segunda-feira, 25 de julho de 2011

RELATIVIZANDO DORES E PERDAS (ALMA CHEGANDO)

Duas semanas ou três semanas sem postar...
Depois que cheguei do Brasil não tive tempo, nem energia ou inspiração pra isso. Sempre tenho a sensação, depois de uma viagem dessas, de que meu corpo chega, mas minha alma vem devagarinho...vai chegando aos poucos... Respeito isso.

Esses dias algumas pessoas começaram a me cobrar posts novos. De verdade não me sinto cobrada, nem tenho um impulso de escrever para atendê-las. Sei também que elas fazem isso com carinho, acho até bonitinho sentirem falta do meu blog. Agradeço e respondo que logo logo escreverei, mas espero meu tempo chegar... 

Hoje fiquei com uma pequenininha vontade de escrever...parece que por uma fresta pequena e ainda estreita minha alma começa a se instalar em mim outra vez. Aos pouquinhos estou ficando inteira de novo.

A alma que encontra meu corpo nessa volta do Brasil é uma alma com algumas marcas e mais sensível. A alma de quem perdeu o pai adorado ( me despedi dele três posts atrás). A alma de quem não sabe como é o  país que estará morando dentro de alguns mêses, a alma que sabe que em breve deixará para trás uma cidade que aprendeu a amar, amigos queridos que construiu ... A alma de quem se afastará geograficamente do segundo filho em breve, e terá que acostumar com os dois filhos longe...bem longe....

Tenho uma forma de lidar com as coisas que me parece interessante. Gosto de pensar no que vou aprender de novo. Gosto de pensar nos ganhos que terei ou tive me cada situação, mas não dá pra esquecer que tudo tem um preço. Não dá pra fazer de conta de que tudo são flores. Não sou assim, e nem conseguiria ser.

A próxima grande mudança na minha vida, que tudo indica que será para a Coréia do Sul, vai me colocar perto de vários países que tenho a maior curiosidade em conhecer, mas vai me deixar longe de muitas pessoas e coisas que amo. Estarei bem pertinho da China, Japão, Indonésia, Laos, Vietnan, Butão...enfim, tantos lugares que não conheço e sempre quis conhecer e estou excitada com isso.

Tenho a sensação clara de que vou porque tenho mais a ganhar do que a perder e, tentarei entender como afastamento e não como perda, aquilo que deixarei aqui quando for. Entendo que Houston e os amigos que fiz são uma expansão do meu território e das minhas conquistas e não como perdas que terei. Sinto que voltarei sempre que quiser e os verei de novo... bem diferente da perda do meu pai que não o verei mais quando voltar ao Brasil. Essa sim, uma perda de verdade.

Depois de lutar por dois anos ao lado do meu marido contra um câncer aprendi ainda mais a relativizar as dores e os problemas. Parece que muitas coisas perdem importância depois disso ou são redimensionadas. Depois da morte do meu pai, aprendi a relativizar as perdas. O que é realmente perda diante disso? Só as mães que perdem seus filhos continuam a me comover completamente sem que exista relativização possível na minha mente. As outras perdas que vejo amigos e pessoas queridas passarem, todas eles me deixam compassiva, mas não me provocam pena.

Bom...minha alma está fluindo....sem pressa vai chegando...

Obrigada a todos que me aguardaram e ainda aguardam...
.... estou chegando devagarinho....

Ludmila Rohr






sexta-feira, 8 de julho de 2011

EU ERA FELIZ E SABIA !!!!

Tenho muita pena da pessoa que com pesar, constata que "Era feliz e não sabia"

Pra mim essa frase diz respeito a um arrependimento de não ter curtido ou mesmo valorizado algo que tinha, e que só percebeu quando perdeu e não a  tem mais. 

Não lembro de ter sentido isso na minha vida. Não lembro de ter usado essa expressão, de forma séria, alguma vez. A minha necessidade de viver cada dia como se fosse o único me coloca em contato com uma noção do presente e com uma vivência intensa dele. Não sobra espaço para arrependimentos de algo que não vivi por que fui descuidada ou por não ter valorizado o suficiente. 

Ontem nessa minha quarta semana em Salvador, fui a um restaurante em Itapuã que fez parte da minha vida por muitos anos. Eu e meu marido o freqüentávamos quase todas as semanas nos últimos 15 anos que moramos em Salvador. Conhecíamos todos os garçons, e escolhíamos nossos pratos sem nenhuma necessidade de olharmos o cardápio, de tão familiar que ele nos era. Desde que mudamos para os EUA, não tínhamos voltado lá. 

Além do atendimento e comidas perfeitas, esse lugar nos evoca tantas boas lembranças.... Quando saí do restaurante pensei que se eu tivesse que voltar a morar no Brasil hoje, eu voltaria feliz. Me dei conta de uma sensação deliciosa de alegria. A única frase que vinha na minha mente era: "Eu era feliz e sabia!" Sempre soube...

Uma vez ouvi um ensinamento indiano em forma de parábola. Era assim: 

"No portão que dava acesso a uma pequena vila na Índia, morava um sábio e seu discípulo. Cada pessoa que entrava na vila conversava com o sábio, as perguntas mais comuns eram a respeito de como eram as pessoas que viviam naquela vila. A essa pergunta, o sábio sempre oferecia uma outra pergunta como resposta. Dizia: Como eram as pessoas do lugar onde voce vivia? Algumas pessoas respondiam, - eram más, egoístas, invejosas...por isso saí de lá. Outras diziam: - Eram muito boas, amigas, companheiras, solidárias...foi uma pena deixá-las. A ambas as respostas, o sábio dizia a mesma coisa: - As pessoas daqui, são como as de lá. Seus discípulo ouvindo isso questionou o porquê do sábio "enganar" aqueles viajantes, o que ele respondeu com um ensinamento belíssimo, não as estou enganando, só podemos ver do lado de fora, aquilo que temos dentro de nós. As pessoas sempre encontrarão a si mesmas, independente do lugar que forem."

Quando eu cheguei em Houston, me peguei olhando com encantamento para tudo que a cidade tem de muito bom! Adoro aquela cidade, por mais que veja seus defeitos, não existe a menor chance de sair de lá com algum tipo de sensação de que vivi algo que não gostei, ou de que perdi tempo da minha vida. Adoro aquele lugar e sentirei saudades dele, assim como de todas as pessoas que conheci lá. Tenho certeza de que terei tantas histórias pra contar, tantas boas lembranças... sou feliz em Houston. 

Existe uma chance grande de mudarmos em breve para Seul na Korea. Essa mudança não me assusta, muito pelo contrário, fico extremamente excitada em pensar que poderei passar um tempo conhecendo países asiáticos. Daquele continente apenas conheço a Índia e o Nepal. Morando lá, terei chances de conhecer Japão, China, Laos, Cambodja, Vietnan... só em pensar nisso fico animadíssima. Embora muitas pessoas achem estranho minha animação e tentem me deixar preocupada por ser um país de uma cultura tão diferente da nossa, não consigo deixar de achar que terei experiências incríveis lá. 

Vivi toda minha vida em Salvador na Bahia, nasci e cresci nessa cidade que amo. Conheço seus defeitos. Acreditem, não sou bairrista a ponto de ficar cega para eles, assim como não sou deslumbrada com os EUA para não perceber que assim como aqui, eles também têm seus problemas. Diferentes dos nossos, mas eles também os têm. 

Realmente acredito no ensinamento da parábola do sábio indiano. Acho que o lugar é apenas um lugar, e que não adianta mudar de lugar tentando fugir de algo, pois seus conteúdos e seus olhos irão junto com voce. A simples mudança geográfica não muda a sua forma de lidar com as coisas que estão do lado de fora. É preciso uma reflexão profunda e um reconhecimento da sua responsabilidade pessoal nisso para que algo realmente mude. Conheço pessoas que fugiram do estresse das cidades grandes, em busca de uma vida bucólica no campo, e que vivem muito estressadas com os ruídos dos sapos e das corujas. Mudanças externas precisam vir acompanhadas de mudanças internas para que de fato funcionem. 

Me dou conta de que amo Salvador e que poderei voltar a morar aqui e serei feliz. Amo Houston, ficarei com saudades de lá...amarei Seul...tenho certeza disso, porque um dos meus mantras pessoais e que me definem é: "O que existe aqui, existe lá. Se não existe aqui, não existe em lugar algum."

Eu era feliz em Salvador, sempre soube e disso. Sou feliz em Houston, (apesar dos dias de saudade imensa) não podia ser diferente. Serei feliz em Seul ou em qualquer lugar que eu for.

Ludmila Rohr