terça-feira, 31 de outubro de 2006

(Recomeço)

Ou: apenas as coisas de que mais gosto.
Os livros, a música, a chuva a bater na janela, as viagens, o cinema, os amigos, os sorrisos, a fotografia, os afectos, a tranquilidade, os sonhos, as frivolidades, os pensamentos e os aforismos, as árvores, o silêncio, e a minha cidade do amor.
É o único compromisso que faço.

Filosofia (2)












Before Sunrise, de Richard Linklater (1995)

"Toda esta conversão das minhas intenções idealistas em formas pragmáticas de fazer dinheiro."

quinta-feira, 26 de outubro de 2006

SIM

É minha resposta (sempre será) ao estúpido referendo que, à semelhança de 1998, vai permitir que se protelem mais situações inaceitáveis para um país europeu, como mulheres que morrem por fazerem abortos ou que são levadas até à barra do tribunal por não quererem trazer ao mundo mais uma crinaça, pelos mais variados motivos.

Como sempre, quando nos outros países as questões já são outras, nós ainda nos damos ao luxo de ignorar realidades, discutir uma suposta "ética", dar largas à hipocrisia de gente que se redime de tanto, escudando-se numa bandeira de suposta valorização pela vida.

Eu também sou pela vida. E é por ser tão pela vida, que não queria ver situações como a da foto repetirem-se. Se um ser humano não é bem vindo à partida, por razões económicas, familiares, emocionais, não deve vir. Ninguém pede para nascer. Também ninguém deve ser gerado para sofrer.

As campanhas do Não são pródigas em fotos de criancinhas rechochudas, bebés bonitos e felizes, supostamente para apelar à nossa consciência. Até nessa intenção são hipócritas, pois ignoram convenientemente os milhares de crianças que nascem para nunca serem felizes, para nunca sequer terem uma oportunidade para tal. Vale a pena nascer para isso?

terça-feira, 24 de outubro de 2006

Biblical hair

Como Sansão.
Sem cabelo* perco a força.



(* no comprimento, penteado e tonalidade exactos)

Hair tragedy

135 € para um erro.
160 € para reparar o erro.
Quatro horas e três pares de mãos depois.

Hair stylism

Ou: Um eufemismo para as minhas desventuras no cabeleireiro.

E também é bom ter amigos assim:

- Se eu tiver filhos, não me levem à maternidade prendas para a criança. Ofereçam-me antes lingerie de padrão tigresse.

Citoyen du monde, chez-elle

Carla é minha amiga. Carla foi a Edimburgo este Verão onde conheceu e se tornou amiga de Santiago, jovem uruguaio que tirou um ano para viajar pelo mundo. Depois de uma semana encantadora em Portugal, Santiago já tem dez países no seu périplo curricular, e parte agora para Tóquio. Esta é uma história verídica, com nomes ficcionados.
E a vida, com gente assim, tem outro sabor.

segunda-feira, 23 de outubro de 2006

Eterno retorno

Anteontem tive, pela primeira vez, um recém-nascido nos braços.

sexta-feira, 20 de outubro de 2006

Ahhhhh...saudade.

Fui para Coimbra na expectativa de me embrenhar num fantástico mundo cheio de mística.

Assim começa o blogue de 6 magníficos que eu conheço. Que (me) fazem o favor de recordar e escrever histórias que viveram, de resgatar ao esquecimento vivências que não foram importantes para mais ninguém, senão para quem as teve, num momento qualquer daquela década e meia. Ou para quem, como eu, ainda respirou um pouco da atmosfera daqueles tempos quando apenas caloira, apesar do período áureo já estar a acabar quando tive o privilégio de os conhecer a quase todos, e de me tornar amiga de alguns.

São tempos que marcam e deixam uma saudade pungente. E é impossível a leitura destes relatos não deixar um vago, doce, desalento: não só por saber que tudo acabou, mas também porque aquela forma de vida não vingou no seu propósito de continuidade, não funcionou como um legado para as gerações seguintes (ao contrário do que eu pensava). O que torna tudo mais especial e nostálgico. Durante um curto período, houve um grupo de rapazes que tentou e conseguiu recuperar, viver e praticar a Praxe Coimbrã na única forma em que ela existe: de forma genuína. Contagiaram, com a sua graça, modus vivendi e histórias mirabolantes, quem foi seu contemporâneo.

(...)No ano de 1990 efectuei a minha primeira matrícula na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (FEUC) e verifiquei que essa Faculdade vivia simplesmente sem saber o que era a Praxe Académica de Coimbra. (...) Encontrei uma Praxe codificada – em algum momento do primeiro trimestre de aulas já conhecia melhor o Código da Praxe do que todos os meus amigos de anos anteriores ao meu – que determinava deveres e obrigações e uma conduta de respeito mútuo entre todos os estudantes – incluindo os caloiros. Mas ao mesmo tempo encontrei a dura realidade em que poucos eram os que conheciam essa Praxe da qual eu gostava e em que os que a praticavam esporadicamente – e provavelmente por causa disso – praticavam-na de forma abastardada.

Edgar Dégas

Sempre, sempre, sempre.
Petite danceuse à 14 ans, 1880

(Ali, à minha frente, silenciosa e majestática. O tule da saia já manchado pelo corpete.)

Verdade de La Palisse

Monsieur de La Palisse est mort.
Il est mort devant Paris.
Un quart d'heure avant sa mort,
Il a eté avec sa vie.

(saudades das tuas lições, P., quando tudo era simples, e a vida se resumia ao bibe do colégio e ao pão com manteiga ao lanche.)

O meu sonho kitsch n.º 2

Sala sóbria, linhas direitas, tons branco e preto.
E uma chaise longue (Madame Récamier) vermelha barroca.

O meu sonho kitsch n.º 3

Calções de ganga, sapato aberto verde-escuro e meias de tom verde-escuro.

(Não. Espera, esse já é realidade.)

O meu sonho kitsch n.º 1

Eu queria ter uma marquise.
(A sério.)

Do tempo. (quando somos felizes)

Como areia a correr por entre os dedos.

Geografia emocional

E a meta que era Londres.
but they took a little turn for everybody’s satisfaction…
Coube-nos Paris. Foi nossa, por uns tempos.
tout va bien, c’est super. Allons enfants de la patrie...
Jogamos assim os dados e tratamos por tu os atalhos das capitais europeias, como se de uma brincadeira de crianças se tratasse.

Das propriedades terapêuticas de uma viagem

Uma forma de oxigenação.
(cf. respirar é uma fonte de obtenção de energia)

Uma libertação espiritual.

Um fait-divers.

E, de repente, Olympia.

Énnuie.

(Heterónimos de Pessoa percorrendo-nos o pensamento durante a vacuidade de um desfile de moda internacional.)

Et si tu n'éxistais pas,

dit-moi pourquoi j'existerai?

Ne me quitte pas

Ne me quitte pas. Il faut oublier. Tout peut s'oublier. Qui s'enfuit déjà. Oublier le temps. Des malentendus. Et le temps perdu...
(Surpreende-se um instante carinhoso - Musée d'Orsay)

A cidade do amor

Recém-chegada da velha cidade, ainda com a pele impregnada da sua elegância displicente, da sua doce decadência adiada.

Ironias, em Paris:
- estar na que é a "cidade do Amor" para muitos, e ser a mais céptica sobre o amor;
- ficar estarrecida perante Psyché reanimada pelo beijo do Amor, essa sublime libertação da forma aprisionada na pedra de Canova. Enlevada pela anatomia dos afectos, pela harmonia pulcra deste enlace: