quinta-feira, 30 de abril de 2009

Poesia livre



"Por que há o desejo em mim, é tudo cintilância"
Hilda Hilst


Vocês já sabem: se der uma passadinha por aqui durante o mês de maio, deixe uma poesia. Tá valendo trecho de letra de música, poesias de outros (desde que mencionem de onde veio o texto), ou suas. Escreva como anônimo ou apareça, mas deixe uma poesia.

Poesia livre [março]

O Poesia livre de março trouxe quatro presentões! Bem diferentes entre si, todos muito especiais ... Agradeço aos amigos que passaram aqui e deixaram um cheiro.


Francisco (Paco) Manhães deixou uma poesia sua:

Nós, os antigos. Os eternos.
Somos desde sempre e
preexistimos ao mundo.
Quando do Fiat Lux,
assistindo aos efeitos pirotécnicos,
já estávamos lá:
eras o mais belo dos anjos;
eu, tua serpente doméstica.


Da Ysinha veio Ho Chi Minh:

RAÇÃO DE ÁGUA

Cada um de nós tem como ração meio jarro de água
Para o banho ou para ferver o chá, conforme o gosto:
Se você quer lavar o rosto, não terá como preparar o chá:
Se quer tomar seu chá, não poderá lavar seu rosto.


Diário de Prisão, de Ho Chi Minh, Ed. Difel, Rio, s/d e sem nº da edição. A edição original é de 1971, Bantam Books, Inc.


Sissi deixou o Soneto de Fidelidade, de Vinícius de Moraes:

De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive

Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.


Do Otávio Duarte, a poesia veio pelo correio:


Clepsidra, com poesias de Otávio e colagens do pintor Rones Dumke é uma preciosidade. Vocês não têm noção da minha felicidade quando vi e li o livro. Tão lindo, que merece um post a parte.

A música, Preta Pretinha, sempre desperta coisas maravilhosas em nós. Não conheço um que não goste da música. Minha mãe ama e diz que esta é a música dela. O pai do amore da Lunna adora. Carol também. Escutei a música pensando o quanto é bom conviver com vocês. Preta Pretinha é a música do feriado.

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Embriaguem-se, de Charles Baudelaire

É preciso estar sempre embriagado. Aí está: eis a única questão. Para não sentirem o fardo horrível do Tempo que verga e inclina para a terra, é preciso que se embriaguem sem descanso.
Com quê? Com vinho, poesia ou virtude, a escolher. Mas embriaguem-se.

E se, porventura, nos degraus de um palácio, sobre a relva verde de um fosso, na solidão morna do quarto, a embriaguez diminuir ou desaparecer quando você acordar, pergunte ao vento, à vaga, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo que flui, a tudo que geme, a tudo que gira, a tudo que canta, a tudo que fala, pergunte que horas são; e o vento, a vaga, a estrela, o pássaro, o relógio responderão: "É hora de embriagar-se! Para não serem os escravos martirizados do Tempo, embriaguem-se; embriaguem-se sem descanso". Com vinho, poesia ou virtude, a escolher.

Charles Baudelaire
O Spleen de Paris: pequenos poemas em prosa
Apresentação e tradução: Leda Tenório da Motta
Imago Editora – edição de 1995

domingo, 26 de abril de 2009

Poesia em imagens - São Jorge [Rio de Janeiro]

São Jorge é quem mora na lua, e disse que eu tudo posso!
[Tava por aí, de Mart'nália & Mombaça]





Poesia em imagens

Salve Jorge!

De uma família ecumênica e sincrética, onde todos são devotos de Santa Rita, Santo Antônio e São Jorge, eu não sou exceção. Gosto especialmente da história, da estética, das músicas em homenagem a São Jorge. Gosto da combinação vermelho (ou verde) e branco. Gosto principalmente das demonstrações de fé e da diversidade encontrada entre os seus devotos.

E todo ano invento moda. Durante anos acompanhei a carreata de São Jorge do Império Serrano. Vou a missa se possível e este ano bati ponto em uma feijoada na casa de uma amiga, com direito a tudo, até uma medalhinha de proteção de presente.

Em 2007, Bel, minha mãe e eu estávamos às quatro da manhã na porta da igreja no Campo de Santana (Rio de Janeiro) participando da Alvorada. As fotos foram feitas por nós (Bel e eu) nesta ocasião. Terminando a semana de homenagens a São Jorge, o Poesia em imagens de hoje é dele, por que para catar poesias neste mundo às vezes é preciso ter muita fé. Fica ao meu lado, São Jorge Guerreiro.

sábado, 25 de abril de 2009

notas

O fotógrafo Otto Stupakoff morreu no dia 22 de abril, aos 73 anos. Seu olhar fascinante me deixou obcecada durante semanas, fazendo com que eu procurasse fotografias e textos sobre ele. O conheci na sua última vernissage aqui no Rio de Janeiro e aquele homem cheio de vida e experiências se mostrou um encanto. O resultado da minha obsessão vocês podem ver em um post antigo. Ysa, que também o conheceu, escreveu sobre ele e a experiência do nosso único encontro.

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Lunna Guedes não postará mais em seu blog, o Acqua. Reproduzo aqui o que disse nos comentários do último post: "Lunna, é um imenso prazer conviver virtualmente com você. Ler seus textos, que muitas vezes me fazem companhia, pass(e)ar pelo Acqua, só coisas boas. Te desejo sucesso sempre e passarei em sua outra morada, tenha certeza".

Lunna sai do Acqua, mas não nos abandona: ela ainda reside em blogs amigos, como A casa do mago.

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Farei um post sobre o Poesia Livre de 27 de março excepcionalmente em 30 de abril, uma quinta-feira. Ainda dá tempo de passar lá e deixar um carinho: letra de música, poesia e o que mais der vontade.

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Tô para falar tem tempo: Moacyr Luz tem um blog, o Blog do Moa. É muito bom acordar e ver que tem texto fresquinho no blog dele. É a mesma sensação de estar com fome e correr para a padaria e sentir o cheiro do pão (eu tenho cada idéia, não é?).

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Dia Nacional do Choro: Pixinguinha, um dos precursores do choro no Brasil, compositor e cantor de músicas que também retratam o universo das religiões afro-brasileiras, nasceu no dia 23 de abril. Sendo assim, além das comemorações por São Jorge/Ogum, o choro comeu solto na cidade na última quinta-feira! O curioso é que vários dos blogs que acompanho falaram de São Jorge, padroeiro do meu Império Serrano, mas só encontrei um onde o Dia Nacional do Choro era reverenciado. Sugiro então uma visita ao Pão Contexto para ler a homenagem.

Em tempo, parte do livro Almanaque do choro (de André Diniz) pode ser encontrado no Google Books.

Agora, vocês acham que eu vou me furtar a falar de São Jorge? De jeito nenhum ... só que falarei dele amanhã.

A ilustração é do amigo Fernando Romeiro, que gentilmente me deixou publicar. Sou super fã das suas caricaturas, Romeiro!

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Depois de vários assuntos no mesmo espaço, deixo aqui uma pergunta para o seu sábado:

Onde encontrar uma sineta que soe dentro de teus sonhos?
Pablo Neruda (XXVIII, no Livro das Perguntas)

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Recordação, de Cecília Meireles

Do jardim da Ysa, no auge do verão de 2009.


Agora, o cheiro áspero das flores
leva-me os olhos por dentro de suas pétalas.

Eram assim teus cabelos;
tuas pestanas eram assim, finas e curvas.

As pedras limosas, por onde a tarde ia aderindo,
tinham a mesma exaltação de água secreta,
de talos molhados, de pólen,
de sepulcro e de ressurreição.

E as borboletas sem voz
dançavam assim veludosamente.

Restitui-te na minha memória, por dentro das flores!
Deixa virem teus olhos, como besouros de ónix,
tua boca de malmequer orvalhado,
e aquelas tuas mãos dos inconsoláveis mistérios,
com suas estrelas e cruzes,
e muitas coisas tão estranhamente escritas
nas suas nervuras nítidas de folha,
- e incompreensíveis, incompreensíveis.

Cecília Meireles

domingo, 19 de abril de 2009

Miles Davis, por Tom Palumbo

Miles Davis, por © Tom Palumbo

Poesia em imagens

Acho esta foto uma das coisas mais lindas ...
Miles sorrindo, doce, suave. Um menino.


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E não é raro It never entered my mind embalar meu adormecer e meu acordar.
O dia se torna menos pesado.


quinta-feira, 16 de abril de 2009

Time after time, com Chet Baker




Vi no Jazz no país do improviso (ótimo) e me deu vontade de trazer para o Catando. Esta semana, com todos os prés e pós feriados, o bicho está pegando! Sem responder comentários, e-mails, nada. Mas eu amo vocês, não duvidem. Chet me deixou mais apaziguada de ontem pra hoje. E calma. Estou bem e produtiva, então continuem torcendo que eu continuarei a nadar! E ainda tem o imposto de renda, mas isso é uma outra história. Em dois dias eu trago a blogueira de volta e respondo com calma, aguardem.

terça-feira, 14 de abril de 2009

Eu que não sei quase nada do mar



San Juan, Puerto Rico - março de 2006




Eu que não sei quase nada do mar
de Ana Carolina e Jorge Vercilo

domingo, 12 de abril de 2009

Garotos saindo da igreja no domingo de Páscoa, de Russell Lee


Poesia em imagens


Garotos saindo da igreja no domingo de Páscoa
Chicago, abril de 1941
Acervo: Arquivo Nacional Americano

Fonte: Impressões Visuais, 50 anos da Comissão Fulbright no Brasil. Curador da exposição: João Kulcsár.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Eu queria ...

Eu queria aprender
o idioma das árvores
saber as canções do vento
nas folhas da tarde.
Eu queria apalpar os perfumes do sol.


do livro Cantigas por um passarinho à toa, de Manoel de Barros.
Rio de Janeiro: Editora Record, 2005

quarta-feira, 8 de abril de 2009

domingo, 5 de abril de 2009

Dance, por Bob Willoughby

Toda bailarina pela vida vai levar
Sua doce sina de dançar, dançar, dançar... *


Cynthia Gregory portrait, Children's Ballet Company, 1953


Patricia Craig at barre, Children's Ballet Company, 1953


Patricia Whittle, portrait of this young dancer, Royal Ballet, London, 1962


Poesia em imagens
© Bob Willoughby


* A bailarina, de Toquinho & Mutinho

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Confissão

Ando tão à flor da pele
Que qualquer beijo de novela me faz chorar
Ando tão à flor da pele
Que teu olhar "flor na janela" me faz morrer
Ando tão à flor da pele
Que meu desejo se confunde com a vontade de não ser
Ando tão à flor da pele
Que a minha pele tem o fogo do juízo final



Flor da Pele, Zeca Baleiro