Os meandros da paixão
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Os meandros da paixão - Renata Runavicius Toledo
Pedras no caminho? Eu guardo todas. Um dia vou construir um castelo.
Fernando Pessoa.
Não me mostrem o que esperam de mim porque vou seguir meu coração
Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com seu amante
Clarice Lispector.
À minha doce filha Gabriela que me torna mais criativa a cada sorriso que esboça.
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais Luis Carlos Toledo e Mara Elisa Runavicius, meu irmão Ricardo, meu marido Fábio Mardegan e minha filha Gabriela que se manifestaram como pilares essenciais das minhas angústias.
Aos meus amigos que tanto colaboraram para o meu crescimento.
À Ana Célia Calvo, revisora do trabalho, admirável exemplo de persistência e paixão pela vida.
Aos indivíduos apaixonados.
LISTA DE SIGLAS
SUMÁRIO
Capa
Folha de Rosto
Créditos
1. APRESENTAÇÃO
2. INTRODUÇÃO
2.1 - Antropologia: Ser Humano Desejante e Faltante
2.2 - Paixão.
2.3 - Paixão Patológica
2.4 - Amor
2.5 - Amor Apaixonado ou Paixão Amorosa?
2.6 - Teoria do Apego
2.6.1 - John Bowlby
2.6.2 - Louis Cozolino
2.7 - Relações Conjugais e Extraconjugais
2.8 - Da infidelidade
2.8.1 - O estresse e os relacionamentos amorosos
2.9 - A segunda metade da vida ou vida adulta
3. RISCO E APAIXONAMENTO
4. A PAIXÃO E AS RELAÇÕES EXTRACONJUGAIS: CONCEITOS NA PRÁTICA
5. REFLEXÕES A RESPEITO DO BINÔMIO: PAIXÃO E RELAÇÕES EXTRACONJUGAIS
6. CONCLUSÃO
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
8. APÊNDICE
Landmarks
Capa
Folha de Rosto
Página de Créditos
Sumário
Bibliografia
1. APRESENTAÇÃO
A ideia deste livro surgiu a partir do interesse pessoal em explorar o tema da paixão, visto por mim como um fenômeno saudável ao psiquismo. Pesquisas prévias, realizadas para elaboração de minha tese de doutorado, abordaram o tema, ora associando-o ao narcisismo primário, ora apontando aspectos patológicos do fenômeno.
Seria a paixão um fenômeno que precede o amor?
A paixão que pressupõe grande investimento afetivo no outro apresenta prevalência de pulsão de vida. As pessoas casadas vivendo uma relação extraconjugal foram avaliadas por meio de componentes importantes tais como: distresse, expressão de afetos, impulsividade, propensão ao risco e busca de sensações. O conceito de amor é apresentado para esclarecer que a paixão amorosa possui uma estrutura que se diferencia das demais modalidades de amor.
Foi realizado um estudo comparativo entre pessoas casadas vivendo relação extraconjugal e pessoas casadas que não estão vivendo uma relação extraconjugal. Considera-se que o contrato de casamento interfere no apaixonamento.
2. INTRODUÇÃO
2.1 - Antropologia: Ser Humano Desejante e Faltante
Desde seu nascimento, o homem carece da prioridade do outro em sua existência. Laplanche (1992) propõe esse confronto do infante com o mundo adulto que lhe envia mensagens impregnadas de significações sexuais inconscientes como uma situação antropológica fundamental de caráter universal, à qual todo ser humano deve se submeter para se converter em um ser pulsional.
Torezan e Aguiar (2011) definem o sujeito da psicanálise como o sujeito do desejo, determinado pelo inconsciente, instigado pela falta, diferente do ser biológico e do homem de definição filosófica. A compreensão platônica de desejo relacionado diretamente à falta foi criticada por Comte-Sponville (2001) concluindo que para Platão o que não temos, o que não somos, o que nos falta, eis os objetos do desejo e do amor
(p. 26).
A busca da completude do ser humano é constante. No entanto, a permanência nesse estado de plenitude não é possível. Em O Banquete, de Platão (1964), Aristófanes relata que, nas origens da humanidade, Zeus decidiu dividir o Andrógino em duas metades, condenando-as a uma infindável caça em prol de capturar sua alma gêmea. No entanto, quando o encontro acontecia, a atração entre eles era imediata e desejavam restaurar a velha perfeição. Porém, a fusão era sempre momentânea e, assim, os encontros eram seguidos de desencontros.
Em sua obra, Freud aprofundou sua compreensão de desejo em seus diversos textos. Em um artigo a respeito da psicologia do amor intitulado Sobre a mais geral degradação da vida amorosa
(1912/2006), Freud afirma existir algo na natureza da pulsão sexual antagônica à realização da satisfação integral. A esse respeito, em Toten e Tabu
(1914/1996a), o mesmo autor, ao considerar as relações do sujeito com o social, ressalta que a organização do desejo ocorre por meio do estabelecimento de fronteiras com o interdito.
Na tentativa de compreender o desejo, alguns autores o relacionaram à fantasia. A respeito do binômio desejo/fantasia, Ferreira, N. P. (2004) afirma: O desejo, ao contrário do amor, faz parte da estrutura subjetiva. Em função da marca fundamental dessa estrutura, que é uma falta radical, o homem inventou o amor e seus mitos
(p.12).
Para Aulagnier (1984), as reflexões acerca do objeto do desejo nas relações de apaixonamento adquiriram a dimensão de um objeto de prazer e de necessidade. Nesse sentido, a autora observa que, nas relações passionais, o objeto do desejo para o Eu se converte numa fonte exclusiva de todo prazer e se transporta para o registro das necessidades. Portanto, o termo paixão define o vínculo que une o sujeito ao objeto do seu desejo; é uma exigência vital daquilo que preenche momentaneamente a falta existencial, considerando as necessidades e, na ausência dessas vivências, gera ansiedade e desejo de novas experiências.
Em Mal-estar na Civilização
, Freud (1996/1930) anuncia a dificuldade do homem de conviver em sociedade e atender seus desejos. Como consequência, ocorrem as transgressões e atitudes antissociais que tornam o homem inimigo da civilização. A respeito da complexidade dos desejos, Goethe (1992), em Afinidades eletivas
, apresenta a ambiguidade do amor-desejo. Haddad (2011) relata a respeito dessa ambiguidade referida por Goethe como sendo a mediadora da natureza do homem que solicita e deseja, nomeada de imperativo moral, podendo constranger ou dignificar o homem, bem como a ânsia humana de reconhecimento amoroso.
A respeito da ambiguidade do desejo, Jorge (2010) remete à ideia de que ao trair o outro, a pessoa não trai a si, permitindo um encontro consigo mesma que, além de colaborar para o desenvolvimento da capacidade de ficar só, abre espaço para relacionamentos psicológicos.
2.2 - Paixão.
A paixão apresenta como característica principal a experiência excessiva e é difícil de ser controlada pela razão. No dicionário francês Le Petit Robert (1992), Pathos é um termo oriundo do grego antigo que significa: sofrimento, paixão.
A paixão, do latim passio, é proveniente dos termos gregos paskein e pathos. Pathos, na etimologia, tem o sentido de ser dominado por situações excessivas. Segundo Silva (2006), os gregos clássicos atribuíram relevância ao pathos, devido às paixões da alma se associarem ao bem-estar social e coletivo.
Como todas as situações vitais, a paixão pode, narcisicamente, levar à vivência de perda do limite pessoal e relacional, e também instalar uma vivência de enlouquecimento, patológica.
Pathos, segundo Berlinck (1997), não é associado somente ao sofrimento, mas também às palavras paixão
e passividade
. Então é possível pensar a paixão não apenas associando-a a uma inquietude que se impõe ao sujeito e o aprisiona, mas também a uma inquietude que é dominada pelo sujeito e o liberta.
Em Ética a Nicomaco
, Aristóteles define paixão (pathos) como ‘o que impulsiona o homem para a práxis ou