Sob O Céu De Outono
De Léo Silva
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Sob O Céu De Outono - Léo Silva
Sob o céu de outono
Léo Silva
Sob o céu de
outono
1ª Edição – 2017
Copyright © 2017 by Léo Silva
CC0Foto da capa em domínio público.
Capa: Autumn – Fonte: http://pixabay.com/
O autor da imagem dedicou o trabalho ao domínio público, renunciando a todos os seus direitos sobre o trabalho, em todo o mundo, ao abrigo das leis de direito de autor e/ou de direitos conexos, na medida permitida por lei. Pode copiar, modificar, distribuir e executar o trabalho, mesmo para fins comerciais, tudo sem pedir autorização.
Revisão e supervisão de texto
Suély Gomes
Thiago Cézar de Pádua Rosa
Silva, Léo.
Sob o céu de outono/Léo Silva. – 1.ed. – Bom Jesus do Itabapoana, 2017.
p183.; 14,8 x 21 cm.
ISBN: 978-85-923388-1-7
1. Literatura brasileira. 2. Romance. I. Título
Todos os direitos reservados (Lei 9.610/98). Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida, por qualquer meio, eletrônico ou não, sem a autorização, por escrito, do autor. Os direitos morais do autor foram assegurados.
Para minha mãe, Fátima Maria de Oliveira Silva, a pessoa mais bondosa que tive o prazer de conhecer, e sem a qual não teria sequer uma palavra para dizer hoje. Não canso de agradecer por seu amor incondicional e seus gestos de carinho e de incentivo. Obrigado por saber quando estou triste, e por fazer do silêncio um consolo para toda e qualquer tristeza.
Para Suély Gomes – a primeira pessoa a ler e revisar este texto. Sem suas ideias ele jamais seria o livro que é hoje. Obrigado por ser minha amiga e, uma vez, ter me perguntado o que eu queria para meu futuro.
Amar é ser fiel a quem nos trai.
(Nelson Rodrigues)
Prólogo:
"Nicholas,
Durante muito tempo adiei o que estava prestes a fazer. O que tinha de fazer, mas não queria. Dei voltas dentro do quarto à procura de algo que nem eu mesma sabia o que era; algo que perdi sem saber como ou quando, algo que desconhecia ter até encontrá-lo. Oh, Nicholas, como eu queria ter as certezas que tinha antes de conhecê-lo, antes de tudo!
Demorei a perceber que algumas coisas são inevitavelmente irremediáveis. As pessoas estão constantemente adiando os fatos mais importantes de suas vidas, empurrando-os para mais à frente, para quando julgam que terão mais tempo, mais dinheiro, mais felicidade. Esquecem que jamais terão mais tempo do que agora, que outras coisas virão para lhes tirar o parco tempo que possuem, que dinheiro não compra tempo – nem mesmo todo o dinheiro do mundo é capaz de comprar um minuto a mais de vida quando se tem apenas mais um segundo dela – e, principalmente, que dinheiro não compra felicidade. Sei que estou sendo ridícula ao utilizar-me dessa frase tão batida, mas também sei que ela jamais foi tão verdadeira, para mim ou qualquer outra pessoa sobre a face da Terra.
Não quero cometer o erro de adiar mais uma importante coisa em minha vida. Não quero cometer o mesmo erro que tantas outras pessoas cometem todos os dias, brincando com a própria felicidade como se fossem deuses. Tenho os pés no chão, Nick, apesar de ter a cabeça nas nuvens. Só não sei onde ficou meu coração, posto que não parece mais estar em meu peito. Aliás, também não sei porque ainda estou viva, apesar de, como boa católica que sou, ter a pretensão de dizer que Deus tem planos para mim. Talvez seja simplesmente cuidar dele, tarefa que cumpriria durante toda minha vida sem pensar duas vezes antes de decidir. Mas não posso deixar de pensar em você. Sei que não tenho mais o direito de querer saber qualquer coisa sobre você e suas escolhas, mas tenho a pretensão de fazê-lo. Nicholas, por Deus que desejo que sejas feliz – por você e por mim. Seria egoísmo de minha parte pedir que pensasse em mim de vez em quando, uma vez que penso em você a todo instante? Bobagem. Como poderia pedir algo tão idiota, se eu decidi que seria assim? Não quero pedir que me esqueça, e não posso pedir que se lembre de mim. Estou condenada, Nick.
Sempre soube o preço de minha escolha, ainda que desconhecesse o peso dela. Sempre soube que tudo o que vivíamos era verdadeiro e intenso, mas também demasiadamente frágil para ser chamado de eterno. Até o fio de uma lâmina seria mais seguro para nós. E agora vejo que decidi fazê-lo feliz a tentar fazer-me. Por que é tão mais fácil quando é com os outros?
Uma vez li que o amor sempre possui dois lados, mas na hora nem imaginei que fosse verdade. Acho que sempre enxergamos com mais facilidade o lado que nos conduz à dor e ao sofrimento. Que podemos fazer para chegar ao outro lado, ou para que o outro lado chegue até nós? Nada. Quando começamos a amar alguém me parece que nosso lado já está escolhido, e não podemos fazer nada para mudar isso...
Não quero estender-me em divagações desnecessárias e que só o fariam desistir de ler essa carta. Quero me despedir com a certeza de que faço a coisa certa, pelo menos para ele – ainda que seja o pior para nós. E ele estava tão animado na manhã em que escrevi essa carta para você! Parecia outro, mais disposto, mais vivo, como se fosse capaz de entender algo. Foi exatamente na manhã seguinte do dia em que decidi o que faria. Isso me pareceu uma resposta positiva. Eu decidi por ele, ainda que seja uma escolha por diferentes tipos de amor.
Sinto ter que dizer adeus depois de ter prometido que estaria com você para sempre. Nicholas, eu utilizei-me de algo que não era capaz de entender, muito menos de controlar. Agora vou me arrepender pelo resto da minha vida. Sinto ter enxergado que o amava tarde demais, e que não haveria tempo para o nosso para sempre
. Sinto ter permitido que tantas outras coisas ficassem entre você e eu.
Acredito que essa será, realmente, a última carta que escreverei para você. Perdoe-me por ser também a menos cordial. Nossa estação chegou ao fim.
Adeus, Nicholas. Eu te amo. Sarah"
Capítulo 1
Watkins Glen é uma cidade de menos de cinco mil habitantes, localizada há trezentos quilômetros de Nova York. Todo ano Sarah passa uma semana do inverno e as férias de verão numa fazenda chamada Green Hill, localizado bem perto de Watkins Glen. No inverno de 1996 isso não foi diferente.
Todas as manhãs em Green Hill eram igualmente agradáveis, mesmo as de inverno. Para Sarah, inclusive, talvez as mais frias fossem, também, as mais deliciosas. Adorava passear pelas pastagens com o cachecol envolvendo-lhe o pescoço, sentir o vento gelado tocar-lhe as faces avermelhadas como duas maçãs, e deixar os longos e lisos fios do cabelo escorregar docemente pelas costas, sobre a blusa de lã confeccionada pela avó ou simplesmente caminhar sozinha pela grama baixa, convenientemente aparada pelos empregados. Talvez um dos seus maiores prazeres fosse, inclusive, estar sozinha. Não que se esforçasse para isso – a solidão vem mesmo quando não nos isolamos, mesmo quando lutamos para afastá-la. E a solidão igualmente estava em Sarah como a neve está no inverno.
Foi num desses dias, quando caminhava sozinha por Green Hill, que Sarah o viu pela primeira vez. Ele cuidava dos cavalos – na verdade conversava com eles enquanto fazia isso. Aquela voz diferente, inclusive, foi o que a atraiu.
Era uma manhã temperada de fim de outono e começo do inverno. A maioria das folhas das árvores que cercavam os estábulos já havia caído, e formava um belo e fofo tapete sobre o solo. Sarah caminhava com suas botas de couro pelo tapete de folhas, e ao ouvir a conversa unilateral, onde apenas uma pessoa falava, deixou-se atrair até o estábulo.
Quando entrou e viu apenas os cavalos comendo sua ração imediatamente acreditou estar ouvindo vozes. Riu sozinha por dois segundos, antes de recomeçar a escutar a conversa. Assim, seguindo o som baixo – porém firme – caminhou pé ante pé pelas baias, à procura do dono da voz. Dono – era uma voz masculina.
Não demorou a encontrá-lo na última das baias, escovando docemente o lombo de um cavalo. O animal parecia enorme perto daquele rapaz de baixa estatura, talvez pela pouca idade ou por falta de hormônios.
– Não é um belo dia hoje, Trovão? Seu pelo parece ainda mais brilhante do que ontem... – dizia ele tranquilamente.
Ele conversava com os animais! Falava com eles como se pudessem entendê-lo, como se fossem pessoas.
Sarah estava encantada com aquela primeira visão. Jamais conhecera alguém assim antes. E ele não a vira num primeiro momento, de modo que continuou a conversar com Trovão por algum tempo. E ela – mesmo sabendo que era errado – continuou a ouvir o teor daquela conversa.
Num certo instante o rapaz virou-se para pegar um balde e viu Sarah. Foi como ter se encontrado de frente com uma assombração. Afastou-se um pouco e deixou que a escova caísse de sua mão. Seus olhos assustados percorreram tudo em torno de si antes de voltar a ela.
Sarah permanecia parada, observando-o detidamente. Não conseguia deixar de olhá-lo, e também não disse nada quando teve a oportunidade, apesar de saber que era seu dever iniciar um diálogo depois de tê-lo assustado daquela maneira.
O rapaz limitou-se a olhar detidamente para o chão, como se fosse um pecado encará-la.
– Desculpe-me – disse ela se aproximando mais. – Eu ouvi sua conversa e não agüentei de curiosidade.
Durante certo tempo ambos se olharam mutuamente, e ele nada disse. Apenas observava Sarah de cima a baixo: suas roupas, seus modos, tudo nela. E naquele instante era como se algo acontecesse dentro de si, e ele sentisse uma estranha mudança interior. Essa menina é linda – pensou ele. Parecia um anjo. Sua pele branca, levemente avermelhada pelo frio, dava a todo ambiente ar de inverno. Era a garota mais bela que ele vira. Nem mesmo em São Francisco encontrara alguém assim.
Ele se chamava Nicholas. Era um rapaz esbelto, ainda que parcos músculos ameaçassem surgir sob a pele levemente morena. Os cabelos negros escorriam pela testa, e os olhos incrivelmente azuis adornavam-lhe a face como duas jóias.
– Tudo bem, senhorita – finalmente disse ele, voltando ao trabalho. – Não foi nada.
Recomeçou a escovar o cavalo, como havia sido ordenado: não deveria se dirigir a ninguém que não fosse outro empregado, e se pudesse não olhar para ninguém seria perfeito. Nicholas era apenas um empregado, e deveria se comportar como tal. Sabia qual era seu lugar, e que deveria se manter nele sempre.
Sarah, porém, decidiu que queria ajudá-lo. Pegou outra escova num dos cantos e se dirigiu a outra baia. Ali estava uma égua muito estimada por Charles, chamada Canela. A garota aproximou-se do animal e começou a escová-lo docemente. Canela pareceu gostar do que a garota fazia: aproximou-se mais e colocou a cabeça por sobre o portãozinho. O animal relinchou longamente e sacudiu-se toda.
Quando Nicholas voltou-se para trás e viu Sarah escovar a égua sentiu um pânico invadir seu peito. Abandonou o balde que portava, o qual rolou para longe, e apressou-se em arrancar a escova das mãos dela.
– O que está fazendo? – gritou ela, perdendo o equilíbrio.
Ele parecia bravo. Não tinha esse direito, e sabia disso, mas não poderia permitir que Sarah trabalhasse nas baias. Se o pai o visse com certeza arrancaria seu couro.
– Por que ainda está aqui? – perguntou ele, quebrando as regras pela segunda vez.
Sarah franziu a testa.
– Só queria ajudá-lo com os animais – a voz dela era mais um sussurro.
– Esse não é lugar para você – disse Nicholas, saindo do estábulo.
Sarah o seguiu – e sentiu alguma dificuldade em acompanhar seu ritmo. Suas perninhas curtas dificultavam o caminhar. Ainda por cima tinha as folhas e galhos que não foram recolhidos e que só atrapalhavam. Mas ela prosseguiu correndo atrás de Nicholas. O rapaz deu a volta numa construção de madeira e prosseguiu pulando uma cerca de toras cilíndricas que separava o pátio de treinamento do corredor. Ali os cavalos eram amansados por seu pai durante a primavera e o outono. Alguns deles apanhavam muito até ser amansados, e o pai parecia fazer isso com certo prazer e dedicação que Nicholas chegava ao ponto de se sentir mesquinho. Também foi ali que Nicholas apanhou pela primeira vez de seu pai, e aprendeu a respeitá-lo e obedecê-lo.
– Espere! – gritou ela quando viu que não conseguiria atravessar a cerca.
Nicholas parou. Era o fim do outono e nas próximas semanas o frio invadiria Green Hill, como todos os anos habitualmente o fazia. Já podia senti-lo nas árvores, no chão coberto de folhas fofas, no ar pesado, até mesmo nos animais meio encolhidos.
– O que você quer? – perguntou ele sem olhar para trás, certo de que quebrava somente uma regra dessa vez.
Sarah ainda tentava pular a cerca. Se tivesse de passar pelo portão perderia Nicholas de vista e corria o risco de não mais encontrá-lo.
– Quero conversar com você – disse ela meio confusa.
– Não podemos conversar, sou um criado seu – respondeu ele rispidamente.
O tom da voz de Nicholas era peremptório, mas isso não tirou nem um pouco da obstinação de Sarah. Que importava se ele era um empregado? Ela desejava conversar com ele, e se o pai ou o tio não aprovassem sua vontade que eles a impedissem, ou parassem de criar regras idiotas para tentar aumentar as já tão grandes distâncias que existem entre as pessoas.
– Quem disse que não podemos conversar? – Ela se fez de rogada.
Nicholas voltou-se e encarou Sarah. Ela estava com os braços apoiados sobre a cerca.
– Se nos pegarem estou perdido, mas não acontecerá nada com a senhorita.
Sarah fechou os olhos e suspirou.
– Não nos pegarão, e se acontecer algo eu me responsabilizo por você.
Nicholas sacudiu a cabeça negativamente, certo de que ela prometia algo que não poderia cumprir, e caminhou até a cerca. Estendeu a mão e ajudou Sarah a saltar o obstáculo. Quando chegou do outro lado os dois ficaram um de frente para o outro.
– Meu nome é Sarah Schwan, qual é o seu?
– Nicholas Myron – dissera ele abrindo um sorriso.
Assim, mais de perto, Sarah conseguia perceber melhor os detalhes no rosto de Nicholas. Ele tinha uma face bonita e bem delineada, com contornos suaves e um nariz pequeno. E quando sorriu covinhas surgiam em seu rosto límpido, o que a encantou profundamente. Jamais vira covinhas tão encantadoras em outros rostos antes.
Os dois começaram a caminhar novamente, em silêncio. Agora um vento fresco mexia com os cabelos de Sarah, jogando-os para um lado e para o outro. Ela se perguntava como Nicholas conseguia sair de casa sem um agasalho, mesmo estando tão frio quanto costumava ser o primeiro dia de inverno.
– Nunca o vi aqui antes. E sempre venho a Green Hill pelo menos duas vezes por ano – sibilou ela. – Só não vim verão passado porque mamãe e eu viajamos.
Nicholas olhou rapidamente para trás e sorriu novamente.
– Cheguei de São Francisco há apenas três meses – disse ele.
Sarah ainda não conseguia acompanhá-lo apesar de todo o esforço.
– São Francisco?
– É, morava com minha mãe até o começo do ano, mas ela infelizmente faleceu. Tive de vir morar aqui em Green Hill, mas Philip ficou lá com nosso avô.
– Deve ter sido horrível vir morar aqui – ela tomava o cuidado de manter o tom de voz baixo. – Quer dizer, se mudar para um lugar onde não se conhece ninguém...
Ele sorriu mais uma vez. Chegavam às silagens. Nicholas abriu um grande portão de madeira e ambos entraram.
– Até hoje de manhã era horrível – ele sussurrou.
Sarah parou com a boca aberta e os olhos fixos em Nicholas. Aquelas palavras, mal sabiam eles, eram o que se pode chamar de começo de alguma coisa. Ele estava encantado com ela – a primeira garota com quem conversara desde que chegara de São Francisco – e ela hipnotizada por ele – o garoto mais belo que já conhecera. Ainda que passasse por sua cabeça que talvez tivesse conhecido poucos garotos, isso não tirava o mérito de achá-lo o mais belo de todos.
– Quantos anos você tem? – perguntou ela discretamente.
– Quatorze...
Nicholas sabia que não era polido perguntar a idade de uma mulher, por isso calou-se. Pegou um balaio e encheu de aveia, estocada para a estação fria. Com o balaio nas costas saiu da silagem e começou a caminhar de volta às baias. Dessa vez passou pelo corredor por detrás da área de amansamento e atravessou um pequeno portão. Sarah seguia-o de perto.
De volta aos estábulos Nicholas colocou aveia em dois cochos – o de Trovão e o de Canela – e apressou-se em puxar o cavalo para dentro da baia. Àquela altura Canela já terminava sua refeição. Nicholas sorriu e acariciou o cavalo com ambas as mãos.
Sarah não pode deixar de notar o cuidado com o qual aquele garoto cuidava dos animais. Parecia haver carinho em cada um de seus atos para com eles, e até mesmo o serviço de limpar suas fezes não parecia aborrecê-lo. Nicholas aparentava ter uma relação íntima, talvez até de cumplicidade com aqueles animais – talvez mais com Trovão do que com os outros. Quando o cavalo negro o via imediatamente dava um relincho de saudação, e parecia gostar muito dele.
– Será que eu posso te pedir uma coisa? – perguntou ela, se aproximando de Trovão.
Nicholas parou a limpeza das baias para olhá-la. Sarah parecia hesitante prestes ao que estava para dizer. Pensou um pouco, pareceu escolher as palavras, mas elas logo vieram, e ela não teve dúvidas:
– Ensina-me a montar?
Aquele pedido não poderia ser mais simples e mais impossível. Nicholas suspirou e não soube o que dizer. Primeiro porque adoraria ensiná-la a montar, seria um imenso prazer. Segundo porque Sarah possuía um jeito tão meigo e tão doce que as pessoas não conseguiam dizer não a seus pedidos – mesmo os mais absurdos. E aquele era um deles. Não deveria nem conversar com ela, quanto mais ensiná-la a montar. Corria risco de vida por olhar para ela.
– Eu... eu não posso. Não devo... – gaguejou ele, continuando a limpar as baias.
O cheiro de estrume era muito forte, e Sarah sentia um leve enjôo por causa do ar pesado, mas nem por um momento demonstrou isso.
– Por favor, Nicholas. Sei que seria um ótimo professor. Ensina-me a montar... Eu posso lhe pagar pelas aulas.
Naquele instante Nicholas encolheu-se todo. Não era questão de dinheiro. Era questão de limites. Ele não poderia transpô-los sem arcar com as conseqüências. Não poderia fingir que nada acontecia, e que o que faria não mereceria castigo.
Mas Sarah tinha o poder de convencer as pessoas a fazerem o que