A minha casa é tipo Roma (…) mas sem o coliseu
E sem os gladiadores, e sem aquelas pessoas com hábitos tão particulares, e sem o atirar pessoas aos leões, porque também não há leões. Mas a minha casa até parece Roma. E eu pareço um daqueles cidadãos que viviam feliz da vida porque tudo lhes corria menos-mal e achavam que tinham tudo. Até que um dia chega à cidade um forasteiro, que trás histórias de povoações longínquas e que tem algo a envolvê-lo, algo que vai além das suas vestes, que pertence ao espírito.
E esse forasteiro vai ficando, e acaba por comprar uma terra onde monta a sua casa, mesmo ao lado do cidadão outrora realizado, e entra no seu ciclo de amigos. O cidadão percebe que lhe falta muita coisa, que a sua vida está cheia de problemas, que é a sua pessoa social é diferente de si, mas continua a sorrir. E sorri cada vez mais. O seu novo vizinho é convidado todos os dias a ir a sua casa, ou encontram-se nas ruas, para conversarem. Podem falar de acontecimentos banais, podem discutir sobre determinado assunto, podem apenas dar sinais de vida. O cidadão sabe, bem lá no fundo, que esse é o momento do dia em que se sente mais completo, mas inteiro, mas ele próprio.
O efeito é quase como uma anestesia geral (deve ser, não sei, nunca levei nenhuma), ficasse imune à dor, ao frio, à chuva, ao mundo. E sorrisse sem se pensar se deveríamos estar a fazer outra coisa qualquer que posso vir a ser importante para o nosso futuro, porque o futuro não existe.
Há quem lhe chame paz interior.