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A mitologia em Game of Thrones
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E-book207 páginas2 horas

A mitologia em Game of Thrones

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Sobre este e-book

Redescobrindo a série de maior sucesso dos últimos tempos na literatura e na televisão por meio das referências mitológicas de George R. R. Martin
Será que Game of Thrones é o melhor professor de mitologia que já existiu?
A mitologia em Game of Thrones é o livro perfeito para os milhões de fãs da série de maior sucesso dos últimos tempos.
Com uma abordagem inteligente, Gwendal Fossois reapresenta a saga genial de George R. R. Martin sob a luz da mitologia.
George R. R. Martin foi buscar nos maiores mitos da História a inspiração para criar os personagens, as tramas e os ambientes de As crônicas de gelo e fogo. E todas essas referências mitológicas estão lá, na série Game of Thrones da HBO: homens que voltam dos mortos depois de rituais misteriosos, personagens resistentes às labaredas ou capazes de mudar a própria aparência, dragões, lobos gigantes e hordas de mortos-vivos congelados até os ossos.
O que seria de Daenerys sem seus dragões? Será que a gente se importaria tanto com a Patrulha da Noite se não houvesse os Caminhantes Brancos do outro lado da Muralha? E Melisandre, de onde vem?
São muitas as referências mitológicas (gregas, romanas, anglo-saxônicas e arthurianas) em Game of Thrones. Venha redescobrir esse universo fantástico!
IdiomaPortuguês
Data de lançamento7 de nov. de 2019
ISBN9788542218282
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    A mitologia em Game of Thrones - Gwendal Fossois

    PREFÁCIO

    NO PRINCÍPIO, AS TERRAS ERAM VASTAS E COBERTAS de florestas. Algumas pessoas teriam ficado surpresas com a construção de uma torre ao norte do estuário do Água Negra. Surpresas em observar o povo se amontoar em volta dessa pequena aldeia que em breve se tornaria a capital, Porto Real. Então, do outro lado, num lugar em que o poder político era mais forte, por onde já se espalhavam campos perfumados, os territórios eram partilhados entre sete suseranos. Isso foi pouco antes do ano 1; pouco antes de Aegon Targaryen, o Conquistador, fundar o reino do Crepúsculo, ou os Sete Reinos; pouco antes de ele construir o imponente Trono de Ferro, com mil espadas de seus inimigos derrotados, fundidas pelo dragão Balerion. Antes de Aegon se tornar rei dos Ândalos, dos Roinares e dos Primeiros Homens.

    Pouco menos de trezentos anos mais tarde, depois de o povo ver nada menos que quinze outros reis da dinastia Targaryen esfregarem o traseiro nesse trono perigosamente cortante, um golpe de Estado levou à liderança um dos suseranos dos Sete Reinos: Robert Baratheon, o Usurpador, que assumiu a coroa durante quinze anos, até sua morte. E isso em benefício dos Lannister, caracterizados pelo emblema do leão, os quais, dizia-se, sempre pagariam suas dívidas. Ou não, no fim. E daí em diante, é guerra – entre o Norte e o Sul, entre o Sul e o Sul, entre o Norte e o Norte, entre o Sul e as cidades livres, para além do Mar Dothraki. É guerra em todo lugar, com o objetivo comum de chegar a esse trono de lâminas, dito potencialmente mortal.

    Esse universo é venerado por mais de 15 milhões de fãs (16,5 milhões de pessoas assistiram ao episódio final da sétima temporada, em 2017)¹ em mais de sessenta países de todos os continentes! Os livros chegaram a mais de 70 milhões de exemplares vendidos. E isso sem falar no download ilegal, que também chega a uma soma violenta.

    Mas por quê? Como George R. R. Martin se tornou o feliz autor de uma gigantesca indústria de ficção que faz tanta gente feliz?

    Ele criou um cenário romanesco inspirado livremente em nosso fecundo imaginário, estimulado pela cartografia histórica. O próprio autor admite ter recorrido a Senhor dos anéis, buscando, ao mesmo tempo, construir um mundo um pouco mais realista. Com menos criaturas fantasiadas, é claro, mas ainda ancorado num universo medieval provável, comparável à Inglaterra que, no fim da Idade Média, sofria com os espasmos causados pela Guerra dos Cem Anos. E esse não é o único elemento que recorre à história ocidental. Os dothrakis lembram claramente os exércitos mongóis. As cidades livres e Valíria remetem às cidades gregas e ao Império Romano, e a Baía dos Escravos muito deve à Pérsia antiga e à Mesopotâmia. Sem contar que há também o Casamento Vermelho, inspirado diretamente na sangrenta história da Grã-Bretanha… É de perder a cabeça!

    Tudo isso coexiste alegremente num anacronismo assumido, que compõe um universo de fantasia cujos limites nem sempre são claros. Isso porque em Game of Thrones há magia, ou melhor, magias: homens ressuscitados por algum mistério desconhecido, pessoas que são expostas ao fogo e não morrem queimadas, dragões e lobisomens, além dos personagens que mudam de aparência e daqueles que podem entrar na mente de animais… Mas o pior de tudo são as hordas de mortos-vivos congelados até os ossos, que seriam simplesmente ridículos se não fossem assustadores.

    Guiado por esses povos e pela história romanceada, George R. R. Martin mergulha de cabeça nos mitos e, com eles, faz uma bela mistura a fim de compor um pano de fundo que não para de perturbar o curso normal dos eventos. Ora, o que seria de Daenerys sem seus dragões? Quem ligaria para a Patrulha da Noite se não fossem os estranhos Caminhantes Brancos do outro lado da Muralha? E de onde sai alguém como Melisandre, no final das contas?

    O autor esconde múltiplas referências a lendas e mitos gregos e romanos,² arcaicos e clássicos, mas igualmente aos nórdicos, anglo-saxões e arturianos, além de referências quase nítidas às religiões e crenças pagãs, as quais dão total sentido ao universo mágico tecido por ele. Este livro convida você a redescobrir a sua saga preferida por meio de uma leitura desses mitos.³ É um passo além para compreender o universo místico e atrativo composto ao longo dos cinco livros e das oito temporadas da série, para que seja mais bem aproveitada a trama que se encena por trás destas três célebres palavras: Game of Thrones.

    WINTER IS COMING…

    O manto branco se estende por milhões de quilômetros, em relevos montanhosos marcados unicamente pelas sombras dos homens e de outras criaturas que deixam suas pegadas nesse espesso tapete imaculado, embora seus traços impressos no solo congelado desapareçam quase imediatamente, varridos pelo vento empoeirado e pelas tempestades de neve.

    Viver no Norte não é uma coisa simples – qualquer selvagem pode confirmar. Da Muralha a Winterfell, ninguém para de repetir, às vezes em tom de brincadeira: o inverno está chegando, sim, e ele não vem sozinho.

    Nessa região extrema dos Sete Reinos, mulheres e homens estão acostumados ao rigor do frio. Mesmo assim, eles temem os períodos invernais como temem a peste; trata-se, afinal, de longos momentos nos quais o sol é quase inexistente, as colheitas são reduzidas, e – assim dizem – terríveis criaturas podem ganhar vida.

    O NASCIMENTO DO MUNDO

    No universo de Game of Thrones, os verões e os invernos têm longa duração, chegando às vezes a perdurar por anos a fio. É nesse contexto que se insere a disputa pelo reino. E o tema da oposição, por mais maniqueísta que possa parecer à primeira vista, encontra-se no núcleo de diversos mitos.

    Em todas as civilizações, desde a Grécia Antiga até a formação do pensamento judaico-cristão, os homens observam as coisas à sua volta com um olhar que se manifesta por meio de uma escala de valores entre o bem e o mal. Se nos debruçássemos sobre as grandes epopeias gregas, poderíamos pensar no difícil retorno de Ulisses, na Odisseia,⁴ uma vez que o rei navegador se coloca em oposição às criaturas maléficas que tentam atrapalhar seu caminho. Mas até mesmo antes disso, na Guerra de Troia,⁵ quando os benfeitores aqueus (os gregos) se unem para salvar a honra de Menelau contra os troianos, após o sequestro da bela Helena. Era então preciso vingar o rei de Esparta – e, se desse para salvar Helena, melhor ainda! Envolvidos no jogo, os próprios deuses colocam-se numa situação de oposição: Poseidon, Athena, Hermes e Hefesto contra Apolo, Ártemis, Ares e Afrodite.

    Essa dualidade existe desde a origem da mitologia. É sua razão de ser. Ela justifica a existência dos homens, esses mortais que consistem numa cópia malfeita dos deuses – para a alegria de Prometeu. As genealogias divinas, desenhadas por Hesíodo no século VIII a.C., justificam a criação dos deuses como fruto de uma oposição entre a Terra (Gaia) e o Céu (Urano).⁶ Na origem do mundo, eles eram grudados um no outro e, com o desenrolar dos eventos, o Céu não parava de engravidar a Terra: uma gravidez permanente e desagradável. Mas eis que um belo dia um desses alegres rebentos, Cronos (o futuro pai de Zeus), usa uma foice para arrancar o sexo do Céu, que se distancia imediatamente da Terra, tamanha a dor, e nunca mais torna a descer.

    FOGO versus GELO

    A oposição entre dois estados é uma constante em Game of Thrones: entre o bem e o mal, entre os selvagens e os outros humanos, entre a vida e a morte. Mas é sobretudo na dualidade entre fogo e gelo que se baseia o particular universo da saga.

    O episódio piloto da série já dá o tom: o frio do Norte se opõe violentamente à leveza de Porto Real e, mais do que isso, à leveza de Essos, onde Daenerys adentra uma banheira cuja água fervilhante certamente a teria queimado, fosse outro o caso. A primeira imagem que o espectador tem da jovem oferece um indício de peso sobre o final da primeira temporada: não, a filha de Aerys II, conhecido como Rei Louco, não teme as chamas. Ela carrega no sangue o fogo do dragão

    Ao longo da saga, o paralelo entre fogo e gelo é permanente. Ele é marcado pela marcha em forma de busca liderada, de um lado, por Daenerys e seu clã em direção à Fortaleza Vermelha e, de outro, pelos Caminhantes Brancos em direção a Porto Real. Esse paralelo se rompe no instante em que os dois elementos se afrontam, no fim da sétima temporada. De repente, a potência do fogo cuspido pelos dragões da pretendente ao Trono, que em geral dão a impressão de serem invencíveis, é esmagada pela mira certeira do Rei da Noite. Viserion, trespassado pela lança de gelo, desliza lentamente em direção às profundezas e desaparece sob o manto branco. Esse combate simbólico, aguardado desde o nascimento dos dragões, marca o fim daquela dupla busca. Com Viserion transformado em espectro, o Exército dos Mortos pode finalmente atravessar a Muralha e, ao mesmo tempo, Daenerys pode, pela primeira vez, adentrar Porto Real.

    DO GINUNGAGAPE AO RAGNARÖK

    Essa dualidade se fundamenta basicamente no mito nórdico do Ginungagape, que conta a origem do mundo. Ela está no núcleo do Völuspá,⁷ poema composto no século X. O Ginungagape era um poço sem fundo que precedia a criação do cosmos. Ele separava dois universos opostos: Niflheim, o mundo de gelo, e Muspellheim, o reino do fogo. É o encontro dos dois elementos que permite a criação dos homens.

    Entediado no Muspellheim, um gigante, único ser vivo ali presente, começa a soprar fogo em direção ao fundo do abismo. Com isso, o gelo acaba derretendo, e o vapor que sai dele termina por criar Ymir, cujo corpo dá vida a Midgard, reino de domínio dos Homens.

    O Völuspá traça um paralelo com o Ragnarök, profecia do fim do mundo, na qual os elementos, no sentido oposto ao do mito da criação, passam a ter uma função, e na qual o frio adquire um papel central. Pouco antes da desaparição dos Homens, mas também dos deuses e de outras criaturas mágicas, um inverno de três anos invade o mundo. É exatamente essa a profecia anunciada pelos Stark e pela Patrulha da Noite: o inverno está chegando. E ele vem com um fedor de morte de arrepiar os cabelos.

    No mito do Ragnarök, as torrentes e o fogo põem fim à destruição. Salvo que, nele, ela não é negativa, uma vez que simboliza o renascimento do mundo. O que se retrata, no caso, é o mito judaico-cristão do Apocalipse e, com ele, alegorias exemplares – entre as quais a do Dilúvio, em que um casal humano deve sobreviver para fundar uma nova civilização.

    Em Game of Thrones, o renascimento passa por um conjunto de buscas iniciáticas empreendidas por uma nova geração: Daenerys, que tem apenas 14 anos no início do primeiro livro (16, na série), Arya (9/11 anos) e Jon (14/17 anos), para citar somente alguns. As gerações anteriores vão se apagando em torno deles para lhes dar a possibilidade de liderar, à sua maneira, um Ragnarök simbólico que definiria os contornos de uma nova civilização, baseada em valores que lhe são próprios. Paralelamente, essa passagem apoia-se no nascimento de duas

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