Uma leitora deste blog me indagou se é possível fazer uma drenagem linfática após o final do tratamento para linfoma de Hodgkin. Achei o tópico tão interessante (e tão pouco discutido) que resolvi fazer um post sobre ele.
Para responder a esta pergunta, primeiro eu tive que procurar informação sobre a técnica de drenagem linfática. Encontrei uma boa explicação em http://www.personare.com.br/mitos-e-verdades-sobre-drenagem-linfatica-m2087 . Veja as seguintes sentenças, transcritas do próprio site:
"A massagem é realizada através de pressões leves. É importante frisar que o método não é doloroso, tampouco deixa hematomas (roxos na pele). As pressões feitas na pele direcionam os líquidos do corpo para as estruturas do sistema linfático, onde será eliminado através da urina."
Aqueles que defendem que a drenagem linfática é proibida em pacientes com doenças malignas, o fazem porque, em teoria, a compressão de locais onde existem células tumorais poderia "deslocar" estas células favorecendo o aparecimento de metástases.
MINHA OPINIÃO:
De cara, encontramos um problema. Imagino quanta pressão deverá ser exercida para deslocar uma célula que está fixa em um tecido. Um dos princípios da formação dos tumores, é que eles apresentam uma rica rede de tecido de sustentação.
Outro problema: a metástase não é uma célula que, por acidente, se soltou do tumor. Ela é uma célula que adquiriu uma nova capacidade, que consiste de viajar pela corrente sanguínea ou linfática, aderir à parede dos vasos sanguíneos, abrir um buraco nesta parede, penetrar por este buraco e se fixar em outros tecidos mais distantes do tumor inicial.
Como isto funciona em relação aos linfomas:
No caso dos linfomas agressivos, tipo linfoma de Hodgkin e linfoma B de grandes células, o tratamento tem finalidade curativa. Fazer ou não drenagem linfática após o tratamento pouco mudará isto. Se existir uma única célula de linfoma viva após o tratamento, haverá recaída com ou sem a drenagem. Como os tratamentos envolvem mais quimioterapia, em tese, não importa se a recaída for no mesmo lugar ou mais distante.
Além disto, a capacidade de se deslocar pelo tecido linfático ou sanguíneo é inerente aos linfócitos e os linfomas são doenças de linfócitos. Não é necessário massagear a região para que a doença se dissemine se não for corretamente manejada.
Assim, para os linfomas mais agressivos, não vejo problema em realizá-la após o término do tratamento.
Já nos casos dos linfomas mais crônicos (indolentes) tipo o linfoma folicular, eu daria o benefício da dúvida aos detratores da drenagem. Sugiro evitar a drenagem em locais onde a doença está ativa, com gânglios aumentados. Ainda assim, desconheço trabalho científico que aponte risco de piora da doença após tratamento de drenagem linfática. Se alguém conhecer, por favor me mostre.
Dúvidas e comentários?
Um abraço.
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4 comentários:
Agora que vi a postagem! Que legal Dr. Rony! Muitíssimo obrigada por tirar minha dúvida e de tantas outras pessoas! Parabéns pelo blog e pelo excelente trabalho! Abraços!
Boa tarde. Estou em remissão do Linfoma de Hodgkin há uns 4 meses. Fui à ginecologista fazer exames de check up e pedi que me indicasse uma pílula anticoncepcional. Ela disse para eu perguntar para o meu hematologista se há algum componente na pílula que eu não possa usar. Mas tenho consulta só no final do outro mês e gostaria de saber do doutor se pacientes em remissão podem usar qualquer pílula anticoncepcional ou é pode interferir no sistema linfático e facilitar uma recidiva já que as pílulas provocam retenção de líquidos?
Prezada Clarissa,
desconheço qualquer relação entre pílula anticoncepcional e linfoma. De qualquer modo, converse com o seu médico. Abraços.
Boa tarde doutor. Estou em remissão de linfoma de hodgkin 2A há um ano e acabo de descobrir que estou grávida de um mês. Estou preocupada se há algum risco de mal formação para a criança ou mesmo um risco maior de recidiva pra mim. Me médico não me falou nada sobre gravidez pós tratamento. Poderia me esclarecer essa dúvida?
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