Eu tenho que admitir, em matéria de mudar e marcar, famoso artigo de Airton Luiz Mendonça, publicado no Estado de São Paulo, o ano de 2009 foi bem apropriado para vencer desafios e sair do lugar comum.
Para quem tem filhos, como eu, já conta com um grande aliado no quesito quebrar rotinas. Doença de filho tira a gente do sério. Este ano, a H1N1 teve o papel de nos deixar em pé de alerta ao sinal de qualquer resfriado ou febre.
A dengue até perdeu o seu destaque de musa do verão. No meu caso, ainda somaram-se enormes reviravoltas no trabalho em um cenário político de montanha russa. Nada, absolutamente nada, que eu pudesse controlar.
Em seu texto, Airton explica que a sensação de que o tempo passa mais rápido está diretamente relacionado com o nosso tempo de vida. Diga-me quantos cajus você possui (expressão nordestina para se contar a idade) e eu te direi o quanto o relógio pode estar acelerado no seu dia-a-dia.
O nosso cérebro mede o tempo observando os movimentos que nos cerca. Por isso a expressão, também nordestina (ou quiçá lusitana) usada tão deliciosamente por Elomar:
“Nos encontraremos novamente na quadra certa da lua”.
E se ela não chegar, é porque não era para ser. O mundo é cíclico porque nós o compreendemos assim.
Se alguém colocar você dentro de uma sala branca vazia, sem portas ou janelas e sem relógio, você começará a perder a noção do tempo. Sem a noção exterior dos movimentos, você passará a medir o tempo pelos seus movimentos internos, como os batimentos cardíacos, ciclos de sono, fome, sede e pressão sanguínea.
Um cérebro adulto registra entre 40 e 60 mil pensamentos por dia. Para que você não enlouqueça, ele evita processar a mesma informação duas vezes.
Por isso, por mais belo que seja um por do sol, se você tem o privilégio de morar em uma ilha paradisíaca e vê-lo todos os dias, você passa a não ”enxergá-lo”.
Então, Airton nos ensina uma receita de eterna juventude: O Mude e Marque, ou como ele charmosamente chama de M&M. E 2009 me proporcionou isto, sem que precisasse fazer muitos esforços. Este foi um ano de provas e expiações kardecistas. Tudo o que foi programado, premeditado, não colheu frutos. A rotina fez as malas e saiu sem rumo.
A sensação de não estar no controle é desagradável até o momento em que nos entregamos a ela. Não há o que fazer, não há o que semear, como disse Clarrisa Pinkola Estés, em O Jardineiro que tinha fé. Vamos arar o terreno e esperar as sementes que o vento nos trará.
Tenho algumas pessoas a agradecer nesta jornada. Paulo, meu companheiro, um sábio que tem a medida exata da arte do saber esperar e do saber agir, ao meu filho, que todos os dias me ensina uma nova maneira de ver a vida, e me mostra o quanto ainda preciso soltar minhas amarras e simplesmente me entregar ao sentimento.
E algumas sementes que começaram a germinar no meu jardim. Deborah, duas Andréas, Polyana, Júlio, Soraya, Vilma, Robert, Regina, Isis, Bruno, Carolina, Francine...
Outras que vieram há mais tempo e que já são pequenas mudas. Cleide, Kelly, Aline, Tereza, Serginho, Fernando, Raul, Marilise, Pollyana, Dora, Ramon, Letícia, Marco...
No meu jardim também há árvores frondosas que há algum tempo não saboreava seus frutos e que neste ano eu pude colher alguns. Meu reencontro com Silvia foi assim, como se nunca houvesse separação. Porque na verdade não há.
Também tiveram pessoas que vieram e passaram, mas que deixaram seu registro, como a doce Jesane, que nunca sequer saberá que citei seu nome por aqui.
Em um universo tão místico, sigo minha caminhada. Não há certezas, não há sequer estradas traçadas. Apenas a vontade de semear e de me superar. Aliás, essa é a melhor parte.