Texto Narrativo - 10º F
Texto Narrativo - 10º F
Texto Narrativo - 10º F
“Na verdade, a escrita não é uma técnica e não se constrói um poema ou um conto como se
faz uma operação aritmética. A escrita exige sempre a poesia. E a poesia é um outro modo
de pensar que está para além da lógica que a escola e o mundo moderno nos ensinam. É uma
outra janela no nosso olhar sobre as coisas e as criaturas. Sem a arrogância de as
tentarmos entender. Só a ilusória tentativa de nos tornarmos irmãos do universo.
Não existem fórmulas feitas para imaginar e escrever um conto. O meu segredo (e que vale
só para mim) é deixar-me maravilhar por histórias que escuto, por personagens com quem
cruzo e deixar-me invadir por pequenos detalhes da vida quotidiana. O segredo do escritor
é anterior à escrita. Está na vida, está na forma como ele está disponível a deixar-se tomar
pelos pequenos detalhes do quotidiano.
O conto é feito com pinceladas. É um quadro sem moldura, o início inacabado de uma
história que nunca termina. O conto não segue vidas inteiras. É uma iluminação súbita sobre
essas vidas. Um instante, um relâmpago. O mais importante não é o que revela mas o
sugere, fazendo nascer a curiosidade cúmplice de quem lê. No conto o que é importante não
é tanto o enredo mas o surpreender em flagrante a alma humana. No conto (como em
qualquer género literário) o mais importante não é o seu conteúdo literário mas a forma
como ele nos comove e nos ensina a entender não através do raciocínio mas do sentimento
(será que existem estas categorias, assim separadas ?).”
Uma palavra de conselho e um conselho sem palavras
Mia Couto
O conto é um tipo de narrativa que se opõe, pela extensão, quer à novela, quer ao
romance. De facto, é sempre uma narrativa pouco extensa e a sua brevidade tem
implicações estruturais: reduzido número de personagens; concentração do
espaço e do tempo, acção simples e decorrendo de forma mais ou menos
linear.
ORIGEM
Embora o conto seja hoje uma forma literária reconhecida e utilizada por inúmeros
escritores, a sua origem é muito mais humilde. Na verdade, nasceu entre o povo
anónimo. Começou por ser um relato simples e despretensioso de situações
imaginárias, destinado a ocupar os momentos de lazer. Um contador de histórias
narra a um auditório reduzido e familiar um episódio considerado interessante. Os
constrangimentos de tempo, a simplicidade da assembleia e as limitações da
memória impõem que a "história" seja curta. Essas mesmas circunstâncias
determinam, como já vimos, a limitação do número de personagens, a sua
caracterização vaga e estereotipada, a redução e imprecisão das
referências espaciais e temporais, bem como a simplificação da acção.
Estrutura
Fruto da sua origem oral, os contos têm quase sempre uma estrutura muito
simples e fixa. As próprias fórmulas inicial ("Era uma vez...") e final ("...e foram
felizes para sempre.") revelam isso. Essa estrutura pode ser traduzida da seguinte
forma:
Personagens
Tempo e espaço
Simbologia
Nos contos tradicionais existe uma imensa simbologia: dizem mais do que
parecem dizer. A manifestação mais evidente é a referência sistemática ao número
três, símbolo da perfeição desde tempos imemoriais. Mas há mais... A rosa
aparece como símbolo do amor puro e total. O beijo desperta e faz renascer. A
heroína é frequentemente a mais nova (e por isso a mais pura e inocente) e
afirma-se por oposição às irmãs mais velhas e mesmo aos pais. O herói quase
sempre tem que enfrentar uma série de provas antes de alcançar o objecto -
símbolo do amadurecimento que fará dele um homem. Outras vezes sai da casa
paterna em busca da autonomia.
NARRATIVA
Comunicação literária
O que faz do homem aquilo que ele é, um ser distinto de todos os demais seres
vivos, é a linguagem, a capacidade de comunicar com os outros homens, partilhando
com eles todo o tipo de informação. Pela linguagem o homem é capaz não apenas de
comunicar (transmitir e receber informações), mas também, e principalmente, de
recolher e tratar dados, elaborando a informação que transmite. Em suma, graças à
linguagem, o homem é capaz de pensar e de comunicar. Pensamento e linguagem estão,
portanto, indissoluvelmente ligados. Podemos dizer que não há pensamento sem
linguagem, nem linguagem sem pensamento,
A Literatura é uma forma particular de comunicação, provavelmente tão antiga
como o homem. Também aqui encontramos um emissor (autor) e um receptor (leitor) e
uma mensagem (a obra literária), que circula de um para o outro.
Géneros literários
Categorias da narrativa
Narrativa
Obs.: O traço cheio representa o acto comunicativo real, pelo qual um autor produz uma obra literária
destinada a ser lida pelos leitores, enquanto as linhas tracejadas representam o acto comunicativo virtual
que é a narração.
Narrador
Presença
NARRADOR PARTICIPANTE
Autodiegético O narrador identifica-se com a personagem
principal. A narração é feita na 1ª pessoa
Homodiegético O narrador identifica-se com uma personagem
secundária. A narração é feita na 1ª pessoa.
NARRADOR NÃO PARTICIPANTE
Heterodiegético O narrador é totalmente alheio aos acontecimentos
que narra. A narração é feita na 3ª pessoa.
Acção
S1 S2 S3 S4 S5 S6 Sn
A B A
A B A B A
Personagens
Relevo
Assume um papel central no desenrolar da acção e por
Personagem principal ou protagonista
isso ocupa maior espaço textual.
Participa na acção, sem no entanto desempenhar um papel
Personagem secundária
decisivo.
Não tem qualquer participação no desenrolar da acção,
Figurante cabendo-lhe apenas ajudar a compor um ambiente ou
espaço social.
Composição
É dinâmica; possui densidade psicológica, vida interior, e por
Personagem redonda ou modelada
isso surpreende o leitor pelo seu comportamento.
É estática; caracteriza-se por possuir um conjunto limitado de
traços que se mantêm inalterados ao longo da narração.
Personagem plana ou desenhada Frequentemente assume a forma de personagem-tipo, na
medida em que representa determinado grupo social ou
profissional.
Representa um conjunto de indivíduos, que age como se fosse
Personagem colectiva
movido por uma vontade única.
Destinador Entidade ou força superior que permite (ou não) ao sujeito alcançar o objecto.
Personagem ou entidade sobre quem recaem os benefícios ou malefícios da
Destinatário
decisão do destinador.
Sujeito Personagem ou entidade que procura alcançar determinado objecto.
Objecto Personagem, entidade ou aquilo que o sujeito procura alcançar.
Adjuvante Personagem ou entidade que ajuda o sujeito a alcançar o objecto.
Oponente Personagem ou entidade que dificulta a obtenção do objecto por parte do sujeito.
Espaço
Sempre que quiser produzir um texto narrativo, deverá proceder de forma faseada,
tomando opções que orientarão o processo de escrita.
Assim, propõe-se a adopção da seguinte metodologia de trabalho:
FASE A
1. Definição de um tema-título (intriga de acção, de espaço, de personagem,…).
2. Proposta das linhas gerais da história baseada nesse tema-título.
3. Construção da intriga e dos seus pontos-chave, seguindo a lógica apresentada:
a) uma situação inicial;
b) um factor de desequilíbrio;
c) um ponto culminante na intriga;
d) um desenlace que retoma nova situação de equilíbrio.
4. Localização da acção no espaço e no tempo, que podem ser
descritos/caracterizados, de acordo com a sua importância na história.
5. Concepção e caracterização das personagens (personagens principais e
secundárias; personagens planas, redondas; traços físicos e psicológicos).
6. Determinação das relações a estabelecer entre as personagens (coadjuvantes,
oponentes).
7. Orientação da narrativa segundo momentos narrativos, descritivos, dialogais e,
eventualmente, com situações de monólogo.
8. Opção por um tipo de narrador (presente/ausente no discurso; com/sem relação
explícita com o narratário; participante/não participante; crítico/não crítico
relativamente ao que vai narrando).
9. Recurso a estratégias de linguagem relacionadas com a adequação do registo de
língua, utilização correcta dos tempos verbais (Pretérito Imperfeito, Pretérito
Perfeito, Pretérito Mais-Que-Perfeito, Condicional), articuladores (temporais,
adversativos, causais, consecutivos…) e recursos estilísticos.
FASE B
1. Segmentação do texto em parágrafos, segundo a lógica de progressão textual
adoptada na fase anterior (distribuição do ponto 3 por parágrafos).
2. Textualização de acordo com as opções tomadas, atendendo
a) à coerência lógica das acções;
b) à coesão da escrita;
c) às especificidades dos diferentes modos de expressão;
d) à correcção linguística (ortografia, acentuação, pontuação,
morfossintaxe
e) selecção vocabular
FASE C
1. Revisão do texto, atentando
a) à organização esquematizada (lógica das acções narradas, segmentação
por parágrafos);
b) à correcção linguística do texto.
FASE A
1. Definição do tema-título que vai ser descrito (normalmente associado a espaços,
paisagens, períodos temporais, retratos, imagens, produtos resultantes de uma
sucessão de acções, comparações).
2. Adopção de uma perspectiva ou ponto de vista face à descrição a fazer: subjectiva
(reflectindo o ponto de vista do emissor)/objectiva (transmitindo informação
factualmente comprovável).
3. Observação - sem observação não há descrição; é preciso confrontar a realidade
a descrever com a que se encontra no papel. A observação implica os cinco sentidos
(vista, ouvido, olfacto, gosto e tacto). Observados os pormenores, seleccionam-
se aqueles que melhor caracterizam a realidade a descrever.
4. Esquematização do plano da descrição pela:
a) enumeração das partes constitutivas do tema-título;
b) associação de características/propriedades a cada uma dessas partes;
c) definição de campos de descrição/observação: sectores (direita,
esquerda, superior, inferior…); planos (primeiro, segundo…, de
fundo);
d) construção de relações adequadas à expansão descritiva
(comparações,
metáforas, metonímias, relações de palavras, estruturas modificadores);
e) escolha do ponto e da ordenação da descrição/observação (estático/
dinâmico; geral/de pormenor).
FASE B
1. Elaboração de um primeiro registo escrito que dê conta:
a) de uma ordenação no processo de descrição;
b) de uma impressão de conjunto da realidade a descrever;
c) da descrição pormenorizada das partes e das características mais
individualizantes (formas, matéria, cheiro, sons, cor, brilho, etc.), tendo
em atenção o recurso a:
estruturas nominais;
estruturas adjectivas ou outras equivalentes na função de
expansão e modificação da entidade a ser descrita;
processos estilísticos sugestivos para a descrição (recurso a
comparações,
metáforas, adjectivação, sinestesias…);
d) de uma conclusão que utiliza outros dados considerados relevantes
ou que corresponde a uma apreciação final de conjunto face à entidade
descrita;
e) da natureza factual da entidade descrita (predominando o tempo
verbal do presente) ou da dimensão ficcional dessa entidade
(predominando o pretérito imperfeito).
FASE C
Revisão do texto, atentando:
a) à organização esquematizada (ordenação da descrição, segmentação
por parágrafos);
b) à correcção linguística do texto.
GUIÃO DE VERIFICAÇÃO NA
SIM NÃO
PRODUÇÃO DE UM TEXTO NARRATIVO
Antes de redigir o texto
• Defini o tema-título
• Esquematizei as linhas gerais da acção imaginada
• Situei a acção num determinado espaço e tempo
• Imaginei uma situação inicial marcada pelo equilíbrio
• Inventei um acontecimento perturbador do equilíbrio
inicial
• Propus um conjunto de peripécias retardadoras do
desenlace
• Construí um momento auge para o conflito
• Determinei a situação final – o desenlace
• Concebi as personagens,
a) atribuindo-lhes um determinado relevo na história
b) segundo um determinado tipo de comportamento
c) estabelecendo relações entre elas
• Construí um esquema organizador do texto
Ao redigi-lo
• Apoiei-me nas opções e no plano concebido
• Construí uma introdução
a) com a indicação da situação inicial da história .
b) com a opção por uma determinada perspectiva de
narrador .
• Produzi o desenvolvimento
a) em função da lógica narrativa concebida
b) tendo em conta um fio condutor claro e coerente
c) atendendo às características das personagens e às
relações que para elas estabeleci .
d) não esquecendo os momentos-chave que predefini
e) seguindo uma sequência temporal e espacial
• Fechei o texto com um desenlace adequado
• Preocupei-me com a adequação
a) do registo de língua
b) dos tempos verbais
c) dos articuladores
d) dos recursos estilísticos utilizados
• Respeitei as especificidades dos diferentes modos de
expressão (narração, descrição, diálogo, monólogo)
No final da produção escrita
• Verifiquei a disposição lógica do texto
• Atentei na correcção linguística
a) da ortografia
b) da pontuação
c) da acentuação
d) da sintaxe
e) da selecção vocabular
FIG.1
TEXTO NARRATIVO
DESENVOLVIMENTO – momento de
avanço que conta a acção propriamente
dita; partindo de um equilíbrio, gera-se
um desequilíbrio que se continua por
uma reacção das personagens que
encontram uma solução.
CARACTERÍSTICAS DA
NARRAÇÃO: