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Poemas tardios
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E-book145 páginas50 minutos

Poemas tardios

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Sobre este e-book

Amor, perda, tempo, natureza. Vida, morte, renovação. À luz da poesia.
Tarde, muito tarde.
Tarde demais para dançar.
Ainda assim, cante o que puder.
Acenda a luz: cante,
Vá: encante.
Comoventes, lúdicos e sábios, os poemas aqui reunidos falam de ausências e finais, envelhecimento e retrospecção, mas também de presentes e renovações. Eles exploram corpos e mentes em transição, bem como os objetos e rituais cotidianos que nos inserem no presente. Lobisomens, sereias e sonhos surgem ao lado de diferentes formas de vida animal e fragmentos de nosso ambiente danificado.
Poemas tardios reúne muitos dos temas mais reconhecidos e celebrados de Margaret Atwood, permeados por descrições minuciosas do mundo natural, passando por encontros espirituosos com alienígenas, situações triviais e divertidas (como guardar passaportes velhos), questões políticas urgentes, lendas, mitos e a sempre obstinada defesa da mulher.
Mestre da escrita, Atwood nos lembra de viver o momento e não apenas estar vivos. O mais importante, segundo a autora, é aproveitar todos os dias, seja esculpindo lanternas de Halloween em abóboras, fazendo sexo ou simplesmente lembrando-nos de ver os cogumelos de setembro brotarem.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento18 de nov. de 2022
ISBN9786555951561
Poemas tardios
Autor

Margaret Atwood

Margaret Atwood, whose work has been published in more than forty-five countries, is the author of over fifty books, including fiction, poetry, critical essays, and graphic novels. In addition to The Handmaid’s Tale, now an award-winning television series, her works include Cat’s Eye, short-listed for the 1989 Booker Prize; Alias Grace, which won the Giller Prize in Canada and the Premio Mondello in Italy; The Blind Assassin, winner of the 2000 Booker Prize; The MaddAddam Trilogy; The Heart Goes Last; Hag-Seed; The Testaments, which won the Booker Prize and was long-listed for the Giller Prize; and the poetry collection Dearly. She is the recipient of numerous awards, including the Peace Prize of the German Book Trade, the Franz Kafka International Literary Prize, the PEN Center USA Lifetime Achievement Award, and the Los Angeles Times Innovator’s Award. In 2019 she was made a member of the Order of the Companions of Honour in Great Britain for her services to literature. She lives in Toronto.

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    Poemas tardios - Margaret Atwood

    i.

    poemas tardios

    Estes são os poemas tardios.

    A maioria dos poemas está atrasada

    é claro: tarde demais,

    como uma carta enviada por um marinheiro

    que chega depois de ele ter se afogado.

    Tarde demais para serem úteis, tais cartas

    e poemas tardios são semelhantes.

    Chegam como se atravessassem as águas.

    Seja lá o que for, já aconteceu:

    a batalha, o dia de sol, o luar

    atiçando o desejo, o beijo de despedida. O poema

    chega à costa como destroços flutuantes.

    Ou vagaroso, como atrasado para o jantar:

    todas as palavras frias ou comidas.

    Patife, deplorável e aniquilado,

    ou demorar, aguardar, um pouco,

    abandonado, pranteado, aflito.

    Até o amor e a alegria: canções roídas três vezes.

    Feitiços enferrujados. Refrões batidos.

    É tarde, muito tarde

    Tarde demais para dançar.

    Ainda assim, cante o que puder.

    Acenda a luz: cante,

    vá: encante.

    gato fantasma

    Gatos também sofrem de demência. Você sabia?

    Aconteceu com a nossa. Não o preto, esperto o bastante

    para ser neurótico e fugir do veterinário.

    A outra, toda peluda, pedaço de pelúcia.

    Ela se contorcia na calçada

    para pedestres ocasionais, esfregava os bigodes

    nas calças deles, mas não quando começou a perder

    o que poderia ser sua memória. Ela vagava à noite

    pela cozinha, dando uma mordida

    num tomate aqui, num pêssego maduro lá,

    num pão, numa pera passando do ponto.

    É isso que eu deveria comer?

    Acho que não. Mas o quê? Onde?

    Então subia as escadas, com pés de mariposa,

    olhos de coruja, choramingando

    como um pequeno e felpudo trem a vapor: ah-uoo! ah-uoo!

    Tão tonta e esquecida. Ah, quem?

    Arranhando a porta do quarto

    bem fechada diante dela. Me deixa entrar,

    Me dê colo, me diga quem eu era.

    Nada estava bom. Nenhum ronronar. Só insatisfação. Lá fora

    na caverna obscura da sala de jantar,

    entrava e saía, aflita.

    E quando eu ia naquela direção, eriçava o pelo, começava a uivar

    a arranhar as ondas de frequência no ar:

    não importava quem eu dizia ser

    ou o quanto te amo,

    feche a porta. Ponha tela na janela.

    sal

    As coisas eram boas, então?

    Sim. Eram boas.

    Você sabia que eram boas?

    Naquele momento? Na sua época?

    Não, porque eu estava preocupada

    ou talvez com fome

    ou insone, metade do tempo.

    De vez em quando tinha uma pera ou ameixa

    ou uma xícara com algo dentro,

    ou uma cortina branca, ondulando,

    ou até mesmo uma ajuda.

    Talvez a luz suave da lamparina

    naquela tenda antiga,

    sabotando a beleza, a plenitude,

    corpos entrelaçados e chamegando,

    se inflamam e então acaba.

    Miragens, você decide:

    tudo era nunca.

    Embora sobre seu ombro lá esteja,

    seu tempo repousando como piquenique

    sob o sol, ainda reluzindo

    embora seja noite.

    Não olhe para trás, eles dizem:

    você será transformada em sal.

    E, no entanto, por que não? Por que não olhar?

    Não é brilhante?

    Não é bonito, lá atrás?

    passaportes

    Nós os guardamos, como guardamos os cachos

    colhidos nos primeiros cortes de cabelo dos filhos, ou de amantes

    que se foram cedo demais. Aqui estão

    todos os meus, protegidos numa pasta, suas pontas

    cortadas, cada página gravada

    com viagens das quais mal me lembro.

    Por que eu zanzava daqui pr’ali

    ou pra lá? Só Deus sabe.

    E a procissão de fotos fantasmagóricas

    tentando provar que eu era eu:

    o rosto um disco cinzento, olhos de peixe

    capturados pelo flash intenso do meio-dia

    com o olhar emburrado e luminoso

    de uma mulher que acabou de ser presa.

    Em ordem, essas fotos são como um gráfico

    de fases da lua desvanecendo na treva; ou

    como uma sereia condenada a aparecer na costa

    a cada cinco anos, cada vez mais transformada

    em algo um pouco mais morto:

    a pele murchando no ar ressequido,

    o cabelo castanho afinando ao secar,

    amaldiçoada se ela sorrir ou chorar.

    nevasca

    Minha mãe dorme.

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