Prezados,
Depois de um atraso de cerca de 3 meses, acumularam-se umas 40 perguntas neste tópico. Já são 195 perguntas no total. Assim, prefiro usar esta postagem para dar uma resposta genérica sobre as dúvidas mais comuns. Se sobrarem dúvidas, por favor façam um comentário.
Na grande maioria dos casos, as perguntas se referem à descoberta de gânglios (ou possíveis gânglios) e a possibilidade de representarem linfomas.
Considerações:
1- a grande maioria dos gânglios palpáveis NÃO são linfomas. Os gânglios aumentam comumente por infecções.
2- como saber se são infecções? via de regra, gânglios que aumentam por infecção reduzem seu tamanho ao cabo de poucas semanas.
3- moral desta história: se der para esperar, melhor observar por algumas semanas.
4- situações nas quais é melhor não esperar: gânglios ou massas maiores do que 3 cm ou gânglios que continuem aumentado no período sem que não esteja acontecendo mais nada. Ou ainda, a presença de coceira sem causas aparente, suores noturnos enormes e emagrecimento.
5- situações nas quais eu direi que é linfoma baseado nos questionamentos de vocês: NUNCA. O diagnóstico de linfoma só pode ser feito com a biópsia do gânglio. A internet não é aceita pelas comunidades médicas para realização de consultas. Exame físico do paciente ainda é impresindível.
Abraços,
Rony
domingo, 1 de fevereiro de 2015
segunda-feira, 31 de março de 2014
Drenagem linfática e linfoma
Uma leitora deste blog me indagou se é possível fazer uma drenagem linfática após o final do tratamento para linfoma de Hodgkin. Achei o tópico tão interessante (e tão pouco discutido) que resolvi fazer um post sobre ele.
Para responder a esta pergunta, primeiro eu tive que procurar informação sobre a técnica de drenagem linfática. Encontrei uma boa explicação em http://www.personare.com.br/mitos-e-verdades-sobre-drenagem-linfatica-m2087 . Veja as seguintes sentenças, transcritas do próprio site:
"A massagem é realizada através de pressões leves. É importante frisar que o método não é doloroso, tampouco deixa hematomas (roxos na pele). As pressões feitas na pele direcionam os líquidos do corpo para as estruturas do sistema linfático, onde será eliminado através da urina."
Aqueles que defendem que a drenagem linfática é proibida em pacientes com doenças malignas, o fazem porque, em teoria, a compressão de locais onde existem células tumorais poderia "deslocar" estas células favorecendo o aparecimento de metástases.
MINHA OPINIÃO:
De cara, encontramos um problema. Imagino quanta pressão deverá ser exercida para deslocar uma célula que está fixa em um tecido. Um dos princípios da formação dos tumores, é que eles apresentam uma rica rede de tecido de sustentação.
Outro problema: a metástase não é uma célula que, por acidente, se soltou do tumor. Ela é uma célula que adquiriu uma nova capacidade, que consiste de viajar pela corrente sanguínea ou linfática, aderir à parede dos vasos sanguíneos, abrir um buraco nesta parede, penetrar por este buraco e se fixar em outros tecidos mais distantes do tumor inicial.
Como isto funciona em relação aos linfomas:
No caso dos linfomas agressivos, tipo linfoma de Hodgkin e linfoma B de grandes células, o tratamento tem finalidade curativa. Fazer ou não drenagem linfática após o tratamento pouco mudará isto. Se existir uma única célula de linfoma viva após o tratamento, haverá recaída com ou sem a drenagem. Como os tratamentos envolvem mais quimioterapia, em tese, não importa se a recaída for no mesmo lugar ou mais distante.
Além disto, a capacidade de se deslocar pelo tecido linfático ou sanguíneo é inerente aos linfócitos e os linfomas são doenças de linfócitos. Não é necessário massagear a região para que a doença se dissemine se não for corretamente manejada.
Assim, para os linfomas mais agressivos, não vejo problema em realizá-la após o término do tratamento.
Já nos casos dos linfomas mais crônicos (indolentes) tipo o linfoma folicular, eu daria o benefício da dúvida aos detratores da drenagem. Sugiro evitar a drenagem em locais onde a doença está ativa, com gânglios aumentados. Ainda assim, desconheço trabalho científico que aponte risco de piora da doença após tratamento de drenagem linfática. Se alguém conhecer, por favor me mostre.
Dúvidas e comentários?
Um abraço.
Para responder a esta pergunta, primeiro eu tive que procurar informação sobre a técnica de drenagem linfática. Encontrei uma boa explicação em http://www.personare.com.br/mitos-e-verdades-sobre-drenagem-linfatica-m2087 . Veja as seguintes sentenças, transcritas do próprio site:
"A massagem é realizada através de pressões leves. É importante frisar que o método não é doloroso, tampouco deixa hematomas (roxos na pele). As pressões feitas na pele direcionam os líquidos do corpo para as estruturas do sistema linfático, onde será eliminado através da urina."
Aqueles que defendem que a drenagem linfática é proibida em pacientes com doenças malignas, o fazem porque, em teoria, a compressão de locais onde existem células tumorais poderia "deslocar" estas células favorecendo o aparecimento de metástases.
MINHA OPINIÃO:
De cara, encontramos um problema. Imagino quanta pressão deverá ser exercida para deslocar uma célula que está fixa em um tecido. Um dos princípios da formação dos tumores, é que eles apresentam uma rica rede de tecido de sustentação.
Outro problema: a metástase não é uma célula que, por acidente, se soltou do tumor. Ela é uma célula que adquiriu uma nova capacidade, que consiste de viajar pela corrente sanguínea ou linfática, aderir à parede dos vasos sanguíneos, abrir um buraco nesta parede, penetrar por este buraco e se fixar em outros tecidos mais distantes do tumor inicial.
Como isto funciona em relação aos linfomas:
No caso dos linfomas agressivos, tipo linfoma de Hodgkin e linfoma B de grandes células, o tratamento tem finalidade curativa. Fazer ou não drenagem linfática após o tratamento pouco mudará isto. Se existir uma única célula de linfoma viva após o tratamento, haverá recaída com ou sem a drenagem. Como os tratamentos envolvem mais quimioterapia, em tese, não importa se a recaída for no mesmo lugar ou mais distante.
Além disto, a capacidade de se deslocar pelo tecido linfático ou sanguíneo é inerente aos linfócitos e os linfomas são doenças de linfócitos. Não é necessário massagear a região para que a doença se dissemine se não for corretamente manejada.
Assim, para os linfomas mais agressivos, não vejo problema em realizá-la após o término do tratamento.
Já nos casos dos linfomas mais crônicos (indolentes) tipo o linfoma folicular, eu daria o benefício da dúvida aos detratores da drenagem. Sugiro evitar a drenagem em locais onde a doença está ativa, com gânglios aumentados. Ainda assim, desconheço trabalho científico que aponte risco de piora da doença após tratamento de drenagem linfática. Se alguém conhecer, por favor me mostre.
Dúvidas e comentários?
Um abraço.
quarta-feira, 19 de março de 2014
Pessoas famosas que enfrentaram linfomas
Artistas ou políticos costumam servir de exemplos, algumas vezes bons, outras ruins.
Além disto, para muitos, os artistas estão em outro nível de vida, mais elevado.
Quando eles tornam públicos seus problemas de saúde, têm o potencial de se tornarem grandes exemplos para aqueles que buscam forças para si ou seus entes queridos.
Neste post, farei comentários, que são públicos, sobre pessoas famosas que enfrentaram e, na maioria das vezes venceram, linfomas:
1- Dilma Roussef - impossível não iniciar com a presidente. Ela apresentou um linfoma difuso de grandes células B, o mais comum dos linfomas, ainda em fase inicial. Foi submetida a quimioterapia e tem grande chance de estar curada.
2- Reynaldo Gianecchini - graças a ele, um dos meus posts mais visualizados falava de linfoma T do tipo angioimunoblástico. É um tipo de linfoma de difícil tratamento. Por isto, ele necessitou submeter-se a um transplante de medula autólogo logo no primeiro tratamento da doença. Também é um candidato a estar curado deste raro tipo de linfoma.
3- Fernando Lugo - o ex-presidente do Paraguai se notabilizou por procurar São Paulo para um tratamento de um linfoma folicular. Este é o segundo tipo mais comum de linfoma, trata-se de uma doença de desenvolvimento lento e, paradoxalmente, mais difícil de curar-se do que os linfomas mais agressivos.
4- Glória Perez - segundo apurei nos jornais da época, parece que também se trata do linfoma apresnetado pela Presidente. Tomara que ambas estejam curadas.
5-"Nicole", personagem da novela "Amor à Vida". Segundo pude apurar por fontes, já que não sou muito noveleiro, Nicole teve um linfoma de Hodgkin. Em se tratando de uma história de linfoma, foi uma feliz escolha já que existe um pico de incidência desta doença em mulheres jovens. Na maioria das vezes, a doença é curável. Infelizmente, não sei o destino da Nicole. Perdi este capítulo. Só apurei que ela tinha o estádio 4, o mais avançado, quando aparece doença fora dos gânglios e do baço.
Um abraço e até a próxima.
Além disto, para muitos, os artistas estão em outro nível de vida, mais elevado.
Quando eles tornam públicos seus problemas de saúde, têm o potencial de se tornarem grandes exemplos para aqueles que buscam forças para si ou seus entes queridos.
Neste post, farei comentários, que são públicos, sobre pessoas famosas que enfrentaram e, na maioria das vezes venceram, linfomas:
1- Dilma Roussef - impossível não iniciar com a presidente. Ela apresentou um linfoma difuso de grandes células B, o mais comum dos linfomas, ainda em fase inicial. Foi submetida a quimioterapia e tem grande chance de estar curada.
2- Reynaldo Gianecchini - graças a ele, um dos meus posts mais visualizados falava de linfoma T do tipo angioimunoblástico. É um tipo de linfoma de difícil tratamento. Por isto, ele necessitou submeter-se a um transplante de medula autólogo logo no primeiro tratamento da doença. Também é um candidato a estar curado deste raro tipo de linfoma.
3- Fernando Lugo - o ex-presidente do Paraguai se notabilizou por procurar São Paulo para um tratamento de um linfoma folicular. Este é o segundo tipo mais comum de linfoma, trata-se de uma doença de desenvolvimento lento e, paradoxalmente, mais difícil de curar-se do que os linfomas mais agressivos.
4- Glória Perez - segundo apurei nos jornais da época, parece que também se trata do linfoma apresnetado pela Presidente. Tomara que ambas estejam curadas.
5-"Nicole", personagem da novela "Amor à Vida". Segundo pude apurar por fontes, já que não sou muito noveleiro, Nicole teve um linfoma de Hodgkin. Em se tratando de uma história de linfoma, foi uma feliz escolha já que existe um pico de incidência desta doença em mulheres jovens. Na maioria das vezes, a doença é curável. Infelizmente, não sei o destino da Nicole. Perdi este capítulo. Só apurei que ela tinha o estádio 4, o mais avançado, quando aparece doença fora dos gânglios e do baço.
Um abraço e até a próxima.
quinta-feira, 26 de dezembro de 2013
Linfoma de zona cinzenta - Atenção para o diagnóstico
Recebi um paciente para segunda opinião.
Tratava-se de um adulto na faixa dos 30 anos, homem, cuja doença apareceu como febre.
Foi feito um raio X de tórax e lá estava uma tremenda massa no mediastino (área acima do coração).
Foi feito uma punção por agulha cujo laudo foi um tipo comum de linfoma, conhecido como linfoma difuso de grandes células B (linfoma que acometeu a presidenta). Neste caso, pensaríamos em um subtipo incomum deste linfoma que é o "primário de mediastino".
O caso ficou realmente estranho quando eu vi o resultado da imunoistoquímica, que é uma técnica utilizada para confirmar o diagnóstico do patologista.
O resultado típico de um linfoma difuso de grandes células é: CD20++ , Oct-2 Neg , CD30 variável.
Qual não foi a minha surpresa quando o resultado foi: CD20 neg, Oct-2 positivo forte, CD30 positivo forte.
Esta marcação é compatível com outro tipo de linfoma, o linfoma de Hodgkin.
Resumindo, estava diante de um linfoma com "cara" de linfoma difuso de grandes células mas "focinho" de linfoma de Hodgkin.
Mandei na lata: Será que não é um linfoma de zona cinzenta?
O acompanhante ficou pasmo e disse que este foi o resultado da segunda biópsia, feita após o paciente ter falhado a 2 esquemas de tratamento.
Esta é a história do linfoma de zona cinzenta. Muito resistente à quimioterapia. O único tratamento que parece funcionar deve incluir radioterapia.
Moral da história: linfoma é doença para quem está atualizado. Temos que analisar todos os exames a luz da nossa experiência. Não fui nenhum gênio de desconfiar do diagnóstico. Tinha lido uma penca de artigos na metade do ano (inclusive fiz um post para este blog).
Cada vez mais, o oncologista geral terá dificuldade. Isto é natural. Nos Estados Unidos, a maioria dos grandes hospitais têm serviços especializados em linfomas.
Um abraço.
Tratava-se de um adulto na faixa dos 30 anos, homem, cuja doença apareceu como febre.
Foi feito um raio X de tórax e lá estava uma tremenda massa no mediastino (área acima do coração).
Foi feito uma punção por agulha cujo laudo foi um tipo comum de linfoma, conhecido como linfoma difuso de grandes células B (linfoma que acometeu a presidenta). Neste caso, pensaríamos em um subtipo incomum deste linfoma que é o "primário de mediastino".
O caso ficou realmente estranho quando eu vi o resultado da imunoistoquímica, que é uma técnica utilizada para confirmar o diagnóstico do patologista.
O resultado típico de um linfoma difuso de grandes células é: CD20++ , Oct-2 Neg , CD30 variável.
Qual não foi a minha surpresa quando o resultado foi: CD20 neg, Oct-2 positivo forte, CD30 positivo forte.
Esta marcação é compatível com outro tipo de linfoma, o linfoma de Hodgkin.
Resumindo, estava diante de um linfoma com "cara" de linfoma difuso de grandes células mas "focinho" de linfoma de Hodgkin.
Mandei na lata: Será que não é um linfoma de zona cinzenta?
O acompanhante ficou pasmo e disse que este foi o resultado da segunda biópsia, feita após o paciente ter falhado a 2 esquemas de tratamento.
Esta é a história do linfoma de zona cinzenta. Muito resistente à quimioterapia. O único tratamento que parece funcionar deve incluir radioterapia.
Moral da história: linfoma é doença para quem está atualizado. Temos que analisar todos os exames a luz da nossa experiência. Não fui nenhum gênio de desconfiar do diagnóstico. Tinha lido uma penca de artigos na metade do ano (inclusive fiz um post para este blog).
Cada vez mais, o oncologista geral terá dificuldade. Isto é natural. Nos Estados Unidos, a maioria dos grandes hospitais têm serviços especializados em linfomas.
Um abraço.
quinta-feira, 24 de outubro de 2013
Linfomas -- terapias alvo - o futuro do tratamento
Prezados,
fechando a série de artigos básicos, temos este terceiro artigo.
Aqui, me proponho a sair do mesmo.
Temos vários tratamentos consagrados para linfomas, a saber:
1- quimioterapia
2- radioterapia
3- transplante de medula
4- rituximabe - anticorpo monoclonal
E no futuro, o que virá? É uma vergonha, mas aqui falarei de medicamentos que, em muitos casos, já são antigos nos países desenvolvidos.
1- Bendamustina - já é primeira linha para tratamento de linfoma folicular na Europa- e olha que, por lá, ninguém rasga dinheiro...
2- Brentuximabe vedotin - maiores taxas de resposta já registradas em pacientes com linfoma de Hodgkin recaído. Trata-se de uma mistura de anticorpo (anti-CD30) e quimioterapia.
3- Imunomoduladores - exemplo é a eficácia da lenalidomida em leucemia linfocítica crônica e do everolimus no linfoma do manto.
4- Novas gerações de anti-CD20 tais como ofatumumabe e obinotumomabe.
5- Ibrutunube, droga oral com resultados extraordinários em leucemia linfocítica crônica de mau prognóstico.
6- Melhorias para o transplante:
Melhora da mobilização com o uso do plerixafor
Enfim, se até a radioimunoterapia que tem décadas de uso nos EUA não chegou por aqui, o que esperar dos outros?
Um abraço.
fechando a série de artigos básicos, temos este terceiro artigo.
Aqui, me proponho a sair do mesmo.
Temos vários tratamentos consagrados para linfomas, a saber:
1- quimioterapia
2- radioterapia
3- transplante de medula
4- rituximabe - anticorpo monoclonal
E no futuro, o que virá? É uma vergonha, mas aqui falarei de medicamentos que, em muitos casos, já são antigos nos países desenvolvidos.
1- Bendamustina - já é primeira linha para tratamento de linfoma folicular na Europa- e olha que, por lá, ninguém rasga dinheiro...
2- Brentuximabe vedotin - maiores taxas de resposta já registradas em pacientes com linfoma de Hodgkin recaído. Trata-se de uma mistura de anticorpo (anti-CD30) e quimioterapia.
3- Imunomoduladores - exemplo é a eficácia da lenalidomida em leucemia linfocítica crônica e do everolimus no linfoma do manto.
4- Novas gerações de anti-CD20 tais como ofatumumabe e obinotumomabe.
5- Ibrutunube, droga oral com resultados extraordinários em leucemia linfocítica crônica de mau prognóstico.
6- Melhorias para o transplante:
Melhora da mobilização com o uso do plerixafor
Enfim, se até a radioimunoterapia que tem décadas de uso nos EUA não chegou por aqui, o que esperar dos outros?
Um abraço.
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domingo, 15 de setembro de 2013
Linfoma : definição, tipos, introdução PARTE 2
Como os linfomas aparecem?
Para que um linfócito adquira o perfil de uma célula maligna, e assim seja o precursor de um linfoma, algumas condições precisam ser satisfeitas:
1- Imortalidade - uma das características básicas do câncer é a perda da capacidade de autodestruição da célula anormal, um mecanismo conhecido como apoptose. Por incrível que pareça, todas as células são equipadas com uma bomba-relógio. Se não fosse assim, nossos dedos pareceriam com os do sapo com membranas entre os dedos. No caso dos linfócitos, além de linfomas, podem ocorrer doenças autoimunes como o lupus, o vitiligo, tireoidite de Hashimoto quando linfócitos anormais não são destruídos. Uma das substâncias que as células do linfoma podem fabricar para evitar a apoptose é o Bcl-2. Linfomas foliculares são positivos para Bcl-2. Muitos linfomas difusos de grandes células também.
É claro que a imortalidade dos linfócitos pode ser benéfica, quando a célula é normal. Um exemplo disto são os linfócitos de memória , que são as células fabricadas quando recebemos as vacinas. Por isto, a defesa contra as infecções prevenidas por vacinas costumam persistir por muitos anos. Outro exemplo é a imunidade adquirida após infecções virais, tais como catapora, sarampo, rubéola e caxumba, a qual persiste por toda a vida.
2- Multiplicação acelerada - de algum modo, a partir de uma célula alterada, surgem tumores que podem pesar vários kilos. Isto pode acontecer ao cabo de vários anos nos linfomas mais lentos, tais como o mieloma múltiplo ou o linfoma linfocítico tipo-LLC. Outras vezes, a doença evolui em poucos meses. Neste caso, as células precisam de uma alta capacidade de multiplicação. Esta capacidade de multiplicação aliada à imortalidade é que permite o aparecimento da doença. Também se conhecem agentes que, quando aumentados nas células, induzem proliferação acelerada. Um exemplo é o c-myc. O linfoma de Burkitt é o mais agressivo dos linfomas. A velocidade de duplicação deste linfoma é medida em semanas. A alteração genética comum a todos os linfomas de Burkit é o excesso de c-myc.
Também neste caso cabe a ressalva: multiplicação acelerada pode ser muito útil em caso de infecções por exemplo. Só que neste casos ocorre a morte das células depois que a infecção é tratada.
3- Escape imunológico - este é o mecanismo mais complicado. Sabemos que a complexidade do corpo humano é imensa. De tempos em tempos, células defeituosas são formadas. Existem, no sistema imunológico, células capazes de reconhecer e atacar as células malignas. Particular atenção é dada a um grupo de linfócitos denominados "natural killer cells" (células naturais assassinas) que parecem ser eficazes neste ataque.
Um exemplo cabal disto é a eficácia do transplante de medula óssea para o tratamento de linfomas T e foliculares. Quanto maior a atividade dos linfócitos criados depois do transplante, maior a chance de cura.
Outro exemplo é o aumento da incidência de linfomas em pacientes com imunodepressão pela SIDA (AIDS).
Alguns defeitos celulares são marcadores de linfoma e são usados para o seu diagnóstico. Exemplos:
- positividade para T(8;14) e linfoma de burkitt
-positividade para ciclina D1 no linfoma do manto
-positividade para T(14;18) nos linfomas foliculares
Certos agentes infecciosos têm potencial cancerígeno:
vírus da hepatite B
vírus de Epstein-Bahr
vírus HTLV-1
Parece complicado?
E é.
Muita pesquisa está sendo feito nesta área. Novos tratamentos podem explorar estes mecanismos.
Mas isto poderá ser tema de outro post.
Um abraço.
terça-feira, 6 de agosto de 2013
Linfomas de pele: Micose fungóide , zona marginal (MALT), folicular e linfoma da perna
Prezados,
Resolvi fazer um intervalo na série sobre "princípios dos linfomas porque recebi alguns pacientes com linfomas de pele. Como são tipos de linfoma relativamente incomuns, cabe alguns esclarecimentos:
1- Os linfomas de pele mais comuns são chamados de micose fungóide. Eles são linfomas do tipo T e que costumam aparecer como lesões em áreas do corpo que não pegam sol. O tratamento varia de acordo com o tamanho, profundidade e quantidade das lesões. Costuma ter uma evolução lenta.
2- Menos comuns, mas não raros, estão os linfomas do tipo B. A curiosidade aqui é que eles são muito mais comuns que os linfomas T quando pensamos em linfomas de uma maneira geral, envolvendo os gânglios (só para se ter uma idéia, os 6 tipos mais comuns de linfoma são B).
3- Os três tipos de linfoma B de pele têm uma contra-partida em um linfoma do gânglio. Entretanto, em todos os casos, estes linfomas só se apresentam na pele.
4- Linfoma B de zona marginal é semelhante ao encontrado no estômago, no pulmão e na tireóide (coletivamente conhecidos como MALT, de "mucosal associated lymphoid tissue"). A curiosidade é que em muitos casos existe associação com bactérias e o tratamento pode ser até antibiótico (notadamente nos linfomas de estômago e glândula lacrimal) e em outros existe associação com infecção pelo vírus da hepatite B ou C. Ele costuma ser um linfoma "bem comportado" cujo tratamento principal é local.
5- Linfoma centro folicular é semelhante ao linfoma folicular que aparece nos gânglios e é dos mais comuns. Assim como o outro, o linfoma de pele costuma ser pouco agressivo. No entanto, existem diferenças que devem deixar o patologista atento para não errar o diagnóstico: eles não apresentam a T(14;18) e podem ser Bcl-2 negativos.
6- Linfoma B da perna é a contra-partida do linfoma B de grandes células e é o mais agressivo dos linfoma de pele. Em geral, necessita de tratamento com quimioterapia e, apesar do nome, pode aparecer em outros lugares além da perna. A característica principal é que, na imunoistoquímica, o CD10 é negativo e o MUM1 é positivo.
Um abraço.
1- Os linfomas de pele mais comuns são chamados de micose fungóide. Eles são linfomas do tipo T e que costumam aparecer como lesões em áreas do corpo que não pegam sol. O tratamento varia de acordo com o tamanho, profundidade e quantidade das lesões. Costuma ter uma evolução lenta.
2- Menos comuns, mas não raros, estão os linfomas do tipo B. A curiosidade aqui é que eles são muito mais comuns que os linfomas T quando pensamos em linfomas de uma maneira geral, envolvendo os gânglios (só para se ter uma idéia, os 6 tipos mais comuns de linfoma são B).
3- Os três tipos de linfoma B de pele têm uma contra-partida em um linfoma do gânglio. Entretanto, em todos os casos, estes linfomas só se apresentam na pele.
4- Linfoma B de zona marginal é semelhante ao encontrado no estômago, no pulmão e na tireóide (coletivamente conhecidos como MALT, de "mucosal associated lymphoid tissue"). A curiosidade é que em muitos casos existe associação com bactérias e o tratamento pode ser até antibiótico (notadamente nos linfomas de estômago e glândula lacrimal) e em outros existe associação com infecção pelo vírus da hepatite B ou C. Ele costuma ser um linfoma "bem comportado" cujo tratamento principal é local.
5- Linfoma centro folicular é semelhante ao linfoma folicular que aparece nos gânglios e é dos mais comuns. Assim como o outro, o linfoma de pele costuma ser pouco agressivo. No entanto, existem diferenças que devem deixar o patologista atento para não errar o diagnóstico: eles não apresentam a T(14;18) e podem ser Bcl-2 negativos.
6- Linfoma B da perna é a contra-partida do linfoma B de grandes células e é o mais agressivo dos linfoma de pele. Em geral, necessita de tratamento com quimioterapia e, apesar do nome, pode aparecer em outros lugares além da perna. A característica principal é que, na imunoistoquímica, o CD10 é negativo e o MUM1 é positivo.
Um abraço.
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