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quinta-feira, 31 de março de 2016

O que ele levou

Sempre foi quieto.
Foi ele que me ensinou a importância do silencio. O quanto podemos aprender com ele.
Sempre observou muito fazendo com que a falta de instrução académica fosse largamente ultrapassada pelo ensino que a vida lhe deu. E a dele foi dura, muito dura.
Nunca foi um homem de luxos, foi um homem da terra. Sabia quais os verdadeiros valores da vida, porque um dia não teve absolutamente nada.
Sempre foi um exemplo de como os homens deviam ser, de como os avós deviam ser.
O meu avô sempre foi a personificação de um homem honrado, que transmitia no sorriso tudo o que sentia.
Depois ele veio.
Com 80 anos o meu avô nunca teve uma doença séria. Caminhava mais rápido e mais intensamente do que algum dia eu farei. Todos os dias, dedicava horas aquilo que mais amava, os seus pombos.
A columbofilia fazia parte dele. 
E foi numa das suas comemorações, que o meu avô foi confrontado com a maior batalha da vida dele. 
O AVC.

Saiu pelo seu pé para comemorar mais um ano de columbofilia e nunca mais voltou a andar.
Ficou em coma e durante uma semana apenas esperamos pelo momento em que iria partir.
Não partiu e passaram oito anos.
Oito anos de replicas, de sofrimento, de esforço e de revolta.
Precisa de ser alimentado. Precisa que lhe façam a higiene. Precisa que vivam por ele.
De tudo, o que mais me custa é falar com ele e ele não saber quem eu sou. 
Em tempos ainda me reconhecia, embora tivesse criado uma realidade alternativa na sua cabeça do que era a minha vida, mas sabia que eu era a Nádia.
Hoje não sabe.
Na maioria dos dias não fala, apenas dorme. 

O AVC levou-lhe a vida, porque isto não é viver. É sobreviver de uma forma muito distante do que ele merecia.

Hoje, no Dia Nacional do AVC é importante falar dele. É importante ensinar.
É importante estar alerta.
É importante que pessoas como o meu avô sejam exemplo do seu poder e como é determinante sabermos agir. 

Para todas as pessoas que já sofreram um AVC e para todos os cuidadores, muita força.

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