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México-Brasil: Paisagem e Jardim como Patrimônio Cultura
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E-book287 páginas3 horas

México-Brasil: Paisagem e Jardim como Patrimônio Cultura

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Sobre este e-book

Este livro MÉXICO-BRASIL: Paisagem e Jardim como Patrimônio Cultural é resultado do II Seminário Internacional ocorrido na cidade do Recife, no Brasil, em 2017, e representa parte da série que se vem construindo da parceria entre os dois países, fruto de um convênio firmado em 2015 entre a Universidad Autónoma Metropolitana (UAM), México e o Laboratório da Paisagem do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Brasil.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento13 de jan. de 2021
ISBN9786558201564
México-Brasil: Paisagem e Jardim como Patrimônio Cultura

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    México-Brasil - Ana Rita Sá Carneiro

    COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO CIÊNCIAS SOCIAIS

    A Fábio Cavalcanti (in memoriam), que, na sua simplicidade e profundidade de ser, fez-nos refletir sobre a aridez do cacto como fonte de vida.

    AGRADECIMENTOS

    Este livro, MÉXICO-BRASIL: Paisagem e Jardim como Patrimônio Cultural, fruto do II Seminário Internacional Paisagem e Jardim como Patrimônio Cultural, ocorrido na cidade do Recife, no Brasil, em 2017, fortalece e diminui a lacuna de estudos sobre o planejamento e a conservação da paisagem e do jardim, principalmente da América Latina. Aqui, expressamos nossos agradecimentos aos pesquisadores do Laboratório da Paisagem da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), aos professores e aos pesquisadores da Universidad Autónoma Metropolitana Unidad Azcapotzalco e, em especial, ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e à Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco (Facepe), pelo apoio financeiro.

    PREFÁCIO

    O encanto pelas diversas formas de manifestação do homem na natureza, no seu mútuo influenciar, e o desejo de protegê-las enquanto respostas singulares no tempo e no espaço estruturam a atual compreensão das paisagens enquanto patrimônio cultural. Compreensão essa que vem se sedimentando, por um lado, a partir de experiências de conservação que nelas incidem e, por outro, a partir dos instrumentos que buscam balizar tais ações.

    Se no âmbito internacional a Recomendação sobre a Salvaguarda da Beleza e do Caráter das Paisagens e Sítios esteve vigente desde o ano de 1962, apenas em 1985 foram iniciados estudos específicos que estabeleceram diretrizes para identificação e nominação daquilo que à época era entendido como paisagem mista cultural e rural.

    Tal conceito evoluiu até chegar à conhecida paisagem cultural, nova categoria de patrimônio mundial oficializada em 1992 e delineada como uma alternativa ao reconhecimento de ambientes naturais transformados e intimamente relacionados às atividades e aos modos de viver das suas populações. A partir disso, dois significativos desdobramentos à difusão da proteção desses elementos ocorreram com o estabelecimento da Recomendação da Europa sobre a Conservação Integrada das Áreas de Paisagens Culturais como Parte de Políticas de Paisagem em 1995 e da Convenção Europeia sobre Paisagem em 2000.

    As discussões sobre as paisagens da humanidade no século 21 derivaram-se até chegar à paisagem urbana histórica, ideia fortemente associada ao Memorando de Viena, de 2005, e posteriormente detalhada na Recomendação homônima, de 2011. A afirmação da era urbana mundial, anunciada pela Organização das Nações Unidas naquela década e frequentemente entendida como a prevalência da população urbana sobre a rural – ainda que considerando fronteiras pouco precisas entre o limitado binômio cidade-campo –, intensificou ainda mais as reflexões sobre a manutenção dos verdes urbanos, sob a forma de parques e jardins, em ambientes marcados por grandes extensões físicas e altas concentrações populacionais.

    Os escritos que compõem este livro são respostas brasileiras e mexicanas a tais desafios, ricamente compartilhadas pelos autores, que aqui se revelam não apenas como exímios especialistas, mas, sobretudo, como entusiastas das paisagens em suas múltiplas expressões, dentre as quais os jardins ocupam espaço de destaque.

    Lugares como a Praça do Derby, a Praça Euclides da Cunha, o Jardim do Palácio do Campo das Princesas, a Praça Faria Neves, o Sítio Histórico de Santa Tereza, a Praça de Casa Forte, o Jardim da Capela da Jaqueira, a Praça Maciel Pinheiro, o Parque do Flamengo – no Brasil –, o Centro Histórico da Cidade do México, o Jardim das Oliveiras Centenárias de Tzintzuntzan, os Jardins do Arquivo Geral da Nação, a Paisagem da Cidade Histórica de Campeche, a Paisagem Pré-hispânica de Cacaxtla-Xochitécatl – no México –, fornecem uma variada mostra de trabalhos de salvaguarda que vêm sendo desenvolvidos de forma pioneira na América Latina por pesquisadores desses dois países.

    Paisagens de geografias e cronologias tão diversas são meticulosamente investigadas em sua gênese primitiva, em sua dimensão ecológica, em suas camadas históricas, em sua profundidade de significados, em sua poesia artística e em seus usos contemporâneos. Os resultados são valiosas contribuições no campo da proteção do patrimônio cultural voltadas à identificação, à valoração, ao restauro e à gestão de paisagens, sejam elas de interesse nacional ou mundial. Constituem importantes marcos metodológicos de conservação de recortes das cidades, muitas vezes antecedendo e fomentando o seu devido reconhecimento enquanto parcelas que devem ser transmitidas às próximas gerações. A criação de um lugar para a paisagem no futuro emerge como ideia central e perpassa o conjunto dos trabalhos apresentados, que primam pelo rigor científico e pela sensibilidade das suas abordagens.

    Agradeço imensamente aos organizadores deste livro, Ana Rita Sá Carneiro, Joelmir Marques da Silva, Lúcia Maria de Siqueira Cavalcanti Veras e Saúl Alcántara Onofre, pela confiança do convite que me foi feito para compartilhar algumas impressões sobre um tema que me é tão caro; pela oportunidade de aprender uma vez mais com o Laboratório da Paisagem da Universidade Federal de Pernambuco e com o Posgrado en Diseño, Planificación y Conservación de Paisajes y Jardines da Universidad Autónoma Metropolitana do México e pelo compromisso ético em proteger aquilo que, talvez, simbolize mais profundamente a identidade e o sentido de um lugar, seus jardins e suas paisagens.

    A minha admiração e gratidão.

    Dr.a Rosane Piccolo Loretto

    Arquiteta e Urbanista

    São Paulo, agosto de 2018

    APRESENTAÇÃO

    Considerar paisagem e jardim como patrimônio cultural, herança da relação ancestral e criativa que o homem tem estabelecido com o seu território, vem desencadeando inúmeras reflexões entre estudiosos latino-americanos, como se tivéssemos a necessidade de compreender, não mais paisagens e jardins isoladamente, mas as conexões que, de alguma forma, são feitas entre as Américas. Assim, o intercâmbio acadêmico entre especialistas de dois países da América Latina, o Brasil e o México, motivou e desencadeou um efervescente debate sobre a paisagem e o jardim no âmbito do patrimônio. Do cruzamento de olhares distintos provenientes de suas riquezas culturais, aconteceu o Seminario Internacional Paisaje y Jardín como Patrimonio Cultural (México-Brasil), em abril de 2015, na cidade do México e, a partir daí, estabeleceu-se o compromisso de continuidade desse evento, com intervalos de dois anos. A presente publicação trata do II Seminário Internacional Paisagem e Jardim como Patrimônio Cultural (México-Brasil), que se realizou na cidade do Recife, no período de 16 a 24 de março de 2017. Durante o encontro foram profícuas as discussões sobre princípios e diretrizes para a conservação da Paisagem e do Jardim, assim como os exercícios propositivos de desenho, tomando como estudo de caso o sítio de Santa Tereza, inscrito na zona de amortecimento da poligonal do Sítio Histórico de Olinda ‒ Patrimônio Cultural da Humanidade, no estado de Pernambuco, Brasil.

    Além disso, foram realizadas visitas técnicas em áreas de interesse histórico-cultural nas cidades do Recife, Olinda, Igarassu e Brejo da Madre de Deus. No lapso de tempo de nove dias, foram abordados aspectos que envolvem questões essenciais à conservação da Paisagem e do Jardim, desde a sua conceituação, segundo a visão de estudiosos os mais diversos, até os obstáculos materiais e socioculturais que se interpõem à sua conservação.

    Porque, então, preocupar-se com a paisagem e com os jardins? No caso dos jardins, o que significam para nós esses maravilhosos microcosmos, verdadeiros redutos de paz, ricos em beleza e em simbologia? Que relação existe entre o dia a dia das pessoas, que se comprimem nos aglomerados urbanos, nos ambientes construídos agigantados e nas massas edificadas que se lançam verticalmente contra a linha do horizonte e os jardins?

    Consciente ou inconscientemente, ao longo dos séculos, a paisagem tem sido um constructo humano por meio do qual o ser humano estabelece sua relação com o mundo das coisas e das pessoas. Nesse ato, ele próprio é também parte dessa paisagem. Por outro lado, de maneira complexa e desafiadora, a paisagem apresenta-se como um palimpsesto, diverso, multifacetado e cambiante. Como, então, nesses termos, promover a conservação de algo que, por sua própria natureza, existe de forma desmaterializada? A paisagem está carregada de significados e de memórias que atribuem identidade ao ser humano. Porém, como distinguir o que muda e o que permanece na paisagem e que assegura nossa identidade como indivíduos e seres sociais? Esse é o grande desafio que nos é posto e que os antigos reconheceram como o genius loci. É, portanto, sobre essa temática e os debates que daí decorrem que esta publicação se debruça.

    Entremeado na relação entre o ser humano e o cosmos, o jardim é, por excelência, a forma encontrada para estabelecer um recorte da paisagem. No jardim, o homem propõe um microcosmo ordenado, em contraposição ao universo onde se insere. Mais do que isso, ao propor o ordenamento de um recorte de paisagem, busca reencontrar o liame mítico entre o mundo perfeito, do divino, e nós, os seres mortais e imperfeitos.

    Em lendas ou em histórias reais, os jardins sempre foram cenários cheios de mistério, sedução e encantamento, onde se desenrolaram muitos dos fatos mais significativos da história humana. O colorido matizado das composições vegetais, o perfume exalado pelas flores e o murmúrio das águas dos chafarizes e fontes parecem ser o contexto ideal para embalar a alma humana, num vai-e-vem entre o humano e o divino. Assim, é que não foi fortuita a escolha da bela e sedutora Sheherazade de fascinar o rei, ao narrar suas histórias fantásticas das Mil e Uma Noites, no cenário dos jardins do palácio. Não por acaso, Nabucodonosor, em toda sua glória e poder, alcançou o esplendor e o deslumbramento nos seus Jardins Suspensos, alçando-os ao nível de uma das sete maravilhas do mundo antigo. E o que dizer dos sábios, dos religiosos, dos místicos e dos amantes que, em cenários de jardins, realizaram descobertas importantes para a humanidade, viveram dramas pessoais e foram arrebatados aos céus, estabeleceram rituais iniciáticos e viram seus corações arderem nas mais inflamadas paixões!

    A presente coletânea aborda temas variados, voltados à Paisagem e ao Jardim como Patrimônio Cultural, na visão de especialistas brasileiros e mexicanos. Dentre cinco capítulos, sendo um de brasileiros e mexicano, e os quatro de brasileiros, merece destaque o que trata dos jardins de Burle Marx na perspectiva da candidatura a patrimônio Mundial da United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization (Unesco). Esse capítulo, denominado El tiempo de Burle Marx: paisajes y jardines candidatos a patrimonio mundial de la Unesco, assinado conjuntamente por Saúl Alcántara Onofre, Ana Rita Sá Carneiro e Joelmir Marques da Silva, considera que a obra paisagística de Roberto Burle Marx, além do Brasil, prestigia e projeta vários países da América Latina, como a Venezuela, a Argentina, o Chile, Cuba, o Equador, o Uruguai, o Paraguai, o Peru e Porto Rico. Porém, sem o pioneirismo da obra do paisagista em Pernambuco, na década de 1930, não se pode compreender a prática dos anos seguintes que o inclui no circuito internacional da arquitetura da paisagem. Por isso os autores sugerem ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) ampliar a Lista Indicativa do Patrimônio Mundial do Brasil com os jardins tombados do Recife.¹ A convergência de pensamento dos especialistas aconteceu cruzando campos disciplinares e raízes culturais durante o desenvolvimento da tese do biólogo Joelmir Marques da Silva sobre a integridade visual dos jardins de Burle Marx.

    Dentre tantos olhares perspicazes sobre a obra de Burle Marx, Ana Rita Sá Carneiro destaca Os caminhos para o tombamento dos jardins de Burle Marx no Recife: um patrimônio brasileiro, com ênfase na experiência da cidade do Recife. Além de nos relatar a trajetória enriquecedora da qual ela própria fez parte, no caso dos Jardins de Burle Marx, a autora nos apresenta argumentos para esclarecer a dúvida intrigante se, na cidade do Recife, existe a tradição de jardins.

    Outros trabalhos voltam-se para o papel da vegetação como atributo dos jardins de interesse patrimonial, como o capítulo de Aline de Figueirôa Silva, que nos brinda com uma minuciosa ilustração da questão tratada, aplicada ao caso dos Jardins Históricos do Recife no artigo A vegetação como atributo dos jardins de interesse patrimonial: os jardins públicos do Recife (1870-1920).

    Ainda sobre a obra do mestre Burle Marx, Marccus Vinícius da Silva Alves e Joelmir Marques da Silva abordam com muita argúcia Os domínios fitogeográficos brasileiros nos Jardins de Burle Marx. Evidenciam que ao colocar como prioridade o valor de observar e de ver, Burle Marx, com seu olhar de artista sobre os ecossistemas brasileiros ‒ e também com o filtro da fitoassociação ‒, trouxe a diversidade de plantas para os jardins. Assim, a associação entre arte e natureza, entre o artificial e o natural, constituiu a matriz de criação de Burle Marx. As características plásticas e estéticas das espécies empregadas pelo paisagista conferem aos jardins ambientes singulares que representam macropaisagens com toda sua beleza.

    Para arrematar a sequência dos capítulos que se debruçaram sobre a obra de Burle Marx, Lúcia Maria de S. C. Veras e Onilda Gomes Bezerra nos propõem reflexões sobre o conflito que se interpõe entre a proteção e o desafio da gestão, aplicados à obra do grande mestre paisagista. O capítulo Jardins de Burle Marx no Recife: entre a proteção e o desafio da gestão destaca que, no Recife, a gestão da conservação dos Jardins Históricos tem se deparado com a falta de conhecimento especializado dos gestores públicos, no que diz respeito ao bem que se busca conservar. Dessa maneira, as autoras mostram que sem conhecimento não há gestão adequada para conservação dos Jardins Históricos.

    O último capítulo "Desenhos de paisagem para Santa Tereza em Olinda: uma experiência de projeto em sítio histórico", assinado por Julieta Maria de Vasconcelos Leite, Mirela Carina Rêgo Duarte, Alexandre José Campello de Oliveira e Fábio Christiano Cavalcanti Gonçalves, na realidade, é uma síntese dos resultados dos projetos de paisagem desenhados para um sítio histórico. A experiência que nos é apresentada tomou como objeto de estudo e projeto o Bairro de Santa Tereza, ao sul da colina de Olinda, nas proximidades da divisa com o município do Recife. Em 1985, o Iphan ampliou o polígono de tombamento do sítio histórico de Olinda que, em 1982, havia sido declarado Patrimônio da Humanidade pela Unesco, incorporando o entorno imediato e incluindo o Bairro de Santa Tereza.

    A ampliação do polígono apoiou-se no princípio de que o objeto da preservação não é apenas o casario e os monumentos da colina com seus jardins, mas também o meio ambiente, a paisagem e primordialmente o homem. Ao reivindicar o acréscimo de uma zona de amortecimento para garantir a visibilidade e a ambiência da paisagem histórica, entende-se que o homem é o elemento central.

    Ao final do seminário, as reflexões sobre o sítio de Santa Tereza, priorizando a apropriação dos espaços livres públicos pela comunidade e a legibilidade do sítio histórico, destacaram quatro desenhos-resposta, considerados essenciais para orientar a conservação da paisagem, que é de grande interesse patrimonial. Foram eles: (i) Paisagem das pessoas e monumento: o Convento de Santa Tereza; (ii) Paisagem das águas: a Lagoa de Santa Tereza; (iii) Paisagem-jardim: a Rua Duarte Coelho e (iv) Paisagem, parque e cidade: o sítio e o Parque Memorial Arcoverde, em que se integram as demais propostas, num recorte maior de desenho. Durante o workshop foram aplicados métodos de projeto de rápida resposta, de modo a sintetizar as ideias e os discursos desenvolvidos ao longo do seminário.

    Diante da crise do planejamento urbano que se prolonga já há três décadas, podemos nos perguntar para onde caminham nossas cidades e quais fatos serviriam-nos como alertas para percebermos que, nas cidades brasileiras, estamos chegando à exaustão dos modelos político, econômico, sociocultural e ambiental vigentes. O esforço de uns poucos, que clamam pelo direito à cidade para todos, parece tropeçar na evidência que, a prevalecer o modelo de uso e ocupação do solo atual, com as supostas

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