Literatura Infantil: Primeiros Passos À Eterna Juventude

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LITERATURA INFANTIL: PRIMEIROS PASSOS À ETERNA JUVENTUDE1

Eliandro Gimi Ramos Coelho2

RESUMO

O presente artigo trará um panorama histórico-cultural centrado nos primeiros


passos da Literatura Infantil universal. Dos contos orais e suas lições para a
vida à literatura moderna e repleta de criatividade e didática, irá se trilhar,
mesmo que sucintamente, buscando uma visão relevante acerca deste mundo
fantástico e maravilhoso que encanta, não somente as crianças, mas também
todo aquele que permite a entrada do sonho e da fantasia, para que a literatura,
de um modo abrangente, construa um caminho livre de obstáculos e
emoldurado por pensamentos positivos e puros, assim como é o inocente
coração dos mais jovens.

PALAVRAS-CHAVE

Literatura Infantil, Real, Maravilhoso, fantasia, crítica social.

1 INTRODUÇÃO

O real e o imaginário, o possível e o impossível, o bem e o mal, enfim, toda a

dualidade inerente ao ser humano, se faz presente desde os primórdios, assim como nossa

necessidade de comunicação e conhecimento. Alicerçado nessas bases, permanecer-se-á

buscando a felicidade, não somente nossa, mas de todo o gênero humano, ao menos era
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Artigo desenvolvido sob encomenda
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Acadêmico do curso de Letras Português / Inglês, UNISUL Araranguá / SC

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assim que deveria ser. É com essas máximas que se tem o início da Literatura Infantil,

surgida primeiramente com narrativas orais, e posteriormente com as fábulas, as quais

apresentam um narrador (pensador) de maior escalão chamado Esopo. Sabe-se que ele foi

um escravo libertado e, embora tivesse uma estranha aparência (fala-se que era corcunda),

possuía o dom da palavra e uma habilidade singular em contar estórias, onde os

personagens eram animais e suas estórias sempre findavam com lições morais.

Essa nata sabedoria de Esopo, tempos a frente influenciaria e encantaria outro

mestre das fábulas, La Fontaine, que também foi de suma importância ao quadro literário

universal. O mesmo La Fontaine (1668), definiu assim Esopo: “Acho que deveríamos

colocar Esopo entre os grandes sábios de que a Grécia se orgulha, ele que ensinava a

verdadeira sabedoria, e que a ensinava com muito mais arte que os que usam regras e

definições”.

Dentre todos os autores e “estórias sem pai”, vale relatar as influências das fontes

indo-européias do mundo mágico da fábula, em que comporta títulos de relevância como

Calila e Dimna, As mil e uma noites, Sendebar, Barbaan e Josafat, entre outras. No campo

de autores temos Mme. D’Aulnoy, Fénelon, Charles Perrault, sendo estes, escritores

pioneiros do mundo literário infantil, tal como hoje se conhece.

2 A REALIDADE VERSUS O MARAVILHOSO

Na busca constante da felicidade, muitas vezes o homem se encontra em uma

batalha por tempos injusta, em que deve escolher um caminho que não lhe traga

sofrimento e nem mesmo derrota. Desbravar e enfrentar o real, ou flutuar suavemente

pelo maravilhoso e o fantástico?


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Quantas vezes o ser humano está diante desse questionamento, e quantas vezes

mais busca-se na razão o que deveria ser uma escolha de sentidos, emoção. Na literatura,

não é diferente, pois os autores, e por conseguinte as personagens, por tempos muitos

carregam essa grande carga de responsabilidade; enfrentar o Real ou entregar-se ao

Maravilhoso

Essa guerra entre o Real e o Maravilhoso está também inserida no universo da

Literatura Infantil. Alguns autores dosam, às vezes, mais de um elemento que de outro, ou

pesam exatamente iguais, para assim, amenizar o efeito catártico em seus leitores,

promovendo então, uma suavidade no sofrimento de uma estória de final trágico.

Dentre os vários autores que escreviam com esse estilo de “luta entre bem e mal”,

encontramos Hans C. Andersen, que pesava e media a ternura e a realidade crua em seus

escritos, construídos em duas fontes: a da literatura popular conservada pela tradição oral

ou em manuscritos, e da vida real que se apresentava a sua frente. Em oposição ao método

de trabalho de Andersen, os Irmãos Grimm, ao que consta, extraiam todas as suas

narrativas recolhidas e adaptadas de variada tradição oral. As diferenças não estacionam

nesse ponto, enquanto Andersen, muitas vezes chocava com tanto sofrimento e realismo,

os Grimm, derramavam ternura e maravilhas emotivas aos turbilhões.

Segundo COELHO (1991), por detrás do “maravilhoso” que existe nas estórias,

percebe-se o espírito romântico-liberal denunciando que o mal que se abate sobre os

homens é forjado pelo próprio homem, e não por seres fantásticos e/ou sobrenaturais.

3 LOBO EM PELE DE CORDEIRO

Que a pena é mais forte que a espada, sabe-se há tempos, e é por este motivo que

uma das grandes armas da literatura se apresenta pelo fruto dessa pena. Algumas das mais
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importantes obras da literatura universal tem como rótulo o de Literatura Infantil, mas

pondo-se a dissecar tais obras, encontra-se uma contundente crítica social e de valores, em

que, os autores mascaram seus ataques com enredos maravilhosos e umedecidos por

ternura. As obras que valem ser citadas são: Viagens de Gulliver, de Jonathan Swift;

Robison Crusoé, de Daniel Defoe; Dom Quixote, de Miguel de Cervantes; Alice no país

das maravilhas, de Lewis Carrol e David Copperfield, de Charles Dickens.

Certamente há outras interessantes obras, mas não se aterá nelas, buscar-se-á então

relatar características, com breves considerações, das citadas acima.

Swift, segundo COELHO (1991), era mais agressivo e amargo do que seu

contemporâneo Defoe, e Swift se notabilizou por sua mordacidade crítica e seus panfletos

violentos e cruéis contra a política inglesa imperante. Os realistas, Carrol e Dickens,

tinham estilos diferentes; enquanto o primeiro relatava o sentido mágico, do maravilhoso

ou do absurdo encontrado num cotidiano comum e prosaico, o outro, como bom realista,

punha em suas obras a vivência sofrida e humilhante das crianças e mulheres, onde ele

próprio passou por uma dura experiência, a quase escravidão da classe menos favorecida

que trabalhava nas fábricas que faziam a revolução industrial. Miguel de Cervantes,

Imbuído de um profundo sentido do Real oposta à Fantasia, e também


confiante na grandeza humana... faz de D. Quixote o grande símbolo da
humanidade. Com o tempo deixou de ser uma novela espanhola, para
transformar-se em uma obra universal. E essa universalidade explica-se não só
pela criação das duas personagens centrais - D. Quixote e Sancho Pança ( =
representantes dos dois pólos da criatura humana: o idealista e o materialista).
(COELHO, 1991, p. 77)

Caminhando, e sabendo que muito ficou na estrada, finda-se esta parte, buscando

auxílio em ANGELI (1985), que segundo ele, a intenção de Cervantes, ao escrever D.

Quixote, era satirizar a novela de cavalaria, que tinha sido muito popular na Europa e em

sua época enfrentava a decadência. Mas acabou retratando o perfil do homem, dividido

entre a fantasia e a realidade.


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4 MONTEIRO LOBATO: RELEVÂNCIA INCONTESTÁVEL

Formado em Direito, estreou sua carreira literária com Urupês. Nacionalista por

opção, batalhou incessantemente pela saúde pública, pela exploração de nossas riquezas

naturais (ferro e petróleo) e mais ainda pelas liberdades democráticas. Criador de

literatura infanto-juvenil inédita em língua portuguesa, buscava desanexar o Brasil

literário de Portugal, que quase comandava a forma e o estilo da escrita em nosso país.

Além dos contos de Urupês, escreveu Cidades Mortas e Negrinha, também contos.

Com o Jeca tatu, mostrava a miséria física e moral do sertanejo brasileiro. Com

histórias irônicas e pessimistas de cidadezinhas decadentes, descrevia imagens patéticas e

eficazes de abandono e ignorância. É a alma do polemista moral e social que desponta

para a narrativa de ação, didática e polêmica.

A este nacionalista impiedoso coube o fardo de ser, na Literatura Infantil. E

Juvenil, algo como um divisor de águas, separando nosso país no ontem e no hoje, um

Brasil de passado e de presente. Além do senso crítico, que era uma de suas marcas,

Lobato abriu caminho com criatividade; caminho este que a Literatura Infantil tanto

necessitava, não somente para uma leitura prazerosa e de entretenimento, mas ainda mais

uma leitura de pedagogia e didática. Com isso, extraiu pela raiz o mal das convenções

vigentes e estereotipadas, pondo em terra os pensamentos retrógrados e estagnados,

descobrindo horizontes de idéias e formas tão necessárias ao nosso século.

Monteiro Lobato foi o homem que se empenhou na luta pela descoberta e

conquista da brasilidade, ou simplesmente do nacionalismo. Em primeiro plano na

literatura, tanto para adultos quanto para crianças, obras estas que lhe renderam fama e
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prestígio internacional. Num segundo momento, ateve-se a trabalhos no campo político e

econômico.

O criador do Sítio do Pica-Pau Amarelo, teve uma vasta produção na área da

Literatura Infantil e Juvenil, a qual abrange obras originais, adaptações e traduções.

Nas obras originais, encontram-se narrativas aventurescas, encaixam-se situações,

personagens e celebridades que nasceram da invenção de Lobato ou vivem na memória

dos tempos.

Na área das adaptações, Monteiro Lobato buscou um duplo objetivo: por um lado

levar, às crianças, o conhecimento da Tradição; e por outro, questionar as “verdades

feitas”, os valores e não valores que o tempo petrificou, e cabe ao Presente redescobrir

e/ou renovar.

O trabalho de Lobato como tradutor foi de grande fecundidade: através dele

inúmeras obras importantes tornaram-se acessíveis aos leitores brasileiros. Entre os

autores que traduziu para adultos estão: Herman Melville, Mark Twain, Ernest

Hemingway, H. G. Wells, Saint-Exupéry, entre outros.

“Quando olho para trás fico sem saber o que realmente sou. Porque tenho sido

tudo, e creio que minha verdadeira vocação é procurar o que valha a pena ser.” (Monteiro

Lobato, 1928)

4 CONCLUSÃO

Das fábulas de Esopo às críticas sociais inseridas em textos maquiados e

totalmente dotados de fantasia, a Literatura Infantil, como conceito, sabe-se que ultrapassa

os limites aqui expostos, e que talvez não se alcançará nessa vida. Não obstante, os textos
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literários direcionados às crianças ou não, devem ter a mesma preocupação criativa e de

padrões de qualidade não diferentes das do trabalho focado ao adulto. Assim sendo, não se

deve, enquanto escritor, fazer um trabalho menos esmerado, menos lapidado, apenas pelo

fato de se estar escrevendo ao público infantil.

Em consonância com CUNHA (1991), a obra literária para crianças é

essencialmente a mesma obra de arte para o adulto. Difere desta apenas na complexidade

de concepção: a obra para crianças será mais simples em seus recursos, mas não menos

valiosa.

Deixar-se-á, então uma reticência, sabendo-se que todo estudo permanece a mercê da

continuidade. Espera-se, assim, de modo ansioso, novas oportunidades de se pôr em trabalho com o

fantástico, o maravilhoso e por vezes indizível universo da Literatura Infantil...

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANGELI, José. Miguel de Cervantes, Dom Quixote: o cavaleiro da triste figura. São
Paulo, Ed. Scipione, 1985.

COELHO, Nelly Novaes. Panorama histórico da Literatura Infantil / Juvenil. São


Paulo, Ed. Ática, 1991.

CUNHA, Maria Antonieta Antunes. Literatura Infantil, Teoria e Prática. São Paulo,
Ed. Ática, 1991.

GÓES, Lúcia Pimentel. Introdução à Literatura Infantil e Juvenil. São Paulo, Ed.
Pioneira, 1991.

VIANNA, Antônio Carlos. Fábulas de Esopo. Porto Alegre, Ed. L&PM, 1997.

ABSTARCT
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The present article will bring a historical-cultural panorama centered in the


first steps of the universal Infantile Literature. Of the oral stories and your
lessons for the life to the modern and replete literature of creativity and
didacticism, it will walk, even if superficial, looking for an important vision
concerning this fantastic and wonderful world that it enchants, not only the
children, but also all that that allows the entrance of the dream and of the
fantasy, so that the literature, in an including way, build a road free from
obstacles and framed by positive and pure thoughts, as well as it is the
innocent heart of the more youths.

KEYWORDS

Infantile Literature, Real, Wonderful, fantasy, social critic.

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