Diana: Sua verdadeira história
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165 avaliações1 avaliação
- Nota: 3 de 5 estrelas3/5This book is probably the foremost and authoritative book on who the real and true Diana, Princess of Wales was. Just as Candle in the Wind is her song, this IS Diana's book.This is historically accurate biographical information told by the woman that was behind it from the beginning, Diana. This is a classic biography.
Pré-visualização do livro
Diana - Andrew Morton
Tradução
A. B. Pinheiro de Lemos e Lourdes Sette
1ª edição
Rio de Janeiro | 2013
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
M864d
Morton, Andrew, 1953-
Diana [recurso eletrônico] : sua verdadeira história / Andrew Morton ; tradução A. B. Pinheiro de Lemos, Lourdes Sette. - 1. ed. - Rio de Janeiro : Best Seller, 2013.
recurso digital
Tradução de: Diana: her true story
Formato: ePub
Requisitos do sistema: Adobe Digital Editions
Modo de acesso: World Wide Web
ISBN 978-85-7684-841-7 (recurso eletrônico)
1. Diana, Princesa de Gales, 1961-1997. 2. Grã-Bretanha - Príncipes e princesas - Biografia. 3. Princesas - Biografia. 4. Livros eletrônicos. I. Lemos, A. B. Pinheiro de Alfredo Barcellos Pinheiro de), 1938-2008. II. Sette, Lourdes. III. Título.
13-06627
CDD: 923.1
CDU: 929:320
Texto revisado segundo o novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.
Título original
DIANA – HER TRUE STORY IN HER OWN WORDS
Copyright © 1997 by Michael O’Mara Books Limited.
Copyright da tradução © 2013 by Editora Best Seller Ltda.
Edição revista (excluindo In Her Own Words
) © 1998, 2003 by Andrew Morton
Her True Story
© 1992 by Andrew Morton
Publicado em 1992 pela Editora Record.
Edição ampliada e atualizada pela Editora BestSeller em 2013
Editoração eletrônica da versão impressa: Abreu’s System
Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução, no todo ou em parte, sem autorização prévia por escrito da editora, sejam quais forem os meios empregados.
Direitos exclusivos de publicação em língua portuguesa para o Brasil
adquiridos pela
Editora Best Seller Ltda.
Rua Argentina, 171, parte, São Cristóvão
Rio de Janeiro, RJ – 20921-380
que se reserva a propriedade literária desta tradução
produzido no Brasil
ISBN 978-85-7684-841-7
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Sumário
Capa
Rosto
Créditos
Agradecimentos
Agradecimentos pelas fotografias
Prefácio
Diana, a princesa de Gales – Em suas próprias palavras
1. Eu deveria ser um menino
2. Pode me chamar de ‘Sir’
3. Tanta esperança em meu coração
4. Meus gritos por socorro
5. Querido, vou desaparecer
6. Minha vida mudou de rumo
7. Eu não me meto em suas vidas
8. Fiz o melhor que podia
9. O gás acabou
10. Minha carreira de atriz terminou
11. Vou ser eu mesma
12. Diga-me que sim
13. A princesa do povo
Colofon
Saiba mais
Agradecimentos
Esta biografia da princesa de Gales é única no sentido de que a história destas páginas nunca teria sido contada não fosse pela cooperação sincera de Diana. O texto é baseado em longas entrevistas, gravadas em fita, com Diana, complementado pelos testemunhos da família e de amigos. Assim como Diana, eles falaram com honestidade e franqueza, apesar do fato de que fazê-lo significava deixar de lado a discrição e lealdade que a proximidade com a realeza invariavelmente requer. Minha gratidão pela cooperação deles é, portanto, a mais profunda e sincera.
Agradeço também ao irmão da princesa de Gales, o nono conde Spencer, pelos esclarecimentos e lembranças, sobretudo com relação à infância e à adolescência da princesa.
Meus agradecimentos também à baronesa Falkender, Carolyn Bartholomew, Sue Beechey, Dr. James Colthurst, James Gilbey, Malcolm Groves, Lucinda Craig Harvey, Peter e Neil Hickling, Felix Lyle, Michael Nash, Delissa Needham, Adam Russell, Rory Scott, Angela Serota, Muriel Stevens, Oonagh Toffolo e Stephen Twigg.
Há outros cujos cargos me impedem de agradecer oficialmente pela ajuda. A orientação generosa que me deram foi inestimável.
Agradeço também ao meu editor Michael O’Mara pelas orientações e pelo apoio ao longo do caminho tortuoso, desde a concepção até a conclusão, e a minha mulher, Lynne, pela imensa paciência.
Andrew Morton
setembro de 1997
Agradecimentos pelas fotografias
Antes da morte, em março de 1992, o pai da princesa de Gales, o oitavo conde Spencer, muito gentilmente permitiu acesso aos álbuns de fotografias da família. Muitas das fotos deste livro são reproduções desses álbuns. A cooperação generosa dele é imensamente apreciada.
Os retratos lindos e modernos da princesa de Gales e dos filhos que aparecem neste livro são todos de Patrick Demarchelier. As fontes de todas as outras fotos são mencionadas nas legendas.
Prefácio
A morte trágica de Diana, princesa de Gales, em 31 de agosto de 1997 deixou o mundo com um sentimento de luto, desespero e arrependimento sem comparação na era moderna. Essa erupção espontânea de angústia foi uma demonstração não apenas do enorme impacto que Diana causou no cenário mundial, mas também da importância de sua posição, do que ela representava como mulher e como porta-estandarte de uma nova geração, de uma nova ordem e de um novo futuro. Até hoje, ainda estamos tentando aceitar não apenas o fato de tê-la perdido, mas também entender o que ela significou para nós, por que aqueles que nunca a conheceram sentiram uma tristeza que não demonstrariam nem mesmo por parentes e amigos mais próximos. Por alguma alquimia inexplicável, ela personificou o espírito da época; assim, quando a enterramos, também sepultamos uma parte de nós. Aqueles que compuseram o cortejo fúnebre e colocaram flores no palácio de Kensington, sua residência em Londres, choraram não apenas por ela, mas por si mesmos. Ironicamente, uma vez lhe perguntaram que epitáfio gostaria de ter em sua sepultura. Uma grande esperança esmagada no nascedouro
, foi a resposta dela, uma frase que, involuntariamente, resumiu não apenas sua vida curta, mas o espírito que ela representava.
Entre lágrimas e flores havia sentimentos de culpa, vergonha e raiva com relação à família real, que a abandonara, e aos meios de comunicação de massa, que a perseguiram. Esses sentimentos eram muito fortes e demonstravam o quanto a sensibilidade contemporânea se transformara; as placas tectônicas que sustentavam a sociedade de forma cultural, social e política haviam mudado nos últimos anos. Da mesma forma que o povo decidira, nas eleições de maio de 1997, dar ao Partido Trabalhista uma histórica vitória avassaladora, assim também nos dias anteriores e durante o funeral de Diana as pessoas expressaram descontentamento e decepção com duas outras instituições poderosas, porém livres de qualquer controle: a mídia e a monarquia, consideradas traidoras não apenas dos desejos de Diana, mas também dos delas. Diana era do povo e a favor do povo, e o primeiro-ministro Tony Blair capturou esse sentimento quando a descreveu como a princesa do povo
.
Quando a rainha, de pé diante dos portões do palácio de Buckingham com a família, fez uma reverência para a carruagem de artilharia que transportava o caixão de Diana, o gesto revelou muito mais do que respeito por uma mulher muito amada. Foi também um reconhecimento da passagem da velha ordem, da ascensão de uma nova ética que Diana tão vividamente personificou. Em sua emocionante oração fúnebre, o irmão de Diana, o conde Spencer, deu voz àquele clima; em apenas sete breves minutos passou de um desconhecido rebento da aristocracia a um herói nacional. Mais importante do que seus ataques veementes à família real — ela não precisava de nenhum título de nobreza para continuar a espalhar sua magia
— e aos meios de comunicação foi o fato de que seu discurso fúnebre, tanto no texto quanto no sentimento, expressou muito bem o espírito de Diana. Corajoso, imprudente, apreciando a honestidade e a verdade acima do refinamento social, desequilibrado em sua lógica — o discurso conseguiu o que Diana lutara para alcançar por toda a vida adulta: falar às pessoas por cima dos que as governavam, fossem eles a família real, os políticos ou os barões da imprensa. Conforme demonstrado pelo aplauso espontâneo que se seguiu ao discurso, Diana, ao morrer, encontrara seu defensor.
Nos meses, anos e décadas após uma semana significativa na história não apenas do Reino Unido, mas do mundo, muito seria escrito e discutido sobre o que exatamente Diana significara para nós como indivíduos e como uma sociedade. Como sua vida representara uma parábola de nossos tempos, isso não era apenas correto e apropriado, mas desejável. Ao mesmo tempo, foi feita uma avaliação necessária de sua vida; enquanto escrevia, havia dezenas de biógrafos, vídeos e álbuns comemorativos sendo preparados. Isso também é inevitável, uma vez que desejamos saber sobre os atributos pessoais que transformaram Diana em uma figura de proporções míticas. Com o tempo, o sedimento da história nublará a lembrança dela, a memória daqueles que a conheceram, ou que pensavam que a conheciam, filtrando e mudando a percepção dos admiradores de uma mulher que se tornou o ícone mais estimado da era moderna. Existe o risco de que a percepção de Diana sobre a própria vida, um relato que ela estava tão desesperada para dar, seja obscurecida e repensada com o passar das décadas.
Seria fácil eu contribuir para esse processo: os meus livros, Diana — Sua verdadeira história e Diana, Her New Life [Diana: sua nova vida] são, atualmente, campeões de venda no mundo, portanto existem motivos comercialmente relevantes para deixar que qualquer distorção nas páginas deles permaneça intacta. Isso, no entanto, significaria desonrar sua memória, distorcer a história e contrariar o espírito de honestidade e proximidade com o povo tão eloquentemente captado por seu irmão, o conde Spencer, no funeral da princesa de Gales.
O que as pessoas nunca perceberam foi o tamanho do comprometimento da princesa com meu livro, Diana — Sua verdadeira história, publicado pela primeira vez em junho de 1992. Para todos os fins, era a sua autobiografia, o depoimento pessoal de uma mulher que se viu, na época, desprovida de voz e poder. A história contida nas páginas do livro saiu de seus lábios; a dor e a tristeza em sua vida foram reveladas em uma série de entrevistas gravadas no palácio de Kensington durante o verão e o outono de 1991. Não havia máquinas fotográficas, ensaios ou esclarecimentos. Suas palavras brotaram do coração, delineando em detalhes vívidos e, por vezes, agonizantes o sofrimento e a solidão de uma mulher admirada e adorada pelo mundo. Em função da tragédia de sua vida, que desabrochava, e de sua morte prematura, é difícil não reler e ouvir novamente suas palavras sem derramar uma lágrima. Hoje, seu testemunho permanece como um depoimento eloquente e único diante do tribunal da história.
Tanta coisa mudou desde o fatídico verão de 1991 que é difícil transmitir o sentimento de asfixia e impotência sentido naquela época pela princesa de Gales. Ela se considerava prisioneira de um casamento falido, acorrentada pela realeza insensível e amarrada a uma imagem pública de sua vida totalmente irreal. A todos os lugares a que ia, era seguida por um guarda-costas; todos os seus movimentos eram documentados, enquanto cada visitante à sua casa era registrado e investigado. Ela acreditava estar sob constante vigilância, não apenas monitorada pela polícia e pelos fotógrafos, mas vista com reservas pela família real e por seus cortesãos. Por todo aquele tempo, ela guardava um segredo, um segredo que lentamente a consumia. Na opinião dela, sua vida era uma mentira grotesca e implacável.
O casamento com o príncipe de Gales terminara. Ela sabia que ele retornara para os braços de seu primeiro amor, Camilla Parker Bowles. No entanto, como um personagem de um romance de Kafka, suas preocupações eram ignoradas, vistas como fantasias e paranoia por um establishment que não media esforços para acobertar as infidelidades de seu marido. Como Diana explicaria anos mais tarde, na famosa entrevista que concedeu ao programa de televisão Panorama, da BBC: Amigos de meu marido sugeriam novamente que eu era instável, que estava doente e que deveria ser internada em uma clínica para me tratar. Eu era quase um constrangimento.
Como o mundo agora sabe, seus instintos estavam certos, tendo o próprio príncipe de Gales confessado seu adultério após o casamento haver fracassado irreversivelmente
em meados da década de 1980.
Na época, enquanto via o casamento desmoronar, seu maior temor era que o círculo do marido logo começasse o processo de desacreditá-la e tentasse convencer o mundo de que ela era irracional — despreparada para a maternidade ou para representar a monarquia.
No entanto, a frustração que queimava dentro dela era causada tanto pelo antiquado sistema da realeza quanto pelo casamento em frangalhos. Intuitivamente, ela sentia que o estilo da monarquia estava ultrapassado, ao mesmo tempo em que seu próprio papel e suas próprias ambições estavam sendo continuamente tolhidos. Os cortesãos, ou os homens de terno cinza
, como ela os chamava, ficariam satisfeitos se ela fosse vista como uma mulher e mãe submissa, um adorno atraente para o marido intelectual. Ao mesmo tempo, até onde sabia, o sistema constantemente corroía sua posição para reforçar a popularidade do príncipe Charles.
Quando olhava para fora de sua prisão solitária, era raro que um dia se passasse sem que ouvisse o som de outra porta de cela se fechando, enquanto a ficção de seu conto de fadas era ainda mais promovida na mente do povo. A publicação, em 1991, de uma série de livros e artigos celebrando o décimo aniversário de seu casamento serviu para soldar novas barras naquela prisão. Ela sentia como se a porta estivesse sendo trancada
, lembrou uma amiga. Ao contrário de outras mulheres, ela não tinha a liberdade de sair de casa levando os filhos.
Como uma prisioneira condenada por um crime que não cometera, Diana tinha uma necessidade imensa de contar ao mundo a verdade sobre sua vida, seu sofrimento e as ambições que alimentava. A sensação de que estava sofrendo uma injustiça era profunda. De uma forma bem simples, ela desejava a liberdade para falar o que pensava, a oportunidade de contar às pessoas toda a história de sua vida e deixar que a julgassem com base no que ela era. Ela sentia, de alguma forma, que se conseguisse explicar sua história para as pessoas, para seu povo, eles poderiam entendê-la de verdade, antes que fosse tarde demais. Deixe-os serem meu juiz
, disse ela, confiante de que seu público não a criticaria tão duramente quanto a família real ou a mídia. Seu desejo de explicar aquilo que considerava a verdade se combinava com um temor constante de que, a qualquer momento, seus inimigos no palácio a fariam ser rotulada como doente mental e a trancariam em um hospício. Esse temor não era infundado. Quando sua entrevista no Panorama foi exibida, em 1995, o então ministro das Forças Armadas, Nicholas Soames, amigo íntimo e ex-camarista do príncipe Charles, descreveu-a como em estágios avançados de paranoia
.
Como então ela poderia transmitir sua mensagem clandestinamente para o mundo? Examinando outra vez o cenário social da Grã-Bretanha, ela viu que havia poucos meios de veicular sua história. Mesmo hoje, embora ferida e humilhada, a monarquia exerce uma influência poderosa e dominante sobre a mídia. Há apenas seis anos, quando Diana — Sua verdadeira história estava sendo preparado, o predomínio da família real era quase absoluto; a dinastia dos Windsor era então, muito mais do que hoje, a família mais influente e temida da terra. As fontes respeitadas nos meios de comunicação, a BBC, a ITV e os assim chamados jornais de qualidade, teriam um desmaio coletivo se Diana tivesse sinalizado que desejava que eles publicassem a verdade sobre sua situação. Por outro lado, se sua história tivesse aparecido nos tabloides, teria sido desconsiderada pelos poderes estabelecidos como um monte de bobagens exageradas.
Então, o que fazer? Alguns integrantes de seu pequeno círculo de amigos íntimos ficaram suficientemente alarmados a ponto de temerem pela segurança física de Diana. Sabia-se que ela cometera algumas tentativas de suicídio não muito convincentes no passado e, à medida que seu desespero aumentava, surgia um genuíno temor de que ela pudesse acabar com a própria vida; preocupações amenizadas por uma crença igual ou mais forte de que, no fim das contas, o amor dela pelos filhos nunca a levaria a tomar esse caminho.
No inverno de 1990, quando comecei a fazer pesquisas para escrever a biografia da princesa de Gales, sabia pouco sobre essas preocupações. Tanto como jornalista quanto como autor, eu escrevia sobre a família real desde 1982, o ano seguinte ao casamento de Diana com o príncipe de Gales, e acumulara muitos contatos nos palácios e nos círculos da princesa de Gales e da duquesa de York. Mais cedo, em 1990, escrevi Diana’s Diary [O diário de Diana], um livro sobre o estilo de vida da princesa, o qual, soube mais tarde, fora bem-recebido por ela.
Durante minhas pesquisas para aquele livro, ficou claro que as coisas não iam bem no casamento real. Os amigos de Diana e ex-integrantes de sua comitiva faziam alusões sombrias à infelicidade da princesa. Embora esses indícios fossem intrigantes, não eram novidade. As especulações sobre o casamento dos nobres de Gales cresciam desde uma visita que fizeram a Portugal em 1987, durante a qual insistiram em se hospedar em suítes separadas. Para meu livro seguinte, uma biografia minuciosa da princesa, comecei a tentar desencavar os fatos que cercavam a vida de Diana e logo descobri a dolorosa verdade.
Entretanto, à medida que Diana continuava a considerar o dilema de sua vida como integrante da família real, ela notou que uma série de artigos escritos por mim para o Sunday Times — notavelmente sobre o furor envolvendo o fato de o príncipe Charles ter oferecido uma festa em Highgrove para comemorar os 30 anos da princesa, assim como a despedida de seu secretário particular, Sir Christopher Airey — demonstravam simpatia para com ela. Diana sabia que eu estava juntando as peças de sua história, que era um escritor independente, que não era manipulado pelos jornais e nem (o mais importante) submisso ao palácio de Buckingham — questões de grande relevância enquanto ela avaliava suas ações futuras. De todo modo, após hesitar e esperar durante algum tempo, ela decidiu abrir a porta do santuário interior de sua mente. Fui convocado a me tornar o veículo de sua verdadeira história.
Havia um obstáculo imenso. A chegada de um autor aos portões do palácio de Kensington imediatamente acionaria um alarme — sobretudo tendo em vista que o príncipe Charles ainda morava lá. Assim como o jornalista de televisão Martin Bashir — que mais tarde entrevistou a princesa para o programa Panorama, da BBC — descobriria, um subterfúgio seria a única forma de ludibriar um sistema real eternamente vigilante. Em novembro de 1995, para conduzir sua entrevista, Bashir infiltrou sua equipe de gravação da BBC no palácio de Kensington, em um domingo tranquilo.
No meu caso, Diana foi entrevistada através de um terceiro, um intermediário confiável, para que, se perguntassem à princesa: Você conhece Andrew Morton?
, ela pudesse responder com um sonoro NÃO
. Enviei inúmeras perguntas por escrito sobre todos os aspectos de sua vida, começando, naturalmente, por sua infância. Em troca, ela respondeu da melhor forma que pôde, usando um gravador um tanto ultrapassado na tranquilidade de sua sala de estar privada. Embora fosse um método imperfeito que não dava oportunidade alguma para esclarecer dúvidas imediatas, muito depressa surgiu um quadro de sua vida que divergia imensamente da imagem conhecida por todos. Por ser um escritor que passara boa parte da vida trabalhando no mundo da realeza, em que a evasão, a ambiguidade e os segredos são moeda corrente, inicialmente fiquei atônito com a honestidade de Diana e descrente da história surpreendente que ela revelava. Na primeira sessão de entrevistas, embora muitas perguntas tivessem sido preparadas com antecedência, após o gravador ser ligado, as palavras jorraram de sua boca, quase sem interrupções e pausas para respirar. Foi um grande desabafo.
Pela primeira vez em sua vida na realeza, ela se sentiu poderosa. Finalmente sua voz seria ouvida, a verdade seria contada. Peça a Noah [o apelido que ela me deu] para se certificar de que a história seja revelada
, ela dizia àqueles em quem confiava, decepcionada pelo fato de o processo de escrita e pesquisa de um livro não acontecer da noite para o dia. A escolha do apelido revelava algo sobre seu doce senso de humor. Ele surgiu quando fui descrito em um jornal americano como um notable author and historian, ou seja, eminente autor e historiador
. Ela achou hilária aquela descrição pomposa e, desde então, sempre se referia a mim pela sigla Noah. Tornou-se uma brincadeira recorrente.
Em alguns aspectos, o alívio em descarregar seus segredos foi bastante semelhante ao de outros que emergiram de uma instituição que existe, quase por definição, por uma mistura de mito e magia. Ao longo dos anos, entrevistei inúmeros ex-empregados da família real que ficaram aliviados por finalmente poderem contar como a vida realmente é dentro do palácio de Buckingham. É uma espécie de confissão. Eu estava no limite. Desesperada
, afirmou Diana durante sua entrevista ao Panorama. Acho que estava cansada de ser vista como uma ‘doidinha’, porque sou uma pessoa muito forte e sei que isso causa complicações no sistema em que vivo.
Para Diana, no entanto, o ato de falar sobre sua vida evocava muitas lembranças, algumas alegres, outras difíceis de colocar em palavras. Como uma rajada de vento que passa por um milharal, seu humor oscilava sem parar. Embora tratasse seu distúrbio alimentar, uma bulimia nervosa, e suas tentativas de suicídio pouco convincentes de maneira franca e até mesmo irônica, seus momentos de maior depressão coincidiam com as ocasiões em que falava sobre seus dias como membro da família real, a época das trevas
, como ela se referia a eles. De vez em quando, ela enfatizava seu profundo conceito de destino, uma crença de que nunca se tornaria rainha, assim como sua consciência de que fora escolhida para desempenhar um papel especial. Ela sabia, do fundo do coração, que seu destino era trilhar uma estrada em que sua verdadeira vocação precederia a monarquia. Em retrospecto, suas palavras eram impressionantemente intuitivas.
Algumas vezes, ela era divertida e alegre, sobretudo quando falava sobre a curta vida de solteira. Ela falou saudosamente sobre seu romance com o príncipe Charles, com tristeza sobre sua infância infeliz e com alguma emoção sobre o efeito que Camilla Parker Bowles tivera em sua vida. Na verdade, ela estava tão ansiosa para não ser vista como paranoica ou tola, como ouvira com tanta frequência de amigos de seu marido, que nos mostrou várias cartas e cartões postais da Sra. Parker Bowles para o príncipe Charles para comprovar que ela não estava fantasiando o relacionamento entre os dois. Essas cartas de amor, apaixonadas, afetuosas e cheias de anseios reprimidos, deixaram meu editor e a mim absolutamente convencidos de que as suspeitas de Diana estavam corretas. Não obstante, fomos informados por um advogado especializado em processos de difamação que, segundo a rigorosa legislação britânica, mesmo que você saiba que um fato é verdadeiro, isso não o autoriza a falar sobre ele. Para o aborrecimento de Diana e apesar das provas contundentes, nunca pude escrever que o príncipe Charles e Camilla Parker Bowles eram amantes. Em vez disso, tive de aludir a uma amizade secreta
que fazia uma grande sombra ao casamento real.
As lacunas deixadas de forma inevitável naquela primeira narrativa dolorosamente honesta e quase ininterrupta da história da vida dela foram preenchidas em entrevistas posteriores. Demorou algumas semanas para sentir o poder imenso de seu desejo de desabafar, e, pensando bem, algumas de minhas perguntas foram tão obviamente incongruentes com a realidade de sua vida que foi inevitável que algumas de suas respostas fossem monossilábicas ou refletissem uma falta de compreensão do que eu queria dizer. Na verdade, muitos eventos aos quais me referi em perguntas posteriores, as quais a mídia considerara importantes, tiveram pouca relevância para a vida de Diana. Isso mostrou que a sequência de entrevistas foi muito mais um processo de tentativa e erro, vasculhando materiais existentes na esperança de encontrar um assunto que pudesse instigar uma resposta e gerar novos esclarecimentos.
O processo de compilação de informações manteve a casualidade das entrevistas. Fui frequentemente informado, com muito pouca antecedência, de que Diana tinha um determinado tempo disponível para responder a perguntas. Então, rapidamente elaborava uma série de questões relacionadas à vida dela, as passava adiante e torcia para dar certo. Se estivesse envolvida e interessada, e as perguntas fossem relevantes, suas respostas eram reveladoras e profundas. Ainda assim, era um processo exaustivo para ela; as sessões de gravação raramente duravam mais do que uma hora. Em seguida, o gravador era desligado, às vezes prematuramente, quando um dos empregados se aproximava, e a conversa continuava com apenas um bloco discretamente posicionado para anotar algum material relevante.
Uma vez que eu estava trabalhando através de um intermediário, tive que tentar compreender os humores dela e agir de acordo com eles. Como regra geral, ela se mostrava mais articulada e bem-disposta pela manhã, sobretudo se o príncipe Charles estivesse ausente. Aquelas sessões de entrevistas eram as mais produtivas; Diana chegava a ficar ofegante enquanto despejava sua história. Ela podia ser desconcertantemente alegre mesmo enquanto falava sobre os períodos mais íntimos e difíceis de sua vida. Quando falou pela primeira vez sobre suas tentativas de suicídio, naturalmente precisei saber detalhes sobre quando e onde elas ocorreram. Em seguida, enviei uma série de perguntas específicas sobre o tema. Quando elas lhe foram apresentadas, Diana as tratou como uma brincadeira. É quase como se tivesse escrito meu obituário
, disse ela ao seu interlocutor.
Por outro lado, se uma sessão fosse marcada para a parte da tarde, quando sua energia costumava ser menor, a conversa era menos produtiva. Isso acontecia principalmente se uma notícia negativa sobre ela tivesse sido publicada, ou se ela tivesse brigado com o marido. Então, era sempre sensato focar nas épocas felizes, nas memórias de seus dias de solteira ou nos dois filhos, William e Harry. Apesar de todos esses obstáculos, à medida que as semanas passavam, ficou claro que seu entusiasmo e envolvimento com o projeto aumentavam, sobretudo quando encontramos um título para o livro. Por exemplo, se ela soubesse que eu estava entrevistando um amigo confiável, passaria uma informação, uma piada ou correção em relação a perguntas que eu enviara anteriormente.
Embora estivesse desesperada, quase ao ponto de cometer imprudências, para ver suas palavras aparecerem diante de um público maior, essa disposição era amenizada pelo medo de que o palácio de Buckingham descobrisse sua identidade como a informante do meu livro. À medida que a data de publicação se aproximava, a tensão no palácio de Kensington se tornou palpável. Seu recém-contratado secretário, Patrick Jephson, descreveu a atmosfera como observar uma poça grande de sangue lentamente se espalhar por baixo de uma porta trancada.
Em janeiro de 1992, ela foi avisada de que o palácio de Buckingham sabia de sua cooperação com o livro, muito embora, naquela altura, eles desconhecessem o conteúdo. Não obstante, ela permaneceu decidida a colaborar com a aventura. A tensão não foi grande apenas da parte dela; eu mesmo fora alertado em duas ocasiões diferentes por colegas jornalistas de que o palácio de Buckingham tentava diligentemente descobrir quem era minha fonte. Logo após um desses avisos, meu escritório foi arrombado e meus arquivos revirados, mas nada importante foi levado, a não ser uma máquina fotográfica. Daí em diante, um telefone com misturador de frequências e os telefones públicos das redondezas foram as únicas maneiras seguras de falar com os confidentes dela sem a preocupação de que as conversas estivessem grampeadas.
Esse problema, no entanto, fora previsto há bastante tempo. Desde o início, houve necessidade de dar a Diana a capacidade de negar qualquer envolvimento, desenvolvendo vários enredos para que, quando fosse interrogada pelos guardas do palácio, pudesse categoricamente negar qualquer relação com o livro. A primeira linha de defesa eram seus amigos, que foram usados para disfarçar sua participação. Portanto, além das perguntas escritas para a princesa, enviei uma série de cartas suplicantes para seu círculo de amigos. Eles, por sua vez, contataram Diana para perguntar se deveriam ou não cooperar. Foi um processo inconsistente. Com alguns, ela foi encorajadora; com outros, ambivalente, dependendo de quão bem os conhecia e de seu grau de proximidade com o projeto. Muitos dos intimamente envolvidos acreditavam de verdade que a vida não podia ficar pior para Diana, afirmando que qualquer coisa era melhor do que sua situação atual. Inevitavelmente, havia um sentimento de que a barragem estava prestes a estourar a qualquer momento. Os amigos de Diana falaram com franqueza e honestidade, corajosamente conscientes de que suas ações atrairiam os holofotes da mídia. Como a própria princesa explicou durante uma entrevista: Muitas pessoas viram o sofrimento em que minha vida se transformou e concluíram que ajudar daquela forma era uma maneira de me apoiar.
Sua amiga e astróloga Debbie Frank confirmou esse estado de espírito quando falou sobre a vida de Diana nos meses anteriores à publicação do livro. Houve momentos em que eu terminava um encontro com Diana sentindo que ela estava ansiosa e preocupada por eu saber que seu caminho estava bloqueado. Quando o livro de Andrew Morton foi publicado, fiquei aliviada, porque o mundo tomou consciência de seu segredo.
À medida que minhas entrevistas progrediam, seus amigos e conhecidos confirmaram que, por trás dos sorrisos públicos e da imagem glamourosa, estava uma jovem solitária e infeliz que enfrentava um casamento sem amor, era vista como uma intrusa pela rainha e pelo restante da família real e frequentemente entrava em atrito com os objetivos e projetos da monarquia. No entanto, um dos aspectos encorajadores da história foi como Diana lutava, nem sempre com sucesso, para ter vida própria; uma transformação de vítima em uma mulher no controle de seu destino. Esse foi um processo que a princesa levou até o fim.
Quando o projeto ganhou ímpeto, o teste decisivo foi a leitura do texto pela princesa. Ela o recebeu pouco a pouco em todas as oportunidades que tive. No fim da manhã de um sábado, por exemplo, dirigi-me à embaixada brasileira em Mayfair, onde a princesa almoçava com a mulher do embaixador, Lucia Flecha de Lima, para repassar o último lote. Tendo sido agraciado com a oportunidade de escrever a história da mulher mais amada do mundo, obviamente estava ansioso para saber se interpretara justa e corretamente seus sentimentos e palavras. Para meu grande alívio, ela leu e aprovou as próprias palavras, extraídas das entrevistas gravadas, as quais estavam livremente salpicadas pelo texto, tanto por citação direta quanto em terceira pessoa. Em certa ocasião, Diana ficou tão comovida pela própria história que confessou ter chorado de tristeza. Ela fez várias alterações, de fatos e de ênfase, mas apenas uma única de importância, uma mudança que demonstra seu sentimento de respeito pela rainha. Durante as entrevistas, ela dissera que, quando se atirou escada abaixo em Sandringham, grávida do príncipe William, a rainha foi quem primeiro chegou à cena. No manuscrito, Diana alterou o texto e inseriu o nome da rainha-mãe, aparentemente como uma mostra de deferência por Sua Majestade.
Muito embora vários amigos íntimos de Diana estivessem preparados para terem os nomes citados a fim de apoiarem a autenticidade do texto, a princesa reconheceu que o livro precisava de um elo direto com a própria família para conferir-lhe a necessária legitimidade. Como resultado, ela concordou em fornecer álbuns da família Spencer, contendo inúmeras fotografias encantadoras de Diana ao longo do tempo, muitas delas tiradas por seu falecido pai, o conde Spencer. Um dia, vários álbuns grandes, vermelhos e decorados com letras douradas chegaram aos escritórios do meu editor, Michael O’Mara, no sul de Londres. Várias fotografias foram selecionadas e copiadas, e os álbuns devolvidos. A própria princesa ajudou a identificar várias pessoas que apareceram nas fotografias com ela, algo que gostou muito de fazer uma vez que isso evocou lembranças felizes, sobretudo da adolescência.
Ela também achou importante o fato de que, para tornar o livro verdadeiramente especial, precisávamos de uma fotografia de capa que nunca tivesse sido publicada. Uma vez que sua participação em uma sessão de fotos estava fora de questão, ela própria escolheu e forneceu a cativante fotografia de capa, tirada por Patrick Demarchelier, a qual ela mantinha em seu escritório no palácio de Kensington. Essa imagem e as dela com os filhos, usadas no encarte do livro, eram as suas favoritas.
Quando o livro foi publicado, em 16 de julho de 1992, ela ficou aliviada por enfim divulgar seu relato, mas desesperadamente ansiosa para que suas declarações de que não tivera qualquer envolvimento fossem aceitas. Ela precisaria ser capaz de negar sua participação quando fosse colocada contra a parede pelo palácio. Esse foi um papel que ela desempenhou em grande estilo. O autor e estrela de televisão Clive James relembrou, carinhosamente, haver perguntado a Diana em um almoço se ela estava por trás do livro. Ele escreveu: Ao menos uma vez, no entanto, ela mentiu para mim descaradamente. ‘Não tive nada a ver com o livro de Andrew Morton’, afirmou. ‘Porém, após meus amigos falarem com ele, tive de apoiá-los.’ Ela me olhou diretamente nos olhos enquanto dizia isso, então sei quão convincente conseguia ser enquanto dizia uma mentira deslavada.
Diana fez várias alterações a mão ao texto original.
No primeiro trecho, Diana desmente as afirmações de que seu pai teria ficado decepcionado por ela ter abandonado a escola e de que não tinha ambições.
No segundo trecho, Diana complementa uma informação a respeito de suas atividades na escola de dança de Beth Vacani. No terceiro trecho, ela substitui a afirmação de que ansiava se casar
por estava apaixonada
, em relação ao príncipe Charles.
A distância necessária que ela colocou entre si e o livro significou que eu, seus amigos e outros estavam basicamente lutando por sua causa com as mãos atadas. Diante dos ataques que saudaram as três declarações centrais do livro — a saber, o distúrbio alimentar (bulimia nervosa), as tentativas de suicídio e o relacionamento do príncipe Charles com Camilla Parker Bowles — não se trata de um exagero dizer que teria sido de extrema utilidade se ela tivesse anunciado sua cooperação total. Na verdade, a hostilidade, o ceticismo e o puro sarcasmo com os quais o establishment e seus ajudantes nos meios de comunicação receberam a publicação de meu livro demonstraram vividamente as dificuldades de apresentar a verdade ao público britânico.
Nos meses que se seguiram àquele evento culminante, o livro não apenas alterou a forma