“O Sesimbrense” está prestes a bater no fundo. Pelo segundo número consecutivo, o editorial do jornal, assinado pela sua directora, presta-se a uma lavagem de roupa suja, tão evidente quanto insólita. Desta vez, a Dr.ª Peneque tem, pelo menos, o mérito de ser explícita. Diz ela que há dois anos, a então Direcção da Liga dos Amigos de Sesimbra, errou ao conceder uma licença sem vencimento, por quatro anos, à jornalista efectiva d’O SESIMBRENSE”. Por conseguinte, como o lugar da dita jornalista ficou em aberto, o jornal, dada a sua débil condição financeira não pode contratar agora um jornalista e sujeitar-se a, daqui a dois anos (será este o prazo de validade de Augusto?), ter de arcar com o vencimento de dois funcionários, em vez de um, para o mesmo lugar. Por isso, “O Sesimbrense” tem aberto as portas a estagiários que, por estarem nessa mesma condição, estão a aprender e não têm, portanto, os conhecimentos da profissão que um profissional encartado terá.
Confesso que se me tornou penoso ler isto. Mais penoso será ainda dissecá-lo. Mas, indo por partes, tentarei fazê-lo.
1.º Para meu espanto, a Dr.ª Peneque, num passo de mágica, parece continuar a esquecer-se de que é directora de “O Sesimbrense”; e de que, como tal, tem a responsabilidade de coordenar, orientar e superintender a acção do estagiário – que, naturalmente, faz o seu melhor –, suprindo as lacunas ou as deficiências que o trabalho deste possa apresentar. Volto a dizê-lo à Dr.ª Peneque: não há, nunca houve, o lugar de director estagiário.
2.º É notável que o problema do quinzenário seja hoje o de haver, ou não haver, dinheiro para pagar a jornalistas. Que me lembre, Carlos Batista foi, durante décadas, e abnegadamente, o redactor-principal (e, depois, o director) de “O Sesimbrense”, assegurando, com pontualidade, a saída de um jornal que, ao tempo, ainda dizia alguma coisa aos seus leitores. Não consta que Carlos Batista tenha, alguma vez, ganho qualquer salário. Pode a sua actuação não ter estado isenta de críticas. Pode o homem não ter sido perfeito. Mas foi afastado, de forma injusta, vergonhosa e muito pouco clara, do jornal que, durante tantos anos, ajudou a fazer.
3.º Veio depois o Dr. Sequerra e foi o regabofe que se viu. Não vale a pena escrever, aqui e agora, no molhado das lágrimas de riso que ele então nos suscitou. “O Sesimbrense” deixou de prosseguir a defesa dos interesses regionais, e, subordinado a motivações pessoais e movimentações político-partidárias, passou a servir de poleiro e trampolim a várias espécies de aves canoras e de arribação. Arma de arremesso até Outubro de 2005, o jornal transformou-se, a partir de então, na voz do dono. Ó Dr.ª Peneque! Francamente! Claro que a rapariga pediu a licença por quatro anos! Como podia alguém esperar que ela a tivesse pedido só por dois anos, quando os mandatos autárquicos duram o dobro, e o Dr. Sequerra, certamente consultado pela Liga, apôs no papel, preto no branco, da transferência, um nihil obstat? Afinal de contas, tratava-se de constituir a equipa da sempre dinâmica Dr.ª Felícia, a heroína que, segundo o Dr. Sequerra, nos devolveu, ao cabo de muitos anos, as bandeiras azuis!
4.º Se eu pensasse que a Dr.ª Peneque viveu em Marte até Julho do ano passado, estava capaz de a compreender. Afinal, “O Sesimbrense” ainda não é distribuído naquele planeta. Sucede que, nos anos mais recentes, a Dr.ª Peneque não foi vista a descolar em qualquer foguetão. Daí ser agora levado a pensar que ela, antes de ter aceitado ser subdirectora de um jornal sem director, já era leitora do mesmo. Estava, por certo, a par, do que ia encontrar em matéria de redacção. Tinha, também, a obrigação de saber quão venerador, atento e obrigado se encontrava o jornal perante os poderes constituídos quando o Dr. Sequerra lhe entregou o facho. E aqui é que bate o ponto. A Dr.ª Peneque ainda não mexeu uma palha para devolver “O Sesimbrense” ao seu estatuto de jornal isento e inconformado. Antes pelo contrário, por tudo aquilo que aqui foi sendo dito. E este problema é que, seguramente, não diz respeito ao estagiário. É um problema do Director do jornal e da Direcção da Liga. Depois deste último número, a situação tornou-se patética, e mesmo desesperada. Mas há uma luz de esperança. Valha-nos a fé ilimitada que a Dr.ª Peneque aparenta demonstrar no regresso a casa da jornalista efectiva, já daqui a dois anos… Afinal, a fé move montanhas, mesmo as que são capazes de parir um rato.