Datilógrafo aos onze anos, escritor-menino aos doze, numa pequena cidade do interior da Amazônia. Uma máquina de escrever. De repente, uma súbita vontade de trazer, para a clareza da vida, palavras enclausuradas no silêncio da criança, naquele instante sob a posse de mundos invisíveis. Manhã de temporal, havia goteiras na casa de madeira. Muita chuva e relâmpagos no céu escurecido, mesmo que ainda não fosse meio-dia.
Disso o escritor-menino jamais se esqueceria. Uma literatura que veio do temporal e de uma potência de espírito que não era possível compreender. O menino se deixou levar pelo êxtase, saltou de si mesmo para o interior da ciranda das palavras. Nunca mais se separaram, ele e as palavras. E viveram, até os dias de hoje, uma história amorosa, ora com força de ventania, ora com gosto de desamparo, ora com reverência ao mistério da escrita, ora com a leviandade narcísica de brilhar diante do mundo. Demorou bastante, até que escritor e literatura se viram, de relance, cara a cara, uma experiência repentina que pôs no horizonte a perspectiva existencial de suas histórias. O escritor, não mais menino, agora homem mais próximo do silêncio infinito, finalmente compreendeu que o extraordinário daquela manhã de temporal, sua literatura, não passava de um engendramento do seu destino. Escrever nada mais era do que seu artifício existencial para suportar as intensidades da vida. Aquietou-se em seu anonimato, ele e suas palavras, entranhados numa espécie de pacto poético em nome da lucidez e do apego ao absolutamente essencial para viver. Apesar de toda essa sensatez, de todo o desapego ao mundano, perdurou certa melancolia decorrente da indiferença dos outros.
Então, certo dia, o homem feito experimentou outra vez algo próximo daquela centelha criadora da manhã de temporal de sua infância. Das redes sociais, surgiu uma voz em defesa de todos os escritores anônimos, com uma eloquência que encorajava até os mais tímidos e dissipava a solidez dos medos. Uma mulher, com a experiência de longos anos no mercado editorial, desfazia todas as artimanhas mercantilistas que matam a obra literária, revertendo o negativo em ato de criação. Animava as gentes das letras ao enfrentamento dos perigos. Suas palavras entusiasmadas transformavam o marketing literário numa ludicidade de enorme eficácia contra os fracassos e esquecimentos. Ao referir-se aos leitores inconquistáveis, dizia, como quem fala para crianças: "Os leitores são Borboletas! Não corram atrás das borboletas! Cuidem do seu jardim, que as Borboletas virão...".
O escritor relutou diante daquelas palavras incisivas. Ele detestava marketing literário. Isso não era problema dele, mas das editoras, das livrarias, da mídia, dos especialistas. Para ele, o marketing destruía a obra de arte literária, transformando-a em simples utensílio, tal qual um martelo exposto numa loja de ferramentas ou qualquer coisa exposta numa vitrine de shopping. Pior ainda: entulhava o mundo com porcarias que em nada contribuíam para o gosto do povo pela boa leitura e pela boa escrita. Toda essa resistência, entretanto, não passava de ressentimento do escritor triste e desconhecido.
Ela dizia: "O mundo dos livros tem suas regras, o escritor precisa saber como o jogo funciona". Sabe-se que, apesar de milhares de livros publicados, apenas 1% dos autores terá a possibilidade de se tornar um escritor de sucesso. Aliás, mesmo para os consagrados, o ímpeto no jogo precisa ser mantido, se a vontade for ter a companhia permanente das Borboletas.
"Cuide do seu jardim, escritor! Cuide do seu jardim!".
Ora, mas o que é cuidar do jardim de escritor? Escrever uma obra-prima? Regar as plantas? Fazer-se jardineiro de si mesmo?
Que história é essa de livros ruins, alguns até estúpidos, venderem mais do que livros bons, que só alguns poucos leem? A moça respondeu: "O que tiver melhor marketing venderá mais do que seu concorrente."
O escritor mostrou seu livro premiado, trouxe todas as obras publicadas e inéditas, e indagou: "O que faltou fazer?"
A moça respondeu: "Faltou estratégia. O escritor precisa ser estrategista. Conhecer e aplicar a Matriz do Autor Estratégico - leia-se: cuidar do seu próprio jardim e atrair as Borboletas - são tarefas tão essenciais quanto escrever o livro. Isso, sim, faltou".
Uma fala de mulher revolucionária e criadora: as palavras da Dany.
Sim, há no Brasil uma revolução no mundo literário. A comandante dessa guerrilha em favor dos escritores e seus livros se chama Dany Sakugawa. Ignoro se fazia sol ou chuva quando ela, em algum instante de sua vida, teve a ideia de deixar para trás tudo o que fazia, a fim de criar o seu The Book Business, que é uma espécie de Guia de Alquimista que assinala o pote de ouro no fim do arco-íris, um trajeto de muita luta, uma vereda de muitos perigos. Mas qualquer um pode chegar ao ouro do alquimista. Abriu-se um espaço de grande amplidão para tantos escritores brasileiros que se veem perdidos, contando apenas com o talento literário, nessa guerra sem trégua do mercado.
Eu não gosto do mercado. Mas, ainda que sinta horror a esse capitalismo destrutivo de todas as formas humanas criadoras, ainda que me doa a vitória dessa teoria de tudo vender, consumir e descartar, ainda assim não é do meu direito esquecer o mundo tal qual este é. Desconhecer as regras do jogo é o mesmo que perder a guerra antes do primeiro disparo. Ou desistir do poema e se render à aridez do corriqueiro.
Este texto não é uma peça de propaganda. Mas sim o meu louvor a Dany Sakugawa, que está lançando claridades sobre a Literatura Brasileira. É possível conhecê-la no Instagram, todas as terças-feiras, às 20h. Lá vocês vão ver uma mulher que, embora tendo nascido em lar humilde, desde pequena esteve entre os livros. Por isso se dá tão bem com eles, que são seus cúmplices nessa luta civilizatória.
Ela tem muito a dizer. Escutem essa comandante de nossa guerrilha literária!
Dany Sakugawa faz bem para o mundo só com o simples fato de existir.
Louvada seja a Dany!
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