"Absinto" é uma bebida destilada feito da erva Artemisia absinthium. Anis, funcho e por vezes outras ervas compõem a bebida. Ela foi criada e utilizada primeiramente como remédio pelo Dr. Pierre Ordinaire, médico francês que vivia em Couvet na Suíça por volta de 1792.É também conhecido popularmente de fada verde em virtude de um suposto efeito alucinógeno. Absinto, o blog, é um espaço para delírios pessoais e coletivos. Absinte-se e boa leitura.
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sexta-feira, 16 de agosto de 2013

O senhor do tempo




Levante a mão quem nunca teve vontade de arrancar os ponteiros de um relógio ou de jogá-lo na parede. Este medidor de tempo que determina o que podemos e não podemos fazer na nossa interminável lista de tarefas. Este senhor de barbas longas, que parece tão sábio, e que ainda não sabemos lidar com ele.

E de repente chega para muitos de nós a maternidade. Quem tem filhos sabe que cada idade é preciosa e guarda as suas descobertas. Mas o período entre os 3 e 5 anos de idade são especiais pela espontaneidade e as famosas pérolas que guardamos para relembrar ano após ano em almoços e encontros familiares e naqueles bate-papos sobre maternidade e paternidade.

Coleciono histórias de amigos e tenho as minhas próprias para contar. Como quando meu filho, aos 4 anos de idade, depois de uma travessia de 2 horas pelo mar até a Ilha Grande, sentado na janela do quarto, com as pernas dobradas, os braços segurando os joelhos e com os olhos perdidos naquela imensidão, filosofou: “É... papai, mamãe, eu, a gente não sabe nada”. Ou quando aos 3 anos, depois de escutar uma ladainha de “ordens” dadas por mim, respondeu: “Mamãe, “pesta” atenção – cová dente, tomá banho, não precisa nada disso mamãe, entendeu?”.  Isso dito com a maior tranquilidade do mundo, no melhor estilo larga do meu pé sua chata!

E não é isso que nos tornamos, nesta ansiedade doentia de ocupar o tempo com o que temos que fazer? A minha ansiedade é a do dever a ser cumprido. O dever que imputei a mim mesma dos horários rígidos para minhas ocupações. 

E eis que chegam até nós estas almas também ansiosas, mas um anseio pelo novo, pelas descobertas da vida. E de repente uma pracinha perto de casa pode ser tão fascinante quanto qualquer Disney World e esconder tesouros de pirata e pedras preciosas de duendes.

O tempo das crianças é um tempo à parte, como o tempo dos mais velhos. É o tempo sem culpa de ser gasto. É aquele tempo gostoso da conversa jogada fora, que na verdade é jogada dentro da alma e alimenta sorrisos e compartilha sentimentos verdadeiros.

Peço desculpas ao meu filho pelas vezes que o fiz correr por estarmos atrasados, peço desculpas por imputar a ele uma correria doentia da qual eu mesma tento me livrar.

Hoje, sinto-me uma mãe menos dona da verdade e mais aprendiz, ao lado do olhar curioso do meu filho que já sabe ver as horas, mas não está nem ai para elas, a não ser se for para ir à aula de Kung Fu, sua nova paixão.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Ano Novo de novo

Feliz 2011

E com suas mãos pequenas enroscada nas minhas,
me conduz até seu esconderijo secreto e me mostra sua mais nova invenção.


Ela, a máquina, era composta de um relógio do Bem 10, fixado em uma bancada de madeira com uma ampulheta de brinquedo cuidadosamente equilibrada no relógio.


Funciona assim: Ele aperta o relógio, vira e equilibra a ampulheta. A areia desce para a outra extremidade ao som do pequeno relógio alienígena.


Que legal! Digo, realmente encantada com a sua criatividade. O que essa máquina faz? Há, faz mil coisas!!!


E eu fico a imaginar com seria bom uma máquina de fazer mil coisas. 


E, como é ano novo, me pego pensando na lista de mil desafios que me proponho todos os anos e das quais me despeço antes que o ano acabe. 


Não porque eu seja indisciplinada, mas simplesmente porque me dá preguiça fazer planos tão longos.



De repente me vejo com lápis na mão planejando 2011. Mas dessa vez de uma maneira (inovadora??). 


Escrevo apenas três desafios a serem cumpridos até junho: Emagrecer, é óbvio que este seria o primeiro item desta lista feminina; aprender a meditar e aprender a andar de bicicleta.


Ganhei uma bicicleta neste Natal. Papai Noel não está atrasadinho, ganhei a primeira aos oito anos de idade em um concurso na minha escola, mas minha mãe a vendeu com medo de eu me machucar. Nunca aprendi. 


O dinheiro da bicicleta foi usado para comprar malas para minha primeira viagem fora do Brasil.


Meu filho deu a idéia: Pai, vamos comprar uma bicicleta de Natal para a mamãe? 


E agora não tem jeito, vou ter que aprender ou ouvir gozação o resto da vida.


Então, eis-me aqui neste início de ano fazendo promessa. 


Não vou planejar mais do que dependa apenas de mim. 


A vida anda me ensinando que planos que envolvem terceiros podem se tornar totalmente imprevisíveis.


Vou seguindo o curso do rio, sem muitas expectativas. Apenas com alguns sonhos bem guardadinhos e semeados. Estes eu não conto, ainda.


E volto a pensar na máquina de fazer mil coisas. 


Aquela que não está à venda pelo Shop Time, mas que construímos dentro do peito e ressurge a cada janeiro.





sábado, 7 de agosto de 2010

Sobre Josés e Marias


Maria estava agora com 36 anos e, dos anos vividos com José, não tiveram filhos. José e Maria queriam muito uma criança. Um dia, uma amiga lhe contou que outra Maria estava para ter um bebê e que iria dá-lo para adoção.

Maria também tinha 36 anos e este seria o seu sexto filho. A filha mais nova de Maria tinha agora 2 anos de idade. Maria, sem companheiro, fez uma escolha difícil.

Maria, a mãe adotiva, teve a graça de acompanhar o parto da mãe biológica. Era um menino. Um novo José que chegava a este mundo.

E foi neste momento que aconteceu um episódio raro nas histórias de adoção. A mãe do novo José teve seu menino de parto normal, acompanhada da mulher que iria receber sua criança, e, mesmo sabendo que ele seria adotado, o amamentou. Nas primeiras horas de vida de seu filho, ela o amamentou.

Maria, a mãe adotiva, não presenciou este momento, dedicado apenas à mãe que com toda certeza despediu-se de seu filho. Talvez não com palavras (quem sabe), talvez apenas com o olhar.

Dois dias antes de tomar conhecimento desta história, por pura obra do acaso, em meio a Semana Mundial de Aleitamento Materno, ouvi a palestra de uma amiga que, em certo momento falou da amamentação em crianças adotivas:

“Quem for adotar uma criança, nunca a receba em sua casa com uma grande festa. Receba-a com alegria, sim, mas considerando a sua dor. Ela acaba de perder a mãe que a gerou. Bom seria se essa mãe tivesse a oportunidade de se despedir antes de entregar este filho para adoção. Infelizmente, o que acontece é o contrário. Muitas preferem nem ver a criança para não se apegar. Bom seria se essa criança fosse amamentada por sua mãe biológica e soubesse, por meio das mensagens sensoriais, que ela o ama, e que o ato de concedê-lo em adoção é um ato de amor.”

Os josés e marias dessa narrativa, por puro instinto, tiveram a sabedoria desse gesto. Escrevo para, de algum modo, perpetuar esta história, para que outras pessoas, mesmo poucas, a conheçam. Escrevo como uma Maria que amamentou seu José.