Enquanto houver estrada para andar
a gente vai continuar...
Jorge Palma
Estive ausente. De férias. 7 dias apenas mas que me souberam pela vida. Desta vez a viagem foi até Madrid com passagem por Mérida, Cárceres, Ávila, e após a estadia em Madrid ainda um dia na Serra de Gredos com direito a muito frio, temperaturas negativas, muita neve e um trilho de cortar a respiração. A paisagem ajudou à boa disposição, a natureza deu uma forcinha pelo bem estar, e o prazer de estar de férias e o descanso sem horas nem compromissos ou obrigações do que fazer ou onde estar, ajudaram no resto.
Mas... e de facto há sempre um mas...
Continuam a haver muitas arestas por limar, muitos pequenos atritos em duas pessoas que se seguram para não desistir, duas pessoas que estão a dar o melhor de si para continuarem a navegar nas mesmas aguas mas que em comum têm de facto muito pouco, excepto a alegria de viver e de conhecer e a vontade genuína de estarem juntos - e isso é única e exclusivamente o que me move. Dizem que os opostos se atraem, talvez... começo a acreditar nisso. Entre nós, eu e o matraquilho azul nada é linear, simples, fluido, ao correr do momento e dos dias. Tudo é demasiado complexo. E pelo facto de ser tão complexo ele retira-me toda a energia que é muito minha e uma das minhas características enquanto eu AC. Saio esgotada de qualquer fim de semana, de o mover comigo, de o arrastar nas minhas aventuras, de o trazer para o meu mundo (onde ele se sente tão bem depois de lá estar). Ele não tem mundo, tem o trabalho, vive em exclusivo para ele, tem alguma família que visita regularmente, e exceptuando isso tudo muito pouco resta. Não tem hobbies, não se dedica a nada em particular, não tem interesse especial por nada, tem camaradas de trabalho que considera amigos e regra geral tudo tanto lhe faz... Pois...
É assim em tudo. Sexo incluído. Esse é aliás outro dos pontos onde os ponteiros não acertam, não há ritmo, nem sintonia, nem motivação, nem dedicação, direi até talvez e sem o risco de ser injusta, que nem interesse. Esse mundo passa-lhe um pouco ao lado. Passa sem. E a coisa para ele resolve-se rapidamente sem grandes floreados ou pinos e cambalhotas e desde que se resolva, está resolvido e está-se bem. Eu já não sou assim, preciso de mais, mais nós, mais momentos, mais interesse, mais tempo, mais inovação e motivação e a coisa está a dar-se sem desejo o que para mim é terrível e faz muito pouco sentido. Mas continuo a tentar. Não sou pessoa de desistir. E gostava de conseguir ser feliz, já que ele diz que é imensamente feliz e se sente bem. Algumas coisas melhoraram, já me ajudou a transportar a mala, ou já me deu a mão quando foi preciso içar-me para cima de um rochedo, já tem por hábito abrir-me as portas e deixar passar em primeiro, já reparte pequenas coisas e acarinha-me com pequenos gestos, já fala mais dele e da família, já confia assuntos e segredos importantes de trabalho, já procura ter mais tempo para mim. Mas tudo demora muito tempo e eu não sei se tenho assim tanto tempo para dar.
Continuamos nesta estrada. A limar arestas desde Setembro de 2016.