Rodeada por aqueles que partilham todos os meus dias, que me aturam as birras, a tpm, as más disposições.
Ou que me animam nos dias tristes em que a vida me enfia os dedos pelos olhos adentro e me fura um olho.
Os meus colegas são especiais, são os meus amigos, a minha família, com eles reparto mais horas do meu tempo do que com quaisquer outras pessoas.
Conhecemo-nos muito bem. Sei identificar as lágrimas nos olhos extremamente brilhantes da Lsd, que ela disfarça olhando para o chão ou dando pequenos estalidos com a língua num ruído irritante e inconfundível, num tique que chega quando todos sabemos que está triste e prestes a desmoronar.
Sei olhar para a Judy a rapariga furacão, e perceber no seu tom de pele branquinho, que quando fica vermelha, a soprar como uma panela de pressão, e morde o lábio, que está pronta a explodir e a arremessar com tudo.
Ou quando percebo que a Picolé que só diz piadas secas, parvas, e faz os disparates mais idiotas do mundo tenta disfarçar o que a vida lhe tem dado de mão cheia desde os 24 anos...tudo de mau, tudo o que ninguém sabe muito bem como ela tem conseguido aguentar...
E a Tattoo, a menina tatuagem, que tem duas tatuagens enormes na perna e braço esquerdo que se complementam....arrojada, aventureira, decidida, muito independente, leal...muito amiga.
Que tem choro e riso fácil, emotiva, que fica de rastos quando falha, sempre que não consegue recuperar, ou dar vida, e por mais que lhe expliquemos que há coisas que ninguém é capaz, ela não acredita, reclama que a vida é injusta, amua, e revolta-se, e furiosa costuma dar murros na mesa de trabalho e questionar-se em voz alta....Porquê? Porra pá.... Porquê?
E depois das raparigas, falta a Maggy, sim está bem escrito, e tem nome de quadrado de culinária, porque é mesmo assim, ela é o tempero, o ponto certo, o que faz sempre falta, une, funde e estabelece o equilíbrio, é a mais velha de todas nós, a mais sensata, a mais humana e porque todas nós achamos isso, a mais querida.
Sempre pronta a defender-nos, a ajudar-nos, a prejudicar-se, para que a equipa seja homogénea, coesa e funcional.
E os rapazes... o Pedrinho o mais novinho da equipa, giraço, cheio de músculos, mas também cheio de manias, de inseguranças, sempre cansado das noitadas perdidas, das gajas que não lhe dão tréguas, sempre à espera de ajuda, sempre à espera de mais, de tudo....
O Zeca, perdido, deprimido, triste, rejeitado, a viver uma perda dolorosa da qual ainda não recuperou, que se apoia em nós, que espera sempre por um carinho, que é daqueles homens que não se esconde, que não se faz forte, que não tem vergonha em mostrar as fragilidades e que de mão estendida abre o coração e pede ajuda.
E o Francisco sensato, calado, reservado, e faz jus ao comum dos homens... típico, ouve mais e fala menos. E ri-se muito, abana a cabeça com tudo aquilo que dizemos...e por vezes diz... vocês são doidas varridas... Socorro são loucas!
O Duarte, que passa-se por tudo e por nada, que fuma, ou melhor come cigarros, uns atrás dos outros, vai fumar ao pátio às escondidas e tem uma paixão assolapada por uma médica interna do internato geral, novinha, muito simpática e que quando se ri para ele, estampa-lhe na cara um sorriso feliz de puto reguila que foi apanhado a fazer uma maldade na escola...
No Natal embalados nos risos de cada um de nós ouvimos histórias contadas na primeira pessoa, verdadeiras, deliciosas. Aconchegados ao colo uns dos outros ou sentados nas bancadas, num serviço onde as cadeiras nunca chegam, interrompidos pelo barulho do altifalante da sala de espera, pelos monitores dos pc's da sala de trabalho onde aparecem de tempos a tempos as prescrições terapêuticas e pelo aviso sonoro do besouro da sala de emergência, lá fomos ceando, rindo, trocando carinhos e por fim trocando prendas.
Todas elas divertidas, malandras...cuecas comestíveis, cuecas masculinas com trombinhas e mais bichos estranhos, aventais sexys com corpos de boazonas, algemas, dados dos amor e mais porcarias sem utilidade nenhuma mas que nos proporcionaram momentos de cumplicidade e amizade únicos, só nossos.
E estes são momentos inesquecíveis, perfeitos, e só meus...