Constitucionalismo, Descolonizaciónl (Electrónico)
Constitucionalismo, Descolonizaciónl (Electrónico)
Constitucionalismo, Descolonizaciónl (Electrónico)
DESCOLONIZACIN
Y PLURALISMO JURDICO
EN AMRICA LATINA
(Constitucionalismo, descolonizao
e pluralismo jurdico na Amrica Latina)
Antonio Carlos Wolkmer
Ivone Fernandes M. Lixa
(Orgs.)
CONSTITUCIONALISMO, DESCOLONIZACIN
Y PLURALISMO JURDICO EN AMRICA LATINA
(Constitucionalismo, descolonizao e pluralismo jurdico na Amrica Latina)
Varios colaboradores.
ISBN 978-607-8062-56-0
ISBN 978-607-8062-56-0
Apoio Institucional:
CLACSO (Argentina)
CAPES (Brasil)
CRTICA JURDICA (Mxico)
PRUJULA (Mxico)
UFSC (Brasil)
NEPE - Ncleo de Estudos e Prticas Emancipatrias
NDICE
Introduo 9
Introduccin 13
PARTE I
PLURALISMO JURDICO
PARTE II
CONSTITUCIONALISMO, CRTICA JURDICA
Y FILOSOFA DE LA LIBERACIN
PARTE III
DESCOLONIZACIN E INTERCULTURALIDAD
PARTE IV
EL ESTADO EN AMRICA LATINA
A obra coletiva que est sendo apresentada, visa aprofundar a discusso e difuso do
pensamento jurdico-poltico crtico, descolonizador e pluralista, e suas perspectivas te-
rico-prticas entre pesquisadores, professores, alunos e operadores jurdicos, abrindo um
espao para o dilogo na Amrica Latina.
Tal esforo, concretizado por contribuies tericas, originou-se do I Encontro
Internacional sobre Descolonizao e Pluralismo Jurdico na Amrica Latina, ocorrido
no Brasil, em Florianpolis-SC, entre os dias 11 e 13 de novembro de 2013, na Univer-
sidade Federal de Santa Catarina (UFSC), proposto pelo Ncleo de Estudos e Prticas
Emancipatrias (NEPE) do programa de Ps-Graduao em Direito (PPGD/UFSC),
realizado em parceria com o Grupo de Crtica Jurdica Centro de Investigaciones Inter-
disciplinarias en Ciencias y Humanidades de la Universidad Nacional Autnoma de Me-
xico (UNAM) e do Grupo Pluralismo Jurdico en Latinoamrica (PRUJULA), no mbito
do Projeto do Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales (CLACSO), Crtica Jurdica
Latinoamericano, Movimientos Sociales y Procesos Emancipatrios.
O dilogo intercultural e o profcuo intercmbio dos participantes reforaram,
assim, as expectativas de questionamento e ruptura com o iderio hegemnico da mo-
dernidade universalista eurocntrica de pensar as formas de produo do conhecimento
jurdico e sua institucionalidade oficializante lgico-instrumental, reafirmando a impor-
tncia de um pensamento descolonizado e insurgente no campo da teoria e prtica crtico-
emancipadora do Direito. Esse exerccio compartilhado expressa a confluncia de pes-
quisas e matrizes engendradas por fundamentaes epistemolgicas, histricas, polticas,
sociais e culturais autenticamente voltadas para o pensamento e a realidade normativa dos
povos latino-americanos, suas cosmovises, possibilitando questionamentos, reflexes e
inter-relaes liberadoras, compromissados com uma outra viso de mundo, mais justa,
igualitria e pluralista.
com este intento que o contedo que traduz os pontos nucleares do Evento
Internacional projeta-se nos eixos temticos, distribudos em quatro grandes momentos,
como: I Parte Pluralismo Jurdico; II Parte: Constitucionalismo, Crtica Jurdica e Filosofia da
Libertao; III Parte: Descolonizao e Interculturalidade; IV Parte: O Estado na Amrica Latina.
Eis, portanto, este olhar diferenciado e comprometido presente na leitura de 18
(dezoito) contribuies que se seguem:
Primeiramente, Dbora Ferrazzo introduz a discusso sobre as novas diretrizes cons-
titucionais, a refundao do Estado boliviano, seguida pela anlise e problematizao da
9
10 Constitucionalismo, descolonizacin y pluralismo jurdico en Amrica Latina
Lei do Deslinde; e concluda pelo estudo de caso envolvendo jurisdio indgena, aprecia-
do pelo Tribunal Constitucional Plurinacional.
Na sequncia, Lus Henrique Orio, tomando em conta a materialidade das neces-
sidades como fundantes do pluralismo comunitrio-participativo e do socialismo indo-
americano de Maritegui, oferece reflexo no sentido de apontar elementos que contri-
buem para recuperar a fora do poder comunitrio.
Diante da crise da estatalidade poltico-jurdica e dos impactos da globalizao
econmica o Prof. da UFRG, Francisco Quintanilha Vras Neto articula a economia solidria
com o pluralismo jurdico comunitrio-participativo, propondo formas de produo de-
mocrtica e de cooperativismo popular.
Por outro lado, Thais Luzia Colao, professora do PPGD/UFSC, examina no m-
bito do pluralismo jurdico, o reconhecimento do Direito Indgena, destacando como a
legislao brasileira tem tratado ineficazmente a questo, tornando imperiosa a neces-
sidade de se propor uma emenda constitucional que venha atualiz-la diante das novas
tendncias na Amrica Latina.
J em nosso texto, Pluralismo Jurdico, Movimentos Sociais e Processos de Lutas
desde a Amrica latina que abre a II Parte da coletnea, tratou-se de defender uma cultu-
ra poltico-jurdica latino-americana delineada pelo pluralismo, descolonizao e liberao,
fazendo-se necessrio, forjar um pensamento crtico, construdo a partir da prxis hist-
rica e dos processos sociais de lutas, interagindo por novos sujeitos coletivos, capazes de
legitimar parmetros alternativos de Direito e Justia.
O pesquisador de Crtica Jurdica, Daniel S. Cervantes (Mxico) reala a questo de
uma metodologia para explicar os processos polticos que se denominaram como novo
constitucionalismo latino-americano desde uma perspectiva da Crtica Jurdica e do ma-
terialismo histrico, especificamente, no contexto mais geral de uma histria social.
Em outra reflexo, o Professor Celso Ludwig (titular de Filosofia do Direito da
UFPR), considerando o delineamento metodolgico e epistemolgico na direo da filo-
sofia da libertao, assentada nos conceitos dusselianos de totalidade e exterioridade,
argumenta no s por uma racionalidade crtica, mas, sobretudo, advoga no sentido de
uma filosofia jurdica descolonial.
No menos relevante, em aporte jusfilosfico, o coordenador do Mestrado em
Direitos Humanos, da Universidade de San Luis Potos (Mxico), Alejandro Rosillo Martnez
discorre sobre formas limitadas, reducionistas e convencionais que sustentam as concep-
es hegemnicas de Direitos Humanos, para em seguida, introduzindo a viso pluricul-
turalista e comprometida com o pensamento latino-americano, fazer a opo por uma
fundamentao libertadora de Direitos Humanos.
Inaugurando a III Parte da obra, a Professora Ivone F. Morcila Lixa, uma das orga-
nizadoras da obra, define a insurgncia de uma teoria crtica desde o Sul e do pluralismo
jurdico como elementos orientadores para a construo da nova hermenutica na pers-
pectiva da Amrica Latina.
Introduo 11
participaram com a honrosa presena e com o esforo final de elaborao da obra com
seus textos apresentados no I Encontro Latino-americano Descolonizao e Pluralismo
Jurdico. Agradecimentos aos colegas que representaram o apoio material e acadmico
de CLACSO (Beatriz Rajland), da Crtica Jurdica (Daniel Sandoval), do PRUJULA (Juan
Carlos Martnez), da UASLP (Alejandro Rosillo). Igualmente, aos rgos de financiamen-
to no Brasil, como CAPES (auxlio com passagens internacionais e infra-estrutura),
ao Centro de Cincias Jurdicas/UFSC e ao PPGD/UFSC, pelo apoio institucional e
material.
Por fim, os agradecimentos no somente ao Prof. Dr. Alejandro Rosillo (Universi-
dad Autnoma de San Luis Potos-Mxico) por aceitar esta co-edio internacional, mas
tambm a todos os integrantes do Ncleo de Estudos e Prticas Emancipatrias (NEPE/
UFSC) pelo grande empenho na operacionalizao e na dedicao acadmica (desde o
Projeto at o encerramento do Evento Internacional). Igualmente, uma meno especial
aos orientandos Joo Victor A. Krieger e, de forma muito especial, Dbora Ferrazzo,
pelo incansvel labor e desprendimento, na montagem e na formatao da obra.
Fica, portanto, o convite para uma leitura atenta e compromissada dos textos que
compem esta obra, os quais contribuem para uma produo latino-americana mais inter-
disciplinar, plural e descolonial de outro Direito possvel.
Esta obra colectiva pretende profundizar la discusin y difusin del pensamiento jurdico-
poltico crtico, descolonizador, pluralista y sus perspectivas terico-prcticas entre inves-
tigadores, profesores, alumnos y operadores jurdicos, abriendo un espacio para el dilogo
en Amrica Latina.
Tal esfuerzo, concretizado por contribuciones tericas, se origin del I Encuen-
tro Internacional sobre Descolonizacin y Pluralismo Jurdico en Amrica Latina, que
ocurri en Brasil, en Florianpolis-SC, entre los das 11 y 13 de noviembre de 2013, en
la Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), propuesta por el Ncleo de Estudos e
Prticas Emancipatrias (NEPE) del Programa de Ps-Graduao em Direito (PPGD/
UFSC), realizado en asociacin con el Grupo de Crtica Jurdica Centro de Investigacio-
nes Interdisciplinarias en Ciencias y Humanidades de la Universidad Nacional autnoma
de Mexico (UNAM) y del Grupo Pluralismo Jurdico en Latinoamrica (PRUJULA), en el
mbito del Proyecto del Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales (CLACSO) Crti-
ca Jurdica en Latinoamrica, Movimientos Sociales y Procesos Emancipatorios.
El dilogo intercultural y el proficuo intercambio de los participantes reforzaron,
as, las expectativas de cuestionamiento y ruptura con el ideario hegemnico de la mo-
dernidad universalista eurocntrica de pensar las formas de produccin del conocimiento
jurdico y su institucionalidad oficializante lgico-instrumental, reafirmando la importan-
cia de un pensamiento descolonizado e insurgente en el campo de la teora y prctica
crtico-emancipadora del Derecho. Este ejercicio compartido expresa la confluencia de
investigaciones y matrices engendradas por fundamentaciones epistemolgicas, histricas,
polticas, sociales y culturales autnticamente dirigidas para el pensamiento y la realidad
normativa de los pueblos latinoamericanos, sus cosmovisiones, posibilitando cuestiona-
mientos, reflexiones e interrelaciones liberadoras, comprometidos con una otra visin del
mundo, ms justa, igualitaria y pluralista.
Es con esa intencin que el contenido que traduce los puntos nucleares del Even-
to Internacional se proyecta en los ejes temticos, distribuidos en cuatro grandes mo-
mentos, como: I Parte Pluralismo Jurdico; II Parte: Constitucionalismo, Crtica Jurdica y
Filosofa de la Liberacin; III Parte: Descolonizacin e Interculturalidad; IV Parte: El Estado en
Amrica Latina.
Esa es, por lo tanto, la mirada diferenciada y comprometida presente en la lectura
de las dieciocho contribuciones que siguen:
Primeramente, Dbora Ferrazzo introduce la discusin sobre las nuevas directrices
constitucionales, la refundacin del Estado boliviano, seguida por el anlisis y proble-
13
14 Constitucionalismo, descolonizacin y pluralismo jurdico en Amrica Latina
pluralismo jurdico como elementos orientadores para la construccin de una nueva her-
menutica en la perspectiva de Amrica Latina.
Prosiguiendo, el profesor Rosembert Ariza Santamara (de la Universidad Nacional
da Colombia, en el rea de la Sociologa Jurdica), tomando en cuenta la propuesta de un
pluralismo descolonizador de sujetos colectivos analiza el constitucionalismo transforma-
dor en la experiencia contempornea del Estado boliviano y de su Tribunal Constitucional
Plurinacional.
A raz de la temtica del nuevo constitucionalismo, el doctorando Emiliano Mal-
donado Bravo debate los procesos constituyentes boliviano y ecuatoriano, la participacin
de los pueblos indgenas y las luchas sociales que resultaron en los cambios incorporados
en las recientes constituciones de los Andes, destacando los principios edificadores de un
ecosocialismo indoamericano.
Avanzando en esa temtica compleja, la profesora de la Maestra en Derecho de la
Universidade Federal do Rio Grande, Raquel Fabiana Lopes Sparemberger busca repensar la
produccin del conocimiento jurdico, enfatizando el papel del pluralismo jurdico en la
convergencia con las rupturas descoloniales e interculturales, sin dejar de contemplar las
voces silenciadas de lo subalterno.
Tambin la doctoranda Isabella C. Lunelli propone, en su texto, que pensar sobre
la descolonizacin y sobre el Derecho permite reflexionar cuestiones como el etnocen-
trismo jurdico. As, la concepcin del Estado pluritnico, asociada al reconocimiento del
pluralismo jurdico, demarca los rasgos propios de una cultura jurdica latinoamericana,
capaz de liberarse de una imposicin colonizadora.
En los dos ensayos siguientes, se privilegia la temtica de la interculturalidad. Pri-
mero, Flavia do A. Vieira trata de verificar la presencia del principio de la interculturali-
dad en los procesos constituyentes de Venezuela, Ecuador y Bolivia, componiendo un
nuevo constitucionalismo en la regin. En secuencia, Joo Victor A. Krieger trabaja la
interculturalidad a partir de procesos educacionales, mediante un aporte metodolgico
diferenciado, vinculado con la alteridad y con el pluralismo.
La IV y ltima parte de la obra rescata la discusin siempre relevante y oportuna
acerca del Estado en Amrica Latina. As, la investigadora de Bolvia, M. Vianca Copa Pa-
bn, a raz de la tradicin indgena y del pensamiento amutico, discute la propuesta de un
Estado Plurinacional desde la experiencia constitucional boliviana de 2009. Mientras que
el profesor, miembro investigador del Centro de Investigaciones y Estudios Superiores en
Antropologa (CIESAS) y coordinador de PRUJULA, Juan Carlos Martnez destaca en su
contribucin, la insercin del concepto de Estado nacional latinoamericano, la identidad
indgena y las transformaciones sociales que vienen ocurriendo en los pases de la regin.
Por fin, la discusin proporcionada por la profesora titular de Teora del Estado de la
Universidad de Buenos Aires, Beatriz Rajland, que retoma la cuestin del Estado y su pro-
blematizacin en Amrica Latina, sus continuidades y rupturas en tiempos de globalidad
poltico-ideolgica.
16 Constitucionalismo, descolonizacin y pluralismo jurdico en Amrica Latina
Introduo
Aps intensa resistncia poltica na Bolvia, entrou em vigor, no ano de 2009, a nova
Constituio Poltica do Estado. Trazendo diversas novidades em termos de normatiza-
o e tambm de horizontes jurdicos, consagra, dentre seus principais alicerces o plura-
lismo, a interculturalidade e a descolonizao. O potencial inovador dos novos institutos
adotados na Bolvia faz da cena poltica e jurdica do pas um campo profcuo de estudo
e aprendizado.
Os mecanismos desenvolvidos no pas para coordenar as jurisdies tm sido alvo
de crticas e tambm de apostas positivas, como o caso da Lei de Deslinde, que se mos-
trou bastante vulnervel s crticas de tericos e juristas do pas, especialmente no que se
refere ao seu processo legislativo e seu carter pouco democrtico.
A imbricao dos elementos essenciais da Constituio (pluralismo, intercultura-
lidade e descolonizao) e como todos se materializam ou nem tanto nas normas e
prticas do pas sero analisadas neste texto, recorrendo ao mtodo monogrfico de pro-
cedimento, cujo caso de estudo ser a Sentena Constitucional Plurinacional 1422/2012,
proferida em Ao de Liberdade proposta no pas. Tal sentena foi selecionada por abar-
car diversos aspectos tericos suscitados nas primeiras partes deste texto, bem como de-
monstrar a funcionalidade e importncia dos instrumentos criados pelo Tribunal Consti-
tucional Plurinacional para solucionar as controvrsias decorrentes do novo sistema, tal
como, a Unidade de Descolonizao do Tribunal.
Portanto, o seguinte estudo se desenvolver apresentando na primeira parte um re-
corte terico dos pressupostos assinalados, especialmente os aspectos vinculados refun-
dao do Estado; a segunda parte, analisar a Lei de Deslinde e a terceira parte analisar
a forma como o Tribunal Constitucional Plurinacional tem procedido quanto aos casos
decorrentes da jurisdio indgena originria campesina, por meio do estudo do caso sele-
cionado. Finalmente, na quarta parte, analisar a vinculao dos pressupostos tericos do
pluralismo jurdico comunitrio participativo proposto por Antonio Carlos Wolkmer, aos novos
valores e princpios jurdicos e polticos da Bolvia.
A Bolvia foi, recentemente, palco de diversos conflitos sociais, dos quais emergiu um
novo quadro de protagonismo e empoderamento popular. As comunidades e movimen-
tos sociais inicialmente se organizaram para resistir s polticas neoliberais implementadas
no pas, notadamente a privatizao das riquezas naturais em contraste com conjunturas
de privao das massas no acesso s mesmas riquezas. Posteriormente se mobilizaram
para garantir a primeira eleio de um lder indgena (num pas de maioria tnica descen-
dente de comunidades indgenas) para a funo de presidente do pas.
As mudanas sociopolticas foram to profundas que impuseram a necessidade de
um novo referencial poltico e jurdico para o pas, o qual se materializou na Constituio
Poltica do Estado, aps um complexo processo constituinte, onde interesses contradit-
rios se enfrentaram, negociaram e complementaram, at culminar no referido documento,
que passou a vigorar no ano de 2009.
A Constituio Poltica do Estado da Bolvia consolida, dentre diversas inovaes,
uma forma de Estado distinta daquela conhecida e herdada pela cultura jurdico-poltica
eurocntrica. Deixa para traz o velho Estado nao, para reconhecer formalmente a re-
alidade concreta do pas, marcada por diversas comunidades, povos e naes indgenas.
Deixa para traz, tal como destaca seu Prembulo, o Estado colonial, republicano e neo-
liberal, para assumir o compromisso de assumir um Estado unitrio, mas Plurinacional
Comunitrio. Assim que, nos termos do artigo 1 da nova Constituio, enuncia-se o
novo horizonte poltico do pas, bem como suas implicaes necessrias:
3 GRIJALVA JIMENEZ, Augustn. EXENI RODRGUEZ, Jos Luis. Coordinacin entre jus-
ticias, ese desafio. In: SANTOS, Boaventura de Sousa; EXENI RODRGUEZ, Jos Luis (org.).
Justicia indgena, plurinacionalidad e interculturalidade em Bolvia. 2 ed. Quito: Fundacin
Rosa Luxemburgo, 2013. pp. 699-732. p. 724.
4 A prpria Lei do Tribunal Constitucional Plurinacional reconhece a plurinacionalidade, assim
como o pluralismo jurdico, a interculturalidade entre outros, como princpios da justia constitu-
cional (vide item 3 deste trabalho).
5 GRIJALVA JIMENEZ, Augustn. O Estado Plurinacional e intercultural na Constituio Equa-
toriana de 2008. In: VERDUM, Ricardo (org.) Constituio e Reformas Polticas na Amrica
Latina. Braslia: INESC, 2009. pp. 115-133. p. 117-118.
6 GARCS V., Fernando. Os esforos de construo descolonizada de um Estado Plurinacional
na Bolvia e os riscos de vestir o mesmo cavalheiro com um novo palet. In: VERDUM, Ricardo
(org.) Constituio e Reformas Polticas na Amrica Latina. Braslia: INESC, 2009. pp. 167-
192. p. 176.
7 CHIVI VARGAS, Moiss Idn. Os caminhos da descolonizao na Amrica Latina: os Povos
Indgenas e o igualitarismo jurisdicional na Bolvia. In: VERDUM, Ricardo (org.) Constituio e
Reformas Polticas na Amrica Latina. Braslia: INESC, 2009. pp. 151-166. p. 155.
8 WOLKMER, Antonio Carlos. Pluralismo Jurdico e perspectivas para um novo constituciona-
lismo na Amrica Latina. In: WOLKMER, Antonio Carlos. MELO, Milena Petters. Constitucio-
nalismo latino-americano: tendncias contemporneas. Curitiba: Juru, 2013. pp. 19-42. p.
29-32.
9 VICIANO PASTOR, Roberto; MARTNEZ DALMAU, Rubn. O processo constituinte vene-
zuelano no marco do novo constitucionalismo latino-americano. In: WOLKMER, Antonio Car-
22 Constitucionalismo, descolonizacin y pluralismo jurdico en Amrica Latina
nas comunidades se consolidem e se fortaleam. Por outro lado, possvel falar em qua-
tro premissas fundamentais acerca da coordenao entre justias indgenas e ordinria,
tomando como horizonte o pluralismo jurdico: a primeira que uma norma, por si s,
no basta para garantir a coordenao entre justias; a segunda, que a lei no um ins-
trumento fundamental para tanto; a terceira que normas inadequadas podem colonizar
as justias indgenas e a quarta que na promulgao de uma lei de deslinde, esta deve
expressar verdadeiramente um Estado Plurinacional.18
Neste sentido, a Lei de Deslinde pode ser um instrumento de manuteno da co-
lonizao jurdica e poltica, e pode mesmo, atentar contra o Estado Plurinacional. Para
estes autores, a Lei de Deslinde confina e desapropria as justias indgenas de suas prer-
rogativas constitucionais e trata como concesso a repartio de competncias, deixando
matrias residuais para as autonomias indgenas originrias campesinas.
Isto porque, embora enunciando diversos dos princpios constitucionais relaciona-
dos descolonizao do Estado e do prprio sistema de justias, tais como a intercultu-
ralidade, o pluralismo jurdico e outros, a Lei de Deslinde avana num sentido contrrio
ao preconizado pela Constituio, ao determinar somente competncias residuais para
a jurisdio indgena. Tal se depreende do art. 10 da citada lei, quando esta determina o
rol de matrias que a jurisdio indgena no alcana, abrangendo diversos fatos afetos
matria penal, civil, trabalhista, seguridade, tributrio entre outros, at, finalmente, vedar
tambm o alcance a outras matrias reservadas pela Constituio s demais jurisdies.
Expressamente, reserva jurisdio indgena as matrias que esta tradicionalmente co-
nheceu. Segundo Augustn Grijalva e Exen Rodriguez,19 desta forma, a Lei de Deslinde
confina a justia indgena e a impede de evoluir.
18 Ibid., p. 699-700.
19 Ibid., p. 725-727.
26 Constitucionalismo, descolonizacin y pluralismo jurdico en Amrica Latina
20 Ao prevista na Constituio Poltica do Estado, artigo 125, enquanto instrumento hbil para
proteo de toda e qualquer pessoa que considere sua vida ou liberdade em risco, bem como,
considere-se indevidamente processada ou ofendido seu direito ao devido processo.
28 Constitucionalismo, descolonizacin y pluralismo jurdico en Amrica Latina
ponderao acerca da estrita necessidade, concluiu-se que tal sano no era estritamente
necessria comunitria.
Finalmente, entende o TCP, a deciso da comunidade afeta dois grupos em con-
dio de vulnerabilidade mulheres e menores contrariando sua prpria cosmoviso.
Assim, a deciso do TCP acaba por determinar que os atos considerados ofensivos aos
autores da ao, especialmente os contrrios ao paradigma do vivir bien, fossem cessados,
inclusive a suspenso do fornecimento de gua. A sentena tambm deveria ser traduzida
para quchua e aymara e socializada com toda a comunidade de Poroma.
21 WOLKMER, Antonio Carlos. Pluralismo jurdico: fundamentos de uma nova cultura no Di-
reito. 3 ed. rev. e atual. So Paulo: Editora Alfa Omega. 2001. 403 p. 231-232.
22 Ibid., pp. 127-129; 160.
Pluralismo jurdico e deslinde jurisdicional na Bolvia 31
Concluso
23 Ibid., p. 241.
32 Constitucionalismo, descolonizacin y pluralismo jurdico en Amrica Latina
nomia dos povos e naes, entre outros, bem como, a concretizao de um sistema de
satisfao de necessidades fundamentais.
Verifica-se tambm que a regulamentao dada pela lei de deslinde, apesar de reco-
nhecer, em seu artigo 7, a competncia das justias indgenas para administrar seus con-
flitos, nos artigos seguintes impe limitaes a esta competncia, dentre elas, a ocorrncia
simultnea24 de trs requisitos: pessoal, territorial e material. Impondo o limite de que os
efeitos da transgresso se produzam no mbito territorial da jurisdio indgena, ignora a
dificuldade em delimitar tais territrios.
Por outro lado, a Lei de Deslinde traz importantes contribuies, como o dever
de cooperao entre justias, fator que pode contribuir para a factibilidade dos sistemas
de justia ao possibilitar-lhes acesso a instrumentos, mecanismos e mtodos que possam
contribuir com a soluo de seus conflitos, sempre que julgados adequados.
Finalmente, com relao ao Tribunal Constitucional Plurinacional, verifica-se o im-
portante avano deste no sentido de reconhecer que as comunidades indgenas originrias
campesinas constituem-se como fontes diretas e originrias de direito, tal como a Consti-
tuio, retirando desta o locus privilegiado de enunciao de direitos, mitigando com isto,
o monismo estatal. Alm disto, a criao de uma Unidade de Descolonizao, composta
inclusive por profissionais raramente respaldados nas prticas jurdicas eurocntricas, tais
como antroplogos, historiadores e socilogos e, em especial, a participao ativa e deci-
siva de tal Unidade no controle plural de constitucionalidade representam um significativo
avano na perspectiva da interculturalidade, inclusive na metodologia transdisciplinar, tal
como prope o Ral Fornet-Betancourt.
certo que o sistema inovador e muito recente e complexo, pelo que, muito
h que se fazer, observar e aprender com a experincia boliviana. Apesar das inmeras
dificuldades e controvrsias vivenciadas no processo de efetivao da nova ordem polti-
ca, jurdica e cultural no pas, h tambm inmeras possibilidades de sucesso no sentido
da emancipao e da libertao das comunidades, especialmente aquelas historicamente
negadas e silenciadas.
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24 Tal exigncia especfica da Lei de Deslinde, uma vez que na Constituio Poltica do Estado,
art. 191, no se exige a simultaneidade de requisitos, mas somente apresenta a enunciao de m-
bitos de vigncia.
Pluralismo jurdico e deslinde jurisdicional na Bolvia 33
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34 Constitucionalismo, descolonizacin y pluralismo jurdico en Amrica Latina
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19-42.
SISTEMA DE NECESSIDADES HUMANAS FUNDAMENTAIS
NO PLURALISMO JURDICO:
UM POSSVEL REENCONTRO DA COMUNIDADE
Lus Henrique Orio1
Introduo
A abertura para a construo desta sntese e sua posterior mediao terica vir
amparada no exame das necessidades como critrio de efetividade material do Pluralismo Jur-
dico Comunitrio Participativo. O foco na materialidade da efetividade deste novo modelo
de organizao jurdico-poltica impe buscar, em nosso entender, as origens do desman-
telamento da vida comunitria, da perda do mtuo reconhecimento humano dos seres
sociais, explicao que no pode ser outra que no a que parte da centralidade do trabalho
e seu estranhamento na gide do capital, o que traz na sua dinmica a consequente aliena-
o das necessidades humanas.
Na esteira de uma sntese da crtica da economia poltica marxiana, busca-se por
ltimo, a partir do marxista peruano Jos Carlos Maritegui, arrematar a questo da efeti-
vidade material de um modelo comunitrio de organizao jurdico-poltica em correlao
a sua particular aplicao do mtodo do materialismo histrico-dialtico realidade lati-
no-americana: o problema do ndio e, em ltima instncia, das classes exploradas, como
um problema estreitamente ligado questo da propriedade, e sua viso do comunismo inca
como experincia e embrio de uma reordenao societal avanada rumo emancipao
humana.
A difcil proposta de articulao entre a importncia das necessidades para o Plu-
ralismo Jurdico Comunitrio-Participativo, a crtica filosfico-econmica da ordem bur-
guesa marxiana e a perspectiva da emancipao humana mariateguiana para a Amrica La-
tina estar colocada, no presente artigo, como um conjunto de mediaes dialeticamente
possveis e pretensamente propositivas, de alguma forma, de desdobramentos conceituais
teis para armar a crtica de fenmenos scio-polticos em curso, como o mencionado no
incio desta introduo.
3 Ibid.
4 Ibid., p. 24.
Sistema de necessidades humanas fundamentais no Pluralismo Jurdico 37
5 Ibid., p. 77.
6 Ibid.
7 Ibid.
8 Ibid., p. 242. Grifo no original.
38 Constitucionalismo, descolonizacin y pluralismo jurdico en Amrica Latina
[] Com isso quer-se frisar que, para alcanar a real compreenso da estrutura
da satisfao das necessidades nas formas de vida imperantes na Amrica
Latina e no Brasil, ainda que ela seja em grande parte constituda por carncias
e necessidades necessrias, engendradas pelas condies do seu prprio
modelo de desenvolvimento capitalista, no caber excluir a contingncia de
necessidades eventuais, indeterminadas ou racionalizadas.11
9 Ibid.
10 Conferir da autora, respectivamente, Teoria das Necessidades em Marx e Polticas da ps-
modernidade.
11 WOLKMER, 2001, op.cit., p. 248.
12 Ibid..
Sistema de necessidades humanas fundamentais no Pluralismo Jurdico 39
13 Ibid., p. 248.
14 Ibid., p. 242.
15 Ibid., p. 160-161.
40 Constitucionalismo, descolonizacin y pluralismo jurdico en Amrica Latina
sujeitos um nvel de coeso e coletivismo que permitem que, em seu seio, produza-se
normatividade, formas organizativas poltico-jurdicas prprias.
16 Ibid., p. 247.
17 No obstante, como j ressaltado anteriormente, neste ponto Wolkmer (2001, p. 248) no aceita
qualquer compreenso reducionista das necessidades, entendendo-as pluricausais e multidetermi-
nadas. A nota a se fazer aqui que esta anlise estreitamente colada teoria dos novos movimen-
tos sociais, que Wolkmer (2001, p. 121; 138) repercute em sua tese. A partir do deslocamento da
noo da centralidade da classe e, portanto, entendendo a dinmica deste novo ator poltico em
cena como mais fluda e pluridimensional, os novos movimentos sociais corporificam o novo sujeito
histrico do Pluralismo. A expanso dos tipos de necessidades, portanto, est atrelada a expanso da
morfologia destes novos sujeitos polticos.
18 WOLKMER, 201, op.cit., p. 161.
Sistema de necessidades humanas fundamentais no Pluralismo Jurdico 41
19 Ibid.
20 Bem assim, o presente excerto da tese de Wolkmer lapidar para esclarecer a presena da noo
de alienao das necessidades e seu vnculo com o nvel da produo: Agnes Heller parte de uma
interpretao adequada de Marx para registrar que as condies econmicas geradas pelo capitalis-
mo impedem a satisfao das necessidades essenciais, determinando um sistema de falsas necessi-
dades, sedimentadas basicamente na diviso social do trabalho, nas leis do mercado e na valorizao
do capital. Assim, a sociedade capitalista como totalidade social no apenas produz alienao mas
tambm propicia a conscincia da alienao representada pelo conjunto de necessidades radicais,
necessidades ligadas s foras sociais criadas pelo trabalho e que no podem ser satisfeitas nos
limites desta sociedade (WOLKMER, op. cit.)
21 MARX, Karl. Manuscritos econmico-filosficos. So Paulo: Boitempo, 2010, p. 84.
42 Constitucionalismo, descolonizacin y pluralismo jurdico en Amrica Latina
Em outras palavras:
22 Ibid., p. 85.
23 ANTUNES, Ricardo. Os sentidos do trabalho: Ensaio sobre a afirmao e a negao do tra-
balho. So Paulo: Boitempo, 2009, p. 22.
24 MSZROS, Istvn. Para alm do capital. So Paulo: Boitempo, 2010.
25 ANTUNES, 2009, op. cit., p. 22.
26 MARX, 2010, op. cit., p. 14 (Apresentao).
Sistema de necessidades humanas fundamentais no Pluralismo Jurdico 43
27 FRAGA, Paulo Denisar Vasconcelos. A teoria das necessidades em Marx: da dialtica do re-
conhecimento analtica do ser social. Campinas-SP, 2006. Dissertao de mestrado - Universidade
Estadual de Campinas, Instituto de Filosofia e Cincias Humanas, p. 187.
28 MARX, 2010, op. cit., p. 80.
29 Ibid., p. 83.
30 Ibid., p. 84.
31 MSZROS, 2010, op. cit..
44 Constitucionalismo, descolonizacin y pluralismo jurdico en Amrica Latina
lukacsiana) que, como alertado no comeo, vem a lume no presente trabalho para possibi-
litar o encontro da centralidade produtiva do homem com a abertura crtica para a questo
das necessidades que faz o Pluralismo Jurdico Comunitrio-Participativo na projeo de
um marco comunitrio possvel para o contexto plural da Amrica Latina, proposta da
qual vem a calhar, por ltimo, um encontro com Maritegui e seu marxismo romntico.
Nesta seo final do presente artigo, faremos um paralelo entre a anlise das necessidades
no Pluralismo Jurdico Comunitrio-Participativo lanada na primeira parte do trabalho e
as necessidades ontologicamente consideradas, de cuja compreenso partimos a partir da
seo imediatamente anterior. A tentativa de sntese dialtica desta tarefa ser arrematada,
como anunciado, por alguns traos elementares do pensamento do revolucionrio e inte-
lectual peruano Jos Carlos Maritegui.
Metodologicamente convm observar que no pretendemos com esta proposta de
trabalho negligenciar as diferenas epistmicas, ticas e polticas centrais entre as elabora-
es das quais tratamos. Entrementes, a no exposio suficiente delas se d pelos limites
do artigo, ao mesmo passo que o desafio de entrecruzar elementos de cada uma das ra-
zes crticas analisadas o que entendemos necessrio e salutar no ambiente acadmico
com corte progressista e comprometido com a constante reelaborao terica instrumen-
tal que se ponha a servio da transformao do Direito e das relaes sociais.
dizer: apostamos aqui na possibilidade de sntese dialtica crtica que permita
expandir propostas do marco do Direito para o marco global das relaes sociais. Por
isso, ao confrontarmos um elemento inserido em uma proposta cultural por um novo pa-
radigma jurdico-poltico (o Pluralismo Jurdico Comunitrio-Participativo) com o cerne
da crtica filosfica-econmica do sistema do capital, queremos indicar a precedncia da
interdisciplinaridade e a necessidade da superao de quaisquer positivismos, de modo a
oxigenar o caldo terico poltica e socialmente comprometido com o qual dialogamos.
Partimos assim, das observaes da primeira seo para reafirmar a interpretao
de que o Pluralismo Jurdico Comunitrio-Participativo qualifica o fundamento material
da satisfao das necessidades e sua gerao de mobilizao e organizao coletiva como
um momento de um movimento maior: o avano da conscincia da situao histrica de
privao37. Ressalte-se que Wolkmer reconhece que as necessidades no seio do capital so
tendencialmente falsas38, mediadas por aquele. As necessidades caracterizadas como origem
dos novos sujeitos histricos, conforme dito, que se investem da condio de necessida-
des emancipatrias, que engendram os sujeitos coletivos.
Assim, muito embora a proposta geral da via pluralista no comporte o que para a
crtica das necessidades em seu fundamento ontolgico essencial, ou seja, a emancipao
do trabalho, da atividade consciente de mediao primria dos homens, a abertura hist-
rica apontada pela conscincia das necessidades e da luta poltica da derivada importa (a)
na tendncia negao da ordem burguesa, suas leis e suas exploraes veladas e (b) na
construo de laos coletivos que podem tambm evoluir para uma crescente expanso
organizativa social.
Este movimento dialtico das necessidades historicamente determinado: a gera-
o das necessidades tanto guarda relao com o estgio de desenvolvimento da realidade
social no qual se insere como a sua satisfao obrigatoriamente pautada neste mesmo
contexto. Para o Pluralismo Jurdico Comunitrio-Participativo e sua hiptese central,
qual seja, a da primazia da produo jurdico-poltica comunitria, desde baixo, isto im-
plica em que um novo paradigma jurdico dever estar conformado tanto por aquilo que
a histria logrou afirmar como conquista como por aquilo que surge como novo e que
encontra nesta produo jurdica autnoma sua objetivao39.
No marco de uma nova cultura jurdico-poltica pluralista, portanto, podemos
afirmar que a superao do monismo jurdico burgus passa pela sua negao dialtica
(portanto com a incorporao de seus avanos histricos) e que a fora material deste
movimento est na comunidade organizada, em corpos coletivos que pem em cena este
processo produzindo e reproduzindo sua juridicidade.
Bem aqui que ousamos transcender este marco cultural jurdico e trazer a cena
Jos Carlos Martegui, situando o debate na esfera das relaes de produo. Desenha-
mos de certa forma quase que um paralelo: o grmen do novo tanto para uma nova cultura
jurdica como para uma nova sociabilidade est na regenerao de vnculos coletivos, em
ltima anlise, na comunidade.
Nossa insero de Maritegui no presente trabalho est colocada, assim, sob o
prisma de um dos traos distintivos de sua militncia socialista e produo intelectual:
estudando as formaes econmicas primitivas (principalmente do Peru) utilizando-se do
mtodo marxiano, Maritegui construiu sua perspectiva revolucionria prpria e original,
visualizando no comunismo incaico, na clula comunitrias do ayllu, relaes sociais de
tal modo organizadas que necessariamente deveriam ser as bases mais slidas da
sociedade coletivista preconizada pelo comunismo marxista40.
Sem entrar na polmica quanto a caracterizao do pensamento mariateguiano
como um marxismo romntico, ainda que esta pecha seja quase um senso comum para
39 Cf. RUBIO, David Snchez. Pluralismo Jurdico e Emancipao Social. In: WOLKMER, Anto-
nio Carlos (Org.); NETO, Francisco Q. Veras (Org.); LIXA, Ivone M. (Org.). Pluralismo Jurdico:
os novos caminhos da contemporaneidade. So Paulo: Saraiva, 2010, p. 51-66.
40 MARITEGUI apud LOWY, Michael. Nem decalque, nem cpia: o marxismo romntico de
Jos Carlos Maritegui. In: MARITEGUI, Jos Carlos. Por um socialismo indo-americano: en-
saios escolhidos. Seleo e Introduo: Michael Lowy. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2005, p. 20.
Sistema de necessidades humanas fundamentais no Pluralismo Jurdico 47
quem sobre sua obra se debrua, Maritegui foi sobretudo um revolucionrio. A agudeza
de sua anlise combinada com a originalidade e sensibilidade para utilizar o marxismo
como mtodo para interpretao da sua realidade lhe permitiu revelar o problema do ndio
no problema da terra41; por via de consequncia, a um problema da esfera de produo,
relacionado s formas de propriedade e a organizao do trabalho e sua libertao das
amarras de um estado racista: Somente o movimento revolucionrio classista das massas
indgenas exploradas poder permitir-lhes dar um sentido real a libertao de sua raa, da
explorao, favorecendo as possibilidades de sua auto-determinao42.
Maritegui tinha a clareza, portanto, de que a unio de ndios, negros e trabalha-
dores tinha um recorte de classe e era, portanto, revolucionria. Dizia: Capitalismo ou
Socialismo. Este o problema de nossa poca43. Entrementes, ao colocar a tarefa histri-
ca neste plano, Maritegui no aplicava uma frmula especfica, mas sim exortava (em
uma demonstrao do que se entende pelo seu romantismo) as massas exploradas a
criarem o novo pela sua prpria prxis:
mas sim produzir uma sntese que permita novas formulaes crticas interre-
laionadas: a razo de se encontrar na comunidade o grmen do novo, seja de um
novo paradigma jurdico-poltico, seja de um novo marco de produo material
comunitria. Este desdobramento das formulaes ventiladas sofre o recorte das
necessidades e sua repercusso crtica dimensionada materialmente na crtica das
formas jurdico-polticcas burguesas e na crtica de todas as formas de explorao
e opresso que derivam do sistema do capital.
Estas tmidas aproximaes aqui ventiladas no intentam sintetizar frmulas,
novos paradigmas ou elucubraes idealistas, seno que so influenciadas pelos novos
fenmenos scio-polticos que surgem no cenrio latino-americano, marcadamente o
Novo Constitucionalismo Latino-Americano e suas criaes histricas, no sentido de
poder abrir possibilidades terico-prticas para o desenvolvimento cada vez maior de um
arsenal crtico para armar as lutas dos povos latino-americanos.
Concluso
Pretendamos, com o presente escrito, articular uma proposta de reviso terica do peso
da comunidade para as formulaes de um novo paradigma cultural jurdico-poltico do
Pluralismo Jurdico Comunitrio-Participativo de Antonio Carlos Wolkmer e do social-
ismo indo-americano de Jos Carlos Maritegui. O recorte deste labor se deu pelo trato
da questo das necessidades, a partir de interpretao de sua fundamentao para o Plu-
ralismo, com o aporte da crtica marxiana da economia poltica e seu dimensionamento na
esfera produtiva da chave analtica de Maritegui.
Se bem partamos do pressuposto de que os temas tratados no encontrariam
total identidade epistmica, foi todo modo possvel expor algumas incompatibilidades de
modo a abrir a oportunidade dialtica da formulao de novos caminhos terico-prticos
que visavam aproveitar elementos de uma ou outra proposta analisada.
Da podemos concluir que crtica da ordem burguesa, com suas formas poltico-
jurdicas e suas exploraes e opresses, encontra na perspectiva comum de recuperao
do comunitrio um caminho de transformao, concebendo-o como um espao e uma
prtica tendencialmente criadoras do novo adequado s necessidades histricas e
contingenciais dos povos latino-americanos (contexto que demarca as propostas),
seja no momento da produo autnoma jurdico-poltica seja no momento mais
primrio da produo material da vida comunitria em si.
Avaliar e compreender as implicaes, as pertinncias e os problemas desta sntese
de retorno ao comunitrio de baixo da fora destrutiva, universal e totalizadora do capital
uma tarefa que fica pendente, mas que se esboa necessria para um responsvel trato
dos caminhos de transformao da serem seguidos.
50 Constitucionalismo, descolonizacin y pluralismo jurdico en Amrica Latina
Referncias
Introduo
O artigo objetiva estabelecer uma leitura de convergncia, entre o pluralismo jurdico co-
munitrio participativo e a economia popular solidria utilizando, como ponto de partida
a forma do cooperativismo de vis autntico popular. A justificativa deste estudo a de
criar uma perspectiva em que estas realidades se transformam em instrumentos de trans-
formao social utpica do quadro societal em face da sua corroso pela implementao
do iderio conservador do neoliberalismo imposto pela internacionalizao capitalista
globalitria das ltimas dcadas.
O pluralismo jurdico, por sua vez, edifica uma teoria da histria e da prxis social
que demonstra o carter fetichista e ideolgico do modelo do monismo jurdico emanado
das grandes revolues burguesas do sculo XVIII e XIX.
Esta modelagem jurdica eurocntrica cristalizou uma forma jurdica axiologica-
mente sustentada pela metanarrativa do positivismo jurdico de cunho tecnicista e con-
servador3.
Historicamente o monismo jurdico era o corolrio do processo ps-absolutista,
dentro da processualidade no linear ditada pela contextualizao histrica de ruptura
com o mundo medievo; que levou a consolidao da forma jurdica monista estabelecida
atravs do nacionalismo jurdico do sculo XIX, consolidado aps o processo de ruptura
revolucionria representado pelas Revolues burguesas: Gloriosa Inglesa de 1688, Ame-
ricana de 1776 e Francesa de 1789, a primeira no sculo XVII e as duas ltimas no sculo
XVIII.
A burguesia, ao instalar-se no poder, no s cobe as formas herdadas de organi-
zaes corporativas, como, sobretudo, cria uma moderna instituio burocrtica centra-
lizadora (Conselho de Estado); e implementa, mediante o controle do poder estatal, um
corpo orgnico de normas abstratas, genricas e sistematizadoras, visando a constituir um
Direito nacional unificado4 dentro do modelo de dominao racional legal centrado no
monoplio legtimo da violncia pela estatalidade5.
Paul Singer, ... Nessas condies a economia solidria se integra ao terceiro setor tomando a forma
de organizaes no-governamentais (ONGs), sustentadas primordialmente pelo poder pblico
mediante contratos, In: SINGER, Paul. Economia Solidria, p. 116, In: CATTANI, Antonio David
(Org) A outra economia: os conceitos essenciais. In: CATTANI, Antonio (Org.). A outra econo-
mia. Porto Alegre: Veraz, 2003 Veraz Editores, 2003.
3 Neste sentido, Antnio Cattani define o intervencionismo estatal de forma crtica: O inter-
vencionismo estatal foi, em primeiro lugar, uma traduo poltica dos conflitos de interesse que j
no podiam continuar se desenvolvendo no marco da esfera privada. Mais tarde, incrementou-se
como resposta aos desafios e reajustes colocados pelo crescimento econmico, pela reestruturao
agrria, pela hiper-urbanizao, pelas mudanas ocorridas na estratificao e mobilizaes sociais
e pelos conflitos ideolgicos e polticos, alternando-se ciclos de autoritarismo e democracia, in:
CUNILL, apud: CIMADAMORE, Alberto D.; CATTANI, Antonio David. Produo da pobreza
e desigualdade na Amrica Latina. Porto Alegre: Tomo Editorial/Clacso, 2007, p. 133.
4 Cf. WOLKMER, Antnio Carlos. Pluralismo Jurdico: Fundamentos de uma nova cultura no
Direito. Editora Alfa-mega: So Paulo, 1991, p. 53.
5 Weber dentro de sua viso do tipo ideal descreve a dominao legal como quadro administrativo
burocrtico dentro dos limites das normas legais, como a imposio da impessoalidade, a hierarquia
racional fixa, o formalismo burocrtico, a gesto racional significa dominao pelo conhecimento,
o princpio da organizao documental, separao entre o quadro administrativo e os meios de
administrao, a execuo utilitarista pelos funcionrios das tarefas pessoais, In: WEBER, Max.
Economia e Sociedade. Fundamentos da Sociologia Compreensiva. Vol. 1. Traduo de Regis
Barbosa e Karen Elsabe Barbosa (a partir da quinta edio, revista, anotada e organizada por Jo-
hannes Winckelmann). Reviso tcnica de Gabriel Cohn. Braslia: Editora da UNB, 20000, pp.
O pluralismo jurdico comunitrio participativo e economia solidria 53
A dvida consumiu R$ 708 bilhes em 2011, ou seja, quase dois bilhes de reais
por dia! Essa faanha possibilitada pela crescente expanso de privilgios que
compem o Sistema da Dvida. Durante os trabalhos da CPI da Dvida Pblica,
sequer chegou a ser aprovado o Requerimento de Informaes que requisitava
dados sobre detentores dos ttulos da dvida pblica brasileira. A informao
que a CPI obteve foi extremamente limitada e est reproduzida no grfico
a seguir, que indica que a quase totalidade dos ttulos da dvida mobiliria
brasileira se encontram em poder do setor financeiro nacional e internacional,
revelando que grande parte da dvida interna est em mos de estrangeiros (ou
de brasileiros no exterior), ou seja, tambm externa. Em resumo, no so
conhecidos os beneficirios da Bolsa Rico, que receberam quase R$ 2 bilhes
por dia durante o ano de 2011. A sociedade brasileira sabe somente que est
pagando uma elevadssima dvida, mas no sabe para quem paga.12
12 FATTORELLI, Maria Lucia. Bolsa Rico. In: Antonio David Cattani & Marcelo Ramos Oliveira.
A sociedade justa e seus inimigos. Porto Alegre: Tomo Editorial, 2012, p. 63.
13 Euclides Mance define que muitas ONGs podem sistematizar uma atuao defensora de verses
neoliberais de atuao social, sendo solidrias ou no as ONGs aglutinam um nmero extrema-
mente expressivo de recursos, In: MANCES, Euclides. A revoluo das redes. A colaborao soli-
dria como uma alternativa ps-capitalista globalizao atual. Petrpolis: Ed. Vozes, 2001, p. 21.
56 Constitucionalismo, descolonizacin y pluralismo jurdico en Amrica Latina
terceiro setor e da ideologia da terceira via14 com o formato de Oscips e outras formata-
es jurdicas destinadas a substituir o estado social, j que o Estado Paternalista Penal
sofre ntido endurecimento Hobbesiano.
No prximo item, se demonstrar como as duas formas de organizao societria
alternativa no plano jurdico comunitrio participativo; e econmico associativo comuni-
trio popular articulam-se como vias abertas de empoderamento social.
Tem cada vez menos sentido tratar as questes ecolgica e social de forma
independente, tanto no plano poltico quanto reivindicativo. No podemos
aceitar ou estaremos correndo o risco de contradies explosivas, desenvolver
dois conjuntos paralelos de medidas, um para responder s necessidades sociais
(salvar a humanidade) e outro para responder aos danos ecolgicos (salvar o
planeta). O objetivo atual combinar estas duas exigncias solidrias em um
mesmo programa de ao que seja, de fato, coerente. Isto vale tambm para o
62 Constitucionalismo, descolonizacin y pluralismo jurdico en Amrica Latina
Desta premissa bsica ditada pelo cenrio contemporneo e futuro desenhado por
esta perspectiva, que implica em uma ruptura do paradigma cartesiano mecanicista impos-
to pelo saber matematizado e quantitativo do capitalismo naturalizador da realidade social
e da civilizao capitalista28 rumo a uma nova articulao epistemolgica dos saberes
demarcada pelo suleamento no sentido Paulo Freiriano da autonomia pedaggica popular
libertadora.
Esta busca implica na busca de um novo Estado forte na questo social e ambien-
tal; mais que seja passvel de seu controle transparente pela ao democrtica e pluralista
dos sujeitos sociais coletivos insurgentes que moldam prticas sociais e jurdicas pluralis-
tas, um Estado no baseado no monismo jurdico, mais na pluralidade de fontes jurdicas,
na pluralidade dos poderes sociais, e no apenas dualidade de poderes, ou seja, alm da
dualidade de poderes preconizadas pelo marxismo leninismo com seus soviets subordina-
dos ao centralismo democrtico.
Isto pode ser efetuado pela pluralizao das esferas jurdicas pelos movimentos
sociais, o que implica na quebra do modelo do monismo jurdico conservador imposto
hierarquicamente para consolidar uma dominao racional legal desenhada a favor das
oligarquias ou das classes dominantes.
Esta nova esfera social dialgica insurgente implica tambm na reconstruo de
um novo mundo das solidariedades culturais, econmicas e tnicas situadas, num novo
marco tico da alteridade capaz de desconstruir as premissas do produtivismo capitalista
anti-socioambiental e induzindo a uma solidariedade dialgica, plural, horizontal e basista
formadas por redes de troca solidria e por uma cultura da partilha fundada na tica da
alteridade.
Esta nova forma de conceber a economia de uma forma indivisvel em relao as
outras realidades sociais fundamentais, edifica-se pela busca de um plano emancipatrio
libertador, o que somente pode ser consolidado pela ao da prxis de intelectuais e da
prpria comunidade de vtimas, os sujeitos coletivos, os intelectuais orgnicos coletivos
alm da lgica do partido, ou do prncipe defendida por Gramsci e Lnin, que no precisa
ser eliminadas mais devem ser subordinadas a base da espontaneidade dos movimentos
sociais que os criaram mitigando a lgica de burocratizao institucional tpica da chegada
27 ROUSSET, Pierre. O ecolgico e o social: combates, problemas, marxismos, p. 223, In: CAT-
TANI, Antonio David. Frum Social Mundial: a construo de um mundo melhor. Porto Ale-
gre/Petrpolis: Editora da Universidade/UFRGS/Vozes/Unitrabalho/Corag/Veraz Comunica-
o, 2001.
28 Cf. COMPARATO, Fbio Konder. A Civilizao Capitalista. So Paulo: Ed. Saraiva, 2013.
O pluralismo jurdico comunitrio participativo e economia solidria 63
29 Cf. DUSSEL, Enrique. tica da Libertao. Traduo de: Ephraim Ferreira Alves, Jaime A.
Clasen e Lcia M. E. Orth. Petrpolis: Editora Vozes, 2000, p. 217.
30 Vide a guerra do Paraguai no sculo XIX, a represso dos movimentos sociais no Brasil (Caba-
nagem, Canudos, Contestado, etc), a guerra do Chaco, na dcada de 30 do sculo XX, a revolta dos
Gachos na argentina no sculo XIX, no governo de Mitre, a poltica de matana das experincias
nacionalistas da Amrica Central nos anos 30, por multinacionais americanas como, a United Fruit
e novamente nos anos 80, a polticas do Evil Empire de Reagan sobre os Sandinistas. Anterior-
mente, a escravido negra, os mais de 70 milhes de ndios mortos desde a invaso da Amrica. A
derrubada do governo Chileno de Allende, promovido pela International Telephone and Telegrath,
as ditaduras militares latino-americanas mantidas sob o gerenciamento norte-americano. As pol-
ticas neoliberais de Carlos Salinas de Gortari, Ernesto Zedillo, Carlos Menen, Alberto Fugimori,
Fernando Collor de Melo e Fernando Henrique Cardoso, nos anos 90 que privatizaram o patri-
mnio estatal, energtico, mineral e natural, no caso do Brasil, o setor telefnico, eltrico, a Vale
do Rio Doce, a CSN, a Belgo Mineira, a Ao Minas, a maioria dos Bancos de Fomento estaduais,
estabeleceram avultosas concesses de Pedgio para inescrupulosas empresas estrangeiras, e hoje
as polticas ainda se materializam com o combate aos movimentos sociais organizados como os
Sem-Terra, os Zapatista e os governos nacional-populares de Hugo Chvez, Rafael Corra, Evo
Moralez, conforme estampado na capa na reacionria revista Veja do ms de maro de 2008, da
editora Abril. Cf.: RAMPINELLI, Waldir Jos. A histria: uma arma de dominao, p. 23-48, in:
RAMPINELLI, Waldir Jos (org). Florianpolis: Insular, 2003; GALEANO, Eduardo. As veias
abertas da Amrica Latina. 45 Ed. So Paulo: Paz e Terra, 2005; BANDEIRA, Luiz Alberto Mo-
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o. Civilizao Brasileira: Rio de Janeiro, 2006; RIBEIRO, Darcy. As Amricas e a Civilizao.
Processo de formao e causas do desenvolvimento desigual dos povos americanos. So Paulo:
64 Constitucionalismo, descolonizacin y pluralismo jurdico en Amrica Latina
Companhia das Letras, 2007; Biondi, Aloysio. O Brasil privatizado. Um balano do desmonte
do Estado. So Paulo: Ed. Fundao Perseu Abramo, 1999. 48 p; DUSSEL, Enrique. Enrique. De
Medelln a Puebla uma Dcada de Sangue e Esperana: de Sucre crise relativa do Neofa-
ciscismo 1973-1977; traduo: Luis Joo Gaio. So Paulo: Edies Loyola, 1982, MUOZ, Luis.
Cooperativismo e Direito. Identidade Latino-Americana das Cooperativas Populares. Universidade
Federal do Paran: Curitiba, 2008.
31 MONTIBELLER-FILHO, Gilberto. O Mito do desenvolvimento sustentvel. Meio am-
biente e custos sociais no moderno sistema produtor de mercadorias. Florianpolis: Editora da
UFSC, 2008.
32 VEPPO BURGARDT, Victor Hugo. Embates Polticos na Fronteira Setentrional do Bra-
sil: A difcil digesto da Raposa Serra Sol. So Paulo/Jundii, Paco Editorial, 2011.
O pluralismo jurdico comunitrio participativo e economia solidria 65
estatal de acordo com Pierre Clastres35, as famosas sociedades contra o Estado, ento
quem tem a ensinar e quem tem a aprender; ou melhor, porque o bloqueio do dilogo
inter-cultural?
35 Cf. CLASTRES, Pierre. A sociedade contra o Estado. Rio de Janeiro: ERCA, 1990.
36 Ora, numa sociedade agrcola, tais condies no surgiram naturalmente elas teriam que ser
criadas. O fato de terem sido criadas gradualmente de maneira alguma afeta a natureza surpreen-
dente das mudanas envolvidas. A transformao implica numa mudana da motivao da ao por
parte dos membros da sociedade: a motivao do lucro passa a substituir a motivao da subsistn-
cia. Todas transaes se transformam em transaes monetrias e estas, por sua vez, exigem que
seja introduzido um meio de intercmbio em cada articulao da vida industrial. Todas as rendas
devem derivar da venda de alguma coisa e, qualquer que seja a verdadeira fonte de renda de uma
pessoa, ela deve ser vista como resultante de uma venda. isto o que significa o simples termo sis-
tema de mercado pelo qual designamos o padro institucional descrito. Mas a peculiaridade mais
surpreendente do sistema repousa no fato de que, uma vez estabelecido, tem que se lhe permitir
funcionar sem qualquer interferncia externa. Os lucros no so mais garantidos e o mercador tem
que auferir seus lucros no mercado. Os preos devem ter a liberdade de se auto-regularem. justa-
mente esse sistema auto-regulvel de mercados o que queremos dizer com economia de mercado,
O pluralismo jurdico comunitrio participativo e economia solidria 67
rtulo embutido como marca das prticas sustentveis do mundo empresarial, sem querer
satanizar seus agentes aprisionados a mentalidade do moinho satnico acima descrito:
dro toyotista cooptadoras da subjetividade dos trabalhadores, adensadas que esto pela
acelerao do processo de produo, por novas tecnologias como a internet, o celular, etc.
Este novo processo chamado por alguns de fluxo tnsil39, talvez a explicao
esteja mais prxima, a novas formas de extrao da mais valia relativa, agora realizadas de
forma mais sutil, j que esto naturalizadas pela nova ideologia patronal hegemnica, que
est difusa e impregnada todos os tecidos scio-comunitrios da sociedade do espetculo,
em um processo de fragmentao laboral emergente do emprego das novas tecnologias
convergindo para a sociedade global do entretenimento, do espao narcisista do indivi-
dualismo privado, que o nico espao societal compatvel com as formas de produo
advindas do padro criado pelo modelo neoliberal orientado pelo consumo40, a ideologia
alimentada pela esfera circulacionista informacional.
Para uma maior inteligibilidade da esfera jurdica cooperativa situando-a neste con-
texto amplo necessrio estabelecer quais pontos so utilizados para defini-las como
sociedades cooperativas, preceitos retirados dos quadros da prpria Aliana Cooperativa
Internacional: a) tratar-se de uma entidade com dupla natureza: ao mesmo tempo uma
sociedade de pessoas e uma empresa econmica; b) apia-se na ajuda mtua dos scios;
39 O toyotismo teria inaugurado um novo tipo de manejo da produo caracterizado pela pilo-
tagem pelo fim, definida conceitualmente como fluxo tensionado, caracterizado por um fluxo in-
formacional descendente. Tal conceito generalizado a toda a cadeia de produo significa que cada
posto de trabalho cliente daquele logo acima, o qual, na incerteza do que lhe ser demandado,
no constitui mais estoques como no fluxo fordiano. Basta estar em condies de entregar ju-
sante, no momento certo (just in time) e segundo a quantidade demandada, os produtos ou servios
necessrios. Historicamente, na Toyota que a inventora desse sistema cada posto de trabalho
era prevenido por um ticket (um kanbam) do pedido jusante. Donde um duplo fluxo: matria, de
cima para baixo da cadeia (com uma ausncia ou uma quase ausncia de estoque comercial), e in-
formacional, de baixo para cima. preciso assinalar que, de todo modo, h um fluxo informacional
descendente, qual seja: o da planificao das matrias-primas e das disponibilidades dos meios para
tornar a produo possvel. O fluxo informacional puxado que determina a produo, in: DU-
RAND, Jean Pierre. A refundao do trabalho no fluxo tensionado. Traduo de Leonardo Gomes
Mello e Silva. In: Tempo Social. Revista de Sociologia da USP. Departamento de Sociologia,
Faculdade de Filosofia, Letras e Cincias Humanas, Universidade de So Paulo. v. 15, n. 1 (abril de
2003). So Paulo: USP, FFLCH, 1989. p. 143.
40 Essa nova objetivao social est refletida na pouca representatividade das organizaes sindi-
cais, em que o trabalhador diante desse novo contexto de risco de desemprego passa a se identificar
mais facilmente com o empregador, seu parceiro na luta e disputa pelo consumidor e, portanto
responsvel pela sua sobrevivncia dentro das estruturas competitivas do mercado. Desta forma,
como parceiros, devem canalizar seus esforos mtuos para a cooperao voltada a derrotar os
seus competidores comuns. Os prprios sindicalistas aderem a esses modelos de cooptao e se
transformam em agentes de gesto assimiladoras visando cooperao e facilitao da estratgia
empresarial, In: COUTINHO, Aldacy Rachid. Direito do Trabalho: A passagem de um regime
desptico para um regime hegemnico, p. 18. In: WALDRAFF, Clio; Coutinho, Aldacy R. (Orgs.)
Direito do Trabalho & Direito Processual do Trabalho: temas atuais. Curitiba: Juru, 1999, p.
19.
O pluralismo jurdico comunitrio participativo e economia solidria 69
56 VIOLIN, Tarso Cabral. Terceiro setor e as parcerias com a Administrao Pblica: uma
anlise crtica. Belo Horizonte: Frum, 2006, p. 146.
57 ROCHA, Slvio Ferreira da Rocha. Terceiro setor. 2 Ed. Revista e aumentada. So Paulo:
Malheiros, 2006, p. 48.
74 Constitucionalismo, descolonizacin y pluralismo jurdico en Amrica Latina
Concluso
estatalidade e pelo anncio de um novo direito comunitrio forjado pelo cotidiano dos
povos de nossa regio e do mundo, silenciados pelo poder econmico e pelas formas
culturais eurocntricas edificadoras da servido e do extermnio.
A democratizao da esfera pblica, melhor seria dizer das prticas comunitrias
pluralistas emancipatrias insurgentes, pode ser atingida pelo pluralismo jurdico comu-
nitrio participativo, em que os novos sujeitos coletivos plurais e mesmo os movimentos
sociais tradicionais configuraro um direito calcado no iderio da democratizao direta
e participativa orientada pelo controle scio-jurdico comprometido com a justia social
e ambiental; possibilitadora da efetividade de novas formas sociais, jurdicas e epistemo-
lgicas voltadas para uma consolidao no antropocntrica dos direitos humanos rom-
pendo com a cultura jurdica dogmtica, conservadora e elitista prpria de nossa tradio
scio-histrica forjada pelo modelo colonialista eurocntrico e etnocntrico, e pelas novas
formas de gesto neoliberal multilaterais neocoloniais sequestradoras do tempo e das
riquezas de nossa regio.
Esta proposta conjunta se pauta por um novo plano de alteridade tico-material
que se chocar com a cultura poltico-jurdica do bloco histrico hegemnico conservador
performado nas ltimas dcadas por um neocolonialismo que busca sempre criar um mo-
nismo jurdico do Estado Mnimo na rea social; e mximo na esfera repressiva, exposto
pelas polticas impostas pelo multilateralismo, preocupado unicamente com o comrcio e
a segurana jurdica estabelecida em prol de investimentos efetivados pelas transnacionais,
que encontra o seu corolrio mximo contemporneo, no Velho Continente abduzido
pelo neoliberalismo com seu sacerdcio multilateral a servio do sistema financeiro e da
geopoltica militarizada pelos EUA, ONU e OTAN.
Esta sociabilidade vigiada, delega apenas uma participao residual tmida e tute-
lada da populao em relao aos processos sociais de controle poltico e jurdico, que
pode ser superada por modelos coletivistas, solidrios e comunitrios de gesto social,
econmica e cultural capazes de organizar demandas e constituir formas institucionais
democratizadas, e acessveis a prticas comunitrias plurais capazes de consolidar uma
esfera dialgica e participativa de gesto dos povos e no de corporaes privatizadoras.
Os novos mundos possveis podero constituir novas formas utpicas que em
um plano de compreenso e transformao da complexidade podero sedimentar pela
edificao do Princpio Esperana, a conjugao de novas formas econmicas e jurdicas
plurais, a caminho do plano utopstico da autogesto jurdica e econmica, gerando a
autonomia coletiva de grupos, at hoje vitimados pela explorao colonialista e neocolo-
nialista do capital, sem incorrer nos vcios do neoliberalismo com suas reformas visando
um Estado mnimo para as oligarquias beneficiadas pela financeirizao econmica.
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PLURALISMO JURDICO E O DIREITO INDGENA
NA AMRICA LATINA: UMA PROPOSTA DE EMENDA
CONSTITUCIONAL NO BRASIL
Thais Luzia Colao1
Introduo
ras indgenas no continente. Pelo contrrio, seu desaparecimento, contribui, por sua vez,
a assimilao e ao etnocdio dos povos indgenas.8
Se reconhecendo os direitos polticos e a competncia das autoridades indgenas
para administrar a justia por meio de seus sistemas normativos prprios ao direito in-
dgena, tambm se est reconhecendo os seus prprios sistemas jurdicos.9 As organiza-
es e movimentos indgenas equatorianos definem o seu direito valorizando-o perante o
sistema jurdico estatal:
19 COLAO, Thais Luzia; DAMAZIO, Eloise da Silveira Petter. Novas perspectivas para a
antropologia jurdica na Amrica Latina: o direito e o pensamento decolonial. Florianpolis:
FUNJAB, 2012. p. 107.
20 CABEDO MALLOL, Ibid., p. 88-9.
21 FLORES GIMNEZ, Fernando. Acerca de la constitucionalizacin y funcionamiento de la
justicia indgena. In: GIRAUDO, Laura. (Ed.). Derechos, costumbres y jurisdicciones indge-
nas en la Amrica Latina contempornea. Madrid: Centro de Estudios Polticos y Constitucio-
nales, 2008. p. 282, 285.
22 CLAVERO, 1994, Id. p. 115, 155.
23 RENTERA, Miguel nguel. El derecho de los pueblos ndios versus derecho del Estado. In:
DURAND ALCNTARA, Carlos H.; et al. (Coord.). Hacia una fundamentacin terica de la
costumbre jurdica ndia. Mxico: Universidad Chapingo, 2000. p. 80.
Pluralismo jurdico e o direito indgena na Amrica Latina 85
Perante o conflito entre o reconhecimento dos direitos humanos indgenas que re-
quer do estado uma tutela correspondente, e o princpio da diversidade tnica e cultural,
que obriga o poder pblico a preservar o direito a diferena e a manuteno da prpria
idiossincrasia do grupo humano aborgene, devem ser preservados os direitos coletivos
de determinados grupos humanos residentes em seu territrio, sendo interpretadas as
garantias individuais dentro de um enfoque mais coletivo e social, com uma dimenso
supra-individual distinta da operada na cultura ocidental. Mantendo a tolerncia, o di-
logo intercultural e o consenso entre o universal e o particular (a cosmoviso ocidental
e oficial, e a indgena).31
Vrios motivos fazem com que os governos dos pases no aceitem integralmente
o sistema jurdico dos povos indgenas:
Sem dvida, uma ordem jurdica estatal ainda est longe de integrar a ordem
jurdica interna dos diferentes povos que conformam seu mosaico demogrfico.
O assunto reconhecer plenamente esse direito alternativo, isto , das ordens
e sistemas jurdicos no positivos como parte formal estatal. To simples que
parece, no de todo, pois os governos dos pases com presena tnica temem
as provveis contradies que uma ordem jurdica consuetudinria possa
chegar a ter com a ordem jurdica estatal. [...] se teme a concesso de concesso
de certas formas de autonomia [...] avanar na obteno de posies polticas
com seus respectivos efeitos no social e no econmico. [...] Queira ou no,
uma diminuio do poder do governo, pois este que tutela os povos tnicos
em sua prpria viso de como regul-los e control-los.32
Cabe ressaltar que a realidade brasileira quanto aos povos indgenas que bem
diferente dos demais pases latino-americanos, quantitativamente tem uma pequena popu-
lao, equivalente a 0,47 % da populao brasileira, cerca de 896,9 mil pessoas; no entanto,
33 CARREIRA, Eliane Amorim. Pluralismo jurdico. Laudos antropolgicos: contextos e pers-
pectivas. Ministrio Pblico Federal: Braslia, 2008.
34 Acreditamos que aos poucos esta postura ser modificada com a obrigatoriedade da introdu-
o do contedo de Antropologia Jurdica nos currculos dos cursos de graduao em Direito.
35 CARREIRA, Eliane Amorim; ARAJO, Ana Valria et. ali. (Org.) Povos indgenas e a lei
dos brancos: o direito diferena. Braslia: Ministrio da Educao, 2006.
36 Atualmente os debates esto mais centrados na questo do reconhecimento e demarcao das
terras indgenas.
37 CABEDO MALLOL, Ibid., p. 280.
38 BARI GREGOR, Cletus. Pueblos indgenas y derechos constitucionales en Amrica
Latina: um panorama. Mxico: Instituto Indigenista Interamericano, 2000. p. 202, 203.
Pluralismo jurdico e o direito indgena na Amrica Latina 89
possu a maior diversidade cultural, 305 etnias que falam 274 idiomas reconhecidos39,
sendo que ainda existem grupos isoladas ou semi-isoladas do convvio com a sociedade
nacional e com outros grupos indgenas.40 Cada grupo tnico tem a sua forma de organi-
zao social e sua maneira prpria de materializar o seu direito autodeterminao.
Concluso
39 Estima-se que antes da chegada dos portugueses, habitavam o atual territrio brasileiro cerca
de 5.600.000 pessoas que falavam aproximadamente 1.300 lnguas. (FUNAI). Atualmente, den-
tre os 305 povos, as etnias mais populosas so: Tikna (46 mil), Guarani Kaiow (43,4 mil), Kain-
gang (37,4 mil), Makux (28,9 mil), Terena (28,8 mil) e Tenetehara (24,4 mil). Vivendo em zo-
nas rurais 63,8%, e em zonas urbanas 36,2%. Os 896,9 mil habitantes esto distribudos por re-
gio da seguinte forma: Norte 38,2%, Nordeste 25,9%, Centro-Oeste 16%, Sudeste 11,1% e
Sul 8,8%. Tendo 505 terras reconhecidas, proporcionalmente a 12,5% do territrio brasilei-
ro. Cf. IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica. Censo de 2010. Disponvel em:
<http://www.ibge.g ov.br/home/estatistica/populao/censo2010/caracetristicas
_gerais_indigenas >. Acesso em: 14/03/2013.
40 IBGE, Ibid.
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Introduo
2 Ver, nesse sentido: SANTOS, Boaventura de S. Crtica da Razo Indolente. Contra o des-
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98 Constitucionalismo, descolonizacin y pluralismo jurdico en Amrica Latina
Mas, a expresso crtica dbia e ampla, tem muitos significados; de qualquer modo, a cr-
tica emerge como elaborao instrumental dinmica, transpe os limites naturais das teo-
rias tradicionais, no se atendo apenas a descrever o que est estabelecido ou a contemplar
os fenmenos sociais e reais. Reconhece-se que a crtica pode revelar o esclarecimento,
como assinalava Paulo Freire, aquele conhecimento que no pragmtico, mas que existe
num contnuo processo de fazer-se a si prprio.3 Como um processo histrico, a crtica
est identificada ao utpico, ao desmitificador e ao liberador. Entendida a crtica como
instrumental pedaggico de conscientizao, descolonizao e de libertao, a questo
que se coloca : como viabiliz-la na insero da trajetria de nossas sociedades como as
de Amrica Latina?
O desafio est em buscar processos de conhecimento que partam do perifrico, do
subalterno e da experincia das regies excludas e subordinadas ao globalismo neoliberal.
Na verdade, recordando Boaventura de S. Santos, um pensamento contra-hegemnico de
resistncia e emancipao4 que surge de sujeitos negados, transforma-se em manifesta-
es aptas a instrumentalizar a fora de uma crtica inconformista e transgressora, no sen-
tido de contribuir na desconstruo de velhas prticas colonizadoras de saber e de poder
dominantes. A crtica como saber e como prtica da libertao deve demonstrar at que
ponto os sujeitos esto codificados e moldados pelos determinismos histricos, que nem
sempre esto cientes das implicaes hegemnicas, das dissimulaes opressoras, das fa-
lcias ilusrias do mundo objetivo real. O pensamento crtico tem a funo pedaggica de
provocar a conscincia e a ao dos sujeitos sociais em luta, que sofrem as injustias por
parte dos setores dominantes, dos grupos privilegiados e das formas institucionalizadas
de violncia e de poder, tanto do poder global quanto do poder local.
Certamente que a crtica, como dimenso epistemolgica e prtica poltica, tem
papel pedaggico transformador, medida que se torna o instrumental operante ade-
quado ao esclarecimento, resistncia e liberao, respondendo aos interesses e as ne-
cessidades de todos aqueles que sofrem qualquer forma de discriminao, explorao e
excluso. De igual modo, para se constituir uma nova cultura marcada pelo pluralismo e
pela interculturalidade, h que se por com muita clareza as categorias crticas emergentes
dos velhos descartados, das crianas exploradas, dos povos ignorados e, das culturas ani-
quiladas. Em suma, um paradigma crtico liberadora da poltica deve transgredir as fron-
teiras do que hegemnico, assumindo compromisso com a prtica poltica do outro,
contribuindo para implementar estruturas polticas justas e legtimas, mediante novas nor-
mas, leis, aes e instituies polticas. Uma vez feitas essas consideraes, destacando a
importncia de uma teoria poltica crtica liberadora, cabe o direcionamento para o que
vem a ser um paradigma crtico e descolonizador do Direito.
imprescindvel ter, como ponto de partida para a reflexo sobre Direito e Justia,
a incluso do paradigma da vida humana. Na ptica das premissas norteadoras da alteri-
dade, adverte-se sobre a imperatividade da vida humana para a construo de uma rea-
lidade social justa, que venha receber a dignidade negada da vida ntima do oprimido ou
excludo.7 Diante dos grandes paradigmas da tradio ocidental, como ser, conhecer,
saber e comunicar, apresentam-se, na transposio da totalidade excludente e na dimenso
agora da exterioridade libertadora, elementos crticos e descolonizadoras de um projeto
poltico centrado no outro, base para repensar o Direito e o Pluralismo Jurdico. H de se
considerar, portanto, que o Direito tem sua raiz no ser humano. Sem dvida, o outro
o que dar sempre a pauta de uma busca histrica do ser real, dos direitos humanos, da
justia e do buen vivir. Mas, particularmente, a juridicidade moderna, por ser exclu-
dente, formalista e desumanizadora, ser superada por uma episteme crtica e emancipa-
dor que encontra sentido na luta do povo por Justia, quando o outro seja reconhecido
dignamente em sua identidade, em sua diversidade e em sua dimenso intercultural, como
chama a ateno Catherine Walsh.
A libertao legitima-se como expresso da luta descolonizadora por direitos, e das
lutas sociais, de onde nascem os direitos. Ao relacionar a libertao com Justia e Direitos,
deixa-se claro que falar em libertao apostar numa determinada concepo de Justia,
cuja opo sejam as populaes carentes e que no processo social operam como vtimas
do universo hegemnico capitalista e globalizado. Isso explica porque o conceito de Jus-
tia se torna to importante na Amrica Latina; mais precisamente, a justia reclamada
pelos coletivos marginalizados e pelos pobres excludos de direitos revela-se fonte mais
autntica de toda a luta social contra situaes de explorao. O direito vida e liberda-
de, entendidos como individuais e coletivos, moldam o espao necessrio, a partir do qual
a dignidade humana desenvolvida nos contextos de adversidade, misria e dominao.
Portanto, uma episteme crtica e descolonizadora forjado na denncia e na luta
dos prprios grupos oprimidos e subalternos e subalterno oprimidos, contra as falsas
legitimidades e as falcias opressoras do formalismo legalista da sociedade massificadora,
serve de substrato para uma autntica e compromissada filosofia poltica da alteridade,
reflexo de uma sociedade intercultural e pluralista. Essa filosofia jurdica da alteri-
dade, incorporando as necessidades fundamentais, como liberdade, justia, vida
digna e direitos humanos, possibilita a descoberta de um novo sujeito social um sujeito
subalterno, emergente. Um direito que fala e legitima, acima de tudo, a dignidade do outro,
que respeita e protege. O Direito direcionado para a libertao deixa de legitimar e asse-
gurar o interesse de sociabilidades dominantes para transformar-se num movimento vivo
de humanizao e da descolonizao de nossa sociedade, da sociedade latino-americana
como um todo, com suas diversidades e identidades. Da a importncia, de uma teoria
crtica liberadora, fundado em um projeto epistmico intercultural e pluralista, que faa
um diagnstico das patologias do momento e expresse mais do que nunca, uma proposta
terico-prtica, uma concepo crtica do Direito compromissado com as transforma-
es, e principalmente, com os princpios bsicos da vida humana com a plena realizao
de um buen vivir.
Concluso
Os novos sujeitos sociais que entram em cena e a reinveno de suas necessidades es-
senciais justificam o aparecimento de novas modalidades de direitos que desafiam e
questionam profundamente a dogmtica jurdica tradicional, seus institutos formais e suas
modalidades convencionais de tutela. A par dos direitos absolutos e especficos de cada
poca, subsistem direitos relativos, que nascem em qualquer momento enquanto neces-
sidades fundamentais, exigncias valorativas ou condies emergncias de vida. Assim,
o surgimento e a existncia dos chamados novos direitos referentes s dimenses indi-
viduais, coletivas, meta-individuais, bioticas e virtuais, em verdade, so demandas cont-
nuas da prpria coletividade e das representaes de seus sujeitos sociais frente s novas
carncias humanas e s crescentes prioridades impostas institucionalmente. Em suma,
urge transpor o modelo jurdico individualista, tcnico-formal e dogmtico, avanando,
desafiadoramente, no sentido de criar novas figuras e novos instrumentos, fundados em
procedimentos interdisciplinares e pluralistas, capazes recepcionar, garantir e materializar
os novos direitos.
Referncias
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EL CONSTITUCIONALISMO EN AMRICA LATINA DESDE
UNA PERSPECTIVA HISTRICA CRTICA DEL DERECHO
Daniel Sandoval Cervantes1
Introduccin
La presente ponencia tiene como objetivo proponer un aparato crtico para estar en con-
diciones de analizar y explicar los horizontes y las limitaciones de las nuevas constitucio-
nes de Nuestra Amrica. La intencin final de estos esfuerzos es potenciar los horizontes
transformadores que se expresan en ellos y que han sido producto de la lucha social y
de los procesos polticos que fueron bsicos para su existencia. La importancia de estos
esfuerzos reside en la situacin poltica actual existente en Bolivia y Ecuador, principal-
mente, pero tambin en Venezuela, pases en que las nuevas constituciones no han hecho
desaparecer los conflictos y las contradicciones de clase inherentes al sistema capitalista,
lo que hace necesario reexaminar el papel de las constituciones y sus posibilidades trans-
formadoras.
Se aborda el tema desde la Crtica Jurdica y, dentro de ella, desde una perspectiva
histrica, desde la historia social. Por la extensin del trabajo resulta imposible abarcar
todos los temas, razn por la cual, en esta ocasin, me limitar a exponer los principios
bsicos de la metodologa crtica propuesta.
Para iniciar cualquier explicacin, crtica o no, en torno del derecho y su papel en la
construccin y reproduccin de las ciencias sociales, resulta necesario partir tanto de un
concepto de derecho para estipular lo que se entender por ste, as como tambin de
los conceptos y categoras de anlisis desde los cuales se emplear dicho concepto para
explicar un problema o una realidad concreta. Para el presente trabajo, propongo utilizar
los aportes tericos y metodolgicos de dos grandes corrientes del pensamiento: la Crtica
Jurdica y la Historia social.
Por un lado, la metodologa crtica del derecho que se propone para analizar el
tema de las nuevas constituciones no parte de la nada, sino que retoma y utiliza los con-
ceptos y categoras de anlisis ya desarrollados y afianzados por la Crtica jurdica a lo lar-
go de las ltimas dcadas. Especficamente retomar de ella el concepto del derecho como
discurso y las categoras que distinguen el sentido dentico y el sentido ideolgico del
derecho. Estos conceptos y distinciones son imprescindibles para estar en condiciones de
comprender al derecho como parte de las relaciones sociales, desde las cuales se forma y
sobre las cuales tiene efectos. Comprender la complejidad social del fenmeno jurdico.
Esta misma complejidad del derecho denota la tendencia interdisciplinaria de la
Crtica Jurdica, si bien, son de lo ms variado los conocimientos producidos en otros
campos disciplinares que pueden ser tiles para ella como la sociologa, la ciencia poltica
y la antropologa, en nuestro caso recurriremos a la utilizacin de conceptos provenien-
tes de una disciplina a la cual la crtica jurdica no suele recurrir, se trata de la historia. En
particular recurriremos a una de las principales corrientes crticas de la historiografa con-
tempornea: la historia social. sta retoma la postura terica y poltica del materialismo
histrico para aproximarse a la comprensin de nuestras sociedades desde una perspectiva
de totalidad. Para nuestro trabajo retomaremos el concepto de larga duracin, tambin la
idea misma de la historia y la realidad social como una totalidad.
As, en primera instancia estipulamos que comprendemos el derecho como un
discurso, pero uno con caractersticas peculiares que determinan su especificidad. En pri-
mera instancia, el discurso del derecho es prescriptivo, es decir, no tiene como objetivo
comunicar una mera descripcin de un estado de cosas, sino ordenar prescribir con-
ductas humanas. En segundo lugar, es un discurso autorizado, lo que significa que para
que sea considerado como discurso del derecho, como un discurso normativo jurdico,
tanto su forma de produccin como su sentido debe coincidir con las formas y los senti-
dos autorizados por las normas superiores. Por ltimo, es un discurso que coactivo, que
amenaza con la violencia, o, mejor dicho, que organiza la violencia, a diferencia de otros
discursos que tambin pueden ser normativos e incluso autorizados como podra ser el
moral y el religioso, por ejemplo, el derecho ejerce la violencia fsica y lo hace de una
manera organizada y centralizada.2
Ahora bien, de este concepto estipulativo de lo que se entender por derecho
sobresale la idea misma de percibir al derecho como un discurso y la relacin entre ste
y la organizacin de la violencia fsica. Desde nuestra perspectiva, y con la intencin de
comprender el punto metodolgico desde el cual se parte, es necesario, a estas alturas del
trabajo, explicar la forma en que se construye y se produce el sentido del derecho y, de
esta forma, explicar el papel que el discurso del derecho, como organizador de la violencia
fsica en las sociedades contemporneas. Adems de ello, entender al derecho como un
discurso que forma parte y tiene efectos en las relaciones sociales.
La primera distincin til es aquella que se estipula entre discurso del derecho,
como aquel que expresa, entre otras cosas, normas jurdicas, y discurso jurdico, el cual es
un discurso que habla sobre el primero, es un discurso sobre las normas jurdicas. Por otro
lado, tambin es importante sealar la diferencia entre el sentido dentico del derecho,
aquel que se construye a travs de la modalizacin dentica de las conductas, permitin-
dolas, prohibindolas o hacindolas obligatorias, y el sentido ideolgico del discurso del
derecho, el cual no contiene una modalizacin dentica de la conductas, pero s tiene un
papel determinante en la interiorizacin del orden jurdico, de las normas jurdicas, como
algo debido, reproduce la conducta de obediencia al derecho y, con ello, al orden social
que las normas jurdicas intentar reproducir a travs de la regulacin de las conductas.3
El sentido del derecho es uno que se construye socialmente, a partir de las rela-
ciones de fuerza existentes en una sociedad, esto significa que en su produccin tienen
efecto los distintos intereses de clase, antagnicos e irreductibles entre s, desde los cuales
los distintos sujetos y colectivos luchan por interpretar y utilizar las normas jurdicas. De
esta manera, el derecho, en cualquier sociedad, se produce en medio de los conflictos
sociales existentes, en las sociedades capitalistas, como las nuestras, estos conflictos, con
sus diferentes grados de intensidad, se entienden bajo el concepto de lucha de clases. De
tal forma que el sentido del derecho es siempre, tambin, la expresin de la correlacin
de fuerzas de la sociedad.4
Es as como entendemos al derecho como un efecto de la lucha de clases y, por tan-
to, como producto de las relaciones sociales en medio de las cuales sta se desarrolla. Sin
embargo, el derecho no solamente es un efecto de esta lucha, sino que tambin es un ins-
trumento. De manera que explicamos, tambin, al derecho como un instrumento de clase.
Instrumento en el sentido de que, de conformidad con su complejidad y la construccin
social de su sentido, el derecho puede ser interpretado y utilizado tanto para defender, si
bien con diferentes posibilidades de xito, tanto los intereses de la clase dominante como
los de las clases subalternas. En este sentido, el derecho es un campo de la lucha de clases,
un campo de disputa.5
3 Llamaremos sentido dentico del discurso del derecho al sentido que se puede encontrar en
los enunciados del discurso del derecho, mediante el anlisis de los mismos a la luz de cualesquiera
de los tres operadores denticos. Cuando un enunciado puede ser reducido a la forma cannica,
entonces decimos que es una norma, cualquiera sea su redaccin. El sentido de un enunciado re-
ducido a su forma cannica ser, para nosotros, su sentido dentico; el dado por la modalizacin
dentica de la descripcin de la conducta. Desde luego, la identificacin del sentido dentico de un
enunciado expresado en lenguaje comn slo aparece en el anlisis que precisamente es la tarea del
jurista. Cf. CORREAS, Oscar. Crtica a la ideologa jurdica. Ensayo sociosemiolgico, Mxico,
UNAM-CEIICH, Ediciones Coyoacn, 2005, pp. 147-148. En el mismo libro, en las pginas 148 a
150, se explica el sentido ideolgico.
4 CORREAS, 2005, op. cit., pp. 113-114; CORREAS, 2004, op. cit., p. 24.
5 Ibid.
106 Constitucionalismo, descolonizacin y pluralismo jurdico en Amrica Latina
As, el derecho, el discurso del derecho, constituye una parte importante para la
reproduccin de las relaciones sociales, la complejidad en la produccin e interpretacin
del sentido del derecho, como causa y como efecto en la lucha de clases, la explicamos a
partir de considerarlo como un campo de disputa, es decir, como un discurso por cuya
determinacin de sentido se disputa en la vida cotidiana desde subjetividades polticas
antagnicas. Ahora bien, para continuar hay que recordar que esta disputa por el sentido
del derecho no se desarrolla en condiciones de equidad, sino que se encuentra atravesada
por las desigualdades y marginaciones inherentes a las sociedades capitalistas, es decir,
aquellas divididas en clases.
En este sentido, hay que explicar la contradiccin existente en las utilizaciones e
interpretaciones del derecho, atravesadas por el choque entre subjetividades e intencio-
nalidades polticas determinadas, en buen grado, por los intereses y la posicin de clases
irreductiblemente antagnicas. De esta condicin se deriva la posibilidad de un uso del
discurso del derecho para la dominacin y la construccin de la hegemona del sistema
capitalista, es decir, la produccin y aplicacin de un derecho que reproduzca y profun-
dice las desigualdades y las condiciones explotacin del rgimen capitalista. Sin embargo,
por otro lado, tambin la posibilidad de que se utilice el derecho para hacer avanzar los
intereses de las clases subalternas, de los sujetos y las colectividades marginadas del de-
sarrollo capitalista y a costa de quienes ste es posible; es decir, de una manera contra-
hegemnica.
Mi hiptesis personal es que, si bien el derecho, por llamarlo de alguna manera,
estatal, es producto de este choque y esta lucha por la utilizacin del derecho, en realidad
estaramos hablando de formas irremediablemente antagnicas de pensar, interpretar y
utilizar el derecho, las cuales se enfrentan en la lucha de clases, resultando una de ellas la
victoriosa y la que, con sus mediaciones, impone el sentido dominante del discurso del
derecho y as est en mejores condiciones de reproducir el sistema de dominacin y ex-
plotacin que le resulta favorable.
Ahora bien, para poder pensar en la realidad concreta estas categoras, es decir,
para estar en condiciones de explicar alguna situacin o algn problema especfico de
nuestras sociedades a partir de los conceptos de la Crtica Jurdica anteriormente aludi-
dos, me parece oportuno retomar un par de conceptos que provienen del materialismo
histrico, de las corrientes de pensamiento historiogrfico comprometidas con la trans-
formacin social.
La primera cuestin es el carcter desmitificador de la historia con perspectiva ma-
terialista. As pues, retomar una perspectiva histrica tiene la intencin de comprender el
pasado para poder explicar el presente y para estar en condiciones de construir un futuro
ms justo. En este sentido, es importante recalcar que se tomar un concepto de historia
atrapado en la legitimacin de la situacin actual, por medio de la glorificacin de los mi-
tos de origen de las sociedades capitalistas, sino, precisamente con la intencin contrario,
desmitificar la historia del derecho para comprenderlo, a cabalidad, como un campo de
El constitucionalismo en AL desde una perspectiva histrica crtica del derecho 107
queda del sentido literal de los textos producidos en una poca, sino, en la forma en que
los hechos, las interpretaciones de los hechos, sirven para explicar las transformaciones
sociales. En este contexto, para la Crtica jurdica, la historia social ofrece una metodologa
histrica que intenta explicar lo social no desde la cmo una poca se percibe a s misma,
sobre todo, desde la perspectiva de la clase dominante. En este sentido, tiende a ser una
historia desde abajo, la cual intenta reconstruir la perspectiva de las clases subalternas
y, sobre todo, explicar las condiciones materiales e ideolgicas de las transformaciones
sociales.8
En este sentido, para la historia social, uno de los objetivos ms importantes es el
de explicar las condiciones del cambio o la transformaciones de las relaciones sociales,
lo cual, interesa al presente, no porque, a partir de dichas explicaciones se pueda prede-
cir el futuro, sino porque, por medio de estas compresiones es posible evaluar, desde la
comprensin del pasado, la situacin presente para pensar las alternativas posibles hacia el
futuro. Al menos de una manera ms slida que desde una perspectiva ahistrica.9
En este sentido, explicar desde la historia social el derecho, implica, por tanto,
intentar comprender su papel dentro de la totalidad que son las relaciones sociales, por
un lado, sin perder de vista la especificidad jurdica de stas, pero, por el otro, sin dejar de
pensar dicha especificidad dentro del contexto social en que emerge y en el cual adquiere
un sentido concreto. Para efectos de la presente investigacin, lo anterior es importante
para no deshistorizar las explicaciones de la crtica jurdica del derecho realmente exis-
tente, para disociar las normas jurdicas de las relaciones sociales y la lucha de clases en
medio de la cual son producidas y en las cuales adquieren un sentido, una aplicacin y
tienen efectos en la correlacin de fuerzas. Utilizar los conceptos para pensar crticamente
al derecho realmente existente y no para justificarlo.
Por otro lado, tenemos el concepto de larga duracin, entendida como la meto-
dologa que permite identificar aquellos fenmenos que permiten explicar lo social ms
all de las comprensiones coyunturales, ms all de los grandes acontecimientos con sus
rupturas aparentes, indagar sobre las condiciones de existencia de los sistemas de domina-
cin, como el capitalista, que se presentan a lo largo de periodos de tiempos seculares. Es
decir, sin demeritar la importancia de las transformaciones coyunturales en la conforma-
cin de las relaciones sociales y su impacto para cambiar o limitar un rgimen de domina-
cin, el capitalista; lo cierto es que analizar estas transformaciones desde una perspectiva
puramente coyuntural corre el riesgo de concebir la historia de nuestras sociedades de
una manera tergiversada, encontrando rupturas sistmicas ah en donde solamente existen
reacomodos o transformaciones en las condiciones y en las maneras desde las cuales la re-
produccin del sistema de dominacin capitalista es posible. Una perspectiva ingenua, aun
8 THOMPSON, E.P. History from Below. In: The essential E.P. Thompson. op. cit., pp. 481-
489.
9 Hobsbawm, Eric, Sobre la historia, trad. Jordi Beltrn y Josefina Ruiz, Crtica (Grijalbo Monda-
dori, S.A.), Barcelona, 1998, pp. 24-31, 38-50.
El constitucionalismo en AL desde una perspectiva histrica crtica del derecho 109
10 BRAUDEL, Fernand. La larga duracin. In: La Historia y las Ciencias Sociales. Alianza
Editorial, Madrid, 1999, pp. 60 y ss.
11 Un anlisis similar a este, lo planteo en mi tesis de doctorado, intentando retomar las preguntas
planteadas en Marx, Karl, Sobre la cuestin juda. Consultado en: < http://www.hojaderuta.org/
imagenes/lacuestionjudiamarx.pdf >. El da 26 de marzo de 2013: 11:45 a.m., pp. 8-30.
12 Cf. FERRAJOLI, Luigi. Derecho y Razn. Teora del garantismo penal. Prlogo Norberto
Bobbio. Madrid, Trotta, 2000, p. 906-917, 933-935.
110 Constitucionalismo, descolonizacin y pluralismo jurdico en Amrica Latina
13 Vase la obra precursora de este enfoque: CORREAS, Oscar. Acerca de los derechos huma-
nos. Apuntes para un ensayo, Mxico, UNAM-CEIICH, Ediciones Coyoacn, 2003.
El constitucionalismo en AL desde una perspectiva histrica crtica del derecho 111
Ahora, si bien es cierto que las polticas neoliberales se impusieron de manera constante
en nuestra regin durante las dos ltimas dcadas del siglo XX, profundizando la relacin
entre capitalismo, desarrollo y derecho; lo cierto es que esta relacin no se actualiza de ma-
nera homognea en Nuestra Amrica, pues, como lo veremos, han existido movimientos
sociales que la han cuestionado y, sobre todo en Bolivia, Ecuador y Venezuela, estos cues-
tionamientos, an con sus asegunes, han logrado modificar o transformar esta relacin e
incrementar la posibilidad tanto de cuestionar el modelo de desarrollo como replantear la
manera en que el derecho lo articula y promueve.
La historia social de nuestra regin demuestra que ni el capitalismo, ni las polticas
que se conocen especficamente como neoliberales han podido construir una hege-
mona total, pues, ante y contra ellos han existido siempre resistencias y movilizaciones
sociales que, en alguna medida, tambin han recurrido a la interpretacin y utilizacin
del discurso del derecho, si bien desde una subjetividad poltica distinta a aquella desde la
cual lo hacen las clases dominantes. En este sentido, la historia del capitalismo en nuestra
regin es tambin la historia de la resistencia ante ste.15
Durante la dcada de los noventa del siglo XX se vivieron, a lo largo de toda nues-
tra regin, movilizaciones sociales que, partiendo de los intereses de algunos sectores de
las clases subalternas, resistieron los embates del capitalismo a partir de formas distintas,
y antagnicas con respecto a aqullas promovidas por el capitalismo. De esta manera,
inclusive en aquellos en los cuales las polticas neoliberales se impusieron con mayor fuer-
za, tuvieron movilizaciones sociales importantes en resistencia con aquel modelo, as el
ejemplo de Mxico, pero tambin el de Brasil y Argentina.16
Las resistencias en dichos pases tuvieron distintos grados de impacto en la trans-
formacin de las polticas pblicas, en el caso de Mxico, se intensificaron las polticas
neoliberales, a pesar de que la resistencia no ha cesado; en Brasil tambin, aunque por un
espacio de tiempo se lleg a pensar que otra forma de polticas pblicas era posible; y, en
Argentina, a pesar de que la lucha social logr derribar varios gobiernos claramente iden-
tificados con las polticas neoliberales, lo cierto es que los gobierno de Nstor y Cristina
Kirchner, lo nico que han promovido es un capitalismo en serio, un capitalismo con
un poco ms de inclusin social, pero igualmente injusto.
Sin embargo, en ninguno de estos pases se lograron cambios sustanciales, ni en
el concepto de desarrollo, ni en el modelo de acumulacin ni, tampoco, en el sistema
jurdico. Al contrario de estos casos, en tres pases de nuestra regin, Venezuela, Ecuador
y Bolivia, la articulacin de los movimientos sociales impuls procesos polticos que fue-
ron un factor central en la emergencia de procesos constituyentes y, posteriormente, en
la promulgacin de textos constitucionales que, sobre todo al inicio, ofrecan horizontes
para pensar una transformacin ms profunda, por ejemplo que incluan derechos de los
pueblos indgenas, derechos de la naturaleza, el derecho de la soberana alimentaria, la in-
tensificacin de los derechos sociales y de sus formas de garantizacin, as como tambin
la inclusin de nuevas formas de democracia.17
No obstante, como veamos en el apartado anterior, en el tema de los derechos
constitucionales lo central no es, precisamente, analizar los contenidos semnticos de los
textos constitucionales, desde una perspectiva que pierda de vista que, cualquiera que sea
el sentido que se le otorgue al discurso del derecho, ste se construye socialmente, es de-
cir, a partir de la lucha de clases, de la disputa por su interpretacin, por la posibilidad de
designar qu es lo que se debe entender por derecho. Al menos en las sociedades dividas
15 ZAVALETA, Ren. Problemas de la determinacin dependiente y la forma primordial. ZA-
VALETA Mercado, Ren. El estado en Amrica Latina, La Paz, Los amigos del libro, 2009, pp.
133-135.
16 BORN, Atilio. Crisis de las democracias y movimientos sociales en Amrica Latina:
notas para una discusin. In: OSAL (Observatorio Social de Amrica Latina), ao VII, no. 20, Con-
sejo Latinoamericano de Ciencias Sociales, Buenos Aires, 2006, pp. 289-299.
17 NOGUERA FERNNDEZ, Albert. Los derechos sociales en las nuevas constituciones
latinoamericanas. Valencia, Tirant Lo Blanch, 2010, pp. 159-169.
El constitucionalismo en AL desde una perspectiva histrica crtica del derecho 113
tencia, la manera en que se impone y se legitima, pues, de otra forma, corre el riesgo de
ser terminado.
Sin duda, este tipo de explicacin de los procesos constituyentes recientes de nues-
tra regin resulta de importancia, pues, en todos ellos, los procesos polticos que llevaron
las nuevas constituciones, fueron, en realidad, el campo de enfrentamiento entre clases y,
tambin, entre fracciones de clases.18 En los tres casos, se cuestion de manera profunda
la manera en que la clase dominante ejerca su poder y reproduca el rgimen de domi-
nacin capitalista. Sin embargo, a pesar de que, hasta el da de hoy, es difcil tener expli-
caciones concluyentes de los procesos, parece que, tanto en Bolivia, como en Ecuador y
Venezuela, el capitalismo y los intereses antagnicos de clase inherentes a dicho rgimen,
sigue existiendo y, por tanto, es importante explicar y repensar dichas constituciones, no
tanto como un punto final en los procesos de transformacin radical y estructural necesa-
rios para nuestra regin, sino como etapas de transicin hacia nuevas formas de lucha por
dicha transformacin. Adelantar algunas ideas y explicaciones que puedan ser tiles para
ello fue la intencin principal del presente trabajo.
Conclusiones
18 Vase, por ejemplo, para el caso de Bolivia: PEARANDA U., Ral. Del conflicto al di-
logo. Memorias del acuerdo constitucional. Crnica del proceso constituyente, La Paz, Funda-
cin para la Democracia Multipartidaria/FES-Ildis, Marzo 2009; PAZ PATIO, Sarela. Una mi-
rada retrospectiva sobre la asamblea constituyente en Bolivia. RIPS (Revista de Investigacio-
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El constitucionalismo en AL desde una perspectiva histrica crtica del derecho 115
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116 Constitucionalismo, descolonizacin y pluralismo jurdico en Amrica Latina
Introduo
1. A Filosofia da Libertao
A categoria da totalidade pode ser compreendida a partir de diferentes filosofias. Por conta
disso, o importante compreender o movimento que ocorre entre unidade e multiplicida-
de. Habermas3 chama a ateno para a seguinte dinmica da filosofia:
3 Ibid., p. 151.
4 Ibid., p. 154.
5 Ibid., p. 151-166.
6 Norberto Bobbio (1989, p. 59) usa a expresso redutio ad unum ao falar do ordenamento
jurdico e a necessidade de uma norma nica no pice do sistema.
Filosofia da libertao, crtica jurdica e pluralismo 119
Nessa ordem de ideias a reflexo filosfica leva a uma valorizao central da cate-
goria da totalidade, e consequentemente, desvalorizao da multiplicidade, e negao da
exterioridade (tudo aquilo que se encontra para alm do horizonte da totalidade). Ocorre
uma desvalorizao ontolgica, cognitiva, axiolgica, tica, esttica, epistemologia, her-
menutica, jurdica, cultural, social, e filosfica, enfim, de modos alternativos, mltiplos,
plurais de ser, pensar, comunicar e viver. A partir dessa premissa, dossel afirma a necessi-
dade de destruio do pensamento europeu, apontando sua lgica e seus limites, com
a finalidade de proporcionar lugar ao novo, ao outro, ao diferente, ao distinto. Assim,
importante questionar o pensar de centro.
Para exemplificar sigo alguns passos dessa lgica na razo comunicativa. As for-
mulaes filosficas de Karl-Otto Apel e Jrgen Habermas, ao que se v, conseguem a
superao da subjetividade solipsista moderna.
Qual o objetivo de Karl-Otto Apel? Ele busca obter a fundamentao pragmtico-trans-
cendental e a fundamentao das normas situacionais na razo discursiva, por considerar que nela
esto antecipadamente as exigncias dos discurso que visam formao do consensos nos afetados.8
Assim, as normas situacionais seriam sempre revisveis, enquanto o princpio procedimental
do discurso seria o nico que conserva validade incondicional: aparece como um critrio
permanente, como ideia regulatria. E no ficaria, com isso, comprometida a autonomia
da conscincia, pois cada indivduo pode e deve, em princpio, examinar, julgar, ponderar
e at questionar todo e cada resultado ftico, fruto de consenso, tendo como critrio o
consenso ideal.
9 Ibid., p. 30-31.
10 DUSSEL, Enrique D. e outros. Fundamentacin de la tica y filosofa de la liberacin.
Mxico: Siglo Veintiuno, 1992. p. 76.
Filosofia da libertao, crtica jurdica e pluralismo 121
No ponto de partida aqui sugerido, o sujeito vivente constitui o critrio fonte, condio de
possibilidade de todo o mais. Esse critrio a vida humana serve como referncia de
todo ato, norma, estrutura, sistema, subsistema, instituio etc. Assim, a premissa que a
vida humana em comunidade o modo de realidade do sujeito. Em resumo, a vida humana
concebida no como valor. Ela no um horizonte ontolgico, no trabalho apenas, no
mera sobrevivncia, no se esgota na cultura, no condio de ser, no se esgota na
conscincia, no condio de possibilidade da argumentao, no s um direito, e no
condio de possibilidade, mas modo de realidade. Nesse sentido precisamente fonte e con-
tedo de onde emana, inclusive, a racionalidade como momento do ser vivente humano.
Assim, a vida humana orienta as aes em geral, razo pela qual nenhum siste-
ma ou subsistema (inclusive o subsistema direito) pode deixar de ter como referncia o
contedo o sujeito vivente. No plano mais concreto, o importante a produo, reproduo e
desenvolvimento da vida do sujeito. Condies essas que, se no forem levadas em conta,
acarretam negaes a aspectos da vida e no limite fatalmente levam morte (negao do
critrio fonte e da condio de possibilidade). Trata-se da originria e genuna vulnerabilidade da
vida do sujeito.
O momento da produo da vida humana se desdobra no mais diversos nveis da vida:
desde os nveis vegetativo ou fsico at as funes superiores da mente, esta na sua cons-
cincia, autoconscincia, linguagem, valores, liberdade e assim por diante.
O momento da reproduo da vida humana, - ainda que se possa fazer meno ao ins-
tante da autopoiese subjetiva abstratamente considerada -, o momento das instituies e
dos valores culturais, na condio de mediaes necessrias e adequadas para a continui-
dade da vida do sujeito que reproduz a si mesmo no fato de viver.
E por fim, importa o momento do desenvolvimento da vida humana no quadro das
macro e microestruturas da sociedade. O desenvolvimento histrico deixou lugar para
a construo do humano para alm de um mero crescimento natural. Assim, o sistema
que em sua reproduo impede o desenvolvimento humano dever ter na razo crtica a
exigncia de sua transformao.
122 Constitucionalismo, descolonizacin y pluralismo jurdico en Amrica Latina
camponesa etc.), mas alm disso, por todas as subjetividades que sofrem negaes, ainda
que no sejam classe capitalista, ou que exercem prticas de classe esporadicamente (mar-
ginais, etnias, tribos e demais grupos que apresentam negaes de vida). o bloco social
e histrico dos oprimidos. na tica do pluralismo jurdico, a comunidade das vtimas,
legitimidade fundante dos novos sujeitos coletivos, no projeto comunitrio-participativo,
de produo de novos direitos.
Ao tratar de tema semelhante em outra oportunidade, escrevi12 sobre o assuntos
o que segue transcrito: nos pases perifricos e semi-perifricos do sistema mundo, a
categoria povo est intimamente ligada ao pobre ou s vitimas, comunidade das vtimas.
Povo, pobre, vtimas constituem o oprimido como oprimido, fato que resulta da subsuno
ao sistema de dominao. No entanto, a dominao no elimina inteiramente a exteriorida-
de. Ante a persistncia da racionalidade negada momento analtico da dialtica, o opri-
mido, enquanto outro, desdobra-se, em oprimido como oprimido (intratotalizado) e em
oprimido como exterioridade. Tendo em vista essa distino, abre-se o espao analtico.
A exterioridade consiste na reserva real atual que cada sujeito como modo de realidade
em sua vida em comunidade mantm atravs de um existir com alteridade, num sistema
caracterizado pela dominao eticamente perversa, no saber epistemicida, na injustia po-
ltica, e assim por diante. A alteridade que se mantm viva, que efetiva nas organizaes
e movimentos populares, na manifestao da cultura alternativa de resistncia, manifes-
tao real da condio do oprimido como exterioridade. Portanto, alm da totalidade do
sistema, encontra-se a experincia da exterioridade das subjetividades afirmadas e negadas
(oprimido como exterioridade e oprimido como oprimido), seja na ordem individual ou
coletiva. As vtimas, os oprimidos, os pobres, a nao perifrica (bem como todo afetado
pela dominao nos mais diversos aspectos) tm realidade (o no-ser real), mais alm
do horizonte da totalidade totalizada de cada sistema. O oprimido contm em sua vida
(que no-ser para a ontologia da totalidade), isto , na sua subjetividade, na sua cultu-
ra, na sua experincia, na sua compreenso, na sua prxis, no seu existir, exterioridade
analtica, que lhe permite descobrir-se como oprimido no sistema, mas tambm como
diferente e distinto do sistema. Como o outro do sistema. No fosse a exterioridade como
afirmao analtica (afirmao de sua dignidade, de sua liberdade, de sua cultura, de seus
direitos, de seu trabalho - trabalho vivo, primeiro, e fonte de todo valor) estaria submerso,
sem possibilidade de descobrir e produzir as alternativas que a realidade permite, sob o
ponto de vista de como poderia ser, ou at deveria ser. Enfim, sem a exterioridade no
teria a possibilidade de desejar e projetar a utopia. Ficaria sem a possibilidade de sonhar e
produzir outro mundo factvel. A exterioridade , assim, a afirmao positiva e fonte axio-
lgica da exigncia de justia. A negao da opresso inicia-se e possvel pela afirmao
da exterioridade do outro (aqui as vtimas, nunca inteiramente subsumidas nos diferentes
12 LUDWIG, Celso Luiz. Filosofia e Pluralismo: uma justificao filosfica transmoderna ou des-
colonial. In: WOLMER , Antonio Carlos e outros (orgs.). Pluralismo Jurdico: novos caminhos
da contemporaneidade. So Paulo: Saraiva, 2010, p. 117.
124 Constitucionalismo, descolonizacin y pluralismo jurdico en Amrica Latina
aspectos da dominao). O caminho concreto de busca dessa alteridade pode dar-se pela
prxis alternativa, desde a categoria filosfica da exterioridade, na condio de fonte inultra-
passvel da legtima necessidade e possibilidade de emancipao e de libertao.
Concluso
13 Dussel apresenta algumas das limitaes que devem ser superadas para a elaborao de um
Politica da Libertao (2007, p. 11-13).
Filosofia da libertao, crtica jurdica e pluralismo 125
breves justificaes expostas, entendo que o campo jurdico necessariamente deve estar
atravessado pela racionalidade crtica, porm, racionalidade critica libertadora descolonial, tendo
sempre em conta o contexto das reais negatividades existentes. E dada a complexidade mui-
to prpria dessa situao nos atuais tempos de globalizao e excluso, o desafio deve ser
assumido com ateno, (1o.) no nvel dos princpios universais e abstratos; (2o.) no nvel parti-
cular das mediaes sistmicas; e (3o.) no nvel da ao concreta, para sugerir um esboo desse
encaminhamento, na condio de uma filosofia jurdica de libertao descolonial, tendo
em conta a especificidade da dinmica da transformao do direito frente aos novos direitos e frente
s fontes plurais de juridicidade, produzidas pela intensa prxis dos mais diversos agentes.
A impossibilidade de viver em algum nvel viver dignamente, que se revela nega-
tivamente em algum aspecto material da vida, ou em muitos aspectos, mostra igualmente
uma negatividade formal, porque produzida pelo direito ou porque no prevista pelo sistema
do direito vigente. A critica jurdica de libertao descolonial torna-se necessria, a partir do
momento negativo que descobre a injustia (na positividade do sistema), agora, portanto,
desde a negatividade formal (algum aspecto material da vida negado formalmente). Assim,
o conceito de justia e sua exigncia surgem desde o conceito de injustia (Hinkelammert).
A injustia est ou pode estar nos mais diversos aspectos de negao da vida concreta dos
sujeitos. Na contra-imagem, a exigncia de justia surge, portanto, da negatividade. Negar
a diversidade cultural, por exemplo, implica em perpetrar uma injustia. A negatividade
referida provem de diverso lugares, sendo que a negatividade jurdica, certamente, uma
dessas importantes determinaes. Negao que est, portanto, na esfera dos direitos
dos direitos negados, negao no campo jurdico. Dois so os aspectos a serem ressalta-
dos. De uma parte, essa negatividade efeito da perversidade da lgica global do sistema
mundo nesse momento histrico, por outra, no entanto, efeito especfico da lgica de
cada subsistema: efeitos negativos do subsistema jurdico.
No campo tico e jurdico a transformao crtica do sistema requer um conceito de
justia desde a injustia da negatividade, o que possvel historicamente nos momentos
em que a necessidade de afirmao da vida produzida conduzida pela comunidade das
vitimas. A prxis efetiva das vtimas decisiva para a transformao. E se muitas so as
mediaes necessrias, uma das mediaes especficas a do direito, que neste caso, tem o
sentido de possibilitar o exerccio efetivo de incorporao de novos direitos.
Para isso, a prxis comunitria decisiva para a concretizao de uma cultura do
pluralismo, em especial do pluralismo jurdico emancipatrio e de libertao. No se pode
deixar de levar em conta o paradigma societal que est em jogo. No mundo do capitalismo
globalizado a lgica mais geral desse sistema (e sua irracionalidade) no pode ser esquecida
em especial toda perversidade que resulta da mais-valia do processo de produo, e tam-
bm o amplo contexto da luta de classe no pode ser negligenciado. No entanto, tambm
importante a participao da sociedade civil nesse projeto comunitrio-participativo de
emancipao e libertao. Assim, os novos agentes e sujeitos histricos que mostram uma
nova forma de fazer poltica, que descobrem novos espaos, e um novo modo de atuar
126 Constitucionalismo, descolonizacin y pluralismo jurdico en Amrica Latina
nos espaos, sejam tradicionais ou no, tendo como finalidade a defesa de direitos huma-
nos j reconhecidos como tais, ou que atuam na produo de novos direitos humanos,
at a defesa do trabalho e de direitos do trabalho, de proteo natureza, de necessidades
muitos especficas, de interesses locais, e tambm globais. Enfim, so pautas das comuni-
dades que se auto-organizam tambm em ONGs, voluntariados, terceiro setor, economia
solidria, em redes, cooperativas, clubes de troca, grupos de reflexo, novas escolas de
formao, grupos de cidadania e presso, diversos movimentos sociais (os movimentos
indgenas, os quilombolas, os novos movimentos sexistas, os movimentos negros, grupos
ecolgicos, os sem-terra, os sem-casa, os sem-direitos e outros), produzindo redes
de solidariedade nacionais, regionais e internacionais, como em geral a fenomenologia do
assunto permite identificar.
Nessa fenomenologia pode-se notar que a atuao anti-hegemnica plural so
frentes as mais diversas ter que ser vista e compreendida como ao superadora da
globalizao atual hegemnica, que produz novas e contnuas formas de dominao, de
opresso e de excluso. A renovao e persistncia dessa situao desafia a capacidade
criadora, inovadora da comunidade das vtimas, em especial a dos pobres e excludos, mas
desde a condio de sujeitos viventes comunitrios, condio na qual a falta, a privao, enfim a
negao de vida necessita e exige transformaes. Portanto, essa mudana de compreenso
na ordem da filosofia que faz a reflexo desde a comunidade das vtimas em suas frentes
de libertao, hoje se atualiza como desafio para a busca de expectativas de uma vida possvel e
melhor, mas a partir da condio de sujeito vivente, que quer, pode e deve viver, na condio
de outro do sistema, tendo na categoria da exterioridade, o critrio fonte de justia, e mo-
tivo objetivo para legitimamente enfrentar a lgica e a prxis perversas que produzem as
comunidade de vtimas, ainda que no intencionais.
A percepo dessa situao para alm da aparncia do existente, e portanto, num
ir avanando ao nvel estrutural mais profundo (da totalidade at encontrar a exterioridade)
no s um desafio, mas uma exigncia para todos ns.
Referncias
Introduccin
La pluralidad cultural en relacin con los derechos humanos es un tema conflictivo, pues
filosficamente se ha concebido como un choque entre el universalismo y el relativismo;
es decir, se discute dentro de la dicotoma universal-particular. En trminos generales se
afirma que asumir la validez de los derechos humanos significa reconocer una tica uni-
versal, vlida para todo ser humano en cualquier tiempo y lugar, donde los pases desa-
rrollados son la punta de lanza en el proceso de su implementacin. No obstante, lo que
se puede constatar en sentido contrario es el uso que de los derechos humanos realizan
pueblos y culturas diversas al Occidente hegemnico, donde se suelen apropiar de ellos y
resignificarlos desde sus propias comovisiones, espiritualidades y condiciones vitales.
Ahora bien, el fundamento de los derechos humanos es uno de los temas donde se
muestra con claridad la dicotoma arriba descrita; tanto las corrientes iuspositivistas como
iusnaturalistas suelen pasar por alto el hecho de la pluralidad cultural. En consecuencia,
invisibilizan o desconocen las maneras en que diversos pueblos y culturas resignifican de-
rechos humanos desde sus propias corporalidades. Esto ocasiona que de raz la teora y la
praxis de derechos humanos, desde una ubicacin geopoltica, se encuentren divorciadas.
Los iusfilsofos continan defendiendo fundamentaciones de derechos humanos que no
corresponden con la riqueza de las prcticas de los diversos pueblos. De ah surge la tarea
de ensayar una fundamentacin que sea capaz de asumir una ubicacin geopoltica. Para
lo cual, tomamos como referente la Filosofa de la Liberacin pues varios de sus con-
ceptos y categoras pueden colaborar en una fundamentacin de derechos humanos que
supere el monoculturalismo.
En este artculo trataremos de delinear algunas lneas de reflexin sobre dicha fun-
damentacin. En un primer momento, ampliaremos las formas en que las fundamenta-
ciones hegemnicas de derechos humanos niegan o soslayan el pluralismo cultural; en un
segundo momento, estableceremos los tres pilares que consideramos pueden conformar
una fundamentacin a partir del pensamiento latinoamericano de la liberacin.
Podemos sealar que las fundamentaciones de derechos humanos corren el riesgo de caer
en el dogmatismo, en el pensamiento dbil, en el reduccionismo y en el etnocentrismo.2
De estos riesgos dos estn estrechamente vinculados con la imposibilidad de generar una
interculturalidad de los derechos humanos: el dogmatismo y el etnocentrismo.
Una fundamentacin de derechos humanos es dogmtica cuando pretende encon-
trar un fundamento absoluto. Se establece un tipo de fundamento que al ser una razn
tan evidente ninguna persona puede estar excusada en reconocerla; una vez establecido
no puede posteriormente discutirse y quien se rebela a l queda, por ese hecho, excluido
de la comunidad de los sujetos racionales. Esa postura niega la diversidad y la pluralidad
cultural, pues al considerar que se tiene un acceso privilegiado al conocimiento del funda-
mento de derechos humanos, entonces aquellos que se oponen han de ser considerados
irracionales y, por lo tanto, criminales. Un ejemplo claro de esto es el discurso racionalista
e iusnaturalista de Gins de Seplveda: teniendo como referencia lo que l consideraba el
contenido de la naturaleza humana (claro reflejo de la cultura eurocristiana del siglo XVI)
calificaba a las prcticas culturales de los pueblos indios como reprochables y esto era la
base para justificar la guerra justa contra ellos.3 Tambin lo encontramos en John Locke
quien en su Segundo tratado del gobierno civil seala que los derechos naturales son evidentes
para la mente humana; en quien transgrede la ley natural no rige la ley de la razn y por
lo tanto l mismo se excluye de la comunidad de seres racionales; como consecuencia es
despojado de los derechos naturales que son atribuidos a quienes efectivamente poseen
condicin humana.4
El otro problema de las fundamentaciones dominantes de derechos humanos es
el etnocentrismo. Como seala Senent, [u]no de los problemas tericos con que nos
encontramos al tratar la cuestin de los derechos humanos es que se seala que estos
representan una institucin etnocntrica, y precisando aun ms, se denuncia que son una
institucin eurocntrica.5 Para superar esta situacin, la fundamentacin de derechos
humanos debe posibilitar el dilogo intercultural para mostrar que la experiencia de lucha
2 Cf. SENENT, Juan Antonio. Problemas fundamentales de los derechos humanos desde
el horizonte de la praxis. Valencia: Trant lo Blanch, 2007. pp. 48-58.
3 Para un estudio al respecto, vase: ROSILLO MARTNEZ, Alejandro. Los inicios de la tra-
dicin iberoamericana de derechos humanos. San Luis Potos: UASLP-CENEJUS, 2011.
4 Cf. LOCKE, John. Segundo tratado del gobierno civil. Trad. Cristina Pia, Losada, Buenos
Aires, 2004, nos. 8-10, pp. 12-13. Ms adelante, al abordar la crtica a la ideologizacin de los dere-
chos humanos profundizaremos sobre esta visin de Locke.
5 SENENT DE FRUTOS, op. cit., p. 56.
Filosofa de la liberacin, pluralidad cultural y derechos humanos 131
7 Por ejemplo, un texto de Peces-Barba que refleja este reduccionismo monocultural: La uni-
versalidad de los valores occidentales, expresin de la modernidad, o son discutidos, alterados o
disueltos desde dentro, o son sustituidos por otros valores alternativos que vienen de otras culturas,
antes silenciosas o desconocidas, que exaltan la nacin, la religin, el poder, la privacidad, pero no
son integrados en otra propuesta unitaria, sino por una multiplicidad de lneas, que expresan un
caos cultural, que apenas se disimula con la respetable nocin de pluralismo o pluralidad (PECES-
BARBA, Gregorio. tica, poder y derecho. Mxico: Fontamara, 2000, p. 16).
8 Cf. SANTOS, Boaventura de Sousa. Hacia una sociologa de las ausencias y una sociologa de
las emergencias. In: El milenio hurfano. Ensayos para una nueva cultura poltica. Madrid: Trotta,
2005, pp. 151-192.
9 La idea del proceso de traduccin entre culturas es propuesto por Boaventura de Sousa
Santos, utilizando la hermenutica diatpica (Cf. SANTOS, op. cit., pp. 180-187). Ms adelante, al
hablar de la compresin compleja de derechos humanos, ampliaremos este punto.
Filosofa de la liberacin, pluralidad cultural y derechos humanos 133
cesos de liberacin de las personas y los pueblos. Si bien la fundamentacin no puede ser
la nica instancia crtica, puede ser una de gran importancia, si se evita caer en los riesgos
ya comentados sobre la negacin de la pluralidad cultural.
La fundamentacin de derechos humanos que proponemos se basa en tres pilares,
estrechamente vinculada con los procesos de subjetivizacin de los excluidos y las vcti-
mas: la alteridad, la praxis y la vida.
3. La alteridad
12 Cf. HINKELARMMERT, Franz. El sujeto y la ley. El retorno del sujeto reprimido. Heredia
de Costa Rica: EUNA, 2005.
13 Cf. GARCA RUIZ, Pedro Enrique. Filosofa de la liberacin. Una aproximacin al pensa-
miento de Enrique Dussel. Mxico: Drada, 2003, pp. 171-202; SALAMANCA, Antonio. Yo soy
guardin mundial de mi hermano. Hacia la universalizacin tica de la opcin por el pobre des-
de el pensamiento de K.O. Apel, E. Dussel y X. Zubiri. Frankfurt: IKO, 2003, pp. 65-70.
136 Constitucionalismo, descolonizacin y pluralismo jurdico en Amrica Latina
juristas cercanos a los movimientos de liberacin las han tomado en cuenta para la cons-
truccin de su pensamiento jurdico.14 Estas categoras son la proximidad, la totalidad, las
mediaciones, la libertad situada, la exterioridad y la enajenacin.
a) Proximidad: Dussel seala que la experiencia griega o indoeuropea y la moder-
na privilegiaron la relacin ser humanonaturaleza.15 Comprendieron el ser como luz o
como cogito, lo que conlleva definir el mbito del mundo y lo poltico como lo visto, lo
dominado, lo controlado. En cambio, si se privilegia la relacin ser humano-ser humano
(la especialidad y lo poltico), se puede dar un discurso filosfico con otro origen. En efec-
to, se trata de comenzar desde la proximidad, distinguindola de la proxemia.16 Praxis es
acortar distancia; es un obrar hacia el otro como otro. Es una accin que no se acerca a las
cosas, sino al otro en cuanto otro; por eso es un aproximarse y no una proxemia. De ah
que pueda hablarse de diversas proximidades (originaria, histrica, metafsica)17. Ante esta
equivocidad de la proximidad histrica, Dussel habla de la proximidad inequvoca, que es
la que se da ante el rostro del oprimido, de la vctima, del que es exterior a todo sistema.
Es la proximidad ante el que clama justicia, al que invoca responsabilidad. La proximidad
inequvoca es la que se establece con el que necesita servicio, porque es dbil, miserable,
necesitado. De ah que la proximidad es la raz de la praxis y desde donde parte toda res-
ponsabilidad por el otro, y en concreto con el otro vctima del sistema.
b) Totalidad: La totalidad es la manera cmo las cosas se presentan al ser humano.
La proximidad, el cara-a-cara del ser humano con el ser humano, deja irremediablemente
lugar a la lejana. Entonces el ser humano se acerca a los entes, a las cosas, a los objetos; las
cosas-sentido, los entes, nos enfrentan en una multiplicidad casi indefinida. No obstante,
esto se da en una totalidad, en un sistema, que los comprende y los unifica. Los entes, sea-
la Dussel, no nos rodean de manera catica sino que forman parte de un mundo, que es una
totalidad instrumental de sentido. Es el horizonte cotidiano en el cual vivimos.18
c) Mediaciones: Las mediaciones no son otra cosa que aquello que empuamos para
alcanzar el objetivo final de la accin. La proximidad es la inmediatez del cara-a-cara con
el otro; la totalidad es el conjunto de los entes en cuanto tal: en cuanto sistema. Las me-
diaciones posibilitan el acercarse a la inmediatez y permanecer en ella, constituyen en sus
partes funcionales a la totalidad.19
d) Libertad situada: Las cosas y entes que constituyen su entorno son mediaciones,
posibilidades. Cuando el ser humano obra, lo hace por un proyecto. Ese proyecto deter-
mina las posibilidades, las mediaciones para su realizacin. Es decir, la persona est asedia-
da por decisiones que debe tomar, y caminos que se abren y se cierran. Este estar abierto
14 Cf. DE LA TORRE RANGEL, Jess Antonio. Apuntes para una introduccin filosfica
al derecho. Mxico: Porra, 2007, pp. 139-159.
15 Cf. DUSSEL, 1996, op. cit., p. 29.
16 Ibid., p. 30.
17 Ibid., pp. 31-35.
18 Ibid., p. 37.
19 Ibid., p. 45.
Filosofa de la liberacin, pluralidad cultural y derechos humanos 137
20 Ibid., p. 55.
21 Ibid., p. 56.
22 Ibid., p. 70.
23 Esos mismos, esos que reafirman la mismidad del sistema, son los que concretizan al ser humano
abstracto, a ese ser humano que se considera sujeto universal de derechos, es decir, el varn,
blanco, burgus, adinerado, occidental, etc.
138 Constitucionalismo, descolonizacin y pluralismo jurdico en Amrica Latina
ajeno y hasta peligroso al sistema. A ese otro, al contrario, aunque exija la satisfaccin
de las mismas necesidades que los mismos, es catalogado de delincuente; por eso, se cri-
minalizan la protesta y las luchas sociales y las praxis de liberacin se reprimen (ellas son
finalmente los medios en que los otros emergen para romper la alienacin a la que son
sometidos). En efecto, la fundamentacin de derechos humanos efectuada slo desde el
individuo carga con algunos de los reduccionismos que comentamos; est marcada por
el reduccionismo monocultural e historicista. Derechos humanos fundamentados desde
el sujeto abstracto fcilmente se convierte en herramienta de enajenacin, y son parte de
lo que Dussel describe en el siguiente texto: Vestida de nobles virtudes nietzscheanas,
guerreras, saludables, blancas y rubias como los arios, Europa se lanza sobre la periferia,
sobre la exterioridad geopoltica; sobre las mujeres de otros varones; sobre sus hijos; sobre
sus dioses. En nombre del ser, del mundo humano, de la civilizacin, aniquila la alteridad
de otros hombres, de otras culturas, de otras erticas, de otras religiones. Incorpora as
aquellos hombres o, de otra manera, despliega violentamente las fronteras de su mundo
hasta incluir a otros pueblos en su mbito controlado.24
Sin negar la subjetividad como elemento de una fundamentacin de derechos hu-
manos, es imprescindible abrirla a la pluriculturalidad y a las luchas histricas llevadas
a cabo por los diversos pueblos oprimidos del planeta; se tratara de un sujeto inter-
subjetivo, comunitario, que sea el sujeto de derechos humanos como praxis de liberacin.
Es lo que propone la FL a partir de una metafsica de la alteridad, que se concretiza en
comprender a la tica, a la responsabilidad por el otro, como el inicio de toda filosofa.
Esta tica es una tica de la solidaridad que tiene sus consecuencias para la construccin
de una juridicidad alternativa, generada desde las luchas sociales.25
La tica de la alteridad busca una apertura del sujeto que sea capaz de comprender
lo nuevo de la historia que se construye desde la exterioridad. El punto de partida es la
vctima, el Otro, pero no simplemente como otra persona-igual en la comunidad argu-
mentativa, sino tica e inevitablemente (apodcticamente) como Otro en algn aspecto ne-
gado-oprimido (principium oppressionis) y afectado-excluido (principium exclusiones).26 Desde
el otro como otro el pobre, el oprimido, la vctima, que es libertad incondicionada por
cuanto se desprecia su exterioridad considerndola nada (como incultura, analfabetismo,
barbarie, primitivismo, incivilizacin), es como surge en la historia lo nuevo. Por ello todo
sistema futuro realmente resultante de una revolucin subversiva en su sentido metafsico
es analgica: semejante en algo a la anterior totalidad, pero realmente distinto.
Todo lo anterior se realiza, se hace realidad, cuando alguien dice, por ejemplo, [t]
engo hambre, necesito alimento!.27 El hambre del pobre es consecuencia de un sistema
injusto, y en su situacin de vctima no tiene lugar dentro del sistema. No tiene lugar por
ser negatividad, por sufrir falta-de, por ser no-ente en el mundo. Pero fundamentalmente
est fuera porque saciar estructuralmente el hambre del pobre es cambiar radicalmente el
sistema. En efecto, derechos humanos fundamentados desde la alteridad han de compren-
derse en herramientas de lucha de quienes son vctimas del sistema, y por eso, ms que
elementos conservadores del sistema han de ser subversivos, transformadores, revolucio-
narios. El cara-a-cara con el otro inequvoco obliga a repensar constantemente derechos
humanos, pues los derechos del otro no son parte del sistema.28
Este encuentro con el otro, el cara-a-cara, queda complementado y llevado ms all,
con el pensamiento de la liberacin de Franz Hinkelammert. Este autor habla del retorno
del sujeto, pero no del sujeto metafsico, sino del sujeto viviente, corporal, en cuanto ho-
rizonte filosfico para una crtica radical de la globalizacin neoliberal. Como habamos
dicho, este autor seala que la sociedad moderna occidental ms que antropocntrica es
mercadocntrica.
El concepto de sujeto surge en la relacin sujeto-objeto, en la filosofa de Descar-
tes. El sujeto es visto como instancia que se relaciona con el objeto, es decir, la res cogitans
frente a la res extensa. Es un sujeto del pensamiento que se enfrenta al mundo de los ob-
jetos. Para l todo es objeto, tanto la corporalidad del otro como la propia corporalidad.
Por eso, Hinkelammert seala que es un sujeto trascedental, que desde un punto de vista
externo a la corporalidad del mundo juzga sobre ste como mundo objetivo, del que no
se considera parte sino slo juez.29 Su existencia se sostiene solamente en su autorrefle-
xin sobre s mismo, y por eso no tiene corporalidad ni tampoco, en consecuencia, tiene
sentidos.30
Pero no queda ah la nocin de este sujeto epistemolgico, pues es a la vez un
individuo poseedor; es el individuo que se dirige al mundo para dominar y poseer; al
pensar el mundo corporal como objeto, en la relacin sujeto-objeto se entiende como
poseedor del mundo. Lo ms grave es que la negacin del sujeto trascendental realizado
por la postmodernidad no ha significado una recuperacin de una subjetividad liberadora
e intercomunitaria; al contrario, ha fortalecido al sujeto actuante como individuo pro-
pietario; al respecto, seala Hinkelammert: Pero esta negacin del sujeto trascendental
no ha afectado al individuo poseedor, que es su contrapartida. De hecho ha sustituido el
sujeto pensante por el sujeto actuante, que es un individuo propietario y calculador de sus
intereses. Sigue interpretando todo el mundo corporal como objeto de accin, pero se
ve a s mismo ms bien como una sustancia calculadora, que se mueve en un mundo de
puros objetos, y calcula su posibilidad de acceder a este mundo consumindolo y acumula
27 Ibid., p. 524.
28 DUSSEL, 1996, op. cit., p. 59.
29 HINKELAMMERT, 2005, op. cit., p. 485.
30 DUSSEL, 1998, op. cit., p. 515.
140 Constitucionalismo, descolonizacin y pluralismo jurdico en Amrica Latina
como propiedad partes crecientes de l. Para este sujeto calculante, el propio cuerpo sigue
siendo un objeto igual como lo es el mundo exterior. No tiene cuerpo, para calcular su
accin sobre cuerpos, que es su objeto. Este sujeto calculante es el individuo, que no se ve
molestado por la negativa al sujeto trascendental.31
Una fundamentacin de derechos humanos desde el sujeto trascendental, o desde
su negacin postmoderna, termina siendo funcional para los intereses del sujeto calculan-
te. Los derechos humanos se reducen a los derechos necesarios para acceder al mundo
consumindolo y acumular propiedades. Paradjicamente, el sujeto actuante ver en los
otros a objetos, pues la sociedad del mercado lo conduce a [t]ransformar todo en objeto,
inclusive a s mismo, [y esto] es presentado ahora como libertad y salvacin.32 Entonces
los bienes protegidos por los derechos humanos no son satisfactores para la produccin y
reproduccin de vida, sino meros objetos para ser consumidos. En cambio, la FL propone
recuperar al ser humano como se hace presente en la realidad, como ser corporal, como
sujeto viviente frente a otros que tambin se hacen presentes como seres corporales y
sujetos vivientes; es una relacin de cuerpo a cuerpo, de cara-a-cara. La pregunta clave de
este sujeto no es si existo sino puedo seguir existiendo. Se trata de responderse por
las condiciones de posibilidad de vivir cmo ser corporal, como ser viviente.
La demanda de la recuperacin del sujeto, de la vida humana concreta, de la vida
para todos, en las instituciones sociales y en las construcciones culturales, es la demanda
ms urgente del mundo de hoy, segn Hinkelammert. Para esto, derechos humanos es,
sin duda, una herramienta importante, pero fundamentado en un sujeto inter-subjetivo.
Y esto tiene que ver con la vuelta, en palabras de nuestro autor, al sujeto reprimido y al
bien comn.
4. La praxis
La FL no se comprende slo como una tica de la alteridad, sino tambin puede enten-
derse como una filosofa de la praxis. Diversos autores por ejemplo, Ellacura, Dussel
y Hinkelammert abordan en su reflexin las diversas formas de praxis. De una u otra
forma, buscan encontrar sus caractersticas para poder considerarla como una praxis de
liberacin. Si bien parten del anlisis de la praxis humana en general, coinciden en sealar
que no toda praxis es liberadora, sino que existen unas opresoras, homicidas y alienantes.
En este sentido, derechos humanos como realidad histrica est afectada por esta ambiva-
lencia de la praxis; derechos humanos bien pueden ser instrumentos de ideologizaciones
funcionales a prcticas opresoras o herramientas para la liberacin. Fundamentar dere-
chos humanos desde la praxis significa encontrar un fundamento sociopoltico; se trata de
entenderlos como herramientas de las praxis de liberacin.
Ellacura aborda la praxis desde el anlisis de los elementos y dinamismos que
integran la realidad histrica que van desde la materialidad hasta la dimensin personal, y
desde el individuo hasta el cuerpo social. Como seala Antonio Gonzlez, la praxis hu-
mana en cuanto apropiacin y transmisin tradente de posibilidades es la categora ms
apropiada para comprender la originalidad de lo histrico.33 En diversos escritos, tanto
en los de carcter poltico, filosfico como teolgico, Ellacura utiliza el concepto praxis,
y en variadas ocasiones lo hace de manera adjetivada; as se encuentran conceptos como
praxis histrica, praxis social, praxis poltica, etc. Es un concepto utilizado por este autor
como parte de su dilogo con el marxismo, aunque con una importante fundamentacin
en el pensamiento de Xavier Zubiri.
Para Ellacura, por su carcter transformador, la praxis es el mbito donde con
mayor claridad se expresa la interaccin entre el ser humano y el mundo, pues en ella las
relaciones no son siempre unidireccionales sino respectivamente codeterminantes. A tra-
vs de la praxis se muestra el poder creativo del ser humano. Este poder est en estrecha
relacin con el grado de libertad que vaya alcanzado [el ser humano] dentro del proceso
histrico.34 Si bien todo tipo de actividad humana transformadora est incluido en la
reflexin filosfica de la praxis humana, pues ella incluye todas las formas del quehacer
humano, tanto especulativas, educativas, tcnicas, religiosas, etc., Ellacura pone nfasis en
las praxis histricas de liberacin, es decir, en aquellas que actan como productoras de
estructuras nuevas ms humanizantes. En sentido semejante, Dussel seala que la praxis
de liberacin es la accin posible que transforma la realidad (subjetiva y social) teniendo
como ltima referencia siempre a alguna vctima o comunidad de vctimas.35
El proceso prxico de liberacin, ya en el mbito tico y poltico, es principalmente
dialctico aunque no exclusivamente en cuanto busca negar la negacin de los seres
humanos, y se avance afirmando lo positivo. Un proceso que se da dentro del dinamismo
histrico de la posibilitacin y capacitacin, por lo cual no existe ninguna garanta de
triunfo. Ya se ha dicho que la realidad histrica puede ser principio de humanizacin y de
personalizacin, pero tambin puede ser de opresin y alienacin. Esto porque la praxis
histrica no es reducible ni a las leyes del mundo natural ni a los saltos dialcticos de al-
gn presunto espritu.36 A diferencia de lo que puede suceder con posturas idealistas o
mecanicistas de la historia, el mal y la injusticia en la historia no pueden ser legitimados
ni justificados como unas necesidades lgicas en el desarrollo de una teleologa o como
partes de un devenir forzoso de la historia. Ms bien el mal histrico es un lmite real que
se presenta como un desafo a la praxis de liberacin.
La liberacin es, entonces, un proceso a travs del cual el ser humano va ejerciendo
su libertad, y va hacindose cada vez ms libre gracias a su estructura de esencia abierta.
La liberacin es, por lo pronto, un proceso. Un proceso que, en lo personal, es, funda-
vida. En este sentido, Dussel afirma: El sujeto de la praxis de liberacin es el sujeto vivo,
necesitado, natural, y por ello cultural, en ltimo trmino la vctima, la comunidad de
las vctimas y los a ella co-responsablemente articulados. El lugar ltimo, entonces, del
discurso, del enunciado crtico, son las vctimas empricas, cuyas vidas estn en riesgo,
descubiertas en el diagrama del Poder por la razn estratgica.41
El sujeto de la praxis de liberacin supone no una mera subjetividad individual sino
la ya mencionada inter-subjetividad. La intersubjetividad no significa la creacin de un
sujeto colectivo natural, pues esto conlleva finalmente a una sustantivizacin indebida; los
sujetos socio-histricos son fluidos y fragmentarios, aparecen y desaparecen en coyuntu-
ras bien determinadas, segn las tramas sociales. Ms bien significa el reconocimiento de
la subjetividad de cada sujeto humano concreto, y de su encuentro con el otro, que tam-
bin es sujeto, y que por sus cualidades de vctimas o solidario con ellas, se conforman en
una comunidad de vida.42 Como seala Dussel, la intersubjetividad se constituye a partir
de una cierta comunidad de vida, desde una comunidad lingstica (como mundo de la
vida comunicable), desde una cierta memoria colectiva de gestas de liberacin, desde ne-
cesidades y modos de consumo semejantes, desde una cultura con alguna tradicin, desde
proyectos histricos concretos a los que se aspira en esperanza solidaria.43
Por su parte, Hinkelammert resalta el carcter procesual del hacerse sujeto que,
para la FL, significa la vuelta la recuperacin del sujeto reprimido: el ser humano
como sujeto no es una instancia individual. La intersubjetividad es una condicin para
que el ser humano llegue a ser sujeto. Se sabe en una red, que incluye la misma naturaleza
externa al ser humano: que viva el otro, es una condicin de la propia vida.44 El ser hu-
mano para vivir requiere hacerse sujeto; la vida es un llamado a constituirse como sujeto.
En efecto, el ser sujeto no es un antes, un a priori del proceso, sino que resulta del mismo
proceso.45 Es decir, el sujeto no contiene un valor o una sustancia a priori, sino que
depende del sentido negativo del sistema que lo hace vctima; lo que podra decirse es que
ese sujeto buscar revertir su situacin de vctima a travs de la generacin de un nuevo
sistema. En efecto, para llegar a ser sujeto de la praxis de liberacin es necesario efectuar
una crtica autoconsciente del sistema que causa la victimizacin. Las vctimas han de
caer en la cuenta de que no haban participado en el acuerdo originario del sistema por
utilizar expresiones de la tica del discurso y, sobre todo, en que debido a dicho sistema
no pueden producir, reproducir y desarrollar su vida.46
Habamos sealado prrafos arriba que el proceso prxico de liberacin es princi-
palmente dialctico, aunque no exclusivamente. En cuanto a derechos humanos, la praxis
de liberacin se constituye, en diversas ocasiones, por el enfrentamiento de un movimien-
41 Ibid., p. 525.
42 GALLARDO, 2008, op. cit., p. 60.
43 DUSSEL, 1998, op. cit., p. 525.
44 HINKELAMMERT, 2005, op. cit., p. 495.
45 Ibid., p. 496.
46 Ibid., pp. 495-496.
144 Constitucionalismo, descolonizacin y pluralismo jurdico en Amrica Latina
47 GALLARDO, 2008, op. cit., p. 44; DUSSEL, 1998, op. cit., p. 541.
48 DUSSEL, Enrique. Veinte tesis de poltica. Mxico: Siglo XXI, 2006, p. 105.
49 Cf. SALAMANCA, Antonio. Filosofa de la revolucin. Filosofa para el socialismo en el
siglo XXI. San Luis Potos: UASLP-CEDH, 2008, pp. 28-34.
50 Cf. SANTOS, Boaventura de Sousa. Sociologa jurdica crtica. Para un nuevo sentido comn
en el derecho. Madrid: Trotta, Bogot: ILSA, 2009, p. 31.
Filosofa de la liberacin, pluralidad cultural y derechos humanos 145
porque alimenten; una pieza de ropa no se fabrica, aunque caliente y d abrigo, si su pro-
duccin no es competitiva. Con esta realidad virtual, segn la cual todo tiene su criterio en
la competitividad, desaparece el valor de uso de las cosas. No obstante, esto se extiende
a todas las facetas de la vida, incluyendo aquellas relacionadas con lo jurdico y derechos
humanos. Una cultura humana que no produce competitividad tiene que desaparecer, y su
desaparicin podr ser interpretada como un devenir natural de los acontecimientos y por
el ejercicio de la libertad de sus miembros que optaron por dejar de utilizar, por ejem-
plo, su lengua (es ms competitivo hablar ingls que a, por ejemplo); o, igualmente
desde este criterio, se ha de considerar que las transformaciones sociales que no aumenten
la competitividad no deben realizarse. El dominio de la competitividad no admite acciones
frente a los efectos destructores que ella produce; es ms, impide siquiera verlos. Significa
la afirmacin de la Totalidad y la negacin del Otro; el encubrimiento del rostro de la
vctima, quien lo es por su propia responsabilidad, por no ser competitivo. Por eso un
sujeto prctico o actuante no es suficiente.
Contrario a la racionalidad medio-fin, Hinkelammert seala que la vida del actor
no puede ser un fin, dado que no puede ser tratada como un fin en competencia con
otros. Quien elige la muerte, elige la disolucin de todos los fines posibles. La vida es
la posibilidad de tener fines, y sin embargo, no es un fin. Por eso, si abordamos al actor
como un ser vivo que se enfrenta a sus relaciones medio-fin, entonces lo miramos como
sujeto. El actor, antes de ser actor, es sujeto humano; slo se transforma en actor cuando
ha decidido sobre el fin y calcula los medios, incluyendo en estos su propia actividad. La
racionalidad reproductiva es la propia del sujeto vivo. Para poder enfocar esta racionali-
dad, debemos asumir al actor ms all de sus relaciones medio-fin; percibirlo como sujeto
y, por tanto, no como un fin sino condicin de la posibilidad de los fines. El ser humano
como sujeto vivo concibe fines y se refiere al conjunto de sus fines posibles. Pero no pue-
de realizar todos los fines que bajo un clculo medio-fin parecen posibles; por lo menos
debe excluir aquellos fines cuya realizacin atenta contra su posibilidad de vivir. Si bien
el sujeto determina sus fines, no puede desconocer la materialidad de la historia, como
seala Ellacura.55 De ah que el sujeto est atado al circuito natural de la vida humana
que es condicin de posibilidad de su propia vida.
El criterio de vida o muerte se convierte en el criterio en ltima instancia. La ra-
cionalidad medio-fin pierde legitimidad en cada caso en el que ella entra en contradiccin
performativa con la racionalidad reproductiva; aquella racionalidad es una racionalidad
subordinada a la vida. La irracionalidad de lo racionalizado no es otra cosa que la eviden-
cia de esta contradiccin performativa. Como seala Hinkelammert, [ll]a racionalidad
medio-fin aplasta la vida humana (y de la naturaleza), lo que evidencia su carcter poten-
cialmente irracional.56
55 Cf. ELLACURA, Ignacio. Filosofa de la realidad histrica. San Salvador: UCA Editores,
1999 pp. 55 y ss.
56 HINKELAMMERT, 2005, op. cit., p. 49.
Filosofa de la liberacin, pluralidad cultural y derechos humanos 147
57 Ibid., p. 53.
58 Ibid., p. 57.
59 HINKELAMMERT, 2002, op. cit., p. 338.
148 Constitucionalismo, descolonizacin y pluralismo jurdico en Amrica Latina
vida y entonces el esfuerzo de evitar aquello que la amenace; se trata de un aprendizaje ne-
gativo. La praxis de liberacin surge, en este contexto, como consecuencia de la experien-
cia, por parte de las vctimas, de las distorsiones que el mercado produce en la vida y en la
naturaleza. Adems, la afirmacin de la vida no es un fin sino un proyecto: el conservarse
como sujeto que puede tener fines. Es as como se genera una conciencia generadora de
praxis de liberacin: Se trata de conservar la vida del actor, y no de realizar algn fin
positivo mediante una gama de alternativas de la accin por probar. Este aprendizaje en la
lgica de la racionalidad reproductiva se refiere a un futuro desconocido con la posibilidad
del fracaso. De ah que los valores implcitos de este aprendizaje son diferentes: de solida-
ridad; de respeto a la vida propia y a la de los otros, incluyendo a la propia naturaleza; de
cuidado y sabidura. Son valores que relativizan la racionalidad medio-fin y la transforman
en racionalidad secundaria. Su relativizacin es, asimismo, cuestin de vida y muerte.60
Si bien la comunidad de vctimas toma conciencia y se organiza, generando un
consenso para guiar su praxis (principio formal), ste debe tener como proyecto y a la
vez como lmite el desarrollo de la vida (principio material). El sujeto tiene un horizonte
objetivo que es de vida y muerte.61 Si no contara con ese horizonte no sera un sujeto
vivo; podra en cambio pretender ser un actor de la racionalidad medio-fin que no tiene
como lmite la vida y llega a generar, como hemos visto, el suicidio.
Quedarse nicamente con el criterio de la produccin de vida, del sujeto vivo, como
fundamento de derechos humanos correra el riesgo, entre otros, de terminar defendiendo
un individualismo justificador de un egosmo que afirmase un imperativo slvase quien
pueda o viva quien pueda vivir. Por eso es necesario completar este fundamento con
el fundamento de la alteridad y de la praxis de liberacin. En este sentido, Hinkelammert
seala que [e]l quererse salvar no es suficiente, si bien es condicin necesaria. A partir
de esta situacin, toda relacin humana tiene que ser reenfocada. No hay salida, excepto
por un reconocimiento mutuo entre sujetos que, a partir de este reconocimiento, someten
todo el circuito medio-fin a la satisfaccin de sus necesidades. Si se parte de este recono-
cimiento, es necesaria una solidaridad que slo es posible si este la sustenta.62 El sujeto
se hace sujeto por la afirmacin de su vida, pero esta subjetividad se complementa con la
afirmacin de la vida del otro.
El otro aparece con claridad en las crisis de los sistemas que causan muerte: Surge
as en y ante los sistemas, en los diagramas del Poder, en los lugares standard de enunciacin,
de pronto, por dichas situaciones crticas, el Otro que el sistema, el rostro del oprimido o
excluido, la vctima no-intencional como efecto de la lgica performativa del todo formal
racionalizado, mostrando su irracionalidad desde la vida negada de la vctima.63
Conclusin
Referencias
DE LA TORRE RANGEL, Jess Antonio. Apuntes para una introduccin filosfica al dere-
cho. Mxico: Porra, 2007.
DUSSEL, Enrique. tica de la liberacin. En la edad de la globalizacin y de la exclusin. Madrid:
Trotta, 1998.
________. Filosofa de la liberacin. Bogot: Nueva Amrica, 1996.
________. Veinte tesis de poltica. Mxico: Siglo XXI, 2006.
ELLACURA, Ignacio. En torno al concepto y a la idea de liberacin. In: Escritos Teolgicos.
Tomo I. San Salvador: UCA Editores, 2000.
________. Respuesta a CETRAL [Mayoras oprimidas, reivindicaciones indgenas en Centroam-
rica y el problema de los derechos humanos]. In: SENENT, Juan Antonio (Ed.). La lucha
150 Constitucionalismo, descolonizacin y pluralismo jurdico en Amrica Latina
Ser necessrio percorrer vrios sculos para chegar outra etapa da mesma histria na qual o logos segue
sendo o fator determinante sobre o que e deve ser para aqueles que o possuem e para aqueles que o acatam
(Leopoldo Zea)
Introduo
1 Ps Doutora pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC-SC); Doutora pela Univer-
sidad Pablo de Olavide (Sevilla-Espanha); Mestre em Teoria do Direito pela Universidade Federal
de Santa Catarina com ps doutoramento pela mesma Universidade; Professora, Pesquisadora e
Extensionista da Universidade Regional de Blumenau (FURB-SC). Autora de livros, como: Her-
menutica & Direito. Uma Possibilidade Crtica. Curitiba: Juru, 2003.
153
154 Constitucionalismo, descolonizacin y pluralismo jurdico en Amrica Latina
que o sistema-mundo moderno essencialmente capitalista e que por isto sobrevive a cinco sculos,
criou economias-mundo divididas em estados de centro e periferia e tambm semi-perifricas, que
num processo de expanso, tendem a aumentar as distncias sociais e econmicas, distanciamento
mascarado pelos avanos tecnolgicos e homogeneizadas culturalmente para servir aos interesses
dos grupos-chaves.
4 SOUSA SANTOS, Boaventura; MENESES, Paula Maria (orgs.). Epistemologias do Sul. So
Paulo: Cortez, 2010, p. 19.
5 QUIJANO, Anbal. El regresso del futuro y las cuestiones del conocimiento. Revista Hueso
Hmero, n 38, Peru: Francisco Campodnico Ed., abril de 2001, p.7
156 Constitucionalismo, descolonizacin y pluralismo jurdico en Amrica Latina
Os eventos sociais e polticos dos anos finais do sculo XX acabaram por frustrar
as esperanas e iluses tanto nas reas centrais da modernidade como em sua periferia.
Mas a derrota que comea a ser reconhecida no era somente poltica ou econmica, era
tambm intelectual. Um vazio de futuro emancipador foi entregue tanto s vtimas do
capitalismo como a seu tradicional centro articulador. Anunciava-se o final do projeto da
modernidade e o sistema internacional passa a enfrentar uma grave e talvez irreversvel
crise moral e institucional. Sobretudo no centro eurocntrico comea s ser forte um dis-
curso difuso e complexo que denunciava o irreversvel fim do projeto da modernidade.
Para autores como Willerstein, a tenso entre a modernidade tecnolgica e liber-
tadora desde 68 tornou-se explcita e irremedivel. O autor, em seu pessimismo, v no
ps-modernismo, enquanto tentativa de superao da modernidade, uma clara evidncia
de esgotamento da prpria modernidade. Ps-modernidade uma forma de rejeitar a mo-
dernidade tecnolgica em nome da modernidade da libertao. Se ganhou to grotesca denominao,
porque o ps-modernismo confuso. Como doutrina anunciatria, ele presciente, sem dvida, porque de
fato estamos caminhando para um outro sistema histrico.7 Sua angstia intelectual anunciada
desde uma perspectiva especfica dos que sempre viveram ou at ento pensavam viver no
melhor dos mundos possveis.
6 WALLERSTEIN, 2002, op. cit., p. 145.
7 WALLERSTEIN, 2002, op. cit., p. 149.
Teoria crtica e pluralismo 157
Por esta razo toda crtica Modernidade e disputas intelectuais ps-modernas que
no ultrapassam o horizonte eurocntrico, que v o perifrico como expectador trata-
se, no dizer de Dussel12, de uma falcia reducionista. Uma negao niilista conservadora.
Os filsofos ps-modernos, com distintos discursos e consideraes, embora reconhe-
cendo e afirmando teoricamente a diferena, no refletem acerca das origens deste sistema
para alm da centralidade, so profundamente acrticos e, por isso, no tm possibilidade de tentar
trazer qualquer alternativa (cultural, econmica, poltica, etc.) vlida para as naes perifricas, nem
para as grandes maiorias dos povos dominados excludos do centro e/ou da periferia.13 Neste sentido,
retomar o pensamento crtico a partir da atitude ps-colonial, mais que uma construo
epistemolgica poltica e permanece na Amrica Latina, seja nas serras como em Chia-
pas, seja nas cidades como Frum Social Mundial, ou nas universidades americanas e
europeias.
Ps colonialismo relacionado a emergncia de uma nova geopoltica do conheci-
mento deve ser compreendido distintamente do ps-colonialismo enquanto luta de eman-
cipao poltica das colnias europeias. Para Boaventura de Sousa Santos um conjunto de
prticas (predominantemente performativas) e de discursos que desconstroem a narrativa colonial, escrita
pelo colonizador, e procuram substitu-las por narrativas escritas do ponto de vista do colonizado.14 A
diferena colonial cria uma condio nica de, sob o ponto de vista do subalterno, oferece
um novo horizonte crtico para as representaes da crtica interna s narrativas modernas
hegemnicas. a superao do discurso linear que vai do moderno precoce ao moderno
e ao moderno tardio ultrapassando as fronteiras internas conflitos entre os imprio e
externas conflitos nas representaes da prpria modernidade.15
11 Ibid., p. 63
12 Ibid., p. 64.
13 Ibid., pp. 64-65.
14 SOUSA SANTOS, Boaventura de. A Gramtica do Tempo: para uma nova cultura poltica.
So Paulo: Cortez, 2006, p. 233.
15 MIGNOLO, Walter D. Histrias Locais/Projetos Globais: colonialidade, saberes subal-
ternos e pensamento liminar. Traduo de Solange Ribeiro de Oliveira. Belo Horizonte: Editora
UFMG, 2003. p. 11
Teoria crtica e pluralismo 159
Horizonte o mbito de viso que abarca e encerra tudo que visvel a partir
de um determinado ponto...ter horizonte significa no estar limitado ao que h
de mais prximo, mas poder ver mais alm disso.....A elaborao da situao
hermenutica significa ento a obteno do horizonte de questionamento
correto para as questes que se colocam frente tradio.16
18 SOUSA SANTOS, Boaventura. A crtica razo indolente. Vol. I, So Paulo: Cortez, 2002,
p. 48
19Metfora semelhante utilizada por Boaventura de Sousa Santos para significar o sentido da
crise como momento inovador.
20 A expresso A Vingana da Histria utilizada como ttulo para obra de Emir Sader (So Paulo:
Boitempo, 2003) que reflete acerca do contexto poltico brasileiro dos finais do sculo XX que
teriam levado a eleio de do presidente Lula, um ex-sindicalista, de origem popular e vinculado
a um partido construdo no momento de transio democrtica e sempre rechaado pelas elites
do pas. Sua anlise parte do pressuposto que a dinmica da histria e a historicidade humana so
inseparveis e possuem como um dos elos o processo permanente de construo e reconstruo a
partir da luta concreta cotidiana.
21 So inmeros os pensadores do direito relacionados ao pensamento jurdico crtico, mas a
verdadeira arqueologia epistemolgica feita por Antonio Carlos Wolkmer na obra Introduo ao pen-
samento jurdico crtico, lembra com acuidade nomes e trajetrias que merecem ser registradas.
Teoria crtica e pluralismo 161
para aquelas, tampouco fonte de justia social para estas, mas acabou em finais do sculo
XX assumindo um papel poltico do qual no pode mais renunciar.
Com esta realidade na Amrica Latina em geral e no Brasil em particular, torna-se
urgente a tarefa de traduo das mltiplas compreenses de mundo e dentre as quais jur-
dica. E neste sentido que no cabe uma hermenutica jurdica nos moldes tradicionais.
So campos distintos que se tocam o estatal e o social em que mundos normativos,
prticas e saberes dialogam, se desentendem e interagem tornando possvel reconhecer
os pontos de contato entre a tradio moderna ocidental e os saberes leigos. As duas zo-
nas de contacto constitutivas da modernidade ocidental so a zona epistemolgica, onde se confrontam a
cincia moderna e os saberes leigos, tradicionais, dos camponeses, e a zona colonial, onde se defrontam o
colonizador e o colonizado. So duas zonas caracterizadas pela extrema disparidade entre as realidades
em contacto e pela extrema desigualdade das relaes de poder entre elas.24 A tarefa hermenutica
como traduo retoma o sentido mais original do termo,mas a partir de uma perspectiva
inovadora que traduz saberes nem sempre convergentes.
Como as prticas sociais de compreenso e soluo de conflitos mais retrica
e argumentativa so grandes os desafios a serem enfrentados pelos juristas de profisso.
Boaventura de Sousa Santos sugere uma hermenutica diatpica que em sntese consiste
em buscar os topois lugares comuns que constituem o consenso bsico e torna possvel
o dissenso argumentativo presentes na argumentao, que normalmente assentada em
postulados, axiomas, regras e concepes aceitas por todos. O trabalho de traduo no dispe
partida de topoi, por que os topoi que esto disponveis so os que so prprios de um dado saber ou de
uma dada cultura.25 O trabalho consiste em, sem que se tenha um ponto de partida, reco-
nhecer os topoi que cada prtica expressa como forma argumentativa. um trabalho exigente,
sem seguros contra riscos e sempre beira de colapsar. A capacidade de construir topoi uma das marcas
mais distintas da qualidade do intelectual ou sage cosmopolita.26 So dificuldades que se impe e
devem ser superadas pela prtica do reconhecimento e da oportunidade de dar voz ao
outro, mesmo ao que no quer fazer uso dela, do que permanece em silncio.
J Walter Mignolo fala de uma hermenutica pluritpica27 como parte da resis-
tncia semiose colonial, porque a colonialidade do poder pressupe a diferena colonial como sua
condio de possibilidade e como aquilo que legitima o subalterno do conhecimento e a subjugao dos
povos.28 Considerando a construo do pensamento hermenutico jurdico brasileiro, na
linha de pensamento da descolonizao e na incluso dos mltiplos atores sociais no pro-
cesso de construo do saber jurdico, sua perspectiva monotpica, ou seja, edificada
sob a perspectiva de um nico sujeito cognoscente o jurista de profisso e com uma
posio de quem fala de um lugar virtual uma terra-de-ningum universal, como chama
Mignolo. A inteno de sua hermenutica apagar a concepo de que interpretar des-
crever a realidade a partir de seu horizonte compreensivo. O objetivo apagar a distino entre
o sujeito que conhece e o objeto que conhecido, entre o sujeito que conhece e o objeto que conhecido, entre
um objeto hbrido (o limite como aquilo que conhecido) e um puro sujeito disciplinar ou interdisci-
plinar (o conhecedor) no contaminado pelas questes limiares que descreve.29 Uma hermenutica que
assume-se como dialgica que numa perspectiva pedaggica emancipatria, caminha para
a conscientizao e auto construo.
A redemocratizao aliada a um constitucionalismo construdo nas matrizes eu-
ropeias que consagram direitos fundamentais conquistados ao longo de um processo
histrico especfico -, em terras brasileiras tem sido uma proposta desacompanhada de
polticas pblicas e sociais capazes de conferir eficcia e efetividade nova ordem, ainda
com agravante de existirem fortes resistncias entre juristas herdeiros de uma lgica car-
tesiana ainda refns do ultrapassado paradigma formal legalista de direito. Sem medo de
errar, pode-se afirmar que a est uma das razes centrais para compreender o por que de
passados quase vinte anos de Constituio Democrtica ainda o Brasil um pas em que
os princpios democrticos fazem parte de uma mera intencionalidade nem sempre ou
raramente contemplada. Para se ter uma idia, o princpio constitucional da ampla defesa ficou quase
quinze anos sem ser aplicado nos interrogatrios judiciais, sem que a doutrina e a jurisprudncia com
rarssimas excees tivesse reivindicado a aplicao direta da Constituio.30 Evidentemente sem
esquecer que ainda o peso da balana pende para um lado.
indo em direo a uma lgica plural e emancipadora que possvel falar-se
em reconhecer o mundo social como mundo de possibilidade compreensiva e, portanto,
fonte de uma nova racionalidade hermenutica. Trata-se de uma perspectiva pluralista de
direito que reconhece mltiplos espaos de fontes normativas, apesar de na maioria das
vezes, como lembra Antonio Carlos Wolkmer31 informal e difusa. O pluralismo uma
fonte de inmeras possibilidades de regulao. Para Antonio Carlos Wolkmer
29 Ibid., p. 42.
30 STRECK, Lenio Luiz. Verdade e Consenso: Constituio, Hermenutica e Teorias Discursi-
vas. Rio de Janeiro: Lmen Jris, 2006. p. 155
31 WOLKMER, Antonio Carlos. Pluralismo Jurdico: fundamento de uma nova cultura no
Direito. So Paulo: Editora Alfa Omega, 1994, p. 155.
164 Constitucionalismo, descolonizacin y pluralismo jurdico en Amrica Latina
Concluso
Numa perspectiva pluralista de direito possvel ampliar o espao jurdico para alm
do estatal articulando saberes, prticas e aes coletivas inovadora at ento pouco re-
conhecida. Uma prtica cujo espao de investigao inesgotvel para a hermenutica.
Identificar os elementos comuns nas tradues das mltiplas realidades a jurdica e a
coletivamente criada - para encontrar o comum, o ponto inicial para a traduo uma
tarefa que no cabe numa teoria hermenutica tradicional.
Referncias
32 Ibid., p. 158
DESCOLONIZAO JURDICA NOS ANDES1
Rosembert Ariza Santamara2
Introduo
Amrica Latina o cu e o inferno dos modernos, aqui tudo possvel e nada poss-
vel, afirma Nestor Garca Canclini, e acrescentaramos, o princpio e o fim de todas as
experincias institucionais do Ocidente. Um territrio particularmente estratgico e que
novamente retoma particular relevncia no sistema mundo3 capitalista, uma vez que os
recursos naturais estratgicos esto concentrados neste lugar da geografia ocidental.
Os povos desta parte do planeta durante sculos calaram e silenciosamente resis-
tiram aos embates do modelo global, todavia, nas ltimas trs dcadas, em alguns pases,
deram-se as condies para transformar o Estado e o poder judicial, fato que no alheio
leitura terica e que desde dito lugar se aborda na seguinte anlise, com as evidentes
limitaes que ainda marcam o tema.
Abordaremos em primeiro lugar o Estado Boliviano e sua tarefa descolonizadora
junto ao trajeto e reflexes que estas transformaes suscitam ao modificar as estruturas
do velho Estado. E em segundo revisaremos a compreenso descolonizadora que se vem
gestando no Tribunal Constitucional Plurinacional da Bolvia (TCPB) e as crticas e limi-
taes que alguns setores acadmicos formulam acerca da descolonizao jurdica.
1 Traduo do espanhol feita por Dbora Ferrazzo (mestranda em Direito pela Universidade
Federal de Santa Catarina).
2 Advogado, Doutor em Sociologia, Professor Associado do Departamento de Sociologia da
Universidade Nacional da Colmbia, Diretor da pesquisa Constitucionalismo Andino e Estado de direito.
Encruzilhadas do Estado constitucional. Membro do Prujula-Clacso, Relaju e da Rede de constitu-
cionalismo democrtico latino-americano, Docente em diversas universidades latino-americanas,
e defensor dos direitos dos povos indgenas e comunidades tnicas. Autor do livro: El Derecho
Profano. Justicia indgena, justicia informal y otras maneras de realizar lo justo. Bogot: Universi-
dad Externado de Colombia, 2010.
3 Immanuel Wallerstein foi o primeiro a falar da anlise de sistemas mundo. Definido como:
Um sistema mundial, um sistema social que possui limites, estruturas, grupos, membros, regras
de legitimao e coerncia. Sua vida resulta das foras conflitivas que o mantm unido por tenso
e o desagregam medida que cada grupo busca eternamente remodel-lo para seu benefcio. A
respeito do capitalismo, o autor adverte que a caracterstica principal deste sistema-mundo o que
conseguiu subsistir por mais de 500 anos, como nenhum outro na histria.
165
166 Constitucionalismo, descolonizacin y pluralismo jurdico en Amrica Latina
4 Retomando a afirmao de Boaventura de Sousa, onde assinala que o Estado moderno foi
imposto desde cima pelos que acreditam que descolonizaram a latino-amrica.
Descolonizao jurdica nos Andes 167
Todo o exposto permite inferir que a ideia atual de Estado na Bolvia est ligada ao
reconhecimento de distintas epistemes, sem ignorar que o colonialismo do sculo XXI se
mantm ligado a processos de dominao geogrfica que na realidade hoje so evidentes
para impedir a percepo de que os processos de imposies histricas conduzem os
povos ancestrais e originrios a abdicar seus saberes, sua cultura, seu sistema legal e cada
um dos elementos que os constituem como sociedade.
2. A marcha da descolonizao
Ainda que a nova constituio tenha sido construda dentro de uma assembleia
constituinte, no se pode esquecer de que ela resultado do pensamento de mltiplos
saberes e identidades, o que conduz a que dentre as persecues mais importantes do
Estado, esteja o xito em determinar o aplicvel a cada populao e, desta maneira, o xito
em encontrar princpios bsicos que sejam determinantes dentro das relaes efetivas que
se desenvolvem e se desenvolvero nos anos posteriores aplicao da Carta Poltica.
Conforme assinalado, existem duas maneiras de compreender o processo atual de
descolonizao na Bolvia: uma a que busca a reconstruo da cultura originria, que
resultou nas mltiplas mobilizaes que tem engendrado a constituio atual e que at
certo ponto podem sentir-se desiludidas referentemente descolonizao, enquanto a ou-
tra forma a materializao de outro Estado, a que consegue aceitar a nova constituio
como um avano importante para a refundao do Estado e que dar as bases para vrios
pontos que so bsicos e que ajudaro a reconstruir desde pilares slidos a sociedade
boliviana, como so a educao concretamente, outro conhecimento; um sentido con-
textualizado do poder pblico nova compreenso do pblico e uma sociedade outra
descolonizada que participa efetivamente do pacto poltico do Estado em construo.
6 CHOQUE CAPUMA, Efren. La justicia originaria campesina. Revista Red jurdica. El talante
del constitucionalismo en amrica Latina. N 2 La paz, Bolivia, 2013. Traduo livre da tradutora.
Descolonizao jurdica nos Andes 169
Ento, deve-se perceber que as novas implicaes que conduzem a um novo en-
tendimento, na verdade, so as bases no somente de algumas prticas jurdicas, eventu-
almente adotadas no momento de dirimir conflitos, mas sim, de todo o conhecimento,
tanto do povo, como de cada um dos setores do Estado. Exemplo disto visvel na
criao do Vice-Ministrio para descolonizao na Bolvia; demonstrando a importncia
de reinterpretar o que serve e no serve no ocidente, de criar uma nova epistemologia in-
tercultural, j que tudo no se determina em esquecer e abandonar o que j foi aprendido,
mas sim, tomar o bom e utiliz-lo para alcanar uma progressividade palpvel em mbitos
nacionais reais.
Base de toda esta transformao so os documentos constituintes bolivianos, que
em comum, expresso um sentido do plural baseado na descolonizao. Sentido expressa-
do claramente no art. 9.1 da Constituio Poltica do Estado que estabelece a construo
da sociedade plural, cimentada na Descolonizao a partir da consolidao das identida-
des Plurinacionais, que, entenda-se, est vinculado no somente a uma identidade indi-
vidual, mas tambm, essencialmente ao carter Plurinacional. Ou seja, as naes e povos
indgenas originrios campesinos, j no so somente reconhecidos, revalorizados,
incorporados, agora so Estado Plurinacional, superando a concepo de Estado-
nao (Estado sem naes e/ou nacionalidades sem Estado).
A refundao do Estado ou sua transio a outra forma de Estado a tarefa cen-
tral e mais decisiva que tem o Executivo boliviano, as contradies que se derem com a
proposta pr-constituinte e com as demandas histricas de outro Estado, sem dvida
definiro a fase atual do Estado de Direito na regio e sua desconfigurao ou sua nova
relegitimao depende de todos, e no somente dos bolivianos, avanarem nesta tarefa.
E, tal como afirmou a prpria Assembleia Constituinte Boliviana, o Estado pluri-
nacional o modelo de organizao poltica para a descolonizao de naes e povos que
reafirmem, recuperem e fortaleam a autonomia territorial indgena.
3. Descolonizar o direito
A pergunta descolonizar o direito possvel? uma pergunta recorrente aos que enfrentam
esta reflexo. Talvez sejam teis algumas noes tericas j trabalhadas com a advertncia
da falta de reflexo sobre a descolonizao jurdica no mundo do direito. Para isto, o mais
pertinente resulta ser o giro decolonial. Uma proposta que vem fazendo carreira no pensa-
mento de frontera das cincias sociais e cujos fundamentos guardam uma estreita relao
com a busca de perspectivas de conhecer o eurocntrico (que na latino-amrica) tem
uma longa e valiosa tradio.8 Uma breve genealogia que sem dvida revela os diferentes
momentos da histria latino-americana, e ao mesmo tempo, a preocupao por encontrar
as mltiplas formas em que opera o poder e elaborar propostas para transformas estas
realidades marcadas pela ferida colonial.9
Onde precisamente assume fora a proposta do giro decolonial, definido por Mig-
nolo como
Alm disto, Mignolo diz que o giro decolonial tambm pode ser entendido como um
giro epistmico decolonial, que basicamente tem como razo de ser e objetivo a decolonialidade
do poder (ou seja, da matriz colonial do poder), que Anbal Quijano, em um artigo pio-
neito no qual se resume a plataforma do projeto modernidade/colonialidade, descreve da
seguinte forma:
A partir destas duas definies, que expressam as ideias bsicas do que trata a pro-
posta giro decolonial, vale a pena aportar um elemento a mais em seus elementos constituti-
vos e desta maneira expor que a estrutura triangular da colonialidade: Colonialidade do poder,
Colonialidade do saber e Colonialidade do ser, estaria abordada no estudo da descolonizao do
direito desde o seguinte referente com um elemento primordial no mundo jurdico:
1. Colonialidade do poder jurdico.
2. Colonialidade do saber jurdico.
2. Colonialidade do ser jurdico, e
3. Colonialidade do fazer jurdico
Um aspecto que no podemos deixar de mencionar frente ao giro decolonial como
proposta de enfoque, resulta de sua maneira particular de problematizar sobre as mes-
mas variveis que definem o colonialismo. Isto , basear sua discusso sobre os mesmo
autores, as mesmas categorias e os mesmos princpios cientficos que se pretende de-
colonizar. O que em um dado momento (e sem prejuzo do rigor dos decoloniais), faz
com que esta seja uma proposta que ainda se encontra muito ligada acadmica, ao texto,
ao autor ( crtica ao pensamento moderno) e, todavia, no oferece um marco analtico
independente, ou em um sentido mais amplo: descolonizado.
Com esta advertncia, a perspectiva da descolonizao jurdica, ou do direito, no
deixa para trs este aspecto, que se constitui em um questionamento permanente a estes
exerccios de reflexo. Apesar do valor que se reconhece ao giro decolonial, ele precisa-
mente que convida reflexo conjunta na latino-amrica sobre o legado da colonialidade
e suas possveis implicaes na maneira como se enfrentam as questes do direito e do
mundo jurdico nesta regio do planeta.
A descolonizao da chamada Colonialidade do poder jurdico est suscitada no
caso da Bolvia e, em menor medida, no Equador pela ideia do Estado plurinacional, em-
bora as abordagens do processo constituinte boliviano, sua consagrao na carta poltica e
os desenhos do rgo judicial plurinacional ofeream bases para identificar a Colonialida-
de do fazer jurdico e considerar-se um fazer de descolonizao do direito, esta condio
de possibilidade se d desde as tarefas que desenvolve a prpria unidade de descoloniza-
o jurdica e o Tribunal Constitucional Plurinacional da Bolvia.
Todo o exposto pode-se materializar em uma proposta que est em marcha no Tri-
bunal Constitucional Plurinacional da Bolvia e que se apresenta na sequncia, como uma
via para iniciar a descolonizar o direito desde a colonialidade do fazer jurdico.
4. Pluralismo descolonizante
12 SANTOS, Boaventura de Sousa; EXENI RODRGUEZ, Jos Luis (org.). Justicia indgena,
plurinacionalidad e interculturalidad en Bolvia. 2 ed. Quito: Fundacin Rosa Luxemburgo,
2013. p.147
Descolonizao jurdica nos Andes 173
mas de direito; o segundo que de tal processo participa a comunidade tinica envolvida
e o terceiro que sua validade no depende do mtodo jurdico, mas sim da legitimidade
sociocultural.
O alcance deste procedimento da Unidade de Descolonizao pode ser constatado
no Relatrio da Comunidade Indgena Chiquitana Altamira La Porfia, no Municpio
de Concepcin, Provncia uflo de Chavez, Departamento de Santa Cruz, datado de
novembro de 2013.
O primeiro item do relatrio trata do seguinte: se efetivamente a referida comuni-
dade conta com um sistema de administrao de Justia Indgena. Se a resposta afirma-
tiva, se deve questionar sobre o modo de organizao de seu sistema de administrao de
Justia Indgena.
O segundo item do mesmo relatrio se intitula: informe sobre se o exerccio da
jurisdio por parte das naes e povos indgenas lhes resulta obrigatria, se ocorrem os
pressupostos do art. 191.II da Constituio Poltica do Estado, ou se a mesma pode ser
renuncivel e, neste caso, especificar em que situaes; e o terceiro item do relatrio a
ser observado nesta anlise: de maneira geral e terica, informe sobre como percebe-se
o inter-relacionamento e o dilogo entre os sistemas de justia e o Estado Plurinacional
da Bolvia.
Com relao ao segundo item, eis o que o relatrio assinala: na comunidade indge-
na originria de Altamira o exerccio da jurisdio indgena originrio campesina se aplica
dentro da jurisdio territorial, nos mbitos de vigncia pessoal, material e territorial,
conforme estabelece o art. 191, II da CPE e a Lei n 073, Lei de Deslinde Jurisdicional.
Para as autoridades e membros da comunidade de Altamira, a aplicao da Justia Indge-
na Originria Campesina no obrigatria; em outros termos, no implica em obrigao
para os membros da comunidade o cumprimento do que estabelece o artigo mencionado.
Desde sempre as comunidades tm praticado e aplicado, desde seus ancestrais, as formas
de resoluo de conflitos. Pelo que, as normas mencionadas no so uma opo a parte,
mas sim, esto fundadas conforme seus usos e costumes. Referente a isto, assinalam o
seguinte: ns sempre temos resolvido nossos problemas em funo dos usos e costumes, para ns, ainda
que no conheamos muito o que diz a Lei de Deslinde, em parte o que ns fazemos e sempre temos
resolvido nossos problemas em funo dos usos e costumes. Por isto, a comunidade de Altamira
antes das reformas estruturais que mudaram a relao de Estado povos indgenas, em
Altamira as famlias tm mantido suas formas de resoluo de conflitos baseados em sua
cosmoviso prpria.
Com relao ao item trs, se diz o seguinte: sobre o inter-relacionamento e dilogo
entre a Justia Indgena Originria Campesina e a Justia Ordinria, dentro do Estado
Plurinacional da Bolvia; se adverte que os habitantes de Altamira no veem uma relao
nem mecanismos de cooperao e coordenao entre ambas as justias. Contrariamente,
desconhecem as funes e atribuies da Justia Ordinria, consideram como uma instn-
cia superior sua prpria justia. Segundo as autoridades e membros da comunidade de
174 Constitucionalismo, descolonizacin y pluralismo jurdico en Amrica Latina
Altamira assinalam [...] ns, como autoridades de Altamira, quase no recorremos s autoridades da
justia ordinria [...] somente pelos conflitos que temos com a famlia do senhor Carlos Bailaba, mas antes
no tnhamos conflitos semelhantes. Em diversas passagens da interveno das autoridades de
Altamira, estas assinalam que seu sistema de justia no esta em condies de resolver
conflitos maiores.
A razo por que recorrem Justia Constitucional, segundo as autoridades e mem-
bros da comunidade de Altamira, conseguir paralisar os constantes abusos e afrontas
contra a comunidade de Altamira por parte de Carlos Bailaba e sua famlia, que tem pro-
tagonizado uma srie de agresses de carter verbal, ou ausncia nas reunies, rejeio s
autoridades com prejuzo para toda a comunidade.
O projeto de desenvolvimento apoiado pelo programa Pr-Terra um dos fatores
de conflito que ops os membros da comunidade de Altamira e a famlia de Carlos Bai-
laba Mangar. As tentativas de soluo do conflito realizadas na prpria comunidade no
alcanaram uma soluo favorvel para o conflito, situao pela qual, ou pelo fracasso de
uma soluo na prpria comunidade, as autoridades e membros da comunidade de Alta-
mira recorreram Justia Constitucional para encontrar uma soluo favorvel a todas as
famlias que compe a comunidade de Altamira.13
Nas concluses, o relatrio estabelece o seguinte: conforme indicado nos conte-
dos do referido documento, a comunidade somente tem conhecimento da forma como
suas autoridades administram justia, j que tambm, a prpria comunidade responsvel
pelas sanes determinadas em assembleia comunitria; neste sentido, existe uma percep-
o positiva das bases ou membros da comunidade, acerca do papel de suas autoridades,
sempre e quando trata-se de assuntos de sua competncia; neste caso, as decises so
tomadas em assembleia comunitria. A comunidade de Altamira tem dois tipos de reu-
nio: a assembleia comunitria ordinria, que realizada uma vez por ms, e a assembleia
comunitria extraordinria, convocada em casos emergenciais. Com relao promotoria,
justia ordinria, constitucional, so entidades cujo papel ou funo a comunidade desco-
nhece; portanto, desconhecem se estas so eficazes ou ineficazes (em diversas passagens
da reunio, foi referido que a promotoria somente foi conhecida por conta do conflito que
a comunidade tem com a famlia de Jos Bailaba).
Este relatrio contribui com a deciso que o Tribunal Constitucional Plurinacional
toma a respeito da matria submetida ao seu conhecimento e, sem dvida, avana em
relao ao que o modelo jurdico conhecia at ento em termos de percia cultural.
Os elementos aportados pela prpria comunidade adquirem relevncia em um sis-
tema que procura avanar interculturalidade e no ater-se ao mero formalismo.
Concluso
Em comum na Amrica Latina temos um alto dficit pluralista e isto implica em distintos
desenvolvimentos da pluralidade jurdica nos pases da regio.
As diferenas atuais saltam aos olhos: o Chile aparece como caso paradigmtico
do lento avano formal e pouco reconhecimento constitucional do pluralismo. Por outro
lado, no Equador e na Bolvia as novas Constituies parecem garantir os direitos nelas
includos como resultado da emergncia de um pluralismo desde baixo, que tem resul-
tado efetivos em termos de reconhecimento dos direitos dos setores marginalizados e
excludos, especialmente, os povos indgenas. Aqui a questo central o desafio de como
articular eficazmente o mandato constitucional com o ordenamento jurdico vigente ou
por reconfigurar-se.
Uma doutrina orientada por sistemas jurdicos plurais deve percorrer a rota que
prope o constitucionalismo boliviano, que a da interculturalidade. Nesta proposta, h
diversas contribuies a serem revisadas para alcanar um avano comum neste momento
crucial na Latino-amrica.
Sem dvida alguma, esta a ruptura mais significativa feita pelo Tribunal Plurina-
cional com base na constituio boliviana e que faz com que efetivamente se possibilite
um pluralismo intercultural, expresso na Resoluo que reconhece explicitamente como
fonte de direito as normas e procedimentos das naes e povos originrios campesinos,
em termos concretos, isto o mais avanado em matria de pluralismo que tem alcanado
na Amrica Latina e muitos Estados esto longe de compreender que um exerccio de
interculturalidade obriga a romper a clssica ideia das fontes de direito e incluir outros
sistemas jurdicos.
Referncias
Introduo
momento, segundo Dussel, a Europa deixa de ser periferia do mundo oriental e torna-se
o centro global da humanidade.4
Nesse sentido, para alm do aspecto positivo que teria a Era Moderna, o giro
descolonial desvela a existncia de um verdadeiro mito que funda-se na falcia
desenvolvimentista que gera o eurocentrismo. Esse conceito, assume a caracterstica
de uma categoria filosfica fundamental, pois explicita uma posio ontolgica que
compreende o modelo de desenvolvimento que historicamente foi seguido pela Europa
deve ser o modelo a ser alcanado por toda a humanidade e suas respectivas culturas.5
No plano filosfico, tal caracterstica pode ser observada, por exemplo, em
dois dos pilares da ilustrao filosfica; Kant e Hegel. Ambos, a sua maneira e com as
respectivas diferenas, explicitam claramente a perspectiva eurocntrica plasmada na
modernidade, bem como seu racismo inerente, o qual destruiu violentamente a riqueza e
diversidade sociocultural dos povos de suas colnias e a vasta gama de riquezas naturais
aqui existentes. Portanto, deve-se explicitar o mito moderno, a fim de visualizar a face
oculta da modernidade, qual seja, a irracionalidade da sua violncia constitutiva para com
as demais culturas.6
Descoberto o mito moderno, outra categoria deve ser observada, nos referimos
ideia de Colonizao do mundo da vida, inserida e vista a partir do violento e sanguinrio
processo histrico de conquista da famigerada civilizao ocidental europeia.7
A partir do resgate histrico do processo civilizatrio, marcado, principalmente,
por uma colonialidade expropriatria, implantado pelas metrpoles europeias na Amrica
Latina, o qual serviu de motor para o desenvolvimento econmico-poltico do sistema
capitalista torna-se indispensvel repensar e interpretar esses processos a partir do con-
texto e da histria latino-americana.
Para isso, ao contrrio do discurso hegemnico, que tende a mimetizar a linearida-
de histrica da teoria jurdica liberal-conservadora e a sua viso estatalista da ampliao de
direitos, entendemos que dois elementos so cruciais para um salto qualitativo no debate
e nas reflexes sobre a atuao dos movimentos sociais latino-americanos na sua luta in-
surgente por direitos, so eles: a Descolonizao e a Interculturalidade.
O primeiro, como referimos anteriormente, seria a necessria superao do euro-
centrismo e da falcia desenvolvimentista, os quais tem servido h mais de 500 anos
para encobrir, por trs do lado emancipador da Modernidade, o mito sacrifical, violento e
opressor do chamado: processo civilizatrio.8
Em busca disso, antes de mais nada, necessrio superar a crena de que os mo-
delos produzidos no Norte global so universais e adequados nossa realidade e, assim,
passar a construir alternativas a partir da histria, dos saberes e das lutas promovidas pelo
e no Sul do globo. Por isso, a descolonizao crucial para a interpretao dos proces-
sos jurdico-polticos ocorridos na nossa regio. Essa nova lente hermenutica, portanto,
uma questo candente que deve ser suscitada por aqueles que buscam realizar pesquisas
no campo do direito, da poltica e da sociologia de forma engajada na luta contra-hege-
mnica ao sistema capitalista.
Enfim, chegamos ao segundo elemento crucial que deve ser incorporado ao
debate, isto , a Interculturalidade. Junto com Dussel9, de forma diversa boa parte
das correntes culturalistas e ps-modernas, entendemos que a dimenso econmica
constitutiva da dimenso cultural, no h como entender uma cultura, sem entender a sua
economia-poltica. Isso, por outro lado, tambm no leva ao economicismo, que reduz
todos os problemas dimenso econmica.
Assim, ser nesse espao de dilogo intercultural, partindo de uma teoria mar-
xiana contextual e concreta, preocupada com a historicidade cotidiana do povo pobre,
ndio, negro, quer dizer, uma teoria que colabore organicamente com o bloco social dos
oprimidos10 que se poder superar o paradigma jurdico-poltico moderno e fortalecer
a construo, lenta e gradual, mas revolucionria de uma organizao social alternativa ao
capitalismo, melhor dizendo, socialista.
2. Socialismo indo-americano
8 Ibid.
9 Sobre isso, ver: DUSSEL, Enrique. Transmodernidade e Interculturalidade. Interpretao des-
de a filosofia da libertao, pp. 159-209. In: FORNET-BETANCOURT, RAL. Interculturalida-
de: crticas, dilogos e perspectivas. Trad. Angela Tereza Sperb. So Leopoldo: Nova Harmonia,
2004.
10 DUSSEL, 1993, op. cit. p. 159.
Descolonizao e constitucionalismo numa perspectiva ecossocialista indoamericana 185
da realidade e riqueza desse tipo de organizao comunal existente em boa parte dos
pases andinos instigar e promover modos de resistncia e autodeterminao para efetivar
uma verdadeira libertao que trilhe para a realizao de um projeto econmico-poltico
de carter socialista.15
Nesse aspecto, Maritegui demonstra que o movimento comunista mundial,
deve reformular e adequar as suas interpretaes sobre o papel do campesinato, porque
no dizer descolonizar-se, para poder compreender e organizar adequadamente uma
transio revolucionria na Amrica Latina, ou seja, deve-se recolocar o problema indgena
e perceber a sua importncia em determinados pases. Nesse sentido, no se trata de puro
indigenismo, pelo contrrio, trata-se de um Socialismo Indoamericano, situado concretamente
na histrica formao econmico-poltica e nas peculiaridades scio-culturais do nosso
continente.16
Trata-se, portanto, de redimensionar o problema indgena para uma escala social
e classista, isto , a nova colocao consiste em procurar o problema indgena no problema da terra17,
promovendo uma necessria e fundamental aliana proletria e camponesa, na qual a
resistente cultura indgena potencializa e possibilita os processos de coletivizao e
solidariedade fundamentais construo de uma sociedade comunista.
Questionar a viso ortodoxa que no reconhecia a importncia crucial do
campesinato-indgena num projeto revolucionrio no continente, significa, portanto,
pens-lo de forma conexa problemtica concreta da origem e formao capitalista na
Amrica Latina. Recolocar a problemtica indgena, unida superao da diviso desigual
do trabalho e da constituio da propriedade privada como alicerce das relaes de
produo (proprietrio-trabalhador), significa, portanto, superar o latifndio e sua relao
exploratria de servido, bem como, garantir e promover a existncia de terras comunais,
nais quais o coletivismo prevalea e se aperfeioe gerando cooperativas de produo e
3. Ecossocialismo
Ou seja, ao mesmo tempo que uma corrente crtica ao economicismo que hege-
monizou o marxismo e que, por conseguinte, o dogmatizou e burocratizou, trata-se de
uma vertente que considera: A questo ecolgica , a meu ver, o grande desafio para uma
renovao do pensamento marxista no incio do sculo XXI. Tal questo exige do mar-
xismo uma reviso crtica profunda da sua concepo tradicional de foras produtivas,
bem como uma ruptura radical com a ideologia do progresso (...).21
Sob esse aspecto, Lwy menciona que Walter Benjamin foi um dos primeiros mar-
xistas do sculo XX a se colocar esse tipo de questo, pois em diversos momentos ques-
tionou a ideia de progresso ilimitado, o positivismo e a concepo que defendia a domina-
o da natureza e a necessidade de expanso das foras produtivas a qualquer custo, no
observando que pela sua dinmica expansionista, o capital pe em perigo ou destri as suas prprias
condies, a comear pelo meio ambiente natural.22
Desse modo, a corrente ecossocialista incorpora todo o desenvolvimento que as
reflexes ecolgicas tem realizado no ltimo sculo para interpretar e verificar os limi-
tes materiais do modelo capitalista e da civilizao atual, a fim de permitir um projeto
revolucionrio radical e utpico que proponha uma nova civilizao nos marcos de um
socialismo ecolgico.23
A conexo entre marxismo e ecologia, portanto, buscada pela corrente ecossocia-
lista pretende explicitar a crise civilizatria vivida pela humanidade, fruto da ordem capi-
talista, que pe em jogo a prpria possibilidade de manuteno da vida no planeta. Sem
cair em catastrofismos, pretende, tambm, mostrar a urgncia e radicalidade de construir
uma nova forma de organizao socioeconmica, que rompa com a lgica do progresso
imposta pelo ideologia positivista no sistema capitalista.
Outro aspecto fundamental da proposta ecossocialista consiste numa crtica ferre-
nha ao modo de produo e de consumo dos pases desenvolvidos, uma vez que ele se
sustenta numa ilimitada acumulao do capital que necessita manter as desigualdades e a
explorao entre os pases do Norte e do Sul do globo, isto , o american way of life jamais
poderiam ser expandido para toda a populao mundial, sob pena de simplesmente extin-
guir a humanidade em alguns dias.
21 Ibid., p. 43.
22 Ibid., pp. 43-44.
23 Lwy menciona que essa corrente est longe de ser politicamente homognea, mas a maioria
dos seus representantes partilha de alguns temas comuns, nesse aspecto, vejamos o seguinte trecho:
James OConnor define como ecossocialistas as teorias e os movimentos que aspiram a subordinar
o valor de troca ao valor de uso, organizando a produo em funo das necessidades sociais e das
exigncias de proteo do meio ambiente. O seu objetivo, um socialismo ecolgico, seria uma socie-
dade ecologicamente racional fundada no controle democrtico, na igualdade social, e na predomi-
nncia do valor de uso. Eu acrescentaria que tal sociedade supe a propriedade coletiva dos meios de
produo, um planejamento democrtico que permita sociedade definir os objetivos da produo e
os investimentos, e uma nova estrutura tecnolgica das foras produtivas. Ibid., p. 48-49.
Descolonizao e constitucionalismo numa perspectiva ecossocialista indoamericana 189
Tal aspecto, contudo, jamais visto como uma prova da necessidade que o sistema
capitalista tem de manter os pases da nossa regio no paradigma da dependncia e sub-
desenvolvimento to bem criticado pelos pela teoria marxista da dependncia24 e pelos
tericos descoloniais, pois esse sistema , necessariamente, fundado na manuteno e
no agravamento da desigualdade gritante entre o Norte e o Sul. Contrapondo-se a isso o
projeto ecossocialista visa uma redistribuio planetria da riqueza, e um desenvolvimento em comum dos
recursos, graas a um novo paradigma produtivo.25
Diante disso, deve-se pensar um novo paradigma produtivo que revolucione e co-
letivize o controle dos meios de produo alterando completamente a sua natureza, di-
recionando a produo para a satisfao das necessidades bsicas da populao, ou seja,
trata-se, portanto, de orientar a produo para a satisfao das necessidades autnticas, a comear por
aquelas a que podemos chamar bblicas: gua, comida, roupas, moradia, etc.26
Alm da crtica econmica e ecolgica, a perspectiva ecossocialista possui, tam-
bm, uma preocupao tica, pois defende um projeto utpico de transformao da reali-
dade que rompe com a lgica econmica do mercado capitalista e se reconhece socialista,
ou seja, o ecossocialismo defende: () uma mudana radical de paradigma, um novo modelo de
civilizao, em resumo, uma transformao revolucionria. Essa revoluo se refere s relaes de produ-
o propriedade privada, a diviso do trabalho mas tambm s foras produtivas.27
Nos limites deste trabalho, apresentamos apenas o incio de uma pesquisa bibliogrfica
de carter qualitativo vinculada essas temtica. No entanto, a fim de esboar algumas
aproximaes com as teorizaes realizadas e trazer alguma concretude, relataremos alguns
acontecimentos histricos que consideramos importantes e que podem ser relacionados s
perspectivas tericas esboadas alhures. Nos referimos as lutas dos movimentos indgena
e campesinos bolivianos e equatorianos, em especial, a sua luta pela gua e a sua defesa
como bem comum da humanidade, que possibilitaram a incorporao e reconhecimento
da cosmoviso andino-amaznica que ressalta uma nova relao entre o ser humano/
natureza, bem como a luta por reconhecimento de Plurinacionalidade28, como forma de
al abuso y a la corrupccin, las organizaciones que de tiempo em tiempo han salido a las calles a
protestar contra los gobiernos neoliberales propusieron, y com xito, definir el estado como pluri-
nacional () El reconocimiento del Estado plurinacional es un paso importante, pero insuficiente,
ahora toca contruirlo. ACOSTA, Alberto. Plurinacionalidad. Democracia en la Diversidad. Qui-
to: Ediciones Abya-Yala. 2009, pp. 20-21.
29 Las movilizaciones y rebeliones populares, especialmente desde el mundo indgena em Ecua-
dor y Bolivia, asoman com la fragua de procesos histricos, culturales y sociales de larga data,
conforman la base del Buen Vivir o sumak kawsay (kichwa) o suma qamaa (aymara). En esos pases
andinos estas propuestas revolucionarias cobraron fuerza em sus debates constituyentes y se plas-
maron em sus contituciones, sin que por esto se cristalizen an em polticas concretas. ACOSTA,
Alberto. Buen Vivir Sumak Kawsay. Una oportunidad para imaginar otros mundos. Quito: Edi-
ciones Abya-Yala. 2012, p. 19.
Descolonizao e constitucionalismo numa perspectiva ecossocialista indoamericana 191
da gua parecem sintetizar as teorizaes que se buscou abordar ao longo deste texto.
Isso mesmo, a defesa do lquido vital, abundante em boa parte do nosso continente, no
ltimo sculo tornou-se uma das mercadorias mais disputadas no mercado capitalista
mundial, pois alm de ser elementar para a sobrevivncia da humanidade indispensvel
para garantir os ciclos produtivos de setores cruciais, como por exemplo, a explorao do
petrleo, a minerao, as hidreltricas, etc.
Nesse sentido, ao longo da dcada de 90 com a implantao do neoliberalismo e
sua sede expropriatria e privatizante esse bem comum foi leiloado s transnacionais, as
quais esto comprando inmeras fontes desse liquido precioso. Ser exatamente contra
esses processos de mercantilizao e privatizao da gua que se insurgiro os movimentos
sociais, seja para defender as suas fontes, seja, para reverter os processos de privatizao e
ou at mesmo para denunciar a sua contaminao por parte de empresas internacionais.
Seja na Bolvia com a srie de revoltas populares contra a privatizao da gua que
foram intituladas de Guerra da gua de Cochabamba, como no Equador com as inmeras
manifestaes e levantes contra as contaminaes provocadas pelas transnacionais
petrolferas e buscando reverter os processos de privatizao em curso no pas, as lutas
dos movimentos sociais contra-hegemnicos pautaram a insurgncia de um novo direito,
isto , o direito humano fundamental gua. Ser a partir dessas lutas concretas que, por
exemplo, na Constituinte de Montecristi se conseguiu incorporar essa outra perspectiva
sobre o liquido vital, visto e reconhecido como um bem comum da humanidade.30
Dentre os diversos aspectos transformadores observados, especialmente, no
processo constituinte equatoriano, verifica-se tambm a indita proteo dos direitos da
natureza pela incorporao constitucional da cosmoviso indgena expressa na mtica
Pachamama31. No caso Boliviano, mesmo que no tenha ocorrido um reconhecimento
expresso dos direito da natureza no plano constitucional, diversos avanos legislativos
podem ser observados, como por exemplo, a Ley de la Madre Tierra, a qual incorpora uma
perspectiva diferente da relao entre ser humano/natureza, ou seja, que, em sntese,
reconhece e garante a defesa dos bens comuns a partir dos marcos de uma ontologia
distinta da civilizao ocidental.
Concluso
Referncias
Introduo
3 Colonialidade um conceito utilizado inicialmente por Quijano. Este termo uma importante
contribuio dos autores latino-americanos para a consolidao no mbito acadmico do pensa-
mento de fronteira que surge a partir do anthropos. A palavra colonialidade (e no colonialismo)
utilizada para chamar ateno sobre as continuidades histricas entre os tempos coloniais e o
tempo presente e tambm para assinalar que as relaes coloniais de poder esto atravessadas pela
dimenso epistmica. Colonialidade um conceito complexo (atua em vrios nveis). Cf. DAMA-
ZIO, Eloise Peter. Colonialidade e decolonialidade da (Anthropos) logia jurdica: da Univer-
salidade a pluriversalidade epistmica. Tese de Doutoramento. Programa de Ps-Graduao em
Direto da Universidade Federal de santa Catarina, 2011. p. 55.
4 MIGNOLO, Walter. Desobedincia epistmica: a opo descolonial e o significado de iden-
tidade em poltica. Cadernos de Letras da UFF, Dossi: Literatura, lngua e identidade. Niteri,
n. 34, 2008, 2008, p. 287-324.
O conhecimento jurdico colonial e o subalterno silenciado 197
5 FIGUEIREDO, Carlos Vincius da Silva. Estudos subalternos: uma introduo aos estudos
subalternos. Revista Rado, Dourados, MS, v. 4, n. 7, jan./ jun. 2010. p. 84.
6 SPIVAK, Gayatri Chakravorty. Pode o subalterno falar? Traduo de Sandra Regina Goulart
Almeira; Marcos Pereira Feitosa; Andr Pereira Feitosa. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2010.
p. 12.
7 O termo subalterno foi utilizado inicialmente por Gramsci (2002), para referir-se as classes
subalternas, especialmente ao proletariado rural. J os Subaltern Studies modificaram o significado
de subalterno, ele considerado como um sujeito histrico que responde tambm as categorias
de gnero e etnicidade, no apenas de classe. Nesse sentido, o conceito subalterno utilizado
a partir da diferena colonial. O subalterno identificado como o colonizado, ou com o sujeito
colonial, no se trata de um ser passivo, um sujeito ausente, mas um sujeito ativo. Cf. Damzio,
2011, op. cit. p.47.
8 SPIVAK, 2010, op. cit. p.14
9 Figueredo, 2000, op. cit. p. 87.
10 SPIVAK, 2010, op. cit. p.14.
11 SANTOS; MENESES, 2010, op. cit., p. 49.
198 Constitucionalismo, descolonizacin y pluralismo jurdico en Amrica Latina
12 Ibid.
13 Senso comum terico dos juristas designa as condies implcitas de produo, circulao e
consumo das verdades nas diferentes prticas de enunciao e escritura do Direito. Trata-se de um
neologismo proposto para que se possa contar com um conceito operacional que sirva para men-
cionar a dimenso ideolgica das verdades jurdicas. Nas atividades cotidianas tericas, prticas e
acadmicas os juristas encontram-se fortemente influenciados por uma constelao de represen-
taes, imagens, preconceitos, crenas, fices, hbitos de censura enunciativa, metforas, estereti-
pos e normas ticas que governam e disciplinam anonimamente seus atos de deciso e enunciao.
Cf. WARAT, Luiz Alberto. Introduo geral ao Direito. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris
Editor, l994, v. I. p. 13.
14 OLIVEIRA, Odete M. Relaes internacionais: estudos de introduo. Curitiba: Juru, 2001.
15 PENNA, Antonio G. Introduo epistemologia. Rio de Janeiro: Imago, 2000.
O conhecimento jurdico colonial e o subalterno silenciado 199
nos consciente, tm perturbado o estudo do Direito. Hans Kelsen foi um dos principais
expoentes de um tipo de conhecimento que desconhecia as realidades outras, ou seja, de-
senvolveu os seus trabalhos com o objetivo de delinear com preciso os exatos contornos
do conhecimento jurdico no campo cientfico.
importante salientar que o conceito de cincia do Direito influenciou e traou os
limites do conhecimento jurdico na contemporaneidade. Tal influncia que possibilita
a discusso do que ser cientfico para Kelsen: qual o conceito de cincia que ele utiliza
e transfere para o campo do Direito, o significado do termo pura, uma vez que este
trabalha com a ideia de uma cincia do Direito isenta de todos os elementos considerados
por ele estranhos para o mundo do Direito, como a Sociologia, a Psicologia etc. Observou
que sendo o Direito uma esfera especfica no seria de bom alvitre transportar para a gide
da cincia jurdica mtodos vlidos para outras cincias. Entendendo que o jurista deveria
investigar o Direito mediante processos prprios ao seu estudo, esse autor concluiu que
isso s seria possvel se houvesse pureza metdica21. Ento, com base no postulado
kantiano de que todo conhecimento puro quando no se acha misturado com algo
estranho que prejudique sua autonomia22, e vendo-a ser diluda entre os conceitos de
Psicologia, Biologia, da moral e da Teologia, Kelsen se prope a dela eliminar todos os
elementos que lesam a sua pureza e independncia, ensejando levar a cincia do Direito
s ltimas consequncias do Positivismo. Assim, a cincia jurdica pode ser caracterizada
como uma cincia normativa medida que toma seu objeto como norma e constitui-se
numa atividade somente descritiva, ou seja, para Kelsen, a cincia uma atividade que se
esgota na descrio de leis postas do Direito positivo. Nesse ponto, possvel entender
o jurdico ou o direito no apenas pelo vis eurocntrico e institucional, mas como
um discurso que alm de moderno tambm colonial e, sendo assim, participava e parti-
cipa da lgica colonialista, subalternizando saberes.
Nessa perspectiva, a contribuio de Edward Said23 no sentido de que as consti-
tuies dos saberes relacionavam-se com o colonialismo, no considerado como uma ex-
perincia que tinha sido finalizada, mas que continuava presente nas relaes de conheci-
mento, determinando a pretensa superioridade/inferioridade de certas pessoas e saberes.
Nesse ponto, ressalta-se como o paradigma dominante de cincia vem monopolizando a
produo do saber, e como tal fato produziu efeitos na cincia jurdica. A Teoria Pura do
Direito considerada como principal produto desse fenmeno. Assim, a crtica a essa con-
cepo estrita de conhecimento, propugnando uma abertura epistemolgica e metodol-
gica da cincia jurdica, foi capaz de justificar a adoo do tudo vale de Paul Feyerabend24
ao Direito, com a finalidade de torn-lo mais adequado ao seu papel de realizao de um
projeto de sociedade25. Segundo Feyrabend, o predomnio dessa concepo de cincia no
possui razes transcendentais ou uma justificao lgica insofismvel, mas sim decorre,
em verdade, de ser ele o que melhor atende aos ideais das classes que ocupam a centra-
lidade do processo de globalizao cultural, ou seja, os Estados capitalistas ocidentais
desenvolvidos, sendo impostos por eles aos demais pases26. De acordo com o autor, o
predomnio dessa forma de produo de saberes tambm se justifica por haver a cincia
moderna se tornado o que Thomas Kuhn27 chama de cincia normal, isto , o modelo
que, em regra, os novos cientistas aprendem muitas vezes sem maiores questionamen-
tos de ordem epistemolgica28. A produo cientfica restringe-se ao desenvolvimento
das questes j levantadas pelos precursores, contribuindo para uma estabilizao29. Mas,
ento, por que prevalece esse paradigma at o presente momento, ao menos numa pers-
pectiva terica? A resposta parece evidente, e j foi enunciada: a Teoria Pura permite que
o Direito seja considerado uma cincia, de acordo com a concepo ainda dominante que
se possui desse conceito. Claro, uma cincia de abrangncia restrita, e talvez exatamente
por isso uma cincia de forte influncia dos discursos coloniais de construo da prpria
cincia do Direito.
calizar e agir com rigor quando da sonegao de impostos, e representar a figura do Rei. O
povo no detinha nenhuma importncia, sendo que dele somente era exigido o profundo
respeito pelo Monarca, fato que quando contrariado era punido severamente30. Deve-
se ter presente que o Estado brasileiro no nasce das exigncias do cidado, e a partir
da que se constri no Brasil o conhecimento jurdico e nasce o conceito de subalterno.
Segundo Boaventura de Sousa Santos na obra O Discurso e o poder, historicamente
o Brasil marcado pelo pluralismo de ngulo colonial, pois o direito oficial implantado
foi o direito portugus, em especfico as Ordenaes. A relao entre o direito oficial e
o direito tradicional da colnia foi de excluso e no reconhecimento deste ltimo. No
havia o reconhecimento de outro direito alm do direito portugus. O direito que brotava
das relaes sociais existentes na colnia era ignorado pelo direito oficial portugus. A
segunda expresso tem, de certa forma, ligao com a primeira. So os direitos dos povos
indgenas que viviam no Brasil ao tempo da colonizao31. Qualquer ideia de pluralidade
foi totalmente desconsiderada pelo direito oficial portugus. Assim, o tipo de conheci-
mento construdo foi o monista, cuja concepo parte da ideia de que o Direito s existe
na forma de um sistema nico e universal. Para Jean Carbonnier:
Percebe-se assim que uma viso monista do Direito pressupe que um sistema
jurdico existe quando as normas jurdicas so produto exclusivo do Estado. Todas as
normas que esto fora do Direito estatal de visvel influncia colonial no podem ser
consideradas como direito. Para que se possa avanar na tentativa de construo de um
outro tipo de conhecimento/discurso decolonial, ou de questionamento crtico a respeito
de alguns aspectos das ideias kelsenianas, no que concerne construo da cincia do
Direito/do conhecimento jurdico monista, faz-se necessrio abandonar um pouco a
perspectiva tradicional e, por meio de uma linguagem um tanto alheia aos mtodos tradi-
cionais, buscar compreender o agir dos juristas dentro dessa e de uma nova perspectiva
epistemolgica decolonial.
30 MALISKA, Marcos. Pluralismo Jurdico: notas para pensar o direito na atualidade. Trabalho
de aula, 1997, p. 20-21.
31 SANTOS, Boaventura de Sousa. O discurso e o poder. Ensaio sobre a sociologia da retrica
jurdica. Porto Alegre: Srgio Fabris, 1988.
32 CARBONNIER, Jean, Sociologie juridique. Paris: Armand. Colin, 1972, p. 24.
O conhecimento jurdico colonial e o subalterno silenciado 203
Segundo Reis33, h muitas questes que podem ser enfrentadas, como por exem-
plo: (...), o modelo da cincia moderna o nico capaz de produzir um conhecimento
absolutamente verdadeiro? A resposta negativa se impe, porque: a) existem conheci-
mentos no cientficos; b) existem conhecimentos cientficos produzidos fora do para-
digma moderno (conquanto os adeptos do modelo dominante possam negar-lhes cien-
tificidade); c) o mtodo moderno no consegue produzir verdades absolutas. De fato,
entendendo-se que o paradigma cientfico da modernidade no pode monopolizar a pro-
duo do conhecimento, a Cincia do Direito deve abandonar as pretenses de pureza
e objetividade, para abarcar de maneira mais ampla possvel todos os elementos relati-
vos elaborao e implementao de um projeto de sociedade, este sim seu objetivo.
Evidentemente, isso implica num intercmbio com diversos ramos do saber, e tambm
como assevera Linda T. Smith, uma antroploga Maori34 da Nova Zelndia, trabalhar
com a ideia de descolonizao de metodologias. Descolonizar metodologias significa uma
compreenso mais crtica dos pressupostos subjacentes, motivaes e valores que moti-
vam as prticas de investigao. Nesse sentido, concordamos com a autora ao defender-
mos que os pesquisadores precisam criticar seu prprio olhar35.
Segundo Damazio36, diferente das metodologias clssicas de pesquisa cientfica,
as metodologias decoloniais so pluralistas e se posicionam como uma ruptura desse tipo
de pesquisa colonizadora que tem sido central para perpetuar a colonialidade em todos os
seus aspectos. H uma necessidade de produo de diferentes conhecimentos, que devem
se originar a partir de distintas abordagens e conceitos. Autores como Michel Foucault,
Edward Said e Walter Mignolo so exemplos dessas mltiplas perspectivas metodolgicas.
Trata-se da possibilidade de ir alm do discurso jurdico moderno/colonial e pen-
sar condies outras do jurdico. Significa vivenciar o direito no como um sistema fe-
chado de normas jurdicas pensado apenas a partir do Estado, tampouco defender que
conceitos como democracia, justia e direitos humanos sejam entidades nicas definidas e
vlidas para todo o planeta. Nessa linha, Eloise Peter Damzio assevera que
[...] para podermos nos mover nesta direo, precisamos nos distanciar
da universalidade epistmica (e suas concepes de verdade, sujeito de
conhecimento deslocalizado e neutro, tempo linear, progresso, bem como as
relaes binrias tradicionais do pensamento filosfico) e nos direcionarmos
para pluriversalidade epistmica. Esta diz respeito a uma outra viso de mundo
pautada na geopoltica e na corpo-poltica do conhecimento. Nesse sentido, o
fundamental afirmar os saberes construdos a partir de distintos corpos em
diferentes localizaes. Representa, portanto, a entrada em cena do outro,
do anthropos e de suas formas de conhecimento outras em um processo
decolonial da prpria lgica epistmica que d suporte colonialidade37.
37 Ibid., p. 150.
O conhecimento jurdico colonial e o subalterno silenciado 205
Verifica-se, aqui, a presena do termo interculturalidade que pode ser usado para
significar e representar um processo e projeto poltico-social transformador40. Para
Walsh, a interculturalidade, nesse sentido, pode ser considerada como uma ferramenta
conceitual central para construo de um pensamento decolonial. Primeiro porque est
concebida e pensada desde a experincia vivida da colonialidade; segundo porque reflete
um pensamento no baseado apenas nos legados eurocntricos ou da modernidade e,
terceiro, porque tem sua origem no sul, dando assim uma volta na geopoltica dominante
do conhecimento que tem tido como centro dominante o norte41.
Segundo Damazio42, diferente do multiculturalismo oficial, no qual a diversidade
se expressa em sua forma mais radical, por separatismos e etnocentrismos e, em sua for-
ma liberal, por atitudes de aceitao e tolerncia, a interculturalidade, como entendida
pelos grupos historicamente subalternizados, diz respeito a complexas relaes, nego-
ciaes e intercmbios culturais que emergem de espaos de fronteira. Trata-se de uma
interao entre pessoas, conhecimentos, prticas, lgicas, racionalidades e princpios de
vida diferentes. Uma interao que admite e que parte das assimetrias sociais, econmicas,
O Brasil assim como em outros pases da Amrica Latina colonizados por euro-
peus e que herdaram o modelo universalista, deixou margem ndios, negros, pobres,
entre tantos outros que se tornaram vitimas de um Estado desigual em oportunidades
e distribuio de renda. Apesar disso, possvel comemorar as mudanas e evolues
ocorridas nas trs ultimas dcadas e ter esperana num futuro prximo de menores n-
veis de pobreza e desigualdades, por isso a relevncia do novo constitucionalismo latino-
americano. Stuart Hall acrescenta:
48 HALL, Stuart. Da dispora: Identidades e mediaes culturais. Organizao Liv Sovik; Tra-
duo Adelaine La Guardia Resende... [et all. - Belo Horizonte: EditoraUFMG; Brasilia: Represen-
tao da UNESCO no Brasil, 2003, p. 56.
49 HALL, 2003, op. cit., p. 57.
208 Constitucionalismo, descolonizacin y pluralismo jurdico en Amrica Latina
livre fluxo de capital, dominado pelo Primeiro Mundo, e os programas de reajuste estru-
tural, prevalecendo os interesses e modelos ocidentais de controle50.
Alm do discurso da interculturalidade, a perspectiva da descolonizao (do Es-
tado, da sociedade) tambm entrou em evidncia, principalmente na Bolvia e no Equa-
dor, a partir da primeira dcada deste sculo (sofrendo influncia inclusive dos estudos
acadmicos latino-americanos da decolonialidade, Quijano, Mignolo, etc.).
Na Bolvia as organizaes camponesas, indgenas e originrias, no contexto da
Assembleia Constituinte (que elaborou o texto aprovado em janeiro de 2009), articularam
o discurso da descolonizao a partir da proposta do Estado plurinacional51. O Estado
plurinacional considerado para esses movimentos e organizaes com um modelo de
organizao que teria como funo descolonizar naes e povos indgenas originrios,
recuperar sua autonomia territorial, garantir o exerccio pleno de todos os seus direitos
como povos e exercer suas prprias formas de autogoverno52.
Para concretizar o Estado plurinacional, um dos elementos fundamentais seria o
direito terra, ao territrio e aos recursos naturais, possibilitando acabar com o latifndio
e com a concentrao de terras em poucas mos, rompendo assim com o monoplio de
controle dos recursos naturais em benefcio de interesses privados. Da mesma forma, o
Estado plurinacional implica que os poderes pblicos tenham representao direta dos
povos e naes indgenas, originrios e camponeses de acordo com suas normas e proce-
dimentos prprios53.
Seria, segundo Garcs54, um Estado de consorciao onde as coletividades polti-
cas opinam, expressam seu acordo e tomam decises sobre as questes centrais do Esta-
do.. A ideia de que o Estado tem soberania nica e absoluta sobre seu territrio desfeita
e, desse modo, possibilita-se o exerccio do autogoverno (para dentro) e do cogoverno, em
relao ao Estado central e com as outras entidades territoriais55.
Com relao ao Equador, a proposta da plurinacionalidade foi introduzida inicial-
mente no final da dcada 1980 pela Confederao de Nacionalidades Indgenas do Equa-
dor (CONAIE) e amplamente discutida por essa organizao durante os anos de 1990,
mas com pouco entendimento e acolhida por parte da sociedade dominante branco-
mestia. As organizaes indgenas, junto com vrios intelectuais no indgenas, deixa-
ram claro que a plurinacionalidade no implica numa poltica de isolamento ou separatis-
mo, mas sim no reconhecimento de sua prpria existncia como povos e nacionalidades
50 HALL, 2003, op. cit., p. 57.
51 GARCS, Fernando. Os esforos de construo descolonizada de um Estado plurinacional
na Bolvia e os riscos de vestir o mesmo cavalheiro com um novo palet. In: VERDUM, Ricardo
(Org.). Povos indgenas. Constituies e reformas polticas na Amrica Latina. Braslia: Instituto
de Estudos socioeconmicos, 2009, p. 167-192. p. 175.
52 Ibid., p. 176.
53 Ibid., p. 176.
54 Ibid., p. 176
55 Ibid., p. 176.
O conhecimento jurdico colonial e o subalterno silenciado 209
por Antonio C. Wolkmer, de pluralismo jurdico como projeto cultural pluralista e eman-
cipatrio que permite aduzir um novo Direito um Direito produzido pelo poder da co-
munidade e no mais unicamente pelo Estado, em que rompe-se com a configurao
mtica de que o Direito emana to-somente da norma cogente estatal, instaurando-se a
idia consensual do Direito como acordo, produto de necessidades, confrontos e reivin-
dicaes das foras sociais na arena poltica. Enunciar as condies que servem como
seus fundamentos para diferenciar tal proposta de outras que afirmam o pluralismo (j
que se poderia aventar um pluralismo de vis conservador), quais sejam, os de eficcia
material e os fundamentos de efetividade formal. Os de eficcia material englobam o contedo,
os elementos constitutivos; concretamente, est-se a falar da emergncia dos novos sujei-
tos coletivos e da satisfao das necessidades humanas fundamentais. Os novos sujeitos
coletivos superam a concepo de sujeito individual erigida na modernidade. Ao mesmo
tempo, retoma-se a noo de sujeito, com nova dimenso, apostando contrariamente
propugnada morte do sujeito. Cabe restringir ainda a noo, pois nos novos movi-
mentos sociais em mbito poltico e sociolgico que se visualiza o ator histrico de luta
pela transformao por excelncia. So eles, os movimentos, que buscaro a realizao
das necessidades humanas fundamentais, configuradas como o segundo elemento de efeti-
vidade material. 59 Um complexo de necessidades montado a partir da insurgncia desses
sujeitos coletivos. Importa compreend-las no apenas como carncias que precisam ser
satisfeitas por questes de necessidade material, mas sim como uma construo histrico-
contingencial, de atores que se encontram em um determinado espao geopoltico,
tambm temporalmente localizados.
Para que o direito possa descobrir a outridade latente na Amrica Latina, e chegar
a ser descolonizado, h um movimento dialtico necessrio no que diz respeito ao rompi-
mento com modernidade; pois, enquanto uma mudana normativa pode permitir/revelar
o estabelecimento de outras relaes sociais de produo no espao pblico que no as
capitalistas e colonizadas -, por sua vez somente com uma mudana no sistema social
dominante do espao pblico, que produzido e produz o direito, que se muda o modo
de compreenso ou a ideologia que d sentido e explica os textos jurdicos. Assim, para
Almeida,
parece evidente, portanto, que o pluralismo jurdico desejado para o sculo XXI
no poder ser o pluralismo liberal das elites econmicas e do livre mercado
defendido na primeira metade deste sculo, o qual est sendo rearticulado,
mais recentemente, como uma nova estratgia de dominao dos pases
centrais avanados, a partir do chamado pluralismo jurdico multicultural.
Logo, a discusso sobre que pluralismo jurdico pode transformar o direito
latino-americano revela-se imperativa, principalmente, quando se pensa num
para o constitucionalismo das sociedades pesquisadas e assim para suas formas de direito
e Estado. Este representa a conscincia do comunitrio e sua utilizao como estratgia
de transformao e na Plurinacionalidade como significado da busca por participao
autnoma no espao social.
Concluso
Referncias
Introduo
A exposio que segue fruto das reflexes proporcionadas pelo I Encontro Latino-
Americano Descolonizao e Pluralismo Jurdico, realizados em meados de Novem-
bro de 2014 e, principalmente, pelos estudos e pesquisas realizadas no NEPE Ncleo
de Pesquisa e Prticas Emancipatrias na Universidade Federal de Santa Catarina, sob
orientao do Prof. Dr. Antonio Carlos Wolkmer.
Em todos estes momentos, engajados em se pensar a superao da colonialida-
de presente nas cincias jurdicas no contexto latino-americano, em descolonizar-se,
compreendemos que o delineamento de caractersticas prprias de uma outra cultura
jurdica, capaz de libertar de uma imposio colonizadora torna-se possvel a partir da
supresso de concepes atinentes ao Estado monocultural, monotnico.
O pensar sobre a descolonizao esta ao libertadora sobre as esferas poltico-
jurdicas delineadas pela cultura europeia quando voltada ao Direito permite refletir so-
bre o etnocentrismo presente na construo da histria e do conhecimento jurdico, ainda
mais quando percebemos a diversidade cultural presente. O objetivo deste trabalho ,
portanto, relacionar colonialidade e etnocentrismo jurdico, de tal modo a refletir sobre a
descolonizao jurdica necessria sobre as heranas coloniais ainda presentes (e persis-
tentes) no pensamento jurdico.
7 Traduo livre: Orden y razn son vistos como el fundamento para la igualdad y la libertad,
posibilitando as el lenguaje de los derechos. ESCOBAR, Arturo. Mundos y conocimientos de
otro mod: el programa de investigacin de modernidad/colonialidade Latinoamericano. Tabula
Rasa, Bogot, n. 1, p. 51-86, 2003. Disponvel em: < http://www.unc.edu/escobar/text/esp/
escobar-tabula-rasa.pdf >. Acesso em: 17 jul. 2014, p. 56.
8 Ibid., p. 56-57.
9 CESAIRE, Aim. Discurso sobre o colonialismo. Trad. Ansio Garcez Homem. Florian-
polis: Letras Contemporneas, 2010, p.79.
10 Ibid., p. 74.
11 Ibid., p. 66.
220 Constitucionalismo, descolonizacin y pluralismo jurdico en Amrica Latina
estender ao Direito, enquanto fenmeno jurdico, uma vez que este elemento integran-
te desta cultura.
certo que a Modernidade, enquanto fenmeno cultural, conferir igualmente
uma delimitao qualitativa ao Direito, sendo responsvel pelo delineamento de uma cul-
tura jurdica que repercutir na dominao de ideias decorrentes destes valores e ganhar
a universalidade a partir do colonialismo, se mantendo ento como instrumento de do-
minao.
A importncia do Estado, enquanto centralizador poltico perante a ordem norma-
tiva moderna, ser fundamental para determinar seu exerccio de monoplio da produo
de normas jurdicas. A ideologia tecno-formal do centralismo legal, caracterstica do
monismo jurdico estatal clssico tem sua historicidade ligada viso racional do mundo,
permanentemente traduzida por processos de estatalidade, unicidade, positivao
e sistematizao. Construindo, assim, a mxima de que s direito aquilo que provm
do Estado e, nesta lgica, o Direito vira sinnimo de Direito Estatal.24
Outro dos valores incutidos na episteme colonizadora, responsvel pela nica
forma de se ver a realidade, a crena no desenvolvimento da humanidade atravs do
progresso, do desenvolvimento. Um desenvolvimento que s ser possvel mediante a
aplicao da racionalidade cientfica; pois para se determinar os rumos do progresso, para
conhecer o que melhor para a humanidade (a verdade), so necessrios a utilizao de
mtodos cientficos. A validade cientfica auferida pelos mtodos racionais e o mtodo
cientfico a nica forma de conhecer a verdade, como diriam os positivistas.
A questo que a racionalidade cientfica elevar o dogma de que a sociedade po-
deria ser analisada da mesma forma que os fenmenos da natureza, aplicando s cincias
sociais os mesmos paradigmas das cincias naturais, das teorias evolucionistas.
As teorias evolucionistas atrelaram-se uma postura etnocntrica e a identidade
europeia-ocidental alicerada sobre a construo negativa do outro ao ponto de que a
designao povos no europeus seja um contraponto civilizao europeia, levando
a uma analogia de que os outros tratam-se de povos no civilizados.25
A desigualdade entre os seres humanos (europeus e no europeus) constitutiva
da prpria modernidade e a racionalidade cientifica acentua-a ainda mais, a ponto de
institucionalizar o outro como o brbaro. bvio , por todo o relatado, que a projeo
de um modelo de progresso a ser seguido por toda a humanidade em nenhum momento
dotaria os no europeus de racionalidade europeia, cientifica. Mesmo porque os no euro-
peus no participaram no desenvolvimento da cincia26, sendo a cincia inventada pelo
Ocidente e, portanto, somente o Ocidente sabe pensar.27
24 Cf. WOLKMER, Antonio Carlos. Pluralismo Jurdico. Fundamentos de uma Nova cultura no
direito. 3ed. So Paulo: Alfa-Omega, 2001. P. 60-61.
25 BAS FILHO, Orlando Villas. A constituio do campo de anlise da pesquisa da antro-
pologia jurdica. Prisma Jurdico, So Paulo, v.6, p. 333-349, 2007.
26 CESAIRE, op. cit., p. 50.
27 CESAIRE, op. cit., p. 70.
224 Constitucionalismo, descolonizacin y pluralismo jurdico en Amrica Latina
28 Ainda que este pensamento seja parte constituinte da antropologia enquanto cincia, resta b-
vio que hoje a antropologia no mais divide desta lgica. Embora no sendo objeto deste trabalho
detalhar a evoluo da antropologia, acreditamos ser necessria esta ressalva.
29 HESPANHA apud WOLKMER, 2012, op. cit. p. 34.
30 WOLKMER, Antonio Carlos. Pluralismo Jurdico. Op..cit., p. 26.
Etnocentrismo jurdico, colonialidade e descolonizao 225
34 FANON. Frantz. Os condenados da terra. Prefcio de Jean-Paul Sartre e trad. de Jos Lau-
rncio de Melo. Rio de Janeiro: Editora Civilizaes Brasileiras, 1968. Coleo Perspectivas do
Homem. V. 42, p. 9.
35 O que nos leva a refletir se, na concepo histrico-positivista, poderia se falar em progresso
quando no h o domnio e uso da escrita?
36 OLIVEIRA, Joo Pacheco de. Os Caxixs do Capo do Zezinho: Uma comunidade indgena
distante de imagens da primitividade e do ndio genrico. Relatrio encaminhado FUNAI Fun-
Etnocentrismo jurdico, colonialidade e descolonizao 227
natural pensarmos que o Direito, assim como a histria, fundamenta sua verda-
de somente quando escrito. Sobre estas consideraes, pensar sobre Descolonizao do
Direito, impe um duplo desafio aos juristas formados na clssica racionalidade jurdico-
positivista ainda presente hegemonicamente nos cursos jurdicos.
O primeiro desafio remete noo de Direito atrelado a normas escritas, positi-
vadas. J mencionamos que a racionalidade da cultura ocidental nos impe uma viso do
mundo onde o grupo do eu tomado como centralidade e o outro pensado e sen-
tido atravs dos nossos valores, nossos modelos, nossas definies do que a existncia,
do que histria e do que Direito.37
Ao reconhecer a escrita como nica fonte de conhecimento, de tradio cultural da
expresso jurdica, o antroplogo Joo Pacheco de Oliveira trata a escrita como um mau
paradigma para o reconhecimento de direitos de povos e comunidades que resistiram, tal
como os povos indgenas.38 E, tomado isto, o Direito do outro se que podemos no
af da cincia jurdica-positivista considerar Direito como aquele no escrito fica,
nessa lgica, como sendo engraado, absurdo, anormal ou ininteligvel39.
E, se a escrita a nica fonte de conhecimento, como possvel conhecer (e reco-
nhecer) a histria e (d)o Direito dos outros?
A verdade que no se pode conhecer quando fixamo-nos nos termos cientfico-
jurdico-positivista, pois no possvel racionalizar o Direito sem que este seja expresso
de forma escrita, sem que seja imposto hierarquicamente por um poder poltico centrali-
zador, sem que a observncia da norma seja determinada por uma coao/sano; como
o no Direito Estatal Positivo.
No h mtodo em se analisar isto; decorrendo que da no haja cientificidade
e, portanto, no interesse cincia do Direito. Os juristas saem treinados a pensarem e
construrem to somente o Direito Estatal positivado, prprio da cultura que os informou
(e formou); por isso que evidente a dificuldade em pesquisar e compreender um outro
Direito, uma outra racionalidade jurdica aqum da nica forma de ler a realidade.
E o que se projeta disto so meras tipificaes de prticas culturais distintas ao Di-
reito positivado. Comum so pesquisas que intentem configurar prticas como expresso
de Direito Civil, de Direito Penal, de Direito Comercial, sem que, em realidade, fossem
equiparveis. Esquecem-se de que a cultura humana; o direito. As culturas humanas; os
direitos40 e que o Direito Estatal positivo se refere a to somente um produto da socie-
dade ao qual pertence, expresso do pensamento dominante.
Concluses
Referncias
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DILOGO INTERCULTURAL NO
NOVO CONSTITUCIONALISMO LATINO-AMERICANO
Flvia do Amaral Vieira1*
Introduo
Este artigo resulta da busca por uma anlise crtica do cenrio poltico e jurdico das resis-
tncias e transformaes paradigmticas que vem se construindo nas ltimas dcadas em
alguns pases da Amrica Latina, no chamado novo constitucionalismo latino america-
no, referente aos processos constituintes da Venezuela (1999), Equador (2008) e Bolvia
(2009), com relao aplicao do princpio da interculturalidade.
Reconhece-se que trataremos de processos que ainda esto em curso, com pouco
tempo histrico e com diferentes contextos de rupturas em cada Estado. Ante a comple-
xidade do tema, prope-se assim a construo de um panorama introdutrio dessas cartas
polticas, explorando o conceito da interculturalidade, para averiguar se tal como est
posto pelas constituies funcional ao sistema dominante, ou se permanece concebida
como projeto poltico, social, epistmico e tico de transformao e decolonialidade.
Nesse sentido, Damasio explica que no mundo ocidental, historicamente, por in-
termdio de instituies como as universidades, o ensino obrigatrio, os museus e outras
organizaes, alguns modos de cultura foram consagrados e reproduzidos, assim como
exportados para os territrios coloniais, reproduzindo nesses contextos concepes que
so definidas como eurocntricas, por fazerem referncia e valorizarem o conhecimento
produzido na Europa em detrimento de outras formas de saber2.
Como colnia europeia, na Amrica Latina esse processo de afirmao da cultura
eurocntrica muito acentuado, tornando-se evidente em padres de poder hierarquiza-
dos de dominao e explorao, que se desenvolvem em conceitos como a colonialidade
do poder, do ser e do saber, num contexto de represso e excluso do ser, saber e poder
dos povos indgenas, negros e outros oprimidos, e valorizao do que ou ou descende
do europeu.
No perodo ps-colonial e com os processos de globalizao, foi criado o termo
multiculturalismo para descrever a diversidade cultural nos Estados do hemisfrio Norte;
para lidar com a situao resultante da chegada de imigrantes vindos do Sul no espao
europeu, da falta de fronteiras internas, da diversidade tnica e da afirmao identitria das
minorias nos EUA, entre outros fatores3.
No entanto, com a emergncia do neoliberalismo, o resultado foi a incorporao
do multiculturalismo s politicas culturais neoliberais, que constitui estratgia prpria da
globalizao, da converso relativa dos cidados em consumidores.
Assim, o multiculturalismo geralmente um termo ligado a ideais liberais. Para
Borrero, atravs dele se exprime a ideia de que os direitos tnicos no s so consistentes
com o Estado liberal e democrtico de direito, como que um correlato necessrio quan-
do presentes algumas caractersticas populacionais4.
Nessa linha, os estados afirmam proceder baixo ao imprio do que chama de
omisso bem intencionada, pela qual o Estado no protege nenhuma cultura em par-
ticular, mas reage quando se discrimina alguma em especial. Borrero ressalta que tal ale-
gao no condiz com a verdade, uma vez que o Estado sempre faz opes culturais, o
que reflete na administrao publica (lngua, escolha de dias para feriados, sistemas de
educao e sade, etc.)5.
A crtica que se faz ao multiculturalismo que ele designa uma estratgia poltica
que mantem a assimetria do poder entre as culturas, ao no colocar em xeque o marco
estabelecido pela cultura hegemnica. Sendo assim, o respeito e a tolerncia, to difun-
didos pela retrica do multiculturalismo, esto fortemente limitados por uma ideologia
semicolonialista que consagra a cultura ocidental como cultura dominante.
Afirma-se que a partir dos projetos multiculturais os povos so reconhecidos ape-
nas enquanto subordinados hegemonia do Estado-nao, sua existncia coletiva e direi-
tos coletivos so reconhecidos somente enquanto forem compatveis com as noes de
soberania, direitos e, em especial, direitos de propriedade.
J o interculturalismo, como princpio orientador das polticas culturais, nasce das
propostas e reclamaes das comunidades e movimentos indgenas e afrodescendentes
andinos na Amrica latina, da luta continua entre a colonizao e a descolonizao.
Visa assim superao do horizonte da tolerncia e das diferenas culturais e a
transformao das culturas por processos de interao.
Desta forma, a interculturalidade se afirma em um pensamento ps-colonial, que
assume que a integrao tnica prpria do multiculturalismo uma estratgia de assimila-
o cultural, que esconderia um proposito homogeneizador do liberalismo. Nesse sentido,
a interculturalidade se apresenta como uma crtica ao multiculturalismo e ao liberalismo.
Alm de um princpio ideolgico, uma busca pelo resgate e pela construo de
um pensamento prprio, de quem foi mais excludo e oprimido historicamente na regio,
ou seja, os indgenas. Assim, pela construo de um projeto politico e social, cultural, t-
nico, que aponte para uma transformao que gere um outro conhecimento, uma pratica
politica outra, uma outra sociedade.
Nas palavras de Marina Almeida, inegvel que as lutas sociais com bases intercul-
turais foram as principais responsveis pela radicalizao do pensamento emancipatrio
na Amrica Latina.6 Nesse sentido, a linguagem da interculturalidade foi logo apropriada
pelo Estado, no chamado novo constitucionalismo latino-americano.
Na verdade, o que tem que ser destacado que a proposta dos movimentos andi-
nos se apresenta como projeto transformador que implica a reinveno do Estado e da
nao como pluritnico, ou plurinacional, transformaes profundas na memoria, nos
relatos e representaes do Estado, o que tem como consequncia uma redefinio do
espao cultural, que influenciou os processos constitucionais de Venezuela, Equador e
Bolvia. A interculturalidade ento supera o conceito de multiculturalidade, a lgica e a
significao de aquilo que foi pensado desde cima, que tende a sustentar os interesses
hegemnicos e manter os centros de poder.
De acordo com Wolkmer, a constituio deve ser resultado das correlaes de foras e lu-
tas sociais em um dado momento histrico de desenvolvimento da sociedade. No entanto,
6 ALMEIDA, Marina Correa. Direito insurgente latino-americano: pluralismo, sujeitos coleti-
vos e nova juridicidade no sculo XXI. In: Constitucionalismo Latino-americano: tendncias
contemporneas. Antonio Carlos Wolkmer e Milena Petters Melo (org.). Curitiba: Juru, 2013. pp.
169-190. p. 181.
236 Constitucionalismo, descolonizacin y pluralismo jurdico en Amrica Latina
Los idiomas indgenas tambin son de uso oficial para los pueblos indgenas
y deben ser respetados en todo el territorio de la Repblica, por constituir
patrimonio cultural de la Nacin y de la humanidad.
Dessa forma, verifica-se que as lnguas indgenas, ao serem concebidas como patri-
mnio e em carter subsidirio/inferior ao castelhano lngua imposta e dominadora eis
que oficiais apenas aos povos indgenas; so vistas pelo discurso oficial do Estado mais
prximas do folclrico do que como meio de comunicao vigente para a sociedade ve-
nezuelana. Isto ser objeto de estudo do prximo tpico.
Dando continuidade, a Constituio do Equador de 2008 inova ao prever juris-
dio indgena e fortalecimento do principio da interculturalidade na educao, seno
vejamos em seu artigo 28:
16 Ibid.
17 WALSH, Catherine. Interculturalidad y (de)colonialidad: Perspectivas crticas y polticas.
Ponencia preparada para el XII Congreso ARIC, Florianpolis, Brasil. 29 jun. 2009. p.2.
240 Constitucionalismo, descolonizacin y pluralismo jurdico en Amrica Latina
Concluso
Referncias
Introduo
1 Graduando do Curso de Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina. Bolsista e pesqui-
sador da rea de Pluralismo Jurdico, Direitos Humanos, Cidadania e Interculturalidade pelo grupo
Ncleo de Estudos e Prticas Emancipatrias (NEPE).
2 MEYER-PFLUG, Samantha Ribeiro; SANCHES, Samyra Hayde Dal Far-
ra Naspolini. O Paradigma Dogmtico da Cincia Jurdica nos Manuais de Ensi-
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2361>. Acesso em: 15 abr. 2014. p. 3.
245
246 Constitucionalismo, descolonizacin y pluralismo jurdico en Amrica Latina
no processo de aprendizagem (alunos e professores), e essa, por sua vez, rege-se segundo
as exigncias do mercado de trabalho. O bacharelismo (elevado prestgio dado s carreiras
profissionais jurdicas com alta remunerao e status de poder poltico) exemplo evi-
dente dessa opo, trazendo como consequncia uma desvalorizao social dos trabalhos
humanitrios, militantes e acadmicos.
Neste primeiro momento, cabe expor as bases que tradicionalmente norteiam o ensino do
direito nas universidades brasileiras. Muito mais que princpios, importante esclarecer o
paradigma dominante e os objetivos que vigoram nesse processo de ensinamento, alm da
consequncia sobre os atuais discentes e graduados.
necessrio destacar que o termo tradicional no ser usado para designar a
metodologia pedaggica aplicada nos primeiros cursos de direito do Brasil. Tal filosofia
jurdica era, como orienta Wolkmer de matriz jusracionalista e humanstica, herana das
faculdades de direito ibricas, principalmente de Coimbra.3 Tratava-se de um idealismo
erudito e meramente retrico, revelando-se [...] proclamaes abstratas, portadoras de
efeitos contraditrios, entre suas pretenses e suas realizaes.4
O ensino jurdico tradicional refere-se, portanto, ao modelo que substitui o pa-
dro ibrico. O paradigma jusnaturalista perde lugar enquanto o positivismo jurdico se
consolida como prtica e forma de ensino dominante.
2. O dogmatismo
Ferraz Junior, inspirado na teoria de Viehweg, identifica dois enfoques para o conheci-
mento: o zettico e o dogmtico. O primeiro voltado para uma investigao especulativa,
3 WOLKMER, Antonio Carlos. Sntese de uma Histria das Idias Jurdicas: da Antiguidade
Clssica Modernidade. Florianpolis: Ed. Fundao Jos Arthur Boiteux, 2006. p. 88-97.
4 Ibid., p. 90-91.
5 Ibid., p. 190.
6 Ibid., p. 191-192.
Ensino intercultural do direito: uma alternativa ao mtodo tradicional 247
onde qualquer fato ou conceito pode ser confrontado e dissecado at sua raiz. J o segun-
do parte de verdades pr-construdas (dogmas) e visa dar uma soluo de ordem prtica,
ou seja, direcionar a ao.7
O estudo dogmtico ganha importncia quando a prtica e o ensino do direito
aderem matriz filosfica do positivismo. Em realidade, o dogmatismo representa o pice
do positivismo, pois afirma que toda pesquisa e investigao jurdica deve ter como objeto
o direito escrito e positivado.
Dessa forma, nos cursos superiores de direito da atualidade, o estudo dogmti-
co predomina sobre o zettico. Como a dogmtica jurdica elegeu apenas o conjunto
normativo como objeto de estudo da Cincia do Direito, evidenciou-se desta forma a
predominncia do dogmatismo, servindo este de norte ao Ensino Jurdico, real produtor
deste paradigma.8 Assumindo a roupagem do estudo de cdigos e leis, disciplinas funda-
mentadas na instruo e formao ao direito positivo recebam maior importncia frente
s derivadas de outros saberes humanos que visam estabelecer pressupostos de discusso
(histria do direito, sociologia jurdica, antropologia do direito, filosofia do direito etc.).
Para alm da mera reproduo das frmulas abstratas, ao separar o direito dos con-
textos sociais, o ensino do direito atual dissemina uma lgica eurocntrica e monocultural
firmada sobre valores e princpios liberais. Por nascer do mesmo bero do positivismo, as
formulaes e teorias jurdicas europeias e derivadas destas prevalecem em importncia
frente s de origens diversas. Alm disso, o dogmatismo fecha os olhos dos discentes ao
pluralismo cultural, fenmenos sociais diversos e diferena de racionalidades. O forma-
lismo obstrui a viso de outras perspectivas seno a si prprio, impedindo assim a sua
superao.
5. Necessidade de mudana
Fica evidente, portanto, que preciso uma alterao na estrutura dos cursos de direito
para aproximar os estudantes dos diversos contextos da realidade. necessrio, portanto,
deslocar a cultura jurdica do seu mundo de abstraes e formalismos para que seus ope-
radores possam atuar com as demandas concretas da sociedade.
17 FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 25. ed., So Paulo: Paz e Terra, 1998. p. 58.
18 MEYER-PFLUG e SANCHES, 2013, op. cit., p. 8.
Ensino intercultural do direito: uma alternativa ao mtodo tradicional 251
Percebe-se, ento, que a tradicional forma de ensino jurdico se distancia dos pro-
blemas fticos da sociedade. Os profissionais do direito se mostram incapazes de compre-
ender os conflitos que fogem dos modelos abstratos e padronizados que so repetidos nas
salas de aulas da faculdade. Para que o direito atue como uma ferramenta emancipadora e
de transformao social, visando atender aos anseios da coletividade, preciso pensar em
modificaes no padro vigente.
Apesar das considerveis crticas, a universidade ainda se apresenta como um espa-
o de debate mais amplo e aberto quando comparada com o ambiente profissional. Alm
disso, oportuno levar o questionamento ao pblico ainda em formao intelectual, pois
so estes que comporo o corpo profissional no futuro. Mostra-se muito propcio, por-
tanto, buscar a transformao do entendimento e do uso do direito atravs da mudana
no ensino superior.
Uma vez descrito o paradigma tcnico-formal que domina no ensino do direito, revela-se
a importncia de projetar alternativas visando a construo de um modelo mais concreto,
engajado, democrtico e plural.
Nesse sentido, a interculturalidade, entendida como o espao de encontro e in-
terao entre culturas diversas, aparece como uma proposta para a pedagogia do sculo
XXI. A aplicao desse novo paradigma educacional nas escolas ao redor do mundo,
principalmente na Amrica Latina, tanto no ensino bsico e mdio quanto no superior,
crescente e os resultados que se apresentaram revelam uma verdadeira revoluo com
relao ao mtodo tradicional. Por privilegiar uma postura dialgica e aberta, o ensino
intercultural uma abordagem que se mostra em conformidade com o cenrio global de
conflitos sociais e ascenso de novos sujeitos de direito e suas necessidades, assunto esse
de alta pertinncia e importncia para o estudo jurdico.
7. Definindo interculturalidade
8. Os sujeitos da interculturalidade
A educao intercultural, do nvel bsico ao superior, deve ser orientada por princpios
democrticos e pluralistas. Sem eles, o projeto pode facilmente ser convertido para sua
modalidade acrtica e conservadora, impedindo a real transformao pedaggica que se
pretende.
[...] prope buscar a universalidade desligada da figura da unidade. [...] Por esta
razo, a filosofia intercultural procura, neste nvel, contribuir para refazer a
idia [sic] da universalidade no sentido de um programa regulativo [sic] centrado
no fomento da solidariedade consequente [sic] entre todos os universos que
compem nosso mundo.28
deve-se negao da condio de sujeito capaz e consciente aos povos indgenas, fruto do
preconceito que se fundava na racionalidade europeia da poca.
Iniciou-se, ento, um entrave com as agncias conservadoras e eurocntricas do
Estado pela defesa, valorizao e disseminao dos saberes e culturas ancestrais. Adotou-
se a pedagogia como ferramenta para tal transformao social, pois, como explica Cathe-
rine Walsh:
No estranho que um dos espaos centrais desta luta seja a educao, como
instituio poltica, social e cultural: o espao de construo e reproduo de
valores, atitudes e identidades e do poder histrico-hegemnico do Estado.35
Apesar da represso, esse mtodo pedaggico seguiu latente, sendo estudado na-
cionalmente margem da autorizao do regime poltico e influenciando intelectuais da
rea a nvel internacional. Aps o reestabelecimento da democracia no Brasil, o pensa-
mento de Freire pode enfim ser debatido novamente, voltando pauta das discusses
interculturais.
A abertura poltica e o consequente fim das ditaduras militares em toda Am-
rica Latina permitiu a retomada das discusses sobre pedagogia intercultural. Confor-
me Catherine Walsh (2012), sujeitos historicamente reprimidos puderam fazer-se ouvir
e reivindicaram um ensino atento suas necessidades. A partir dessa abertura poltica,
desenharam-se por toda Amrica Latina projetos denominados Educao Intercultural
Bilngue (EIB), que pretendia fornecer uma base para o dilogo atravs do ensino do
idioma oficial do Estado em comunidades indgenas.
Entretanto, o projeto EIB revelou-se em algumas ocasies como uma ferramenta
dominadora das esferas hegemnicas da sociedade, direcionada para atender as necessida-
des do capital internacional de incluso forada das culturas paralelas. [...] o intercultural,
ento, marca o relacionamento que os alunos indgenas devem buscar com a sociedade e
com a lngua dominante, e no vice-versa.39 Fica claro, assim, que a EIB depositava toda
a responsabilidade da comunicao intercultural sobre os povos perifricos enquanto no
demandava esforo algum da sociedade dita central.
Concluso
Para o curso de direito, o projeto de uma pedagogia intercultural pode significar im-
portantes mudanas. Contrapondo-se com o ensino tradicional, a interculturalidade se
desenvolve atravs da diversidade de culturas e do dilogo entre elas. Esse pluralismo pos-
sibilita ao discente uma maior compreenso dos fenmenos sociais presente no cotidiano,
deslocando-os de suas torres de marfim de elitismo intelectual e inserindo-os no mesmo
contexto dos sujeitos oprimidos.
A interculturalidade crtica pode representar, portanto, a superao do formalismo
e do positivismo jurdico. Essa troca de paradigmas possibilita o desenvolvimento de uma
concepo humanstica concreta (no meramente retrica) do direito e dos juristas e, con-
sequentemente, importantes avanos para os sujeitos historicamente marginalizados.
Espera-se, assim, que esse novo paradigma educacional cresa em importncia,
aplicao e resultados para possibilitar uma cultura jurdica mais engajada e socialmente
atuante.
Referncias
Introduccin
Para comprender la Constitucin Boliviana, hay que ubicarla dentro del marco histrico,
eso requiere recurrir a la memoria colectiva de su pueblo. Aquella que est escrita junto
a los paisajes andino-amaznicos de las naciones originarias de Bolivia. Para ello, es justo
hacer referencia a los ms de cinco siglos de guerra anticolonial, por la liberacin del
Qullasuyu3; desde las rebeliones de Manco Inca (1535-1544), Sairi Tupaj, Inca Titu Cusi
Yupanqui, Tupaj Amaru, hermanos Tomas, Damasco y Nicols Katari, Julin Apaza (Tu-
paj Katari) y Bartolina Sisa (1781), Pablo Zarate Willka, (1896-1900), Santos Marka Tula,
Apiguaiki Tumpa (1892), Leandro Nina Qhispi (1930) 4; las marchas por el territorio y la
dignidad de tierras bajas (1990), guerra del agua en Cochabamba (2000) y la guerra del
gas (2003).
Referirse a la guerra anticolonial, no es una intensin lrica o slo hacer la reme-
moracin de la histrica clsica; sino, es rescatar las significaciones profundas que estas
tienen para el presente. Pues son estas luchas y movilizaciones sociales anticoloniales que
han terminado por quebrar el sistema y el Estado colonial (en crisis), haciendo posible el
escenario constituyente. Por ello, no hay que interpretarlo ni como un hecho milenarista
ni como un hecho simplemente religioso, o un acto desesperado de nativismo, sino
como una re-actualizacin del proyecto histrico5
En este orden, lo plurinacional, es resultado de una re-actualizacin permanente
del proyecto histrico de liberacin de las naciones y pueblos indgenas, en el que la Asam-
blea Constituyente, se convierte en un escenario e instrumento formal para la restitucin y
reconstitucin de lo propio, en el marco de una nueva Constitucin. De ah que Prada
sostiene que: El Estado Nacin ha muerto, nace el Estado Plurinacional, comunitario autonmico
Cules son las condiciones, las caractersticas, la estructura, los contenidos y las formas institucionales de
este Estado? Uno de los primeros rasgos que hay que anotar es su condicin plurinacional, no en el sentido
de multiculturalismo liberal, sino en el sentido de descolonizacin, en el sentido de la emancipacin de las
naciones y pueblos indgenas originarios ()6.
Prada se refiere al sentido descolonizador, y la interrogante es: Cul es ese senti-
do? Ese sentido es el carcter propio, que emerge del pensamiento indio; cuyas significa-
ciones y sentidos yacen de las experiencias, vivencias y luchas de los pueblos y naciones
originarias, que ahora conforman lo plurinacional del Estado Boliviano. Y el prem-
bulo constitucional tiene ese horizonte: El pueblo boliviano de composicin plural, desde la pro-
fundidad de la historia, inspirado en las luchas del pasado, en la sublevacin indgena anticolonial, en la
independencia, en las luchas populares de liberacin, en las marchas indgenas, sociales y sindicales, en las
guerras del agua y de octubre, en las luchas por la tierra y territorio, y en la memoria de nuestro mrtires,
construimos un nuevo Estado7.
8 REINAGA, Fausto. Pensamiento Amutico. Bolivia: Editorial UNIDAS S.A., 1978. pp. 26.
9 REINAGA, Fausto. La Razn y el indio. La Paz: 1978b. p. 203.
10 Ibid., p. 207.
11 HORKHEIMER, Max. Crtica de la razn instrumental. Buenos Aires: Sur, 1973.
12 CORREAS, Oscar. Crtica a la ideologa jurdica. Ensayo sociosemiolgico, Mxico,
UNAM-CEIICH, Coyoacn, 2005. p. 45
266 Constitucionalismo, descolonizacin y pluralismo jurdico en Amrica Latina
19 Ibid., p. 138.
20 Ibid., p. 146.
268 Constitucionalismo, descolonizacin y pluralismo jurdico en Amrica Latina
Asimismo en el mbito del pluralismo poltico expresado en los arts. 11.II y 147 de
la Constitucin, ste termina subsumido en el art. 56 de la Ley de Rgimen Electoral (Ley
026) que dispone la creacin de siete circunscripciones especiales, que en la prctica han
sido perforadas por el sistema democrtico representativo liberal y occidental, pues en las
elecciones cada partido poltico debe contar con su candidato indgena en cada circuns-
cripcin especial, sin considerar las formas de democracia comunitaria (rotacin, turno,
sucesin, entre otras). Al contrario, bebieron ser las organizaciones ancestrales, quienes
postulen a sus candidatos sin la intermediacin de los partidos polticos, que tienen origen
netamente colonial.
Respecto al modelo de vida, del Vivir Bien o Suma Qamaa, insertada en el art. 8.II
de la CPE, tuvo sus avances parciales en la Ley 071 de Derechos de la Madre Tierra, pro-
mulgada antes del conflicto del TIPNIS, el 21 de diciembre de 2010. Sin embargo, luego
de la marcha de los pueblos indgenas de Tierras Bajas, que se opusieron a la construc-
cin de una carretera en medio del territorio del TIPNIS (Territorio Indgena y Parque
Nacional Isiboro-Secure), y a cualquier consulta previa; en el parlamento se debata el
proyecto de Ley Marco de la Madre Tierra, que sufre varias modificaciones; promulgn-
dose el 15 de octubre de 2012, la Ley 300 bajo la ttulo de Ley Marco de la Madre Tierra y
Desarrollo Integral para Vivir Bien; en la que se inserta la visin de desarrollo integral,
en cuya disposicin final nica establece su vigencia a partir de su reglamentacin, misma
que a la fecha no ha sido elaborada; y, en ese transcurso se promulga la Ley Minera, la Ley
de Consulta, entre otras que no estn en el marco de la Ley de la Madre Tierra, dejando
esta norma y el paradigma del Vivir Bien en la simple retrica.
Por otra parte, la descolonizacin hoy se encuentra reducida a un Viceministerio
que depende del Ministerio de Culturas, que flokloriza y deja el discurso descoloniza-
dor en ridculo. Slo se introdujo en la denominacin de los Ministerios y los cargos
el trmino Plurinacional como complementacin. Sin embargo, todas las iniciativas
descolonizadoras, son aplacadas y reprimidas. Por ejemplo, los cuatro sub oficiales de la
FFAA, que impulsaron la descolonizacin para acabar con la discriminacin y racismo,
han terminado destituidos y encarcelados. Finalmente, el juicio poltico instaurado contra
los magistrados indgenas Gualberto Cusi Mamani y Soraida Chanz Chire que junto a
Ligia Velsquez Castaos, fueron electos por el voto popular, que dicho sea de paso uno
de ellos (Cusi), por vez primera impulsa la creacin de la Unidad de Descolonizacin,
en el Tribunal Constitucional; y plantea la descolonizacin de los abogados. Estos tres
magistrados, que pretendieron actuar en el marco del principio de la independencia de los
rganos del Estado, hoy afrontan un juicio poltico en la Asamblea Legislativa Plurina-
cional, que los suspendi de sus funciones y busca destituirlos de sus cargos, dejando
con ello en suspenso el proyecto descolonizador de la justicia y la composicin plural del
Tribunal Constitucional.
De esta forma el poder constituido que tiene por misin consolidar el Estado
Plurinacional, hoy nos entrega leyes, decretos y prcticas polticas orientadas al reordena-
Lo plurinacional como reto histrico 271
miento del Estado colonial envueltas bajo el falso discurso romntico descolonizador y
plurinacional, vaciando estos trminos de su contenido histrico y liberador.
5. Conclusiones
A manera de conclusin, en este intento por describir y analizar la situacin actual que
vive el Estado Plurinacional de Bolivia; es preciso diferenciar dos factores opuestos
sobre los cuales se debate la transicin en nuestro Pas.
Un primer factor, es la herencia colonial. Esta herencia an se refleja en las for-
mas de administracin de los rganos del Estado. Es lgico que para los herederos de
la colonia, esta forma de administracin, vendada y ciega, a la historia, a la realidad y
sometida a las leyes positivas y formalistas, no les es conveniente trastocar y desarrollar
normas, en concordancia con la Constitucin. Al respecto, Walter Benjamin afirma:
cuando se pregunta con quin se compenetra el historiador historicista. La respuesta suena inevitable: con
el vencedor. Pero los amos eventuales son los herederos de todos aquellos que han vencido. Por consiguiente
la compenetracin con el vencedor resulta cada vez ms ventajosa para el amo del momento23. Lo que
quiere decir, que los coloniales, siempre buscan al vencedor para que las viejas prcticas,
pervivan y con ella se re-articule el viejo Estado colonial. Nos referimos a la colonialidad
objetivada y subjetivada que, an subsiste y frena cualquier proyecto descolonizador. En
este marco, romper con la formalidad de los procedimientos y la jerarquizacin,
creada entre las autoridades y jurisdicciones. Todo ello impide la consolidacin de los
cambios constitucionales.
Otro factor opuesto y antagnico al anterior, tiene origen en el estancamiento
regresivo de los procesos de trasformaciones y cambios que se haban propuesto en la
Asamblea Constituyente (AC). Existe una crisis del proceso. Esta crisis se ha ahondado
con las medidas legislativas, ejecutivas y judiciales, que en vez de cambiar y trastocar las
estructuras del viejo Estado e implementar la nueva Constitucin Poltica del Estado, han
retrocedido y han terminado manteniendo las viejas estructuras coloniales, permitiendo el
reordenamiento del sistema colonial. Entonces Cul es el elemento principal que permite
el reordenamiento del Estado Colonial? Es en definitiva la neocolonizacin, y ste se
encubre con el falso discurso anticolonial. Nos referimos a los pluralismos aparentes, y
las descolonizaciones retricas que se vienen repitiendo en los ltimos tiempos.
Qu significan los pluralismos aparentes?, nos referimos a la manera cmo las
estructuras coloniales, para continuar vigentes, se agazapan, disfrazan y se encubren,
bajo discursos de un pluralismo que en el fondo continan anclados en el multicultu-
ralismo liberal. A nuestro entender la descolonizacin y el pluralismo no logran superar
el multiculturalismo liberal, y eso es neocolonialismo; pues no cuestiona, no trastoca
ni desestructura las relaciones desiguales, asimtricas y de sometimiento a las naciones y
pueblos indgenas. Esta forma de transicin, supone ms bien reacomodos del antiguo
Estado -Nacin colonial, y va deslegitimando la voluntad del constituyente, y traicionado
la lucha anticolonial de ms de 500 aos.
Que no se haga efectiva ni se intente poner el cimiento al proyecto del Estado
Plurinacional, no significa que la causa de la crisis sea la ausencia de propuestas descolo-
nizadoras o que la vieja ni la nueva derecha liberal lo haya impedido, sino por el contrario
la causa de la crisis es la incorporacin del viejo sistema en el proyecto del Estado Pluri-
nacional. Por ello, estamos estancados, en la fase del trnsito, de lo viejo a lo nuevo, de lo
ajeno a lo propio. Este escenario, sin embargo, tiene an la posibilidad de reconducirse,
para que verdaderamente se inicie con la consolidacin de un Estado Plurinacional.
Esta reconduccin sin duda, debe emerger, nuevamente desde las entraas de las naciones
y pueblos indios.
Referencias
Introduccin
El presente trabajo aborda una serie de conceptos sobre la identidad cultural y el Estado
nacional que vienen cobrando particular relevancia en la vida poltica de los pases latinoa-
mericanos frente a una crisis profunda del sistema econmico imperante y de los sistemas
polticos como garantes del bienestar de las mayoras. Me refiero a conceptos nuevos que
sin embargo buscan dar acomodo a viejas realidades y pasan de las ciencias sociales al
Derecho como intento de ste por recuperar su capacidad ordenadora de una realidad que
ha desbordado su cauce.
Dividir el texto en 3 partes. Una primera que se refiere a los aspectos sociohist-
ricos que nos permiten entender el surgimiento del Estado nacional europeo como una
construccin cultural identificable histricamente. En un segundo momento me referir a
cmo llega a nuestra Amrica el concepto de Estado nacional y se busca implantar como
bsqueda de una nacin integrada donde los indios representan el problema principal,
as como una descripcin de los fracasados intentos por eliminar la diversidad cultural
de nuestro entorno poltico y jurdico. En tercer lugar mostrar porqu es de vital impor-
tancia encontrar diseos institucionales que respondan de mejor manera a la situacin
histrica y el grave momento de transformaciones por las que atraviesan los pases lati-
noamericanos.
1 Profesor investigador CIESAS - Unidad Pacfico Sur. Maestro y Doctor en Antropologa Social
por el CIESAS. Licenciado en Derecho por la UNAM. Miembro de RELAJU, PRUJULA y del
sistema Nacional de Investigadores en Mxico. Autor del libro: La Nueva Justicia Tradicional.
Oaxaca: 2011.
273
274 Constitucionalismo, descolonizacin y pluralismo jurdico en Amrica Latina
traiciones y sometimientos2. Para los pases de America Latina las nociones de Estado
moderno llegan en momentos de insurgencia y a unos sirve para pensar un destino eman-
cipatorio y desligado de sus metrpolis y a otros como una forma de mantener el control
social y estamental que vena funcionando en estos pases coloniales y perifricos. As,
desde el nacimiento de las repblicas latinoamericanas en el siglo XIX, la idea del estado
nacional que se vena configurando en Europa y los Estados Unidos, se arraiga a nuestra
tradicin poltica pero penetra ms como discurso retrico, a veces simulador y a veces
proyectivo, que como andamiaje normativo eficaz y capaz de estructurar pensamientos y
modelar conductas concretas. El Estado moderno esta presente en la palabra y ausente
en los hechos, es un Estado de instituciones siempre precarias o coludidas frente al poder
fctico y de ciudadanos imaginados3.
Para entender porqu el Estado-nacin ha permanecido como proyecto inconclu-
so en Amrica Latina, es importante hacer referencia a algunos elementos de contexto
sin las cules no se puede entender la vida econmica social y poltica europea en esa
poca; una es la reforma protestante iniciada en el siglo XVI, cuando ya Amrica se estaba
convirtiendo en el alter ego de Europa (sea como el atrasado sin alma o el buen salvaje).
La otra, es el surgimiento en de la revolucin industrial en la segunda mitad del siglo
XVII, proceso en buena medida, financiado con las enormes riquezas que Europa llev
desde Amrica4. Comprender ambos fenmenos en su contexto nos permite entender
porqu el Estado moderno ms que una receta para la organizacin de mundo como a la
postre result, era una salida histrica a desafos concretos de ese momento y esa realidad
especfica, Europa y su Estado-nacin no era, ni es una salida repetible para el resto de
mundo y el intento de ser como ellos5 ha sido un acto suicida de la humanidad, que
lamentablemente incluso vienen repitiendo los gobierno de izquierda en Amrica del Sur,
a pesar de que histricamente se han mostrado las desventajas estructurales de los pases
perifricos para acceder a un modelo de desarrollo basado en una generacin de bienes
industriales y un consumo extendido de los mismos6.
2Cf. ANDERSON, Benedict. Comunidades imaginadas. Reflexiones sobre el origen y la difu-
sin del nacionalismo. Mxico: Fondo de Cultura Econmica, 1993; GELLNER, Ernest. Nacio-
nes y nacionalismo. Madrid: Alianza, 2003 e FOUCAULT, Michel. Vigilar y castigar. Madrid:
Siglo XXI Editores. 1986.
3 ESCALANTE GONZALBO, Fernando. Ciudadanos imaginarios. Memorial de los afanes y
desventuras de la virtud y apologa del vicio triunfante en la Repblica mexicana: tratado de moral
pblica. Mxico: El Colegio de Mxico, 1992; CAPELLA, Juan Ramn. Los ciudadanos siervos.
Madrid: Trotta, 1993.
4 DUSSEL, Enrique. 1492: El encubrimiento del Otro. Hacia el origen del mito de la Moder-
nidad. Mxico: Alianza, 1992; GALEANO, Eduardo. Las venas abiertas de Amricas Latina.
Mxico: Siglo Veintiuno de Mxico Editores, 1971;
5 GALEANO, Eduardo. Ser como ellos y otros artculos. Espaa: Siglo Veintiuno de Espaa
Editores, 1992.
6 CARDOSO, Fernando H.; FALETTO, Enzo. Dependencia y desarrollo en Amrica La-
tina. Mxico: Siglo XXI, 1969; COMISIN ECONMICA PARA AMRICA LATINA Y EL
Pluralismo jurdico y neoconstitucionalismo latinoamericano 275
La creacin del Estado moderno no se explica sin la sangrienta ruptura que signifi-
c la reforma protestante. El desgaste generado por la violenta disputa entre los prncipes
germnicos y la iglesia catlica por el control econmico y poltico de las masas campe-
sinas y lo procesos econmicos regionales crea la necesidad de una separacin entre el
poder poltico-terrenal y el -espiritual de la Iglesia, con ello, la necesidad de un discurso
racional, no-religioso7 que cohesione bastos territorios caracterizado por su fragmenta-
cin a partir de tradiciones, lenguas y costumbres heterogneas, pero con una lealtad
compartida la papa de Roma y a la religin catlica. Tras este quiebre se vuelve necesario
un acuerdo que detenga el bao de sangre y una nueva doctrina que legitime el poder pol-
tico al margen del discurso religioso y cohesione la sociedad en torno a un poder terrenal.
Como podemos ver, sta situacin particularsima de una sociedad rota en sus principios
fundamentales prefigura el invento del Estado-moderno.
Sin la Iglesia catlica como referente de cohesin tributaria y de generacin valo-
res, es decir sin la comunidad que provee los referentes axiolgicos que dan coherencia
e identidad a esas sociedades, los grupos dominantes vislumbran una prdida de control
social, econmico y poltico frente a un pluralismo religioso que se suma al ya de por s
fragmentado panorama cultural europeo. As, se empieza a buscar el fundamento de una
nueva comunidad que de cuerpo a los diversos grupos coexistentes dentro de un territo-
rio continuo. As se crea una figura capaz de dominar, primero por la fuerza, a todas esas
pequeas comunidades fragmentadas y despus preverlas de referentes simblicos que
permitan a todos los habitantes de esos territorios inventar una nueva identidad8.
Durante los siguientes 200 aos Europa vive profundas transformaciones particu-
larmente basadas en un crecimiento econmico inusitado debido en parte los minerales,
productos agrcolas y mano de obra esclava proveniente de las colonias americanas, junto
con un gran despegue de la ciencia, la maquinizacin de los sistemas productivos y su
respectivo excedente, importantes migraciones del campo a la ciudad, disminucin de
epidemias, as como un aumento en la definicin y el control de las fronteras correspon-
dientes al territorio de un soberano. Para la mitad del siglo VXIII, importantes pensado-
res haban construido las nociones tericas del Estado moderno, Hobbes, Rousseau y
Voltaire, entre los ms destacados como forma de crear un nuevo orden. A partir de la
paulatina apropiacin del poder econmico por parte de la burguesa, sta disputar a las
monarquas el control poltico de las grandes y desordenadas masas que haban migrado
de contextos rurales a centros urbanos. Los individuos que haban roto las viejas lealtades
colectivas feudales comienzan a creer en una comunidad imaginada por la burguesa y
los pensadores llamada nacin; una comunidad que habla el mismo idioma, comparte la
misma historia, los mismos valores y se subordina al mismo poder poltico racional lla-
CARIBE (CEPAL). Cincuenta aos del pensamiento de la CEPAL. Chile: FCE, 1998.
7 KANT, Immanuel. Fundamentacin de la metafsica de las costumbres. Traduccin de
Manuel Garca Morente. 6 ed. Madrid, Espasa-Calpe, 1980.
8 GELLNER, 2003, op. cit.
276 Constitucionalismo, descolonizacin y pluralismo jurdico en Amrica Latina
mado Estado y que segn la ficcin nace de la soberana y la voluntad de todos los que
conforman la nacin9.
Existen 3 medios fundamentales a travs de los cul las nuevas clases dominantes
crean la idea de nacin compartida y la no menos inventada idea de que a cada nacin
imaginada corresponde un Estado. El primero es el sistema educativo que manejado
o definido desde el Estado extiende en la poblacin el uso de un idioma comn, la for-
macin de individuos y la incorporacin en su imaginario de los mitos y valores sobre el
surgimiento del Estado propio a partir de la historia comn ancestral o bien la idea del
futuro comn, de irremisible superacin de todo atavismo, un futuro de desarrollo, paz,
civilizacin y ciencia a que nos conducira el Estado. Todo esto genera una consecuente
lealtad a la nueva comunidad nacional y a sus autoridades: el Estado moderno.
El Estado crea constituciones, leyes, procedimientos, instituciones y autoridades
que encarnan el orden que permitir organizar a la comunidad milenaria o bien que per-
mitir alcanzar ese futuro de esplendor. El segundo medio fundamental para construir la
nacin es el sistema de leyes, los postulados legtimos, creados por la autoridad de todos
que obligan, permiten o prohben conductas y constituyen a las autoridades que atrapan y
juzgan al infractor. La escuela indoctrina y convence, la justicia obliga y castiga al no con-
vencido, doblega al disidente y legitima el poder nico, la violencia legtima del Estado.
El tercer medio fundamental que la burguesa utiliza para construir la nacin es
el Mercado. El Estado crea las libertades de producir, transportar, vender y comprar y
define las fronteras donde este sistema de intercambio ser controlado por las reglas y las
monedas del propio Estado, as se establecen los delitos de contrabando, los aranceles y
el control de todo tipo de intercambio comercial, particularmente aqul desarrollado ms
all de las fronteras propias. El Mercado le da a la comunidad imaginaria gustos comparti-
dos dentro de todo un territorio, hbitos, modelos de trabajo y contratacin, reglas de in-
tercambio, los productos de la nacin, las comidas de la nacin, los artistas de la nacin,
los hroes de la nacin aparecen en las monedas y los billetes que todos intercambian.
El Mercado estandariza hbitos, gustos, conocimientos y ah donde un producto, una
msica o una comida fue caracterstico de una religin, de una de las mltiples culturas
extendidas en el territorio se convierte en producto, msica o comida de toda la nacin y
paulatinamente aquello que no logra producto nacional tiende a desaparecer.
En los albores del siglo XIX, cuando todos estos procesos se consolidan en Europa, las
colonias espaolas y ms tarde las portuguesas en Amrica (lo que a la postre se definira
como Amrica Latina) tambin viven procesos de cambio, pero cambios muy distintos y
mucho menos extendidos que los suscitados en Europa. En Amrica no hubo reforma
protestante porque ms o menos todas las colonias de Espaa y Portugal, cuyas coronas
fueron los grandes defensoras del catolicismo, siguieron compartiendo un patrn religio-
so. Menos an hubo una revolucin industrial en la poca, aunque pronto los pobladores
del nuevo mundo se convirtieron en consumidores preferidos de los productos ma-
nofacturados en el primer mundo, as como exportadores preferidos a partir de empre-
sas fundadas en su mayora con capital extranjero- de materias primas para la elaboracin
de los mismos.10
No obstante las ostensibles diferencias histricas, los pensadores y los prceres
latinoamericanos son seducidos por la idea del Estado-nacional como figura poltica para
independizarse de las metrpolis. Para algunos el Estado-nacional representaba el ideario
emancipador de la igualdad y la superacin de los atavismos culturales, para otros fue una
forma de similar una igualdad inexistente que permitira mantener la dominacin y el co-
lonialismo interno que caracteriz las sociedades estamentales latinoamericanas11.
No obstante la construccin formal de los Estados nacionales en Amrica Latina,
en la prctica, durante todo el siglo XIX, ni se cre un sistema educativo abarcante con
lo que no se abolieron las lenguas, las tradiciones y las culturas particulares, tampoco se
extendi el sistema de leyes, con lo que la gente sigui ligada a sus propias formas tradi-
ciones y costumbres, ni se extendi un Mercado nacional con lo que la gente siguo en re-
laciones de vasallaje, produccin agrcola no industrial y sigui consumiendo sus propios
productos artesanales, sus propias comidas, sus propias expresiones culturales, salvo en
los centros urbanos que intensificaron su filiacin a los mercados del primer mundo y con
ello profundizaron las diferencias dentro de los Estados latinoamericanos y convirtieron
a los enclaves aculturados de las nacientes naciones en la vanguardia civilizatoria del
Estado.
Los pases latinoamericanos copian la receta sin tener la enfermedad. As, durante
todo el siglo XIX y en buena medida hasta los albores del siglo XXI, la nocin de Estado
nacional es para algunos proyecto integrador y para otros simulacin de un estado de
leyes. Aunque ningn pas de mundo ha logrado del todo suprimir su diversidad cultural
interna, es menester afirmar que los pases de Europa central logran con mayor eficacia la
construccin de la nacin integrada, el Estado genera una cultura nacional y aunque haya
diferencias, en trminos generales se logra la formacin de ciertos patrones que el grueso
de su poblacin comparte.
Si Europa construye la alteridad de su Estado civilizado alteridad desplazando a los
pueblos brbaros de su continente a los otros, en Amrica Latina el tema de la diver-
sidad se encarna en el otro interno, el obstculo para construir la nacin, el epitome del
atraso versus la civilizacin: el Indio.
A lo largo del siglo XIX uno de los retos fundamentales para construir la nacin
fue el qu hacer con los indios, que en muchos pases representaban a la mayor parte de
la poblacin y qu elementos de la diversidad de estos pases podran ser ocupados para la
construccin de la identidad nacional. Los pensadores y los estadistas se plantean los retos
de la identidad cultural y poltica de Amrica Latina en obras como Facundo, civilizacin
o barbarie de Faustino Domingo Sarmiento, Ariel de Jos Enrique Rod, Los grandes
problemas nacionales de Andrs Molina Enrquez, entre otros. Uno de los grandes temas
es cmo hacer que los indios dejen de serlo, desde el exterminio hasta la integracin, la
pregunta es cmo eliminar este molesto ingrediente en pos de la construccin del Estado
nacional.
As surgen polticas de confiscacin de tierras indgenas, de integracin cultural, de
castellanizacin forzada, despus de educacin bilinge, programas de asistencia social,
desarrollismo etc. todas polticas tendientes a que los indios dejen de serlo y permitan la
construccin de la nacin integrada.
Durante el siglo XX las polticas educativas y la extensin de Mercado a los territo-
rios indgenas se vuelve ms agresiva, surgen las teoras de la aculturacin y las polticas in-
tegracionistas, surgen los procesos de reforma agraria y campesinizacin de los indios. Sin
embargo la meta esperada de desaparecer la diversidad no lleg y hacia finales del siglos
XX el movimiento indgena contemporneo12 surge con gran fuerza para objetar los
propsitos integracionistas, demandar su derechos de permanecer como culturas diferen-
ciadas y el reconocimiento de derechos particulares que les permitan esta supervivencia.
En los albores del siglo XXI constatamos que el proyecto del Estado nacional ho-
mogneo sigue tener xito. Los indgenas han estado ah, siguen estando, siguen forman-
do unidades socioculturales, siguen manteniendo sus propios vnculos histricos, siguen
manteniendo sus lenguas, tradiciones y en muchos casos diversas expresiones del Estado
siguen siendo algo lejano, ajeno, algo de lo que hay que cuidarse.
Aunque cada nacin del sub-continente ha tenido sus particularidades y procesos
republicanos divergentes, grosso modo encontramos semejanzas en la constitucin de sus
Estados. De igual manera, en mayor o menos medida, la revisin histrica de finales del
siglo XX y principios del siglo XXI, muestra la crisis del Estado que se expresa en nuevas
constituciones o profundas reformas a las ya existentes. En stas nuevas constituciones es
ostensible la renuncia al proyecto de nacin homognea y un mayor o menos reconoci-
miento al tema de la diversidad sin que ste sea an claramente implementado en ningn
pas, pues particularmente choca con un proceso paralelo de exacerbada explotacin de
los recursos naturales para sustentar un caduco modelo de desarrollo, mismo que pro-
bablemente ser frenado por una crisis ambiental de grades dimensiones que ya se viene
avizorando13.
Ahora bien, en este contexto diversos movimientos indgenas, particularmente de
la region andina, han comenzado a manifestar su desacuerdo con el modelo de Estado
nacional dominante. En un principio los movimientos indgenas retoman demandas de
caracter social como tierra, trabajo, salud y educacin, sin embargo en el proceso de lu-
cha muchos lderes e intelectuales se preguntan llegan a un cuestionamiento del modelo
hegemnico y reconocen en la autonoma indgena una alternativa a la integracin y a las
prcticas depredadoras de desarrollo (Ver declaraciones I, II y III de Barbados).
Adems de importantes cambios legislativos, de mayor o menor envergadura en el
marco normativo de prcticamente todos los pases latinoamericanos, el movimiento in-
dgena contemporneo ha ganado un espacio en el Foro Permanente para las cuestiones
indgenas de Naciones Unidas y diversos espacios de encuentro y discusin a los largo
del Continente. Han sido un factor real de poder poltico en Ecuador, Nicaragua y Bolivia
y su manifestacin ha sido altamente significativa en la definicin de polticas pblicas en
Mxico, Guatemala, Colombia, Surinam y Chile.
Este indigenismo contemporneo busca por un lado aumentar la participacin
y visibilidad poltica de los indgenas dentro del Estado, mismo que debe ser redefinido
como Estado multicultural, pero tambin luchan por autonoma poltica que implica to-
mar sus propias decisiones a travs de instituciones, normatividad y procedimientos pro-
pios y por ende una redefinicin del concepto clsico de Estado nacional.14
Por otra lado, a partir del llamado proceso de globalizacin, los Estados nacionales
pierden funciones, particularmente en lo referente al control local de la economa para
articularse a un mercado internacional, al tiempo que surgen movimientos para hacer
frente a nuevos modelos globales de explotacin15 y pierden paulatinamente el monopo-
lio ideolgico de sus connacionales por la accin de las redes sociales, los movimientos
13 CAMPBELL, Kurt M.; GULLEDGE, Jay; McNEILL, J.R.; PODESTA, John; OGDEN, Pe-
ter; FUERTH, Leon; WOOLSEY, R. James; LENNON, Alexander T.J.; SMITH, Juliann; WEITZ,
Richard; MIX, Derek. The Age of Consequences: Policy and National Security. Implications of
global climate chang. Washington D.C.:Center for Strategic & International Studies and Center for
a New American Security, 2007; OLABE, Antxn; GONZLEZ, Mikel. Cambio Climtico, una
amenaza para la seguridad global.Politica Exterior,N. 124, Julio/ Agosto, 2008; SCHOIJET,
Mauricio.Lmites del Crecimiento y Cambio Climtico.Mxico, DF: Siglo XXI, 2008.
14 SANTOS, Boaventura de Sousa. Ms all de la gobernanza neoliberal: el Foro Social Mundial
como legalidad y poltica cosmopolita subalternas. In: SANTOS, Boaventura de Sousa; RODR-
GUEZ GARAVITO, Cesar A. (editores). El derecho y la globalizacin desde abajo. Hacia una
legalidad cosmopolita. Mxico: UAM, Anthropos, 2007.
15 RODRIGUEZ GARAVITO, Csar A. La ley de Nike: el movimiento antimaquila, las empre-
sas transnacionales y la lucha por los derechos laborales en las Amricas. In: SANTOS, Boaventura
de Sousa; RODRGUEZ GARAVITO, Cesar A. (editores). El derecho y la globalizacin desde
abajo. Hacia una legalidad cosmopolita. Mxico: UAM, Anthropos, 2007.
280 Constitucionalismo, descolonizacin y pluralismo jurdico en Amrica Latina
El derecho en el siglo XXI redefine el papel del Estado tanto frente a la comunidad
internacional, como a sus difusas sociedades nacionales. En este contexto, la nocin del
derecho monista hace agua hacia lo arriba derecho internacional-, como hacia abajo de-
rechos subalternos-. Sistemas jurdicos supranacionales y subnacionales que se tocan en
giros inesperados desafiando las hegemonas tradicionales y las certezas del derecho que
controla el mbito nacional.18
La triloga: un pueblo, un Estado, un Derecho, entra en una profunda crisis que de-
safa las certezas de la concepcin clsica del Estado y la hegemona de las clases polticas
tradicionales. No obstante, los juristas, guardianes del orden establecido por el derecho en
crisis, resisten los cambios y se atrincheran en nociones formalistas.
El formalismo jurdico defiende la supuesta separacin del razonamiento jurdico
que es la supuesta aplicacin mecnica del derecho a los hechos concretos obviando todo
tipo de consideracin social, cultural o poltica. Esta creencia de muchos juristas, particu-
larmente insertos en la funcin pblica supone que el proceso de produccin normativa
es exclusiva del Estado y se abstrae de todo tipo de consideracin contextual. Por lgica,
el campo de la ley puede ser visto como ms o menos cerrado y el sistema normativo es
algo tangible a travs de la ley escrita19. As, la lgica formal supone un funcionamiento
lgico aristotlico que parte de la definicin de conjuntos cerrados de condiciones nece-
sarias y suficientes que pueden excluir otras condiciones reales que en teora quedan fuera
de la abstraccin jurdica. Por ende, esta concepcin es muy precaria en sociedades que
como hemos visto se distinguen por su falta de homogeneidad y cohesin.
El positivismo jurdico es particularmente poderoso por su funcionalidad, crea
una ilusin de certeza jurdica que en teora permite a todos saber qu es lo debido, lo
permitido y lo prohibido. El fenmeno de la ilegalidad en Amrica latina, sin embargo,
muestra lo contrario y hace evidentemente el escaso conocimiento de sus contenidos
base el respeto a la libre determinacin de los pueblos indgenas dentro de los estados
latinoamericanos contemporneos y reglas claras de coordinacin entre los mltiples sis-
temas normativos que componen el panorama jurdico de estos pases. Es importante
recalcar que la primera fuente de derecho positivo de este nuevo paradigma en ciernes,
es el Convenio 169 de la OIT, ratificado por la mayora de los pases de la regin, y tiene
un importante avance en la Declaracin de naciones Unidas sobre los Derechos de los
Pueblos Indgenas aprobada por la Asamblea General de la ONU en 2007.
El derecho de libre determinacin no puede ser un enunciado constitucional vaco
de contenidos. Tal como los Estados soberanos gozan de dicha atribucin y ello les per-
mite ser la fuente de legitimidad del gobierno constituido, los pueblos indgenas gozan
de tal prerrogativa, pero la ejercen en el marco de la soberana de los Estados, en muchos
casos como autonoma, y a semejanza de los Estados federales conceden mrgenes de ac-
tuacin que no estn exclusivamente reservados al Estado nacional, lo que permite mayor
eficiencia y racionalidad en el ejercicio del gobierno, es decir una mayor gobernanza de
los territorios.
Por supuesto que no se trata de una claudicacin del Estado en territorios indge-
nas, sino una coordinacin donde el Estado sigue hacindose cargo de tareas especficas,
mantenga ciertas competencias, pero descentralice las mayores funciones posibles en las
autonomas.
Quiz el mayor problema asociado al reconocimiento de las autonomas est en
el modelo de desarrollo del que dependen los Estados latinoamericanos tan ligados a las
industrias extractivas y explotacin de recursos naturales. Incluso en pases como Bolivia
y Ecuador existe una enrome contradiccin entre el modelo pluralista planteando en sus
constituciones y las necesidades extractivas de sus gobiernos para sustentar su propia
hegemona. Amparados en la necesidad de construir poder poltico frente a las Viejas
oligarquas, en muchos momentos estos gobiernos de izquierda han dado la espalda a los
derechos colectivos de sus pueblos en aras de proteger las inversiones y los intereses del
gran capital sobre territorios comunales. Por supuesto ste es tambin un problema de
otros gobiernos, pero en stos la contradiccin es menos evidente.
En sntesis, podemos ver que el nuevo paradigma pluralista ha venido avanzando
como forma de reconocimiento jurdico en las constituciones latinoamericanas y los ins-
trumentos internacionales. ste pluralismo reconoce el derecho de libre determinacin
de los pueblos indgenas y hace de la Constitucin un techo que alberga tanto las ex-
presiones jurdicas de los pueblos indgenas y las comunidades locales, como las de las
instituciones formales ordinarias del Estado, crea mecanismos legales de coordinacin
de competencias y jurisdicciones y permite una relacin de igualdad entre los sistemas
que coexisten en un territorio teniendo como lmites los derechos humanos reconocidos
internacionalmente.
No obstante, la implementacin tiene serios problemas tanto por las persistentes
objeciones positivistas, los cambios socio culturales que atraviesan las comunidades ind-
Pluralismo jurdico y neoconstitucionalismo latinoamericano 283
genas y los proyectos econmicos que impulsan los Estados y que particularmente favo-
recen el extractivismo y macro-alternativas de desarrollo que por momentos se vuelven
incompatibles con el medio ambiente, la autonoma indgena y el desarrollo local.
Conclusiones
24 FITZPATRICK, Peter. La mitologa del derecho moderno. Mxico: Siglo XXI Editores,
1998.
25 MARTINEZ, Juan Carlos. Derechos indgenas en los juzgados: un anlisis del campo judi-
cial oaxaqueo en la regin mixe. Mxico: INAH, 2004.
26 BOURDIEU, 2002, op. cit.
27 MARTNEZ, et. al., 2012, op. cit.
284 Constitucionalismo, descolonizacin y pluralismo jurdico en Amrica Latina
desde esa poca han sido asiduos litigantes frente al Estado28. Lo que s implica es un nue-
vo modelos de relacin con las comunidades histricamente subyugadas y nuevos princi-
pios de organizacin basados en la pluralidad y la coordinacin de sistemas que ms que
crear fronteras definen espacios interlegales29 y principios comunicativos30 para construir
acuerdos sin negar las diferencias y la diversidad.
Los jueces rurales y otros funcionarios son muy concientes de la existencia de sis-
temas normativos en las comunidades indgenas. Ellos saben que en los pueblos se aplica
justicia y de definen reglas de parentesco, propiedad, traslacin de uso o de dominio,
herencia, obligaciones pblicas etc. Ahora ya no es necesario fingir que esto no ocurre,
simplemente se debe hacer una valoracin sobre la constitucionalidad de estas reglas y su
aplicacin. El Estado debe tener tribunales constitucionales interculturales para ponderar
y definir la norma aplicable o bien un justo equilibrio entre principios opuestos en caso de
contradicciones. La argumentacin legal y la ponderacin en las sentencias tiene que ser la
clave para avanzar en este nuevo modelo.
Tenemos que superar el modelo decimonnico de civilizacin o barbarie y acep-
tar que las culturas se necesitan, todas las culturas son complementarias e incompletas
an cuando en apariencia existan grandes avances en algunas sociedades. Vivimos frente a
grandes contradicciones por los avances que ha trado un modelo civilizatorio frente a las
grandes catstrofes que ha desencadenado el mismo. Los grandes problemas que aquejan
a la humanidad contempornea son paliables slo en la medida que nos abramos a formas
distintas de vida, a partir del dilogo intercultural y en condiciones simtricas, las respues-
tas estn en otras culturas, en otras formas de plantarse frente al mundo que nos permitan
encontrar respuestas que sobre las bases econmicas y polticas actuales no tienen salida.
Es evidente que el pluralismo jurdico no es una panacea, ni un remedio milagroso,
es ms quiz est lleno de problemas que cotidianamente se irn enfrentando, sin embar-
go s representa un viraje necesario porque las formas polticas y jurdicas actuales estn
llegando a un agotamiento en exceso costoso para la humanidad. Me parece que el cami-
no es muy difcil pero de alguna manera estamos en una coyuntura histrica donde pode-
mos realmente darle una cobertura jurdica a lo que realmente hacen nuestras sociales sin
sentir vergenza por no ser como los otros. Es verdad que nuestras relaciones sociales
estn marcadas por la exclusin y la injusticia y que las formas indgenas de organizacin
social han sido parte de esta dominacin, pero tambin es cierto que mucha de esta in-
justicia viene de que los valores que tradicionalmente han sustentado estos pueblos se ha
vuelto inservibles para el mundo contemporneo. Estamos corriendo muchos riesgos
de violencia y desintegracin y se pueden buscar salidas falsas en nuevos autoritarismos,
Referencias
Introduccin
1 Profesora consulta de la UBA. Docente asociada en la Ctedra en Teora del Estado y inte-
grante del Instituto de Investigaciones Jurdicas y Sociales Ambrosio L. Gioja, de la Facultad de
Derecho de la Universidad de Buenos Aires. Vice presidenta FISYP. Miembro y investigadora de
la CLACSO.
2 As conocemos diversos modelos de acumulacin todos dentro del capitalismo: liberal, desa-
rrollista-keynesiano o de bienestar, neo-liberal, neo-desarrollista. Una misma lnea directriz con
variaciones de aplicacin, de ninguna manera secundarias.
287
288 Constitucionalismo, descolonizacin y pluralismo jurdico en Amrica Latina
O sea que el poder se genera por fuera del Estado, en el mbito de lo conocido
como privado y se torna pblico a travs de la institucin Estado, de la utilizacin de sus
aparatos. El aparato del Estado no es la sede del poder, sino la organizacin en que se
encarna el poder que se genera en ciertas clases y fracciones de clase, a cuyos intereses
responde en ltima instancia el Estado. El aparato del Estado, sus instituciones, son ex-
presin de ese poder, posibilitan y organizan su ejercicio.
El aparato del Estado est atravesado por los procesos sociales y posee un grado de
autonoma que le permite retroactuar sobre la sociedad y no slo reflejar las relaciones que
se traban en el seno de aquella, as como desarrollar procesos cuya lgica se desenvuel-
ve al interior del propio aparato estatal. No es, por tanto, un mero instrumento de la clase
dominante, pero el grado relativo de su autonoma, se traduce en que, en ltima instancia
como veremos esa es su frontera, sucumbe ante los intereses de la clase dominante, ya que es
una especie de comit de administracin de sus intereses (Marx y Engels, 2008) que no
siempre son homogneos.
Categora de alto grado de complejidad, el tratamiento de lo estatal exige que se
parta de caracterizar la estructura de clases de la sociedad, cul es su clase dominante y
de dnde obtiene su predominio econmico y como puede convertirlo en hegemona
poltica, en qu momento histrico concreto acta, cul es la forma de accin y manifes-
tacin de lo estatal y sus contradicciones. Esto es lo que dar las llamadas condiciones de
estatalidad.
Ya entrado el siglo XX, y a partir de la revolucin rusa de octubre de 1917, apa-
recieron tentativas de construir sociedades no capitalistas, en las que el Estado se asu-
ma como poder de clase, dictadura del proletariado destinada a terminar tanto con el
estado-nacin como con el capitalismo. A su vez, en las sociedades capitalistas, frente al
desafo que les planteaba la construccin de una sociedad socialista, -como se plante la
revolucin de 1917, comenz a procurarse una atenuacin de los conflictos, de la lucha
de clases, apareci la figura del pretendido arbitraje de las contradicciones sociales, con
el Estado en un rol progresivamente protagnico.
Uno de los temas a los que frecuentemente se ha aludido y se alude en especial
a partir de la crisis mundial de 2008, es el referido a la intervencin estatal. En este
sentido, debe tenerse en cuenta lo que acabamos de expresar, alejarse de pensar a sus ins-
tituciones como meros instrumentos de las clases dominantes, pero tampoco, de nin-
guna manera, como instituciones neutras que dirimen el conflicto de intereses desde la
imparcialidad. Esto se traslada tambin al aparato del Estado capitalista, que no puede ser
neutral en tanto no lo es el Estado, por lo que no puede cruzar el lmite de acumulacin
y reproduccin capitalista. No cambia si no cambia la relacin social bsica capitalista. El
Estado capitalista es producto del capital como relacin social en sentido histrico, y al
mismo tiempo, es espacio de lucha disputado por las clases subalternas.
Hay un sentido comn instalado acerca de que en los noventa, no intervena (eso
era ser neoliberal) y que, en cambio ahora s lo hace (porque estara dejando de ser neoli-
beral). Ni lo uno ni lo otro. Esto conduce a un debate estril, sobre: estatal-no estatal.
El estado del Estado en Nuestra Amrica 289
El carcter de clase del Estado hace que siempre intervenga en resguardo y rease-
guro de la poltica de los sectores hegemnicos y es la lucha de las clases subalternas la que
disputa el sentido de la intervencin estatal.
Es por todo ello, que la discusin sobre el hacer, la accin del Estado, tiene que estar
centrada, en establecer quines se benefician y quines se perjudican con la misma, para
que quede claro, cul es el bloque histrico en el poder.
Insistimos una vez ms, el Estado es un lugar de la lucha de clases, es un lugar de
disputa, de disputa total (se expresa en el concepto complejo de tomar el poder) y tam-
bin es objeto de disputas parciales a veces con xitos relativos y a veces con derrotas, en
dependencia de la relacin de fuerzas entre las clases antagnicas.
El resultado de esas luchas se traducir, en consecuencia, en los distintos grados de
avance o construccin de contrapoder por parte de las clases subalternas o de fisuras en
los intersticios del poder, hasta su culminacin con la ruptura revolucionaria.
En razn de la unidad del poder del Estado como poder de dominacin de clase, las
clases subalternas aunque lleguen por el ejercicio legtimo del sufragio, a ocupar cargos al
interior de un aparato de Estado en manos del bloque representativo de los intereses del
capital, sean ejecutivos o deliberativos, e incluso judiciales, siempre sern una individua-
lidad en el medio de un bloque que no es el propio. Una individualidad en el conjunto de
un proyecto que no es el proyecto de las clases subalternas.
Hay infinidad de posibilidades de avances en la construccin de contrapoder y
Nuestra Amrica hoy es una muestra, pero si no se cambian las estructuras de dominacin
hay una limitacin fundamental: el propio sistema capitalista que no se desvanece con slo
ganar elecciones. Se puede, incluso, llegar al gobierno, pero ello no implica tener el poder,
conquistar el Estado. Es necesario tener claro los lmites y las posibilidades que el capital
establece o trata de establecer para garantizar su hegemona, para lo cual no escatima
procedimientos ni acciones.
Porque no es al interior del capitalismo que podemos resolver la emancipacin
humana. Hace falta la accin poltica, junto con la accin social, gremial, porque lo social
y lo gremial sin lo poltico tienen tambin un punto de lmite del que es preciso tener
conciencia: la defensa de los derechos de los trabajadores, de los desocupados, de los
precarizados, sin la produccin de cambio sistmico o sin transitar hacia esos cambios, sin
tenerlos como horizontes, son derechos conquistados dentro de la dominacin burguesa,
obtenidos dentro de la legislacin burguesa. Muy importantes, pero claramente no cons-
tituyen emancipacin de la explotacin.
290 Constitucionalismo, descolonizacin y pluralismo jurdico en Amrica Latina
Nos hemos referido de alguna manera a los lmites y posibilidades de la disputa por el
cambio al interior del Estado capitalista. Lmites y disputa estn referidos a los cambios
revolucionarios en los estados nacionales que no pueden abordarse en general sino en
particular. Teniendo claro ello es que podemos analizar las continuidades y rupturas que
se dan en cada una de las situaciones de disputa.
Hay formatos que desbordan los limites estatales y se despliegan en un campo
social y poltico ms amplio, el aparato estatal se entrelaza con formas de institucionalidad
poltica, con lo que conocemos como gobierno en cuanto aparato burocrtico. Significa
un lmite cierto que se impone al accionar gubernamental, un lmite estructural que ase-
gura reproduccin del sistema aunque, como ya dijimos, no resulte impenetrable Si nos
detenemos ms particularmente en Nuestra Amrica Latina y Caribea, tenemos que re-
cordar el origen colonial de sus estructuras, producto de la conquista que unific capitalis-
mo y modernidad en la Europa de entonces que resultaba inconcebible sin colonialismo.
Y esta regin fue una de las avasalladas. Su resultado es la existencia de lo que Tilman
Evers calific como capitalismo perifrico, es decir, capitalismo pero con especificidades
y particularidades, entre las cuales la subordinacin y la dependencia respecto a los pases
centrales.
Nos encontramos hoy, en una regin convulsionada con procesos de cambio, del
que unos son meros maquillajes sistmicos, mientras que otros tienen un carcter decla-
radamente revolucionario marcado por el hecho de reconocer que no hay posibilidad de
cambio dentro del capitalismo, aunque an no se haya producido esa transicin.
El estado del Estado en Nuestra Amrica 291
La clave consiste en cmo construir las relaciones de fuerzas, los apoyos suficientes
como para avanzar en transformaciones ms profundas. Y la diferencia entre los gobier-
nos tambin estar planteada en funcin de los recursos que movilizan para cambiar la
relacin de fuerzas a favor de las mayoras populares. Porque no se trata de aceptar lmites
sino de empujar hacia horizontes emancipatorios.
No se visualiza aun una movilizacin alternativa generalizada, una construccin
poltica popular alternativa en consonancia con los cambios en la regin. Por eso, nos en-
contramos ante una profunda crisis no slo de representacin poltica, sino tambin ante
una crisis poltica en general, aunque la penetracin de la ideologa posibilista (incluida la
de la llamada izquierda tradicional), sostenga argumentaciones en contrario. La lgica del
posibilismo en tiempo de crisis capitalista mundial y fuerte ofensiva del capital sobre los
trabajadores se la pretende hacer aparecer, como lo ms avanzado que deja la coyuntura.
Lo cierto es que son necesarios cambios de fondo, estructurales, en nuestra rea-
lidad socio-econmica. Es lo que se requiere para avanzar en sentido contrario a las po-
lticas hegemnicas de los noventa. No alcanza con el discurso crtico, la observacin o
los buenos deseos y si no se remueven las reformas estructurales regresivas se corre el
peligro de la reversin poltica favorable a las demandas de las clases dominantes.
La personalizacin de la poltica, la generacin de liderazgos nacionales y locales,
caracterizan la gestin poltica en la etapa actual, tanto respecto a los polticos profesio-
nales ms o menos autonomizados de sus tradiciones de origen, como a las nuevas estrellas
polticas sin antecedentes de militancia ni experiencia en ella.
O sea, que lo poltico se realizara, se concretara por la va de la actividad poltica en
su significado ms tradicional, el asociado a las estructuras partidarias. Esta concepcin,
de algn modo encorseta, limita, el concepto de lo poltico y de la poltica.
En cambio, desde un abordaje alternativo al tradicional enunciado, si bien el objeti-
vo ltimo, necesariamente va a estar simbolizado en el poder, lo ser a travs de la accin
dirigida a un proceso de construccin de poder y hacia la obtencin del poder pensado
como resultado no de una evolucin, sino de una ruptura, pero no meramente como
un momento de asalto.
Conclusin
Resumiendo, cuando nos planteamos que hay que ir por ms, por la emancipacin, no
quiere decir desechar la labor cotidiana, o la lucha gremial, quiere decir, tener claro un ho-
rizonte utpico pero s realizable y ese es el de la ruptura revolucionaria y la construccin
de una nueva sociedad que yo llamo socialismo, pero que no es una cuestin de nombre,
es un problema de realizacin.
As, lamentablemente el balance nos presenta ms continuidades que rupturas.