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terça-feira, 9 de agosto de 2011

O QUE ME SEPARA DE MIM MESMA?

 Os opostos sempre me atraíram.  Gosto muito do conceito de "Sombra" que Jung ofereceu para a psicologia. Assim como gosto muito da idéia do "Inconsciente" de Freud. Gosto de pensar que existem partes em mim que não conheço ou que são inconscientes. Sinto-me desafiada e estimulada e descobrir o que existe por trás das primeiras impressões.

Sempre que conheço alguém ou vivo uma situação diferente na minha vida, gosto de me perguntar sobre os aspectos daquilo que não estou vendo pelo simples fato de estar olhando para aquela face que se mostra. 

A imagem que vi e registrei na foto que publiquei no último post ( O que voce pensa/sente ao ver essa foto? ) foi mobilizadora de muitos conteúdos em mim. Era uma momento simples. Havia levado minha mãe para passear em um zoológico na Alemanha. Nada de muito complexo ou subjetivo naquela experiência, até que me deparei com aquela criança que admirava aquele bicho tão grande. Protegida por um vidro espesso, ela que era tão frágil e parecia tão vulnerável diante daquele animal que provavelmente a destruiria com o próprio peso, me pareceu uma imagem incrível. Fotografei.

Nem lembrava dessa foto até que por conta de um recurso automático e aleatório do facebook, ela apareceu diante de mim, na minha página. Parei pra admirá-la. Confesso que estava sem nenhuma inspiração para escrever para esse blog e tive a idéia de colocá-la aqui com um questionamento. Queria saber se outras pessoas seriam mobilizadas por ela como eu fui, ou de que forma seriam mobilizadas.

Recebi muitos comentários, além dos que ficaram registrados no blog. Pessoas me enviaram emails falando sobre impressões que tiveram. Umas  falaram sobre lembranças de quando eram crianças, diante de autoridades, mas a maioria descreveu impressões conceituais de energias e características opostas que sentiam que habitavam suas mentes e suas almas.

Três elementos chamam minha atenção nessa foto. A criança pequena, ingênua e frágil, o animal absurdamente forte, grande mas quieto e, o terceiro elemento, que Helena trás a tona em seu comentário, que é o vidro que separa os dois.

Se penso na criança como a minha mente consciente e o animal como símbolo de conteúdos poderosos e adormecidos, o que seria esse vidro? O que faria essa separação entre o que sabemos de nós, e desse poder absurdo? adormecido ... quieto ... mas vivo, ...ali ... parece que esperando ser despertado. Parecendo um poder que tanto pode ser destruidor como exatamente o oposto. Algo que poderia nos destruir e ao mesmo tempo nos salvar.

Se todos os elementos da foto podem ser vistos e entendidos como partes de mim mesma, o que é esse vidro? O que me mantém separada de uma porção tão poderosa que me pertence? Seria possível rompê-la? Seria possível incorporarmos essa energia? Seria possível trazermos essa porção poderosa para a consciência e nos apropriarmos dela?

Como se esse blog fosse um grande grupo de terapia, quero deixar uma segunda pergunta para vocês:

 "Se encararmos o animal como um poder, o que estaria nos separando dele?"

Ludmila Rohr

quarta-feira, 4 de março de 2009

Um passo...isso é o caminho!


Mais uma ou menos uma?
Fiz essa pergunta pra Judson hoje quando nos dirigiamos para a clínica para a sessão de quimioterapia.

O dia amanheceu lindo, claro, ensolarado, e como moramos em frente a praia no bairro de Piatã, e vamos até Ondina, atravessamos uma boa parte da orla da cidade de Salvador. Praias lindas! Dia tranquilo. Fomos mais ou menos em silêncio durante o trajeto....eu fico pensando.... Aliás, eu e Judson temos formas interessantes do nos organizarmos internamente. Somos tranquilos pra fazer o que deve ser feito. Temos baixíssima resistência a esse processo. Simplesmente fazemos tudo que deve ser feito e sem muitas queixas.

Ontem à noite fiquei olhando pra ele tão bem disposto e pensando que ele iria a partir de hoje passar mal outra vêz, que iria começar os vômitos, inapetência e náuseas. Lembrei da outra vêz e pensei que estávamos apenas no começo, que seriam 12 sessões, que essa será apenas a segunda! Lembrei de um dito popular: A ignorância é corajosa! Entendo porque muitas pessoas preferem a ignorancia, ela tem um certo conforto. Mas, devo discordar dessa fala, porque quando não sabemos do que vamos enfrentar, simplesmente atravessamos, não precisamos de coragem...a ignorancia é cega, mas não é corajosa! Quando sabemos o que nos aguarda, aí sim precisamos de coragem. Precisamos de tranquilidade e de uma mente atenta ao momento presente!

Então imediatamente organizo minha mente....essa sessão não é "ainda" e "tão somente" a segunda, como pensariam os pessimistas vislumbrando uma longa e dura jornada pela frente...., muito menos, essa sessão "já" é a segunda, que seria um pensamento dos "otimistas" que tentam criar uma fantasia de leveza, tentando negar as dores. Esta é A SESSÃO, essa é a única que importa, é a única que existe, não é nem mais uma, nem menos uma, é a sessão. Precisamos apenas dar um passo de cada vêz! Construir um caminho que, segundo Buda, não existe. Um caminho que só existe a medida que cada único passo é dado! Então nesse momento apenas um passo! Um de cada vêz! Por enquanto, só esse.

Namastê!

Ludmila Rohr
P.S. Foto de um amor sob sol da Toscana (Itália)


terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

COSMOS...CAOS....


A idéia de procurar um padrão nas coisas é comum para um engenheiro (meu marido) e para uma capricorniana (eu). Tentamos de alguma forma entender como as coisas acontecem...se elas possuem algum padrão, como elas se repetem....Essa é uma tentativa bem humana de encontrar alguma segurança....se sabemos como acontecem, podemos estar mais preparados...essa é uma (não a única) forma de lógica!

Bom...o efeito desagradável da quimio passou. Judson acordou disposto, com fome e com a cara ótima, sem náuseas....realmente muito bem. Saimos para caminhar na praia, que fica em frente da nossa casa, bebemos água de côco....almoçamos um peixe delicioso em um restaurante que adoramos....e começamos a tentar entender o que se passou e imaginar um padrão.

Imaginamos que a cada quimio...sofreremos uns três dias de náuseas e mal estar e depois... a vida volta!.... sendo assim, já iniciaríamos a contagem regressiva de sessões de quimio.... nos prepararíamos física e emocionalmente para isso. Mas,...parece que as coisas não acontecem exatamente assim. Conversando com algumas pessoas que já passaram por isso, elas dizem que a reação às sessões de quimio podem ser diferentes, muitos fatores influenciam essas reações, e pra mim isso parece óbvio, tudo nessa doença e nesse tratamento é multifatorial...nada é simples...não existe padrão....aliás, câncer é exatamente isso! Células que crescem fora do padrão!!

Bom...não sei, só sei que teremos uns dias de "normalidade" até a próxima quarta. Exatamente uma semana, em que tudo indica que os enjôos não existirão, e até lá, poderemos refletir sobre essa crença de que há alguma "segurança na ordem". A segurança talvêz esteja em saber da nossa capacidade de reestabelecer algum tipo de ordem mesmo no caos, em saber e sentir que a ordem sempre se reestabelece...., mas que ela de fato nunca se perde em algum lugar em nós. Tenho essa fé. Tenho essa sensação de que por mais difícil que seja o momento, posso acessar um lugar tranquilo dentro de mim, e basta que eu busque, que o encontrarei.

No ano passado, na época do 1º câncer, fiz uma tatuagem de um "dorje". Tenho a mania de marcar momentos da minha vida com tatuagens, e achei que esse símbolo do Budismo Tibetano que fala sobre o estado da mente dos Budas, seria uma lembrança de que isso é possível, de que por mais caótico que as coisas aparentem e se mostrem, sempre vai existir um cosmo... algo que pode estar tranquilo como um lago sereno...

A Mente inquebrantável e inabalável dos Budas é algo que ainda está muito, mas muito distante de ser alcançado por mim, mas a certeza de que isso é possível, isso eu já alcancei. Sei que não precisamos nos identificar com o caos e com a desordem e que de fato...tudo é uma grande ordem, e se não é assim que enxergamos naquele momento é porque não estamos distanciados e tranquilos o bastante para perceber.

Namastê

Ludmila Rohr
P.S. Foto da minha tatuagem da imagem de um dorje.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Buda...Mahatma...fazer o que deve ser feito!


Muitos amigos escrevem querendo notícias de Judson, outros escrevem nos enviando dicas de livros legais pra ler, outros ainda nos mandam receitas de ervas e chás..etc.. Acho isso tão lindo! Criei uma pasta com essas informações, todas as dicas e livros... e vou passando pra ele...ele vai escolhendo. Nesse momento ele lê um livro chamado "Anticancer", e está gostando muito. Disse que esse livro vai ajudá-lo a mudar a alimentação e alguns hábitos e atitudes. Fico feliz.
Acredito do poder da nossa mente e da respiração. Sou uma professora de yoga, e realmente tenho essa experiencia. Poderia escrever muito sobre experiencias com a respiração e a meditação. Na verdade não está certo dizer que acredito nessas coisas, "Eu Sei". Uma vez perguntaram a Jung se ele acreditava em Deus, ele respondeu: "Eu não acredito, eu sei". Bom, eu sei do poder da meditação e da respiração.
Digo a Judson que o momento de tomar os remédios ou a quimio, é o momento de grandes meditações. Que ele deve visualizar esses medicamentos, sem rejeitá-los, entrando no seu corpo como energias luminosas e se espalhanso felizes por cada uma das suas células, e que essas células recebem abertas essa energia generosa que vem dos medicamentos; Digo pra ele que quando faz a inalação, que ele deve respirar aquele medicamento como se respirasse o sopro de Deus. que Deus está soprando em suas narinas algo muito sagrado que está entrando nos seus pulmões e curando-o; que a quimio quando goteja nas suas veias deve ser recebida como quem recebe uma seiva generosa e cheia de amor e energia curadora. Digo pra ele que a atitude mental dele pode dar um colorido todo especial a tudo que os médicos fazem. Que receber um remédio achando que é divino, faz uma diferença enorme de recebê-lo rejeitando-os, ou vendo-os como veneno.
Ne verdade essa atitude mental é a diferença na vida! A vida que temos é essa! Como disse ontem, não somos especiais, somos pessoas que vivem uma vida igual a de muitas outras pessoas, mas quando nos rendemos ao sagrado, a nossa vida fica muito especial. Nunca tive muita atração para o mágico, por isso mesmo me identifico tanto com o Budismo. Buda falou de forma muito pragmática sobre como devemos viver para rompermos com a roda do Karma que nos leva a tanto sofrimento, e nos ensinou como viver o Dharma, ou a nossa natureza. Buda falou de passos, de Verdades, ele não falou de mágicas, nem de sermos protegidos, nem muito menos de que existe um Deus para nos proteger se formos bons e uma pra nos castigar se formos maus. A doença não é um castigo, mas o sofrimento é próprio da vida kármica.
Eu tenho uma amiga, que amo muito, e que deve estar lendo esse blog, embora não tenha me escrito. Inge é uma dinamarquesa, que é baiana de coração, ela sabe até sambar (melhor qu eu!), nós passávamos muito tempo refletindo sobre karma, Dharma, Iluminação....temas budistas...adorávamos filosofar...e ela dizia que queria a iluminação e eu, brincando dizia, que não queria não, que gostava muito da minha vida.....riamos muito dessas conversas, que eram grandes brincadeiras, mas que sempre nos levavam a estudar o que Buda dizia.
Bom...continuo amando profundamente os ensinamentos de Buda, eles não tem nada de mágico, eles são práticos, falam da nossa mente e como tudo pode mudar a partir da forma como olhamos as coisas...ele fala de um caminho do meio...um caminho possível, já que apesar de ensinar sobre o Caminho, ele diz que o caminho não existe, que é construido a cada passo, a cada momento, a cada escolha que fazemos. Podemos errar e acertar...não existe pecados...existe cadeia de consequencias e Dharma. Continuo sem querer a iluminação, mas quero ter atitudes iluminadas, quero uma mente clara e cheia de luz pra fazer as melhores escolhas...quero que a luz brilhe através dos meus olhos e das minhas palavras...e das minhas mãos...
Bom...hoje dei a minha primeira injeção...apliquei injeção na barriga de Judson...lembrei do Mahatma e das minhas conversas com Inge...O Mahatma achava que deveriamos desenvolver autonomia, deveriamos aprender a fazer tudo que precisamos, que isso era uma condição para a liberdade...hoje dei uma injeção...seguindo o Mahatma, fiz o que devia ser feito....depois dei uma choradinha básica, mas tudo bem.
Acho que voltamos pra casa hoje! Vamos ver!
Namastê!
Ludmila Rohr