Ora bem. Depois de jogar ao faz de conta que ia viajar e de os senhores terem sido tão simpáticos e entrarem no jogo, aqui estou para mais um ano de trabalho que a minha vida nunca foi outra coisa senão muito bulir que os meus pais são gente séria e sem bens e nunca me saiu na rifa um amor com uma gaaanda cabana que também podia vir acompanhada de um gaaanda carrão. Eu estou sempre assim a brincar, a dizer parvoíces, mas saibam os senhores que só ainda não tive uma séria depressão porque os médicos e os medicamentos estão pela hora da morte quando muito mais justo seria que fosse pela hora da vida que para ela ambos foram inventados. O que me vale é ter assim este espírito alegrete e de pouca coisa fazer uma festa. Ontem deu-me para fotografar tudo o que mexia. Fui visitar os meus velhos que moram na outra banda e ainda fiz rir o velhote que não se queria deixar fotografar de maneira nenhuma. Dizia: Filha, eu agora pareço a parte de trás de um susto. Nem penses em mostrar o meu frontispício lá nas netes que desata tudo a fugir. E então chegámos a um acordo. Só uma orelha e de costas. Negócio fechado. Vejam lá se não tem pinta. Quem é que daí disse que parece um elefante? Olhem que eu tenho bom ouvido!
A Sandra anda mais animadita. O puto arranjou trabalho num call center. Fino, não? Eu estou mesmo a ouvi-lo, com aquela voz fungosa: É da casa da Senhora Leopoldina? É a própria? O meu nome é Hugo Neves. Posso fazer-lhe umas perguntinhas? Não? Mas porquê? Ó tiazinha eu tou aqui pa trabalhar e não pa aturar brincadeiras de xaxa. É ou não a Senhora Leopoldina? Ai, que já me tou a passar. E em off: desligou. a vaca. Estou talvez a subestimar o desempenho do puto, mas oxalá eu me engane não tarda está aí a dizer que trabalhos daqueles não constituem um projecto estruturante de vida.
E não deixa de ter alguma razão.
Isto hoje não saiu lá grande coisa. Desculpem. As musas não estiveram com a Tela.
Abraços para todos.