terça-feira, setembro 08, 2015

Mudam-se os tempos...

APC

terça-feira, junho 12, 2012

Ama, do verbo amar

África. Tempos de guerra. Uma casa à beira-mato. Assim nascia eu, daquela forma despretensiosa que toda a gente tem de nascer e que nos torna tão iguais.
Não era grande, aquela casa, mas chegava para todos nós: eu, os meus pais, o mainato e a Umbelina, a minha ama. E, ao longo do dia, todos aqueles que lá entravam, por uma das duas portas, sempre abertas, ligadas pelo corredor de cimento polido que – tão fresquinho! – eu corria a gatinhar.
Torrava, o sol. Eu e os meninos sentavamo-nos no alpendre, fraldas a roçar o chão, muito atentos ao carreiro de formigas-de-asa que passava encostadinho ao degrau. E, tendo aprendido uns com os outros, cada qual de nós lançava os deditos aos insectos que, um a um, íamos pondo à boca, saboreando o curioso condimento.
Às vezes os pais chegavam e eu estava ali. Outras vezes não, por isso iam a procurar pela menina. E então o mainato quase dava um pulo e, muito aflito, dizia: - Xi, patrão, ela tava agora lá! E tudo entrava num estranho rebuliço, feito de passos apressados de um lado para outro e de palavras que deviam ser para me chamar. Eu cá não queria largar o conforto daquele cantinho, sob a cama dos papás, onde me entretinha a roer chinelas ou as botas da tropa. Mas a Bina lá me encontrava.
Por vezes não havia sol, mas chuva. Tanta chuva, que parecia fumo. Uma chuva forte, rápida, pesada, que atirava para cima do telhado quase todos os frutos da grande mangueira que se erguia sobre a casa. Chuva que surgia e logo se ia embora, deixando um travo a terra molhada que nos desentupia as entranhas.
Lembro-me de não ter medo, porque me diziam para não ter. E de o sono não chegar até que a Bina me embalasse com uma canção em bantu.
É... “Ama” é palavra que passa a verbo se conjugada com amor!
A Bina era o colinho. E as papas, e as ternuras. E o olhar que eu olhava, e a melodia do coração no peito onde eu dormia. Achavam graça quando ela, passeando-me à cintura, ajeitava a capulana, levantava um pouco a minha fralda e revelava as nossas ancas como que exibindo troféus: a minha mancha mongólica – sombra tingindo a pele clara - e a sua - escura, na pele escura - em tudo o mais iguaizinhas, como duas luas cheias perfeitas... Ou como que uma só.
É a razão porque nos lembro ao olhar o firmamento: uma pequena lua branca crescendo ao colo de um céu infinitamente negro. E é quando quase (quase, quase...) escuto aquela primeiríssima canção de amor...
Esta noite, da janela deste meu mundo branco-manicomial, procurei-nos. E depois saltei. E corri muito...
E lá longe, bem no coração do mundo, numa aurora austral que ligava a terra aos céus, creio que gritei pela primeira vez ao ser parida. E senti o eco sob os pés sujos de terra. E os pássaros voaram num repente belo. E a gazela paralizou o passo até chegar o riso das crianças, correndo na planície rumo a donde vinha o cheiro a pão de mandioca.
Bina, se tu soubesses!... A savana enfeitiça-nos de vida para todo o sempre até à morte. Como um feitiço da lua... Magia branca da terra negra da gente.
Não sei de ti. Quantas vezes não sei de mim. E hoje não sei de nada, que ainda agora nasci, e as palavras são tão inocentes quanto a canção que me embala.


(No Medium; e na edição nº 41 da revista Samiztad)

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quarta-feira, abril 25, 2012

Queridos, mudei de casa!


Não foi exactamente para esta, mas

... Caprichos de uma alma campesina num meio cosmopolita.

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terça-feira, março 06, 2012

Bute mas é dar à soleta!

A taxa de desemprego prepara-se para atingir os 15%;

Um quarto da população portuguesa vive em situação de pobreza;

100 mil pessoas vêem os seus ordenados penhorados;

19 mil imigrantes recebem subsídio de desemprego;

18 mil indivíduos vivem em barracas (viva o estilo rústico!);

A dívida ao estado custa 21 mil euros a cada português;

Os pedidos de ajuda por particulares em situação de falência não cessam de chegar à Deco;

Os mais jovens não arranjam emprego, os menos jovens perdem o seu e as reformas são anedotas de mau gosto;

Aumenta o número de pessoas que já pouco saem de casa, com medo dos assaltos, cada vez mais violentos;

A criminalidade dispara, mas as polícias estão pobres, as penas são leves, as prisões estão cheias e a reabilitação é zero;

Saúde, educação e segurança são palavras sem sentido, sem dó e sem esperança;

A boa notícia é que a depressão não é um luxo dos ricos, mas um bem de livre acesso. Vá lá!

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Irra!

“Recordo-me bem de que foram poucos os que, nessa ocasião, falaram sobre o assunto” – são palavras de Marques Mendes, na pág. 2 do Correio da manhã de hoje.
Ele pode recordar algo; ele pode recordar- se de algo; e também pode recordar-se que algo lhe aconteceu. "De que", é que não pode, por muito boa memória que tenha.
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“As chamas eram enormes e tivémos algum medo, relatou Joaquim Sá Silva, cujo neto deu o alerta para as autoridades”, - lê-se na pág. 11 do mesmo jornal.
Pode dar-se o alerta para algo, mas alerta-se alguém e dá-se o alerta a alguém: no caso, às autoridades.
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“Durante muitos anos acreditou-se que os flamingos eram cor-de-rosa por causa de ingerirem muito camarão” – aparece na pág. 11 da revista Domingo do CM.
É por causa de algo (substantivo, e não verbo); i.e., por causa da ingestão ou devido à ingestão. A alternativa seria "por ingerirem muito camarão". Todavia, a causa até parece nem ser essa, afinal...
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Aproveito para fazer um alerta para os jornalistas do Correio da Manhã, recordando de que há jornais que irritam os leitores por causa de darem tantos erros!

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terça-feira, janeiro 17, 2012

Não se usa


Acho um piadão (é a forma a contrario sensu de dizer que não acho piada nenhuma) a ouvir os empreiteiros alegarem que isto e aquilo já não se usa, que já não se faz porque já ninguém pede.
Estou a remodelar uma casa, e a maior fatia do prazer que retiro ao fazê-lo reside em poder respeitar alguns elementos originais que ela conserva. Sobre isso enalteço algum registo vintage que esta tenha herdado e carrego nos traços de rusticidade que me sejam possíveis. Porque sim.
Ora, o antigo e o rústico são, quase por definição, aquilo que “já não se usa”. Apesar de, por ironia, poder voltar a usar-se aquilo que não é de uso corrente, isto é, estar na moda o demodé de outrora. Assim o seja ou não, importa é aquilo que queremos, e não o que se usa ou não usa.
Piso em tijoleira encerada, como a minha avó materna tinha na sua casinha de aldeia e que durava toda uma vida?(*) Já não se usa. Ou em cimento queimado e alisado, que fica lindo e mesclado, e ao mesmo tempo simples e neutro, a dar com tudo? Também já não se usa. Caixilharia em madeira? Ui, isso é que não se usa mesmo; até porque a madeira incha, não permite um isolamento térmico de qualidade e carece de tratamentos de manutenção. Não se usa, mas se se usar, então fica ao dobro do preço das alternativas que o mercado tem hoje ao dispor. E é claro que móveis de cozinha feitos realmente à medida e realmente em madeira também não se usam. “São à medida”, mas as portas têm dimensões standard. “São em madeira”, mas não é por dentro; é só por fora, a capear. E, já agora, não lhes vamos colocar puxadores de metal que ganhem tons envelhecidos, porque também não se usam.
Tudo a brilhar é o que se quer. Os inoxes a brilhar (incluíndo o exaustor, porque também já não se usam chaminés), a placa vitrocerâmica ou de indução magnética a brilhar, e tudo a espelhar uma felicidade que dura só até lhe pormos as primeiras dedadas ou o primeiro risco, e o brilho se esvanecer sem solução. E está claro que uma bancada em mármore também já não se usa. Porque esse já não é como era, e parte-se facilmente; e porque agora todos o querem polidinho quase em espelho, sendo que elementos como o limão, o vinagre e alguns produtos de limpeza deixam manchas que já não saem. E porque existem à venda aglomerados de todas as cores possíveis e imaginárias (e a um preço impossível e inimaginável). Parecem-se assim com um pedaço de plástico, mas usam-se.
Para o diabo com o que não se usa! O que já não se usa é valorizar-se aquilo que é bom. É recorrer aos profissionais que sabiam o que faziam (e nós sabiamos a qualidade do que faziam). Não se usa saber! E é por isso que tudo o que vá um pouco além das remodelações padronizadas, apressadas e muitas vezes defeituosas de hoje em dia, é já estranho, aberrante e... Não se usa.
Lamento... Pois também não se usa ter um forno de pão a lenha, e eu calho a ter um. E paredes caiadas, como eu as quero. E árvores de fruto numa casa de cidade. E o vizinho do lado a dar-nos os bons dias porque não existe um muro a separar-nos os quintais. E já não se usa fazer torradas no bico do fogão. E chá com as ervas semeadas no canteiro. E café na cafeteira, e não na Nespresso. Quase mal se usa cozinhar sem ser na Bimby! Na verdade, já não se usa ter prazeres caseiros que nos afastem do sofá, do qual até já nem se usa levantarmo-nos para desligar a televisão, ou as luzes...
Já não se usa fazer coisas que, pelo bem que me sabem, não deixarei que caiam em desuso. O que se usa é aquilo que queremos que se use. Mesmo que por vezes tenhamos de desistir desse querer, pelo facto de não encontrarmos quem saiba fazer, bem feito, aquilo que já não se usa!

(*) A avó tinha também armários em alvenaria, com cortinas de pano... Coisas que já não fazem sentido, se queremos garantir alguma higiene, bem sei. Tinha também o penico debaixo da cama, um alguidar de plástico por lavatório e o candeeiro a petróleo como única iluminação. Ia ao poço buscar água, e ceifava a erva para dar de comer aos coelhos. E as galinhas entravam-lhe pela casa. E é tão bom ser-se criança podendo ter um pouco disso.

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terça-feira, janeiro 10, 2012

Uma forma simples de felicidade

Gosto de ler, pronto. E calho a sentir-me bem sempre que trago um russo debaixo do braço. Leia-se, uma obra de literatura russa; sobretudo dos séculos XVIII e XIX, a era dourada (Tolstoi, Dostoievski, Gogol, Turgueniev), mas também as ulteriores (Tchekhov, Nabokov). Há algo na cultura daquele tempo e daquele espaço, das condições às relações sociais, cuja descrição me atrai. E é com enorme pena, quase a raiar o embaraço, que dou por mim a gostar tanto de obras que não posso ler no seu original, apenas se traduzidas. Valha-me a sorte de haver traduções de uma qualidade irrepreensível, autênticas pérolas literárias elas mesmas, e um prazer per se.
Kafka é uma excepção aos tais russos que trago debaixo do braço. E uma excepção, pelo principal motivo de que não é Russo, mas checo (a já extinta Checoslováquia viria a ser independente do império austro-húngaro tinha ele 35 anos), de língua materna alemã e religião judaica.
Com Kafka passamos para um outro registo, sobre o qual poderia discorrer em mais páginas do que aquelas que já li, sem com isso acrescentar senão meras impressões e emoções pessoais. Abster-me-ei então (*), ficando-me pela confissão de que adoro aquele angustiante traçado de impotência perante os factos e as situações; a dificuldade presente em cada passo dado na busca do que sempre foge; a (ir)realidade alucinada e absurda em que nos deixamos levar como se fora possível, para assim vivermos parte de uma frustração que Kafka efectivamente sentiria e que tão bem soube sublimar.
Por isso o repriso. A Metamorfose li-a por três vezes, a que acrescento mais uma incursão, em audiobook. O Processo bisei-o, mas sinto que está na hora de o revisitar. O Castelo comecei agora a relê-lo. E vem este post a propósito de me terem perguntado porque é que eu perco tempo a repetir leituras, ao invés de seguir em frente e conhecer coisas novas, apetecendo-me clarificar que:
- Não se repetem leituras. Podem repetir-se os livros, mas as leituras que deles fazemos são sempre diferentes. É a tal história da mesma água que não passa duas vezes sob a mesma ponte;
- Quem reincide na leitura de certas obras não deixa, lá por isso, de conhecer obras novas. O tempo permite um pouco de tudo, assim o saibamos apreciar;
- Seguir-se em frente, ainda que com um sentido confinado à cultura literária, é algo muito relativo. Será menos importante o conhecer-se a fundo, do que longitudinalmente? Cá está a velhinha dicotomia entre a quantidade e a qualidade! Conhecemos mesmo todos os livros que lemos? E o que é que ganhamos, em suma, a cada leitura que fazemos? Como é que se avança, afinal?...
Mas talvez que para se perceber melhor a ideia, eu possa tentar comparar os Homens aos livros.
É que não é todos os dias que nos vêm dizer “compreendo que o indivíduo com quem estás seja aquele de quem mais gostas, mas agora que já sabes como ele é, não deverias continuar com ele, mas sim alargar os horizontes e seguir a experimentar todos os outros”. Pois se esse já foi lido, para quê relê-lo?!
E o mais curioso é que deve haver tantos Homens (rogo atenção à maiúscula) quantos livros no mundo, contas feitas por alto...
Dir-me-ão que uma e outra coisa são diferentes, e que os valores isto e aquilo!?... Aceitarei. Mas que me aceitem algumas verdades que aqui partilho apenas pelo gosto de partilhar:
À repetição de um livro subjaz a garantia absoluta de que o estamos a fazer por vontade, e por nenhum outro motivo. Pressão alguma se exerce sobre nós no sentido de mantermos connosco um livro que já não nos satisfaz. E a qualquer momento que esse nos desencante, podemos, de imediato, pô-lo de lado, sem o risco de magoar os seus sentimentos.
Tudo fosse assim tão simples!
Posto isto, acreditem-me: quem está a repetir um livro é porque está feliz!

(*) Mas o que seria se pudéssemos colocar Kafka e Dostoievski a falar sobre o rendilhados persecutório e os fantasmas de culpabilidade que servem de pano de fundo a algumas das suas histórias? Um pouco como no filme "Meia Noite em Paris" (mas não em Paris), gostaria de poder ir lá atrás no tempo... E "lê-los" melhor!

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domingo, janeiro 08, 2012

Andante, andante..

Perímetro da Tapada. 16 quilómetros. Partida real às 9:45, chegada às 13:35, com paragem de 15 minutos a meio caminho. Fui para lá na dúvida se seria mesmo possível fazermos o percurso em quatro horas, e vim de lá convencida de que 3 horas e meia bastariam a um grupo habituado. Mas até que não foi nada um mau tempo. Apesar de o importante ser a magnífica forma como o tempo foi empregue. Já o outro tempo, aquele que se mede em graus, esse esteve fantástico (que falta fazia uma blusa de alsas, mas, enganada pelo mês em que estamos, essa não foi). De resto, o que é bom não se explica bem: a Tapada é linda, o grupo era óptimo, o convite foi muito gentil e estou toda partida. A repetir!

sexta-feira, dezembro 02, 2011

Acreditar

A Associação Acreditar é uma das dez candidatas finalistas ao Prémio Manuel António da Mota (edição 2011), uma parceria entre a TSF e o Grupo Mota Engil. Na torcida pelo reconhecimento desta forma de ajudar (desta forma de estar), descamuflo aqui um bocadinho do orgulho de pertencer a esta instituição, enquanto voluntária no serviço de Pediatria do IPO de Lisboa, há já uns bons (e muito bons) anos.

"Portugal Voluntário: o mundo com olhar de criança" é o título da entrevista da TSF à Acreditar, e publicá-la-ei assim que for disponibilizada no site da rádio.

No entretanto, a versão resumida (audio-visual) poderá ser vista aqui.

Nota: outros merecidíssimos candidatos finalistas e suas reportagens poderão ser vistos aqui. De entre eles, a Comunidade Vida e Paz, de que falei na edição anterior.

Festa de Natal dos Sem-Abrigo


COMUNIDADE VIDA E PAZ

A comunidade Vida e Paz é uma organização que apoia as pessoas sem-abrigo, com o principal objectivo de as reinserir como cidadãos participativos na sociedade. É uma IPSS tutelada pelo Patriarcado de Lisboa e com sede em Alvalade.

Distribui comida (28 800 sandes e 1920 litros de leite por mês) e roupa por cerca de 450 pessoas desabrigadas em Lisboa todas as noites do ano, como forma de construir uma relação com elas que permita conhecer-se a sua situação e ajudá-las ou encorajá-las a entrar no programa de recuperação.

VOLTAS DA NOITE

Cada noite, 4 equipas (em média com 9 elementos) percorrem várias zonas da cidade. Várias empresas e benfeitores contribuem para o conteúdo das ceias (duas sandes, um bolo, uma peça de fruta e leite) e algumas também com voluntários. Aqui, a reportagem da TSF sobre as voltas.

QUINTAS PEDAGÓGICAS

A Comunidade Vida e Paz (CVP) dispõe de um Espaço aberto ao Diálogo, onde uma equipa técnica acolhe e motiva as pessoas sem-abrigo, organizando o respectivo processo de encaminhamento para uma unidade de desabituação, dois centros de recuperação terapêutica, duas comunidades de inserção, dois apartamentos de inserção, uma unidade de vida autónoma, uma empresa de inserção social e acompamento pós-alta.

A CVP já ajudou mais de 1600 pessoas a encontrar um rumo para a sua vida, livre de dependências e na esperança por dias sucessivamente melhores e de uma melhoria contínua.

A FESTA DE NATAL (imagens da edição de 2011)

A Festa de Natal é o evento mais emblemático da Comunidade Vida e Paz. Também o mais mediatizado. Entende-se que proporcionando comida quente, roupa, higiene e convívio é possível lembrar as essas pessoas que uma vida melhor está à distância de uma decisão.
Na minha opinião, é uma oportunidade para as fazer pensar em como seria bom se todos os dias pudessem ser assim: com abrigo, alimentação e companhia, inseridos na sociedade, de igual para igual com todos.

Este ano, tal como habitualmente, a 23ª edição terá lugar no antigo refeitório da reitoria da Universidade de Lisboa (UL). O evento conta com uma equipa de cerca de 1000 voluntários e recebe mais de 2500 convidados ao longo de três dias (16, 17 e 18 de Dezembro), proporcionando o conforto físico e emocional de que se encontram habitualmente privados, bem como o respeito que merecem enquanto pessoas.

Para quem não sabe, eis as áreas nas quais esta festa se organiza:

1) Atendimento
Cabe aos voluntários dar as boas-vindas aos convidados (sem-abrigo e outra população carenciada), procedendo ao seu registo num formulário, recebendo e guardando os seus bens nos bengaleiros e encaminhando-os.

2) Roupa
Cabe aos voluntários não apenas a tarefa de distribuir pelos convidados, mas de a organizar previamente.

3) Banhos
Os voluntários encaminham e/ou acompanham os convidados até à área de duches (210 duches).

4) Cabeleireiro
São 130 os profissionais que doam o seu trabalho como cabeleireiros, manicuras e maquilhadores aos convidados desta festa.

5) Cozinha
Não se trata de confeccionar a comida, mas de racionar e preparar as porções quentes que serão servidas à mesa. O Exército é o principal senhor deste tasco, e trabalha que dá gosto ver!

6) Sandes
A preparação das sandes e sua inclusão em kits para distribuição posterior (com sumos de frutas, bolachas e doces) é outra das actividades extremamente exigentes do ponto do ritmo que se impõe.

7) Mesas
Distribuição das refeições pelos convidados, gestão da lotação, reposição de alimentos, evitamento de desperdícios, sinalização de conflitos, impedimento ao uso de substâncias ilícitas.

8) Animação
Consiste, sobretudo, em integrar os convidados na festa, dando-lhes todas as informações de que necessitem e acompanhando-os aos espaços da sua preferência (zona de convívio, sala de dança, espaço de leitura, cabeleireiro, banca da Loja do Cidadão, etc.).

9) Espectáculos
Esta será a primeira das áreas (de acordo com a ordem pela qual as arrolei) que dispensa, à partida, voluntários inscritos, sendo assegurada por vários artistas da nossa praça.

10) Crianças
Uma vez que muitos convidados trazem crianças, compete aos voluntários conviver e brincar com elas, proporcionando-lhes um excelente momento e preenchendo a Ficha da Criança com o máximo de informação relevante possível.

11) Espaço de Leitura
Funcionando durante todo o ano no Espaço Aberto ao Diálogo da AVP, esta valência não é despicienda. Possibilita o contacto com os livros e a expressão plástica, mas também o por vezes necessário isolamento, dado tratar-se de uma zona mais silenciosa e intimista, sendo por isso o espaço ideal para os convidados encontrarem nos voluntários parceiros de diálogo realmente atentos e dedicados. Em 2010 contaram-se 80 visitantes deste espaço.

12) Saúde
Aqui se encontram áreas como a de medicina, medicina dentária e primeiros socorros, sendo possível aos convidados sairem já com receita médica de uma consulta gratuíta, graças à colaboração voluntária das Universidades de Medicina e Medicina Dentária.

13) Loja do Cidadão
Através desta parceria, é possível a um indivíduo sem abrigo obter ajuda relativamente à sua documentação, perceber melhor os seus direitos, tratar de subsídios e reformas, etc.

14) Espaço Aberto ao Diálogo (EAD)
Este é local onde mais directamente se tenta servir a verdadeira missão da Comunidade: iniciar o processo de reintegração dos indivíduos que assim o desejem, ou reencaminhá-los para os serviços mais adequados a situações críticas (como a doença mental severa).

15) Espiritualidade
Também conta com voluntários este espaço de religião e fé que durante a festa de natal tem lugar na capela da UL.

16) Presentes
É à saída da festa que cada convidado recebe, das mãos dos voluntários, um presente, previamente divididos e embrulhados por estes.

17) Decoração
A cargo de um grupo voluntário que se auto-designa “Caos de Coração”, consiste, comonão poderia deixar de ser, no decorar de todos os espaços que integrarão a festa de natal, bem como no transporte das embalagens com efeites.

18) Limpeza
Numa titude de humorada ironia, os coordenadores desta equipa de voluntários defendem que se trata da função mais “sexy” de todas. A ela compete a higienização de todo o recinto, assegurando a bem estar de todos os presentes (convidados e voluntários). Trata-se de uma tarefa que é levada a cabo numa união de esforços entre a CVP e a CML.

19) Apoio
Fundamentalmente versada para o controlo das zonas envolventes e acessos a fim de prevenir e conter eventuais focos de tensão, os voluntários que optam por esta função deverão apresentar flexibilidade no sentido de poderem oferecer uma ajuda transversal aos diversos sectores.

20) Logística
Esta é uma mega-área. Inclui a gestão do armazém, transportes, cargas e descargas, etc.

21) Manutenção e economato
Neste caso a CVP dispõe de uma equipa técnica própria, não recorrendo ao voluntariado.

22) Estatística
Cabe aos voluntários aplicar pequenos questionários aos convidados cujo principal intuito é o de permitir caracterizar a população carenciada e conhecer com maior rigor as suas problemáticas e necessidades, para que a CVP possa melhor responder a elas. Ao mesmo tempo, o exercício do diálogo é uma oportunidade de doar tempo, atenção e importância.

23) Comunicação
Providenciar uma maior visibilidade à instituição, seus eventos e causas é o objectivo da equipa interina responsável pelos contactos com os media, e/mas não dos voluntários.

24) Fotografia
De momento, a CVP conta com uma equipa de profissionais de reportagem e imagem que participam voluntariamente neste evento.

25) Secretariado
Já se sabe: o trabalho administrativo e burocrático é muito e tem de ser (bem) feito, ou compromete o sucesso de qualquer projecto. É um trabalho que se inicia muito tempo antes, prossegue até ao evento e continua depois dele. Nos “picos” aceita voluntários.

26) Voluntários
Haja quem os consiga gerir! Organizá-los de acordo com as áreas de acção, comunicar-lhes todas as informações necessárias, enviando e-mails, marcando reuniões, providenciar t-shirt para todos, etc. Antes e durante o evento, também eles carecem de orientação para que possam dar o seu melhor por este projecto.

27) Coordenação
É como que o “Posto de Comando” deste evento. Estamos a falar daqueles a quem compete solucionar todos os (grandes) problemas para que isto seja uma (grande) festa!

Como vêem, há muito que fazer! Não sei se todos tinham esta ideia, ou não... Mas é uma boa ideia! :-) E, mais visível ou menos visível que seja a tarefa de cada qual, o resultado é sempre um trabalho de todos.


Eu, e mais dez dos meus (de entre amigos e conhecidos) seremos um centésimo desta festa, apenas. E esperamos aprender muito com ela. Dar sim, mas receber também! Vai correr muito bem!!!

Este ano as inscrições já terminaram, assim como as sessões de esclarecimento e de formação. Mas para o ano haverá mais!
Desde Fevereiro de 2007