ajudando
também no alargamento da base tributária. Para os operadores deste sector a curto
prazo, tem a possibilidade de obter créditos bancários, ajudando-lhes a ampliar os seus
negócios e a longo prazo tem como benefícios a construção de escolas, hospitais,
melhoramento das condições sanitárias e outras infra-estruturas.

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2. Conceitualização

2.1. Sector informal

O relatório do Banco Mundial (1990:137), define o sector informal como sendo um


sector onde operam pequenas empresas dirigidas pelo proprietário e que não se
encontram dentro do contexto regulamentar oficial.

Claude de Miras (1991), define o sector informal como o "conjunto de actos


económicos mercantis que escapam às normas legais em matéria fiscal, social, laboral
ou de registo estatístico e que engloba a pequena produção mercantil, o pequeno
comércio, os mercados paralelos e as actividades financeiras informais; são actividades
realizadas geralmente a uma escala reduzida, com tecnologias adaptadas, com
competências frequentemente adquiridas fora do sistema formal de ensino, com recurso
a mão-de-obra intensiva e não assalariada, as mais das vezes realizadas como forma de
obtenção dos recursos indispensáveis à sobrevivência dos agentes económicos e
respectivas famílias".

A definição de Vito Tanzi, citada por Abreu (1996:3) o sector informal é o produto
nacional bruto que por causa da sua não declaração ou declaração abaixo da realidade,
não é medido pelas estatísticas oficiais. Os dois importantes grupos de factores que
criam uma economia subterrânea são os impostos (carga fiscal e contribuições para
segurança social) e as restrições (leis, regulamentações, licenças e barreiras). Por um
lado, os operadores deste sector incorrem com custos altos para aquisição das
mercadorias e por ausência de informação sentem que pagando os impostos são mais
custos a incorrer, e por outro lado a falta de honestidade dos operadores ao declarar os
seus rendimentos para serem tributados concorre para uma medição nas estatísticas
oficiais incorrecta a realidade.

No entanto, existem aspectos em que os autores convergem, na medida em que neste


sector há produção de bens e serviços para auto-consumo e, também a produção para a
comercialização. Por sua vez, este sector torna-se uma forma de fuga ao fisco por estes
não estarem registados, o que torna difícil a sua tributação

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2.2. Diferenças entre o Sector Formal e Sector Informal

O Sector Informal difere do Sector Formal em alguns aspectos, alguns dos quais são
citados por 2 autores abaixo mencionados.

Segundo Navalha (2000:17), uma actividade que não é proibida por lei, a entidade que
pratica pode estar no Sector Formal se:

 Tiver procedido ao seu registo;


 Tiver obtido o devido licenciamento;
 Produzir e prestar informação contabilística;
 Prestar informação estatística segundo a norma;
 Pagar imposto.

Enquanto uma actividade não proibida por lei a entidade que a pratica pode estar no
Sector Informal se:

 Não tiver procedido ao seu registo;


 Não tiver obtido licenciamento;
 Não prestar informação contabilística;
 Não prestar informação estatística;
 Não pagar impostos.

2.3. Características do Sector Informal

O sector informal tem servido como tábua de salvação para muitos moçambicanos, pois
serve como forma de sobrevivência as dificuldades que eles encontram no dia-a-dia.
Neste contexto, o sector informal em Moçambique é hoje um conjunto de operadores
dinâmicos e economicamente agressivos que buscando a sua sobrevivência, tem
ocupado e proporcionado rendimentos alternativos à muitas famílias moçambicanas.
Pela sua importância e dinâmica, vale a pena referir algumas das suas características
(CHICHAVA 1998:18):

 É formado por pequenas unidades económicas e familiares;


 É de fácil entrada e integração mas com muitos riscos de se extinguir;

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 É um mercado competitivo mas irregular, e sem exclusividade no exercício de
actividades;
 Emprega mão-de-obra barata, jovem, e com predominância do sexo feminino em
certas actividades como venda de produtos hortícolas, vegetais e outros produtos
agrícolas, confecção de comida, comes e bebes, cabeleireiro, etc.;
 A formação profissional é reduzida ou inexistente, privilegiando-se as práticas
de aprendizagem no processo de trabalho;
 Não existe qualificação académica alguma, bastando às vezes, o grau de
argumentação e malandrice perante as autoridades e os colegas;
 Normalmente, pratica preços mais competitivos que o do sector formal mas, às
vezes, é o seu sistema flexível de venda ao retalho (consoante a procura) que o
torna preferido pelas famílias mais carentes;

3. O Imposto Simplificado para Pequenos Contribuintes (ISPC)

3.1. Contextualização

O ISPC surge no contexto do alargamento da base tributária, a experiência adquirida na


aplicação do IVA, IRPS e IRPC, ditou a necessidade de se criar um imposto
simplificado em termos do cumprimento das obrigações fiscais, para pequenos
contribuintes, bem como da necessidade de estimular as micro e pequenas empresas a
cumprirem com as suas obrigações fiscais e atrair os operadores do sector informal para
a tributação;

O Imposto Simplificado para Pequenos Contribuintes aplica-se às pessoas singulares ou


colectivas que desenvolvam, em território nacional, actividades agrícolas, industriais ou
comerciais, tais como a comercialização agrícola, o comércio ambulante, o comércio
geral a grosso, a retalho e misto, e o comércio rural, incluindo em bancas, barracas,
quiosques, cantinas, lojas e tendas bem como a prestação de serviços de pequena
dimensão.

3.2. Regime Juridico

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Havendo necessidade de introduzir no sistema tributário um imposto simplificado para
pequenos contribuintes, com o objectivo de reduzir os custos de cumprimento das
obrigações tributárias e os encargos de fiscalização e controlo através da simplificação
dos procedimentos, propiciando, assim, o alargamento da base tributária, a Assembleia
da República, ao abrigo do disposto no nº2 do artigo 127, conjugado com a alínea o) do
nº2 do artigo 179, ambos da Constituição, determinou a criação do Imposto
Simplificado para Pequenos Contribuintes que passou a fazer parte do sistema tributário
nacional.

3.3. Natureza e Ambito Juridico

O Imposto Simplificado para Pequenos Contribuintes é um imposto directo que se


aplica às pessoas singulares ou colectivas que exercem, no território nacional, as
actividades agrícolas, industriais ou comerciais, de pequena dimensão, incluindo a
prestação de serviços.

Para efeitos deste imposto, consideram-se actividades de pequena dimensão, aquelas


cujo volume de negócios anual é igual ou inferior a 2.500.000,00MT.

O ISPC é pago anualmente a uma taxa de 75.000,00MT, alternativamente, é aplicada a


taxa de 3% sobre o volume de negócio desse ano. Os sujeitos passivos que optam pela
primeira vez pelo ISPC, beneficiam-se da redução da taxa de imposto em 50% no
primeiro ano do exercício da sua actividade15.

A tributação dos sujeitos passivos no Imposto Simplificado para Pequenos


Contribuintes é de carácter optativo, pois estes podem optar por pagar outros tipos de
impostos já referenciados como por exemplo o IVA

3.4. Exclusão da Aplicação do IVA, IRPS e IRPC

Para os sujeitos passivos que optem pela tributação em ISPC, sobre as transmissões de
bens e prestações de serviços que realizem não há lugar ao Imposto sobre Valor
Acrescentado e, sobre os rendimentos obtidos, não incide Imposto sobre Rendimentos
das Pessoas Singulares ou Imposto sobre Rendimento da Pessoas Colectivas, todos
previstos na Lei nº15/2002, de 26 de Junho.

Os sujeitos passivos do ISPC que aufiram outros rendimentos, para além de redimentos
classificados como da Segunda Categoria tais como rendimentos prediais, rendimentos
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de capitais do IRPS, são tributados em ISPC apenas relativamente aos rendimentos
desta categoria, devendo os restantes rendimentos serem declarados para efeitos de
tributação em IRPS.

4. Implementação do ISPC em Moçambique

Este imposto foi criado há sensivelmente 3 anos como forma de tornar o sector informal
contribuinte das receitas do Estado, evitando deste modo a fuga ao fisco e a evasão
fiscal. De notar porém que, para algumas pequenas empresas, até o ISPC poderá ser um
imposto pesado porque esta taxa de 3% aplica-se ao volume de vendas, e não aos
rendimentos ou lucros. O risco que se coloca é que muitas empresas informais, em
especial as que têm rendimentos variáveis de um ano para o outro continuarão a ter
incentivos para evitar o registo no ISPC.

Constatou se que com a aplicação do ISPC em 2009 migraram para este sistema 486
contribuintes e no ano seguinte migraram 425 contribuintes. Entretanto, para o ano 2009
foram registados 9.040 contribuintes e cobrada uma receita no valor 2,1 milhões de
meticais. No ano de 2010 foram registados 33.130 contribuintes e cobrada a receita de
23,6 milhões de meticais. E no ano de 2011 foram registados 46.341 contribuintes e
cobrada a receita de 48,1 milhões de meticais. O número de contribuintes e o valor
cobrado é o total de todas as regiões do país, e nota-se que a maioria dos contribuintes
prefere o modelo de pagamento de 3% em relação ao pagamento de 75.000 Mt.19

Alguns dos operadores económicos informais preferem o modelo de pagamento de 3%,


por um lado por ser trimestral o valor a pagar e por outro lado, por pensar que ao pagar
trimestralmente nunca vão chegar ao valor anual de 75.000 Mt, porém podem até
ultrapassar esse valor.

Nem todo o sector informal e as pequenas empresas se encontram dentro deste regime
fiscal, porém o seu crescimento tem ido de encontro com as expectativas da Autoridade
Tributária. E este imposto tem as seguintes vantagens e desvantagens:

4.1. Vantagens

 Os pagamentos deste imposto são feitos trimestralmente;


 A contabilidade do contribuinte não precisa ser totalmente organizada;

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 No 1º ano do seu pagamento, o contribuinte tem redução de 50% no valor a
pagar;
 Os procedimentos são simples para tornar se contribuinte deste imposto;
 Possibilidade de adquirir o recibo para melhor controle de suas vendas;
 Serve de caminho para que os operadores do sector informal façam parte de um
regime tributário.

4.2. Desvantagens

 Dos 89 inquiridos 57% não tem informação dos benefícios deste imposto;
 A taxa é aplicada ao volume de vendas do operador informal;
 Falta de honestidade por parte dos operadores económicos informais ao declarar
os seus rendimentos nas finanças.

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5. Conclusões

O sector informal tem contribuindo de forma significativa em Moçambique para criação


de emprego, aliviando deste modo as famílias mais vulneráveis, porém é importante que
o Governo regule esta actividade, foi neste ambito que foi concebido o imposto
simplificado para pequenos contribuintes.

O Imposto Simplificado para Pequenos Contribuintes vem para tornar o sector informal
pagante de um imposto contribuindo de forma significativa para as Receitas Fiscais. A
aplicação deste imposto tem tido algumas dificuldades, particularmente na insuficiência
recursos humanos por parte da AT para o registo dos contribuintes em diversas regiões
ainda não abrangidas, o que torna moroso o processo de arrecadação de contribuintes.

Apesar de existir uma disparidade entre os mercados, em média, verifica se cerca de


60% dos operadores económicos informais que actuam nestes mercados da cidade de
Maputo ainda não pagam os impostos por sentirem uma redução nos seus lucros, o que
dificulta o aumento das receitas ficais para o melhoramento do orçamento do Estado.

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6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 ABREU, S. E. Abreu A. (1996). O Sector informal em Mocambique: Uma


abordagem Monetária. Staff Paper (5). Banco Moçambique. Maputo
 HICHAVA, J. (1998). O Sector Informal e as Economias Locais, Ministério de
Administração Estatal. Maputo
 NAVALHA, Felisberto.(2000). Captação de Poupanças no Sector Financeiro
Informal Urbano. Tese de Licenciatura em Economia. Faculdade de Economia.
Maputo
 TANZI Vito. (1982). The underground economy in the United States and abroad.
D.C. heath and company. Usa. Págs. 69-81 E 103-105.

LEGISLAÇÃO

 Constituição da República de Moçambique. Escolar Editora. Maputo,


Moçambique. 2004.
 Lei nº 15/2002 de 26 de Junho. Estabelece os princípios de organização do
Sistema Tributário da República de Moçambique, define as garantias e
obrigações do contribuinte e a da administração tributária, e revoga a Lei nº
3/87, de 19 de Janeiro e a Lei nº 8/88, de 21 de Dezembro.
 Lei nº 5/2009 de 12 de Janeiro. Aprova o Código do Imposto Simplificado para
Pequenos Contribuintes.
 Decreto nº 14/2009 de 14 de Abril. Aprova o Regulamento do Imposto
Simplificado para Pequenos Contribuintes.

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