E se um dia recebesse um aviso a proibir a impressão e distribuição de todos os produtos relacionados com o S. Valentim? Nem caixas, nem corações, nem rosas vermelhas, tudo, tudo interdito. Então saberia a sensação que os iranianos e iranianas irão experimentar no próximo dia 14 de Fevereiro quando oferecer uma caixinha de chocolates se tornar num acto e, quiçá condenável perante a lei.
Celebrar casamentos temporários para evitar o adultério, condenar homossexuais à forca, mulheresà lapidação, enforcar, torturar fustigar em nome do Islão ainda é aceitável para os todo-poderosos ayatollahs mas, um “mon Chéri” em 14 de Fevereiro… torna-se um acto de rebeldia, de resistência …
Enfim, todos sabemos que o “fruto proibido é o mais apetecido”…por isso adivinho um dia interessante na terra dos ayatollahs.
"Sakineh Mohammadi Ashtiani no es la única persona en Irán a la espera de que se ejecute la pena de muerte a la que fue condenada. El caso de esta iraní de 43 años y madre de dos hijos ha saltado a la luz pública debido a la intensa campaña para evitar su lapidación llevada a cabo por diversas organizaciones como Amnistía Internacionalo Human Rights Watch. Una web que pide su liberación (http://freesakineh.org/) ha recogido más de 89.000 firmas entre ellas las del ex presidente brasileño Fernando Henrique Cardoso..." in, El País
Por vezes esquecemos o mundo real. Esta justiça bárbara que se julga divina... imaginamo-nos no séc. XXI, preferimos ignorar. Mas, poderemos ignorar?
«Questionado sobre o facto de o Brasil ter reconhecido as eleições no Irão e não o voto nas Honduras, Lula da Silva afirmou que «os dois casos são completamente diferentes», já que as eleições iranianas «não violaram a constituição» e as das Honduras foram feitas «por um golpe repudiado por todo o mundo». in, Sol
A única conclusão que consigo tirar destas palavras é que existem "boas" e "más" ditaduras, e que as prisões arbitrárias, as violações dos direitos humanos, as restrições às liberdades civis nas Honduras são "más" mas, as condenações à morte, as perseguições políticas e religiosas, as limitações à liberdade de imprensa ... no Irão são justificáveis e, portanto "boas" e venha de lá um abraço ao "amigo" Ahmadinejad, precisado que está de apoio para o seu programa nuclear "para fins pacíficos"...
Aliás, ou me engano muito ou o próprio Zelaya se preparava para violar a constituição do seu país ao recandidatar-se ao cargo de presidente... esta foi de resto a argumentação dos juízes do Tribunal Constitucional hondurenho.... pelo que se pode depreender que também em matéria de violações da constituição umas são "boas" outras não...
Lendo as declarações feitas no tribunal e vendo alguns destes homens e mulheres desfilar em frente das câmaras para se retratarem, não posso deixar de pensar no ambiente kafkiano livro de Koestler, O Zero e o Infinito. Bastaria "persificar" os nomes dos personagens desta trama para nos recordar que numa ditadura é impossível governar inocentemente.
Esta sexta-feira ficou marcada pelo recrudescer dos protestos nas ruas de Tearão. Ali Akbar Hashemi Rafsanjan, um dos líderes religiosos mais proeminentes e ex-presidente do país, desafiou as autoridades islâmicas ao proclamar alto e bom som a "crise" política e ao exigir a libertação de todos os presos políticos. Nas ruas de Tearão juntaram-se, depois, dezenas de milhares de manifestantes gritando "Morte ao ditador" e "Abaixo a Rússia", tal como documentam as imagens. À primeira vista poderíamos considerar incompreensível esta "palavra de ordem mas... A sanha contra os russos deriva do facto do presidente Ahmadinejad se ter rodeado de conselheiros russos que são considerados os responsáveis pela situação de crise política que o Irão vive . A somar a isto o reconhecimento dos resultados eleitorais pela Rússia, tudo boas razões para o crescendo de impopularidade deste país. E como se estas razões não bastassem, o recente homícidio, na Alemanha (Dresden), de uma egipcia grávida, por um neo-nazi russo (o Partido Neo-nazi Russo, tal como outros partidos semelhantes apoiou, expressamente a vitória de Ahmadinejad) veio galvanizar ainda mais a multidão contra o "grande vizinho".
Uma das singularidades dos incidentes pós-eleitorais no Irão é a elevada presença feminina nos distúrbios. De facto, as mulheres surgem na primeira linha ao lado dos mais jovens mesmo quando as manifestações se tornaram violentas: elas arremessam pedras e lançam-se para a frente das forças de segurança. Nos últimos vinte anos, a sociedade iraniana vive numa dualidade: na rua, impera uma ordem teocrática que obriga as mulheres a vestirem-se "modestamente", escondendo as suas identidades por detrás do hijab; e, que proibe actividades "decadentes" como a dança ou, o consumo de bebidas; que condena os homossexuais à morte. Mas, em privado, tudo é diferente. Despido o hijab, descobrem-se roupas ocidentais e o gosto pela música e, pelo convívio (como documentam as imagens recolhidas por um blogger russo). Apesar, de terem acesso a alguns cargos políticos designadamente, no parlamento e, de acederem às universidades em condições de igualdade relativamente aos homens, elas são efectivamente, cidadãs de segunda. Por isso nos acontecimentos recentes mulheres de todas as idades juntaram-se aos protestos. Os protestos têm até uma mártir: Neda. O poder da imagem da sua morte foi tal, que as autoridades não entregaram sequer, o seu corpo à família. Mais, a família terá sido obrigada a deixar a sua casa para que ninguém a pudesse contactar... Seja qual for o desenlace destes acontecimentos o papel das mulheres na sociedade iraniana parece prestes a mudar. Alguns temem a reacção dos grupos mais conservadores mas, esta revolta feminina irá certamente pressionar o sistema e talvez elas possam afinal, ter esperança de dar mais alguns passos no sentido da igualdade.
A repressão abateu-se implacável sobre os manifestantes no Irão. Dez mortos, mais de uma centena de feridos, estes são os números oficiais. Os manifestantes falam em muitos mais. Falam de feridos que teriam sido retirados dos hospitais para serem eliminados e de um cortejo de outras violências.
O massacre parece eminente, agora que o Líder Supremo perdeu a sua aura e que até ele é contestado, abertamente, nas ruas; agora que os órgãos de informação oficiais apelidam os manifestantes de “terroristas”. Agora, tudo parecerá justificado.
No final de uma semana de manifestações as balas parecem ganhar contra os twitters. Os iranianos estão por sua contra e risco. O ocidente vai dando sinais ténues de apoio e preocupação mas, de facto, só pode ser espectador de uma tragédia anunciada.
O futuro da revolução "verde" iraniana pode de facto estar nas novas tecnologias. Apesar dos bloqueios, os iranianos continuam a alimentar as cadeias de notícias internacionais com os seus relatos na primeira pessoa, com as imagens recolhidas em tempo real … ou seja, a informação circula, apesar de tudo.
A multidão em Tearão. A polícia montada nas suas motas distribui bastonadas causando o alarme entre a multidão. Na confusão, um polícia é derrubado. A sua mota incendeia-se (é incendiada?). A multidão rodeia o polícia. Como se comporta a multidão para com este homem acabado de perder o seu poder, a sua autoridade, a sua força? Imagens como estas são uma lição e, um perigo para a coesão do regime. Não admira que este esteja a abrir brechas.
São impressinantes as imagens que chegam de Tearão via youtube. Mais uma vez o jornalismo dos cidadãos põe uma ditadura às voltas com a informação. Não admira que, agora, o acesso à internet e a utilização de telemóveis (inconvenientes câmaras) tenha sido bloqueado. A teocracia iraniana, receosa da mudança, ter-se-à permitido falsificar o resultado das eleições. O facto de muitos delegados terem sido impedidos de fiscalizar o acto eleitoral, a rapidez do anúncio dos resultados e a vitória folgada de Ahmadinejad justificam as dúvidas sobre os verdadeiros resultados das eleições presidenciais iranianas. Entretanto, o regime ameaça tratar os protestos como sedição e, o Líder Supremo procura uma saída airosa "pelas vias legais" mas, embora a resposta às reclamações apresentadas(por Moussavi e por outro candidato) esteja marcada para os próximos sete a dez dias é, bom que nos lembremos que o responsável do Conselho dos Guardiões (que também tem o poder de veto sobre os candidatos no período pré-eleitoral), Ayatollah Ahmad Jannati, é um apoiante de Ahmadinejad... Apesar de todos os protestos não parece provável uma cedência dos ayatollahs. A ironia é que Moussavi se tenha tornado, 20 anos depois, num líder moderado capaz de trazer esperança de modernidade à tirania que ajudou a instalar.
O Supremo Líder da Revolução Islamica, Ayatollah Seyyed Ali Khamenei, veio felicitar Mahmoud Ahmadinejad pela sua vitória nas eleições presidenciais mas, a oposição clama igualmente vitória. "Manipulação" é a palavra que usam para classificar os resultados eleitorais. Por isso, cenas como as de sábado na ruas de Tearão não são para estranhar.
Uns e outros reclamando para si a vitória, ânimos exaltados ... Os relatos contam que em algumas áreas a polícia de choque foi rechaçada pelos manifestantes mas, existem igualmente informações segundo as quais Mousavi (o mais votado dos opositores) foi detido. Enquanto, nas áreas urbanas uns pretendem a liberdade (dentro dos limites impostos pelo Supremo Líder) outros pretendem manter tudo como está. Uma clivagem perigosa entre os diversos sectores da sociedade. Em Shadr-eRey, a sul de Tearão, um dos eleitores disse que as jovens apoiantes de Moussavi, tinham dançado nas ruas, sem os seus lenços e acrescentou: " Votarei por Ahmadinejad, porque se Mousavi ganhar, elas dançarão nuas na próxima semana".
O que fica bem patente destas imagens é a paixão e, o descontentamento que este processo provocou em largos sectores da sociedade iraniana. Mais uma vez, as novas tecnologias estão a desempenhar um papel crucial pois, enquanto os jornalistas estrangeiros são activamente impedidos de reportar os acontecimentos, os cidadãos-jornalistas enviam imagens que alimentam as agências internacionais e mantém a questão iraniana na "berra". A vitória de Ahmadinejad sobre o moderado Moussavi tem impacto na política internacional (não augurando nada de bom para a paz no Médio Oriente) mas, para os cidadãos comuns o impacto é mais imediato.
Interessante ver o divórcio entre as palavras e a forma brutal (estúpida?) como a lei é cumprida pelas chamadas Brigadas da Moralidade, encarregues de zelar pelos bons costumes dos cidadãos e, claramente, um homem de cabelos compridos não é um "bom costume". A voz que se ouve em fundo é a de Ahmadinejad, antes de ser eleito, presidente da República Islâmica do Irão:
" O cabelo dos nossos filhos é um assunto de Estado? Os nossos filhos gostam de usar o cabelos de diferentes maneiras, de que modo isso me afecta a mim, ou si? Nós deveríamos preocupar-nos com os problemas fundamentais do nosso país. Quero dizer que o governo deveria melhorar as condições económicas, estabilizar a situação do país, promover a segurança psicológica, ajudar as pessoas. O nosso povo tem diferentes gostos, tradições, estilos, étnias. O governo tem de servir todos. Porque humilhamos as pessoas? Nós humilhamos as pessoas como se o nosso maior problema fosse o estilo de cabelo dos jovens e, o governo não pode permitir isso. Não! Isto é apropriado para o governo? É justo para as pessoas?Isto é um insulto para o nosso povo. Porque desprezamos o povo? O nosso maior problema é que as raparigas usem esta ou aquela roupa? As pessoas têm diferentes gostos." _______ Ver arquivo sobre o Paternalismo, a actuação da Polícia de Costumes, e os "queridos ingénuos" ocidentais... ou se preferir, Irão. ______ A teocracia iraniana não tem o exclusivo da preocupação com a imagem. No Algarve há quem se preocupe com o decote, as jeans ou a cor lingerie...
“O Líder Supremo do Irão, ayatollah Ali Khamenei, recebeu o alto-representante da ONU para a Aliança das Civilizações, Jorge Sampaio, com quem abordou os objectivos desta iniciativa que tem como objectivo o diálogo entre culturas e religiões, além de patrocinar projectos de apoio económico e social.
Durante o encontro, foi sublinhada a importância do diálogo como instrumento fundamental na superação de clivagens entre Estados, povos e culturas, e a necessidade de um maior aprofundamento das relações entre as diferentes esferas civilizacionais para eliminar preconceitos resultantes do desconhecimento. […]”.
in, DN
A diplomacia é um jogo de espelhos. O diálogo de civilizações, com o Irão, precisamente com o Irão na pessoa de Khamenei é uma perda de tempo. O regime iraniano, na proximidade de eleições presidenciais*entendeu organizar uma conferência para retocar a imagem. Nestas coisas, os ocidentais dão sempre jeito, a ONU prestou-se. Assim, num país onde existe um verdadeiro apartheid religioso organizou-se uma conferência sobre o diálogo de civilizações. Tudo isto se passou, sublinho num país onde se pode ser executado simplesmente, por ser cristão, budista, hindu ... pior que tudo, judeu.
Analise-se, ainda, a fotografia da oradora Mary Robinson. Veja, como o seu cabelo aparece despudoradamente sob o lenço. Por crimes como este, a polícia dos costumes, prende as infelizes faltosas não se comovendo sequer com a aflição do filhos (ver).
E falando de diálogo, terão os nossos queridos ingénuos (para não lhes chamar "idiotas úteis") dito algumas palavrinhas sobre isto?
Farzad Kamangar é um professor e activista curdo, de 33 anos, que foi condenado à morte em Fevereiro deste ano e que viu a sua sentença confirmada em Jullho apesar das pressões internacionais. Farzad Kamangar é um conhecido activista na defesa das minorias curdas e foi acusado de pertencer ao Partido dos Trabalhadores do Curdistão. Kamangar está à guarda dos serviços secretos iranianos e terá sido submetido a tortura (coisa habitual, nas prisões iranianas). Se a pressão internacional e os apelos não forem bem sucedidos espera-se que seja executado nas próximas semanas.
Não sei se os Direitos Humanos fizeram parte da conversa entre Jorge Sampaio e o ayatollah Khamenei mas, pode subscrever este e outros apelos da AI antes que seja demasiado tarde.
Vedetas rápidas do exército iraniano, armadas de lança-roquetes, estariam prontas a desenvolver ataques suícidas contra os navios norte-americanos presentes na região do estreito de Ormuz. Um artigo interessante sobre os desafios da livre circulação nos mar (do petróleo) e os desafios da segurança numa região dominada pelos petrodólares e, pelo fanatismo religioso.
"Une «attaque en bande, comme des loups» contre les bateaux américains : c'est la tactique de guerre éclair mise au point par la marine iranienne dans les eaux du golfe Arabo-Persique, en riposte à d'éventuelles frappes contre les installations nucléaires de Téhéran. Pilotées par des gardiens de la révolution fanatisés, une vingtaine de petites embarcations donnent régulièrement l'impression de fondre sur des navires occidentaux croisant dans les eaux internationales." in, Le Figaro
Uma estudante universitária iraniana, alvo de assédio por parte de um professor resolveu documentar e denunciar a situação. Os jovens estudantes irromperam pelo gabinete do vice-chanceler, Hassan Madadi, e confrontaram-no, munidos de câmaras de telemóvel. As imagens foram depois, colocadas na internet.
Mais de 3000 estudantes participaram em manifestações e exigiram que ele fosse acusado.As autoridades de universidade procuraram apaziguar os ânimos e, logo que as férias começaram anunciaram que a “exposição de um pecado é pior que o próprio pecado”, pelo que a estudante e os seus amigos foram presos. Ah, sim … o professor foi promovido. Parece que quer invocar o Sigheh – forma de casamento temporário que pode durar uma hora (!!!) - pois, leu, piedosamente, uns versículos antes de formular o seu pedido por favores sexuais.
Bom, isto passa-se naturalmente na mui puritana sociedade da Republica Islâmica do Irão, não se poderia passar noutras paragens... ou poderia?
Hoje, Manuel António Pina, publica no JN um comentário sobre "...o VI Encontro Mundial das Famílias, a Arquidiocese do México [que] acaba de divulgar uma "ficha de valores" dirigida às mulheres. Estas devem, "se querem evitar agressões sexuais", não usar "roupa provocatória", ter cuidado com "olhares e gestos", "não ficar sozinhas com homens, mesmo conhecidos", "não permitir familiaridades a amigos e parentes" e "não tolerar anedotas picantes".
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Entretanto, referindo-se a este caso o diário conservador iraniano , Kayhan, descreve a situação como: “uma conspiração por parte dos inimigos da República Islâmica" e afirma "que a divulgação do comportamento imoral de Madadi é um incentivo à rebelião na universidade."