Livro Tafuri
Livro Tafuri
Livro Tafuri
TAFURI
MANFREDO
e le sue letture
I suoi lettori
and their readings
his readers
e suas leituras
seus leitores
Since its inception, the initiative was conceived as an SEMINÁRIO Mário Henrique Simão D’AGOSTINO
opportunity to reflect on the students’ reception to the FAU USP Brasil
thought of the Italian theorist Manfredo Tafuri, a theme INTERNACIONAL Adalberto da Silva RETTO JR
that had been little explored until then.
In the light of the point of view of what we call ‘readers
PROCEEDINGS OF THE Unesp - Bauru Brasil
Rafael Urano FRAJNDLICH
and readings’, it was proposed from the testimony of tho- INTERNATIONAL UNICAMP Brasil
se who ‘read’ Tafuri directly, closely, as his student, but SEMINAR
also from those who learned from him and graduated
after the your arrival in Venice. This double point of view ATTI DEL SEMINARIO PARTICIPANTES:
allowed us to offer the reader a significant look at the evo-
lution of Tafuri’s historiographic method, recovering the INTERNAZIONALE Adalberto da Silva RETTO JR
methodology of thought construction of some of his cour- Unesp - Bauru Brasil
ses, as well as the content of his classes. Manfredo Tafuri: seus leitores e suas leituras Paolo MORACHIELLO
3
Apresentação
Presentation
Presentazione Tafuri e os arquitetos 4
06 A construção de um programa: Manfredo Tafuri, Tafuri and the architects
Tafuri e gli architetti
seus leitores e suas leituras
The construction of a program: Manfredo Tafuri, Vittorio GREGOTTI - Vídeoconferência 358
his readers and their readings IUAV di Venezia
Mário Henrique Simão D’AGOSTINO - FAU USP, Brasil Paulo Mendes da ROCHA 360
Adalberto da Silva RETTO JR. - Unesp Bauru, Brasil FAU USP, Brasil
Rafael Urano FRAJNDLICH - UNICAMP, Brasil
4 5
A construção de um programa: Na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Univer-
Manfredo Tafuri, seus leitores sidade de São Paulo – FAUUSP, entre os dias 23 e 25 de
e suas leituras fevereiro de 2015, ocorreu um seminário sobre a obra de
The construction of a program:
Manfredo Tafuri (1935-1994) e sua recepção por parte de
Manfredo Tafuri, his readers and their
readings colegas de sua geração, alunos e estudiosos, com o obje-
La costruzione di un programma: tivo de atualizar uma trajetória intelectual à luz dos dile-
Manfredo Tafuri, i suoi lettori e mas contemporâneos.
le sue letture
O programa foi organizado em cinco sessões não cro-
nológicas que partem de temas básicos suscitados por seu
Mário Henrique Simão D’AGOSTINO
Adalberto da Silva RETTO JR trabalho. Cada sessão contou com um moderador brasilei-
Rafael Urano FRAJNDLICH ro que se incumbiu de fazer uma reflexão sobre o impacto
da obra de Manfredo Tafuri no Brasil, revelar a rede de re-
TraduçãoTranslationTraduzione
Thiago Tomassine Duarte Vieira lações e os intercâmbios científicos construídos em torno
do seu método historiográfico e produção.
RevisãoReviewRecensione
Anita Di Marco Como escreve Howard Burns, Tafuri criou “um novo e
Ann Puntch
fértil modo de fazer história da arquitetura – ou histó-
ria tout court – que não ‘explica’ a arquitetura em termos
de ‘contexto’, mas identifica a sua função fundamental no
âmbito de um dado momento cultural e político e a sua
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interação com as outras forças culturais, pela qual não é submeter a crítica às fontes, uma vez reconhecida a sua his-
passivamente determinada”. 1 toricidade? Como fazer falar monumentos e documentos
Na primeira sessão, intitulada “O Projeto Histórico e a de arquivo para restituir um cenário significante, não isolado
Formação do Historiador de Arquitetura”, explorou-se a for- nos seus confins?”.2
mação do Dipartimento di Analisi Critica e Storica (1976) da A segunda geração foi representada pelo professor
Universidade de Veneza que substituiu o antigo Istituto di Andrea Guerra, um dos orientandos do primeiro ciclo do
Storia dell’Architettura, dirigido por Bruno Zevi e depois por Doutorado em História da Arquitetura, e terceira, repre-
Manfredo Tafuri, assim como o debate acerca do denomina- sentada pelo Prof. Luka Skansi, participante da última turma
do Projeto Histórico, buscando explicitar as repercussões de de alunos de Tafuri antes do seu falecimento, refletiu princi-
seus estudos por três gerações. A geração pioneira, repre- palmente sobre a pesquisa comparada e o retorno do nos-
sentada pelo Prof. Paolo Morachiello, primeiro diretor do so personagem ao Renascimento, momento em que a sua
Departamento, mapeou fatos, ideias e debates que colabo- produção distanciava-se do projeto contemporâneo e vol-
raram com a sua formação e consolidação, com claro intuito tava-se para os grandes mestres do passado, como Alberti,
para a formação do historiador de arquitetura. Raffaello, Sansovino, Palladio, Borromini e outros. A media-
Dois anos antes de sua morte, Manfredo Tafuri escreveu ção do grupo foi feita pelo arquiteto e professor Adalberto
na introdução do livro “La piazza, La chiesa, Il parco” sobre Retto Jr., ex-aluno da FAU USP que participou como bolsista
o método que embasaria as novas pesquisas no âmbito ve- do CNPq, no doutorado sanduíche na Universidade IUAV de
neziano: a relação entre filologia e análise historiográfica a Veneza, na última turma de Doutorado do Projeto Histórico.
partir de objetos pontuais – fragmentos, em um arco tem- As outras sessões partiram de dois grandes temas – Re-
poral que se dilata do século XIV ao XIX. O eixo que articula nascimento e Arquitetura Contemporânea, que perpassa-
todos os escritos desse volume é a complexa relação entre ram os 23 livros de Tafuri. A segunda sessão, intitulada “Re-
ideia, texto e contexto, a partir de elementos pontualiza- nascimento, Arquitetura e Cidade”, abordou a importância
dos, além da busca do método adequado para cada um, no dos estudos comparativos, a partir da elaboração de um
decorrer da sua longa história. Na mesma introdução Tafu- mosaico de escolhas que pontuam as pesquisas de Tafuri,
ri faz indagações importantes de como as pesquisas foram suas continuidades e inflexões, e discutiu questões em torno
abordadas: “Que filologia para este tema particular? Como
2 RETTO JR., Adalberto. Os saltos de escala no estudo (e no projeto) da
1 RETTO JR., Adalberto; BOIFAVA, Barbara. Donatella Calabi. Entrevista, São cidade e do território: indagações à luz do debate veneziano. Arquitextos, São
Paulo, ano 04, n. 015.01, Vitruvius, jul. 2003. Disponível em <http://www.vitru- Paulo, ano 11, n. 132.03, Vitruvius, maio 2011 <http://www.vitruvius.com.br/
vius.com.br/revistas/read/entrevista/04.015/3335>. revistas/read/arquitextos/11.132/3897>.
8 9
do “Longo Renascimento”, considerado em uma perspectiva A terceira sessão, intitulada “Cidade e arquitetura no sé-
crítica que rejeita o marco temporal da maioria dos estu- culo XX”, foi um aprofundamento sobre o historiador e sua
dos historiográficos desse período. análise da produção arquitetônica contemporânea, explici-
Cacciari ressalta que o próprio título do livro “Ricerca del tada nos livros “Architettura italiana 1944-1981” (1986), “Teorie
Rinascimento: principi, città, architetti” é um exercício de e Storia dell’Architettura” (1968), “Progetto e Utopia” (1969 e
filologia viva, pois deixa de trabalhar com a pesquisa sobre 1972) e, ainda no “Storia dell’Architettura Contemporanea”,
o Renascimento para incorporar a “própria visão do Renasci- escrito com Francesco Dal Co, em 1976.
mento como pesquisa”3. Oito anos depois de sua chegada ao IUAV, Manfredo
Os estudos de Morachiello e da professora Donatella Tafuri fundou, em 1976, o Dipartimento di Analisi Critica e
Calabi, representante italiana no debate, sobre o coração Storica sobre as cinzas do Istituto di Storia dell’Architettura
comercial de Rialto e as bases teóricas das técnicas, sobre dirigido por Bruno Zevi. A mudança sucessiva do nome do
as relações entre o debate religioso, a vida civil, a expressão departamento que voltou à antiga denominação de Sto-
artística e o papel da imagem na Veneza dos séculos XV e ria dell’Architettura mostra que os dois adjetivos, “Critica”
XVI, fazem parte de um quadro único de referência então e “Storica”, constituíam uma tautologia. Como sustentava
trabalhada nessa sessão. Tafuri, “a história sempre teve uma função crítica”, logo
“não existem críticos, somente historiadores” (Non ci sono
O segundo palestrante, o professor Christoph Frommel,
critici, solo storici). De fato, a nova denominação marcava
Diretor Emérito da ‘Biblioteca Hertziana’ de Roma, aprofun-
a passagem para uma fase em que a “fecunda incerteza da
dou-se no diálogo de Tafuri com os estudiosos da deno-
análise” se contrapunha à certeza do projeto da denomi-
minada Scuola Romana e do Centro Internazionale di Studi
nada “Storia operativa de Zevi”.4
di Architettura ‘Andrea Palladio’, na rediscussão de estudos
clássicos como aqueles de Rudolf Wittkower e Jacob Bur- Por sua vez, segundo Retto Jr., Jean Louis Cohen, que
ckhardt. A mediação coube ao professor Mário Henrique seguiu atentamente o âmbito intelectual veneziano, Ita-
Simão D’A gostino, estudioso do Renascimento italiano e lophilie (1984), Dall’affermazione ideologica alla storia pro-
que, desde cedo, estabeleceu um diálogo intelectual com fessionale (1999), explicita que, ao superar a questão da
Manfredo Tafuri e sua obra. operatividade da história, a “Scuola di Venezia” consegue
3 RETTO JR., Adalberto. Marco Biraghi. Entrevista, São Paulo, ano 07, n. 4 RETTO JR., Adalberto; BOIFAVA, Barbara . Donatella Calabi. Entrevista, São
028.01, Vitruvius, out. 2006. Disponível em <http://www.vitruvius.com.br/ Paulo, ano 04, n. 015.01, Vitruvius, jul. 2003. Disponível em: <http://www.vitru-
revistas/read/entrevista/07.028/3300>. vius.com.br/revistas/read/entrevista/04.015/3335>.
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passar do estudo das conjunturas àquele das estruturas, Nessa sessão, utilizou-se novamente uma cronologia
posta como fundamento da historiografia dos “annales”: geracional com colaboradores diretos de Tafuri: Prof. Marco
sem subscrever a causa da longa duração per se stessa, De Michelis e Prof. Dr. Guido Zucconi.
mas propondo-lhes rearticulações diacrônicas que fazem A moderação da sessão coube ao Prof. Carlos Martins, do
aparecer os ciclos estruturais segundo os quais a crise do Instituto de Arquitetura e Urbanismo da USP de São Carlos,
capitalismo e da arquitetura se compõem e se correspon- que não somente é um leitor de Manfredo Tafuri como re-
dem.5 presenta um importante grupo de pesquisa e reflexão sobre
No mesmo artigo, Retto Jr. explicita que, nos anos de a arquitetura moderna no Brasil.
1970, década que recebeu de Guido Zucconi a denomina- A quarta sessão, denominada “Tafuri e os Arquitetos”,
ção de ‘os anos de ouro da história urbana na Itália’, “um explorou o diálogo entre os profissionais. É fato que o en-
grupo de professores começa a delinear um modo novo contro de Tafuri com Bruno Zevi foi determinante para as
e autônomo de se fazer história, no qual o termo ‘análi- suas novas escolhas, e que o confronto entre os dois assumiu
se urbana’ deixa de ser sinônimo da “análise operantiva”, grande importância em meio à discussão da denominada his-
protagonizada por Saverio Muratori em seu “Studi per una tória operativa. Nesse sentido, apesar de a formação de Man-
operante storia urbana di Venezia”(1953). fredo Tafuri ter sido iniciada como colaborador de grandes
As reflexões de Tafuri sobre as correntes artísticas do arquitetos do cenário italiano e de, em 1960, ele assumir a
século XX foram consideradas como uma ruptura epistemo- cadeira de professor assistente universitário ao lado de Sal-
lógica no corpus da história da arquitetura contemporânea. vatore Greco – docente do curso de Composizione Archite-
Ao movimento moderno ele agregou um conjunto de dú- ttonica, em momento posterior, ele motivou os arquitetos-
vidas que, vistas a partir das análises precedentes de Argan, -historiadores a tomarem distância do métier de projetista,
Rogers e Paci, privilegiou os conflitos e destacou as aporias como forma de evitar que a “fecunda incerteza da análise”
dos discursos das vanguardas, cujo poder desestabilizador foi fosse maculada pela certeza da proposição projetual. Man-
descoberto depois dos anos de 1960: ele enfatizou as con- fredo Tafuri encorajou e promoveu a formação de espe-
tradições entre as intenções e os projetos, as ideologias e as cialistas em materiais, estruturas, métodos arqueológicos,
práticas. história das técnicas e das representações, de modo a obter
figuras competentes às quais delegaria, também, trabalhos
5 RETTO JR., Adalberto. Jean-Louis Cohen. Entrevista, São Paulo, ano 06, n. de restauro e preservação do patrimônio.
024.01, Vitruvius, out. 2005. Disponível em < https://www.vitruvius.com.br/
revistas/read/entrevista/06.024/3312?page=1>. Dessa forma, Tafuri estabeleceu intenso diálogo com
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arquitetos do IUAV vinculados à escola morfológica, com culação de ideias na área de urbanismo, estabeleceu um
raízes no trabalho de Saverio Muratori, como Aldo Rossi e efetivo intercâmbio com o IUAV, pela assinatura de convênio
Vittorio Gregotti, entre outros, e além-mar, como Rafael entre as duas instituições. A segunda sessão foi mediada pela
Moneo e Peter Eisenman, que o levaram a tecer algumas professora Cibele Saliba Risek, do IAU-USP de São Carlos.
definições, tais como : “Eisenman é um terrorista formal”; O fechamento do evento contou com a presença de dois
Meyer é um “mecânico das funções”; Graves é um “polissígni- dos maiores intelectuais da atualidade: o professor Alberto
co”. A moderação da quarta sessão foi feita pela professora Asor Rosa, da Universidade de Roma La Sapienza, que abor-
Anne Marie Sunmer, que trouxe Paulo Mendes da Rocha, dou o tema Entre Política, e a professora Otília Beatriz Fiori
arquiteto e prêmio Pritzker 2006, para falar do historiador ita- Arantes, FFLCH-USP, com o tema A Dialética Negativa de
liano. Tafuri.
A quinta e última sessão dividiu-se em dois tipos de lei-
tores externos ao contexto veneziano: os primeiros tiveram
uma interlocução direta com Manfredo Tafuri, como Jorge
Liernur, da Universidad Torcuato Di Tella de Buenos Aires, Car-
los Sambricio, da Escuela Técnica Superior de Arquitectura da
Universidad Politécnica de Madrid, Rafael Moreira, da Universi-
dade Nova de Lisboa/CHAM, Centro de Humanidades, NOVA
FCSH/UA; os segundos correspondem a estudiosos que não
tiveram uma relação direta com Tafuri, mas que trabalha-
ram alguns aspectos do seu percurso intelectual e da sua
abordagem em relação à história da arquitetura contempo-
rânea: Prof. Marco Biraghi, do Politecnico di Milano, o Prof.
Daniel Sherer (Columbia University), e no contexto brasilei-
ro, o Prof. Rafael Urano Frajndlich (FEC-Unicamp), autor do
mais recente trabalho, no país, sobre o historiador romano,
intitulado “Manfredo Tafuri: o tempo da cidade longínqua”.
A mediação da mesa coube à professora Maria Cristina
da Silva Leme, da FAU-USP que, além de trabalhar com cir-
14 15
The construction of a program: Historical Project, seeking to explain the repercussions of
Manfredo Tafuri, his readers and their readings Tafuri’s studies for three generations. The pioneer genera-
tion, represented by the first director of the Department, Prof.
The School of Architecture and Urbanism of the Universi- Paolo Morachiello, mapped the facts, ideas and debates that
ty of São Paulo – FAU/USP, from February 23-25, 2015 hosted contributed to its formation and consolidation, with the clear
a seminar on the work of Manfredo Tafuri (1935-1994) and its objective to train architectural historians.
reception by the colleagues of his generation, students and Two years before his death, Manfredo Tafuri wrote in the
researchers, in order to update an intellectual trajectory in introduction to “La piazza, La chiesa, Il parco” on the method
the light of contemporary dilemmas. that would underlie new investigations in the Venetian con-
The program was organized in five non-chronological ses- text: the relationship between philology and historiographi-
sions based on themes derived from his work. Each session cal analysis from single objects - fragments, in a temporal arc
had a Brazilian moderator who was responsible for replica- that extends from the fourteenth to the nineteenth century.
ting the impact of Manfredo Tafuri’s work in Brazil, revealing The axis that articulates all the writings of this volume is the
the network of relationships and scientific exchanges built complex relationship between idea, text and context, based
around his historiographic method and production. on single elements, as well as the search for the appropriate
method for each one, throughout their long history.
As Howard Burns writes, Tafuri created “a fertile new way
of making architectural history - or tout court history - that In the same introduction, Tafuri asks important questions
does not ‘explain’ architecture in terms of ‘context’, but iden- about how researchers approached their investigations:
tifies its fundamental role within a given sociopolitical mo- “What is the philology for this particular topic? How can we
ment and its interaction with other cultural forces, although submit critiques to sources once their historicity is recogni-
such interaction does not passively determine it.1 zed? How can we possibly make monuments and archives
speak in order to restore a significant scenario, not isolated
The first session, titled “The Historical Project and the Ar-
within its own confines?2
chitectural Historian’s Education”, explored the origins of the
Dipartimento di Analisi Critica and Storica (1976) of the Uni- The second generation was represented by Professor An-
versity of Venice, which replaced the former Istituto di Storia drea Guerra, one of the students of the first cycles of the Doc-
dell’Architettura, directed by Bruno Zevi and later by Man- toral Program in History of Architecture, and the third was
fredo Tafuri. It also explored the debate about the so-called represented by Prof Luka Skansi, a member of Tafuri’s last
2 RETTO JR., Adalberto. The scale jumps in the study (and in the project) of the
1 RETTO JR., Adalberto; BOIFAVA, Barbara. Donatella Calabi. Interview, Sao Pau- city and the territory: questions in the light of the Venetian debate. Architext,
lo, year 04, n. 015.01, Vitruvius, Jul. 2003. Available at <http://www.vitruvius. São Paulo, year 11, n. 132.03, Vitruvius, May 2011. Available at <http://www.
com.br/revistas/read/entrevista/04.015/3335>. vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/11.132/3897>.
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class before his death. They reflected mainly on the compara- the relationship between religious debate, civic life, artistic
tive research and our subject’s return to the Renaissance, at expression, and the role of image in Venice in the fifteenth
a time when his production moved away from contemporary and the sixteenth centuries, are part of a unique frame of
design and turned to the great masters of the past, such as reference then considered in this session.
Alberti, Raffaello, Sansovino, Palladio, Borromini, and others. The second speaker, Professor Christoph Frommel, Direc-
The group was mediated by architect and professor Adalber- tor Emeritus of the Hertzian Library in Rome, deepened Tafu-
to Retto Jr., a former student of FAU USP who participated as ri’s dialogue with the researchers of the so-called Scuola Ro-
a CNPq scholarship student at the sandwich doctorate at the mana and the Centro Internazionale di Studi di Architettura
IUAV University of Venice, in the last group of the Historical ‘Andrea Palladio’, in revisiting classical studies such as those
Project Doctoral Program. of Rudolf Wittkower and Jacob Burckhardt. The mediation
The other sessions came from two major themes - Renais- fell to Professor Mario Henrique Simão D’Agostino, an Italian
sance and Contemporary Architecture, which surveyed Tafu- Renaissance researcher, who from an early age, established
ri’s twenty-three books. The second session, “Renaissance, an intellectual dialogue with Manfredo Tafuri and his work.
Architecture and the City” addressed the importance of com- The third session, titled “City and Architecture in the
parative studies, from the elaboration of a mosaic of choices Twentieth Century”, was a deeper look at the historian and
that mark Tafuri’s research, its continuities and inflections, his analysis of contemporary architectural production, as
and discussed issues around the “Long Renaissance”, consi- seen in the books “Architettura italiana 1944-1981” (1986),
dered from a critical perspective that rejects the time frame “Teorie and Storia dell’Architettura” (1968), “Progetto and
of most historiographical studies of this period. Utopia” (1969 and 1972) and further, in the “Storia dell’Ar-
Cacciari points out that the very title of the book “Ricerca chitettura Contemporanea”, written with Francesco Dal Co,
del Rinascimento: principi, città, architetti” is an exercise in in 1976.
living philology, since it ceases to work with research on the Eight years after his arrival at the IUAV, Manfredo Tafuri
Renaissance to incorporate its “own vision of the Renaissance founded, in 1976, the Department of Critical and Historical
as research”. 3 Analysis (Dipartimento di Analisi Critica e Storica) on the
The studies by Morachiello and Professor Donatella Cala- ashes of the Istituto di Storia dell’Architettura directed by
bi, the Italian representative in the debate, on Rialto’s com- Bruno Zevi. The successive change in the name of the de-
mercial center and the theoretical bases of techniques, on partment that recuperated the old name of Storia dell’Archi-
tettura shows that the two adjectives, “Critica” and “Storica”,
3 RETTO JR., Adalberto; Marco Biraghi. Interview, São Paulo, year 07, n. 028.01, constitute a tautology. As Tafuri maintained, “ history has
Vitruvius, out. 2006. Available at <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/ always had a critical function,” so “there are no critics, only
entrevista/07.028/3300>.
18 19
historians” (Non ci sono critici, solo storici). In fact, the new tieth century were considered as an epistemological ruptu-
denomination marked the passage to a phase in which the re in the corpus of the history of contemporary architecture.
“ fruitful uncertainty of the analysis” was in opposition to the To the modern movement he added a set of doubts that, as
certainty of the project of the so-called Storia operativa of seen from the previous analyzes of Argan, Rogers, and Paci
Zevi”.4 prioritized the conflicts and highlighted the contradictions of
On the other hand, according to Retto Jr., Jean Louis the avant-garde discourses, whose destabilizing power was
Cohen, who closely followed Venetian intellectual develop- discovered after the 1960s: he emphasized the contradictions
ments, Italophilie (1984), Dall’affermazione ideologica alla between intentions and projects, ideologies and practices.
storia professionale (1999), explains that by overcoming In this session, a generational chronology was used again
the operativity of history, the Scuola di Venezia manages to with Tafuri’s direct collaborators: Prof. Marco De Michelis
move from the study of states to that of structures, a passage and Prof. Dr. Guido Zucconi. The moderator was Prof. Carlos
that underlies the history of the french review “Les Annales”. Martins, from the USP São Carlos Institute of Architecture
And he achieved this without espousing the “long duration” and Urbanism, who is not only a reader of Manfredo Tafu-
(per se stessa) for its own sake, but by proposing diachronic ri, but also represents an important research and reflection
rearticulations that bring about structural cycles, in which group on modern architecture in Brazil.
the crises of capitalism and architecture were reflected and The fourth session, titled “Tafuri and the Architects”, ex-
linked.5 plored the dialogue between professionals. It is a fact that
In the same article, Retto Jr. explains that in the 1970s, Tafuri’s meeting with Bruno Zevi was decisive for his new
the decade called “the golden years of urban history in Italy” choices, and that the confrontation between the two assu-
by Guido Zucconi, “a group of teachers began to delineate a med great importance in the midst of the discussion of the
new and autonomous way of making history, in which the so-called operative history. In this sense, although Manfredo
term ‘urban analysis’ is no longer synonymous with ‘operati- Tafuri’s education had started as a collaborator of great ar-
ve analysis’, featured by Saverio Muratori in his ‘Studi per una chitects of the Italian scene and, in 1960 and despite being
operantiva storia urbana di Venezia’ (1953). an assistant professor alongside Salvatore Greco - lecturer
Tafuri’s reflections on the artistic currents of the twen- of the Composizione Architettonica program, sometime la-
ter, he motivated historian-architects to distance themselves
4 RETTO JR., Adalberto; BOIFAVA, Barbara. Donatella Calabi. Interview, Sao Pau- from the drafter’s métier as a way to prevent the “ fruitful
lo, year 04, n. 015.01, Vitruvius, Jul. 2003. Available at: <http://www.vitruvius. uncertainty of analysis” from being marred by the certainty
com.br/revistas/read/entrevista/04.015/3335>.
5 RETTO JR., Adalberto. Jean-Louis Cohen. Interview, São Paulo, year 06, n. 024.01,
of the design proposition. Manfredo Tafuri encouraged and
Vitruvius, Oct. 2005. Available at < https://www.vitruvius.com.br/revistas/read/ promoted the training of specialists in materials, structures,
entrevista/06.024/3312?page=1>.
20 21
archaeological methods, and the history of techniques and The mediator was Professor Maria Cristina da Silva Leme,
representations, in order to obtain skilled professionals to from FAU USP, who, in addition to working with the exchan-
whom he would also delegate works of restoration and pre- ge of ideas in the area of urbanism, established an effective
servation of heritage. exchange with the IUAV by signing an agreement between
Thus, Tafuri established an intense dialogue with the the two institutions. The second session was mediated by
IUAV architects linked to the morphological school, rooted in Professor Cibele Saliba Risek, from the IAU-USP of São Carlos.
the work of Saverio Muratori, such as Aldo Rossi and Vittorio The closing of the event was attended by two of today’s
Gregotti, among others, and overseas those such as Rafael greatest intellectuals: Professor Alberto Asor Rosa, from the
Moneo and Peter Eisenman, who led him to make some sta- La Sapienza University, in Rome, who addressed the topic,
tements, such as: “Eisenman is a formal terrorist”; Meyer is a “Between Politics and Architecture”, and Professor Otília Be-
“mechanic of functions”; Graves is a “polysignic”. The fourth atriz Fiori Arantes, from FFLCH-USP, with the theme Tafuri’s
session moderator was Professor Anne Marie Sunmer, who Negative Dialectic.
brought Paulo Mendes da Rocha, architect and 2006 Pritzker
Prize winner, to speak on the Italian historian.
The fifth and final session was divided into two types of
readers outside the Venetian context: the first kind had a
direct dialogue with Manfredo Tafuri, including Jorge Lier-
nur, from Torcuato Di Tella University in Buenos Aires, Car-
los Sambricio, from the Advanced Technical School of Archi-
tecture at the Polytechnic University of Madrid, and Rafael
Moreira, New University of Lisbon/CHAM, Humanities Center,
NOVA FCSH/UA. Sambricio and Moreira correspond to rese-
archers who did not have a direct relationship with Tafuri,
but worked on some aspects of his intellectual path and his
approach to the history of contemporary architecture: Prof.
Marco Biraghi of the Politecnico di Milano, Prof. Daniel She-
rer (Columbia University), and in the Brazilian context, Prof.
Rafael Urano Frajndlich (FEC-Unicamp), author of the most
recent work in the country on the Roman historian, entitled
“Manfredo Tafuri: the Time of the Faraway City”.
22 23
1ªsessãosessionsessione
O projeto histórico e
a formação do
historiador da
Arquitetura
24
O curso de “História e “A verdadeira terra dos bárbaros não é aquela
Conservação do Bem Que nunca conheceu a arte,
Arquitetônico: uma experiência Mas aquela que, repleta de obras-primas,
contrastada”
Não sabe nem apreciá-las, nem conservá-las.”
The course “History and Conservation of
Architectural Good: a Contrasted (Marcel Proust)
Experience”
II corso “Storia e conservazione della
proprietà architettonica: A formação
un’esperienza contrastata”
Não sei se Manfredo Tafuri tinha em mente esta pas-
Paolo MORACHIELLO sagem de Proust quando concebeu no I.U.A.V. (então Insti-
tuto Universitário de Arquitetura de Veneza) um curso de
TraduçãoTranslationTraduzione
Marisa Barda graduação com a expressa finalidade de criar um profundo
núcleo de conhecimento, seja das intenções formais, seja
RevisãoReviewRecensione
Anita Di Marco das características mais íntimas de uma construção ma-
terial do patrimônio arquitetônico, herdado pela história,
e sua consequente e rigorosa conservação. De qualquer
forma, parece que ele se inspirou nas palavras do escritor
francês.
26 27
Na Europa e no mundo, a Itália é um país muito par- não apenas concepções e criações formais distintas, mas
ticular, aliás, único: único pela sua morfologia, pela sua também técnicas, procedimentos e tradições construtivas
história e pela riqueza e variedadede seu patrimônio ar- diferentes e, mesmo, os materiais empregados, obtidos de
quitetônico. Riqueza e variedade que devem – ou deveriam lugares próximos à construção ou mesmo distantes.
– ser preservadas e conservadas com o máximo respeito Agredido pelo tempo, pelas forças e pelas catástrofes
pelo original, portanto, com organicidade e sabedoria de naturais, mas igualmente, senão mais ainda pela mão do
ação; sabedoria de ação baseada no minucioso conheci- homem ou pelos danos provocados por eles no passar dos
mento analítico das estruturas originais, do comporta- séculos, o imenso, variado e articulado patrimônio arqui-
mento estático e dinâmico, das modificações e das marcas tetônico, único no mundo, que as últimas gerações italia-
nelas deixados – inevitavelmente – pelo tempo e pelo nas herdaram e as futuras herdarão necessita (ou melhor,
homem. Desde a proto-história até o século XVIII, nas ter- necessitaria) de cuidados periódicos regulares, manuten-
ras da península e das ilhas onde se criaram numerosíssi- ção constante, proteção atenta e absoluta. Caso contrário,
mas comunidades e sucessivos estados que, reunificados a Itália merece plenamente o título proustiano de nação
no século XIX, formaram a atual Itália, surgiram edifícios “bárbara”. Nas faculdades italianas de arquitetura e no
de todos os tipos e feitios, em quantidade quase hiper- nosso Instituto Universitário de Arquitetura de Veneza, no
bólica; edifícios de dimensões, equipamentos e materiais período de Manfredo Tafuri e do departamento de Histó-
diversos. Edifícios e complexos de edifícios situados em ria da Arquitetura dirigido por ele, funcionavam apenas
contextos físicos muito diferentes: na rocha sólida, nas dois cursos de restauro previstos pela programação dos
colinas mais macias, nas planícies inundáveis, em terrenos estudos. Poucos e, de qualquer maneira, insuficientes para
recuperados e saneados e até mesmo em águas salobras. compreender com seriedade os inúmeros conhecimentos
No decorrer do tempo e das eras, nos diversos solos da e ciências necessários para atuar para a conservação do
península e das maiores ilhas, foram sendo construídos material do antigo sem alterá-lo, traí-lo ou destruí-lo, um
pelos homens do neolítico, pelos etruscos, gregos, roma- antigo tão variado quanto presente em toda a parte. Pou-
nos, bizantinos, germânicos, normandos, sarracenos, por cos para lidar, seriamente, com a enorme responsabilida-
cidadãos das comunas, de reinos medievais, das Senho- de da conservação na Itália e, talvez, papel bem mais di-
rias e das Republicas renascentistas, pelos mais modernos fícil e delicado que a própria construção do novo, ao qual
reinos Sabaudo e Borbonico e (se quisermos exagerar), arquitetos recém-formados das Faculdades de Arquitetura
pelo dramático século XX. A cada época correspondiam e de Engenharia costumam se dedicar principalmente.
28 29
No final do século XX e inicios dos anos 2000, para nós, ra – talvez mais modesta – perfeitamente fiel à história,
membros do Departamento de História de Veneza faltava, minuciosa na análise detalhada das partes e do todo, com
de modo geral, com relação à proteção do imenso patri- profundo e detalhado conhecimento dos sistemas estáti-
mônio histórico, uma cuidadosa preparação específica e a cos e dos materiais antigos, escrupulosa na predisposição
paixão necessária, resguardada pela indispensável expe- e na realização em canteiro de obras de um projeto de
riência do canteiro de obras ou, nos raros casos em que verdadeira e quase absoluta conservação.
ambas existiam, eram quase exclusivamente o resultado O grupo trabalhou com entusiasmo e, finalmente, con-
de uma programação totalmente voluntária e pessoal, seguiu produzir um programa de estudos que, acrescen-
enquanto que, quase sempre, imperava a superficialidade tando novas matérias especificas, históricas e científicas,
ou, no caso, a iniciativa, a ocasião e o sucesso pessoal. a nosso ver, não esquecia nada do que era necessário: das
Diante da enorme e delicada responsabilidade, para Man- mais sofisticadas análises físicas, químicas e estáticas aos
fredo Tafuri e para o departamento – pois estudávamos e mais elaborados, respeitosos e mínimos procedimentos de
ensinávamos as obras realizadas desde a antiguidade até intervenção, para não subverter o antigo, protegendo-o o
os dias de hoje – parecia, finalmente, necessário preen- mais possível.
cher a grave lacuna.Assim, instituiu-se um grupo encar-
Foi um período muito fértil e trabalhoso, cujo resulta-
regado de estudar e elaborar um currículo adequado de
do nos pareceu quase emocionante (ao menos para os res-
estudos nas Faculdades de Arquitetura – e, obviamente,
tauradores do Departamento e para os historiadores que
em primeiro lugar, no nosso Instituto – capaz de formar
haviam trabalhado ali). Findo o longo período de direção
aquela figura imaginada, e até então inexistente, que sou-
de Tafuri (e, infelizmente, com o aparecimento dos primei-
besse unir rigorosamente o pleno conhecimento dos edifí-
ros sintomas de agravamento de seus problemas de saú-
cios históricos, a partir de sua estrutura, com a capacidade
de) coube a mim, seu sucessor na direção do Departamen-
de elaborar estratégias e formas de intervenção – seja
to de História, o papel de traduzir em realidade prática o
de conservação, de complementação, ou de restauração
projeto para abrir e introduzir no I.U.A.V. um novo “Curso
– minimamente invasivas, o mais possível fiéis às técni-
de Graduação em História e Conservação”– História e Con-
cas originais de construção. Não um projetista que, em
servação dos chamados bens arquitetônicos – aproveitan-
trechos inexistentes, se sobrepunha criando (aliás, foram
do, obviamente, as consultorias quase contínuas com ele
raros os que souberam fazê-lo: Carlo Scarpa e Franco Albi-
e, muitas outras com os poucos arquitetos-restauradores
ni permanecem ainda únicos nessa área), porém, uma figu-
(poucos, mas ótimos profissionais que quase represen-
30 31
tavam o nosso modelo), que tinham preferido aderir ao 2. Química e conservação dos materiais: conhecimento
Departamento de História em vez do de Restauro. Estu- da composição química dos materiais de construção mais
damos longa, atenta e escrupulosamente e, elaboramos comuns nas construções históricas, a fim de exercer a es-
um currículo especial de estudos a ser inserido no plano colha certa para a conservação.
didático de nosso Instituto – capaz de formar a figura que 3. Instruções de matemática: obtenção dos instrumen-
havíamos imaginado, até então, quase inexistente. tos analíticos e geométricos necessários para calcular o
Instituímos e abrimos, no Instituto Universitário de trabalho e a consequente resistência das estruturas his-
Arquitetura, um curso especifico a ser chamado Curso de tóricas.
Graduação em História e Conservação dos Bens Arquite- 4. História da arquitetura antiga: criações do mundo
tônicos e Ambientais, com docentes contratados tanto no mesopotâmico, egípcio, greco-helenístico, romano, tardo
próprio IUAV como outros profissionais renomados de fora romano, paleocristão, bizantino.
do Instituto.
5. Tecnologia da arquitetura: estudo das característi-
O melhor modo para entrar logo na estrutura do proje- cas mecânicas dos materiais de construção mais usados
to desejado consiste, sem nenhuma dúvida, em ilustrar o nas idades antiga e moderna e estudo das técnicas cons-
conjunto das matérias e suas finalidades e, portanto, dos trutivas fundamentais.
cursos que constituíam o plano didático dos quatro anos
6. Laboratório de análise dos materiais, disciplina re-
de estudo.
lacionada à Tecnologia da arquitetura: experimentação e
constatação das características técnicas e mecânicas dos
O plano didático e de formação materiais de construção mais difundidos nas construções
antigas e modernas.
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2. Informática aplicada (50 horas): fundamentos teóri- 2. Legislação dos bens culturais (100 horas): funda-
cos e exercícios de campo em pesquisa de arquivística, em mentos jurídico-administrativos relativos à tutela e à con-
noções e prática de paleografia. servação dos denominados “Bens Culturais” (ou seja, do
3. Petrografia aplicada (100 horas): estudo mineralógi- patrimônio artístico).
co e petrográfico dos materiais e características química 3. Problemas estruturais dos monumentos e das edi-
dos mesmos, conhecimento dos processos de degradação ficações históricas (100 horas): estudo do funcionamento
com a finalidade de preparar a sua conservação. estático e da segurança estrutural com a finalidade de se
4. Levantamento da arquitetura (100 horas): aprendi- realizarem intervenções de adequação, consolidação e, no
zagem das técnicas de levantamento analítico e proce- caso, de reabilitação estrutural.
dimentos para representação gráfica visando ao conheci- 4. História da arquitetura, curso monográfico (100 ho-
mento completo e detalhado da edificação. ras): estudo de um período ou episódio circunscrito da ar-
5. História da arquitetura medieval: estudo da arquite- quitetura com aprofundamento dos métodos de leitura e
tura compreendida entre o período tardo antigo e o início de interpretação das formas.
do Renascimento. 5. História da arquitetura moderna (100 horas): a ar-
6. Teorias e técnicas de construção durante seu desen- quitetura do período desde o “Renascimento” ao final do
volvimento histórico: estudo e experiências do comporta- século XVIII.
mento estático e dos sistemas de resistência das constru- 6. Tecnologia da recuperação de bens arquitetônicos
ções pertencentes aos períodos históricos acima citados. (100 horas): conhecimento dos materiais normal e, às ve-
7. Laboratório de análise dos materiais (25 horas), dis- zes, excepcionalmente usados na recuperação e na con-
ciplina relacionada à Petrografia aplicada: métodos de servação de edificações históricas.
análise das características técnicas e mecânicas das cons- 7. Construções de alvenaria e construções de madei-
truções antigas e modernas. ra (100 horas): conhecimento do comportamento estático
das principais estruturas descontínuas usadas nas edifica-
ções históricas.
Disciplinas do terceiro ano
8. Laboratório de reabilitação estrutural e fundações
1. Características construtivas das edificações históri-
(25 horas): estudo do comportamento estrutural das cons-
cas (100 horas): análise dos sistemas estruturais, das téc-
truções históricas com o objetivo de conservação de seu
nicas e dos materiais nas edificações históricas.
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estado e à possível reabilitação (disciplina relacionada ração e controle das construções para o estudo do com-
aos problemas estruturais dos monumentos e da edifica- portamento ao longo do tempo.
ção histórica). 6. História da arquitetura contemporânea (100 horas):
principais construções e realizações arquitetônicas do sé-
culo XIX aos dias de hoje no mundo.
2. Estimativas e contabilização das obras (100 horas): 9. Laboratório de monitoração e controle das constru-
teoria e prática da avaliação do patrimônio arquitetônico ções (25 horas): estudo da monitoração e dos controles
com relação aos valores de mercado e de custo, e ao valor necessários para reconhecer o comportamento estrutural
de uso social e a formação de um juízo quanto à conveni- das construções históricas e da evolução de tal comporta-
ência das intervenções e das políticas no setor público e mento ao longo do tempo com monitoração adequada das
no privado. construções (disciplina relacionada a testes experimen-
tais, fiscalização e controle das construções).
3. Instalações técnicas (100 horas): fundamentos de
física, problemas relativos à inserção de instalações nos 10. Laboratório de síntese final coma participação de
edifícios históricos e projeto das instalações para prote- mais docentes preparando a Tese de Graduação (em uma
ção das obras de arte. das disciplinas acima descritas).
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estávamos seguros, de ter construído uma máquina bem Curso de Graduação em História e Conservação formata-
estruturada, uma resposta séria ao amadorismo de mui- do exatamente como o curso veneziano e, com o Decreto
tos engenheiros–arquitetos sem conhecimento da história Ministerial do dia 19 de julho de 1993, instituiu o título de
e sem experiência. E, de fato, por mais de cinco anos, o Doutor em História e em Conservação dos Bens Arquite-
curso foi uma máquina eficiente: número calculado de ins- tônicos e Ambientais para todos os que haviam obtido tal
critos, ótimos docentes – dentre eles, alguns arquitetos formação. Era um verdadeiro reconhecimento.
e engenheiros formados nas superintendências ou auto- Mas após a satisfação da vitória (ou, ao menos, o que
didatas por escolha própria e, desde o início da carreira, assim me parecia) que a qualidade e a articulação de nos-
dedicados ao estudo e restauro de estruturas antigas –, so projeto tinha provocado, veio a desilusão, os primeiros
plena participação de personalidades altamente qualifi- sinais da derrota.
cadas mediante encargos temporários de ensino, de supe-
Não tínhamos considerado a força daquilo que nosso
rintendentes de monumentos quase com o aval (na época
Curso, cientificamente vitorioso, teria suscitado no estado
acreditávamos) da aprovação das instituições nacionais, a
de coisas, nos estatutos consolidados; não tínhamos ima-
atividade e o apoio de um invejável e muito bem equipado
ginado os conflitos de interesse corporativo que o curso
laboratório de petrografia de fama internacional, contri-
teria criado. Nós, historiadores, não tínhamos considerado
buições temporárias de personagens influentes no setor
a complexidade da história; nós, historiadores, enfrenta-
do restauro, visitas guiadas a vários monumentos, perío-
mos a negatividade da história. Nossos graduados, que
dos de treinamento em importantes canteiros de obras em
não eram doutores em arquitetura, não tiveram a possibi-
vários lugares da Itália.
lidade de ter acesso ao exame da Ordem dos Arquitetos.
Era um programa específico, completo, desafiador e Apesar dos elogio feitos ao seu percurso de estudos que
prático que nenhuma outra universidade em tal setor já resultou no título de Doutor em História e Conservação
tinha configurado, aprofundamento das ciências afins e (conservação, note-se, implica idoneidade e a capacidade
conhecimento das tradições construtivas no decorrer da de conservar) não podiam, de fato, assinar um projeto de
história. E mais, quando o curso já funcionava, há alguns restauro nem serem responsáveis por um canteiro de obra.
anos, o Ministério Italiano da Universidade e da Pesqui- De fato, não podiam ser totalmente donos e responsáveis
sa, com base em resultados de uma comissão nacional do pelo seu próprio trabalho. Tínhamos sido absolutamente
trabalho, encarregada de organizar um Novo Sistema das ingênuos – ou estúpidos – em acreditar nos valores in-
Faculdades de Arquitetura, reconheceu, oficialmente, o trínsecos das coisas; foi um golpe muito duro, tanto quan-
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to, ingenuamente, inesperado. Na realidade para olhos esperadíssimas aulas de História da Arquitetura Moder-
habituados a verem os interesses das partes e o tenso na (do século XV ao XVIII), as quais seriam realizadas por
equilíbrio existente entre elas, era facilmente previsível; Manfredo Tafuri, ele veio a falecer sem a satisfação de ver
o fato revelou o erro puramente político-estratégico que, realizada uma sua ideia.Continuamos da mesma forma.
no entusiasmo, tínhamos cometido. Mas, era inevitável, com o entusiasmo abatido e o per-
Procuramos ajuda. Com dificuldade, recebida de um curso, profundamente enfraquecido. Não muito tempo de-
dos mais proeminentes funcionários do Ministério Italia- pois, superando o descontentamento e a derrota, ganhan-
no das obras Públicas, a única instituição que poderia, do não poucas, mas amarguradas resistências internas, a
se quisesse, resolver ou propor a solução, colocamos a maioria do Conselho de docentes decidiu fechar o Curso,
questão com a esperança de ajuda. Não foi assim: apesar excluindo-o do Estatuto de nossa Universidade (que, por
de apreciarem e reconhecerem o título pessoal do nosso sua vez, em seu conjunto nunca mostrou nenhuma par-
curso de estudos, a autoridade consultada disse-nos, cla- ticular solidariedade). A proposta feita pelo importante
ramente, que talvez a questão tivesse alcançado um re- dirigente ministerial a nós, docentes e responsáveis pelo
sultado positivo se tivéssemos achado uma personalidade curso, nos pareceu indigna e, por orgulho, jamais procu-
política com “ombros fortes” (palavras textuais), alguém ramos esse tal “paladino” político. Por outro lado, prova-
que tivesse força e autoridade de romper os entraves dos velmente, jamais o teríamos encontrado para realizar uma
direitos considerados ameaçados e fazer aceitar a admis- ação destinada a sacudir o equilíbrio e os interesses do
são dos nossos graduandos em um Exame da Ordem que sistema existente. Sim, foi uma verdadeira derrota, mas
legitimasse a responsabilidade do próprio trabalho. Não por causa de um conservadorismo próprio de quem não
havia nenhuma consideração para a validade intrínseca do pretende, de forma alguma, minar o equilíbrio existente
curso. A resposta da “política” e a força do “estado de fato” por causa de uma visão cínica da política de alguns al-
foi funesta e o curso se tornava inútil, quase paradoxal. tos, muito altos funcionários. Foi uma derrota, mas agora,
Não se reconhecia nenhum direito de exercitar a profissão decorridos muitos anos, estou convencido de que a der-
sem a subordinação a um arquiteto normal, cujos estu- rota também foi consequência de nossa miopia, por não
dos, absolutamente, não coincidiam com as finalidades e considerarmos de forma correta as inércias da história e,
procedimentos da verdadeira, bem fundamentada, sábia e por que não, até mesmo pelo pecado do orgulho. Comete-
responsável ação de conservação e restauro. Nesse meio mos o erro de acreditar que o valor da substância de uma
tempo, infelizmente, antes de iniciar, no novo curso, as ideia teria comportado, por si só, sua realização. Não foi
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nada assim. Talvez, aliás com certeza, nós, do novo curso
tenhamos tido pouca inteligência estratégica, e não leva-
mos em conta as intrincadas realidades do nosso país (o
que já é uma grande culpa); éramos historiadores mas não
entendemos o contexto histórico no qual agíamos e a for-
ça política corporativa das diversas ordens. Agimos como
se as ideias encontrassem força em si próprias (o grave
erro dos iluministas). Para prosseguir talvez devêssemos
ter transformado nosso curso em um Curso de aperfei-
çoamento destinado a engenheiros e arquitetos (o que
consistiria em nove anos de estudos). O impulso tinha se
apagado, mas não era esse nosso objetivo, nem tínhamos
mais forças ou, pelo menos, a convicção de enfrentar novo
encargo. Comemoramos as últimas graduações e, amargu-
rados, fechamos o curso dando fim ao projeto.
Compartilhando as mesmas ideias e apreciando nos-
sas tentativas, talvez, outros encontrem a força não só
de tentar outra vez, mas também, agora o sabemos, a for-
ça e o inicial apoio político, ambos necessários para dar The course “History and Conservation of Architectural Goods: a
saltos mais equipados e seguros. Afinal, é para isso que Contrasted Experience”
servem as vanguardas, a ingenuidade e, as experiências
negativas. Estas últimas, principalmente, são mais uteis à
história que as vitoriosas. “La vera terra dei barbari non è quella
Quero concluir com essa esperança. che non ha mai conosciuto l’arte,
ma quella che, disseminata di capolavori,
non sa né apprezzarli né conservarli”
(Marcel Proust)
42 43
La formazione li, sui terreni bonificati, persino nell’acqua salmastra. Nello
scorrere del tempo e delle ere nei diversi suoli della penisola
e delle isole maggiori costruirono via via uomini dell’eneoli-
Non so se Manfredo avesse in mente il passo di Proust
tico, Etruschi, Greci, Romani, Bizantini, Germanici, Normanni,
quando la concepì ma è certo che la sua idea di creare allo I.
Saraceni, cittadini dei Comuni e dei Regni medievali, delle
U. A.V. (allora Istituto Universitario di Architettura di Venezia)
Signorie e delle Repubbliche rinascimentali, dei più moderni
un Corso di Laurea propriamente finalizzato alla profonda
Regni Sabaudo e Borbonico e (se vogliamo abbondare) del
conoscenza sia degli intenti formali sia delle caratteristiche
drammatico XX secolo. Ad ogni epoca corrisposero non solo
più intime della costruzione materiale del patrimonio archi-
concezioni e creazioni formali ma anche tecniche, procedure
tettonico ereditato dalla storia e alla conseguente sua rigo-
e tradizioni costruttive diverse come diversi furono i mate-
rosa conservazione sembra ispirarsi alle parole dello scrittore
riali da costruzione, tratti dai luoghi vicini o prossimi o fatti
francese.
giungere da lontano.
L’Italia è in Europa e nel mondo un paese del tutto par-
Insidiato dal tempo, dalle forze e dalle catastrofi naturali
ticolare, anzi unico: unico per la sua morfologia e per la sua
ma forse, in ugual modo, se non maggiormente, dalle mano-
storia e, unite ad esse, per la ricchezza e la varietà del suo
missioni o dai danni arrecati dagli uomini nel corso dei secoli,
patrimonio architettonico che possiede. Una ricchezza e una
l’immenso, vario, articolato patrimonio architettonico unico
varietà che devono – o dovrebbero – essere preservate e
al mondo che le ultime generazioni italiane hanno ereditato
conservate con il massimo rispetto possibile dell’originale e
e le future erediteranno, necessita (o, meglio, necessiterebbe)
quindi con organicità e sapienza d’azione; sapienza d’azione
di cure periodiche regolari, manutenzione costante, protezio-
fondata sull’analitica minuziosa conoscenza delle strutture
ne vigile ed assoluta. Altrimenti l’Italia si merita appieno il
originarie, del comportamento statico e dinamico, dei muta-
titolo proustiano di nazione “ barbara”.
menti e delle tracce lasciate – inevitabilmente – in esse dal
tempo e dagli uomini. Dalla protostoria sino al XVIII secolo, Nelle Facoltà di Architettura italiane e nel nostro Istituto
nelle terre della penisola e delle isole ove si crearono nume- Universitario di Architettura di Venezia, al tempo di Manfredo
rosissime comunità e successivi numerosi stati che, riunifi- e del Dipartimento di Storia dell’Architettura da lui diretto,
cati nell’800, formarono l’Italia attuale, crebbero in numero erano operanti solo due Corsi di Restauro previsti dall’ iter di
quasi iperbolico edifici d’ogni genere e fattura, dalle diverse studi: pochi e comunque insufficienti ad abbracciare seria-
dimensioni, dai diversi impianti, dai diversi materiali. Edifici mente le moltissime conoscenze e le molte scienze necessarie
e complessi edilizi situati in contesti fisici molto vari: sulla ad agire per la conservazione materiale dell’antico senza al-
solida roccia, sui più cedevoli colli, sulle pianure alluviona- terarlo, tradirlo o distruggerlo, un antico tanto vario quanto
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ovunque presente; pochi per far fronte seriamente al carico creando (sono stati rarissimi del resto a saperlo fare: Carlo
della conservazione in Italia, carico enorme e compito, forse, Scarpa e Franco Albini restano ancora unici in tal campo) ma
assai più difficile e delicato della stessa costruzione del nuo- una figura – forse più modesta – perfettamente fedele alla
vo a cui l’architetto uscito dalle Facoltà di Architettura o di storia, minuziosa nell’analisi dettagliata delle parti e dell’in-
Ingegneria è, soprattutto, anzi quasi del tutto, dedicato. sieme, approfondita ed accurata nella conoscenza dei sistemi
Nella salvaguardia dell’immenso patrimonio storico a noi, statici e dei materiali antichi, scrupolosa nella predisposizio-
membri del Dipartimento di Storia di Venezia degli anni finali ne e nella realizzazione in cantiere di un progetto di vera e
del 1900 e iniziali del 2000, sembrava in generale dominare quasi assoluta conservazione.
raramente, nell’attività del Restauro e della Conservazione Il gruppo lavorò con entusiasmo e riuscì infine a produrre
dei beni storici, l’accurata e specifica preparazione e la neces- un iter o un curriculum di studi che, aggiungendo materie
saria passione sorretta dalla necessaria esperienza di cantie- nuove specifiche storiche e scientifiche, a nostro parere non
re; o, nei casi rari in cui si riscontravano, esse erano quasi es- dimenticava nulla del necessario: dalle analisi fisiche, chimi-
clusivamente l’esito di un iter del tutto volontario e personale che, statiche, più sofisticate alle procedure più elaborate ris-
mentre quasi sempre, invece, imperava la superficialità o, nel pettose e contenute d’intervento per non sovvertire l’antico
caso, l’iniziativa, l’occasione e la fortuna personali: dinnan- al massimo possibile salvaguardato.
zi a tanto immane quanto delicato impegno a Manfredo ed Fu un periodo fertilissimo e impegnativo il cui risultato
al Dipartimento con lui – che le opere realizzate dall’antico sembrò quasi esaltante (o almeno ai restauratori che appar-
ai giorni nostri studiavamo ed insegnavamo – parve infine tenevano al Dipartimento ed agli storici che vi avevano la-
necessario colmare la grave lacuna; così fu istituito un gru- vorato): finito il lungo periodo di direzione di Manfredo (ed
ppo incaricato di studiare ed elaborare un curriculum appo- iniziando ad apparire, purtroppo i primi sintomi d’aggrava-
sito di studi da aprire entro le Facoltà di Architettura – e, mento dei suoi problemi di salute), toccò a me – che gli ero
ovviamente, in primo luogo entro il nostro Istituto – atto a succeduto nella Direzione del Dipartimento di Storia – il
formare quell’immaginata figura, sino ad allora inesistente, compito di tradurre in realtà operativa il progetto per aprire
che sapesse unire rigorosamente la piena conoscenza degli e introdurre nello I.U.A.V. un nuovo “Corso di Laurea in Sto-
edifici storici sin nella loro intima struttura con la capacità ria e Conservazione” – Storia e Conservazione dei cosiddetti
di elaborare strategie e forme d’intervento – sia di conserva- beni architettonici – giovandomi, ovviamente, di consulta-
zione, sia di completamento, sia di ripristino – minimamente zioni quasi continue con lui e molte con i pochi (ma i pochi
invasive, al massimo possibile fedeli alle tecniche costruttive bravissimi che quasi incarnavano il nostro modello) architet-
originarie: non un progettista che all’esistente si sovrappone ti-restauratori che avevano preferito aderire al Dipartimento
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di Storia invece che a quello di Restauro. Studiammo a lungo, 3. Istituzioni di matematiche: acquisizione degli strumen-
attentamente e scrupolosamente ed elaborammo un curricu- ti analitici e geometrici necessari al calcolo del lavoro e con-
lum apposito di studi da inserire nei piani di studio delle seguente resistenza delle strutture storiche.
Facoltà di Architettura – e, ovviamente, in primo luogo nel 4. Storia dell’architettura antica: creazioni dei mondi me-
piano didattico del nostro Istituto – atto a formare la figura sopotamico, egizio, greco-ellenistico, romano, tardoromano,
sino ad allora quasi inesistente che avevamo prefigurato. paleocristiano, bizantino.
Istituimmo ed aprimmo nell’Istituto Universitario di Ar- 5. Tecnologia dell’architettura: studio delle caratteristi-
chitettura un Corso specifico che si sarebbe chiamato Corso che meccaniche dei materiali da costruzione più usati nell’età
di Laurea in Storia e Conser vazione dei Beni Architettonici e antica e moderna e studio delle fondamentali tecnologie cos-
Ambientali con docenti sia cooptati all’interno dello IUAV, sia truttive.
chiamati da fuori per chiara fama.
6. Laboratorio di analisi dei materiali, disciplina carat-
Il miglior modo per entrare subito nella struttura del pro- terizzante Tecnologia dell’architettura: sperimentazione e
getto voluto consiste sicuramente nell’illustrare il complesso constatazione delle caratteristiche tecniche e meccaniche dei
e le finalità delle materie e quindi dei corsi che costituivano materiali da costruzione più diffusi nelle costruzioni antiche
l’intero piano didattico dei quattro anni di studi. e moderne.
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lori di mercato e di costo e al valore d’uso sciale e formazione 10. Laboratorio di sintesi finale con la partecipazione di
del giudizio di convenienza degli interventi e delle politiche più docenti in preparazione della Tesi di Laurea (in una delle
nel pubblico e nel privato. discipline sopra descritte).
3. Impianti tecnici (100 ore): fondamenti di fisica, proble-
mi relativi all’inserimento degli impianti negli edifici storici e L’avvio, i primi successi e le cause della rapida chiusura
progettazione degli interventi impiantistici per la salvaguar- del Corso
dia delle opere d’arte.
4. Restauro architettonico (50 ore): progettazione di in-
Con tali contenuti e tale organizzazione del Corso ci sem-
terventi conservativi e definizione delle procedure di cantiere.
brò, anzi fummo sicuri, di aver costruito una macchina ben
5. Sperimentazione collaudo e controllo delle costruzioni strutturata, una seria risposta al dilettantismo privo di storia
(50 ore): valutazione sperimentale delle caratteristiche mec- ed esperienza di molti ingegneri-architetti. E, di fatto, per più
caniche dei materiali da costruzione, monitoraggio e con- di cinque anni il Corso fu una macchina efficiente: calcolato
trollo delle costruzioni per lo studio del comportamento nel numero di iscritti, ottimi docenti tra cui anche alcuni archi-
tempo. tetti e ingegneri formatisi nelle soprintendenze od autodidat-
6. Storia dell’architettura contemporanea (100 ore): prin- ti dedicatisi per scelta e sin dapprincipio della carriera allo
cipali imprese e realizzazioni architettoniche dal XIX ad oggi studio e al restauro delle strutture antiche, piena partecipa-
nel mondo. zione di personalità di gran mestiere mediante assegnazione
7. Tecnica del controllo ambientale (50 ore): caratteriz- di incarichi di insegnamento temporanei, di soprintendenti ai
zazione micro-climatica dell’ambiente e sua relazione con il monumenti quasi a suggello (allora credemmo) dell’approva-
degrado e la conservazione dei materiali. zione delle istituzioni nazionali, l’attività e il sostegno di un
invidiabile attrezzatissimo laboratorio di petrografia di fama
8. Teorie e storia del restauro (50 ore): fondamenti teorici
internazionale, contributi temporanei di personaggi autore-
dell’attività di restauro nel corso del tempo ad oggi.
voli nel campo del restauro, visite guidate a vari monumenti,
9. Laboratorio di monitoraggi e controlli sulle costruzioni periodi di tirocinio presso importanti cantieri in vari luoghi
(25 ore): studio dei monitoraggi e dei controlli necessari al d’Italia.
riconoscimento del comportamento strutturale delle costru-
Era un programma specifico, completo, impegnativo e
zioni storiche e della evoluzione di tal comportamento nel
operativo che nessun Ateneo in tal campo aveva mai configu-
tempo con appositi monitoraggi sulle costruzioni (disciplina
rato, approfondimento delle scienze implicate e conoscenza
caratterizzante: Sperimentazione collaudo e controllo delle
delle tradizioni costruttive nello scorrere della storia. In più,
costruzioni).
quando il Corso era già attivo da qualche anno, il Ministero
52 53
Italiano dell’Università e della Ricerca, sulla base degli esiti po durissimo quanto, ingenuamente, inaspettato: in realtà,
di una Commissione nazionale di lavoro incaricata di disporre per occhi abituati a veder gli interessi di parti e i tesi equili-
un Nuovo Ordinamento delle Facoltà di Architettura, ricono- bri tra di essi esistenti era facilmente prevedibile; l’accadu-
bbe ufficialmente il Corso di Laurea in Storia e Conservazione to rivelò l’errore puramente politico-strategico che avevamo
configurato esattamente come il Corso veneziano e con de- compiuto nell’entusiasmo.
creto Ministeriale del 19 luglio 1993 istituì il titolo di Dottore Cercammo aiuti. Con fatica ricevuti da uno dei più auto-
in Storia e Conservazione dei beni architettonici e ambientali revoli funzionari del Ministero italiano dei Lavori Pubblici,
per tutti coloro che avevano acquisto la corrispondente lau- l’unica istituzione che poteva, volendo, risolvere o proporre
rea. Era un vero riconoscimento. la soluzione, ponemmo la questione con la speranza di un
Ma dopo la soddisfazione della vittoria (o almeno quel aiuto. Non fu affatto così: nonostante l’apprezzamento e il
che a me parve tale) che la bontà e l’articolazione del nostro riconoscimento a titolo personale del nostro Corso di Studi
progetto aveva procurato ecco la delusione, i prodromi della ci venne detto chiaramente dall’autorità consultata che for-
sconfitta. se la questione avrebbe avuto un esito positivo qualora noi
Non avevamo considerato la forza di quel che il nostro stessi avessimo trovato una personalità politica dalle “ forti
Corso di studi scientificamente vittorioso avrebbe suscitato spalle”(testuali parole) che avesse avuto la forza e l’autori-
nello stato delle cose, negli statuti consolidati: non avevamo tà di scardinare le porte dei diritti ritenuti minacciati e di
immaginato i conflitti d’interesse corporativo ch’esso avre- far accettare l’ammissione dei nostri laureati ad un Esame di
bbe sollevato. Noi storici avevamo trascurato la complessi- Stato che legittimasse la responsabilità del proprio lavoro.
tà della storia, noi storici ci scontrammo con la negatività Nessuna considerazione per la validità intrinseca del Corso:
della storia. I nostri laureati, che non erano dottori in ar- la risposta della “politica” e la forza dello “stato di fatto” fu
chitettura, non ebbero la possibilità di accedere all’Esame micidiale, il Corso diveniva inutile, quasi paradossale: non
di Stato: nonostante le lodi rivolte al percorso di studi che veniva riconosciuto alcun diritto di esercitare la professione
avevano seguito il loro titolo di dottore in Storia e Conserva- senza la subordinazione ad un normale architetto i cui studi
zione (Conservazione, si noti, implica l’idoneità e la capacità non coincidevano affatto con le finalità e le procedure della
a conservare) non consentiva di fatto di firmare un progetto vera, ben fondata, sapiente e responsabile azione di conser-
di restauro né di essere responsabili di un cantiere, di fatto vazione e restauro.
non consentiva d’essere pienamente padroni e responsabili Nel frattempo, purtroppo, prima d’iniziare nel nuovo Cor-
del proprio operato. Eravamo stati assolutamente ingenui – o so l’insegnamento attesissimo di Storia dell’Architettura Mo-
stupidi – a credere nel valore intrinsecodelle cose; fu un col- derna (da XV al XVIII secolo) ch’egli s’era riservato, Manfre-
54 55
do Tafuri moriva, senza la soddisfazione di veder realizzata perfezionamento destinato ad ingegneri ed architetti (il che
una sua idea. Continuammo ugualmente. Ma si era infranto, comportava ben nove anni di studi). Lo slancio ormai s’era
inevitabilmente, l’entusiasmo e profondamente indebolito spento, non era questo il nostro obiettivo, né v’erano più le
un cammino: non molto tempo dopo superando il dispiacere forze, o perlomeno le forze convinte, d’affrontare il nuovo
e la sconfitta, vincendo non poche pur accorate resistenze impegno. Celebrammo le ultime lauree e chiudemmo il Corso:
interne, la maggioranza del Consiglio dei docenti decise di ponemmo fine, amaramente, all’impresa.
chiudere il Corso cancellandolo dallo Statuto della nostra Altri, condividendo le nostre stesse idee ed apprezzan-
Università (che peraltro nel suo intero complesso non mos- do il nostro tentativo troveranno, forse, la forza non solo di
trò mai particolare solidarietà). La proposta dell’importante riprovare ma anche, ora sappiamo, la forza e il preventivo
dirigente ministeriale a noi docenti e responsabili del Corso iniziale appoggio politico entrambi necessari per compiere
parve indegna, quel cosiddetto “paladino” politico per orgo- il salto più attrezzati e sicuri: a questo del resto servono le
glio non lo cercammo mai; d’altra parte, verosimilmente, mai avanguardie e le ingenuità, soprattutto le esperienze negati-
l’avremmo trovato per un’azione destinata a sconvolgere gli ve sono utili alla storia forse ancor più delle vincenti.
equilibri e gli interessi degli assetti esistenti. Fu una vera
Vorrei chiudere con questa speranza.
sconfitta, sì, ma a causa di un conservatorismo proprio di chi
non intende in alcun modo intaccare gli equilibri esistenti, a
causa di un cinica visione della politica di alcuni alti, troppo
alti funzionari. Fu un sconfitta, ma ormai trascorsi molti anni,
sono convinto, la sconfitta fu anche conseguenza di una nos-
tra miopia, di una scarsa considerazione delle inerzie della
storia e, diciamolo pure, anche per un peccato di orgoglio.
Compimmo l’errore di credere che il valore della sostanza di
una idea avrebbe comportato di per sé la sua realizzazione.
Non fu affatto così. Forse, anzi di certo, noi del nuovo Corso
avemmo scarsa intelligenza strategica, certamente non te-
nemmo conto delle intrecciate realtà del nostro paese (il che
è già una colpa), fummo storici ma non comprendemmo il
contesto storico in cui agivamo e la forza politico-corporativa
degli ordini: agimmo come se le idee trovassero forza in esse
stesse (il grave errore degl’illuministi). Per proseguire forse
avremmo dovuto trasformare il nostro Corso in un Corso di
56 57
Ver a História: a didática de A origem do percurso intelectual de Manfredo Tafuri,
Manfredo Tafuri como historiador, parece estar em um grande vazio cul-
Seeing the History: the didactic tural. Um vazio representado, nas faculdades italianas de
lesson of Manfredo Tafuri
arquitetura, pela ausência de figuras formadas no cam-
Vedere la Storia: le lezione didattica di
Manfredo Tafuri po das disciplinas históricas, dotadas de instrumentos de
pesquisa e de uma linguagem específica para a formação
Andrea GUERRA e a transmissão de um saber especializado.
Se tivéssemos que indicar o mestre do “Tafuri histo-
TraduçãoTranslationTraduzione
Marisa Barda riador” não o encontraríamos entre os docentes dos cur-
sos que ele frequentou na Universidade de Roma de 1953
RevisãoReviewRecensione
Anita Di Marco a 1960. Teríamos que recorrer a inúmeros intelectuais e
obras, interlocutores vivos ou do passado, próximos à ar-
quitetura mas, mais frequentemente, distantes, que de-
terminaram suas escolhas e estratégias culturais ao longo
do tempo1.
1 Foi o próprio Tafuri que forneceu o melhor testemunho sobre sua formação
na longa entrevista para Luisa Passerini – uma verdadeira “autobiografia cien-
tífica” – lançada em fevereiro–março de 1992: M. Tafuri, La storia come pro-
getto (“History as Project”), Art History Oral Documentation Project Completed
under the auspices of the Oral History Program at the University of California,
Los Angeles, and the Getty Center for the History of Art and the Humani-
58 59
É, talvez, também por esse motivo que, em 1991, Tafu- mento que ele percebia como ainda não concluído aliás,
ri reconhecia, em algumas pesquisas que ele coordenava, interminável 3.
uma “ciência sem nome”, fazendo explícita referência aos A didática de Tafuri é o resultado desse longo percurso
estudos de Aby Warburg, tão inovadores e transversais a de pesquisa. Suas aulas, dedicadas aos alunos do segundo
ponto de não poderem ser enquadrados no âmbito muito ano de arquitetura, não divulgavam conhecimentos a se-
limitado da história da arte2. Era uma definição que pode- rem “consumidos” na prática de projeto, mas com uma lin-
ria ter sido atribuída à disciplina que ele mesmo praticava guagem clara e especifica ilustravam, ao mesmo tempo,
e ensinava, que se desenvolveu seguindo um percurso não uma profissão - aquela do “historiador” – e estimulavam
“regular” mas, com contínuos deslocamentos através de questões que agiam produtivamente no “fazer história”.
múltiplos campos do saber, em um processo do conheci-
Através das aulas, dos trabalhos de conclusão de curso
ties, Copyright ©1993, The Regents of the University of California and the de graduação, dos primeiros alunos e do início de pesqui-
J. Paul Getty Trust. A entrevista foi parcialmente publicada e traduzida para
o inglês com o título History as Project: An Interview with Manfredo Tafuri no sas realizadas em comum com alguns deles, foi se cons-
número monográfico Being Manfredo Tafuri, “Architecture New York”, nn. 25- truindo, a partir do final dos anos sessenta, uma verdadei-
26, 2000, pp. 10-70. A partir dessa última publicação Andrew Leach efetuou
uma cuidadosa reconstrução do percurso intelectual de Tafuri em A. Leach, ra “escola” de “historiadores da arquitetura”, portanto, não
Manfredo Tafuri. Choosing History, A&S/books, Ghent 2007, principalmente nas
pp. 3-87. de arquitetos que teriam se interessado pela história, nem
2 A afirmação de Tafuri é particularmente significativa porque foi escrita de historiadores que depois teriam se dedicado à ativida-
na introdução do livro que apresenta os primeiros resultados da “escola” de
doutorado em História da Arquitetura do Departamento de História do Insti-
de profissional.
tuto Universitário de Arquitetura de Veneza, La piazza, la chiesa, il parco. Saggi
di storia dell’architettura (XV-XIX secolo), M. Tafuri, Electa, Milano 1991, p. 7.
A criação do Departamento de Análise Crítica e His-
A definição de “ciência sem nome” foi introduzida por Robert Klein, fazendo tórica (DACS), em 1976, na IUAV, era o ato final de uma
referência aos estudos de Aby Warburg, em um breve artigo de 1964 e repu-
blicado no conjunto de seus textos - R. Klein, La forme et l’intelligible, Editions experimentação didática já ocorrida há alguns anos em
Gallimard, Paris 1970, trad. it. La forma e l’intelligibile. Scritti sul Rinascimento Veneza e representava a ponta avançada de uma refor-
e l’arte moderna, Einaudi, Torino 1975, pp. 235-41 principalmente p. 235. Essa
definição foi retomada em um profundo ensaio de G. Agamben, Aby Warburg e
la scienza senza nome, in “aut aut”, 199-200, (gennaio-aprile) 1984, pp. 51-66. 3 O caráter “interminável” da pesquisa evoca aspectos específicos da ciência
Os critérios de pesquisa de Tafuri, por outro lado, não são comparáveis ao es- psicanalítica (a referência obrigatória nesse caso é S. Freud, Analisi termina-
tudo das tradições simbólicas e artísticas de Warburg, aceito - pelo menos em bile e interminabile (1937), in S. Freud, Opere. 1930-1938, vol. 11, Boringhieri,
um primeiro momento - principalmente devido às importantes obras de seus Torino 1979, pp. 499-535). O pensamento psicanalítico está presente nas
brilhantes seguidores, mas também através das “distorções” pontualmente reflexões de Tafuri desde o final dos anos sessenta e emerge com maior força
relevadas pelos seus discípulos tardios. A esse respeito ver M. Tafuri, L’armonia na elaboração de seu “projeto histórico”, realizado durante os anos setenta,
e i conflitti. La chiesa di San Francesco della Vigna nella Venezia del ‘500, p. 9, portanto, é necessário ver mais especificamente M. Tafuri, La sfera e il labirinto.
onde é criticada a “iconologia selvagem”, com referências evidentes ao méto- Avanguardie e architettura da Piranesi agli anni ’70, Einaudi, Torino 1980, pp.
do warburguiano, utilizado para interpretações indiscriminadas na história da 3-30. Ver também M. Tafuri, La storia come progetto…, cit., passim, e A. Leach,
arte (ver também La piazza, la chiesa, il parco…, cit., p. 7.”). Manfredo Tafuri…, cit., pp. 164-175.
60 61
ma que, somente a partir de 1980, teria sido estendida saber multidisciplinar. As publicações de Tafuri, de seus
ao restante da universidade italiana. Portanto, uma nova colegas e alunos começavam a fazer parte da bibliogra-
geração de docentes já havia começado a se formar de fia dos cursos e os próprios programas demonstravam as
maneira especializada, desde o início dos anos setenta e, relações com as pesquisas dos docentes. É significativo
depois, teria ensinado a história levando, na sua didática, que o desenvolvimento dos 25 cursos realizados por Ta-
as competências e originalidades do próprio trabalho de furi em Veneza, entre 1968 e 1994, preceda, acompanhe
pesquisa 4. e, às vezes, siga seus textos, de tal forma que suas aulas
Introduziu-se no ensino uma linguagem nova, não podem, justamente, ser consideradas a pagina invisível de
mais restrita a uma terminologia “pobre” do arquiteto pro- seus livros5.
fissional ou de manuais, mas rica de conexões com um Consideremos o livro La sfera e il labirinto. Avanguardie
e architettura da Piranesi agli anni ’70: publicado em 1980,
4 Sobre os acontecimentos politicos e culturais que levaram à formação dos sua elaboração tinha sido antecipada e acompanhada pe-
departamentos no IUAV, ver os ensaios de M. Carraro, G. Zucconi, La direzio-
ne Aymonino e gli anni della sperimentazione, e de M. Carraro, Dagli istituti ai los cursos realizados na década 1970-1980, focalizados no
dipartimenti. Note sul corso di laurea in Architettura, ambos em Officina IUAV, tema das vanguardas, das políticas urbanas entre os anos
1925-1980. Saggi sulla scuola di architettura di Venezia, a cura de G. Zucconi
e M. Carraro, Università IUAV di Venezia- Marsilio, Venezia 2011, respecti- vinte e trinta do século XX, no problema da “representa-
vamente às pp. 207-228 e 229-250. Sobre as pesquisas em andamento no
Departamento, no final dos anos setenta, ver P. Morachiello, The Department
ção” na relação entre nova arquitetura e instituições. Ao
of Architectural History, in “Architectural Design”, 55, 5/6, 1985, pp. 70-71: a contrário, o primeiro capítulo do livro, dedicado à obra de
revista tinha dedicado aquele número monográfico à “The School of Venice”,
mesmo se o significado daquela definição devesse ser delimitado mais ao Piranesi e ao seu “sucesso crítico”, tornou-se o tema do
Departamento de História que aos de Projeto, que eram mais heterogêneos e curso Giovanni Battista Piranesi (1720-1778) no ano acadê-
menos coesos, como foi detectado em M. Carraro, Dagli istituti ai dipartimenti…,
cit., pp. 244-245. Além disso, deve-se destacar que, no decorrer do tempo, o mico 1980-816.
“lugar” da pesquisa historiográfica no âmbito do IUAV tinha mudado diversas
denominações, marcando passagens não simplesmente nominais, mas cul- Em 1981, Tafuri iniciava um ciclo de três cursos conse-
turais também, com vistas a obter uma identidade disciplinar cada vez mais
clara: do nome inicial ”Instituto de História da arquitetura”, presente durante cutivos, concluídos em 1984 e dedicados a Veneza entre
todos os anos sessenta, se soma, em 1976, o novo “Departamento de análise os séculos XV e XVII. São os anos de aprofundamento das
crítica e histórica” (DACS, na sigla em italiano) e, portanto, em 1980, ao “De-
partamento de História da Arquitetura” (DSA em italiano). O quadro cultural
havia se enriquecido, na época, com o “Doutorado em História da Arquitetura 5 A lista completa dos cursos realizados por Tafuri em Veneza, entre 1968 e
e Urbanismo”, que iniciou seu primeiro ciclo em 1984 e, do novo “Curso de 1994, foi relacionada em Leach, pp. 311-313.
Graduação em História e Conservação dos Bens Arquitetônicos (inaugurado 6 A estreita relação entre publicações e cursos universitários é explicita-
em 1993-94 e fechado poucos anos depois). Sobre o projeto cultural do novo mente declarada em M. Tafuri, La sfera e il labirinto…, cit., p. 3, nota 1, no qual
curso de graduação em História e Conservação, ver neste mesmo volume o como material básico para a primeira parte do livro cita-se todo o seminário
ensaio de P. Morachiello Il corso di laurea in ‘Storia e conservazione dei Beni realizado junto com Franco Rella e, portanto, com envolvimento dos estudan-
Architettonici’: un’esperienza contrastata. tes no ano acadêmico 1976-1977.
62 63
temáticas relativas à arquitetura do “Renascimento”, estu- locando no centro da pesquisa um só protagonista, mas
dadas através do “caso” Veneza, e que confluem em uma com todas as arquiteturas por ele projetadas. Havia curso
série de artigos e ensaios cujas publicações mais consis- dedicados a uma única cidade, com muitos protagonistas,
tentes seriam L’armonia e i conflitti, La chiesa di San Fran- mas em um único lugar (basta pensar nos cursos sobre “A
cesco della Vigna nella Venezia del ‘500 (1983), Venezia e il grande Viena” entre os séculos XIX e XX, sobre Veneza no
Rinascimento, Religione, Scienza, Architettura (1985)7. Nos Renascimento ou, sobre a Roma dos Medici). Enfim, exis-
anos sucessivos, as pesquisas sobre Raffaello, Francesco tiam cursos sobre um especifico período histórico-artísti-
di Giorgio Martini, Leon Battista Alberti, com os respec- co, nos quais eram inúmeros tanto os protagonistas como
tivos catálogos de exposições, ensaios ou capítulos de os lugares analisados, como no estudo das vanguardas en-
livros, tornam-se o tema de outros tantos cursos e a oca- tre os anos de 1920 e 1930 na União Soviética, na Europa
sião para ramificar a pesquisa: nascem assim os programas e nos Estados Unidos.
imediatamente sucessivos ao de Raffaello, dedicados res- Essa variedade de temas implicava uma mudança con-
pectivamente a um seu aluno, Giulio Romano (a.a.1985- tínua das óticas através das quais observar a história e
86) e, depois ao seu mestre, Donato Bramante (a.a. 1986- uma mudança contínua de escala: da arquitetura como ob-
87). Os cursos Francesco de Giorgio Martini e Baldassarre jeto a ser analisado em si mesmo às estratégias urbanas
Peruzzi (a.a. 1988-89) e depois Giuliano da Sangallo e Jaco- como expressão de uma mentalidade ou de uma política.
po Sansovino (a.a. 1989-90), analisaram conjuntamente a Portanto, não existia um único método para realização de
obra do mestre e a do aluno. pesquisas, mas uma filologia flexível, capaz de modificar
Tal estratégia de estudos significava excluir da didáti- os instrumentos de investigação em relação aos temas
ca programas sobre temáticas gerais para privilegiar as do tratados. O método era a ausência de “um” método.
tipo monográfico, mesmo se reformuladas. Anotações do verão de 1993 permitem avaliar as mo-
Havia cursos monográficos sobre um único artista, co- dalidades com as quais, nos últimos anos de atividade,
Tafuri traduzia suas pesquisas em um programa. O títu-
7 Sobre o interesse continuado de Tafuri sobre a arquitetura da idade hu- lo do curso daquele ano era “Arte, política e arquitetura
manística e, não fruto de uma “fuga” do contemporâneo ou de um repensar
sobre o passado, come já foi afirmado, ver M. Morresi, Il Rinascimento di Tafuri,
na Roma dos Medici (1513-1527). Do mito da ‘idade do
in Manfredo Tafuri. Oltre la storia, O. Di Marino, Clean Edizioni, Napoli 2009, ouro’ à catástrofe do Sacco”: ao centro da pesquisa, um
pp. 27-51. Os estudos e as publicações de Tafuri em relação à cidade de Ve-
neza foram examinados no seminário de P. Modesti, Incontri con Venezia, dia lugar e um tempo precisos e, junto, uma multiplicidade de
internacional de estudos “Manfredo Tafuri 1994-2014” com curadoria de R. obras e de autores muito diferentes entre si, de Bramante
Dubbini, M. Morresi, Università IUAV, Veneza, 4 de novembro de 2014.
64 65
a Baldassare Peruzzi, de Antonio da Sangallo, o Jovem a
Raffaello [fig. 1].
A complexidade do quadro histórico e artístico inse-
ria-se em um texto linear que se desenvolvia através de
mais de trinta aulas, todas dotadas de um título como em
uma sequência de capítulos e, concluía, de maneira cir-
cular, voltando aos temas apresentados no início8. A cada
mês divulgava-se o calendário das aulas, dos seminários
quinzenais e dos exercícios – estes últimos realizados pe-
los assistentes em semanas alternadas – de maneira que
a atividade didática era diversificada mas contínua, e o
próprio calendário assumia a função de índice de um livro,
permitindo ao aluno acompanhar o desenrolar da história
em cada passagem [fig. 2].
A bibliografia sobre cada assunto tratado nas aulas
era distribuída periodicamente: muito articulada e sele-
cionada, era enriquecida por comentários críticos com o
objetivo de distinguir entre a “boa” e a “má literatura”,
as contribuições inovadoras daquelas puramente reunidas
ou até mesmo enganosas [fig. 3].
Em seu conjunto, a organização do curso demonstra-
va a pluralidade de instrumentos colocados em jogo para
66 67
apresentar aos estudantes a articulação e a especificidade
de um estudo historiográfico, através do qual se poderia
educar para a análise da arquitetura e da arte, para a lei-
tura de livros, para tomar consciência do debate histórico-
-crítico na cultura contemporânea.
Em uma aula de duas horas não se analisavam mais
de duas ou três obras, com frequência, apenas uma. Um
edifício era entendido como um nó historiográfico onde se
cruzavam inúmeros fios de diversos comprimentos, por-
que penetravam mais ou menos na história passada e se
projetavam mais ou menos naquela do futuro: a mentali-
dade do cliente, a cultura visual do arquiteto, as técnicas
construtivas e o pensamento religioso eram alguns dos
tais fios e uma aula permitia reconhecer a contribuição
deles em cada projeto, explicar a complexidade dos entre-
laçamentos e, principalmente, “visualizar” essa complexi-
dade através da narrativa das imagens 9.
Tafuri dedicava muito tempo na preparação das três
aulas quinzenais, não somente porque cada uma delas era
uma oportunidade de pesquisa e uma contribuição aos
seus próprios estudos, mas também porque a narrativa
deveria ocorrer em direta relação com as imagens, todas
68 69
cuidadosamente selecionadas. Além de uma seleção pes-
soal de slides, ele podia contar com as imagens do De-
partamento de História que, na época, era um excelente
instrumento didático, único no panorama das universida-
des italianas pela variedade e riqueza do acervo (no final
dos anos 90, a coleção tinha alcançado cem mil imagens).
Nas duas horas de aula não eram exibidos mais do que
uns trinta diapositivos. Um número contido, indispensável
para uma leitura lenta da obra e para contrastar, assim,
com a percepção distraída induzida pelas revistas e edi-
torias de arquitetura, submersas em um “dilúvio de ima-
gens”. Cada detalhe era uma fonte de informação e, no
fim da análise, o que um edifício mostrava de si era algo
muito diferente em relação ao início, enriquecido de sig-
nificados, entrelaçado de referências do contexto cultural
e figurativo da época, aos modelos do passado, às recaídas
em épocas sucessivas.
A projeção dos slides avançava, desacelerava ou até
retrocedia de maneira a construir um percurso visual em
total sincronia com o discurso, de modo que a palavra e as
70 71
imagens se tornassem uma unidade inseparável. ductus, o tema. Tafuri narrava tudo isso, mesmo se de for-
Tudo isso faz das gravações e transcrições de mui- ma simplificada, mas sempre mostrava algo que só podia
tos de seus cursos uma documentação importante, mas ser mostrado em uma comunicação oral. Observem o caso
incompleta. De fato, faltam as imagens e nem se pode do desenho U510Ar de Peruzzi, analisado em uma aula
reconstruir a sequência, o avançar ou o retroceder da pro- de 198311: a elaboração do projeto era explicada seguin-
jeção: em poucas palavras, não se tem a trama visível de do Peruzzi desde seus primeiros traços no papel e depois,
sua narração10. quando desenhava as capelas, em suas várias formas, nas
periferias e, mais ou menos hesitante, estabelecia plantas
De qualquer modo, é possível descrever aqui alguns de
elípticas, hexagonais, circulares, recuperando na memória
seus modos de “ensinar com as imagens” referindo-se a al-
as fontes antigas já estudadas. O projeto crescia durante
guns temas ou questões de história da arquitetura, várias
a análise porque era visto no seu processo de elaboração.
vezes abordados em aulas como, por exemplo, a leitura de
um desenho, a discussão de uma hipótese historiográfica, Da mesma maneira como no desenho U8Av – analisado
a formação da cultura visual de um artista ou a leitura de durante uma aula realizada em 1993 – onde se reconhe-
uma obra de arquitetura. cia uma discussão entre arquitetos: Bramante explicava a
Giuliano da Sangallo a ideia das êxedras com colunas para
Na análise de um desenho, por exemplo, existem múl-
a Basílica de São Pedro no Vaticano desenhando no papel
tiplos aspectos a serem considerados: alguns extrínsecos
um rápido esboço dos limites criados pelas colunas, já vis-
– do tipo de papel aos traços na frente ou no verso da fo-
tos em Milão, na catedral e nas colunas de San Lorenzo12.
lha, a eventuais siglas –, outros intrínsecos – a grafia, seu
As linhas traçadas permitiam seguir o desenvolvimento da
10 Esse problema, típico de um discurso sobre a arte, por sua natureza “visu- discussão entre os dois artistas e perceber, nas respecti-
al”, é fortemente focalizado por Pier Paolo Pasolini em uma revisão do volume
de R. Longhi, Da Cimabue a Morandi, Mondadori, Milano 1978. Pasolini tinha vas propostas, suas culturas visuais diferentes.
seguido as memoráveis aulas de Longhi sobre Fatti di Masolino e Masaccio,
na Universidade de Bologna por volta de 1939, e tinha entendido o papel Dessa forma, Tafuri conseguia criar, em uma sala lo-
fundamental das imagens, as quais estavam, inexplicavelmente, ausentes do tada de estudantes, uma espécie de intimidade com os
volume editado, em 1978, e que não dispunha, portanto, de uma chave de
leitura essencial (ver P. P. Pasolini, Descrizioni di descrizioni, Einaudi, Torino
1979, pp. 251-255, em part. p. 252). Pode-se acrescentar ainda que aulas não
ligadas às imagens seriam menos penalizadas que as transcrições, como no 11 Aula de 14 de janeiro de 1983, Peruzzi e Antonio, o Jovem. Giulio Romano a
caso dos famosos “seminários” de Jacques Lacan publicados por seus alunos. Mantova, no curso Architettura e rinnovamento urbano nella Venezia del Rinasci-
De qualquer maneira, o hábito difundido de gravar e transcrever suas aulas mento (1514-1554), a.a. 1982-83.
era desencorajado por Tafuri, mesmo se inutilmente, porque ele estava muito 12 Aula do dia 4 de novembro de 1993, Donato Bramante, 3. I progetti per il
consciente das diferenças “semânticas” existentes entre uma comunicação nuovo San Pietro no curso Arte, politica e architettura nella Roma medicea (1513-
oral e um texto escrito. 1527). Dal mito dell’‘età dell’oro’ alla catastrofe del Sacco, a.a. 1993-94.
72 73
artistas de quem falava e com quem compartilhava o pra- de maneira definitiva, porque o seu significado é inesgo-
zer e as dificuldades da pesquisa. Era uma compreensão tável. No entanto, era necessário estar sempre disponível
entrelaçada de um espirito profundamente “humanístico”, a ouvir, continuar a interrogar o passado, um desenho, ou
no sentido análogo àquele testemunhado por Nicolau Ma- um projeto como se fosse visto sempre pela primeira vez15.
quiavel quando, na solidão de seu pequeno estúdio, lia os Essa capacidade de surpreender-se e de renascer com o
autores antigos e estes, “em função de sua (deles) huma- olhar diante de qualquer forma, mesmo a mais conhecida,
nidade”, lhe respondiam e o encantavam a tal ponto no estava muito próxima do que John Ruskin indicava como
colóquio, como escreveu em uma carta de 1513 ao amigo “the innocence of the eye”, e que ele atribuía somente a
Francesco Vettori, que “ele se integrava inteiramente ne- quem fosse dotado de talento artístico16.
les”13 14. O desejo de dialogar com os “antiqui huomini” expli-
Assim para Tafuri, havia uma relação direta com as ca também a capacidade de Tafuri de redesenhar obras
obras, porque não era mediada por análises separadas ou de autores como Giulio Romano, Antonio da Sangallo, o
sob a proteção de um método filológico “infalível” e repe- Jovem, ou Peruzzi retomando até mesmo seus métodos
titivo. Nenhuma análise poderia ter explicado uma obra, gráfico [fig. 4]. Dessa maneira, era possível ver “a partir de
dentro” as potencialidades ainda presentes nos desenhos
13 N. do T. Frase escrita como na tradução da carta. Ver http://alfredo-braga. originais, deixados incompletos ou que chegaram muti-
pro.br/biblioteca/cartademaquiavel.html
lados até nós, otimizando mais um instrumento para “fa-
14 Assim Maquiavel escrevia a Vettori: “Chegada a noite, volto para casa e
entro no meu estúdio; na entrada me dispo das roupas do cotidiano, cheias zer história”. Desenhar era também uma forma eficaz de
de lama e lodo, e coloco roupas reais e curiais; assim, convenientemente ves-
tido, entro nas antigas cortes dos homens antigos onde [....] eu não tenho
vergonha de falar com eles [....] e eles, pela sua humanidade me respondem; 15 Sobre o significado de “inesgotável” de uma obra de arte, ver a aula
e, por quatro horas, não sinto nenhum tédio, esqueço qualquer pressa, não de Tafuri do dia 7 de janeiro de 1993, Le Intercoenales albertiane. Il motto
temo a pobreza, a morte não me assusta: “em me integro inteiramente neles”. Quid Tum, realizada no curso Umanesimo e architettura: Leon Battista Alberti
O texto completo da carta, com data de 10 de dezembro de 1513, está em (1404-1472), a.a. 1992-93 (sobretudo na página 30 na transcrição publicada
N. Machiavelli, Opere, M. Bonfantini, Ricciardi, Milano-Napoli 1954, pp. 1108- por seus alunos em 2014. Em geral, sobre a necessidade de pesquisar conti-
1112. A carta foi citada por Tafuri na aula de 10 de fevereiro de 1983, Il “mito” nuamente, ver as palavras finais do primeiro capítulo de M. Tafuri, Ricerca del
di Venezia. Andrea Gritti e Jacopo Sansovino no curso Architettura e rinnovamento Rinascimento. Principi, città, architetti, Einaudi, Torino 1992, p. 24: ” De qualquer
urbano nella Venezia del Rinascimento (1514-1554), a.a. 1982-83. A carta não maneira, explicitamos mais uma vez a estratégia que apoia as pesquisas cujos
testemunhava apenas a “condição de exílio”, vivida pelos intelectuais das resultados mostraremos nos próximos capítulos [....]. Esperando que aquilo
muitas cortes renascentistas italianas, em contraste com a “liberdade” ce- que questiona de longe tenha sido ouvido, de forma a não anular a distância:
lebrada pela “mitologia” veneziana na República Sereníssima, mas também e que, assim possa continuar a questionar”.
fazia vislumbrar uma implicação historiográfica: na medida que reflete um 16 J. Ruskin, The elements of drawing (1857), in The works of John Ruskin,
passado vivo, aquele “diálogo com os antigos” se revelava “um mecanismo edited by Edward Tyas, Cook and Alexander, Wedderburn, 39 voll., G. Allen,
de construção histórica”, próprio de qualquer estudo que, inevitavelmente, se London - Longmans, Green and Co, New York 1903-1912, vol. XV, p. 27, trad. it.
inicia a partir do próprio presente. Gli elementi del disegno, Adelphi, Milano 2009, p. 32 nota 1.
74 75
estudar as hipóteses historiográficas alternativas, como
quando, no curso sobre Alberti, ele comparou – com seus
desenhos – a própria hipótese de reconstrução com a de
Richard Krautheimer 17 do projeto original para a igreja de
Sant’Andrea em Mântua18 [fig. 5, 6].
Cada aula era sempre um discurso realizado com ou-
tras vozes; como em qualquer pesquisa, se desenvolvia
como em um colóquio ideal e real com estudiosos vivos ou
do passado. Transferia-se, para dentro das salas de aula,
o trabalho coletivo que resultara nas exposições sobre
Raffaello (1984), Giulio Romano (1989) ou Francesco di
Giorgio (1993)19.
Nos cursos monográficos dava-se amplo espaço ao iní-
cio de carreira de um arquiteto, à sua aprendizagem no
setor da pintura, da escultura ou na prática no canteiro
de obra, à cópia de modelos figurativos e à orientação de
76 77
um mestre. Essa educação prática nas idades Média e Mo-
derna era, fundamentalmente, visual e assentava as ba-
ses daquilo que, depois, se transformaria em arquitetura,
como demonstra a atividade projetual de Raffaello, Giulio
Romano, ou Jacopo Sansovino, entre outros.
Nesse difundido sistema de educação para a arte, a
exceção é representada por Alberti, cujo cursus studiorum
na Universidade de Pádua e Bolonha exclui um período de
formação guiada por um mestre de ofícios, tornando enig-
mática a sua aproximação inicial à arquitetura. Na ausên-
cia de qualquer documento que permita conhecer o que
fig.05
Alberti, realmente, teve a possibilidade de ver e desenhar,
Tafuri encarava o problema de sua formação dedicando
uma aula inteira (novembro de 1992) a mostrar “imagens
de cidades” ou seja, lugares nos quais Alberti tinha perma-
necido, de Veneza a Pádua, de Bolonha a Florença e Roma.
Lugares que lhe permitiram ver, por um lado, monumentos
medievais entranhados na tradição local (o palácio ducal
e a igreja de São Marco, em Veneza, São Petrônio em Bo-
lonha, São Miniato, em Florença) e, por outro, eventos ar-
tísticos profundamente inovadores (as obras de Masaccio,
Donatelli e Brunelleschi) e, finalmente, as ruínas antigas
em Roma, mas também nas cidades da Provença20. Assim,
dessa maneira, Tafuri não só esclarecia as componentes
daquilo que se tornaria a linguagem albertiana – uma ar-
quitetura radicada nos diversos contextos locais, inovado-
20 Aula do dia 20 de novembro de 1993 Leon Battista Alberti: dal “Philodoxe-
fig.06 os” al “Della Famiglia” (1404-1434/41), no curso Umanesimo e architettura: Leon
Battista Alberti (1404-1472), a.a. 1992-93.
78 79
ra para a época e fundamentada na antiguidade romana uma sequência de imagens que ia do exterior ao interior
- mas realizava também uma reconstrução historiográfica ou seja, do pórtico, entablamento e colunas, ao espaço
através de um percurso puramente visual. construído e cúpula22. A obra era explicada através da pró-
Isto significava dar ao olhar a função de guia privile- pria obra, observando as fontes estudadas por Bramante
giado, seja para o artista que aprendia através dos olhos, e a sua reelaboração moderna: isto significava “ver” a ar-
seja para o historiador contemporâneo, que narrava atra- quitetura porque significava aderir ao processo mental e
vés das imagens. Foi esta a lição fundamental transmitida visual percorrido pelo artista em seu projeto.
por Rudolf Wittkower, cujo “método” visual pode ser, per- Portanto, a criação artística era vista como uma ativi-
feitamente, percebido em sua rápida nota sobre Filippo dade autônoma, individual, mas também pensada como
Juvarra: a extraordinária capacidade de criar e desenhar “relativa”, isto é, colocada em relação ao contexto his-
desse artista era explicada por uma formação realizada na tórico e social no qual se manifestava. Nesse sentido, o
periferia de Messina mas ”com as obras de Guarini diante encontro entre Bramante e Giulio II acontecia “por tan-
dos olhos” 21. gência” em um determinado ponto de seus respectivos e
A montagem das imagens para as aulas não respeitava independentes setores de atividade. Tempos diferentes da
um critério fixo mesmo que, em linhas gerais, a análise história eram relacionados e a análise permitia ver o “tex-
sempre se iniciasse pela contextualização histórica para to” arquitetônico como derivado do “contexto” político e
depois se concentrar no objeto arquitetônico. A título de cultural, as escolhas artísticas recaírem na mentalidade
exemplo, pode-se citar uma aula de 1982 sobre o pequeno da época: em um edifício se entrelaçavam “micro-história
templo de São Pedro em Montorio, de Bramante: a primei- e “longue durée” 23.
ra parte era dedicada à apresentação da figura de Giulio II, Por exemplo, desde o início, o curso Donato Braman-
herdeiro da política autoritária e universalista dos “sobe- te (1444-1514) do ano acadêmico 1986-87 era apontado
ranos pontífices”. Era essa a premissa indispensável para como sendo o estudo de uma arquitetura revolucionária
a avaliar, no quadro da “política das imagens” perseguida no panorama europeu, como expressão máxima do “ar-
pelo papa, a novidade representada pela arquitetura de
22 Aula do dia 16 de dezembro de 1982, Roma 1500-1520. La fondazione
Bramante. Depois, o pequeno templo era analisado, de- di un linguaggio universale (1), realizada no curso Architettura e rinnovamento
urbano nella Venezia del Rinascimento (1514-1554), a.a. 1982-83.
talhadamente, decomposto em seus vários elementos em
23 Sobre a temática do entrelaçamento historiográfico ver o texto mais
acima e a nota 9, além da l’Introduzione in A. Foscari, M. Tafuri, L’armonia e i
21 Rudolf, Wittkower, Art and Architecture in Italy 1600 to 1750, Penguins conflitti. La chiesa di San Francesco della Vigna nella Venezia del ‘500, Einaudi,
Books, Harmondsworth (Middlesex) 19733, p. 275. Torino 1983, pp. 3-10, in part. p. 7.
80 81
tifício humano”: o uso de perspectivas e a concepção do
edifício, como montagem de elementos pertencentes a
um todo perfeitamente organizado, exaltavam uma arqui-
tetura da racionalidade exibida, manifestação do afasta-
mento entre a obra humana e a obra da natureza e, até
mesmo, do domínio sobre esta última. Em outros termos,
o curso teria se desenvolvido extensa e analiticamente
sobre o que Giorgio Vasari dissera sinteticamente de Bra-
mante, ou seja, que nas suas obras ele mostrava “o valor
da sua engenhosidade e das dificuldades encontradas” 24.
Na última aula, traçava-se, brevemente, o sucesso des-
se modo de conceber a arquitetura acenando à retomada e
ao desenvolvimento de motivos de Bramante na produção
de Raffaello, de Antonio di Sangallo, o Jovem, de Peruzzi
e, mais tarde, em obras como a cúpula da catedral de São
Paulo em Londres, de Chistopher Wren (1668-1708), imi-
tadado projeto para a cúpula de São Pedro no Vaticano,
gravada por Sebastiano Serlio, para concluir com a cúpula
do Capitólio de Washington nos Estados Unidos, no século
XIX 25 [fig. 7].
Todavia, a última imagem era dedicada ao templo
Ryoan-ji em Kyoto (1502-1506), contemporâneo com a ati-
vidade romana de Bramante [fig.8]. Era uma comparação
determinante: o jardim de pedregulhos e pedras mostra-
va uma relação totalmente diferente com a natureza, era
fig.07
24 VASARI, 1878-85, IV, p. 146.
25 Aula do dia 12 de junho de 1987, no curso Donato Bramante (1444-1514),
a.a. 1986-1987.
82 83
um espaço concebido para a meditação, vivido como vazio
interior que podia abraçar tudo porque não queria repre-
sentar nada. Depois de todo um curso dedicado à análise
detalhada e filológica da obra de Bramante, insinuava-se
uma pequena dúvida sobre a pressuposta centralidade e
universalidade da cultura figurativa e arquitetônica oci-
dental, concebida como espaço racional, matemático e
abstrato26.
Neste, como nos outros cursos, a última aula era um fi-
nal aberto, rico de questionamentos e as imagens ilumina-
vam, retrospectivamente e com uma luz duvidosa, o per-
curso até ali desenvolvido. Não é essa a mesma intenção
narrativa presente nas ilustrações dos livros de Tafuri?
Em Ricerca del Rinascimento, a primeira imagem, uma
miniatura que mostra a Roma de Niccolò V, Tafuri intro-
duziu o argumento desenvolvido no segundo capítulo – a
relação entre o papa e Leon Battisti Alberti – e evoca de
modo mais geral o tema de fundo de todo o livro, ou seja,
a interligação entre os lugares, princípios e artistas, da
fig.08
qual emerge a nova arquitetura “renascentista”. As ilus-
trações sucessivas visualizam a progressiva afirmação da
linguagem feita como antigamente, desde a Florença de
Lorenzo, o Magnífico, à Roma de Leão X, até alcançar o
capítulo central (o quarto), cujas ilustrações, relativas ao
concurso para a igreja San Giovanni dei Fiorentini (1518),
84 85
mostram uma das máximas expressões de pesquisa e de
experimentalismo arquitetônico de toda a idade humanís-
tica27 [fig.9]. Nos capítulos sucessivos aborda-se o tema
da difusão internacional daquela linguagem experimental
– o caso do edifício de Carlo V em Granada - para depois
chegar a analisar o progressivo desvanecimento daquela
cultura antiga e sua quase reabsorção nos hábitos cons-
trutivos “locais”, como mostra o caso de Veneza e a obra
de Jacopo Sansovino (sétimo capítulo). As imagens acom-
panham esse ”epílogo”, condensando na última ilustração
– as casas Moro em Veneza, dos anos quarenta do século
XVI – o sentido de uma arquitetura que se torna anônima, fig.09
exprimindo quase um silêncio das formas28 [fig. 10].
Lidas na sua sequência, as ilustrações de Ricerca del
Rinascimento permitem seguir per architecturam todo o
percurso histórico-crítico, da introdução do tema ao “ for-
tíssimo” dos capítulos centrais, ao “pianíssimo” do epílogo
lagunar. A imagem das casas Moro deixam um silêncio no
ar e o sentido dessa problemática conclusão é totalmen-
te análoga ao da imagem do templo de Kyoto na aula de
conclusão do curso sobre Bramante de anos antes: a di-
ferença é que agora não estamos frente à “outra” cultura
mas, estamos no centro do “mundo colocado em imagens”
segundo a expressão atribuída a Martin Heiddeger, à ida-
86 87
de humanística e citada por Tafuri na abertura do livro29. uma reflexão sobre a arquitetura dos anos setenta e sobre
O mesmo cuidado com a sequência das imagens é o debate contemporâneo desenvolvido após a “falência”
percebido em La sfera e il labirinto. Nesse caso, o texto das vanguardas. Os capítulos são ilustrados com obras de,
não remete, especificamente, às ilustrações porque não entre outros, James Stirling, Aldo Rossi, Robert Venturi,
há uma análise detalhada de cada desenho ou projeto: o Richard Meier, Cesar Pelli32.
enfoque historiográfico e filológico das obras é diferente. Apesar de tudo, a imagem que conclui essa série de
Todavia, aqui também é possível seguir a narrativa his- projetos e todo o conjunto de ilustrações do livro é um
tórica através das imagens. A primeira é uma gravura de fotograma do filme de Dziga Vertov, Um homem com uma
Piranesi, extraída de Carcere, seguida ainda de reprodu- câmera (1928-1929), no qual o olho do diretor, aberto
ções das obras de Piranesi, depois as de George Dance, o atrás da objetiva, se torna uma coisa só com o instrumen-
Jovem, e as de John Soane. As imagens tornam visível a to mecânico de filmar. [fig.11] É uma imagem que convida
expressão de uma “poética da transgressão” que gira em a olhar a arquitetura com olhos bem abertos, e não com os
torno do tema dos “limites da forma e [da] violência sobre “olhos de sonâmbulo” por tanta cultura contemporânea,
as próprias formas”30. cultura formada na ilusão utópica ou ideológica de guiar
Todas as imagens dessa primeira parte são um “prelú- os processos de transformação e os planos de desenvol-
dio” do valor de base, aos quais se seguem, nos seguintes vimento urbano33.
capítulos, ilustrações relativas à lenta tomada de poder Não existem relações históricas nem, talvez, alusões
da “linguagem da transgressão” nas vanguardas teatrais desejadas entre o olho de Vertov na última ilustração de
do começo do século XX (terceiro capítulo) e, em seguida, La sfera e a imagem da capa de Ricerca del Rinascimento,
(do quarto ao sétimo capítulo), nas arquiteturas e nos pla- com o olho, também arregalado, gravado na medalha de
nos urbanísticos da Alemanha, da União Soviética e dos Leon Battista Alberti [fig.12]. Todavia nos leva a refletir
Estados Unidos entre os anos 1910 e 193031. sobre o fato de duas imagens, tão parecidas entre si, te-
Os dois últimos capítulos (o oitavo e o nono) abrem rem sido colocadas em dois pontos tão significativos das
respectivas publicações. Isto demonstra, pelo menos, uma
29 M. Tafuri, Ricerca del Rinascimento…, cit., p. 23. continuidade nas dúvidas do autor sobre o tema do olhar
30 M. Tafuri, La sfera e il labirinto…, cit., p. 113. As ilustrações de referência
para a primeira parte do livro são as figuras 1 a 35.
31 M. Tafuri, La sfera e il labirinto…, cit., p. 29, onde foi feita uma resenha o 32 M. Tafuri, La sfera e il labirinto…, cit., . As ilustrações de referência para a
percurso histórico e critico desenvolvido nos diferentes capítulos do livro. As terceira parte do livro são as figuras 259 a 365.
ilustrações de referência para a segunda parte do livro são as figuras 36 a 258. 33 M. Tafuri, La sfera e il labirinto…, cit., p. 359, e nota 5, e fig. 365.
88 89
na prática de um historiador de arquitetura.
Na medalha de Alberti, associado a um lema ambíguo,
o olho foi interpretado de várias maneiras, todavia, não
há dúvidas de que isso remete à capacidade de conhecer
através do olhar34. Porém, é um conhecimento que oscila
entre um ver realista, do tipo fisiológico, como na repre-
sentação dos nervos óticos e dos cílios, e um ver de outro
tipo, mais livre porque liberado da natureza realista-fisio-
lógica do próprio olho, como sugere o olho alado, metáfo-
ra do voo da imaginação.
Não há dúvida que do olhar atento, racional e fixo
atrás da câmera de Vortov, ao olho alado de Alberti so-
fig.11
brevém uma reflexão crítica sobe o modo de conhecer “na
idade da representação” que é o próprio tema de fundo de
Ricerca del Rinascimento, mas também de todos os cursos
de Tafuri35. O que neles se ensinava era a ver era algo
especial: a arquitetura era sempre um objeto concreto,
em torno do qual se desenvolvia todo fato historiográfico,
mas a trama na qual isso estava entrelaçado fazia ver algo
que ia além do próprio objeto.
Ruskin sustentava que, para um grande artista, “ver
com clareza” e exprimir o que tinha visto significava mos-
trar, ao mesmo tempo, “poesia, profecia e religião”36. A
pesquisa e a didática de Tafuri se orientavam nessa di-
90 91
reção mais ampla e mais profunda, em condições de en-
tender na história, a partir da arquitetura, algo que nem
sempre era dizível, algo que nem sempre era descritível. É
por isso que, nas suas aulas, se entendia algo “não dito” e,
com as imagens, através das quais criava suas narrativas,
percebia-se não apenas o visível mas também o invisível
que existe no visível.
Esse era o coração de sua “ciência sem nome”.
92 93
Se dovessimo indicare il maestro di “Tafuri storico” non lo finizione che si sarebbe potuto attribuire alla disciplina da lui
troveremmo tra i docenti dei corsi da lui frequentati presso stesso praticata e insegnata, sviluppatasi seguendo un per-
l’università di Roma dal 1953 al 1960. Dovremmo ricorrere corso non “regolare” ma per continui spostamenti attraverso
a una costellazione di opere e di intellettuali, interlocuto- campi di sapere molteplici, in un processo conoscitivo che
ri viventi o del passato, vicini all’architettura ma più spesso egli percepiva non ancora finito, e anzi interminabile3.
lontani da essa, che determinarono le sue scelte e le sue stra- La didattica di Tafuri è il risultato di questo lungo per-
tegie culturali nel corso del tempo1 . corso di ricerca. Le sue lezioni, rivolte agli studenti di archi-
È forse anche per tale motivo che nel 1991 Tafuri riconos- tettura del secondo anno, non divulgavano conoscenze da
ceva in alcune ricerche da lui coordinate una “scienza senza “consumare” nella pratica progettuale, ma illustravano con
nome”, facendo esplicito riferimento agli studi di Aby War- un linguaggio chiaro e specialistico allo stesso tempo un
burg, tanto innovativi e trasversali da non potersi inquadrare “mestiere”, quello dello “storico”, e sollecitavano interrogativi
nell’ambito troppo angusto della storia dell’arte2. Era una de- che agivano in modo produttivo nel “ fare storia”.
Attraverso le lezioni, i lavori delle tesi di laurea, la forma-
1 È Tafuri stesso a fornire la migliore testimonianza sulla sua formazione nella zione dei primi allievi e l’avvio di ricerche comuni con alcuni
lunga intervista – una vera e propria “autobiografia scientifica” – rilasciata nel
febbraio-marzo 1992 a Luisa Passerini: M. Tafuri, La storia come progetto (“His- di essi, ciò che si era andato costruendo a partire dalla fine
tory as Project”), Art History Oral Documentation Project Completed under the degli anni Sessanta era una vera e propria “scuola” di “storici
auspices of the Oral History Program at the University of California, Los Angeles,
and the Getty Center for the History of Art and the Humanities, Copyright ©1993, dell’architettura”, non quindi di architetti che si sarebbero
The Regents of the University of California and the J. Paul Getty Trust. L’inter- dilettati di storia, né di storici che si sarebbero poi dedicati
vista è stata parzialmente pubblicata in traduzione inglese col titolo History
as Project: An Interview with Manfredo Tafuri nel numero monografico Being all’attività professionale.
Manfredo Tafuri, “Architecture New York”, nn. 25-26, 2000, pp. 10-70. A partire da
quest’ultima pubblicazione Andrew Leach ha operato una attenta ricostruzione recepito forse, almeno in un primo momento, soprattutto attraverso le importanti
del percorso intellettuale di Tafuri in A. Leach, Manfredo Tafuri. Choosing History, opere di suoi brillanti seguaci ma anche attraverso le “distorsioni”, puntualmente
A&S/books, Ghent 2007, in part. alle pp. 3-87. rilevate, di suoi tardi epigoni: si veda a questo proposito M. Tafuri, L’armonia e i
2 L’affermazione di Tafuri è particolarmente significativa perché fatta nell’intro- conflitti. La chiesa di San Francesco della Vigna nella Venezia del ‘500, p. 9, dove
duzione al libro con i primi esiti della “scuola” di dottorato in Storia dell’archi- si critica l’“iconologia selvaggia”, con chiaro riferimento al metodo warburghiano
tettura presso il dipartimento di Storia dell’Istituto universitario di architettura sfruttato per interpretazioni indiscriminate nella storia dell’arte (si veda anche La
di Venezia, La piazza, la chiesa, il parco. Saggi di storia dell’architettura (XV-XIX piazza, la chiesa, il parco…, cit., p. 7).
secolo), a cura di M. Tafuri, Electa, Milano 1991, p. 7. La definizione di “scienza 3 Il carattere “interminabile” della ricerca evoca aspetti specifici della scienza
senza nome” era stata coniata in riferimento agli studi di Aby Warburg da Robert psicoanalitica (riferimento d’obbligo in questo caso è S. Freud, Analisi terminabile
Klein in un breve articolo del 1964 ripubblicato nella raccolta di suoi scritti R. e interminabile (1937), in S. Freud, Opere. 1930-1938, vol. 11, Boringhieri, Torino
Klein, La forme et l’intelligible, Editions Gallimard, Paris 1970, trad. it. La forma 1979, pp. 499-535). Il pensiero psicoanalitico è presente nelle riflessioni di Tafuri
e l’intelligibile. Scritti sul Rinascimento e l’arte moderna, Einaudi, Torino 1975, sin dalla fine degli anni Sessanta ed emerge con ulteriore forza nell’elaborazione
pp. 235-41, in part. p. 235. Quella definizione è stata ripresa in un penetrante del suo “progetto storico” nel corso degli anni Settanta, per cui si veda in partico-
saggio da G. Agamben, Aby Warburg e la scienza senza nome, in “aut aut”, 199- lare M. Tafuri, La sfera e il labirinto. Avanguardie e architettura da Piranesi agli
200, (gennaio-aprile) 1984, pp. 51-66. I criteri di indagine di Tafuri, peraltro, non anni ’70, Einaudi, Torino 1980, pp. 3-30. Si veda anche M. Tafuri, La storia come
sono assimilabili allo studio delle tradizioni simboliche e artistiche di Warburg, progetto…., cit., passim, e A. Leach, Manfredo Tafuri…, cit., pp. 164-175.
94 95
L’istituzione del Dipartimento di Analisi Critica e Storica professionista o della manualistica, ma ricco di agganci a un
(DACS) in seno allo Iuav nel 1976 era l’atto conclusivo di una sapere pluridisciplinare. Le pubblicazioni di Tafuri e dei suoi
sperimentazione didattica già avviata da alcuni anni a Ve- colleghi e allievi entravano a far parte delle bibliografie dei
nezia, e rappresentava la punta avanzata di una riforma che corsi, e gli stessi programmi dimostravano la relazione con
soltanto dal 1980 avrebbe investito anche il resto dell’uni- le ricerche dei docenti. È significativo che lo svolgimento dei
versità italiana. Una nuova generazione di docenti, quindi, si venticinque corsi tenuti da Tafuri a Venezia tra 1968 e 1994
era già iniziata a formare in modo specialistico dai primi anni preceda, accompagni e talvolta segua i suoi scritti, così che la
Settanta e avrebbe poi insegnato la storia portando nella lezione didattica si può a buon diritto considerare la pagina
didattica le competenze e l’originalità del proprio lavoro di invisibile dei suoi libri5.
ricerca4. Si consideri il volume La sfera e il labirinto. Avanguardie e
Nell’insegnamento era introdotto un linguaggio nuovo, architettura da Piranesi agli anni ’70: uscito nel 1980, la sua
non più confinato nella terminologia “povera” dell’architetto stesura era stata anticipata e accompagnata dai corsi svolti
nel decennio 1970-1980 centrati sul tema delle avanguardie,
4 Sulle vicende politiche e culturali che portarono alla nascita dei dipartimenti sulle politiche urbane fra anni Venti e Trenta del Novecento,
nello IUAV si vedano i saggi di M. Carraro, G. Zucconi, La direzione Aymonino e gli sul problema della “rappresentazione” nel rapporto fra nuova
anni della sperimentazione, e di M. Carraro, Dagli istituti ai dipartimenti. Note sul
corso di laurea in Architettura, entrambi in Officina IUAV, 1925-1980. Saggi sulla architettura e istituzioni. Il primo capitolo del libro, invece,
scuola di architettura di Venezia, a cura di G. Zucconi e M. Carraro, Università dedicato all’opera di Piranesi e alla sua “ fortuna critica”, sa-
IUAV di Venezia- Marsilio, Venezia 2011, rispettivamente alle pp. 207-228 e 229-
250. Sulle ricerche in corso nel Dipartimento alla fine degli anni Settanta si veda rebbe diventato il tema del corso Giovanni Battista Piranesi
P. Morachiello, The Department of Architectural History, in “Architectural De- (1720-1778) nell’anno accademico 1980-816.
sign”, 55, 5/6, 1985, pp. 70-71: la rivista aveva dedicato quel numero monografico
a “The School of Venice”, anche se il senso di questa definizione andrebbe circos- Nel 1981 Tafuri iniziava un ciclo di tre corsi consecutivi,
critto più al Dipartimento di Storia che a quelli di progettazione, che risultavano
assai compositi e meno coesi al loro interno, come è rilevato in M. Carraro, Dagli
conclusi nel 1984, dedicati a Venezia tra XV e XVII secolo.
istituti ai dipartimenti…, cit., pp. 244-245. Si deve inoltre sottolineare che nel Sono gli anni dell’approfondimento delle tematiche relati-
corso del tempo il “luogo” della ricerca storiografica all’interno dello IUAV aveva
cambiato più volte denominazione, marcando dei passaggi non semplicemente
ve all’architettura del “Rinascimento” studiate attraverso il
nominali ma culturali, orientati a una sempre più chiara identità disciplinare: “caso” Venezia, e confluite in una serie di articoli e saggi di
dall’iniziale “Istituto di Storia dell’architettura” presente fino a tutti gli anni ses-
santa, si giunge alla nascita del “Dipartimento di analisi critica e storica” (DACS)
cui le pubblicazioni più corpose sarebbero state L’armonia e
nel 1976, e quindi al “Dipartimento di Storia dell’architettura” (DSA) nel 1980. Il
quadro culturale si era contemporaneamente arricchito del “dottorato in Storia 5 L’elenco completo dei corsi tenuti da Tafuri a Venezia fra 1968 e 1994 è
dell’architettura e dell’urbanistica”, avviato con il primo ciclo nel 1984, e del nuo- riportato in Leach, pp. 311-313.
vo “Corso di Laurea in Storia e Conservazione dei Beni Architettonici (inaugurato 6 La stretta relazione fra pubblicazioni e corsi universitari è esplicitamente
nel 1993-94 e chiuso pochi anni dopo). Sul progetto culturale del nuovo corso di dichiarata in M. Tafuri, La sfera e il labirinto…, cit., p. 3, nota 1, dove si cita come
laurea in Storia e conservazione si veda in questo stesso volume il saggio di P. materiale di base per tutta la prima parte del libro il seminario tenuto a due
Morachiello, Il corso di laurea in ‘Storia e conservazione dei Beni Architettonici’: voci con Franco Rella, e quindi con il coinvolgimento degli studenti, nell’anno
un’esperienza contrastata. accademico 1976-77.
96 97
i conflitti. La chiesa di San Francesco della Vigna nella Ve- erano infine corsi su uno specifico periodo storico-artistico, in
nezia del ‘500 (1983) e Venezia e il Rinascimento. Religione, cui i protagonisti erano tanti e tanti erano i luoghi analizzati,
scienza, architettura (1985)7. Negli anni successivi, le ricer- come nello studio delle avanguardie fra anni Venti e Trenta in
che su Raffaello, Francesco di Giorgio Martini, Leon Battista Unione Sovietica, in Europa e negli Stati Uniti.
Alberti, con i relativi cataloghi di mostra, saggi o capitoli di Questa varietà di temi implicava un continuo cambio del-
libri, diventano il soggetto di altrettanti corsi e lo spunto le ottiche attraverso cui osservare la storia e un continuo
per ramificare la ricerca: nascono così i programmi imme- passaggio di scala: dall’architettura come oggetto da ana-
diatamente successivi a quello su Raffaello dedicati rispet- lizzare in sé alle strategie urbane come espressione di una
tivamente a un suo allievo, Giulio Romano (a.a. 1985-86), e mentalità o di una politica. Non esisteva, pertanto, un solo
poi al suo maestro, Donato Bramante (a.a. 1986-87). I corsi metodo per fare ricerca ma una filologia flessibile, capace
Francesco di Giorgio Martini e Baldassarre Peruzzi (a.a. 1988- di modificare gli strumenti dell’indagine in rapporto ai temi
89) e poi Giuliano da Sangallo e Jacopo Sansovino (a.a. 1989- trattati. Il metodo era l’assenza di “un” metodo.
90) analizzavano invece insieme l’opera del maestro e quella
Appunti autografi dell’estate del 1993 permettono di
dell’allievo.
valutare le modalità con cui Tafuri negli ultimi anni della sua
Una tale strategia di studio significava escludere dalla attività traduceva le sue ricerche in un programma. Il titolo
didattica programmi su tematiche generali, per privilegiare del corso di quell’anno era “Arte, politica e architettura nella
quelli dal taglio monografico, anche se pensati con formule Roma medicea (1513-1527). Dal mito dell’‘età dell’oro’ alla
diverse. catastrofe del Sacco”: al centro dell’indagine un luogo e un
Vi erano corsi monografici su un singolo artista, che po- tempo precisi, e, insieme, una molteplicità di opere e di autori
nevano al centro dell’indagine un solo protagonista ma con molto diversi tra loro, da Bramante a Baldassarre Peruzzi, da
le tante architetture da lui progettate. Vi erano corsi dedicati Antonio da Sangallo il Giovane a Raffaello [fig. 1].
a una singola città, con tanti protagonisti ma in un solo luogo La complessità del quadro storico e artistico era inserita
(e si pensi ai corsi su “La grande Vienna” tra Otto e Novecen- in un racconto lineare, che si sviluppava attraverso più di
to, su Venezia nel Rinascimento, o sulla Roma medicea). Vi trenta lezioni, dotate tutte di un titolo come in una sequen-
za di capitoli, e si concludeva in modo circolare tornando ai
7 Sull’interesse perdurante di Tafuri per l’architettura dell’età umanistica, e non temi enunciati all’inizio8. Ogni mese era esposto il calendario
frutto di una “ fuga” dal contemporaneo o di un ripiegamento sul passato, come
pure è stato sostenuto, si veda M. Morresi, Il Rinascimento di Tafuri, in Manfredo delle lezioni, dei seminari quindicinali e delle esercitazioni
Tafuri. Oltre la storia, a cura di O. Di Marino, Clean Edizioni, Napoli 2009, pp.
27-51. Gli studi e le pubblicazioni di Tafuri in relazione alla città di Venezia sono
stati esaminati nella conferenza di P. Modesti, Incontri con Venezia, giornata 8 La lezione introduttiva del corso presentava il tema: “Roma communis pa-
internazionale di studi “Manfredo Tafuri 1994-2014”, a cura di R. Dubbini, M. tria, il mito dell’età d’oro”; la terz’ultima chiudeva il racconto col titolo “1527, il
Morresi, Università IUAV, Venezia, 4 novembre 2014. Sacco/Roma Babilonia e fine communis patria”. Restavano ancora due ultime e
98 99
-queste ultime tenute dagli assistenti a settimane alterne- di “vedere” quella complessità9.
così che l’attività didattica era diversificata ma continua, e Tafuri impegnava molto tempo nella preparazione delle
il calendario stesso assumeva la funzione dell’indice in un tre lezioni quindicinali, non soltanto perché ciascuna di esse
libro, permettendo di seguire il procedere della storia in ogni era un’opportunità di ricerca e un contributo ai suoi stessi
singolo passaggio [fig. 2]. studi, ma anche perché il racconto doveva procedere in stret-
Periodicamente erano distribuite le bibliografie sui sin- ta relazione con le immagini, tutte accuratamente seleziona-
goli argomenti trattati a lezione: molto articolate e selettive, te. Oltre a una personale raccolta di diapositive egli poteva
erano arricchite di commenti critici mirati a distinguere la contare su quelle presenti nella diateca del Dipartimento di
“ buona” dalla “cattiva letteratura”, i contributi innovativi da Storia, che all’epoca era un eccezionale strumento didattico,
quelli puramente compilativi o addirittura fuorvianti [fig. 3]. unico nel panorama delle università italiane per varietà e
L’organizzazione del corso nel suo insieme dimostra la ricchezza della collezione (a fine anni Novanta il patrimonio
pluralità di strumenti messi in campo per presentare agli stu- era asceso a circa centomila immagini).
denti l’articolazione e la specificità di un lavoro storiografico, Nelle due ore di lezione non erano mostrate mai più di
attraverso il quale si poteva educare all’analisi dell’architet- una trentina di diapositive. Un numero contenuto, indispen-
tura e dell’arte, alla lettura dei libri, a prendere consapevole- sabile per una lettura lenta dell’opera e per contrastare così
zza del dibattito storico-critico nella cultura contemporanea. la percezione distratta indotta dalle riviste e dall’editoria di
In una lezione di due ore non si analizzavano mai più architettura, sommerse da un “diluvio di immagini”. Ogni
di due o tre opere, molto spesso una soltanto. Un edificio dettaglio era una fonte di informazioni, e alla fine dell’ana-
era inteso come un nodo storiografico in cui si intrecciavano
tanti fili di lunghezza diversa, perché più o meno affondati 9 Per la storiografia come intreccio, da lui approfondita in particolare tra anni
Settanta e Ottanta, si veda M. Tafuri, La storia come progetto…, cit., pp. 114
nella storia passata e più o meno proiettati in quella futura: sgg.. L’approfondimento di questioni ritenute strategiche per il mestiere dello
la mentalità del committente, la cultura visiva dell’architetto, storico – l’uso delle fonti e dei documenti, la verifica delle ipotesi storiografiche,
il “peccato” dell’anacronismo, il peso della cultura materiale, il superamento di
le tecniche costruttive, il pensiero religioso erano alcuni di una “histoire événementiel”, etc. – era particolarmente sentito da Tafuri nei
tali fili, e una lezione permetteva di riconoscerne l’apporto primi anni Ottanta, tanto da dedicare molti incontri seminariali con gli studenti
durante l’a.a. 1982-83 alla discussione del libro di M. Bloch, Apologia della storia,
in ogni singolo progetto, di spiegare la complessità dell’in- o Mestiere di storico, Einaudi, Torino 1918, oltre che alla riflessione su opere di L.
treccio e soprattutto, attraverso il racconto delle immagini, Febvre (come, ad esempio, Problemi di metodo storico, Einaudi, Torino 1982), e di
altri storici della “scuola” delle “Annales”. Non c’è dubbio che la didattica di Tafuri
dei primi anni Ottanta registra un cambiamento rispetto agli anni precedenti
conclusive lezioni che costituivano propriamente una coda al corso, in quanto anche in relazione alle ricerche avviate all’epoca, su Raffaello per esempio, oltre
Palazzo Massimo alle Colonne di Peruzzi, del 1532, era lasciato volutamente fuori che su Venezia, tali da introdurre nell’insegnamento nuovi strumenti di lavoro,
dalla sequenza: era infatti giudicato un’architettura postuma rispetto alla Roma frutto dei rapporti stretti instaurati all’epoca con gli studiosi della Biblioteca
di Leone X e di Clemente VII, anche se frutto di quella stessa cultura architetto- Hertziana di Roma. Su ciò si veda ancora M. Tafuri, La storia come progetto…, cit.,
nico-figurativa. pp. 117-118, e il contributo di C. L. Frommel in questo stesso volume.
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lisi ciò che un edificio mostrava di sé era qualcosa di molto aspetti da considerare: alcuni estrinseci – dal tipo di carta,
diverso rispetto all’inizio, arricchito di significato, intessuto alle tracce sul recto e sul verso del foglio, a eventuali sigle
di riferimenti al contesto culturale e figurativo dell’epoca, ai –, altri intrinseci – la grafia, il suo ductus, il soggetto. Tafuri
modelli del passato, alle ricadute in epoche successive. tutto ciò lo raccontava, anche se in forma semplificata, ma
La priezione delle diapositive avanzava, rallentava o an- in più mostrava qualcosa che soltanto in una comunicazione
che retrocedeva in modo da costruire un percorso visivo in orale si poteva mostrare. Si prenda il caso del dis. U510Ar di
piena sincronia con il discorso, così che parola e immagine Peruzzi, analizzato in una lezione del 198311: la stesura del
diventassero un’unità inscindibile. progetto era spiegata seguendo Peruzzi mentre tracciava i
primi segni sulla carta, e poi mentre disegnava le cappelle
Tutto ciò rende le registrazioni e le trascrizioni di molti
periferiche nelle sue varie forme, e incerto o più sicuro impos-
suoi corsi una documentazione importante ma incompleta.
tava piante ellittiche, esagonali, circolari, recuperando alla
Mancano infatti le immagini, né possiamo ricostruirne la se-
memoria le fonti antiche studiate. Il progetto cresceva nel
quenza, l’avanzare o il retrocedere della proiezione: non pos-
corso dell’analisi, perché era visto nel suo farsi. Così come nel
sediamo, in definitiva, la trama visibile del racconto10.
disegno U8Av – analizzato in una lezione del 1993 – in cui si
È tuttavia possibile descrivere alcuni suoi modi di “inseg- riconosceva una discussione fra architetti: Bramante spiega-
nare con le immagini” riferendoci ad alcuni temi o questioni va a Giuliano da Sangallo l’idea delle esedre con colonne per
di storia dell’architettura più volte affrontati a lezione, come San Pietro in Vaticano schizzando rapidamente sul foglio le
la lettura di un disegno, la discussione di un’ipotesi storio- transenne di colonne a suo tempo viste a Milano nel duomo e
grafica, la formazione della cultura visiva in un artista o la in San Lorenzo12. I segni tracciati permettevano di seguire lo
lettura di un’opera di architettura. sviluppo della discussione fra i due artisti, e di cogliere, nelle
Nell’analisi di un disegno, per esempio, ci sono molteplici rispettive proposte, la loro diversa cultura visiva.
10 Questo problema, proprio di un discorso sull’arte, per sua natura “visivo”, è Tafuri riusciva così a creare in un’aula affollata di studen-
acutamente centrato da Pier Paolo Pasolini in una recensione al volume di R. ti una sorta di intimità con gli artisti di cui parlava, e di cui
Longhi, Da Cimabue a Morandi, Mondadori, Milano 1978. Pasolini aveva seguito
le “memorabili” lezioni di Longhi sui Fatti di Masolino e Masaccio nell’Università condivideva il piacere e la fatica del ricercare. Era una com-
di Bologna intorno al 1939, e aveva ben compreso il ruolo fondamentale delle prensione intessuta di un spirito profondamente “umanisti-
immagini, le quali erano invece inspiegabilmente assenti dal volume edito nel
1978, privato in questo modo di una chiave di lettura essenziale: si veda P. P.
Pasolini, Descrizioni di descrizioni, Einaudi, Torino 1979, pp. 251-255, in part. p. 11 Lezione del 14 gennaio l983, Peruzzi e Antonio il Giovane. Giulio Romano a
252. Si potrebbe aggiungere che lezioni non legate alle immagini risulterebbero Mantova, nel corso Architettura e rinnovamento urbano nella Venezia del Rinas-
meno penalizzate dalla trascrizione, come nel caso dei noti “seminari” di Jacques cimento (1514-1554), a.a. 1982-83.
Lacan pubblicati dai suoi allievi. In ogni caso, la diffusa prassi di registrare e
12 Lezione del 4 novembre 1993, Donato Bramante, 3. I progetti per il nuovo
trascrivere le sue lezioni era scoraggiata, anche se inutilmente, da Tafuri perché
San Pietro all’interno del corso Arte, politica e architettura nella Roma medicea
egli era fin troppo consapevole delle differenze “semantiche” esistenti tra una
(1513-1527). Dal mito dell’‘età dell’oro’ alla catastrofe del Sacco, a.a. 1993-94.
comunicazione orale e un testo scritto.
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co”, in un senso del tutto analogo a quello testimoniato da stupirsi e di rinascere con lo sguardo davanti a qualsiasi for-
Niccolò Machiavelli quando, nella solitudine del suo studiolo, ma, anche la più nota, era molto vicino a ciò che John Ruskin
leggeva gli autori antichi, e questi “per loro humanità” gli indicava come “the innocence of the eye”, e che attribuiva
rispondevano e lo rapivano a tal punto nel colloquio, come soltanto a chi era dotato di talento artistico15.
scriveva in una lettera del 1513 all’amico Francesco Vettori, Il desiderio di dialogare con gli “antiqui huomini” spie-
he “tutto mi transferisco in loro”13. ga anche la capacità di Tafuri di ridisegnare opere di autori
Così per Tafuri il rapporto con le opere diventava diretto, quali Giulio Romano, Antonio da Sangallo il Giovane o Pe-
perché non mediato da analisi distaccate, o poste al riparo di ruzzi riprendendone perfino i modi grafici. [fig. 4] Era così
un metodo filologico “infallibile” e ripetitivo. Nessuna analisi possibile vedere “dall’interno” le potenzialità ancora presenti
avrebbe potuto spiegare in modo definitivo un’opera, perché nei disegni originali, lasciati incompiuti o giunti a noi mutili,
inesauribile è il suo significato. Era invece necessario man- mettendo a punto un ulteriore strumento per “ fare storia”16.
tenere sempre vivo un atteggiamento di ascolto, continuare Disegnare era anche un modo efficace per studiare ipotesi
a interrogare il passato, un disegno, o un progetto, come se storiografiche alternative, come quando nel corso su Alber-
fosse visto sempre per la prima volta14. Questa capacità di ti egli aveva messo a confronto con suoi disegni la propria
ipotesi ricostruttiva con quella di Richard Krautheimer del
13 Così Machiavelli scriveva a Vettori: “Venuta la sera, mi ritorno a casa ed entro progetto originario per la chiesa di Sant’Andrea a Mantova17
nel mio scrittoio; e in sull’uscio mi spoglio quella veste cotidiana, piena di fango
e di loto, e mi metto panni reali e curiali; e rivestito condecentemente, entro nelle
[fig. 5, 6].
antique corti delli antiqui huomini, dove […] io non mi vergogno parlare con loro Ogni lezione era sempre un discorso a più voci, proce-
[…] e quelli per loro humanità mi rispondono; e non sento per quattro hore di
tempo alcuna noia, sdimentico ogni affanno, non temo la povertà, non mi sbigot-
tisce la morte: tutto mi transferisco in loro”. Il testo intero della lettera, datata sione del primo capitolo di M. Tafuri, Ricerca del Rinascimento. Principi, città,
10 dicembre 1513, è in N. Machiavelli, Opere, a cura di M. Bonfantini, Ricciardi, architetti, Einaudi, Torino 1992, p. 24: “In qualche modo, abbiamo esplicitato
Milano-Napoli 1954, pp. 1108-1112. La lettera era citata da Tafuri nella lezione ulteriormente la strategia che sostiene le ricerche di cui esporremo i risultati nei
del 10 febbraio 1983, Il “mito” di Venezia. Andrea Gritti e Jacopo Sansovino nel prossimi capitoli […] Nella speranza, che quanto da lontano interroga sia stato
corso Architettura e rinnovamento urbano nella Venezia del Rinascimento (1514- ascoltato in modo da non annullarne la distanza: così che esso possa continuare
1554), a.a. 1982-83. La lettera non soltanto testimoniava la “condizione di esilio” a interrogare”.
vissuta dagli intellettuali in tante corti rinascimentali italiane in contrasto con la
“libertà” celebrata dalla “mitologia” veneziana nella Serenissima Repubblica, ma 15 J. Ruskin, The elements of drawing (1857), in The works of John Ruskin, edited
faceva anche intravedere un significativo risvolto storiografico: in quanto ascolto by Edward Tyas, Cook and Alexander, Wedderburn, 39 voll., G. Allen, London –
di un passato vivo, quel “dialogo con gli antiqui” si rivelava “un meccanismo di Longmans, Green and Co, New York 1903-1912, vol. XV, p. 27, trad. it. Gli elementi
costruzione storica”, proprio di qualsiasi studio che inevitabilmente si avvia dal del disegno, Adelphi, Milano 2009, p. 32 nota 1.
proprio presente. 16 Si veda H. Burns, “Questo”: disegni e studi di Manfredo Tafuri per la ricostru-
14 Sul significato “inesauribile” di un’opera d’arte si veda la lezione di Tafuri zione di edifici e contesti urbani rinascimentali, in Questo. Disegni e studi di Man-
del 7 gennaio 1993, Le Intercoenales albertiane. Il motto Quid Tum, tenuta nel fredo Tafuri, a cura di A. Bedon, G. Beltramini, H. Burns, Centro Internazionale di
corso Umanesimo e architettura: Leon Battista Alberti (1404-1472), a.a. 1992-93 Studi di Architettura Andrea Palladio, Vicenza 1995, pp. 11-19.
(in particolare a p. 30 nella trascrizione pubblicata dai suoi allievi nel 2014). Più 17 Lezione del 29 aprile 1993, Sant’Andrea a Mantova (1), nel corso Umanesimo e
in generale, sulla necessità del continuo ricercare, si vedano le parole in conclu- architettura: Leon Battista Alberti (1404-1472), a.a. 1992-93.
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deva, come qualsiasi ricerca, in un colloquio ideale e reale un’intera lezione (novembre 1992) a mostrare “immagini di
con studiosi viventi o del passato. Si trasferiva nel chiuso di città”, ossia architetture dei luoghi nei quali Alberti aveva
un’aula il lavoro comune che aveva dato corpo alle grandi soggiornato, da Venezia a Padova, da Bologna a Firenze e
mostre su Raffello (1984), Giulio Romano (1989), o Francesco Roma. Luoghi che gli avevano permesso di vedere da un lato
di Giorgio (1993)18. monumenti medievali radicati nella tradizione locale (il pa-
Nei corsi monografici era dato ampio spazio agli inizi lazzo ducale e la chiesa di San Marco a Venezia, San Petronio
dell’attività di un architetto, al suo apprendistato nel campo a Bologna, San Miniato a Firenze), dall’altro eventi artistici
della pittura, della scultura, o nella pratica di cantiere, alla profondamente innovatori (le opere di Masaccio, Donatello
copia di modelli figurativi e alla guida di un maestro. Questa e Brunelleschi), e infine le rovine antiche, a Roma ma anche
educazione pratica nell’età medievale e moderna era fonda- nelle città della Provenza19. In tal modo Tafuri non soltan-
mentalmente visiva, e poneva le basi di ciò che si sarebbe to enucleava le componenti di ciò che sarebbe diventato il
poi trasformato in architettura, come dimostra l’attività pro- linguaggio albertiano – un’architettura radicata nei diversi
gettuale, fra gli altri, di Raffaello, Giulio Romano, o Jacopo contesti locali, innovativa per l’epoca, e fondata sull’antichità
Sansovino. romana –, ma operava anche una ricostruzione storiografica
attraverso un percorso puramente visivo.
In questo diffuso sistema di educazione all’arte l’eccezio-
ne è rappresentata da Alberti, il cui cursus studiorum presso Ciò significava assegnare allo sguardo la funzione di gui-
le università di Padova e Bologna esclude un percorso forma- da privilegiata sia per l’artista, che imparava attraverso gli
tivo guidato da un maestro di bottega, rendendo enigmatico occhi, sia per lo storico contemporaneo, che narrava attraver-
il suo iniziale avvicinamento all’architettura. In assenza di so le immagini. Era stata questa, del resto, la fondamentale
qualsiasi documento che permetta di sapere che cosa real- lezione impartita da Rudolf Wittkower, il cui “metodo” visivo
mente Alberti ebbe la possibilità di vedere e disegnare, Ta- si può pienamente cogliere in una sua rapida notazione su
furi affrontava il problema della sua formazione dedicando Filippo Juvarra: la straordinaria capacità inventiva e disegna-
tiva di questo artista era spiegata attraverso una formazione
18 L’Introduzione al catalogo della mostra su Giulio Romano riassume il senso avvenuta sì nella periferica Messina, ma “con le costruzioni di
di un lavoro storiografico condotto attraverso il dialogo: “I risultati delle nos- Guarini davanti agli occhi”20.
tre ricerche aprono, spesso, nuovi interrogativi, come è consueto ad operazioni
storiografiche complesse. Per quanto concerne il modo in cui tali risultati sono Il montaggio delle immagini per le lezioni non rispettava
stati raggiunti, gli autori riconoscono l’apporto determinante che le loro singole
ricerche hanno ricevuto dai continui scambi, dalla reciproca collaborazione, e dai
seminari in cui hanno avuto modo di confrontare ipotesi e scoperte. Di fronte a un 19 Lezione del 20 novembre 1993, Leon Battista Alberti: dal “Philodoxeos” al
esponente della cultura umanistica – cultura del “civile colloquio” per eccellenza “Della Famiglia” (1404-1434/41), nel corso Umanesimo e architettura: Leon Bat-
– il metodo è stato quello della collaborazione dialogica: che è, riteniamo, un tista Alberti (1404-1472), a.a. 1992-93.
risultato in sé, da segnalare ai lettori e ai critici del presente lavoro”, in Giulio 20 Rudolf, Wittkower, Art and Architecture in Italy 1600 to 1750, Penguins
Romano, Electa, Milano 1989, p. 9. Books, Harmondsworth (Middlesex) 19733, p. 275.
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un criterio fisso, anche se in linea generale l’analisi iniziava mentalità dell’epoca: in un edificio si intrecciavano “micros-
sempre dalla contestualizzazione storica per poi concentrarsi toria” e “longue durée”22.
sull’oggetto architettonico. A titolo di esempio si può citare Il corso Donato Bramante (1444-1514) dell’anno accade-
una lezione del 1982 sul tempietto di San Pietro in Montorio mico 1986-87, per esempio, era stato avviato sin dall’inizio
di Bramante, in cui la prima parte era dedicata alla presenta- come lo studio di un’architettura rivoluzionaria nel panorama
zione della figura di Giulio II, erede della politica autoritaria europeo, in quanto massima espressione dell’“artificio” uma-
e universalistica dei “sovrani pontefici”. Era questa la pre- no: l’uso di espedienti prospettici, e la concezione dell’edificio
messa indispensabile per valutare nel quadro della “politica come montaggio di elementi in un tutto perfettamente orga-
delle immagini” perseguita dal papa la novità rappresentata nizzato, esaltavano un’architettura dalla razionalità esibita,
dall’architettura bramantesca. Il tempietto era poi analizzato manifestazione di distacco dell’opera dell’uomo dall’opera di
nel dettaglio, scomposto nei suoi diversi elementi con una se- natura, e anzi di dominio su di essa. Il corso, in altri termini,
quenza di immagini che andava dall’esterno all’interno, ossia avrebbe sviluppato in modo esteso e analitico ciò che Giorgio
dal portico trabeato con colonne allo spazio murario voltato Vasari aveva sinteticamente detto di Bramante, che nei suoi
con cupola21. L’opera era spiegata attraverso l’opera, guar- edifici mostrava “il valore dello ingegno suo e quelle artefi-
dando alle fonti studiate da Bramante e alla loro rielabo- ciose difficultà”23.
razione moderna: questo significava “vedere” l’architettura,
Nell’ultima lezione era brevemente tracciata la fortuna
perché significava aderire al processo mentale e visivo svolto
critica di questo modo di concepire l’architettura accennan-
dall’artista nel suo progetto.
do alla ripresa e allo sviluppo di motivi bramanteschi nella
La creazione artistica, pertanto, era riconosciuta come produzione di Raffaello, di Antonio da Sangallo il Giovane, di
una attività autonoma, individuale ma era anche pensata Peruzzi, e poi in opere quali la cupola della cattedrale di St
come “relativa”, messa cioè in relazione al contesto storico Paul a Londra di Christopher Wren (1668-1708), esemplata
e sociale nel quale si manifestava. L’incontro tra Bramante e sul progetto per la cupola di San Pietro in Vaticano inciso da
Giulio II, in questo senso, avveniva “per tangenza” in un pun- Sebastiano Serlio, per finire con la cupola ottocentesca del
to dei loro rispettivi e indipendenti campi di attività. Tempi Campidoglio di Washington negli Stati Uniti24 [fig. 7].
diversi della storia erano messi in relazione, e l’analisi per-
metteva di vedere il “testo” architettonico scaturire dal “con- 22 Sul tema dell’intreccio storiografico si veda il testo più sopra e nota 9, inoltre
testo” politico e culturale, le scelte artistiche ricadere nella l’Introduzione in A. Foscari, M. Tafuri, L’armonia e i conflitti. La chiesa di San
Francesco della Vigna nella Venezia del ‘500, Einaudi, Torino 1983, pp. 3-10, in
part. p. 7.
21 Lezione del 16 dicembre 1982, Roma 1500-1520. La fondazione di un lingua-
ggio universale (1), tenuta nel corso Architettura e rinnovamento urbano nella 23 Le opere di Giorgio Vasari, Firenze 1878-1885, IV, p. 146.
Venezia del Rinascimento (1514-1554), a.a. 1982-83. 24 Lezione del 12 giugno 1987, tenuta nel corso Donato Bramante (1444-1514),
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Tuttavia, l’ultima immagine era dedicata al tempio Ryo- per la chiesa di San Giovanni dei Fiorentini (1518), mostrano
an-ji a Kyoto (1502-1506), coevo all’attività romana di Bra- una delle massime espressioni di ricerca e di sperimentalismo
mante [fig. 8]. Era un confronto decisivo: il giardino fatto di architettonico di tutta l’età umanistica26 [fig. 9]. Nei capitoli
ghiaia e sassi mostrava una relazione del tutto diversa con la successivi si affronta il tema della diffusione internazionale
natura, era uno spazio concepito per la meditazione, vissuto di quel linguaggio sperimentale – il caso del palazzo di Carlo
come vuoto interiore che poteva abbracciare tutto perché non V a Granada – per poi giungere ad analizzare il progressivo
voleva rappresentare niente. Dopo un intero corso dedicato smorzarsi di quell’altissima cultura antiquaria e quasi il suo
all’analisi dettagliata e filologica dell’opera bramantesca, si riassorbirsi nelle consuetudini edilizie “locali”, come mos-
insinuava un dubbio sottile circa la presunta centralità e uni- tra il caso di Venezia e l’opera di Jacopo Sansovino (capitolo
versalità della cultura figurativa e architettonica occidentale, settimo). Le immagini accompagnano questo “epilogo” con-
concepita come spazio razionale, matematico e astratto25. densando nell’ultima illustrazione – le case Moro a Venezia,
In questo, come in altri corsi, l’ultima lezione era un fina- degli anni quaranta del Cinquecento – il senso di una archi-
le aperto, ricco di interrogativi, e le immagini illuminavano tettura che diventa anonima, esprimendo quasi un silenzio
retrospettivamente di una luce problematica l’intero percorso delle forme27[fig. 10].
fin lì svolto. Non è questo lo stesso intento narrativo presente Lette nella loro sequenza le illustrazioni di Ricerca del
nelle illustrazioni dei libri di Tafuri? Rinascimento permettono di seguire per architecturam l’in-
In Ricerca del Rinascimento la prima immagine, una mi- tero percorso storico-critico, dall’introduzione del tema, al
niatura che mostra la Roma di Niccolò V, introduce l’argo- “ fortissimo” dei capitoli centrali, al “pianissimo” dell’epilo-
mento svolto nel secondo capitolo – il rapporto fra il papa go lagunare. L’immagine delle case Moro lascia sospesi su
e Leon Battista Alberti – ed evoca più in generale il tema di un silenzio, e il senso di questa problematica conclusione è
fondo dell’intero libro, ossia l’intreccio fra luoghi, principi e del tutto analogo a quello dell’immagine del tempio di Kyoto
artisti da cui emerge la nuova architettura “rinascimentale”. nella lezione conclusiva del corso su Bramante di alcuni anni
Le illustrazioni che seguono visualizzano il progressivo af- prima: la differenza è che ora non siamo posti di fronte a
fermarsi del linguaggio all’antica, dalla Firenze di Lorenzo il una cultura “altra”, ma siamo nel cuore del “mondo messo
Magnifico alla Roma di Leone X, fino a giungere al capitolo in immagine”, secondo l’espressione riferita da Martin Hei-
centrale (il quarto) le cui illustrazioni, relative al concorso
26 M. Tafuri, Ricerca del Rinascimento, in part. pp. 159-189, e fig. 49-76.
a.a. 1986-1987. 27 M. Tafuri, Ricerca del Rinascimento…, cit., fig. 166: certamente non casuale
25 Il confronto fra l’architettura “artificiosa” di Bramante e i giardini zen gia- è la scelta di illustrare le case Moro con un disegno settecentesco (Francesco
pponesi, è ripreso anche nell’intervista M. Tafuri, La storia come progetto…, cit., Guardi, Oxford, Ashmolean Museum), evocativo dell’epoca del definitivo declino
pp. 83-84. della Repubblica.
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degger all’età umanistica e citata da Tafuri in apertura del die, illustrata con opere, fra gli altri, di James Stirling, Aldo
libro28. Rossi, Robert Venturi, Richard Meier, Cesar Pelli31.
Stessa attenzione al percorso per immagini è riconosci- Eppure, l’immagine che chiude questa serie di progetti e
bile in La sfera e il labirinto. In questo caso nel testo non l’intero apparato illustrativo del libro è un fotogramma dal
c’è un rimando puntuale alle illustrazioni, perché non c’è film di Dziga Vertov, L’uomo con la macchina da presa (1928-
un’analisi dettagliata del singolo disegno o progetto: diverso 29), in cui l’occhio del regista spalancato dietro l’obiettivo
è l’approccio storiografico e filologico alle opere. Tuttavia an- è diventato tutt’uno con lo strumento meccanico di ripresa.
che qui è possibile seguire la narrazione storica attraverso le [fig. 11] È un’immagine che sollecita a guardare l’architettura
immagini. La prima è un’incisione di Piranesi tratta dalle Car- con occhi ben aperti, e non con gli “occhi da sonnambulo” di
ceri, cui seguono riproduzioni ancora dalle opere di Piranesi, tanta cultura contemporanea, presa nell’illusione utopistica
poi di George Dance il giovane e di John Soane: visualizzano o ideologica di guidare i processi di trasformazione e i piani
l’esplicitarsi di una “poetica della trasgressione” che ruota di sviluppo urbano32.
attorno al tema dei “limiti della forma e [della] violenza sulle Non esistono relazioni storiche, né, forse, volute allusioni
forme stesse”29. tra l’occhio di Vertov nell’ultima illustrazione di La sfera e
Tutte le immagini di questa prima parte sono un “prelu- l’immagine di copertina di Ricerca del Rinascimento, con l’oc-
dio” dal valore fondativo, cui seguono nei successivi capitoli chio, anche questo spalancato, inciso nella medaglia di Leon
illustrazioni relative alla “lenta presa di possesso del ‘lingua- Battista Alberti. [fig. 12] E tuttavia dà da pensare che due
ggio della trasgressione’” nelle avanguardie teatrali del pri- immagini tra loro assimilabili siano collocate in due punti
mo Novecento (capitolo terzo), e a seguire (capitoli dal quarto così significativi delle rispettive pubblicazioni. Ciò dimostra,
al settimo) nelle architetture e nei piani urbanistici di Germa- quanto meno, una continuità negli interrogativi dell’autore
nia, Unione Sovietica e Stati Uniti fra anni Dieci e Trenta30. sul tema del vedere nella prassi di uno storico dell’architet-
Gli ultimi due capitoli (ottavo e nono) aprono una rifles- tura.
sione sull’architettura degli anni Settanta e sul dibattito con- L’occhio sulla medaglia di Alberti, associato a un motto
temporaneo sviluppatosi dopo il “ fallimento” delle avanguar- ambiguo, è stato variamente interpretato, tuttavia è indubbio
che esso rinvii alla facoltà di conoscere attraverso la vista33.
28 M. Tafuri, Ricerca del Rinascimento…, cit., p. 23.
29 M. Tafuri, La sfera e il labirinto…, cit., p. 113. Le illustrazioni di riferimento per
la prima parte del libro sono le figg. 1-35. 31 M. Tafuri, La sfera e il labirinto…, cit., le illustrazioni di riferimento per la
terza parte del libro sono le figg. 259-365.
30 M. Tafuri, La sfera e il labirinto…, cit., p. 29, dove è riassunto il percorso
storico e critico svolto nei diversi capitoli del libro. Le illustrazioni di riferimento 32 M. Tafuri, La sfera e il labirinto…, cit., p. 359, e nota 5, e fig. 365.
per la seconda parte del libro sono le fig. 36-258. 33 M. Tafuri, Ricerca del Rinascimento…, cit., p. 53, e p. 77 nota 79.
112 113
È una conoscenza che però oscilla tra un vedere realistico di motivo che nelle sue lezioni si coglieva un “non detto”, e che
tipo fisiologico, come indica la raffigurazione di nervi ottici nelle immagini con cui creava i suoi racconti si riusciva a
e ciglia, e un vedere di tutt’altro genere, più libero, perché percepire non soltanto il visibile, ma anche l’invisibile che
liberato dalla natura realistico-fisiologica dell’occhio stesso, c’è nel visibile.
come suggerisce l’ala che gli fa spiccare il volo. Era questo il cuore della sua “scienza senza nome”.
Non c’è dubbio che dall’occhio vigile, razionale, e fisso
dietro la macchina da presa di Vertov all’occhio alato di Al-
berti si consuma una riflessione critica sul modo di conosce-
re “nell’età della rappresentazione”, che è proprio il tema di
fondo di Ricerca del Rinascimento, ma anche di tutti i corsi di
Tafuri 34. Ciò che in essi si insegnava a vedere era qualcosa di
speciale: l’architettura era sempre l’oggetto concreto attorno
a cui si sviluppava ogni intreccio storiografico, ma la trama
nella quale esso era intessuto portava a vedere qualcosa che
andava oltre l’oggetto stesso.
Ruskin sosteneva che per un grande artista “vedere con
chiarezza” ed esprimere ciò che aveva visto significava mos-
trare insieme “poesia, profezia e religione”35. La ricerca e la
didattica di Tafuri si muovevano verso questa visione più
ampia e più profonda, in grado di comprendere nella storia,
a partire dall’architettura, qualcosa che non era sempre di-
cibile, e qualcosa che non era sempre descrivibile. È per tale
114 115
Algo além da arquitetura. O primeiro trabalho historiográfico publicado por
Manfredo Tafuri Manfredo Tafuri, intitulado “A primeira rua de Roma Mo-
entre ativismo e projeto derna: Via Nazionale” (“La prima strada di Roma moder-
Something beyond architecture.
na: via Nazionale”)1, foi publicado nas páginas da revista
The training years
Qualcosa oltre l´architettura. “Urbanistica”, em 1959, mesmo ano em que terminou a
Gli anni formativi Faculdade de Arquitetura em Roma. O artigo completava
uma edição monográfica da revista, com curadoria de Italo
Luka SKANSI Insolera e Ludovico Quaroni e dedicada à história urbana
de Roma, explorada em um arco de tempo abrangendo da
TraduçãoTranslationTraduzione
Anita Di Marco Antiguidade até os primeiros anos do século XX. 2
Nesse primeiro exercício de análise, Tafuri revisitava
as condições, segundo as quais, a Câmara Municipal de
Roma, ao longo dos anos 70 do século XIX decidiu a dire-
ção do traçado da Via Nazionale. A nova e importante via
de desenvolvimento da capital à época deveria ligar um
local central da cidade (inicialmente ainda não definido)
1 M. Tafuri, La prima strada di Roma moderna: via Nazionale, “Urbanistica”, n.
27, giugno 1959, pp. 95-104.
2 O artigo de Tafuri é precedido pelas famosas lições de Ludovico Quaroni,
Una città eterna – quattro lezioni da 27 secoli, ibid. pp. 6-72 e pela Storia del
primo Piano Regolatore di Roma di I. Insolera, pp. 74-82.
116 117
com as termas de Diocleciano. As termas situavam-se, en- suas propriedades. O texto também mostrava como, nes-
tão, em uma área considerada periférica, mas de grande sas operações, estavam envolvidos empresários que, por
potencialidade: de fato, havia poucos anos, a região ha- sua vez, buscavam obter contratos para executar as obras
via sido escolhida como local para construção da estação de urbanização e especular sobre a altura dos edifícios a
central da cidade, que seria completada em 1874, de acor- serem construídos. Evidenciava ainda como a Câmara Mu-
do com projeto do arquiteto Salvatore Bianchi. nicipal se transformara no local onde grandes interesses
O jovem Tafuri, então com 24 anos, construiu seu pri- se manifestavam e se confrontavam (Tafuri reconstruiu o
meiro texto de história da arquitetura, ou melhor, de his- cenário justamente, com o relato das discussões das inú-
tória urbana, analisando o longo e complexo debate em meras cadeiras da Câmara) 4.
torno do traçado da Via Nazionale e que levaria à escolha Essencialmente, o relato historiográfico deixava cla-
do atual, entre a Praça da República e a Praça Veneza. ro que a Via Nazionale de hoje (largura, direção, ponto
Baseando a própria pesquisa unicamente nas atas da Câ- final do traçado, altura dos edifícios) nada mais é do que
mara,3 Tafuri reconstruiu o papel dos principais atores en- o resultado do embate e mediação entre os interesses
volvidos na discussão, o comportamento da administração econômicos e imobiliários da oligarquia romana do século
municipal e ilustrou as ideias urbanísticas dos diversos XIX (cardeais, barões, empresários), a qual testemunhou
protagonistas, repropondo os projetos descritos nas atas: a ação de uma oposição desordenada, isolada e ineficaz
na verdade, as várias propostas concebiam o início do tra- que, apesar das tentativas de influenciar o debate, per-
çado (além da atual Praça Veneza) no Palácio Barberini, na maneceu basicamente impotente com relação ao destino
Praça do Quirinale e na igreja dos Santos Apóstolos. da cidade.
Tafuri introduzia a questão, mostrando que os terrenos A pesquisa historiográfica de Tafuri, todavia, não se
da zona em questão, ainda não urbanizada, eram proprie- detinha apenas na reconstrução dos conflitos. Com a con-
dade sobretudo de um arcebispo (Monsenhor Francesco formação urbana existente e sua estratificação histórica,
Savério de Mérode, Protoministro de Armas de sua San- era Roma a principal preocupação do jovem historiador.
tidade, o Papa). O arcebispo pressionara a administração As suas reconstruções planimétricas indicavam o grau im-
municipal para conseguir o traçado ideal para valorizar placável de radicalidade das propostas de projeto: com
3 A reconstrução historiográfica de Tafuri se baseia unicamente nas atas da 4 O texto cita e transcreve no apêndice três anos de debates na Câmara,
Câmara, nos relatórios econômicos e anexos; nas notas e no texto não aparece durante os quais são aprovados dez projetos diferentes: para alguns deles as
nenhuma referência bibliográfica sobre o tema. práticas de desapropriação já estavam em andamento ou concluídas.
118 119
a leveza de um jogo de tabuleiro, eram imaginadas (e – embora o jovem Tafuri não mencionasse a situação coe-
parcialmente realizadas) demolições da estrutura urbana va – é a imutabilidade das práticas políticas e adminis-
medieval romana, de monumentos da Roma barroca e até trativas italianas. O que é descrito e o modo como a his-
mesmo a derrubada de partes dos muros do mercado de tória é contada parecem aludir diretamente à forma como
Trajano. a cidade italiana era governada no segundo pós-guerra.
Não se trata, aqui, de estabelecer a confiabilidade As revistas, os livros e os debates da época descreviam e
da reconstrução histórica do jovem Tafuri, ou a natureza lamentavam os problemas estruturais da cidade do mila-
ideológica – como se verá em seguida – de sua análise so- gre econômico, assim como a total impotência do poder
bre os atores envolvidos na narrativa histórica. O que inte- público, a inadequação dos instrumentos de planificação,
ressa entender é, sobretudo, o papel que tal artigo assu- o predomínio do interesse privado, estando as cidades sob
me dentro de sua formação, compreender quais os temas total controle de interesses, nem sempre decifráveis, de
que daí emergem, e de que maneira os interesses mais associações formadas por empresas, proprietários de terra
gerais (culturais, políticos, civis) se cruzam e impulsionam e administradores 6.
o jovem estudioso nos primeiros anos após sua graduação. Os bastidores da primeira pesquisa historiográfi-
Trata-se, essencialmente, de verificar se existem correla- ca de Tafuri não seriam claros e evidentes se não se
ções entre sua formação, sua sensibilidade civil e política contextualizasse seu artigo dentro de toda a experiência
e o modo com o qual iniciará e desenvolverá seu próprio
ofício de historiador da arquitetura; ou, em outras pala- The Italophiles at Work, in Architecture Theory since 1968, coordenação de K.
Michael Hays, Mit Press, Cambridge Mass, 1988, 506-520); G. Ciucci, Gli anni
vras, trata-se de verificar se existe um laço entre as suas della formazione, “Casabella”, 629-620, 1995, 12-27; Federico Rosa, Progetto
primeiras experiências profissionais e seu modo de obser- e critica dell’urbanistica moderna: i primi anni di attività di Manfredo Tafuri,
1959-1968, tese de graduação junto ao IUAV, relator Bernardo Secchi, 2003;
var e descrever a realidade5. “History as Project”. Interview with Manfredo Tafuri by Luisa Passerini. Rome,
February-March 1992, in Being Manfredo Tafuri, coorenação de I. de Solà-Mo-
O que se destaca em seu artigo sobre a Via Nazionale rales, número especial da revista “Architecture New York”, 25-26, 1999, 10-70.
O autor faz um agradecimento especial a Alessandro Toti, pela obtenção de
alguns dos materiais da bibliografia.
5 A formação e a carreira inicial de Manfredo Tafuri ainda não foram objeto 6 São inúmeras as denúncias de jornais diários e revistas semanais da
de uma análise profunda. Na realidade, qualquer discussão historiográfica época referindo-se ao crescimento urbano e à gestão das cidades italianas. O
desses temas será, obrigatoriamente, provisória até o momento em que seja tema é bem enquadrado e contextualizado nas pesquisas históricas de Guido
possível a consulta completa ao arquivo particular de Tafuri. Para o presente Crainz, Paul Ginsborg, Silvio Lanaro. Em relação à disciplina arquitetônica, em
artigo, cujas teses são expressas apenas a partir de fontes impressas, foram particular, deve-se consultar: G. Ferracuti, M. Marcelloni, La casa: mercato e
fundamentais os seguintes textos: J.-L. Cohen, La coupure entre architectes programmazione, Einaudi, Torino 1982; M. Tafuri, Storia dell’architettura italiana,
et intellectuels, ou les einseignements de l’italophilie, “In extenso”, Ecole 1944-1985, Einaudi, Torino 1986. No caso mais específico de Roma: I. Insolera,
d’architecture de Paris Villemein, Paris, 1984, 182-223 (republicado como Roma moderna: un secolo di storia urbanistica, Einaudi, Torino 1962.
120 121
de sua formação, bem antes da sua decisão definitiva de e à organização urbana de Roma.9
assumir a carreira de historiador e crítico de arquitetu- Diversas provas desse interesse podem ser rastreadas.
ra – que, pode ser computada a partir de 1964 – com Antes de tudo, no contexto da associação “Italia Nos-
a publicação dos textos sobre Ludovico Quaroni, sobre o tra”10, na qual Tafuri foi bastante ativo entre 1960 e 1963,
Japão, sobre a arquitetura do Maneirismo, e seu latente – escrevendo diversos artigos para o jovem jornal da en-
e, depois, sempre crescente – interesse pela arquitetura tidade denunciando alguns escândalos construtivos que
barroca7. assolaram Roma na virada dos anos 60. Em especial, a
Revisitando a primeira carreira jornalística e de pro- polêmica que o envolveu mais diretamente tem relação
jetos do jovem Tafuri, pode-se afirmar que o tema ‘urba- com o parque da Vila Ada-Savoia, o segundo maior par-
nismo’ era um de seus principais interesses, senão o prin- que público de Roma, e o destino da parte estatizada logo
cipal. 8 Os anos da universidade (1954-59), as primeiras depois da guerra. A parte pública do parque (alienada da
experiências profissionais, a primeira atividade de crítico família real) tornara-se, naquele anos, objeto de interesse
e ativista, todas essas fases caracterizavam-se pelo estu- de algumas construtoras com projetos de loteamento com
do e análise das dinâmicas urbana, administrativa e po- casas de luxo11.
lítica que caracterizam a Roma de então. Seus primeiros Tafuri descrevia a situação, detalhadamente, em uma
passos – primeiramente como estudante aplicado, depois série de artigos12, mas não se limitava a denunciar as in-
como jovem profissional no escritório Architetti e Urba-
nisti Associati – AUA (Arquitetos e Urbanistas Associa- 9 Naturalmente não se trata de um interesse exclusivo: além da atividade de
projeto e da atividade política, existem vários trabalhos científicos no campo
dos), – foram, em grande parte, dedicados aos problemas da história da arquitetura, como também inúmeras resenhas de livros. Para
bibliografia completa, veja A. Leach, Manfredo Tafuri: choosing history, A&S
7 M. T., Ludovico Quaroni e la cultura architettonica italiana, “Zodiac”, 11, Books, Gent 2007.
1963, 130-145 (republicado in Ludovico Quaroni e lo sviluppo dell’archi-
tettura moderna in Italia, Edizioni di comunità, Firenze, 1964); L’architettura 10 A associação, envolvida com a salvaguarda material e imaterial dos bens
moderna in Giappone, Cappelli, Bologna 1964; L’architettura del Manierismo culturais e paisagísticos, nasce em Roma em 1955. Abre espaço para vários
nel Cinquecento europeo, Officina, Roma 1966; L’ampiamento barocco del intelectuais, urbanistas, jornalistas e ativistas se reunirem e se oporem às
Comune di S. Gregorio da Sassola, “Quaderni dell’Istituto di storia dell’ar- contínuas demolições da capital.
chitettura”, 31-48, 1959-61, 269-380; (com L. Soprani, Problemi di critica e 11 A proximidade dos bairros residenciais de alta densidade da média-alta
problemi di datazione in due monumenti taorminesi: il palazzo dei Duchi di S. burguesia romana (dentre eles o Parioli) torna algumas áreas do parque muito
Stefano e la ‘Badia vecchia’, “Quaderni dell’Istituto di storia dell’architettura”, atraentes para urbanização: “Itala Nostra” denuncia isso a partir da aprovação
51, 1962, 1-12; Un fuoco urbano della Roma Barocca, “Quaderni dell’Istituto di de algumas licenças para construção que envolvem progressiva devastação
storia dell’architettura”, 61, 1964, 1-20; Borromini e l’esperienza della storia, do parque.
“Comunità”, 129, 1965, 42-63 12 M. Tafuri, Il riordinamento della Galleria Doria Pamphili, Villa Chigi, Villa
8 Note-se que o primeiro concurso vencido por Tafuri para a livre docência Savoia, “Italia nostra”, 22, marzo-aprile 1961, pp. 26-28; M. Tafuri, V. Quilici,
na universidade italiana é justamente no setor da disciplina de urbanismo. Il problema di Villa Savoia, “Italia nostra”, 23, maggio-giugno 1961, 12-19;
122 123
tenções: no âmbito do recém-constituído escritório AUA, por algumas figuras centrais da futuro cenário arquitetô-
ele elaborou uma proposta de organização do parque.13 nico e urbanístico de Roma, demostrando assim como a
Tratava-se de um projeto esquemático-funcional (só foi associação representava, naqueles anos, um importante
publicada uma planimetria), cujo interesse estava centra- contexto de soma e de confronto: o plano para villa Bor-
do sobretudo na dimensão da ação projetual posta a servi- ghese foi elaborado por Leonardo Benevolo, Mario Ghio
ço da proteção, ou mesmo da ação política. Tafuri iniciava e Vittoria Calzolari, enquanto o projeto de reorganiza-
seu artigo de apresentação da proposta, sustentando que ção da Villa Doria Pamphili, por Italo Insolera. A própria
o projeto representava uma “mudança” na política da en- destruição natural e histórica da Villa Doria-Pamphili, o
tidade, deslocando a atividade de mera contestação a um grande pulmão verde de Roma, que tivera início naqueles
novo modo de “abordar um problema”. “Essencialmente, anos, representou um dos tantos objetos de contestação
escrevia Tafuri, trata-se de um verdadeiro ‘contra-ataque’ de Tafuri. A construção da via rápida de quatro pistas, que
(segundo as palavras cunhadas pelos ingleses para tal fim) cortava o parque, era vista como operação demagógica
à ação da especulação não equilibrada por uma saudável e eleitoral, no rastro da política da assim chamada “ne-
política urbana, relativa às áreas verdes, em especial, que cessária urbanização” de Roma, tendo em vista os Jogos
caracteriza há tempo demais a cena romana”14. Olímpicos de 1960.
O projeto do AUA foi apresentado por Tafuri em uma Na verdade, Tafuri tentava uma reconstrução das
assembleia pública e discutido com Cesare Brandi15, mas regiões “ocultas” pelos vários traçados das vias construídas
era também acompanhado, nas páginas da revista “Urba- para as Olimpíadas, tentando demostrar que se tratava de
nistica”, por duas outras propostas para reorganização de obras de infraestrutura que, não só não iriam resolver so-
parques urbanos, elaboradas no âmbito da “Italia Nostra” zinhas o problema do trânsito ou do desenvolvimento de
Roma, mas que haviam sido projetadas para ligar e urbani-
M. Tafuri, Il problema dei parchi pubblici in Roma e l’azione di ‘Italia nostra’, zar áreas anteriormente não-edificáveis de propriedade de
“Urbanistica”, 34, 1961, 105-112.
13 O projeto é assinado por (seguiu-se a ordem dos nomes como publicados) grandes empresas imobiliárias. Tais áreas, de fato, pouco
M. Tafuri, Vieri Quilici, Maurizio Moretti, Lidia Soprani, Bernardo Rossi-Doria, tempo depois seriam urbanizadas, construídas e coloca-
Alessandro Urbani pelo escritório AUA. Veja M. Tafuri, in “Urbanistica”, n. 34,
op. cit. das no mercado. Lia-se: “é uma política urbanística que
14 Ibid. p. 105. prefere que o destino de Roma seja decidido pelos “donos
15 O seminário “Un piano per villa Savoia”, organizado pelo setor romano da da cidade”16.
Italia Nostra, foi realizado no Teatro Elisea, em 28 maio 1962, e presidido por
Cesare Brandi, com apresentações de Tafuri e de Quilici. Veja “Italia nostra”, n.
23, 1962, p.12. 16 M. Tafuri, I lavori di attuazione del P. R. di Roma, “Italia nostra”, 18, 1960, 6. “É
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As polêmicas consideradas até então se uniam à críti- demolição ao longo da Via Vittoria e a tentativa de ur-
ca geral que a “Italia Nostra” e outras revistas semanais banização da Via Appia Antica (com um projeto de Luigi
italianas, como “Il Mondo” e “L’Espresso”, dirigiam nesses Moretti).
anos à administração romana e, em especial, aos manda- O símbolo da corrupção das câmaras municipais de
tos dos prefeitos democrata-cristãos Salvatore Rebecchini Roma, após a guerra, era representado pela licença ob-
e Umberto Tupini17. A crítica se concentrava sobretudo em tida para a construção do hotel Hilton, no delicadíssimo
Rebecchini, um dos prefeitos mais contestados da história contexto das ramificações de Monte Mario, originalmen-
moderna da capital, promotor do grande caos perpetrado te destinadas a áreas verdes públicas, com uma pequena
na Roma do pós-guerra, responsável pela realização de praça panorâmica. A batalha contra essa ferida no coração
obras públicas já planejadas e iniciadas durante os anos de Roma foi conduzida por Antonio Cederna19, um dos fun-
do regime fascista: a título de exemplo, vale lembrar a dadores da Italia Nostra e, de acordo com o próprio Tafuri,
conclusão da Via della Conciliazione18, as tentativas de figura central na formação da entidade20. O fato chegaria
aos tribunais, com uma disputa entre a empresa Società
absurdo – continua Tafuri – que os problemas da estrutura urbana da capital
devam ficam em segundo lugar diante das exigências postas por 20 dias de Generale Immobiliare e as revistas semanais, mas resul-
jogos olímpicos (jogos que, como é sabido, haviam sido recusados pela Suíça,
por representarem “despesas de luxo”, mas que, evidentemente, o nosso país, taria na construção do hotel de mais de 400 quartos em
notoriamente sem desempregados e sem problemas econômicos urgentes apenas três anos (1960-63), obra da qual participaram ou-
pode brilhantemente suportar) ”. Ivi, p. 9.
17 Capital corrompida = nação infectada é o título da pesquisa com a qual a
tros protagonistas da arquitetura italiana da época, como
revista “L’Espresso” ataca o trabalho do prefeito Rebecchini (11 de dezembro Pier Luigi Nervi e Ugo Luccichenti.
de 1956). O semanário prossegue explicando “de que forma, com a permissão
para construir uma casa de três andares, pode-se construir uma de nove” e O arquiteto Tafuri cresceu, portanto, em um contexto
questiona a Società Generale Immobiliare, “proprietária de oito milhões de
metros quadrados de terra em todos os quadrantes da capital e poderosa de indignação de toda uma geração de cidadãos e inte-
para decidir onde desenvolver o tecido urbano. As áreas agrícolas, compradas lectuais na cidade da democracia-cristã. Uma das obras-
a preço de barganha, de repente se tornavam edificáveis e alcançavam um
valor cem vezes maior “. Vedi P. Fantauzzi, Hilton, mezzo secolo dallo scempio,
“L’Espresso”, 9 luglio 2013.
de 1968 a 1994); parte desse material está conservada junto ao Arquivo de
18 A demolição do Rione di Borgo foram bastante polemicamente lembradas Projetos do Iuav, aguardando organização e valorização.
por Tafuri, mesmo nos últimos anos em que lecionava no Iuav de Veneza:
diversos edifícios de suas aulas sobre os primeiros 500 anos de Roma (por 19 É famosa a rubrica “Vândalos na casa” (“Vandali in casa”) que Cederna
exemplo, os edifícios Caprini de Bramante ou o Jacopo da Brescia de Rafael) colocou nas páginas de “Il Mondo”. Vale lembrar, em especial, os textos sobre
desapareceram no projeto do acesso monumental à Basílica de são Pedro. o hotel em Monte Mario (Un albergo in Paradiso, 14 giugno 1955, p.11; Monte
Faço tais observações a respeito das lições de Tafuri a partir de materiais Mario venduto, 24 aprile 1956, p. 11), sobre o papel da Società Generale Im-
pessoais e de numerosas transcrições dos alunos de seus cursos: uma coleção mobiliare (Il Leviatano immobiliare, 16 giugno 1956, p. 7), sobre os projetos
minuciosa foi recolhida por Luca Scappin em suporte magnético e em trans- de urbanização dos parques romanos (Le ville distrutte, 21 giugno 1955, p.11).
crições em papel (trata-se de lições desenvolvidas por Tafuri junto ao Iuav 20 “History as Project”. Interview with Manfredo Tafuri, op.cit, 22-24.
126 127
-primas do cinema italiano do pós-guerra remonta a 1963: dualizado na luta por uma reforma urbana que levasse à
“As Mãos na Cidade”, de Francesco Rosi, que representa, mudança de lugar das decisões urbanísticas, ao estudo de
por meio do caso de Nápoles, uma lúcida narrativa do uma legislação que permitisse intervenções coordenadas
crescimento tumoral da cidade do milagre econômico. A em uma visão unitária e de planejamento tanto no tempo
reconstrução da cidade democrata-cristã de Rosi pode quanto no espaço. Além das já citadas contribuições para
muito bem ser comparada ao fenômeno de Roma: uma ci- “Italia Nostra”, Tafuri falou disso em uma série de artigos
dade caracterizada, nos anos do boom, por um frenético publicados em jornais como “Paese Sera”, ou em revistas
desenvolvimento urbano, em total anarquia urbanística; especializadas sobre o ambiente arquitetônico romano,
uma cidade governada por um círculo vicioso de inves- bem longe das revistas institucionais como “Argomenti di
timentos públicos para o setor privado, dentro do qual, Architettura” e “Superfici”. 21
este último (ou, como em muitos casos denunciados pela O tema da reforma da legislação e dos instrumentos
“Italia Nostra”, a Igreja) chega a condicionar a interven- urbanísticos também precisa de adequada contextuali-
ção pública graças ao consórcio político e econômico dos zação. Além disso, vale lembrar que parte da sociedade
proprietários da área, construtores e administradores, e italiana que, em termos políticos, se situava entre a es-
no qual boa parte dos políticos não foi mais do que repre- querda da democracia-cristã, o Partido Socialista (PSI) e
sentante direta dos grandes empresários. Sobretudo os jo- o Partido Socialista da Unidade Proletária (PSIUP), área à
vens daqueles anos viveriam essa “coisa” como verdadeira qual Tafuri havia pertencido naqueles anos22 – havia de-
vergonha nacional: os ideais mais elevados da reconstru- positado suas esperanças nas iniciativas políticas de al-
ção e democratização da sociedade italiana haviam sido guns governos dos primeiros anos dos anos 60.
barbaramente traídos.
Particularmente, com todo o contexto cultural do as-
Paralelamente à denúncia daquela atitude substan- sociativismo romano, as reflexões de Tafuri nascem tam-
cialmente antidemocrática dos métodos de planejamento, bém na esteira das realizações da reforma urbana pro-
surgia também, dos escritos de Manfredo Tafuri, uma re- posta pelo ministro democrata-cristão Fiorentino Sullo. A
flexão mais ampla sobre as metodologias de planificação
urbana. Se, por um lado, a corrupção política permane- 21 M. Tafuri, Il codice dell’urbanistica ed i piani risanamento, “Italia nostra”, 21,
cia no nível de denúncia, por outro lado, Tafuri parecia 1961; Attività politica e critica degli architetti romani, La vicenda architettonica
romana, 1945-1961. “Superfici”, 5, 1962, 20-47; Il Piano Regolatore non è un
visualizar um espaço, uma possível margem de salvação disegno. Intervista sul Piano Regolatore Generale di Roma, “Paese sera”, maggio,
daquela “anarquia urbanística”. Tal espaço seria indivi- 9-10, 1962 (artigo republicana na revista Casabella, 279, 45).
22 Ver entrevista de L. Passerini, “History as Project”, op.cit.
128 129
proposta de lei continha dois grandes filões: em primeiro Os autores do projeto, dentre eles figuras relevantes
lugar, a ideia de deslocar a decisão em matéria urbana da cultura arquitetônica romana como Luigi Piccinato e
dos municípios para as regiões – mais tarde, percebeu-se Michele Valori, participavam de uma comissão técnica de
como isso condicionaria o discurso de Tafuri; em segundo especialistas propondo novas ideias para a futura estru-
lugar, a revolucionária ideia de Sullo de implementar uma tura da capital: em primeiro lugar, sua descentralização
desapropriação generalizada de áreas edificáveis: todas as progressiva, para interromper e, possivelmente, reverter
áreas incluídas nos planos diretores particularizados de- o processo de invasão do núcleo histórico por funções e
veriam ser desapropriadas pelo município que, depois de usos empresariais e de serviços. O principal instrumento
urbanizá-las, poderia vendê-las ao setor privado, com di- proposto pela comissão era um grande eixo bem equipado
reitos de superfície, por meio de um leilão público. Como a ser implantado no lado leste da cidade.
se sabe, apesar dos bons auspícios de uma parte da políti- Trata-se, portanto, de um plano de intervir na cida-
ca italiana que queria pôr fim à supremacia da renda e da de por meio da infraestrutura (linhas de metrô, centros
especulação imobiliária, a lei nunca foi aprovada, deixan- empresariais, arquitetura em grande escala), que Carlo
do espaço para aquilo que um famoso jornalista italiano Aymonino, com grande arrojo ideológico e participativo,
chamou de “infantaria, ou tropa de choque, do setor da chega a definir, em 1963, como “uma das mais comple-
construção civil ”. 23 xas ideias produzidas pela cultura urbanística europeia da
O segundo ponto relativo ao tema da contextualização época”: pela primeira vez, tentou-se “repensar drastica-
do discurso de Tafuri refere-se à iniciativa daqueles anos mente a relação entre cidade histórica e nova expansão,
de realizar um novo Plano Diretor de Roma. Essa retoma- tendo como foco principal o papel crucial desse novo cen-
da no pensar o desenvolvimento da capital tem como pri- tro empresarial–eixo equipado”24.
meiro objetivo substituir o plano fascista de 1931, o qual, Saindo temporariamente do ambiente romano, nesses
além de promover a já mencionada destruição de partes mesmos anos e em todo o país, evidenciava-se a presença
inteiras do Centro Histórico, era obsoleto espacial e fun- de um debate inteiramente centrado na questão urbana. A
cionalmente, e não permitia enfrentar os novos problemas discussão, que contava com a participação de Tafuri des-
urbanos da cidade do pós-guerra.
24 C. Aymonino Il sistema dei centri direzionali nella capitale, “Casabella”,
264, 1962, 21-25. Alguns projetos para os centros empresariais de Roma fo-
23 V. Parlato, Il blocco edilizio, “Il Manifesto”, n. 3-4, 1970. O artigo foi re- ram comentados em M. Tafuri, E. Fattinnanzi, Un’ipotesi per la città-territorio
publicado no volume Lo spreco edilizio, coordenado por F. Indovina, Marsilio, di Roma. Strutture produttive e direzionali nel comprensorio pontino”, “Casa-
Venezia 1972. bella”, 274, 1963, 26-37.
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de 196225, envolvia boa parte da cultura arquitetônica e Na mesma época, sempre na revista “Casabella”, eram
urbanística do país. Talvez nenhuma outra revista tenha apresentados – mas também poderíamos dizer, enfatiza-
testemunhado mais a mudança progressiva do debate ita- dos – os resultados de uma série de concursos italianos
liano em direção aos temas urbanos do que “Casabella”. em grande escala: sobretudo, os célebres resultados do
A segunda fase de “Casabella” de Rogers, que teve início concurso para Barene de San Giuliano, para a Ilha de Tron-
no final dos anos 1950, quase totalmente negligenciando chetto em Veneza e para o Centro Empresarial de Turim.
a ideia de arquitetura como fato construído, dedicou-se Ao menos no papel, esses exemplos evidenciavam a pre-
com crescente atenção aos problemas de planejamento e sença italiana no debate internacional sobre as novas di-
projeto urbano em grande escala. mensões do projeto arquitetônico e urbanístico. 28
Naqueles anos, nas mesmas páginas de “Casabella”, Não foi surpresa, portanto, quando a própria “Casa-
eram debatidas as contribuições de Giancarlo De Carlo, bella” publicou, em 1962, o artigo “A cidade-território”
abordando a ideia da cidade-região e da mudança de es- (La città-territorio), um tipo de manifesto de Tafuri, em
cala no estudo e observação da cidade, inaugurada pelo conjunto com Giorgio Piccinato e Vieri Quilici. O artigo
Plano Intermunicipal de Milão; e, graças sobretudo a Aldo chega a teorizar sobre a necessidade de mudar a escala
Rossi e Francesco Tentori, como lembra Giorgio Ciucci, na observação da cidade com suas novas conformações,
analisavam-se a transformação de algumas grandes cida- seja a nível administrativo-legislativo, seja a nível de aná-
des e o aspecto físico e paisagístico de algumas nações26. lise arquitetônica e espacial. E, para Tafuri, a definição
No contexto italiano, ainda foram introduzidos alguns no- de uma nova dimensão do espaço urbano corresponde
vos e paradigmáticos projetos espaciais, como por exem- a uma nova dimensão nos próprios métodos de projetar
plo, o plano de Kenzo Tange para Tóquio e o de Louis Kahn (nesse ponto o artigo estava perfeitamente alinhado com
para a Filadélfia27. De Carlo, Rossi, Aymonino, Quaroni e Samonà), definindo
assim também os espaços potenciais de expressividade do
25 M. Tafuri, Studi e ipotesi di lavoro per il sistema direzionale di Roma. Ibid.,
27-36. projeto dentro dessas novas dimensões físicas.
26 Basta folhear as edições da revista do início dos anos 60 para achar as Tafuri especifica: “o campo no qual podemos, hoje, co-
reportagens sobre Paris, Moscou, urbanismo na União Soviética, nos Estados
Unidos, França Inglaterra. Veja G. Ciucci, Gli anni della formazione 15. Um ba-
lanço sobre a atividade de “Casabella” nesses anos sobre a questão da grande 2-17; F. Tentori, E. Bacon, A. Row, D. Wallace, Il piano regolatore di Philadelphia,
escala pode ser visto em A. Rossi, Urbanistica e architettura: nuovi problemi, “Casabella”, 260, 4-25; Un piano per Tokio; G. Grassi, La città come “prestazione
“Casabella”, 264, 1962, 2-6. Ver também A. Rossi, L’architetto e l’urbanistica, vitale”, “Casabella”, 258, 1961, 3-21.
“Casabella”, 266, 1962, 26-33. 28 Sobre isso ver as edições de “Casabella”, 242 de 1960 (S. Giuliano) e 278
27 F. Tentori, Ordine e forma nell’opera di Louis Kahn, “Casabella”, 241, 1960, de 1963 (CD di Torino).
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locar em prática as escolhas fundamentais é aquele que da “megaestrutura à italiana”32. Daí porque a megaestru-
se refere às grandes estruturas, do ponto de vista mais ar- tura à italiana – por uma questão de afinidade, em parte
quitetônico dos grandes espaços (grandi contenitori), e no também geracional – assim como o grande plano de Le
plano da organização territorial das vias de comunicação Corbusier para Argel, eram sempre vistos por Tafuri como
e do centros de serviço; é o campo da qualificação formal a última tentativa desesperada, mas, ao mesmo tempo,
desses elementos que são as verdadeiras “constantes” da heroica de reivindicar a missão modernista originária da
nova “realidade” 29. A escala da cidade é considerada o profissão arquitetônica.33
campo no qual ocorre a batalha cultural, intelectual, dis- Nesse sentido, Tafuri cumpria uma curiosa parábola,
ciplinar, e o instrumento principal é, de fato, representado não muito diferente daquela de outros protagonistas da
pela arquitetura de grande escala: “agir sobre a dimensão sua geração como Rossi, Aymonino ou Gregotti. No que diz
física da arquitetura, em seu aspecto figurativo.”30 respeito à realidade, cada vez mais caótica e desarticula-
Daí porque o sistema dos centros empresariais repre- da, no contexto de uma crise política evidente e definiti-
sentava para Tafuri uma verdadeira “crítica em curso” aos va, com a consciência da total corruptibilidade do sistema
processos espontâneos de desenvolvimento da cidade e, político italiano,Tafuri pesquisava lugares e circunstân-
ao mesmo tempo, a indicação de um processo novo que cias que o arquiteto pudesse controlar, ou melhor, exer-
poderia assumir um papel de prevenção e estímulo no que cer certo controle sobre o crescimento e a gestão urbana.
diz respeito às estruturas urbanas. Na verdade, o grupo E como tal, a arquitetura, nas suas escalas tradicionais e
AUA participou do concurso para o Centro Empresarial de dentro de seus temas espaciais e construtivos clássicos,
Turim, com a proposta “A engrenagem 3” (“L’ingranaggio desaparecia do horizonte de interesse: para Tafuri, Ridolfi
3”): um único grande eixo bem equipado e elevado em e o neorrealismo logo seriam totalmente ultrapassados (é
relação ao nível da via, contendo uma zona linear de pe- dessa época um texto seu com forte crítica ao fenômeno
destres, que reunia as várias funções31. É a razão pela qual neorrealista)34; o grande poeta do espaço Luigi Moretti
o projeto de Quaroni para a Barene de San Giuliano cons-
tituirá para Tafuri o mais alto momento da reflexão formal 32 A esse respeito, consulte os escritos de Tafuri em Storia dell’architettura
italiana 1945-85, Einaudi, Torino 1986.
33 M. Tafuri, Ernst May e l’urbanistica razionalista, “Comunità”, 123, 1964,
66-80; Teorie e storia dell’architettura, Laterza, Bari, 1968; Progetto e utopia:
29 M. Tafuri, G. Piccinato, V. Quilici (per lo studio AUA di Roma). La città architettura e sviluppo capitalistico, Laterza, Bari 1973.
territorio. Verso una nuova dimensione, in “Casabella”, 270, 1962, 16-25.
34 M. Tafuri, La vicenda architettonica romana, “Superfici”, 5, 1962, 20-41;
30 Ivi p. 16. Architettura e realismo, in L’avventura delle idee nell’architettura: 1750-1980,
31 L’ingranaggio 3, “Casabella”, 278, 1963, 38-41. catálogo coordenado por Vittorio Magnago Lampugnani, XVII Triennale di Mi-
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seria julgado simplesmente como arquiteto a serviço de A um ano do seu manifesto “A cidade territorial” (A ci-
especuladores e construtores mal intencionados; as su- dade territorial), Tafuri escreveu um artigo fundamental
blimes construções de Pier Luigi Nervi não seriam dig- (e até agora pouco analisado) intitulado Le vicende ar-
nas da sua atenção e crítica, já que seriam vistas como chitettoniche romane (As realizações arquitetônicas ro-
produto de puro profissionalismo “sem conteúdo”, uma manas), no qual fez um balanço dos esforços da cultura
“arquitetura colocada à disposição de forças e interesses arquitetônica na capital e dos efetivos resultados obtidos
contrários a qualquer forma de progresso civil efetivo”.35 na realidade. Suas palavras assumiam um tom bastante
A “bela” arquitetura não era nada mais do que “poética da crítico, desiludido e com traços quase apocalípticos: “Tal-
indiferença” e, como tal, simplesmente não era mais digna vez em nenhuma outra grande cidade europeia, a falência
de ser julgada. da arquitetura moderna, em seus programas ideológicos
Só existia, portanto, uma ação em grande escala que, e em seu anseio progressista, é mais evidente do que em
embora por pouco tempo vale lembrar, representaria o Roma: assim a história do ambiente arquitetônico roma-
terreno de interesse e de discussão para o jovem arquite- no no segundo pós-guerra é uma história de esperança
to e crítico Tafuri. Quando ficasse claro que a maior parte e de ilusões, assim como da sua dramática derrocada, de
dos concursos para os centros empresariais não levaria aos tentativas quase sempre fracassadas, cujo valor, muitas
resultados esperados; quando se percebesse que a reali- vezes, parece consistir no ensinamento que resulta como
dade simplesmente esvaziaria de significado qualquer hi- uma negação, como um testemunho negativo de opera-
pótese de reforma em grande escala, começaram a surgir ções fracassadas. É ainda uma história de resistência e
os primeiros balanços de Tafuri sobre a crise de então da fracasso de poucos contra muitos, que poderia ser defini-
profissão arquitetônica: em 1966 – falando dos projetos da, com amarga ironia, história de uma não adaptação ao
em grande escala de Quaroni, de Tange e de Kahn – Tafuri ambiente mesclado de hipocrisia e indiferença, de imobi-
chegou a afirmar como todas as aspirações reformadoras, lismo arcaico e inércial moral.”37 Na conclusão do artigo,
características da modernidade em arquitetura, teriam le- Tafuri indicava o ponto de partida para uma nova reflexão
vado a “uma dramática constatação de derrota”.36 que, em retrospecto, talvez pudesse ser indicada como
uma declaração de intenções e que abrisse uma nova pá-
lano, Electa, Milano 1985, 123-147; L. Skansi, Manfredo Tafuri and the critique gina com relação aos seus próprios objetivos, declarando:
of realism, “SAJ - Serbian Architectural Journal”, edição especial “Architecture
Utopia Realism”, coordenação de Ljiljana Blagojević, 2014, 182-195.
35 La vicenda architettonica romana, op.cit. 32. “L’architettura. Cronache e storia”, 124, 1966, 680-683.
36 M. Tafuri, Manfredo, La nuova dimensione urbana e la funzione dell’utopia, 37 Corsivi miei. La vicenda architettonica romana, op.cit., 21.
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“O problema a ser enfrentado agora é o de investigar as ele mesmo oferecia a respeito dos destinos e realizações
razões de uma derrota.” intelectuais dos grandes protagonistas – Le Corbusier e
Ernst May entre eles – de seus contos dos anos 60 e 70.
Trata-se, como já foi sublinhado aqui, de uma trajetória
Em uma agora célebre entrevista publicada em 1994
geracional e compartilhada com outras figuras da cultura
nas páginas da “ANY”,38 falando justamente de sua primei-
arquitetônica italiana. No entanto, diferentemente de fi-
ra formação romana, Tafuri usava frequentemente as pa-
guras do calibre de Rossi, Aymonino e, em parte, de Vitto-
lavras “desilusão” e “travessia de momentos de crise”. A
rio Gregotti, Tafuri reagiu a essa crise de maneira absolu-
derrota dos ideais políticos e democráticos sobre os quais
tamente singular. Mais do que fechar a porta à realidade,
a Itália havia sido construída logo após a guerra; a derrota
Tafuri começa a penetrá-la, expor suas origens, a indagar
dos ideais do movimento moderno; a derrota da propos-
as razões históricas daquela condição geracional: era um
ta de reforma urbanística do ministro Sullo; a derrota no
percurso intelectual que inexoravelmente o levaria em di-
campo da luta pela preservação de Roma; a derrota dos
reção à carreira de historiador da arquitetura.
profissionais no âmbito do debate no PRG de Roma; a der-
rota em geral do profissional diante da realidade – e a sua Constatar o distanciamento político e histórico entre a
impotência com relação à possibilidade de ainda ter algu- cultura arquitetônica e a realidade o levaria a refletir so-
ma influência e poder sobre o desenvolvimento da cidade: bre o próprio tipo de compromisso civil e profissional. Se,
todas essas eram experiências vividas e – para usar uma num primeiro momento, Tafuri parecia buscar respostas
expressão do próprio Tafuri – introjetadas por ele já des- no ativismo e nas novas metodologias de intervenção em
de os primeiros anos da carreira profissional. E também grande escala – em uma coincidência quase total entre
representam o estímulo – mas não o único – para se vol- crítica e projeto, entre ativismo cultural e experimentação
tar definitivamente à carreira historiográfica: um estímulo projetual – como seus passos subsequentes iriam teste-
fundamental, uma vez que formou tanto seus objetivos munhar, tal pesquisa logo lhe pareceria insuficiente.
historiográficos subsequentes como sua visão geral sobre Nesse aspecto ainda é possível reler o primeiro ensaio
a “função” da história para o presente. histórico sobre a Via Nazionale e entender como Tafuri
Em poucos anos (1959-64), Tafuri descreveu uma tra- mostrava que logo sentia a necessidade de retornar às
jetória que pode, enfim, ser comparada às leituras que origens das condições atuais para, explorando a história,
compreender as características da realidade, os hábitos
políticos e sociais, a crise profissional. Uma História, a sua,
38 “History as Project”. Interview with Manfredo Tafuri, op.cit.
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que é imediatamente não conciliatória, longe da exalta- Qualcosa oltre l´architettura. Gli anni formativi
ção heróica ou comemorativa de figuras e contextos. No
entanto, é uma História que “serve” como nunca antes:
não para mapear renascimento de linguagens, purezas,
genealogias, mas para conceituar e introjetar as razões
Il primo lavoro storiografico pubblicato da Manfredo
históricas das condições contemporâneas. Tafuri è intitolato “La prima strada di Roma moderna: via
De qualquer forma, ficou evidente para ele que não era Nazionale”1 ed esce nel 1959 sulle pagine della rivista “Urba-
mais possível projetar sem ter presente, de forma crítica, nistica”, nello stesso anno della laurea conseguita presso la
o próprio passado – para entender se o caminho percorri- Facoltà di Architettura di Roma. Il saggio chiude un numero
do com o projeto arquitetônico seria abordado de maneira monografico della rivista, curato da Italo Insolera e Ludovi-
séria, historicamente legítima, dentro dos limites de uma co Quaroni e dedicato alla storia urbana di Roma esplorata
su un arco temporale che va dall’antichità sino ai primi del
relação suficientemente convincente entre realidade e ar-
’900. 2 In questo primo esercizio analitico, Tafuri ripercorre
quitetura, ou se seria uma poética da renúncia à realidade,
le modalità secondo le quali la Giunta comunale di Roma,
do academicismo, da gratuidade.
nel corso degli anni ’70 dell’Ottocento, decide la direzione
del tracciato di via Nazionale. La strada, nuova e importante
arteria di sviluppo della capitale dell’epoca, doveva collegare
un luogo centrale della città (inizialmente ancora non preci-
sato) con le Terme di Diocleziano. Le terme si trovavano in
un’area che all’epoca era considerata periferica, ma di grandi
potenzialità: da pochi anni, infatti, la zona era stata scelta
come area nella quale erigere la Stazione Centrale della cit-
tà, che verrà completata nel 1874 su progetto dell’architetto
Salvatore Bianchi.
Il giovane Tafuri (24 anni) costruisce il suo primo testo di
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storia dell’architettura o, per meglio dire, di storia urbana, il racconto storiografico rende evidente come l’odierna via
analizzando il lungo e complesso dibattito che si sviluppa Nazionale (la larghezza della strada, la direzione, il punto
attorno al tracciato di via Nazionale e che porta alla scelta finale dell’arrivo del tracciato, l’altezza degli edifici) non sia
della sua direzione odierna, quella tra piazza della Repubbli- altro che il risultato della lotta e delle mediazioni tra inte-
ca e piazza Venezia. Basando la propria ricerca unicamen- ressi economici e immobiliari dei grandi padroni della Roma
te sui verbali della Giunta,3 Tafuri ricostruisce il ruolo dei ottocentesca (cardinali, baroni, impresari), alle quali assiste
principali attori coinvolti nella discussione, il comportamen- una disordinata, isolata e inefficace opposizione che nonos-
to dell’amministrazione cittadina e illustra le conformazioni tante i tentativi di influire sul dibattito, rimane sostanzial-
urbanistiche ipotizzate dai diversi protagonisti, ridisegnando mente inerme rispetto al destino della città.
i progetti descritti nelle discussioni riportate nei verbali: le L’indagine storiografica di Tafuri non si ferma tuttavia
diverse proposte immaginano infatti l’inizio del tracciato (ol- alla sola ricostruzione dei conflitti. È Roma, con la sua con-
tre dall’attuale piazza Venezia) da palazzo Barberini, dalla formazione urbana esistente e la sua stratificazione storica, a
piazza del Quirinale e dalla chiesa dei SS. Apostoli. rappresentare la principale preoccupazione del giovane sto-
Tafuri ci introduce alla problematica mostrando come i rico romano. Le sue ricostruzioni planimetriche indicano lo
terreni nella zona in questione, non ancora urbanizzata, sia- spietato grado di radicalità delle proposte di progetto: quasi
no principalmente proprietà di un arcivescovo (Monsignor con la leggerezza di un gioco da tavolo, vengono immagina-
Francesco Saverio De Mérode, Protoministro alle Armi di Sua ti (e in parte anche realizzati) sventramenti nella struttura
Santità) che svolge pressioni nei confronti dell’amministra- urbana medievale, demolizioni di monumenti della Roma ba-
zione cittadina per ottenere il tracciato ideale per valorizzare rocca e addirittura abbattimenti di porzioni delle mura dei
i propri possedimenti. Ci mostra inoltre come nell’operazione mercati Traianei.
siano coinvolti alcuni impresari che cercano, a loro volta, di Non si tratta, in questa sede, di stabilire l’attendibilità
ottenere le commissioni per eseguire l’opera di urbanizzazio- della ricostruzione storica del giovane Tafuri, o la natura ide-
ne e per speculare sull’altezza degli edifici da realizzare. E, ologica – come si vedrà in seguito – del suo giudizio sugli at-
ancora, evidenzia come la giunta comunale sia il luogo nel tori coinvolti nel racconto storico. Quello che interessa capire
quale si manifestano e si scontrano questi grandi interessi è piuttosto il ruolo che questo saggio assume all’interno della
(lo scenario è ricostruito da Tafuri proprio riportando le dis- sua formazione, comprendere quali sono i temi che da esso
cussioni delle numerose sedute del consiglio)4. In sostanza, emergono, e in che maniera incrocino gli interessi più gene-
rali (culturali, politici, civili) che muovono il giovane studioso
alcun riferimento alla bibliografia sul tema.
4 Il testo cita e riporta in appendice tre anni di discussioni della Giunta, durante
nei primi anni successivi alla laurea. Si tratta, in sostanza, di
i quali vengono approvati dieci diversi progetti: per alcuni di essi vengono già verificare se esistano delle correlazioni tra la sua formazio-
avviate e compiute pratiche relative a espropri.
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ne, le sue sensibilità civili e politiche, e il modo con il quale formate da imprese, proprietari di terreni e amministrator 6.
inizierà a svolgere il proprio mestiere di storico dell’architet- Il retroscena della prima indagine storiografica di Tafuri
tura; o, in altre parole, di verificare se esiste un legame tra le non sarebbe così chiaro ed evidente se non si contestuali-
sue prime esperienze professionali e il suo modo di osservare zzasse il suo saggio all’interno dell’intera esperienza for-
e descrivere la realtà5. mativa di Tafuri, ben prima della sua definitiva decisione di
Quello che emerge dal saggio su via Nazionale – nonos- intraprendere la carriera di storico e critico dell’architettura
tante il giovane Tafuri non accenni alla situazione coeva – è – che è forse opportuno datare a partire dal 1964 – con la
l’immutabilità della prassi politica e amministrativa italiana. pubblicazione dei testi su Ludovico Quaroni, sul Giappone,
Ciò che viene descritto, e il modo con il quale la storia viene sull’architettura del Manierismo, e il suo latente e poi sempre
raccontata, sembra direttamente alludere alle modalità con crescente interesse verso l’architettura barocca7.
le quali viene governata la città italiana nel corso del secon- Ripercorrendo la prima carriera progettuale e pubblicisti-
do dopoguerra. Le riviste, i libri e i dibattiti dell’epoca descri- ca del giovane Tafuri, non è azzardato sostenere come sia la
vono e lamentano i problemi strutturali della città del mira- disciplina urbanistica a rappresentare uno dei suoi principali
colo economico, così come la totale impotenza dell’iniziativa interessi, se non il principale. 8 Gli anni della frequentazione
pubblica, l’inadeguatezza degli strumenti di pianificazione, il dell’università (1954-59), le prime esperienze professionali, la
predominio dell’interesse privato, con le città totalmente in
preda agli interessi di consociazioni, non sempre decifrabili, 6 Sono numerose le denunce di quotidiani e settimanali dell’epoca delle mo-
dalità di gestione della crescita urbanistica delle città italiane. Il tema è ben
inquadrato e contestualizzato nelle ricerche storiche di Guido Crainz, Paul Gins-
borg, Silvio Lanaro. Per la disciplina architettonica, specificamente, si rimanda a:
5 La formazione e la prima carriera di Manfredo Tafuri non sono stati ancora G. Ferracuti, M. Marcelloni, La casa: mercato e programmazione, Einaudi, Torino
oggetto di analisi approfondite. In realtà, ogni trattazione storiografica di questi 1982; M. Tafuri, Storia dell’architettura italiana, 1944-1985, Einaudi, Torino 1986;
temi sarà, per forza, provvisoria fino a quando non sarà possibile la consultazione e, nel caso più specifico di Roma, a: I. Insolera, Roma moderna: un secolo di storia
completa dell’archivio privato di Tafuri. Per il presente saggio, le cui tesi sono urbanistica, Einaudi, Torino 1962.
espresse si basano sulle sole fonti a stampa, sono stati fondamentali i seguenti 7 M. T., Ludovico Quaroni e la cultura architettonica italiana, “Zodiac”, 11,
testi: J.-L. Cohen, La coupure entre architectes et intellectuels, ou les einseigne- 1963, 130-145 (ripubblicato in Ludovico Quaroni e lo sviluppo dell’architettura
ments de l’italophilie, “In extenso”, Ecole d’architecture de Paris Villemein, Paris, moderna in Italia, Edizioni di comunità, Firenze, 1964); L’architettura moderna
1984, 182-223 (ripubblicato come The Italophiles at Work, in Architecture Theory in Giappone, Cappelli, Bologna 1964; L’architettura del Manierismo nel Cinque-
since 1968, a cura di K. Michael Hays, Mit Press, Cambridge Mass, 1988, 506-520); cento europeo, Officina, Roma 1966; L’ampiamento barocco del Comune di S.
G. Ciucci, Gli anni della formazione, “Casabella”, 629-620, 1995, 12-27; Federico Gregorio da Sassola, “Quaderni dell’Istituto di storia dell’architettura”, 31-48,
Rosa, Progetto e critica dell’urbanistica moderna: i primi anni di attività di Man- 1959-61, 269-380; (con L. Soprani, Problemi di critica e problemi di datazione in
fredo Tafuri, 1959-1968, tesi di laurea presso lo IUAV, relatore Bernardo Secchi, due monumenti taorminesi: il palazzo dei Duchi di S. Stefano e la ‘Badia vecchia’,
2003; “History as Project”. Interview with Manfredo Tafuri by Luisa Passerini. “Quaderni dell’Istituto di storia dell’architettura”, 51, 1962, 1-12; Un fuoco urbano
Rome, February-March 1992, in Being Manfredo Tafuri, a cura di I. de Solà-Mor- della Roma Barocca, “Quaderni dell’Istituto di storia dell’architettura”, 61, 1964,
ales, numero speciale di “Architecture New York”, 25-26, 1999, 10-70. L’autore 1-20; Borromini e l’esperienza della storia, “Comunità”, 129, 1965, 42-63.
esprime un particolare ringraziamento ad Alessandro Toti per il reperimento di
alcuni materiali bibliografici. 8 Si noti che il primo concorso vinto da Tafuri per la libera docenza nell’univer-
sità italiana è proprio nel settore nella disciplina urbanistica.
144 145
prima attività di critico e attivista, sono tutte caratterizzate zione in una serie di articoli12, ma non si limita alla denuncia
dallo studio e dall’analisi delle dinamiche urbane, ammini- delle intenzioni: elabora, all’interno dell’appena costituito
strative e politiche che caratterizzano la Roma contempora- studio Architetti e Urbanisti Associati (AUA), una proposta
nea. I suoi primi passi – prima da studente impegnato, poi di sistemazione del parco.13 Si tratta di un progetto sche-
da giovane professionista all’interno dello studio Architetti matico-funzionale (è pubblicata soltanto una planimetria), il
Urbanisti Associati – sono in larga parte dedicati all’assetto cui interesse va individuato principalmente nella dimensione
urbanistico di Roma e ai suoi problemi.9 dell’azione progettuale portata a servizio della salvaguardia,
È possibile rintracciare diverse testimonianze di questo ovvero della battaglia politica. Tafuri inizia il suo articolo di
interesse. Innanzitutto nel contesto dell’associazione “Italia presentazione del progetto sostenendo come esso rappresen-
Nostra”10, all’interno della quale Tafuri è attivo tra il 1960 e ti una “svolta” nella politica dell’associazione, spostando la
il 1963: per il giornale dell’associazione escono diversi suoi sua attività da una dimensione meramente di contestazione
articoli di denuncia di alcuni scandali edilizi che stavano in- a un nuovo modo di “impostare il problema”. “Si tratta in
vestendo la Roma a cavallo degli anni ’60. In particolare, la sostanza”, scrive Tafuri, “di un vero e proprio ‘counter-attack’,
polemica che lo coinvolge in maniera più diretta riguarda secondo il termine coniato dagli inglesi a tale proposito,
il parco di villa Ada-Savoia, il secondo parco pubblico più all’azione della speculazione non bilanciata da una sana po-
grande di Roma, e il destino della parte demanializzata in se- litica urbanistica del verde in particolare, che caratterizza da
guito alla guerra. La parte pubblica del parco (alienata dalla troppo tempo ormai la scena romana”14. Il progetto di AUA,
famiglia reale) diventa in questi anni oggetto di interesse di viene presentato da Tafuri in un’assemblea pubblica e discus-
alcune imprese di costruzione, con progetti di lottizzazione so con Cesare Brandi15, ma è anche affiancato nella presen-
con case di lusso11. Tafuri descrive dettagliatamente la situa- tazione sulle pagine di “Urbanistica” da altre due proposte di
sistemazione di parchi urbani, elaborate all’interno di “Italia
12 M. Tafuri, Il riordinamento della Galleria Doria Pamphili, Villa Chigi, Villa
9 Naturalmente non si tratta di un interesse esclusivo: oltre all‘attività pro-
Savoia, “Italia nostra”, 22, marzo-aprile 1961, pp. 26-28; M. Tafuri, V. Quilici,
gettuale e politica, si riscontrano diversi lavori scientifici nel campo della storia
Il problema di Villa Savoia, “Italia nostra”, 23, maggio-giugno 1961, 12-19; M.
dell‘architettura, come numerose recensioni di libri. Per una bibliografia com-
Tafuri, Il problema dei parchi pubblici in Roma e l’azione di ‘Italia nostra’, “Urba-
pleta si rimanda a A. Leach, Manfredo Tafuri: choosing history, A&S Books, Gent
nistica”, 34, 1961, 105-112.
2007.
13 Il progetto è firmato (si riporta l’ordine dei nomi come pubblicato) da M.
10 L’associazione, che si occupa della tutela materiale e immateriale dei beni
Tafuri, Vieri Quilici, Maurizio Moretti, Lidia Soprani, Bernardo Rossi-Doria, Ales-
culturali e paesaggistici, nasce a Roma nel 1955. In seno ad essa si riuniscono vari
sandro Urbani per lo studio AUA. Vedi M. Tafuri, in “Urbanistica”, n. 34, op. cit.
intellettuali, urbanisti, giornalisti e attivisti per opporsi ai continui sventramenti
della capitale. 14 Ibid. p. 105.
11 La prossimità dei densi quartieri residenziali della media-alta borghesia ro- 15 Il convegno “Un piano per villa Savoia” indetto dalla sezione romana di
mana (tra i quali i Parioli) rende alcune zone del parco particolarmente attraenti Italia Nostra viene tenuto al ridotto del Teatro Elisea il 28 maggio 1962. Viene
per l’urbanizzazione: “Itala Nostra” denuncia in alcune concessioni edilizie che presiduto da Cesare Brandi, con relazioni di Tafuri e Quilici. Vedi “Italia nostra”,
comportano un progressivo rosicchiamento del parco. n. 23, 1962, p.12.
146 147
Nostra” da alcune figure centrali della futura scena architet- nali italiani come “Il Mondo” e “L’Espresso”, indirizzano in
tonica e urbanistica romana, mostrando così come l’asso- questi anni all’amministrazione romana, e in particolare alle
ciazione rappresenti in questi anni un importante contesto due legislature democristiane guidate dai sindaci Salvatore
di aggregazione e di confronto: lo schema di piano per villa Rebecchini e Umberto Tupini17. La critica si concentra in par-
Borghese viene redatto da Leonardo Benevolo, Mario Ghio e ticolare nei confronti di Rebecchini, uno dei sindaci più con-
Vittoria Calzolari, mentre il progetto di sistemazione di vil- testati della storia moderna di Roma, promotore dei grandi
la Doria Pamphili è elaborato da Italo Insolera. Proprio lo scempi perpetrati sulla Roma del dopoguerra, responsabile
scempio naturale e storico di villa Doria-Pamphili, il grande del compimento di opere pubbliche già programmate e av-
polmone verde di Roma, che inizia in questi anni, rappresenta viate durante gli anni del regime fascista: si ricordano qui,
uno dei tanti oggetti di contestazione di Tafuri. La costruzio- solo a titolo d’esempio, il completamento di via della Conci-
ne della strada di attraversamento veloce a quattro corsie, liazione18, i tentativi di sventramento di via Vittoria e il ten-
che taglia in due il parco, viene vista come operazione dema- tativo di urbanizzazione dell’Appia Antica (con un progetto
gogica ed elettorale, sulla scia della politica della cosiddetta elaborato dallo studio di Luigi Moretti).
“necessaria urbanizzazione” di Roma in vista delle Olimpiadi Il simbolo della corruzione delle giunte romane del do-
del 1960. Tafuri tenta infatti una ricostruzione delle ragioni poguerra è rappresentato dalla concessione edilizia per la
“occulte” dei vari tracciati delle strade realizzate per le Olim- costruzione dell’albergo Hilton, nel delicatissimo contesto
piadi, cercando di dimostrare come si tratti di infrastrutture delle propaggini di Monte Mario, originariamente destinate a
che non solo non risolvono i problemi del traffico o dello
sviluppo di Roma, ma che vengono disegnati per collegare 17 Capitale corrotta = nazione infetta è il titolo dell’inchiesta con la quale
“L’Espresso” attacca l’operato del sindaco Rebecchini (11 dicembre 1956). Il set-
e urbanizzare aree in precedenza inedificabili, di proprietà timanale arriva a spiegare “come col permesso per una casa a tre piani se ne
di grandi imprese immobiliari che, appunto, saranno da lì a può costruire una a nove” e chiama in causa la Società Generale Immobiliare,
“proprietaria di otto milioni di metri quadri di terreni in tutti i quadranti della
poco urbanizzate, edificate e messe sul mercato. È, leggiamo, capitale e talmente potente da decidere dove far sviluppare il tessuto urbano.
“una politica urbanistica che preferisce far decidere il destino Le aree agricole, comprate a prezzi stracciati, divengono di colpo edificabili e
arrivano a centuplicare il loro valore”. Vedi P. Fantauzzi, Hilton, mezzo secolo
di Roma dai ‘padroni della città’”16. dallo scempio, “L’Espresso”, 9 luglio 2013.
Le polemiche considerate finora si uniscono alla generale 18 Le vicende della demolizione del rione di Borgo furono spesso ricordate
polemicamente da Tafuri anche negli ultimi anni di insegnamento presso lo Iuav
critica che “Italia Nostra”, insieme ad altri celebri settima- di Venezia: diversi oggetti delle sue lezioni sul primo ’500 romano (ad esempio il
palazzo Caprini di Bramante o il palazzo Jacopo da Brescia di Raffaello) scompar-
16 M. Tafuri, I lavori di attuazione del P. R. di Roma, “Italia nostra”, 18, 1960, 6. vero nel progetto di monumentalizzazione dell’accesso a S. Pietro. Traggo queste
“È assurdo – continua Tafuri – che i problemi della struttura urbana della capita- annotazioni sulle lezioni di Tafuri da materiali personali e dalle numerose tras-
le debbano passare in secondo ordine di fronte alle esigenze poste da venti giorni crizioni degli studenti dei suoi corsi: una collezione minuziosa è stata raccolta da
di giochi Olimpici (giochi che come è noto la Svizzera aveva rifiutato come “spese Luca Scappin su supporto magnetico e in trascrizioni cartacee (si tratta di lezioni
di lusso” ma che evidentemente il nostro paese, notoriamente privo di disoccupati svolte da Tafuri presso lo Iuav dal 1968 al 1994); parte dei materiali è conservata
e senza pressanti problemi economici può brillantemente sopportare)”. Ivi, p. 9. presso l’Archivio Progetti dello Iuav, in attesa di riordino e valorizzazione.
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verde pubblico con un piazzale panoramico. La battaglia che e amministratori, e nel quale una buona parte dei politici
si scaglia contro questa ferita nel cuore di Roma è guidata da non fu altro che diretta rappresentante dei grandi affaristi.
Antonio Cederna19, uno dei fondatori di Italia Nostra e, a det- Soprattutto i giovani di quegli anni vivranno la “cosa” come
ta dello stesso Tafuri, figura centrale nella sua formazione20. una vera e propria vergogna nazionale: i più alti ideali della
La vicenda arriverà nelle aule dei tribunali, con un contenzio- ricostruzione e della democratizzazione della società italiana
so fra l’impresa Società Generale Immobiliare e i settimanali, erano così barbaramente traditi.
ma si risolverà nella costruzione dell’albergo di oltre quat- Parallelamente alla denuncia di questa sostanziale an-
trocento stanze in soli tre anni (1960-63), cantiere al quale tidemocraticità dei metodi di pianificazione, emerge dagli
partecipano anche importanti protagonisti dell’architettura scritti di Manfredo Tafuri anche una più ampia riflessione
italiana del tempo come Pier Luigi Nervi e Ugo Luccichenti. sulle metodologie di pianificazione urbanistica. Se da una
L’architetto Tafuri cresce quindi nel contesto dell’indigna- parte la corruzione politica rimane a un livello di denun-
zione di una intera generazione di cittadini e intellettuali nei cia, dall’altra parte Tafuri sembra intravvedere uno spazio,
confronti della città democristiana. Risale al 1963 uno dei un possibile margine di salvezza da quella “anarchia urba-
capolavori del cinema italiano del dopoguerra, Le mani sulla nistica”. Questo spazio viene individuato nella lotta per una
città di Francesco Rosi, che rappresenta un lucido raccon- riforma urbanistica che porti al cambiamento dei luoghi de-
to, attraverso il caso di Napoli, della crescita tumorale del- cisionali dell’urbanistica, allo studio di una legislazione che
la città del miracolo economico. La ricostruzione della città permetta l’attuazione di interventi coordinati, in una visione
democristiana di Rosi può ben essere accostata al fenomeno unitaria e pianificatrice nel tempo oltre che nello spazio. Oltre
di Roma: una città caratterizzata negli anni del boom da un che nei già citati contributi in “Italia Nostra”, Tafuri ne parla in
frenetico sviluppo urbano, nella pressoché totale anarchia una serie di articoli che escono sia su quotidiani come “Paese
urbanistica; una città governata da un circolo vizioso di inve- Sera”, sia su riviste specializzate dell’ambiente architettonico
stimenti pubblici per il privato, all’interno del quale il privato romano, distanti dalle riviste istituzionali, come “Argomenti di
(o, come in molti casi denunciati da “Italia Nostra”, la chiesa) Architettura” e “Superfici”21.
arriva a condizionare l’intervento pubblico grazie al consor- Anche il tema della riforma della legislazione e degli stru-
zio politico ed economico di proprietari di aree, costruttori menti urbanistici necessita di un’adeguata contestualizzazio-
ne. Innanzitutto va ricordato che una delle speranze di parte
19 È celebre la rubrica “Vandali in casa” che Cederna tiene sulle pagine de “Il
Mondo”. Si ricordano in particolare i testi sull’albergo a Monte Mario (Un albergo
in Paradiso, 14 giugno 1955, p.11; Monte Mario venduto, 24 aprile 1956, p. 11), 21 M. Tafuri, Il codice dell’urbanistica ed i piani risanament, “Italia nostra”, 21,
sul ruolo della Società Generale Immobiliare (Il Leviatano immobiliare, 16 giugno 1961; Attività politica e critica degli architetti romani, La vicenda architettonica
1956, p. 7), sui progetti di urbanizzazione dei parchi romani (Le ville distrutte, romana, 1945-1961. “Superfici”, 5, 1962, 20-47; Il Piano Regolatore non è un di-
21 giugno 1955, p.11). segno. Intervista sul Piano Regolatore Generale di Roma, “Paese sera”, maggio,
9-10, 1962 (ripubblicato in Casabella, 279, 45).
20 “History as Project”. Interview with Manfredo Tafuri, op.cit, 22-24.
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della società italiana – che si identificava in un’area politica Roma. Questo ripensamento dello sviluppo della capitale ha
tra la sinistra democristiana, il Partito Socialista (PSI) e il come primo scopo quello di sostituire il piano fascista del
Partito Socialista di unità proletaria (PSIUP), area alla qua- 1931 che, oltre a promuovere il già ricordato processo di can-
le Tafuri apparteneva in questi anni22 – era riversata nelle cellazione di intere parti del centro storico, è ormai del tutto
iniziative politiche di alcuni governi dei primi anni ’60. In obsoleto, spazialmente e funzionalmente, e non permette di
particolare, le riflessioni di Tafuri nascono, con tutto il con- fronteggiare i nuovi problemi urbani della città nel dopo-
testo culturale dell’associazionismo romano, anche sulla scia guerra. I progettisti, tra i quali troviamo anche rilevanti figu-
delle vicende della riforma urbanistica proposta dal ministro re della cultura architettonica romana come Luigi Piccinato
democristiano Fiorentino Sullo. La proposta di legge conte- e Michele Valori, partecipano all’interno di un Comitato di
neva due grandi filoni: in primo luogo, l’idea di spostare la Esperti Tecnici proponendo alcune nuove idee per il futuro
decisione in materia urbanistica dai Comuni alle Regioni – si assetto della capitale: in primo luogo una sua progressiva
vedrà poi come questo condizionerà i ragionamenti di Tafuri; decentralizzazione, per arrestare, e possibilmente invertire,
in secondo luogo, la rivoluzionaria idea di Sullo di attuare il processo di invasione del nucleo edilizio storico da parte
un esproprio generalizzato dei suoli edificabili: tutte le aree delle funzioni direzionali. Lo strumento principale che viene
comprese nei piani particolareggiati dovevano essere ogget- proposto da questo comitato è un grande asse attrezzato da
to di esproprio da parte del comune, che dopo averle urbaniz- collocare nella parte est della città. Si tratta quindi di un
zate poteva cederle ai privati in diritto di superficie attraver- piano da attuarsi per mezzo di infrastrutture, metropolita-
so un’asta pubblica. Come è noto, nonostante i buoni auspici ne, centri direzionali, architetture a grande scala, che Carlo
di una parte della politica italiana, che voleva mettere fine Aymonino arriva a definire nel 1963, con impeto ideologico e
alla supremazia della rendita e della speculazione edilizia, la partecipativo, come “una delle più complesse idee prodotte
legge non fu mai approvata, lasciando spazio a quella che un dalla cultura urbanistica europea del tempo”: per la prima
celebre giornalista italiano chiamava “la fanteria del blocco volta si tentò “di ripensare drasticamente il rapporto tra città
edilizio”23. storica e nuova espansione, con al centro il ruolo cruciale di
Il secondo punto, per quanto concerne il tema della con- questo nuovo centro direzionale–asse attrezzato”24.
testualizzazione del discorso di Tafuri, riguarda l’iniziativa Uscendo temporaneamente dall’ambiente romano, va evi-
di questi anni di promuovere un nuovo Piano Regolatore di denziata la presenza a livello nazionale, negli stessi anni, di
un dibattito incentrato interamente sulla questione urbana.
22 Si rimanda all’intervista di L. Passerini, “History as Project”, op.cit.
23 V. Parlato, Il blocco edilizio, “Il Manifesto”, n. 3-4, 1970. L’articolo è stato 24 C. Aymonino Il sistema dei centri direzionali nella capitale, “Casabella”, 264,
ripubblicato nel volume Lo spreco edilizio, a cura di F. Indovina, Marsilio, Venezia 1962, 21-25. Alcuni progetti per i centri direzionali di Roma sono commentati
1972. in M. Tafuri, E. Fattinnanzi, Un’ipotesi per la città-territorio di Roma. Strutture
produttive e direzionali nel comprensorio pontino”, “Casabella”, 274, 1963, 26-37.
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La discussione investe una buona parte della cultura archi- enfatizzati – i risultati di una serie di concorsi a grande scala
tettonica e urbanistica italiana, e Tafuri vi partecipa sin dal italiani: su tutti, i celebri esiti del concorso per le barene di
196225. Forse nessuna rivista può testimoniare il progressivo San Giuliano, per l’isola del Tronchetto a Venezia e per il
cambiamento del dibattito italiano verso i temi urbanistici Centro Direzionale di Torino, che evidenziano, almeno sulla
come “Casabella”. La seconda fase di “Casabella” di Rogers, carta, la presenza italiana nel dibattito internazionale sulle
che inizia verso la fine degli anni ’50 a trascurare quasi to- nuove dimensioni del progetto architettonico e urbanistico28.
talmente l’idea di architettura come fatto costruito, si dedica Non deve sorprendere, dunque, che proprio su “Casabel-
con attenzione crescente ai problemi della pianificazione e la” appaia nel 1962 l’articolo La città-territorio, una sorta
del disegno urbano a grande scala. Proprio sulle pagine di di manifesto di Tafuri, firmato assieme a Giorgio Piccinato
“Casabella” in questi anni, vengono dibattuti i contributi di e Vieri Quilici, nel quale si arriva a teorizzare la necessità
Giancarlo De Carlo sull’idea di città-regione e sul cambia- del cambiamento di scala nell’osservazione della città con
mento di scala nello studio e nell’osservazione della città tutte le sue nuove conformazioni, sia a livello amministrati-
inaugurato dal Piano Intercomunale di Milano; e, soprattutto vo-legislativo, sia a livello di analisi architettonica e spaziale.
grazie ad Aldo Rossi e Francesco Tentori, lo ricorda Giorgio E, per Tafuri, la definizione di una nuova dimensione dello
Ciucci, vengono eseguite analisi delle trasformazioni di al- spazio urbano corrisponde proprio ad una nuova dimensione
cune grandi città e del volto fisico e paesaggistico di alcune nei metodi stessi del progettare (in questo è perfettamente
nazioni26; e, ancora, vengono introdotti nel contesto italia- allineato con De Carlo, Rossi, Aymonino, Quaroni e Samonà),
no alcuni nuovi e paradigmatici progetti spaziali, come ad definendo così anche i potenziali spazi di espressività del
esempio il piano per Tokio di Kenzo Tange e quello di Louis progetto all’interno di queste nuove dimensioni fisiche. Tafu-
Kahn per Philadelphia27. Contemporaneamente, sempre su ri specifica: “Il campo in cui oggi possiamo operare le scelte
“Casabella”, vengono presentati – ma si potrebbe dire anche fondamentali è quello che si riferisce alle grandi strutture,
che sono quelle, sul piano più strettamente architettonico,
25 M. Tafuri, Studi e ipotesi di lavoro per il sistema direzionale di Roma. Ibid., dei ‘grandi contenitori’, e, sul piano dell’organizzazione ter-
27-36. ritoriale, delle vie di comunicazione e dei centri di servizio;
26 È sufficiente sfogliare i numeri della rivista dei primi anni ’60 per incontra- ed è il campo della qualificazione formale di questi elemen-
re i reportage su Parigi, Mosca, l’urbanistica in Unione Sovietica, USA, Francia,
Inghilterra. Vedi G. Ciucci, Gli anni della formazione 15. Un bilancio sull’attività ti, che sono le vere ‘costanti’ della nuova realtà”29. La scala
di “Casabella” in questi anni sul tema della grande scala è contenuto in A. Rossi, della città è considerata come il campo in cui si combatte la
Urbanistica e architettura: nuovi problemi, “Casabella”, 264, 1962, 2-6. Vedi an-
che A. Rossi, L’architetto e l’urbanistica, “Casabella”, 266, 1962, 26-33.
28 Vedi in particolare i numeri di “Casabella”, 242 del 1960 (S. Giuliano) e 278
27 F. Tentori, Ordine e forma nell’opera di Louis Kahn, “Casabella”, 241, 1960,
del 1963 (CD di Torino).
2-17; F. Tentori, E. Bacon, A. Row, D. Wallace, Il piano regolatore di Philadelphia,
“Casabella”, 260, 4-25; Un piano per Tokio; G. Grassi, La città come “prestazione 29 M. Tafuri, G. Piccinato, V. Quilici (per lo studio AUA di Roma). La città territo-
vitale”, “Casabella”, 258, 1961, 3-21. rio. Verso una nuova dimensione, in “Casabella”, 270, 1962, 16-25.
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battaglia culturale, intellettuale, disciplinare, e lo strumento generazione come Rossi, Aymonino o Gregotti. Nei confronti
principale è rappresentato proprio dall’architettura a grande della realtà diventata sempre più caotica, più disarticolata,
scala: “agire sulla dimensione fisica dell’architettura, sul suo sullo sfondo di una crisi politica evidente e definitiva, con
aspetto figurativo”30. la consapevolezza della totale corruttibilità del sistema po-
Ecco perché il sistema dei centri direzionali rappresenta- litico italiano, Tafuri ricerca luoghi e modalità per l’architet-
va per Tafuri una vera e propria “critica in atto” ai processi to di controllare, o meglio esercitare un potere di controllo
spontanei di sviluppo della città e, insieme, l’indicazione di della crescita e della gestione della città. E l’architettura in
un processo nuovo che poteva assumere un ruolo anticipato- quanto tale, nelle sue tradizionali scale, all’interno dei suoi
re e stimolatore nei riguardi delle strutture urbane. Il gruppo classici temi spaziali e costruttivi, sparisce dall’orizzonte di
AUA partecipa infatti al concorso per il Centro Direzionale interesse: Ridolfi e il neorealismo per Tafuri saranno ben pre-
di Torino con la proposta “L’ingranaggio 3”: un unico grande sto totalmente datati (è di questi anni un suo testo di forte
asse attrezzato sopraelevato sul livello stradale, contenente critica verso il fenomeno neorealista)34; il grande poeta del-
una zona pedonale lineare, che collega le varie funzioni31. lo spazio Luigi Moretti verrà semplicemente giudicato come
Ecco perché il progetto per le Barene di San Giuliano di Qua- architetto a servizio di speculatori e palazzinari Romani; le
roni costituirà per Tafuri il più alto momento della riflessione sublimi costruzioni di Pier Luigi Nervi non saranno degne
formale della “megastruttura all’italiana”32. Ecco perché la della sua attenzione e della sua critica, poiché saranno viste
megastruttura all’italiana – per una questione di affinità in come prodotto di un puro professionalismo “vuoto di conte-
parte anche generazionale – così come il grande piano di Le nuti”, un’“architettura messa a disposizione di forze ed inte-
Corbusier per Algeri, verranno sempre visti da Tafuri come ressi contrari ad ogni forma di effettivo progresso civile”.35 La
l’ultimo disperato, ma, allo stesso momento, “eroico” tentati- “ bella” architettura non è altro che “poetica dell’indifferenza”
vo di rivendicare l’originaria missione modernista della pro- e, in quanto tale, semplicemente non è più giudicabile.
fessione architettonica33. Esiste quindi solo un’azione a grande scala che tuttavia
In tal senso, Tafuri compie una curiosa parabola, non dis- solo per poco tempo, va subito specificato, rappresenterà per
simile da quella compiuta dagli altri protagonisti della sua il giovane architetto e critico Tafuri il terreno di interesse e
di discussione. Quando diventerà evidente che la gran parte
30 Ivi p. 16.
34 M. Tafuri, La vicenda architettonica romana, “Superfici”, 5, 1962, 20-41;
31 L’ingranaggio 3, “Casabella”, 278, 1963, 38-41. Architettura e realismo, in L’avventura delle idee nell’architettura: 1750-1980, ca-
32 Si rimanda ai giudizi di Tafuri in Storia dell’architettura italiana 1945-85, talogo a cura di Vittorio Magnago Lampugnani, XVII Triennale di Milano, Electa,
Einaudi, Torino 1986. Milano 1985, 123-147; L. Skansi, Manfredo Tafuri and the critique of realism, “SAJ
33 M. Tafuri, Ernst May e l’urbanistica razionalista, “Comunità”, 123, 1964, 66-80; - Serbian Architectural Journal”, numero speciale “Architecture Utopia Realism”, a
Teorie e storia dell’architettura, Laterza, Bari, 1968; Progetto e utopia: architettu- cura di Ljiljana Blagojević, 2014, 182-195.
ra e sviluppo capitalistico, Laterza, Bari 1973. 35 La vicenda architettonica romana, op.cit. 32.
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dei concorsi sui Centri Direzionali non porta agli auspicati fferenza, di arcaico immobilismo come di inerzia morale.”37
risultati, quando verrà compreso che la realtà semplicemente Nella conclusione del saggio, Tafuri indica lo spunto per una
svuota di significato ogni ipotesi di riforma a grande scala, nuova riflessione che, a posteriori, si può forse indicare come
inizieranno a profilarsi i primi bilanci di Tafuri sulla epocale una dichiarazione di intenti e che vuole aprire una nuova
crisi della professione architettonica: già nel 1966 – parlan- pagina rispetto ai propri obiettivi disciplinari, dichiarando:
do dei progetti a grande scala di Quaroni, di Tange, di Kahn “Il problema da affrontare ora è quello di indagare le ragioni
– Tafuri arriverà ad affermare come tutte le aspirazioni rifor- di una sconfitta.”
matrici caratterizzanti la modernità in architettura portasse- In una ormai celebre intervista pubblicata nel 1994 sulle
ro a “una drammatica constatazione di sconfitta”36. pagine di “ANY”,38 parlando proprio della sua prima forma-
A un anno dal manifesto La città territoriale, Tafuri scrive zione romana, Tafuri usa frequentemente le parole “delu-
un saggio fondamentale (e finora poco considerato) intitola- sioni” e “attraversamenti di momenti di crisi”. La sconfitta
to Le vicende architettoniche romane, nel quale traccia una degli ideali politici e democratici sui quali l’Italia era stata
bilancio degli sforzi compiuti dalla cultura architettonica costruita in seguito alla guerra; la sconfitta degli ideali del
nella capitale e degli effettivi risultati conseguiti nella real- movimento moderno; la sconfitta della proposta di riforma
tà. Le parole di Tafuri assumono un tono fortemente critico, urbanistica del ministro Sullo; la sconfitta sul campo della
disilluso e a tratti quasi apocalittico: “Forse in nessuna altra lotta per la preservazione di Roma; la sconfitta dei profes-
grande città europea il fallimento della architettura moderna sionisti all’interno del dibattito sul PRG di Roma; la sconfitta
nei suoi programmi ideologici e nella sua volontà progres- in generale del professionista di fronte alla realtà – e la sua
sista, è più evidente che a Roma: così la storia dell’ambiente impotenza rispetto alla possibilità di esercitare ancora in-
architettonico romano in questo dopoguerra è storia di spe- fluenza e potere sullo sviluppo della città: tutte queste sono
ranze e di illusioni, così come del loro crollo drammatico, di esperienze vissute e – per usare una espressione dello stesso
tentativi quasi sempre falliti il cui valore sembra consistere Tafuri – da lui introiettate già nei primi anni della carriera
spesso nell’insegnamento che ne scaturisce come negazio- professionale. E rappresentano anche lo stimolo – certa-
ne, come testimonianza negativa di operazioni non riuscite. mente non l’unico – per il suo definitivo orientamento verso
È ancora storia di resistenze e di fallimenti di pochi contro i la carriera storiografica: uno stimolo fondamentale, poiché
molti, che si potrebbe definire con amara ironia, storia di un forma sia i suoi successivi obiettivi storiografici, sia la sua
non adattamento all’ambiente intessuto di ipocrisia e indi- visione generale della “ funzione” della storia per il presente.
Tafuri compie in pochi anni (1959-64) una traiettoria che,
36 M. Tafuri, Manfredo, La nuova dimensione urbana e la funzione dell’utopia, 37 Corsivi miei. La vicenda architettonica romana, op.cit., 21.
“L’architettura. Cronache e storia”, 124, 1966, 680-683.
38 “History as Project”. Interview with Manfredo Tafuri, op.cit.
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infine, può essere paragonata alle letture che lui stesso offre come mai prima: non per mappare revivals di linguaggi, pu-
delle vicende e dei destini intellettuali dei grandi protagoni- rezze, genealogie, ma per concettualizzare e introiettare le
sti dei suoi celebri racconti degli anni ’60 e ’70, Le Corbusier ragioni storiche delle condizioni contemporanee.
e Ernst May su tutti. Si tratta, come già sottolineato, di una In qualche modo, diventa chiaro a Tafuri come non sia più
traiettoria generazionale, e condivisa con altre figure della possibile neanche progettare senza aver criticamente presen-
cultura architettonica italiana. Tuttavia, diversamente dalle te tutto il proprio passato. Per capire se la strada intrapresa
figure del calibro di Rossi, Aymonino, e in parte di Vittorio con il progetto di architettura sia affrontata in maniera seria,
Gregotti, Tafuri reagisce a questa crisi in maniera del tutto storicamente legittima, entro i margini di un rapporto tra re-
singolare. Più che chiudere la porta alla realtà, Tafuri inizia altà e architettura sufficientemente convincente, oppure si
a penetrarla, a sviscerare le sue origini, a indagare le ragioni tratti di poetiche della rinuncia alla realtà, di accademismo,
storiche di quella condizione generazionale: è un percorso di gratuità.
intellettuale che lo porterà inesorabilmente verso la carriera
di storico dell’architettura.
La constatazione del distacco politico e storico tra la cul-
tura architettonica e la realtà lo indurrà a riflettere sul tipo
stesso del proprio impegno civile e professionale. Se in un
primo momento Tafuri sembra ricercare delle risposte nell’at-
tivismo e in nuove metodologie di intervento attraverso la
grande scala – in una pressoché totale coincidenza tra critica
e progettazione, tra attivismo culturale e sperimentazione
progettuale – come testimonieranno i suoi successivi passi,
tale ricerca gli risulterà ben presto insufficiente.
In questa chiave è ancora possibile rileggere il primo
saggio storico su via Nazionale e comprendere come Tafuri
mostri di sentire da subito la necessità di tornare alle origini
delle condizioni attuali, per capire, esplorando la storia, le
caratteristiche della realtà, le abitudini politiche e sociali,
la crisi professionale. Una Storia, la sua, che è da subito non
conciliante, lontana dall’esaltazione eroica o celebrativa di
figure e contesti. Tuttavia, si tratta di una Storia che “serve”,
160 161
2ªsessãosessionsessione
Renascimento,
Arquitetura e Cidade
Os escritos de Tafuri sobre o Manfredo Tafuri se dedicou ao tema do Renascimento
Renascimento desde o fim dos anos sessenta, em diferentes etapas, a tal
Tafuri’s writings on Renaissance ponto que podemos afirmar que ele se apaixonou por essa
Gli scritti di Tafuri sul Rinascimento
fase da história de maneira particular 1. Porém, é neces-
Donatella CALABI sário assinalar que, em seus textos, a cronologia do Re-
nascimento nunca foi dada como óbvia: frequentemente o
TraduçãoTranslationTraduzione quadro de referência é o do período da longa Idade Média
Marisa Barda
das senhorias territoriais da Itália do antigo regime e das
RevisãoReviewRecensione experiências absolutistas, e o das Repúblicas oligárqui-
Anita Di Marco
cas sobreviventes. Todavia, é evidente que ele privilegia
um período inserido entre os séculos XV e XVI. Nem é
óbvia a análise dos paradigmas que direcionam os novos
comportamentos dos séculos XV e XVI, condicionando o
consumo. Mas é evidente que, para o autor mencionado,
os problemas insolúveis do passado (e isso vale para todos
os períodos históricos aos quais se dedicou em seus traba-
lhos) ainda inquietam o seu presente.
1. Nessa perspectiva, um dos temas importantes que
164 165
ele evidencia é o uso problemático da representação no quero examinar com especial atenção, o terceiro do seu
início da idade moderna. último texto e quase um testamento, Pesquisas sobre o
Fragmentação e desaparecimento de todos os télos Renascimento, intitulado “Princípios, cidade, arquitetos”, o
são condições da época presente, em uma total inversão tema é: Como modificar o uso político da cidade? Quais
dos valores da idade moderna. Silenciosamente, os prota- são os protagonistas? Quais os conflitos?
gonistas da arte contemporânea – de Klee a Le Corbusier O autor considera conhecidos os instrumentos de ges-
– fizeram da fragmentação e da ausência de universo os tão da Idade Média (estatutos, regulamentos, magistratu-
grandes motivos de reflexão sobre a totalidade e a pleni- ras, convenções, tendências dos grupos dominantes) e se
tude do sentido. O edifício Seagram de Mies ou o Capitólio questiona como esse conjunto de instrumentos foi mo-
de Chandigarh não questionam, talvez, os princípios do dificado entre os séculos XV e XVI, quando entraram em
racionalismo europeu? campo novos protagonistas, novas representações, novos
Eles olham para trás, afirma Tafuri, tentando um diá- sujeitos políticos.
logo com a idade da representação (de fato, o Renasci- Ao mesmo tempo, ele evidencia a importância das re-
mento). sistências: o movimento de transformação pode ser muito
Apesar disso, nenhuma atualização jamais será pro- lento. E aqui, aborda uma questão fundamental, a do peri-
posta ao leitor, pelo próprio historiador. Aqui ele cita go do uso de neologismos por um historiador.
como ainda válidos os pressupostos do seu texto sobre
Teoria e história: isto é, a necessidade de evitar qualquer 3. Ao iniciar uma comparação entre situações dife-
forma de anacronismo que, depois, constitui a própria rentes, isto é, entre amostras selecionadas por motivos
base do seu “fazer História” 2. analógicos (a Florença de Lorenzo, o Magnífico, a Roma
de Leão X) e outros pela diversidade (Veneza entre os sé-
2. Tafuri sente necessidade de deslocar constantemen- culos XV e XVI, a Milão do período dos Sforza, a Gênova
te o ponto de observação: do contexto político aos edifí- do século XVI), Tafuri declara imediatamente sua inten-
cios arquitetônicos e aos seus atores (clientes, arquitetos, ção de evitar tipologias abstratas. Na realidade, pretende
mão de obra de execução). Por exemplo, no capítulo que fazer uma análise de situações concretas uma vez defi-
nidos os parâmetros de comparação: ou seja, os diferen-
2 Manfredo Tafuri, Teorie e storia dell’architettura, Bari. Laterza, 1968. tes significados político-econômicos, os grupos de poder
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protagonistas e antagonistas (contra os quais se orientam a) A Florença Laurentina: aqui, a questão principal é a
as escolhas governamentais), os instrumentos e as insti- seguinte: é possível reconhecer uma estratégia dos Medici
tuições, os valores em relação às representações ideais transmitida por Lorenzo de Medici, o Magnífico, ao filho
consolidadas. quando este se torna papa e, portanto, governa Roma? Ta-
furi explicita logo sua bibliografia fundamental: Chastel,
Gombrich, Goldthwait, Kem, Elam.
4. Segundo meu ponto de vista, aqui deve ser apon-
tado um problema historiográfico: ele não diz quase nada Existe uma relação entre a febre construtiva do final
sobre o contexto europeu, que é quase inexistente em sua do século XV e a intervenção planejada e parcialmente re-
análise. Há pouco tempo, outro grande historiador, Marino alizada por Lorenzo? A febre era o resultado de uma lei de
Berengo, fala sobre a Europa das cidades sem se preocu- isenção fiscal para casas construídas em um certo período:
par em definir a época do Renascimento porém, falando a vontade de aumentar os imóveis de aluguel para enfren-
de “Idade Moderna”; ele também trata de protagonistas, tar a explosão demográfica. Machiavel testemunha que
conflitos, estruturas de governo e, também, com o dese- o responsável pela iniciativa é Lorenzo. Existem outras
jo de compará-los. Faço a observação porque, em ambos testemunhas sobre a abertura da via Laura e de casas rea-
os casos, trata-se de grandes estudiosos da cidade que lizadas para obter incentivos finalizados em intervenções
pesquisam substancialmente no mesmo período históri- seguintes. Portanto, trata-se de interesse privado que, to-
co, mas com abordagens completamente diferentes. Isso davia, coincide com o bem de camadas pobres e médias:
nos permite verificar, no caso que aqui nos interessa, até o “belo desenho” do Magnífico prevê um bairro para os
que ponto o olhar de Tafuri, seu conhecimento profundo estratos médios e dos artesãos em uma área periférica,
das linguagens arquitetônicas, conduziu a sua leitura da com intervenções de edificações modestas em harmonia
História. com o programa geral.
Voltando, deve-se enfatizar o que ele declara ser um Porém, é importante olhar o episódio sob outra pers-
objetivo importante de seu trabalho ”multiplicar as análi- pectiva (mais ampla), em função do alargamento da cida-
ses comparativas para evitar as generalizações e o fechar- de no século XIV e da crise que tinha provocado uma in-
-se em estudos pontuais”. flação dos espaços residenciais, depois da peste de 1348.
Em suas iniciativas, Lorenzo parece indicar aos florentinos
que o otimismo do século XIV é de novo atual. Ao mesmo
5. Verifiquemos, agora, os casos individualmente: tempo, sem preocupação com estética, a iniciativa corres-
168 169
ponde a uma ideia de decoro, que não considera os inte- to Espírito, do Poggio Imperial. Justamente, na sua obra,
resses da casa dos Medici em relação aos bens públicos. no nível urbano e no territorial, percebia-se uma gama de
Com a aquisição de áreas na via dei Servi e na Pia- instrumentos diferenciados: ao prestígio formal das inter-
zza dell’Annunziata, uma outra lei (1478) faz pensar em venções no centro consolidado se contrapunha a adição.
um “plano” para a reestruturação de Florença (incluindo Portanto, não se trata de teorias abstratas, mas do uso
a ideia do foro à moda antiga, com um pórtico em fren- de diversos modelos de acordo com a conveniência. No
te ao dos Innocenti na Piazza dell’Annunziata). Mas es- sistema de comércio florentino, o Magnífico aparece como
ses projetos não foram executados imediatamente. Após primus inter pares, indicando investimentos destinados a
a Conspiração dos Loucos (que pode ter sido a causa da conciliar benefícios públicos e privados.
interrupção), somente a via Laura é realizada. O plano de
expansão (exatamente o da via Laura) parece, ao contrá-
b) A Roma de Leão X: Giuliano Sangallo projeta um
rio, concebido em alternativa ao de recuperação do exis-
edifício para Leão X, na extremidade da Piazza Navona. O
tente (da via Servi e da Piazza dell’Annunziata).
imenso pórtico assume a praça como vestibulum. A asso-
Nesse momento, Tafuri aborda outro aspecto e avalia ciação praça-edifício, que corresponde à escolha de ocu-
a capacidade e as competências arquitetônicas de Lorenzo par o coração da Roma antiga com um urbs medicea, reme-
de Medici. Ele questiona as relações entre Lorenzo e Giu- te ao palatium constantiniano de Bizâncio (referências ao
liano da Sangallo. palácio imperial onde a praça corresponde ao hipódromo
E depois muda, novamente, de escala: para examinar da antiga Constantinopla). É uma escolha simbólica de
as escolhas do Magnifico no nível territorial, descrevendo instauratio imperii para reforçar que o programa leonino
a realização da Sapienza em Pisa, da Rocca Nuova de Vol- elimina qualquer caráter privado: é uma praça pública que
terra, da cidade fortificada de Poggio Imperiale. nasce em um estádio antigo autêntico, coerente com a
Insiste na modéstia formal na cidade. A fama do Mag- imagem que Leão X constrói de si mesmo: papa pacifista,
nífico, como coordenador da renovação urbana, não advém virtuoso, capaz de conquistar a confiança e amizade de
da forma do novo tecido, mas dos bens religiosos e monu- Erasmo de Roterdã, atento às necessidades públicas e ao
mentais de caráter público, do convento de San Gallo, do bem-estar dos cidadãos (aliás, na expansão de Roma e na
delle Murate, do concurso para a fachada da Catedral, do criação de equipamentos assistenciais).
projeto para a Piazza dell’Annunziata, da sacristia do San- Referências bibliográficas às interpretações de Settis
170 171
e de Ackerman. Depois muda de foco: observa o objeto tudo na urbis dos Medici (além do que é efetivamente re-
mais de perto. O edifício nas suas relações com o Estúdio alizado). Enfim, a hipótese é a de uma relação direta nos
(a universidade em uma via tangente e a igreja de San objetivos leoninos, entre a criação de um sistema urbano
Giacomo degli Spagnoli entre dois edifícios do período regularizado com epicentro no domínio do binômio Piazza
dos Medici): uma simetria entre a praça Navona e a que Navona – Edifício dos Medici e estúdio. O lugar, centro do
deveria ter sido realizada com a igreja de San Luigi dei saber europeu, se instala no centro de um Campo Marzio
Francesi, com o edifício do período dos Medici ao centro; renascido. O papa, como imperador, sustenta o binômio
para fazê-lo é prevista a demolição de um quarteirão in- do edifício–circo. A internacionalidade é estabelecida pe-
teiro edificado. A nova praça dela Dogana é regularizada las igrejas dos estrangeiros = Renovatio do antigo centro
na forma retangular. imperial.
As estratégias de outros papas desde 1303 (Bonifácio É uma política de magnificência e aliança do papado
VIII que tinha fundado a Sapienza como emanação do po- com os estratos mais ricos: são fenômenos complemen-
der do pontífice fora do bairro do Trastevere; Eugênio IV tares. Depois vem o abandono da prolixa utopia urbana: é
que, com a bula papal, tinha dado o controle a três ecle- uma colossal obra não concluída. As razões do abandono
siásticos e colocado as bases financeiras para a realização podem ser encontradas na crise econômica, na Morte de
de um colégio para os estudantes; e, depois Alessandro IV, Lorenzo etc.
Borgia que aloca dinheiro para as obras necessárias para o Porém, há aqueles que realizam o sonho leonino mais
isolamento do edifício com a abertura da rua atual. Mas o de um século depois: é Inocêncio X que retoma a metáfora
estudo do final do século XV não é monumental (as áreas imperial.
da Piazza della Dogana ficam em mãos privadas).
Com o mesmo hábito de mudar o foco, Tafuri examina
Com a bula papal de 1513, Leão X anuncia uma in- os sucessivos problemas do projeto leonino em relação ao
versão de tendência em relação à política cultural prece- Pantheon: o discurso se amplia do desenho em U a todo
dente: a universidade deve ser reforçada até alcançar um o centro da cidade para retomar as escolhas dos papas
nível europeu: Roma é a capital artística e literária da Res precedentes: o peso dos documentos (os estatutos dos
Publica e deve ter uma ‘universidade’ adequada. mestres de Rua, os costumes (os cortejos festivos) como
Portanto, o estudo internacional (que se reflete na funções importantes da praça e da universidade em seu
planimetria de Sangallo) demonstra o ponto focal do es- peso internacional, que corresponde à ocupação do perío-
172 173
do dos Medici no Capitólio. realizada a Villa Madama, isolada em Monte Mario como
Portanto, individualiza uma coerência nos pensamen- Poggio em Caian ou, que observa os conflitos urbanos
tos leoninos: os objetivos hiperdimensionados de Leão X (imagem do otium humanístico e da tradição cultural dos
são, porém, recompensados por uma capacidade de adap- Medici). Em Florença, uma série de obras de alta qualida-
tação às circunstâncias. de também propõe uma imagem humanística, pia, anti-
tirânica da casa dos Medici. Há, portanto, uma afinidade
Depois, ele examina o significado da realização da via
que liga a estratégia urbana de Lorenzo, o Magnifico e
Leonina (as antecipações de tal rua): não é novidade. Po-
a de Leão X: são favorecidos estratos análogos; há uma
rém, é nova a forma que ela dá à expansão de Roma con-
renúncia de exibição pessoal no coração das duas cidades
vergindo na Piazza del Popolo, regularizada por Rafael e
às quais correspondem as duas moradias extra urbanas.
por Antonio, o Jovem.
Decididamente, pode-se falar de um estilo dos Medici em
Outros projetos de Leão X são a igreja de São João dos Florença e em Roma.
Florentinos e a casa da Moeda.
Daqui, Tafuri passa a verificar as renúncias. No projeto
c) Veneza: Vários protagonistas se destacam e as fi-
de Sangalo para o edifício dos Medici e para a regulariza-
guras institucionais são várias: conceitos fundamentais
ção da Dogana (alfandega), como na Florença reconquis-
como o “Estado misto”, a “igualdade patrícia”. A troca con-
tada pelos Medici (com o edifício de via Laura): contra-
tínua entre fé religiosa e identidade cívica: Veneza é um
ditório com a imagem que Lorenzo tinha pacientemente
centro independente tanto do Império quanto de Roma. A
construído.
continuidade da imago urbis e de sua singularidade. Ne-
nhuma instauratio, onde a utopia já se considera realizada
Resumindo: em Roma, uma ampliação que põe à dispo- mas, apenas fragmentos de rennovatio são possíveis.
sição da especulação fundiária grandes áreas livres; uma Todas as magistraturas são de origem medieval: existe
rua leonina que tem como polos duas obras de utilidade o culto da continuidade.
pública (o hospital de San Giacomo e o Estúdio); uma for-
Uma nobreza não imune aos conflitos mas que preten-
ma viária eloquente; a exaltação da comunidade floren-
de proteger o mito do consenso sobre o qual se funda a
tina com o início de obras da igreja na extremidade sul
ideia do Estado harmônico.
da via Giulia. Enfim, a renúncia em marcar triunfalmente
a presença dos Medici na cidade: no lugar do edifício, foi Nada mais distante de Roma e de Florença.
174 175
A lei de 1535 sobre o decoro urbano e a reorganização uma organização para uma categoria específica de cida-
das leis, também fracassada, são duas iniciativas direcio- dãos (ex-marinheiros e operários do Arsenal). É instaurada
nadas à reorganização das relações entre público e priva- uma política discriminatória que favorece os meritórios e
do. O culto da tradição e da continuidade não é exagera- as pessoas particularmente interessantes para o governo
damente conservador. deixando às Grandes escolas o papel assistencial com raio
Enquanto em Roma somente os espaços são respeita- mais limitado. A experiência milanesa é rejeitada.
dos e disponíveis para assumir novos significados e confi- Em Veneza também se buscam estratégias relativas à
gurações novas, em Veneza o desejo de manter as origens construção de novas casas para estratos baixos (existem
– buscadas pelos apoiadores da autonomia veneziana – os desenhos para Sant’Antonio di Castello) porém, não es-
assume conotações trágicas que tornam complicado o hu- tratégias definitivas; muito pelo contrário, é uma sobrepo-
manismo veneziano. sição de projetos e uma oscilação de desejos de inovação
Examina casos específicos de ampliação urbana: cada e adaptação sobre políticas já experimentadas e tradicio-
ampliação comporta formas de persuasão que incidem so- nais; uma mistura de interesses públicos e privados. As
bre o equilíbrio da laguna e sobre o regime hidráulico; ampliações em Veneza não podem renovar o significado
o apelo para alterar um imago geral considerada perfei- global da cidade. Elas se inserem silenciosamente nas ma-
ta. Aqui na novitas não é permitido falar (ao contrário de lhas de um organismo sentido como herança.
Roma). A mediocritas das intervenções de renovação da Outros exemplos são as urbanizações promovidas pe-
ponta de Sant’Antonio de Castello das Fondamente Nuo- las Escolas Grandi de San Marco, de San Rocco, as Fonda-
ve, da Giudeca Nuova (1334-1364 e, depois, da segunda mente Nuove. Esse último caso também poderia ter sido
metade do século XV e concluída em 1503) são inspiradas uma ocasião para concentrar novas residências aristocrá-
em uma concepção tradicional de assistência aos pobres. ticas de qualidade, uma ocasião eloquente como a Strada
Abandona-se o modelo do grande hospital (como o do Nuova di Gênova: fruto das escolhas de especulação como
Filarete em Milão que também tinha sido tomado como as feitas pelo arquiteto Bernardino Cantone, que lhes dá
exemplo e com o qual algumas trocas haviam sido feitas) forma com um desenho básico de loteamentos.
isto é, o projeto concentrado para, ao contrário, recuperar Mas a diferença entre Veneza e Gênova está, principal-
a concepção tradicional de assistência, o seja, um siste- mente, nos grandes edifícios ostentados.
ma fracionado. O hospital de Sant’Antonio é reduzido a
176 177
d) A Milão de Leonardo: é um precedente. Um bairro possíveis. Outras questões poderiam se integrar àqueles
dos Sforza para a zona de Porta Vercellina. Daqui às ini- lugares: as leis, as escolhas de estratos intermediários, os
ciativas de Ludovico, o Mouro em Milão e em Vigevano costumes, os velhos magistrados e os de nova instituição.
(além daquelas nas cidades de Dominio, Pavia, Cremona, Outras análises comparativas poderão questioná-las”.
Lodi, Parma). Da minha parte, concluo esse breve excursus propon-
do a vocês um tema de trabalho que, de certa maneira, o
6. Finalmente, da análise de um caso, um alargamento próprio Tafuri– na minha opinião – tinha subentendido e
vertiginoso dos centros concêntricos. proposto:
Milão e Gênova mostram suas diferenças em relação a Isso é, podemos procurar entender se e como seus es-
Veneza, o que só é perceptível em exemplos específicos. tudos fizeram “escola” explorando bibliografias de alunos
Portanto, é necessário examinar a realização das Fonda- próximos e distantes e também de colegas com os quais
mente Nuove onde as estratégias e a mentalidade, além colaborou.
dos sistemas institucionais, são diferentes do que foi re-
alizado em Gênova nos mesmos anos. Apenas de casos D. Calabi, Il mercato e la città, Venezia, Marsilio 1993;
específicos é possível fazer algumas considerações gerais.
D. Calabi (a cura di): Fabbriche, piazze, mercati: La città
Por exemplo, o fato que, nos momentos críticos, emer- italiana del Rinascimento, Roma 1998;
gem motivos que iluminam mentalidades, conflitos, resis-
S. Zaggia, Una piazza per la città del Principe, Roma,
tências: e, aqui, Tafuri acrescenta uma nota quase brau-
Officina;
deliana (mesmo sem fazer nenhuma referência explícita a
Braudel) afirmando que as flexões nas histórias de longo E. Svalduz, Da castello a città: Carpi e Albertto Pio,
período devem ser consideradas como eventos eloquen- Roma, Officina;
tes. E. Svalduz, L’ambizione di essere città, Venezia, Istituto
Veneto di Scienze, Lettere ed Arti 2004;
7. E as conclusões: “selecionamos alguns episódios ten- Svalduz, Zaggia, Moretti, Brucculeri, Vertecchi, Fare la
tando focar um ou mais métodos comparativos, prontos a città, Milano, Bruno Mondadori 2005;
vincular e separar conjuntos de escolhas com motivações V. Zanchettin, Via di Ripetta e la genesi del Tridente.
diferentes. Tal tipo de análise é somente uma das muitas Strategie di riforma urbana tra volontà papali e istituzioni
178 179
laiche, Romisches Jahrbuch Der Bibliotheca Hertziana, menos nos seguintes aspectos:
2005; — O texto mantém o leitor em suspense como se ele
Manuela Morresi, Piazza San Marco: Istituzioni, poteri e tivesse que descobrir o assassino;
architettura a Venezia nel primo Cinquecento, Milão, Electa, — A importância das notas que constituem quase uma
1999; história paralela, delineando um verdadeiro extremismo
Christoph Liutpold Frommel, The architecture of Italian filológico; há uma multidão de personagens e mentalida-
Renaissance, Londres, Thames & Hudson, 2007; des mesmo se faltam outros fundamentais (por exemplo,
Howard Burns, Andrea Palladio, 1508-1580: The portico os mercadores de Veneza; as corporações e as artes em
and the farmyard: catalogue, Londres, Arts Council of Great Veneza, Florença, Roma);
Britain, 1975. — Uma abordagem psicológica (como se o autor pu-
desse reconstruir o comportamento psicológico de seus
personagens em relação à fé, ao estilo de vida);
8. E, para concluir, gostaria de propor alguns pontos
de discussão que se referem aos estudos tafurianos sobre — Uma abordagem substancialmente da Itália central.
o Renascimento (o tema dessa sessão) porém, mais sua O texto Ricerche del Rinascimento (Pesquisas sobre
abordagem sobre a História da cidade e da arquitetura. o Renascimento), assim como Venezia e il Rinascimento,5
Creio que seja possível observar uma discreta des- faz parte (e conclui) o retorno de Tafuri ao Renascimento
continuidade entre duas fases na obra deste autor. Como após um longo período dominado pelos seus interesses
texto exemplar da primeira fase eu citaria, antes de mais no século XX e, em especial, no período entre as duas
nada, o volume monográfico do Jacopo Sansovino3 mas, guerras. Se é verdade que houve obras onde o autor apre-
também o volume sobre o Maneirismo. O livro que aqui sentou uma história compacta (quase com características
analisei mais detalhadamente pertence à segunda fase, de manual6), aqui, ao contrário, ele desenvolve um pro-
na qual ele mudou significativamente seu modo de escre- cesso contínuo e cheio de contradições (sistematicamente
ver: a experiência das micro-histórias e o ensaio sobre San evidenciadas nas notas).
Francesco dela Vigna 4 tiveram um papel importante pelo A pesquisa é apresentada como um canteiro de obra:
180 181
assim o autor declara sempre suas fontes mas, também 9. Em síntese, parece-me que a questão que está su-
suas referências bibliográficas em colóquios à distância bordinada a esta iniciativa seja: por que reler, hoje em dia,
com outros autores (Settis, Cozzi, Elam, Concina) com os os textos de Tafuri?
quais dialoga para seguir adiante. Uma comparação que Para responder a tal questão, além das observações
tende a criar uma “escola”. feitas acima, gostaria de insistir em pelo menos três
Com muito mais força do que na primeira fase, ele evi- inputs que hoje representam grande ‘modernidade’:
dencia a dimensão urbana da arquitetura: isto é, constrói — A utilização do desenho como instrumento de inter-
um sistema onde a cidade não é o contexto mas a prota- pretação historiográfica;
gonista do discurso em um conjunto de modelos científi-
— O uso contemporâneo da filologia (cruzar documen-
cos, literários e de comportamento dos estratos sociais.
tos de diferentes procedências e de fontes de segundas e
Além disso, declara a necessidade de se exprimir atra- terceiras mãos: multiplicação de técnicas e de linguagens
vés do desenho: além do uso dos desenhos de projeto, incomunicáveis; não existe nenhuma noção unitária pos-
a devolução de partes de cidade e das intervenções das sível; a função do historiador, na falta de uma estrutura
quais fala constituem uma fonte importante (bem mais do subordinada, não é aquela hermenêutica, ao contrário, é
que na fase anterior). E, no momento em que o desenvol- aquela de produzir significado; em consequência, a recom-
vimento das técnicas multimídias de representação não posição dos fragmentos das histórias estudadas produz
poderia sequer ser imaginado, ele se abre a uma reflexão sentido (provisório e ligado aos traçados significativos dos
fundamental para nós sobre o uso necessário, hoje em dia, acontecimentos): todavia, o historiador não tem o direito
desses modos de acompanhar a narração escrita. de inventar;
Deve-se, porém, destacar ainda que, apesar da com- — A importância dos momentos de crise, como os mo-
plexidade e do peso dos muitos atores considerados, nos mentos de bom senso: são aqueles em que o exercício do
estudos de Tafuri o peso maior é sempre atribuído ao ob- historiador se manifesta de maneira significativa, refor-
jeto arquitetônico, com suas qualidades específicas e tam- çando os pontos de passagem, isto é, de descontinuidade.
bém construtivas: existe uma “beleza” na arquitetura do
século XVI que o autor não encontra na contemporânea e,
portanto, é menos interessante falar desta última. A história da cidade. Veneza e o Renascimento nos es-
tudos de Manfredo Tafuri e de sua Escola.
Veneza, Universidade Vêneta, 6 de novembro de 2012
182 183
Donatella Calabi 2. Gostaria de me aprofundar brevemente na etapa
intermediária que também me parece aquela que marca
uma reviravolta importante nos estudos desse autor. As-
1. Durante um período bem dilatado, Manfredo Tafuri
sim gostaria de propor a vocês algumas reflexões sobre
publicou muita coisa sobre a cidade de Veneza no Renas-
Veneza e o Renascimento que, por um lado constitui uma
cimento: desde o livro sobre Sansovino, editado pela pri-
referência obrigatória para a historiografia veneziana e,
meira vez em 19697 ao capítulo sobre a comparação entre
por outro para aquela relativa à arquitetura do Renasci-
as cidades em Ricerca del Rinascimento em 19928: 23 anos
mento: de fato, não se trata de um texto ‘neutro’ no que
de atividade científica, nos quais os seus modos de fazer
diz respeito tanto a um quanto a outro dos dois campos
história se modificaram consideravelmente.
de estudo.
Entre essas duas etapas, merecem atenção especial a
A finalidade prioritária do livro é eliminar – na medida
micro-história sobre San Francesco della Vigna9 e Veneza
do possível – uma série de preconceitos existentes em
e o Renascimento [Sete histórias sobre a arquitetura ve-
relação à história da arte; assim, pretende livrar a história
neziana na idade do renascimento]10.
da arquitetura e das transformações urbanas do ‘gueto’
O período que proponho levar em consideração é bem onde foi confinada por alguns de seus cultores. Esta já
longo, se considerado em relação ao ritmo com o qual é uma declaração polêmica e é necessário começar por
foi desenvolvido o debate sobre ambos os sujeitos des- aqui. Partindo da hipótese da necessidade de entrecruzar
ta minha reflexão (a cidade de Veneza e ahistoriografia muitas histórias, cada uma dotada de suas próprias técni-
da Arquitetura do período dos séculos XV – XVI). Os dois cas de análise, a protagonista do livro se torna necessaria-
temas viram uma quantidade extraordinária de textos e mente a sociedade veneziana em seu conjunto, mesmo se
publicações e a consequente revisão de algumas formas o tema permaneça o da arquitetura que a própria cidade
de interpretação. quis, produziu, permitiu ou recusou, segundo os casos. O
recorte temporal examinado é aquele que vê a integração
da abertura cultural em direção ao humanismo, com as
7 Jacopo Sansovino e l’architettura del ‘500 a Venezia, Venezia, Marsilio 1969. vozes mais insistentes de um novo sentimento religioso e
8 Ricerca del Rinascimento. Principi, città, architetti, Torino, Einaudi 1992.
com algumas tentativas importantes de renovação políti-
9 (com Antonio Foscari), L’armonia e i conflitti. La chiesa di San Franceco della
Vigna nella Venezia del ‘500, Torino, Einaudi 1983 ca: um longo Renascimento.
10 Venezia e il Rinascimento, Torino Einaudi, 1985; Venice and the Renaissance, Algumas interrogações parecem presentes em todas as
MIT Press 1989
184 185
páginas do volume: o que significa a cidade, sua configu- exaltação da superioridade do centro lagunar, diante da
ração espacial para um equilíbrio político e o que significa suposta continuidade de algumas de suas escolhas e da
receber especialistas (em especial, arquitetos ou enge- ostentação de sua ‘diversidade’ em relação aos outros Es-
nheiros) de uma cultura diferente da própria, nascidos e tados europeus (assim enfatizada em todas as Histórias
formados em outra cidade (Firenze, Roma), os quais, imi- de Veneza), definitivamente, diante da capacidade mitifi-
grando, se encaixam em tradições fortes e consolidadas? cada de conservar a liberdade, a justiça, a paz, a seguran-
Em uma cidade tão caracterizada pela morfologia do lugar ça, o historiador só pode ser desconfiado. Mais do que o
e pela própria história, como Veneza, de que maneira são anunciado equilíbrio alcançado, são as contradições e os
recebidas as mudanças mais significativas feitas na forma problemas não resolvidos que o deixam curioso. E é exata-
das edificações: igrejas, edifícios, monumentos, rearticu- mente à luz desses aspectos que Tafuri revê o que já tinha
lações dos espaços mais famosos (como a Catedral de San ‘olhado’ anteriormente: agora, a pretensão é ir ‘além’ do
Marco)? Portanto, o livro tem a ambição de introduzir a que os olhos mais atentos ou exercitados possam perce-
arquitetura e as estratégias urbanas realizadas pela Se- ber, interpretando as razões de escolhas não concretiza-
reníssima como considerações necessárias para entender das, de decisões não tomadas, de resultados apenas par-
a sociedade veneziana e vice-versa; exatamente como o ciais que também se referem à arquitetura e a explicam.
direito, a economia, a religião ou a política que só podem Por isso, deve-se duvidar da aparente estabilidade do
ser compreendidos inseridos na sociedade que os quis e próprio objeto de pesquisa, sem esquecer a complexida-
que, pelo menos em parte, os realizou. de das políticas venezianas; duvidar também dos próprios
Para Tafuri, voltar a estudar, após muitos anos e de instrumentos relendo, reinterpretando, reconsiderando
maneira tão ampla, a figura de Jacopo Tatti e o contex- fontes escritas e desenhadas, documentos, cartas de ar-
to no qual suas arquiteturas foram realizadas, assume um quivo, crônicas, memórias históricas, anais, relatórios, po-
significado bem preciso: não é tanto uma revisão crítica emas, tratados e, obviamente, fazendo um levantamento
de algumas funções, nem a leitura diferente de alguns dos edifícios construídos; é necessário entender regulari-
detalhes arquitetônicos que parecem interessar ao autor, dades e irregularidades, ordens e imperfeições não ape-
(mesmo se nesse caso, ele parece particularmente meti- nas a partir das lógicas internas ao projeto arquitetônico.
culoso) quanto a vontade de situar a própria análise em Nem todos os episódios narrados neste livro nasceram
um quadro historiográfico totalmente diferente. assim: alguns, entre aqueles particularmente significati-
Diante da riqueza de imagens, mas também com a vos para o estudo das transformações em Veneza, recen-
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temente já tinham sido examinados. E não só pelo pró- E. Concina, A. Foscari, P. Morachiello e eu mesma, como
prio Tafuri (em alguns artigos de revista11, e outros textos também de muitos jovens (Manuela Morresi, Andrea Guer-
além dos supracitados) mas também por outros estudio- ra e outros),17 que iniciaram e amadureceram seu iter de
sos12, em ensaios escritos a duas mãos em quatro ou mais formação no Departamento de História da Arquitetura. Da
mãos13 ou por estudantes em trabalhos de graduação14. mesma forma, não há dúvida de que, nessa fase, Manfredo
Isto é, existia uma grande quantidade, ainda que fragmen- Tafuri teve como interlocutores alguns dos historiadores
tária, de pesquisas específicas e de conhecimentos (sobre sociais, da política e das instituições que se questiona-
o Arsenale della Repubblica15, a ponte de Rialto, as fábri- vam sobre questões historiográficas de grande amplitude
cas mercantis no entorno de San Giacomo16, as prisões em (refiro-me a Carlo Ginzburg, a Marino Berengo, a Gaetano
Riva degli Schiavoni, o papel exercido em algumas igrejas Cozzi)18.
por alguns personagens, as habilidades de muitos mem- O livro compõe-se de sete capítulos, dedicados a sete
bros da família Proti). grupos de acontecimentos: iniciativas, personagens en-
Sem correr o risco de ser desmentida, acredito poder volvidos, projetos, realizações ou batalhas perdidas. Cada
dizer que o autor se envolveu com a capacidade de reuti- um se apresenta (do ponto de vista narrativo) como uma
lizar e repensar, em conjunto, as pesquisas realizadas por unidade, com um início, um desenvolvimento e conquis-
tas. Portanto, sete histórias. São elas: 1. A mentalidade
11 Como exemplo de um debate que existia entre a filologia e compromisso
politico cultural, ver La chiesa di Santa Maria Maggiore a Venezia: un’ipotesi per dos aristocratas em relação ao problema da edificação; 2.
Tullio Lombardo, in “Arte veneta”, n° 40 (1986) e as notas em Venezia, città del
Moderno, “Rassegna” n° 22 (1985).
A reconstrução da igreja de San Salvatore no século XVI;
12 Ennio Concina, La macchina territoriale, Bari-Roma, Laterza 1983; e suces- 3. As preocupações religiosas e sua influência na arquite-
sivamente: Venezia in età moderna, Venezia, Marsilio 1989 cujos estudos preli-
minares já tinham aparecido em uma primeira versão (sobre essas hipóteses
tura; 4. As Escolas Grandi; 5. As interligações entre ciên-
de pesquisa) publicada pela Unesco, Structure urbaine, Venise 1981. cia, técnicas, pensamento alegórico e escolhas formais; 6.
13 Manfredo Tafuri (coordenado por), Renovatio Urbis: Venezia nell’età di An-
drea Gritti (1523-1538), Roma Officina 1984.
17 Ver os primeiros estudos de Manuela Morresi sobre Daniele Barbaro e
14 Muitas teses de graduação (conservadas na Biblioteca do Palazzo Bado- sobre Piazza San Marco (depois publicados. Milano, Electa 1998) e de Andrea
es) entre os anos 1980 e 1990 se relacionavam a figuras nem sempre muito Guerra sobre os Lombardo ou sobre as fachadas de Andrea Palladio.
conhecidas mas significativas de representantes oficiais Proti da República,
ocupados com as obras públicas de construção e manutenção em Veneza no 18 Entre os estudos publicados ou em preparação, mencionados por Tafuri
século XVI como por exemplo, Bartolomeo e Piero Bon, Giorgio Spavento, em suas aulas ou debates no departamento, ver: Carlo Ginzburg e Adriano
Antonio Abbondi. Prosperi, Giochi di pazienza, Torino, Einaudi 1975; Carlo Ginzburg, Il formaggio
e i vermi, Torino, Einaudi 1976; Marino Berengo, L’Europa delle città, Torino,
15 Ennio Concina, L’arsenale della Repubblica di Venezia, Milano,Electa 1984. Einaudi 1999; Gaetano Cozzi (a cura di), Stato, società e giustizia nella Repubbli-
16 Donatella Calabi e Paolo Morachiello, Rialto: le fabbriche e il ponte, 1514- ca Veneta, Roma Jouvence 1981; Gaetano Cozzi, Repubblica di Venezia e stati
1591, Torino, Einaudi 1987. italiani, Torino, Einaudi 1982.
188 189
O projeto de Alvise Cornaro para a bacia de São Marco; 7. língua, e instâncias de novidade política e comercial entre
A renovação e a crise da segunda metade do século XVI. Veneza, a Europa e o Mundo Mediterrâneo. As cartas fo-
Porém, rapidamente, o leitor percebe que se trata de ram totalmente embaralhadas.
sete pedaços da mesma constelação, atravessados pelas Sob o ponto de vista das técnicas utilizadas, a filologia
mesmas vontades, mesmos desejos, mesmas incertezas da aqui domina de maneira quase obsessiva: um amor que,
sociedade veneziana; os grupos, as famílias, os indivíduos contemporaneamente, se exercita sobre os documentos
que a compõem têm comportamentos análogos, resistên- de projeto, as decisões, os personagens, os laços fami-
cias iguais em relação às construções e ao decoro urbano. liares, quase como se tratasse de estabelecer uma nobre
Para alguns, a recusa da exibição individual corresponde competição com os outros historiadores (os “verdadeiros
a uma aspiração à igualdade e à simplicidade dos ances- historiadores”) e obter uma legitimação. Expressão de
trais; para outros, as escolhas de renovação, interessadas uma recusa sistemática de qualquer mecanicismo, o livro
na linguagem “romana” são uma manifestação de abertura rompe qualquer tipo de relação automática entre causa e
a studia humanitatis. Mas nem sempre os primeiros identi- efeito e, assim, se torna uma referência para a historio-
ficam um gesto de pura conservação, dirigido ao passado grafia veneziana – e não só da arquitetura – recente. Mas
e, os segundos, um ato de inovação radical. O autor nos também por essas características, é um livro difícil, inten-
leva a descobrir que os motivos em favor de uma lingua- cionalmente difícil. Se o assunto abordado não se desen-
gem arquitetônica pobre, ligada ao reformismo religioso volve segundo concatenações elementares, a estrutura do
e cultural levam, principalmente, a uma intenção de reno- raciocínio não pode ser explicitada segundo um esquema
vação dentro da tradição; e que a adoção de referências muito simples ou modelos lineares e a linguagem – por
‘romanas’, ao contrário, só pode seguir paralelamente à sua vez – densa de alusões, evita expressões redutivas
aceitação da presença da igreja, portanto, do papa e de com comunicações diretas ou imediatas.
suas autoridades constituídas. Venezia e il Rinascimento é também um texto ampla-
mente ilustrado: gravuras, desenhos inéditos ou já pu-
7. Já discutidas nos primeiros capítulos, algumas ca- blicados, retratos ou pinturas de cenas alegóricas, belas
tegorias caem definitivamente: não existem coincidên- fotografias das edificações estudadas acompanham e co-
cias ou analogias fáceis entre conservadores e defesa das mentam a sucessão dos argumentos tratados.
tradições ou, vice-versa, entre inovadores da ciência e da
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8. O último livro de Tafuri Pesquisa do Renascimento dológica exatamente daquela sugestão.
[Ricerca del Rinascimento], é quase um testamento espiri- Em outras palavras, para todos nós tratava-se de acei-
tual, cujas ilustrações foram revistas (e com dificuldade) tar o convite de Manfredo Tafuri quando, ao analisar a Flo-
no hospital antes de ele ser operado nos Estados Unidos: rença laurentina, a Roma de Leão X, a Veneza do Dodge
um livro muito denso, complicado, ansioso em transmitir Grittie e a Milão de Ludovico, o Moro, solicitava “multi-
mensagens e sugestões. Em especial, o capítulo onde ten- plicar as análises comparativas para evitar, junto com as
ta fazer uma comparação entre Florença, Roma, Veneza generalizações, o limitar-se a estudos bairristas”. Para al-
(com algumas reflexões sobre Milão) foi uma contribuição guns de nós, do Departamento de História da Arquitetura,
fundamental para alguns de seus alunos. mesmo recentemente, os estudos realizados também que-
Aqui, quero chamar atenção para o tema da cidade rem ser uma proposta de metodologia e um pedido para,
(que é apenas um capítulo do livro) e à necessidade da por um lado, ampliar as pesquisas e, por outro, continuar
pesquisa comparativa, como também à falta de trabalhos no binário em parte já traçado.
aprofundados nesse setor, retomado com força por Tafuri. Portanto, história local e história comparada: ambas se
Esta sugestão levou outros pesquisadores a prosseguirem apresentam como duas fases, ambas necessárias na histó-
na mesma direção (e, aqui me limito a citar a questão da ria da cidade. Esta última é definida como um campo de
sua Escola, à qual me referi no título da minha interven- estudos que impõe uma passagem alternada das fases de
ção). A Escola de Tafuri é bem mais articulada do que a pesquisa específica, local, quase obsessiva para aprofun-
parte à qual aqui me refiro porque suas ideias foram mui- dar as características individuais do lugar pesquisado, a
tíssimas. Mas, há um pequeno trecho (exatamente aquele fases nas quais se descobrem analogias e diferenças com
que trata da cidade) que, no meu ponto de vista, é extre- episódios similares, nos quais se modificam os pontos de
mamente reconhecível. vista utilizados e a escala dos objetos observados.
Alguns estudos, como o meu sobre os espaços dos mer-
cados nas grandes cidades europeias, mas também como
os textos dos mais jovens – sobre as praças das cidades
da Itália centro-setentrional, ou sobre as transformações
urbanas das pequenas senhorias da Itália padana, (região
do vale do rio Pó) , ou sobre as pequenas cidades vênetas
– adquiriram muita energia e a própria abordagem meto-
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riodi storici che ha trattato nei suoi lavori) inquietano il suo
presente.
Gli scritti di Tafuri sul Rinascimento Frammentismo e scomparsa di ogni telos sono condizio-
ni epocali del presente, in un totale ribaltamento dei valo-
ri dell’età moderna. Silenziosamente i protagonisti dell’arte
contemporanea – da Klee a Le Corbusier- hanno fatto del
frammento e dell’assenza dell’universo i motivi profondi di
riflessione sulla totalità e sulla pienezza del senso. Il Sea-
Manfredo Tafuri si è occupato di Rinascimento a più ripre- gram Building di Mies o il Campidoglio di Chandigarh non
se, fin dalla fine degli anni Sessanta, al punto che possiamo interrogano forse i principi della razionalità europea?
affermare che questa fase della storia lo ha appassionato in Essi si volgono indietro, afferma Tafuri, tentando un dia-
modo particolare1. Occorre anche sottolineare però che nei logo con l’età della rappresentazione (appunto il Rinascimen-
suoi scritti la cronologia del Rinascimento non è mai data per to).
scontata; spesso il quadro di riferimento è quello del lungo Eppure nessuna attualizzazione verrà mai proposta dallo
Medio Evo delle Signorie territoriali dell’Italia di antico regi- stesso storico al lettore. Qui, egli cita come ancora validi i
me e degli esperimenti assolutisti e delle superstiti Repubbli- presupposti del suo scritto su Teoria e storia: la necessità cioè
che oligarchiche. E’ certo tuttavia che egli privilegia un arco di evitare ogni forma di anacronismo, che costituisce poi la
temporale compreso tra Quattro e Cinquecento. base stessa del suo ‘ fare Storia’2.
Né è scontata l’analisi dei paradigmi che guidano i nuo-
vi comportamenti del XV e XVI secolo, condizionandone il
2. Tafuri sente il bisogno di spostare continuamente il
consumo.
punto di osservazione: dal contesto politico, ai manufatti
Ma è chiaro che per l’autore di cui ci stiamo occupando architettonici e ai suoi attori (committenti, architetti, mano
i problemi irrisolti del passato (e questo vale per tutti i pe- d’opera esecutiva). Ad esempio, nel capitolo che vorrei pren-
dere in esame con particolare attenzione, cioè il III dell’ul-
1 Manfredo Tafuri, Jacopo Sansovino: e l’architettura del ‘500 a Venezia, Marsilio.
Padova 1969. 2 Manfredo Tafuri, Teorie e storia dell’architettura, Bari. Laterza, 1968.
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timo suo scritto, quasi un testamento, Ricerche del Rinasci- altro grande storico, Marino Berengo, parla dell’Europa delle
mento, intitolato “Principi, città, architetti”, il tema è: come città, senza porsi il problema di definire il Rinascimento, ma
muta l’uso politico della città? Quali ne sono i protagonisti? parlando invece di “Età moderna”; si occupa anche lui di pro-
Quali i conflitti? tagonisti, di conflitti, di strutture di governo e ha analoghe
L’autore dà per noti gli strumenti gestionali del medio ambizioni comparative. Faccio questo riferimento perché in
Evo (statuti, regolamenti, magistrature, convenzioni, tenden- entrambi i casi si tratta di grandi studiosi della città, che
ze di gruppi dominanti) e si chiede come si modifica questo indagano sostanzialmente sulla stessa epoca storica, ma il
complesso di strumenti tra XV e XVI secolo, quando entrano loro approccio è radicalmente diverso. Questo ci permette di
in campo nuovi protagonisti, nuove rappresentazioni, nuovi rilevare nelo caso che ci interessa in questa sede fino a che
soggetti politici? punto l’occhio, la conoscenza approfondita di linguaggi ar-
chitettonici abbia condotto la lettura della Storia da parte
Nwello stesso tempo egli sottolinea l’importanza delle
di Tafuri.
resistenze: il movimento di trasformazione può essere molto
lento. E qui pone una questione fondamentale , quella del Tornando al quale va sottolineato un obiettivo importan-
pericolo per uno storico dell’uso di neologismi. te che egli dichiara per il suoi lavoro: “moltiplicare le anali-
si comparate, onde evitare, insieme alle generalizzazioni, la
3. Nell’avviare una comparazione tra situazioni differenti,
chiusura in studi localistici.
cioè tra campioni che ha scelto per ragioni analogiche (la
Firenze di Lorenzo il Magnifico, la Roma di Leone X) e altri
per diversità (Venezia fra XV e XVI secolo, Milano sforzes- 5. Vediamo ora i singoli casi:
ca, Genova del 500), Tafuri dichiara subito la sua intenzione a) La Firenze Laurenziana: qui il quesito principale è il
di evitare astratte tipologie: ciò che intende fare è un’ana- seguente: è possibile riconoscere una strategia medicea tra-
lisi di situazioni concrete, una volta precisati i parametri di mandata da Lorenzo il Magnifico al figlio quando diventa
confronto: e cioè i differenti significati politico-economici, i papa e dunque governa a Roma?
gruppi di potere protagonisti e antagonisti (contro i quali si
Tafuri esplicita subito la sua bibliografia fondamentale:
dirigono le scelte di governo), gli strumenti e le istituzioni, i
Chastel, Gombrich, Goldthwaite, Kent, Elam.
valori in relazione a rappresentazioni ideali consolidate.
Esiste una relazione tra la febbre edilizia del tardo Quat-
trocento e l’intervento pianificato e parzialmente realizzato
4. A mio modo di vedere va rilevato qui un problema sto- di Lorenzo? La febbre era l’esito di una legge di esenzione
riografico: egli non dice quasi nulla del contesto europeo, che fiscale per case costruite in un certo periodo: la volontà di
quasi non esiste nella sua analisi: in anni molto vicini un incrementare gli immobili di affitto per far fronte alla spin-
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ta demografica. Del provvedimento è responsabile Lorenzo Allora pone il problema dei legami fra Lorenzo e Giuliano da
(come testimonia Machiavelli). Esistono altri testimoni circa Sangallo.
l’apertura di via Laura e di case realizzate per ottenere in- E poi fa ancora un salto di scala: per esaminare le scelte
centivi finalizzati a ulteriori interventi. Si tratta dunque di del Magnifico a livello territoriale, descrivendo la realizzazio-
un interesse privato che coincide tuttavia con il bene dei ceti ne della Sapienza a Pisa, della Rocca Nuova di Volterra, della
poveri e medi: il “ bel disegno” del Magnifico prevede cioè città fortificata di Poggio imperiale.
un quartiere per ceti medi e artigianali in un’area periferi-
Insiste sulla modestia formale in città (il Magnifico affida
ca, con interventi edilizi modesti in armonia col programma
la propria fama di regista del rinnovamento urbano non alla
complessivo.
forma del nuovo tessuto, bensì ai fulcri religiosi e monumen-
Ma occorre guardare l’episodio da un’altra prospettiva tali di carattere pubblico, al convento di San Gallo, a quello
(più larga) alla luce della fiducia che aveva deciso dell’allar- delle Murate, al concorso per la facciata della Cattedrale, al
gamento trecentesco della città e della crisi che aveva pro- progetto per la piazza dell’Annunziata, alla sagrestia di San-
vocato un’inflazione di spazi residenziali dopo la peste del to Spirito, a Poggio imperiale. Giustamente nella sua opera a
1348. Lorenzo on le sue operazioni sembra indicare ai fioren- livello urbano e territoriale è stata letta una gamma di stru-
tini che l’ottimismo del Trecento è di nuovo attuale. Contem- menti differenziati: al prestigio formale per gli interventi nel
poraneamente l’iniziativa, di basso profilo formale, corrispon- centro consolidato, si contrappone l’addizione.
de a un‘idea di decoro disinteressata all’affermazione di casa
Quindi non astratte teorie, ma l’uso di più modelli se-
Medici, sollecita piuttosto al bene pubblico.
condo il criterio della convenienza. Nel sistema commerciale
Un’altra legge (1478) con l’acquisto di aree in via dei Servi fiorentino il Magnifico appare come primus inter pares, indi-
e in piazza dell’Annunziata fa pensare ad un “piano” per la cando investimenti tesi a mediare benefici pubblici e privati.
ristrutturazione di Firenze (compresa l’idea del foro all’antica
b) la Roma di Leone X: Il progetto di Giuliano da Sangallo
con un portico di fronte a quello degli Innocenti in piazza
per un palazzo per Leone X in capo a Piazza Navona con
dell’Annunziata). Ma a questi progetti non fanno seguito re-
il portico con l’ordine gigante che assume la piazza come
alizzazioni immediate. Dopo la Congiura dei Pazzi (che può
vestibulum. L’associazione piazza – palazzo, che corrisponde
averne causato l’interruzione) solo via Laura viene realizza-
alla scelta di insediarsi nel cuore della Roma antica, con un
ta. Il piano di espansione (quello appunto di via Laura) sem-
urbs medicea, rinvia al palatium costantiniano di Bisanzio
bra anzi concepito in alternativa a quello di ristrutturazione
(riferimenti al palazzo imperiale, in cui la piazza corrisponde
dell’esistente (di via dei Servi e di piazza dell’Annunziata).
all’ippodromo dell’antica Costantinopoli). E’ una simbolica
A questo punto Tafuri cambia di nuovo registro e valu- scelta di instauratio imperii per sostenere che il programma
ta le capacità e le competenze architettoniche di Lorenzo. leonino elimina ogni carattere privato: è una piazza pubblica
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sorta su un autentico stadio antico, coerente con l’immagine vello europeo: Roma è la capitale artistica e letteraria della
che Leone X costruisce di sé: papa pacifista, virtuoso, capace Res Publica e deve avere un ‘università congruente. Dunque
di conquistare la fiducia e l’amicizia di Erasmo da Rotterdam, un o studio internazionale (che si riflette nella planimetria
attento ai bisogni pubblici e al bene dei cittadini (per altro sangallesca)= e dimostra la centralità dello studio nell’urbs
nell’espansione di Roma e nella creazione di attrezzature as- medicea (al di là di ciò che viene effettivamente realizzato.
sistenziali). Insomma, l’ipotesi è quella di una stretta relazione negli in-
Riferimenti bibliografici alle interpretazioni di Settis e di tenti leonini, fra la creazione di un sistema urbano regolari-
Ackerman. zzato con epicentro nel dominio nel binomio piazza Navona
– palazzo mediceo e studio. Il luogo – centro del sapere eu-
Poi cambia lente di ingrandimento: osserva l’episodio più
ropeo si istalla al centro di un rinato Campo Marzio. Fautore
da vicino. Il palazzo nelle sue relazioni con lo Studio (l’uni-
il papa come imperatore del binomio palazzo – circo. L’inter-
versità su una via tangente e la chiesa di San Giacomo degli
nazionalità è sancita dalle chiese degli stranieri = Renovatio
Spagnoli fra i due palazzi medicei): una simmetria tra piazza
dell’antico centro imperiale.
Navona e quella che avrebbe dovuto essere realizzata c on
la chiesa di san Luigi dei Francesi, con il palazzo mediceo al E’ una politica di magnificenza e alleanza del papato con i
centro, per fare il quale si prevede la demolizione di un intero ceti più ricchi: sono fenomeni complementari. Poi l’abbando-
blocco edilizio. La nuova piazza della Dogana è regolarizzata no della magniloquente utopia urbana: è una colossale opera
in forma di rettangolo. non finita. Le ragioni dell’abbandono si possono trovare nella
crisi economica, nella morte di lorenzo, ecc.
Le strategie di altri papi già dal 1303 (Bonmifacio VIII
che aveva fondato la Sapienza come emanazione del potere Ma c’è chi realizza il sogno leonino più di un secolo dopo:
pontificio fuori da Trastevere; Eugenio IV che con bolla ne è Innocenzo X che riprende la metafora imperiale.
aveva affidato il controllo a 3 ecclesiastici e aveva posto le Con il solito sistema di cambiare registro, cambiando la
premesse finanziarie per la realizzazione di un collegio per lente di osservazione, Tafuri esamina gli ulteriori problemi
gli studenti e poi Alessandro VI Borgia che stanzia denari per posti dal progetto leonino nei confronti del Pantheon: il dis-
i lavori necessari per l’isolamento ndell’edificio con l’apertu- corso si allarga dal disegno U 7949 all’intero centro della
ra dell’attuale via. Ma lo studio tardo quattrocentesco non è città, per richiamare le scelte dei papi precedenti, il peso dei
monumentale (sono in mano ai privati le aree su piazza della documenti (gli statuti dei Maestri di Strada, le pratiche (i cor-
dogana). tei festivi) come funzioni importanti della piazza e università
Con bolla del 1513, Leone X annuncia un’inversione di nel suo peso internazionale, che corisponde all’occupazione
tendenza nei confronti della politica culturale precedente: medicea del Campidoglio.
l’università deve essere potenziata fino a raggiungere un li- Individua dunque una coerenza nei pensieri leonini: gli
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intenti sovradimensionati di Leone X sono però compensati In definitiva si può parlare di uno stile mediceo a Firenze e
da una capacità di adattamento alle circostanze. a Roma.
Poi esamina il significato della realizzazione della Via c) Venezia: L’emergere di diversi protagonisti: le figure
Leonina (le anticipazioni di tale strada): non è una novità. istituzionali sono diverse: concetti portanti come lo “Stato
Nuova è però la forma che essa dà all’espansione di Roma misto”, l’”uguaglianza patrizia”. Il conmtinuo scambio fra fede
convergendo su Piazza del Popolo regolarizzata da raffaello religiosa e identità civica: Venezia è un centro indipendente
e da Antonio il giovane. sia dall’Impero che da roma. La costanza dell’imago urbis e
Altri progetti di Leone X sono la chiesa dei Fiorentini e la sua unicità. Nessuna instauratio, dove l’utopia si considera
la Zecca. già realizzata, ma solo frammenti di renovatio sono pensabili.
Da qui, Tafuri passa all’esame delle rinuncie. Nel progetto Le magistrature sono tutte di origine medioevale: vi è il
sangallesco per il palazzo mediceo e per la regolarizzazione culto della continuità.
della Dogana, come nella Firenze riconquistata dai Medici Un patriziato non immune da conflitti, ma intento a sal-
(con il palazzo di via Laura): contradditorio con l’immagine vaguardare il mito della concordia su cui si fonda l’idea di
che Lorenzo aveva pazientemente costruito. Stato armonico.
Riassumendo: a Roma un ampliamento che mette a dis- Nulla di più lontano da Roma e da Firenze.
posizione della speculazione fondiaria vaste aree libere; una La legge sul decoro urbano del 1535 e il riordino delle
via leonina che ha come poli le due opere di pubblica utilità leggi, anch’esso fallito: sono due iniziative volte al riordino
(l’ospedale di san Giacomo e lo Studio); una forma viaria elo- dei rapporti fra pubblico e privato. Il culto della consuetudine
quente; un’esaltazione della comunità fiorentina con l’avvio e della continuità non è conservatore a oltranza.
della chiesa all’estremità sud di Via Giulia. Infine la rinuncia
Mentre a roma solo i luoghi sono ven erandi e disponibili
a segnare trionfalmente la presenza medicea in città: invece
ad assumere significati e configurazioni nuove, a Venezia la
del palazzo la realizzazione di villa Madama, isolata su Mon-
resistenza delle origini perseguiti dai sostenitori dell’autono-
te Mario come Poggio a Caian o che guarda i conflitti urbani
mia veneziana assume connotati tragici che rendono proble-
(immagine dell’otium umanistico e della tradizione culturale
matico l’umanesimo veneziano.
medicea). A Firenze, una serie di opere di alta qualità propon-
gono un’immagine anch’essa umanistica, pia, anti-tirannica Esamina casi specifici di ampliamento urbano: ogni am-
di casa Medici. Vi è dunque un’affinità che lega la strate- pliamento comporta imbonimenti che incidono sull’equili-
gia urbana di Lorenzo il Magifico e di Leone X: sono favoriti brio lagunare e sul regime idraulico; il richiamo ad alterare
analoghi ceti; vi è una rinuncia all’esibizione personale nel un’imago complessiva considerata perfetta. Qui alla novi-
cuore delle 2 città, cui corrispondono le 2 ville extra-urbane. tas non è consentito parlare (al contrario che a Roma). La
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mediocritas degli interventi di rinnovamento della punta scelte speculative come quelle compiute dall’architetto Ber-
di Sant’Antonio di castello, delle Fondamente Nuove, della nardino Cantone che dà forma con un disegno elementare di
Giudecca Nuova (1334-1364 e poi della sec onda metà del lottizzazione.
Quattrocento e terminata nel 1503) sono ispirate a una con- Ma la differenza fra Venezia e Genova sta negli edifici
cezione tradizionale dell’assistenza ai poveri. Viene abban- esibizionisti.
donato il modello del grande ospedale (come quello del Fi-
d) la Milano di Leonardo: è un precedente. Un quartiere
larete a Milano che pure era stato preso asd esempio e con
sforzesco per la zona di Porta Vercellina. Di qui alle iniziative
cui c’erano stati degli scambi) cioè il progetto accentrato, per
di Ludovico il Moro a Milano e a Vigevano (oltre che nelle
recuperare invece la concezione tradizionale dell’assistenza,
città del Dominio, Pavia, Cremona, Lodi, Parma.
cioè un sistema frazionato. L’ospedale di sant’Antonio viene
ridotto a struttura per una particolare categoria di cittadini 5. Insomma dall’analisi di un caso, un allargarsi vorticoso
(ex-marinai e lavoratori dell’Arsenale). Si instaura una poli- di centri concentrici.
tica discriminatoria che favoriche i meritevoli e le persone Milano e Genova mostrano la loro diversità da Venezia,
particolarmente interessanti per il governo, lasciando alle ma questo è verificabile solo su esempi specifici. Occorre
Scuole Grandi i compiti assistenziali di raggio più limitato. prendere in esame allora la realizzazione delle Fondamente
L’esperienza milanese è respinta. Nuove, dove diverse da ciò che è stato fatto negli stessi anni
Anche a Venezia si cercano strategie relative alla cos- a Genova sono le strategie e le mentalità, oltre che i sistemi
truzione di nuove case per i ceti bassi (ci sono disergni per istituzionali. E solo dai casi specifici è possibile trarre consi-
sant’Antonio di Castello), ma non strategie definite; invece un derazioni di ordine generale.
acavallarsi di progetti e un oscillare di volontà innovative e Per esempio il fatto che nei momenti critici emergono
ripiegamenti su politiche collaudate e tradizionali; un intrec- motivi che illuminano mentalità, conflitti, resistenze: e qui
cio di interessi pubblici e privati. Le addizioni di Venezia non Tafuri aggiunge una notazione quasi braudeliana (anche se a
possono innovare il significato globale della città. Si inseris- Braudel non fa riferimento esplicito) affermando che le fles-
cono silenziosamente nelle maglie di un organismo sentito sioni nelle storie di lungo periodo sono da considerare come
come eredità. eventi eloquenti.
Altri esempi sono le urbanizzazioni promo sse dalle Scuo- 6. E le conclusioni: “abbiamo selezionato alcuni episodi
le Grandi di san Marco, di San rocco, le Fondamente Nuove. nel tentativo di mettere a fuoco uno o più metodi comparati-
Anche quest’ultimo caso avrebbe potuto essere un’occasione vi, atti a collegare e a disgiungere coacervi di scelte diversa-
per concentrare nuove residenze patrizie di qualità, un’occa- mente motivate. Tale tipo di analisi è soltanto uno dei molti
sione eloquente come la Strada Nuova di Genova: frutto di possibili. Altri interrogativi potrebbero integrarsi a quelli
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posti: le normative, le scelte dei ceti intermedi, le consuetudi- 1999;
ni, le magistrature vecchie o di nuove istituzione…? Ulteriori Christoph Liutpold Frommel, The architecture of Italian
analisi comparate potranno affrontarli”. Renaissance, London, Thames & Hudson, 2007;
A mia volta, concludo questo breve excursus proponen- Howard Burns, Andrea Palladio, 1508-1580: The portico
dovi allora un tema di lavoro che in qualche modo lo stesso and the farmyard : catalogue, Londres, Arts Council of Great
Tafuri aveva –secondo mesottinteso e proposto lui stesso: Britain, 1975.
Potremmo cioè cercare di capire se e come i suoi studi
abbiano fatto ‘scuola’, esplorando bibliografie di allievi vicini
7. E per finire vorrei proporre alcuni spunti di discussione,
e lontani e anche di colleghi con i quali ha collaborato.
che riguardano gli studi tafuriani sul Rinascimento (l’argo-
mento di questa sessione), ma più in generale la sua impos-
D. Calabi, Il mercato e la città, Venezia, Marsilio 1993; tazione circa la Storia della città e dell’architettura.
D. Calabi (a cura di): Fabbriche, piazze, mercati: La città Credo che si possa rilevare una discreta discontinuità fra
italiana del Rinascimento, Roma 1998; due fasi nell’opera di questo autore. Come testo esemplare
S. Zaggia, Una piazza per la città del Principe, Roma, Of- della prima fase, citerei prima di tutto il volume monografico
ficina; su Jacopo Sansovino3, ma anche il volume sul Manierismo. Il
libro che qui ho analizzato più in dettaglio appartiene invece
E. Svalduz, Da castello a città: Carpi e Albertto Pio, Roma,
alla seconda fase, in cui è cambiato in modo significativo il
Officina;
modo di raccontare: l’esperienza delle Microstorie e il saggio
E. Svalduz, L’ambizione di essere città, Venezia, Istituto su San Francesco della Vigna4 vi ha giocato un ruolo non
Veneto di Scienze, Lettere ed Arti 2004; piccolo, se non altro per gli aspetti seguenti:
Svalduz, Zaggia, Moretti, Brucculeri, Vertecchi, Fare la cit- — il racconto vi è tenuto spesso in sospeso come se si
tà, Milano, Bruno Mondadori, 2005; dovesse scoprire l’assassino;
V. Zanchettin, Via di Ripetta e la genesi del Tridente. Stra- — l’importanza delle note, che costituiscono quasi una
tegie di riforma urbana tra volontà papali e istituzioni laiche,
Romisches Jahrbuch Der Bibliotheca Hertziana, 2005;
3 Manfredo Tafuri, Jacopo Sansovino: e l’architettura del ‘500 a Venezia, Marsilio.
Manuela Morresi, Piazza San Marco: Istituzioni, poteri e Padova 1969.
architettura a Venezia nel primo Cinquecento, Milão, Electa, 4 Manfredo Tafuri, Antonio FoscarI, L’armonia e i conflitti: La Chiesa di San Fran-
cesco della Vigna nella Venezia del ‘500, Torino, EinaudI, 1983.
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storia parallela, delineando un vero e proprio estremismo fi- del discorso in un insieme di modelli scientifici, letterari, di
lologico; c’è un affollamento di persone e di mentalità, anche comportamento di ceto.
se poi ne mancano alcune fondamentali (per esempio i mer- Dichiara inoltre con forza la necessità di esprimersi con il
canti a Venezia; le corporazioni e le arti a Venezia, Firenze, disegno: la restituzione delle parti di città e degli interventi
Roma); di cui parla, oltre che l’uso dei disegni di progetto costituisco-
— un approccio psicologico (come se l’autore potesse ri- no una fonte importante (molto più che nella fase preceden-
costruire l’atteggiamento psicologico dei suoi personaggi ris- te). E apre, in un momento in cui lo sviluppo delle tecniche
petto a fede, stile di vita); multimediali di rappresentazione non poteva neanche essere
— un approccio sostanzialmente italo-centrico. Ricerche immaginato, ad una riflessione per noi fondamentale circa
del Rinascimento, come già Venezia e il Rinascimento5, fa l’uso oggi necessario di questi modi di accompagnare la nar-
parte (e conclude) il ritorno di Tafuri al Rinascimento, dopo razione scritta.
un luinmgo periodo dominato dai suoi interessi per il XX se- Va tuttavia anche sottolineato che, malgrado la comples-
colo e in particolare per il periodo tra le due guerre. Se è vero sità e il peso dei molti attori considerati, negli studi di Tafuri
che ci sono state opere in cui l’autore ha presentato una sto- il maggior peso è sempre attribuito all’oggetto architettonico
ria compatta (con carattere quasi manualistico 6), qui invece con le sue qualità specifiche anche costruttive: c’è del ‘ bello’
egli sviluppa un processo continuo e pieno di contraddizioni nell’architettura del Cinquecento, che in quella contempora-
(evidenziate sistematicamente nelle note). nea l’autore non trova e che quindi rende meno interessante
La ricerca vi è presentata come cantiere: così l’autore di- parlarne.
chiara sempre le sue fonti, ma anche i riferimenti bibliografici
in un colloquio a distanza con altri autori (Settis, Cozzi, Elam, 9. In estrema sintesi, mi pare che il quesito che sottosta
Concina) con i quali interloquisce per fare dei passi avanti. a questa iniziativa sia: a che cosa ci serve oggi rileggere gli
Un confronto che tende a far ‘scuola’. scritti di Tafuri?
Egli evidenzia con molta più forza che nella prima fase Per rispondere a tale quesito, oltre che con le osservazio-
la dimensione urbana dell’architettura: costruisce cioè un ni fatte più sopra, vorrei insistere su almeno tre imputs che
sistema in cui la città non è il contesto, ma è protagonista sono a tutt’oggi di grande ‘modernità’:
— l’utilizzo del disegno come strumento di interpretazio-
5 Manfredo Tafuri, Venezia e il Rinascimento, Torino, EinaudI, 1985.
ne storiografica;
6 Manfredo Tafuri, L’architettura dell Umanesimo, Bari, Laterza, 1969 e L’architettu-
ra del Manierismo nel Ciquecento Europeo, Roma, Officina Edizioni,1966.
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— l’uso contemporaneo della filologia (documenti in- del Rinascimento nel 19928: 23 anni di attività scientifica nei
crociati di diversa provenienza e di fonti di seconda e terza quali i suoi modi di fare storia si sono modificati non poco.
mano: moltiplicazione di tecniche e di linguaggi incomunica- Tra queste due tappe, meritano una particolare attenzio-
bili; non c’è una nozione unitaria possibile; la funzione dello ne la microstoria su San Francesco della Vigna9 e Venezia e il
storico, mancando una struttura soggiacente, non è quella Rinascimento [Sette storie sull’architettura veneziana in età
ermeneutica; è invece quella di produrre significato: per con- rinascimentale]10.
seguenza la ricomposizione dei frammenti delle storie stu-
Il periodo che vi propongo qui di prendere in conside-
diate è produttiva di senso (provvisorio e legato alle tracce
razione è abbastanza lungo, se considerato in relazione al
significanti degli eventi): lo storico tuttavia non ha il diritto
ritmo con il quale si è sviluppato il dibattito su entrambi i
di inventare.
soggetti di questa mia riflessione (la città di Venezia e la
— L’importanza dei momenti di crisi, come momenti di storiografia dell’Architettura del Quattro-Cinquecento) che
giudizio: sono quelli in cui l’esercizio dello storico si manifes- hanno entrambi visto una quantità straordinaria di scritti e
ta in modo significativo, sottolineando i punti di passaggio, pubblicazioni e la conseguente revisione di alcune categorie
quelli cioè di discontinuità. interpretative.
2. Vorrei qui soffermarmi brevemente sulla tappa inter-
La storia della città. Venezia e il Rinascimento negli studi media che mi pare anche quella che scandisce una svolta
di Manfredo Tafuri e della sua Scuola importante negli studi di questo autore. Vorrei cioè proporvi
Venezia, Ateneo Veneto, 6 novembre 2012 qualche riflessione su Venezia e il Rinascimento che costi-
tuisce un riferimento obbligatorio per la storiografia venezia-
na, da un lato, e per quella relativa all’architettura del Rinas-
Donatella Calabi cimento, dall’altro: non si tratta, infatti, di un testo ‘neutrale’
né rispetto all’uno, né all’altro dei due campi di studio.
1. Sulla città di Venezia nel Rinascimento, Manfredo Ta- Il libro dichiara come sua finalità prioritaria, quella di
furi ha pubblicato molto, in un arco temporale abbastanza eliminare -per quanto possibile- una serie di pregiudizi che
dilatato: dal libro sul Sansovino edito per la prima volta nel
8 Ricerca del Rinascimento. Principi, città, architetti, Torino, Einaudi, 1992.
19697 al capitolo sulla comparazione tra le città in Ricerca
9 (con Antonio Foscari), L’armonia e i conflitti. La chiesa di San Franceco della
Vigna nella Venezia del ‘500, Torino, Einaudi 1983.
10 Venezia e il Rinascimento, Torino Einaudi, 1985;Venice and the Renaissance,
7 Jacopo Sansovino e l’architettura del ‘500 a Venezia, Venezia, Marsilio, 1969. MIT Press 1989.
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esistono in merito alla storia dell’arte; intende cioè libera- religione, o la politica non possono essere capiti se non nel
re la storia dell’architettura e delle trasformazioni urbane quadro della società che li ha voluti e, in parte almeno, re-
dal ‘ghetto’ nel quale alcuni dei suoi cultori l’hanno di fatto alizzati.
confinata. E già questa è una dichiarazione polemica: da qui Per Tafuri ritornare a distanza di molti anni sulla figura di
occorre cominciare. Partendo dall’ipotesi della necessità di Jacopo Tatti e del contesto nel quale le sue architetture sono
incrociare molte storie, ciascuna dotata di proprie tecniche state realizzate, in modo così ampio, assume un ben preciso
d’analisi, la protagonista del libro diviene necessariamente significato: non è tanto la revisione critica di qualche attri-
la società veneziana nel suo insieme, anche se il tema resta buzione, né una diversa lettura di qualche dettaglio architet-
quello dell’architettura che essa ha voluto, prodotto, consen- tonico, che sembra interessare l’autore (anche se in questo
tito o rifiutato, secondo i casi. La fase temporale esaminata egli risulta particolarmente meticoloso), quanto la volontà di
è quella che vede integrarsi l’apertura culturale verso l’uma- collocare la propria analisi in un quadro storiografico total-
nesimo, con le voci più insistenti di un nuovo sentimento re- mente diverso. Davanti alla ricchezza d’immagini, ma di fron-
ligioso e con qualche tentativo importante di rinnovamento te anche all’esaltazione della superiorità del centro lagunare,
politico: un lungo Rinascimento. alla pretesa continuità di alcune sue scelte e all’ostentazione
Alcuni interrogativi sembrano essere presenti in tutte le di una sua ‘diversità’ rispetto agli altri Stati europei (così en-
pagine del volume: che cosa significa la città, la configurazio- fatizzata in tutte le Storie di Venezia), in definitiva dinnanzi
ne spaziale, per il suo equilibrio politico e che cosa significa alla mitizzata capacità di conservarvi la libertà, la giustizia,
accogliervi esperti (nella fattispecie architetti o ingegneri) di la pace, la sicurezza, lo storico non può che essere diffidente.
una cultura diversa dalla propria, nati e formatisi altrove (Fi- Lo incuriosiscono più le contraddizioni e i problemi irrisolti,
renze, Roma), i quali immigrandovi s’innestano su tradizioni che il conclamato equilibrio raggiunto. Ed è proprio alla luce
forti e consolidate? In una città così caratterizzata dal punto di questi aspetti, che Tafuri rivede quanto aveva già “guar-
di vista della morfologia del sito e della propria storia, come dato” in precedenza: ora, la pretesa è di andare ‘oltre’ ciò
Venezia, in che modo vengono accolte le modifiche più sig- che anche gli occhi più attenti ed esercitati possono cogliere,
nificative apportate alla forma del costruito: chiese, palazzi, interpretando le ragioni di scelte non compiute, di decisioni
monumenti, ri-articolazione dei suoi luoghi più noti (come non prese, di risultati soltanto parziali, i quali attengono an-
San Marco)? Il libro ha dunque l’ambizione d’introdurre l’ar- ch’essi all’architettura e la spiegano Per questo, occorre du-
chitettura e le scelte di strategia urbana compiute dalla Se- bitare dell’apparente stabilità del proprio oggetto di ricerca,
renissima, come considerazioni necessarie per comprenderne senza dimenticare la complessità delle politiche veneziane;
la società e viceversa; proprio come il diritto, l’economia, la dubitare anche dei propri strumenti, ri-leggendo, re-interpre-
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tando, ri-considerando fonti scritte e disegnate, documenti, alcune chiese il ruolo di alcuni personaggi, le competenze di
carte d’archivio, cronache, annali, relazioni, poemi, trattati, e molti proti).
-ovviamente- rilevando gli edifici costruiti; bisogna cioè com- Credo che si possa dire, senza tema di essere smentiti
prendere regolarità e irregolarità, ordini e imperfezioni non che sulle ricerche condotte da E. Concina, A. Foscari, P. Mo-
solo a partire dalle logiche interne al progetto architettonico. rachiello, e anche me stessa, come su quelle di molti giovani
Non tutti gli episodi narrati in questo libro nascono con (Manuela Morresi, Andrea Guerra, altri)17 che, nell’ambito del
esso: alcuni tra quelli particolarmente significativi per lo Dipartimento di Storia dell’Architettura hanno avviato e ma-
studio delle trasformazioni urbane a Venezia erano già stati turato il loro iter di formazione, l’autore si è innestato, con la
recentemente presi in esame non solo dallo stesso Tafuri (in capacità di ri-utilizzarle e ri-pensarle insieme. Come non c’è
qualche articolo di rivista11, oltre che nei testi sopra citati e dubbio che in questa fase Manfredo Tafuri abbia interloquito
in altri), ma anche da altri studiosi12, in saggi scritti a due, a intensamente con alcuni degli storici sociali, della politica
quattro, a più mani13, o da studenti nelle loro tesi di laurea14. e delle istituzioni che si stavano ponendo problemi storio-
Esisteva cioè una mole considerevole, anche se frammenta- grafici di grande respiro (alludo a Carlo Ginzburg, a Marino
ria, di indagini specifiche e di conoscenze (circa l’Arsenale Berengo, a Gaetano Cozzi)18.
della Repubblica15, il ponte di Rialto, le fabbriche mercantili La struttura del libro è costituita da sette capitoli, de-
intorno a San Giacomo16, le prigioni in Riva degli Schiavoni, dicati a sette insiemi d’avvenimenti: iniziative, personaggi
11 A puro titolo di esempio di un dibattito che si muoveva tra filologia e impegno coinvolti, progetti, realizzazioni, o battaglie perdute. Cias-
di politica culturale, vedi: La chiesa di Santa Maria Maggiore a Venezia: un’ipotesi cuno si presenta (anche dal punto di vista narrativo) come
per Tullio Lombardo, in “Arte veneta”, n° 40 (1986) e le note in Venezia, città del
Moderno, “Rassegna” n° 22 (1985). un’unità, con un inizio, uno svolgimento, delle acquisizioni;
12 Ennio Concina, La macchina territoriale, Bari-Roma, Laterza 1983; e successi- dunque sette storie: 1. la mentalità patrizia in rapporto al
vamente: Venezia in età moderna, Venezia, Marsilio 1989 i cui studi preliminari problema dell’edificazione; 2. la ricostruzione cinquecentesca
erano però già comparsi in una prima versione (circa queste ipotesi di ricerca)
pubblicata dall’Unesco, Structure urbaine, Venise 1981. della chiesa di San Salvador; 3. le inquietudini religiose e il
13 Manfredo Tafuri (a cura di), Renovatio Urbis: Venezia nell’età di Andrea Gritti
(1523-1538), Roma Officina 1984. 17 Vedi i primi studi di Manuela Morresi su daniele Barbaro e su Piazza San Marco
(poi pubblicati. Milano, Electa 1998) e di Andrea Guerra sui Lombardo o sulle
14 Molte tesi di laurea (conservate nella Biblioteca di Palazzo Badoer) tra gli anni facciate di Andrea Palladio.
Ottanta e Novanta del secolo scorso hanno riguardato figure non sempre mol-
to conosciute ma significative di proti della Repubblica, impegnati nelle opere 18 Tra gli studi pubblicati o ancora in preparazione menzionati da Tafuri nelle
pubbliche di costruzione e manutenzione a Venezia nel XVI secolo Bartolomeo e sue lezioni o discussi in dipartimento, vedi: Carlo Ginzburg e Adriano Prosperi,
Piero Bon, Giorgio Spavento, Antonio Abbondi). Giochi di pazienza, Torino, Einaudi 1975; Carlo Ginzburg, Il formaggio e i vermi,
Torino, Einaudi 1976; Marino Berengo, L’Europa delle città, Torino, Einaudi 1999;
15 Ennio Concina, L’arsenale della Repubblica di Venezia, Milano, Electa 1984. Gaetano Cozzi (a cura di), Stato, società e giustizia nella Repubblica Veneta,
16 Donatella Calabi e Paolo Morachiello, Rialto: le fabbriche e il ponte, 1514- Roma Jouvence 1981; Gaetano Cozzi, Repubblica di Venezia e stati italiani, To-
1591, torino, einaudi 1987. rino, Einaudi 1982.
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loro impatto sull’architettura; 4. le Scuole Grandi; 5. l’intrec- Mediterraneo. Le carte si sono completamente rimescolate.
cio tra scienza, tecniche, pensiero allegorico e scelte formali; Dal punto di vista delle tecniche utilizzate, va rilevato che
6. Il progetto di Alvise Cornaro per il bacino marciano; 7. Il la filologia vi è dominante, in modo quasi ossessivo: un amo-
rinnovamento e la crisi della seconda metà del Cinquecento. re, che si esercita contemporaneamente sui documenti di pro-
Ma ben presto il lettore capisce che si tratta di sette pe- getto, sulle decisioni, sui personaggi, sugli intrecci famigliari,
zzi della stessa costellazione, attraversati dalle medesime quasi si trattasse di stabilire una nobile competizione con gli
volontà, dai medesimi desideri, dalle medesime incertezze altri storici (gli “storici veri”) ed ottenerne una legittimazio-
all’interno della società veneziana; i gruppi, le famiglie, gli ne. Espressione di un rifiuto sistematico d’ogni meccanicismo,
individui che la compongono, hanno attitudini analoghe, re- il libro rompe ogni tipo di legame automatico tra causa ed
sistenze simili rispetto alla costruzione e al decoro urbano. effetto e, così facendo, diventa davvero un punto fermo per
Per alcuni, il rifiuto dell’esibizione individuale corrispon- la storiografia veneziana -e non solo dell’architettura- degli
de ad un’aspirazione all’equità e alla semplicità degli antena- anni recenti. Ma anche per queste sue caratteristiche resta un
ti; per altri, le scelte di rinnovamento, interessate al linguag- libro difficile, intenzionalmente difficile. Se la materia di cui
gio “romano”, sono una manifestazione d’apertura agli studia tratta non si sviluppa secondo concatenazioni elementari, la
humanitatis. Ma non sempre i primi identificano un gesto di struttura del ragionamento non può certo esplicitarsi secon-
pura conservazione, rivolto verso il passato, e i secondi un do uno schema troppo semplice, o modelli lineari, e il lingua-
atto d’ innovazione radicale. L’autore ci conduce a scoprire ggio -per parte sua- denso d’allusioni, rifugge da espressioni
che le ragioni a favore di un linguaggio architettonico scarno, riduttive, da modi di comunicazione diretti o immediati.
legate al riformismo religioso e culturale, portano piuttosto Venezia e il Rinascimento è anche un testo ampiamente
ad un’intenzione di rinnovo all’interno della tradizione; e che illustrato: incisioni, disegni inediti o già pubblicati, ritratti
l’adozione di riferimenti ‘romani’, al contrario, non può non o dipinti di scene allegoriche, belle fotografie dei manufatti
andare di pari passo con l’accettazione della presenza della studiati accompagnano la successione degli argomenti trat-
chiesa, quindi del papa e delle sua autorità costituita. tati e la commentano.
7. Già messe in discussione nei primi capitoli, alcune ca- 8. L’ultimo libro di Tafuri [Ricerca del Rinascimento], qua-
tegorie cadono poi in modo definitivo: non c’è coincidenza, o si un testamento spirituale, le cui illustrazioni sono state ri-
analogia facile tra conservatori e difesa delle tradizioni, o vi- viste (e con fatica) in ospedale prima di essere operato negli
ceversa tra innovatori della scienza e della lingua e istanze di USA: un libro densissimo, complicato, ansioso di trasmettere
novità politica e commerciale tra Venezia, l’Europa e il Mondo messaggi e suggestioni. in particolare il capitolo in cui ten-
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ta una comparazione tra Firenze, Roma, Venezia (con alcune anche in anni recenti vogliono essere anche una proposta di
riflessioni su Milano) è stato per alcuni dei suoi allievi un metodo e una sollecitazione, da un lato ad ampliare le inda-
contributo fondamentale. Voglio fare qui solo un richiamo al gini, dall’altro a continuare su un binario in parte tracciato.
tema della città (che non è che un capitolo del volume) e alla Storia locale e storia comparata, dunque: esse si presen-
necessità della ricerca comparativa, oltre che alla mancanza tano come due fasi entrambe necessarie della storia della
di lavori approfonditi compiuti in questo settore, richiamata città: quest’ultima si precisa cioè come un ambito di studi che
con forza da Tafuri. Questo suggerimento ha spinto altri ri- impone un passaggio alternato da fasi di indagine specifica,
cercatori a proseguire in questa direzione (e qui mi limito a localistica, quasi maniacale nell’approfondimento dei carat-
citare la questione della sua Scuola, cui facevo riferimento teri individuali del luogo indagato, a fasi in cui si scoprono
nel titolo del mio intervento). La Scuola di Tafuri è assai più analogie e differenze con episodi simili, in cui cambiano cioè
articolata di quella parte alla quale faccio qui riferimento, la lente di ingrandimento utilizzata e la scala degli oggetti
perché i suoi spunti sono stati moltissimi. Ma ce ne è un pez- osservati.
zetto (quello appunto che si occupa di città) che a mio modo
di vedere è fortemente riconoscibile.
Alcuni studi, come il mio sugli spazi di mercato nelle
grandi città europee, ma come anche gli scritti dei più gio-
vani sulle piazze delle città dell’Italia centro-settentrionale,
o sulle trasformazioni urbane delle piccole Signorie dell’Ita-
lia padana, o sulle piccole città venete hanno tratto grande
energia e la propria impostazione metodologica proprio da
quell’appello.
Per tutti noi si è trattato in altre parole di cogliere l’invito
di Manfredo Tafuri quando, analizzando la Firenze lauren-
ziana, la Roma di Leone X, la Venezia del doge Gritti e la
Milano di Ludovico il Moro, sollecitava “a moltiplicare le ana-
lisi comparate, onde evitare, insieme alle generalizzazioni,
la chiusura in studi localistici”. Per alcuni di noi, all’interno
del Dipartimento di Storia dell’architettura, gli studi compiuti
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Recordações dos anos de Se Manfredo Tafuri soubesse que, em 2015, eu falaria
colaboração amigável com dele no Brasil talvez tivesse rido abertamente – como em
Manfredo Tafuri tantos outros estranhos eventos durante os anos da nossa
Memories of years of friendly
fértil, mas nem sempre fácil, amizade. Agradeço muito a
collaboration with
Manfredo Tafuri Adalberto da Silva Retto Jr. e aos organizadores do se-
Riccordi di anni di amichovele minário a oportunidade de poder falar desse importante
collaborazione con capítulo de minha vida, entre os anos 1980 e a morte de
Manfredo Tafuri Tafuri, quando nossos métodos, inicialmente, tão diferen-
tes convergiram – os dele e os nossos da Biblioteca Hert-
Christoph FROMMEL ziana. Foi naquele momento que organizamos as exposi-
ções de Raffaello arquiteto, de Giulio Romano e tantas
TraduçãoTranslationTraduzione
Marisa Barda outras coisas bonitas. Foi também bem naquele período
que começamos a compilação do corpus dos desenhos de
RevisãoReviewRecensione
Anita Di Marco Antonio da Sangallo, o Jovem.
Para vocês entenderem essa lenta e tardia convergên-
cia de nossos métodos, tenho que voltar a 1966, quando
ele tinha publicado seu primeiro livro de história da ar-
quitetura do maneirismo. Dois anos mais velho que ele,
havia alguns anos que eu era assistente de Wolfgang Lotz
na Biblioteca Hertziana de Roma, o Instituto Max-Planck
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para a pesquisa sobre a história da arte italiana em Roma. Oberhuber, John Shearman, Kathleen Weil Garris Brandt,
Estávamos nos anos antes de 1968 que, na Itália, chegou André Hayum, Nicole Dacos, Berenice Davidson. Porém,
um pouco atrasado em relação à França e à Alemanha; e não faziam parte nem Manfredo nem outros italianos –
embora a maior parte dos intelectuais italianos fosse de não porque fôssemos hostis ou fechados em nós mesmos,
esquerda, a pesquisa e o ensino da história da arquitetura mas porque tanto os interesses quanto os parâmetros me-
na Itália ainda não seguiam um método especificamente todológicos eram muito diferentes. Confessávamos que
marxista. éramos apaixonados por Raffaello e estávamos cansados
Muito ligados à tradição, os jovens ainda moravam na do culto ao maneirismo – inicialmente às escondidas –
casa dos pais e em pleno verão, em julho, era necessário para não sermos ridicularizados porque Raffaello, então,
usar paletó para serem admitidos na Biblioteca Vaticana e estava completamente fora de moda.
em instituições similares. Manfredo Tafuri também usava O grupo da Hertziana dos anos sessenta (para chamá-
paletó, a gravata borboleta típica dos arquitetos de en- -lo de modo simplificado) tentava, com forças comuns e
tão e os cabelos relativamente curtos – mas não usava a verdadeiro espírito de equipe, trabalhar sobre Raffaello
barba nem o pulôver comprido de seus anos em Veneza. e sobre seu círculo que, naturalmente, compreendia al-
No entanto, nós, jovens da Alemanha culpada, dividida e guns maneiristas como Giulio Romano, Peruzzi, Sodoma,
parcialmente destruída, estávamos em profundo conflito Polidoro, Perino ou Sebastiano del Piombo. Nossos con-
com a nossa história e com a nossa cultura. Quando me tatos, trocas de ideias e descobertas eram intensíssimos
tornei assistente da Hertziana tive que ir ao barbeiro, fa- mas tínhamos ainda, como disse, pouco contato tanto com
zer um terno burguês com um alfaiate e imprimir cartões Tafuri como com outros jovens italianos.
de visita. Éramos historiadores da arte, tínhamos estudado na
Manfredo trouxe, para mim e para Lotz, na Hertziana Faculdade de Letras e a história da arquitetura era parte
seu livro sobre a arquitetura do Maneirismo e pediu a nós integrante do estudo nos países de língua alemã e ingle-
dois, alemães, para apresentá-lo aos outros da Biblioteca sa; até mesmo mestres franceses como André Chastel, que
– um gesto, então, bem raro em Roma, mas característico mais tarde tornou-se amigo, ensinavam a história da arte,
de Manfredo que lia de tudo e tinha um profundo interes- não só das artes figurativas, mas também da arquitetura.
se pela cultura alemã. Na época, havia um grupo na Hert- Na faculdade de Letras das grandes universidades ingle-
ziana de jovens da mesma idade e de diversas nacionali- sas e americanas havia professores alemães e austríacos
dades, grupo do qual faziam parte entre outros: Konrad emigrados, como por exemplo Panofsky, Walter Friedlän-
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der, Wilde ou Gombrich, mas também historiadores da ar- Pedro e, em 1868, publicou sua tese de graduação sobre
quitetura como Krautheimer e Wittkower, ambos forma- a nova edificação. Mais tarde, em 1875, publicou talvez
dos na Biblioteca Hertziana e, para nós, considerados os a maior monografia existente dedicada a São Pedro – a
mais influentes. James Ackerman, Howard Hibbard, Henk primeira grande obra de história da arquitetura, no ver-
Millon ou Irving Lavin também tinham saído de escolas dadeiro sentido da palavra, que precede o volume de Le-
similares e seguiam o mesmo método. taroully (1795-1855) sobre a Basílica e que, em boa parte,
Graças ao historiador Franz Kugler (1808-58), autor da é obra de seus alunos. Em 1884, surgiu a monografia de
primeira história da arquitetura universal (1856-59), e ao Geymüller sobre Raffaello arquiteto, a primeira dedicada
seu aluno Jacob Burckhardt (1818-97), já nos anos quaren- a um arquiteto com um método rigorosamente histórico.
ta do século XIX, nos países de língua alemã, a história da Kugler, Burckhardt e o jovem Wölfflin (1864-1945) –
arquitetura tinha se tornado um campo autônomo no uni- que tentou fazer, na sua tese de habilitação em 1889, uma
verso da história da arte, com um método sistemático pró- comparação entre a arquitetura renascentista e a barroca
prio. O arquiteto Heinrich von Geymüller, o mais jovem, e outros pioneiros da história da arquitetura como Gurlitt
nascido em 1839 em Viena, mas com origens na Alsácia ou Paul Frankel – tiveram muitos seguidores nas gerações
e na Basileia, começou seus estudos em Lausanne e em sucessivas até Wittkower, Krautheimer, Sedlmayr, meu
Paris. Mudou depois para a Bauakademie de Berlim onde, primeiro mestre, e o conde Wolff Metternich (1893-1978),
na época, Wilhelm Lübke (1826-93) ensinava história da meu segundo mestre. Metternich era o primeiro diretor da
arquitetura. Lübke era autor de um livro de história da Hertziana no período pós-guerra, para a qual me conce-
arquitetura religiosa da época medieval (1852) e respon- deu uma bolsa de estudos, em 1959. Foi superintendente
sável pelas reedições de algumas obras de Burckhardt. dos monumentos da Renânia, ótimo desenhista e conside-
Geymüller combinava a tradição de engenharia fran- rado sucessor de Geymüller por realizar inúmeros estudos
cesa com a dimensão histórica do suíço Burckhadt e a sobre a nova Basílica de São Pedro de Bramante. Retomou
belíssima troca de correspondência entre os dois teste- a tradição de Steinmasnn, Krautheimer e Wittkower do
munhava a amizade entre eles. Ele também compreendia período pré-nazista, transformou estudiosos da basílica,
que o historiador de arquitetura deve basear seu próprio como G. Urban, C. Thoenes e eu, em bolsistas e assisten-
trabalho nas fontes, ir aos arquivos e aos estúdios de de- tes, e transformou a Hertziana no mais importante centro
senhos. Nos arquivos da Galeria degli Uffizi, em Florença, de estudos sobre a referida edificação.
descobriu os desenhos de Bramante para a Basílica de São A situação italiana era completamente diferente e
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cito, no necrológico de Tafuri, as frases que James Acke- uma cátedra de ensino da arquitetura, Giovannoni fundou
man publicou nos Anais da arquitetura de 1994: “Nos anos sua própria escola romana de história da arquitetura – a
cinquenta, quando Tafuri era estudante, a Itália não tinha primeira italiana que faz jus a esse nome. Para ele, os
uma grande tradição de história da arquitetura moderna e mais importantes textos de referência eram os de Auguste
renascentista nos programas de estudos da arquitetura; a Choisy, até 1901, professor da École Polytechnique de Pa-
disciplina era prevista nos programas, mas não existiam ris. Em primeiro lugar, Choisy se interessava pela constru-
cursos de graduação específicos. Havia ótimos estudiosos ção de monumentos e muito menos por Kugler, Burckhar-
documentaristas como Giovannoni e Baroni, e interpre- dt, Geymüller e seus sucessores na história e na evolução.
tações de tipo crociano1 como aquela de Pane; porém, as Ele os cita pouco, esporadicamente e, talvez também por
publicações eram isoladas da literatura acadêmica e das motivos linguísticos, teria lido apenas uma mínima parte.
inovações intelectuais que aconteciam em outros países. Quando, em 1904, Giovannoni escreveu seu primeiro
Além disso, poucos escritores se propunham a estudar livro sobre os monastérios medievais de Subiaco, seguiu
alemão ou inglês”. o método de Choisy. Basta ler a introdução de sua mono-
Giovannoni era um verdadeiro historiador da arquite- grafia póstuma sobre Antonio da SanGallo, o Jovem – “A
tura e não apenas um “ótimo estudioso e documentarista”. história da arquitetura e seus métodos” – onde ele men-
Sem conhecer sua importante e influente figura, não se cionava, entre os autores exemplares, Dörpfeld, Durm e
pode entender a situação particular da Itália até hoje. Ele Rivoira, porém nenhum dos fundadores metodológicos do
estudou engenharia como seu pai e foi aluno do grande campo e, falava da história da construção e dos estilos,
arquiteto restaurador Camillo Boito. Porém, desde jovem, do restauro e do desenho arquitetônico – mas não mui-
ele se interessava pela história da arquitetura e, sentindo to do cliente, das funções, da teoria e da retrospectiva
falta de uma formação histórica, também estudou história cultural, social e política. Ele utilizou esses métodos no
da arte com Adolfo Venturi. Contudo não ficou satisfeito, livro e o mesmo espírito continuaria, apesar de não ser
porque Venturi olhava a arquitetura como se olhasse ima- exclusivo, na Escola Romana e no Departamento de Histó-
gens. Nos inúmeros volumes dedicados à arquitetura, da ria da Arquitetura na Piazza Borghese. Giovannoni era um
sua admirável história da arte, não existiam, de fato, nem professor e um organizador tão bom que, em Roma, seu
plantas nem cortes. Quando, em 1903, ganhou em Roma departamento absorveu pouco a pouco toda a história da
arquitetura. Após sua morte, em 1947, as cátedras no De-
1 N. do T. Referência ao filósofo e historiador Benedetto Croce (1866-1952), às
suas doutrinas, aos seus princípios e tendências: a estética, a historiografia, as partamento se multiplicaram e esse exemplo foi seguido
reivindicações e a autonomia da arte.
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por outras faculdades de arquitetura da Itália. tura na faculdade de Letras. (Quando nos primeiros anos
Com o tempo, a história da arquitetura se separou da do século, conseguiu a cátedra no mesmo Departamento
história da arte ensinada nas faculdades de letras com a de Letras na La Sapienza, a maior parte dos estudantes
consequência embaraçosa de ver pessoas com formações interessados na história da arquitetura iam cursar Arquite-
diferentes, e nem sempre com opiniões concordantes, tura e não Letras). Porém, nem mesmo o método de Argan
analisarem e restaurarem obras romanas de Raffaello, Mi- correspondia ao da Biblioteca Hertziana: Argan fala sobre
chelangelo ou de Bernini, nas quais, arquitetura, escultu- a história da arquitetura como sendo, antes de mais nada,
ra e pintura se uniam em um conjunto inseparável. Tafuri uma história de ideias e de conceitos em um vasto arco de
também havia entendido quão complexa seria essa cisão tempo enquanto nós, de forma mais concreta e menos so-
entre história das artes figurativas e história da arquite- fisticada, nos interessávamos pelo cliente, pelas funções e
tura – mesmo que, raramente, escrevesse sobre as artes pelas relações entre forma, função e estrutura.
figurativas. Nem mesmo em seu ensaio de introdução ao Nos primeiros anos de sua carreira, Manfredo seguiu
catálogo da exposição de Giulio Romano, ele se interes- o currículo da Escola Romana de Giovannoni. Mais tarde,
sou pela pintura de Giulio tanto quanto na superioridade foi assistente de Ernesto Rogers em Milão e de Ludovico
que nela se reflete. Quaroni em Florença; o primeiro lugar onde ensinou, em
Da mesma maneira que Geymüller nos anos sessenta e Palermo, era ainda voltado à arquitetura, ao restauro e ao
Giovannoni nos anos noventa do século XIX, o jovem Ta- urbanismo. Somente em 1968, após conseguir a cátedra
furi também sentia a falta da dimensão histórica e de um de Veneza com a publicação de seu livro sobre o manei-
método rigorosamente histórico na história da arquitetura rismo, teve oportunidade de alargar seu raio de ensino e
italiana. Ele era um estudante rebelde e protestava contra fundar sua própria escola.
os métodos enferrujados de seus professores. Nos seus Deixem-me voltar um momento às divergências ini-
textos sucessivos, criticava os colegas que faziam a histó- ciais entre nós e o livro de Tafuri sobre o maneirismo. Na
ria da arquitetura apenas com o olhar do projetista. Assim Biblioteca Hertziana tínhamos problemas cada vez maio-
como Geymüller e Giovannoni em suas respectivas épocas, res com o conceito e com o culto do maneirismo e seus
Tafuri continuava a estudar Letras com Giulio Carlo Argan intérpretes cada vez mais sofisticados. Saibam vocês que
que, em 1959, tinha assumido a cátedra de história da arte a descoberta do tal maneirismo advém dos anos logo an-
na Universidade La Sapienza de Roma. Argan foi um dos tes e depois da primeira Guerra Mundial, quando os então
últimos a ensinar, de forma eficaz, a história da arquite- jovens Walter Friedländer, Max Dvorak e Nikolaus Pevsner
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o contrapunham à arte clássica do velho Heinrich Wölfflin. rânea no pós-guerra, o interesse pelo maneirismo torna-se
O olhar deles sobre a arte, e sobretudo o de Dvorak, era quase um culto e alcança o ápice, em 1955, na exposição
também influenciado pela arte contemporânea, ou seja, de Amsterdã. Um grande número de publicações, também
pelo expressionismo e pelo surrealismo. Viam o anticlás- na língua italiana, foi dedicado ao maneirismo e, portanto,
sico na arte do século XVI, mas eram mais interessados também à arquitetura daquele período.
no absurdo imprevisível, extraordinário e anômalo que, na O livro de juventude de Tafuri reage ao caos e à confu-
opinião deles, contrastava com a Última Ceia de Leonardo, são intelectual na discussão sobre o maneirismo e olha os
a Escola de Atenas de Raffaello ou o Adão de Michelan- fenômenos com a racionalidade e a clareza metodológica
gelo – os grandes exemplos da arte clássica de Wölfflin de seu mestre Argan. O livro teve repercussão positiva,
– e tudo aquilo que se afastava da simulação de uma arte mas, diferentemente de seus livros posteriores, nunca foi
normativa foi considerado como maneirismo. traduzido e não teve uma segunda edição. Nem mesmo
Da arte clássica e com regras, de Wölfflin também hoje é uma leitura fácil: para exprimir seu pensamento,
faziam parte Il Tempietto, embora hoje seja considerado antes de mais nada, conceitual, Tafuri utiliza infinitos ter-
menos normativo que a Rotonda de Palladio ou o Palazzo mos abstratos, nem sempre facilmente compreensíveis.
dei Conservatori de Michelangelo, ambos do período do Ele resume e contrapõe com clareza as diversas propostas
assim chamado maneirismo. Na Viena dos grandes psicó- e teorias e aponta as enormes lacunas da pesquisa: lem-
logos, na mesma linha, Hans Sedlmayr tentava explicar bra que ainda faltavam monografias atualizadas sobre a
a nova linguagem de Borromini inclusive com sua alma arquitetura de Bramante, de Raffaello, de Giulio Romano,
esquizofrênica. de Peruzzi, de Sangallo, de Sanmicheli e de Palladio e que
Hoje sabemos que, por muitos motivos de natureza seria prematuro criar um movimento estilístico autôno-
genética, histórica, social e religiosa, nem Leonardo, nem mo, partindo de artistas e monumentos ainda pouco co-
Bramante, Raffaello ou Michelangelo podiam ser equili- nhecidos. Naquele momento, nem mesmo Tafuri duvidava
brados da mesma forma que seus antigos protótipos que, que existisse um estilo maneirista na arquitetura, um fe-
mesmo nestes artistas já estava presente muito do que nômeno definido e circunscrito entre o Renascimento e
se chama anticlássico ou maneirista, e que nenhum deles o Barroco – embora Benedetto Croce já tivesse alertado
parava ao alcançar a beleza perfeita. os historiadores de arte para ficarem atentos às periodi-
zações e seus respectivos rótulos. Termos classificadores
Após o fim da imposição cultural do fascismo, e mais
como por exemplo o românico, o gótico, o maneirismo,
ainda do nazismo e, com a reabilitação da arte contempo-
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o barroco ou o rococó são – sabemos muito bem – in- havia juntado uma boa quantidade de material. A opor-
dispensáveis para estruturar a história, porém são válidos tunidade de trabalhar com Tafuri, Ray e seus alunos, fa-
apenas por um período limitado. Não são planetas que, zendo um grande catálogo monográfico, logo me seduziu.
uma vez descobertos no universo da cultura, estarão pre- Tínhamos à nossa disposição, na Hertziana, um centro lo-
sentes para sempre. Não há dúvida que Tafuri gostava do gístico ideal com assistentes, secretárias, um fotógrafo,
rebelde e, às vezes, obsceno Giulio Romano mais do que um arquiteto desenhista e, graças ao amigo Guy Dewez
de Raffaello, que era nosso grande herói. Outra grande e à generosidade da Prefeitura, consegui fazer a grande
diferença já discutida era o método. Eu tinha problemas maquete em madeira de Villa Madama que hoje se encon-
com a metodologia abstrata de Argan que Tafuri seguia no tra no Ministério das Relações Exteriores. Distribuímos
livro e com relação à apresentação acima mencionada, eu as obras de Raffaello entre os especialistas e entre eles
não tinha nada a dizer. estavam também Shearman, Oberhuber, Pagliara, os Ben-
Voltei para a Alemanha e somente quando me transferi tivoglio, Günther, Burns e Nesselrath.
de novo para a Itália, em 1980, para dirigir a Hertziana Aquela colaboração funcionava perfeitamente, talvez
junto com Matthias Winner, foi que nossos projetos co- a primeira tão ampla de um grupo italiano com um grupo
meçaram a convergir e, com os projetos, pouco a pouco, internacional no âmbito da história da arquitetura renas-
também nossos métodos. A comemoração pelos 500 anos centista. Tafuri, viciado pelo sucesso, seja como autor seja
do nascimento de Raffaello seria em 1983 e eu sabia que como orador, não tinha nenhum problema em escrever fi-
deveríamos fazer um grande seminário para resumir os chas de rigor filológico e sabia muito bem que somente
resultados recentes dos estudos sobre o artista. Inespe- com um esforço comum teria sido possível penetrar mais
radamente, um dia recebi a visita de Manfredo Tafuri e do profundamente nos segredos daqueles anos tão decisivos
nosso amigo coetâneo Stefano Ray, catedrático de histó- para toda a história da arte. Não havia problemas ideoló-
ria da arquitetura no Departamento de Piazza Borghese, gicos entre ele e nós, liberais de além das montanhas e
que me propuseram realizar uma exposição romana sobre mais céticos em relação ao marxismo.
o Raffaello arquiteto, a pedido de Renato Nicolini, então O texto de introdução de Tafuri se relacionava com o
assessor da cultura. livro sobre Via Giulia, que ele havia publicado em 1975,
Anos atrás, Rudolf Wittkower, falecido em 1971, tinha com Salerno e Spezzaferro, e às respectivas pesquisas,
me encarregado de escrever uma monografia sobre Ra- iniciadas anteriormente, sobre a Roma renascentista. Ma-
ffaello arquiteto para sua coleção de Zwemmer e eu já gistralmente, ele demonstrava como as igrejas, os edifí-
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cios, as casas e o sistema viário refletiam, em uma inter- micheli, Bramante em Milão, Peruzzi e outros que, mais
ligação quase indissolúvel, a política religiosa e profana tarde, foram publicados pelo CISA, com a mesma intenção
dos papas Giulio II e Leão X, os interesses da nobreza e da de preencher as grandes lacunas da pesquisa no nosso
Prefeitura e, que aquele era uns dos grandes momentos da setor como as exposições – mas com a vantagem de uma
cidade – aproximação metodológica com raízes totalmen- contínua troca de ideias e de causar um efeito didático
te diferentes das da Escola Romana. Falava relativamente forte nas gerações mais novas.
pouco sobre Raffaello e não com a mesma admiração em- Ano sim, ano não, no verão, nos encontrávamos nos
pregada para falar, depois, sobre Giulio Romano. A exposi- seminários do Centre d’études de la Renaissance em Tours,
ção teve muito sucesso, mas o catálogo ainda mais, tendo dirigido por André Chastel e seu aluno Jean Guillaume. Lá
sido traduzido e publicado de novo em diversas edições. seguíamos um método comparativo confrontando tipolo-
Até hoje, é considerado o texto de referência sobre o Ra- gias da Renaissence como por exemplo a escada, a igreja,
ffaello arquiteto. o edifício, o canteiro de obras, o tratado. Também foram
Graças a uma série de eventos favoráveis e vistos de publicados os anais desses seminários que ampliavam o
hoje, aqueles anos foram utópicos para nós, historiado- alcance de nossos estudos para o nível europeu. Após a
res da arquitetura do Renascimento, e representaram morte repentina de Lotz, no outono de 1980, Manfredo
uma época de ouro nunca vista nem antes nem depois. Os e eu logo concordamos em propor Chastel, como o novo
contatos e as amizades com os pesquisadores não só do presidente Consiglio Scientifico del Centro Palladio. Desde
Departamento de Piazza Borghese e de Veneza mas de ou- o início, Chastel sempre soube animar nossos encontros e
tras universidades também se intensificaram; além disso, seminários vicentinos com seu amplo horizonte intelec-
aumentava o número de jovens talentos interessados em tual, sua urbanidade, seu hedonismo, sua alegria de viver
estudar a arquitetura do Renascimento. Uma ou duas ve- que já havíamos apreciado nos restaurantes à beira das
zes ao ano, nos encontrávamos no Centro Andrea Palladio margens do rio Loire e, para isso, a estação não muito fria
di Vicenza – fundado havia pouco tempo pelo ultra palla- da Itália oferecia a condição ideal.
diano Renato Cevese, junto com Chastel e Ackeman – com Chastel transformou o modesto boletim do CISA e lhe
ele e com os mais jovens, Tafuri, Bruschi, Forster, Wol- deu o nome tipicamente francês de Annali di architettura
ters, Puppi, Guillaume e Burns. Projetávamos seminários (embora nosso método não tivesse muita coisa em comum
esplêndidos, em parte itinerantes, sobre Palladio, sobre com o dos Annales dos historiadores franceses). Ainda gra-
construções do Renascimento italiano, sobre Serlio, San- ças a Chastel o CISA, se transferiu mais tarde ao Palazzo
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Barbaran e criou o museu Paladiano com as maquetes das dos principais motivos de sua futura doença; eu, apesar
obras de Palladio já realizadas por Cevese. Chastel estava de não ser de família nazista, descendente da nação por
habituado a comandar e, de vez em quando, Tafuri e eu intermédio da qual ele tinha sofrido tanto. Confessáva-
tínhamos que lembrá-lo do espírito democrático do CISA. mos nossa admiração comum por Nietzsche que, na Itália
Fomos encarregados por ele de convencer Renzo Piano de era mais apreciado que na Alemanha, mas também por
que era inaceitável seu projeto de construir uma torre ao Husserl, Heidegger, Benjamin e Adorno, decisivos para sua
lado da basílica paladiana. formação intelectual. Foi exatamente essa sua forte liga-
Um dos tantos seminários do Centro Palladio nos le- ção com o pensamento alemão que deu à nossa relação
vou ao Palazzo Tè de Mântua, e exatamente ali, Manfredo uma dimensão mais profunda.
e eu tivemos a ideia de continuar a exposição de Raffaello Depois, houve um momento de crise, quando ele pe-
arquiteto em uma outra mostra dedicada a Giulio Romano diu para ser o único curador da exposição e do catálogo
– porém, dessa vez, a um Giulio Romano artista univer- (talvez porque se sentia o principal defensor de Giulio),
sal – e, foi somente graças aos afrescos eróticos2 que a mas por fim, entramos em acordo sobre a responsabilida-
afluência de público se multiplicou em relação à exposi- de do grupo todo. Durante as nossas reuniões, realizadas
ção de Raffaello. A equipe de colaboradores compreendia no Palazzo Tè, víamos com horror o amadorismo com que
quase todos os bons conhecedores da arquitetura renas- a Prefeitura de Mântua restaurava as fachadas externas
centista, mas também da pintura de Giulio, como Ernst para a exposição e ameaçamos anulá-la se o Instituto de
Gombrich, Konrad Oberhuber e Sylvia Ferino Pagden, já Restauro de Roma não fosse envolvido. A Prefeitura de
assistente na Biblioteca Hertziana. Mântua cedeu e, sem esse acordo, o edifício teria sido
A preparação da exposição foi a fase mais bonita de vítima, como tantos outros monumentos, de restaura-
minha amizade com Manfredo. Quase todo mês, a Prefei- dores irresponsáveis. O grande ensaio de introdução de
tura de Mântua nos buscava em um velho Alfa Romeo que Tafuri, naturalmente, começa com os famigerados modos
nos levava, em poucas horas e a uma velocidade assom- eróticos de Giulio e de lá chega à “pretenciosa” ou à ca-
brosa, ao Palazzo del Tè e, da mesma maneira, no dia se- prichosa leveza das arquiteturas de Giulio. Ele não fala
guinte, de volta a Roma. Horas preciosas nas quais faláva- mais de maneirismo e se baseia amplamente nas análises
mos de nossa juventude: ele, filho de uma judia com quem e resultados precedentes do nosso grupo: a convergência
tivera que se esconder no porão durante a ocupação – um dos métodos é evidente – convergência também de nossa
parte porque, graças a ele, nos tornávamos muito mais
2 N. da T: No Palazzo del Tè em Mântua existem salas famosas pelos afrescos eróticos
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conscientes do que antes dos amplos cenários políticos e bre os modelos renascentistas, também eventos caracte-
culturais desse período. rísticos daqueles anos.
A convergência de nossos métodos é ainda mais evi- Na Itália contemporânea, até hoje, Tafuri goza de
dente no seu ensaio para o segundo volume do conjunto grande fama, embora poucos livros seus estejam presen-
de desenhos de Antonio da Sangallo, o Jovem, publicado tes nas livrarias. Mas essa fama não é baseada nos escritos
somente sete anos após sua morte. Já em 1983, Victoria de seu período “vermelho”, mas na sua longa e admirá-
Newhouse da Architectural History Foundation of New York vel evolução de historiador da arquitetura. Ele ainda não
havia me pedido para fazer com eles something big – algo estava preso nas crenças de determinadas ideologias e,
realmente grande e, então, propus a publicação dos quase continuamente, aprendia e ampliava seus interesses. Gra-
dois mil desenhos de Sangallo. Nossos amigos romanos ças a essas extraordinárias qualidades, ele se tornou um
eram entusiastas e Manfredo que, antes de tudo estava in- exemplo para as gerações mais novas e contribuiu, funda-
teressado nas igrejas, garantiu que faria um ensaio e uma mentalmente, para a abertura da história da arquitetura
boa parte das respectivas fichas técnicas. Lendo o ensaio, italiana aos métodos de outras escolas e à colaboração
não se acreditaria que tivesse sido escrito pelo mesmo internacional.
autor do livro sobre o maneirismo de vinte anos atrás e,
mesmo em relação ao ensaio de Giulio, seu método se
aproximara muito do nosso. Falava brevemente da crise
religiosas dos anos anteriores e posteriores às teses de
Lutero e, com seu íntimo conhecimento de cada projeto,
penetrava neles, nas formas e tipologias de Sangallo e
não é um mero acaso que, exatamente a partir de mea-
dos dos anos oitenta, ele deslocou o foco de seu traba-
lho sobre o Renascimento e sua relação com a arquitetura
contemporânea se tornava cada vez mais crítica. Com o
mesmo rigor filológico, em 1993 organizou com Francesco
Paolo Fiore a exposição sobre Francesco di Giorgio, inau-
gurada após sua morte. Em 1994, nem pôde participar da
esplêndida exposição veneziana e do grande catálogo so-
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intellettuali italiani fosse di sinistra, la ricerca e l’insegna-
mento della storia dell’architettura in Italia non seguivano
ancora un metodo specificamente marxista. I giovani erano
ancora più legati alla tradizione, stavano ancora dalla mam-
ma e anche a luglio bisognava portare la giacca per essere
Riccordi di anni di amichovele collaborazione con Manfredo ammessi nella Biblioteca Vaticana e in simili istituzioni. An-
Tafuri che Manfredo portava la giacca, la farfalla degli architetti e
i cappelli relativamente cor-tima né la barba né il lungo golf
degli anni veneziani. Noi giovani della Germania colpevole,
divisa e parzialmente distrutta ed eravamo in profondo era-
vamo invece in profondo conflitto con la nostra storia e con
Se Manfredo Tafuri avesse saputo che nel 2015 io lo avrei la nostra cultura. Quando divenni assistente dell’Hertziana,
ricordato in Brasile, avrebbe forse riso senza ritegno – come dovetti andare dal barbiere, farmi fare un vestito borghese
in tanti altri strani eventi negli anni della nostra fertile, ma dal sarto e stampare biglietti da visita.
non sempre facile amicizia. E sono molto grato a Alberto de
Manfredo portò il libro sull’architettura del Manierismo
Silva e agli organizzatori del convegno di poter parlare di
in Hertziana a Lotz e a me e chiese a noi due tedeschi di pre-
questo importante capitolo della mia vita e degli anni tra
sentarlo – un gesto allora abbastanza raro a Roma, ma ca-
1980 e la sua morte, quando i metodi, inizialmente così di-
ratteristico di Manfredo che aveva un profondo interesse per
versi, di lui e di noi dell’Hertziana, conversero; fu allora che
la cultura tedesca e che leggeva di tutto. Allora all’Hertziana
orga - nizzammo le mostre di Raffaello architetto e di Giulio
s’era formato un gruppo di coetanei di diverse nazionalità di
Romano e tante altre belle cose e proprio allora cominciam-
cui facevano parte Konrad Oberhuber, John Shearman, Kath-
mo il corpus dei disegni di Antonio da Sangallo il Giovane.
leen Weil Garris Brandt, André Hayum, Nicole Dacos, Berenice
Per far comprendere questa lenta e tarda convergenza Davidson e altri. Non ne facevano però parte né Manfredo né
dei nostri metodi, devo tornare al 1966, quando egli ave- altri italiani – non perché fossimo ostili o chiusi in noi stessi,
va pubblicato il suo primo libro sulla storia dell’architettura ma perché sia gli interessi sia i parametri metodologici erano
del manierismo. Ero di due anni più grande di lui ed ero da troppo diversi. Noi confessavamo di essere innamorati di Raf-
qualche anno assistente di Wolfgang Lotz alla Bibliotheca faello e di essere stufi del culto del manierismo – inizialmen-
Hertziana di Roma, l’Istituto Max-Planck per la ricerca sulla te di nascosto – per non essere beffeggiati perché Raffaello
storia dell’arte italiana a Roma. Erano gli anni prima del ses- allora era totalmente fuori moda.
santotto, che in Italia arrivò con un certo ritardo rispetto alla
Il gruppo dell’Hertziana degli anni sessanta (per chia-
Francia e alla Germania; e benché la maggiore parte degli
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marlo in maniera semplificata) tentava, con forze comuni e 93), insegnava la storia dell’architettura, l’autore di una storia
vero spirito di team work, di lavorare su Raffaello e sulla sua dell’architettura religiosa del medioevo (1852) e curatore del-
cerchia che comprendeva, naturalmente, anche così detti ma- le riedizioni di alcune opere di Burckhardt. Geymüller combi-
nieristi come Giulio Romano, Peruzzi, Sodoma, Polidoro, Peri- nava la tradizione d’ingegneria francese con la dimensione
no o Sebastiano del Piombo. I nostri contatti e lo scambio di storica del basilese Burckhadt e il bellissimo carteggio dei
idee e scoperte erano intensissimi, ma c’era, come dicevo, an- due da testimonianza della loro amicizia. Egli aveva appreso
cora poco contatto sia con Tafuri sia con altri giovani italiani. che anche lo storico dell’architettura deve basare il proprio
Noi eravamo storici dell’arte, avevamo studiato alla fa- lavoro sulle fonti e deve andare negli archivi e nei gabinetti
coltà di Lettere e la storia dell’architettura faceva parte inte- dei disegni. Negli Uffizi di Firenze scoprì i disegni di Braman-
grale dello studio nei paesi di lingua tedesca e inglese; anche te per San Pietro e pubblicò nel 1868 la sua tesi di laurea
maestri francesi come André Chastel che più tardi divenne sul nuovo San Pietro e nel 1875 poi la grande monografia in
amico, insegnavano la storia delle arte non solo delle arti assoluto dedicata al San Pietro – la prima grande opera di
figurative ma anche dell’architettura. Nelle facoltà di Lettere storia dell’architettura nel senso stretto della parola che pre-
delle grandi Università inglesi e americane insegnavano te- cede il volume di Letarouilly (1795-1855) su San Pietro che in
deschi e austriaci emigrati come Panofsky, Walter Friedlän- buona parte è opera dei suoi allievi. Nel 1884 seguì la mono-
der, Wilde o Gombrich ma anche storici dell’architettura come grafia di Geymüller su Raffaello architetto, la prima dedicata
Krautheimer e Wittkower, ambedue formati alla Bibliotheca a un architetto con un metodo rigorosamente storico. Kugler,
Hertziana e, per noi, i più influenti. Anche James Ackerman, Burckhardt e il giovane Wölfflin (1864-1945) che tentò nella
Howard Hibbard, Henk Millon o Irving Lavin erano usciti da sua tesi di abilitazione del 1889 un confronto dell’ architet-
scuole simili e seguivano lo stesso metodo. tura rinascimentale con quella barocca e altri pionieri della
storia dell’architettura come Gurlitt o Paul Frankl ebbero un
Nei paesi di lingua tedesca già negli anni quaranta
ampio seguito nelle generazioni successive fino a Wittkower,
dell’Ottocento la storia dell’architettura era diventata un
Krautheimer, Sedlmayr, il mio primo maestro, e il conte Wolff
campo autonomo all’interno della storia dell’arte con un pro-
Metternich (1893-1978), il mio secondo maestro. Metternich
prio metodo sistematico, e prima di tutto grazie allo storico
era il primo direttore dell’Hertziana nel post-guerra, dove mi
Franz Kugler (1808-58), l’autore della prima storia dell’archi-
fece borsista nel 1959. Era stato sopraintendente dei monu-
tettura universale (1856-59), e al suo allievo Jacob Burckhar-
menti della Renania, bravissimo disegnatore e come autore di
dt (1818-97). L’ architetto Heinrich von Geymüller, più giova-
numerosi studi sul nuovo San Pietro di Bramante l’immediato
ne, nato nel 1839 a Vienna ma di origini alsassiani e basilesi,
successore di Geymüller. Riprese la tradizione di Steinmasnn,
che cominciò gli studi a Lausanne e a Parigi e cambiò poi per
Krautheimer e Wittkower dei tempi pre-nazisti, fece diventare
la Bauakademie di Berlino, dove allora Wilhelm Lübke (1826-
borsisti e assistenti come G. Urban, C. Thoenes e me studiosi
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del S. Pietro e trasformò l’Hertziana nel più importante cen- la romana di storia dell’architettura – la prima italiana che
tro degli studi sul San Pietro. meriti questo nome. Per Giovannoni i più importanti testi di
La situazione italiana era completamente diversa, e cito riferimento erano quelli di Auguste Choisy, fino al 1901 pro-
le frasi nel necrologio di Tafuri che James Ackerman pubblicò fessore alla École Polytechnique di Parigi che s’interessava in
negli Annali di architettura del 1994: “Negli anni cinquanta, primo luogo alla costruzione dei monumenti e molto meno di
ai tempi in cui Tafuri era studente, l’Italia non aveva una Kugler, Burckhardt, Geymüller e i loro successori alla storia
grande tradizione di storia dell’architettura moderna e ri- e alla sua evoluzione. Egli ne cita solo pochi sporadicamente
nascimentale nei programmi di studio di architettura; questa e ne avrà letto, forse anche per motivi linguistici, solo una
disciplina era sì prevista nei programmi di studio di archi- minima parte. Quando nel 1904 scrive il suo primo libro sui
tettura, ma non esistevano corsi di laurea specifici. C’erano monasteri medievali di Subiaco, segue il metodo di Choisy.
dei bravi studiosi documentaristi quali Giovannoni e Baroni, Basta leggere l’introduzione della sua monografia postuma
e delle interpretazioni di stampo crociano, come quella di su Antonio da Sangallo il Giovane, “La storia dell’architettura
Pane; ma le pubblicazioni erano isolate dalla letteratura ac- e i suoi metodi”, dove egli menziona tra gli autori esemplari
cademica e dalle innovazioni intellettuali che avvenivano in Dörpfeld, Durm e Rivoira ma nessuno dei fondatori metodo-
altri paesi e pochi scrittori si davano la pena di apprendere il logici del campo e parla della storia della costruzione e degli
tedesco o l’inglese.” stili, del restauro e del disegno architettonico – ma non tanto
del committente, delle funzioni e della teoria e del retroscena
Giovannoni era, naturalmente, un vero storico dell’ar-
culturale, sociale e politico. Si serve di questi metodi nel libro
chitettura e non solo un “ bravo studioso documentarista”, e
e lo stesso spirito continua, benché per niente esclusivamen-
senza conoscere la sua figura importante e influente non si
te, nella Scuola Romana e nel Dipartimento di storia dell’ar-
capisce la situazione particolare dell’Italia fino ad oggi. Egli
chitettura a Piazza Borghese. Giovannoni era un insegnante
studia ingegneria come suo padre ed è allievo del grande
e un organizzatore così bravo che il suo dipartimento man
architetto restauratore Camillo Boito. Già da giovane s’inte-
mano assorbì a Roma quasi tutta la storia dell’architettura.
ressa però alla storia dell’architettura, sente la mancanza di
Dopo la sua morte, nel 1947, le cattedre nel Dipartimento si
una formazione storica e studia per questo motivo poi anche
moltiplicarono e questo esempio fu seguito dalle altre facoltà
storia dell’arte con Adolfo Venturi. Non ne è però soddisfat-
d’architettura in Italia. Man mano la storia dell’architettura
to perché Venturi guarda l’architettura come delle immagini.
si staccò dalla storia dell’arte insegnata nelle facoltà di let-
Nei numerosi volumi dedicati all’architettura della sua meri-
tere con la conseguenza alquanto imbarazzante che persone
tevole storia dell’arte non ci sono, infatti, né piante né sezio-
di formazione diversa e non sempre d’accordo e in armonia
ni. Quando, nel 1903 Giovannoni vince a Roma una cattedra
analizzano e restaurano le opere romane di Raffaello, di Mi-
d’insegnamento dell’architettura, fonda la sua propria scuo-
chelangelo o di Bernini dove architettura, scultura e pittura
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si uniscono in un insieme inseparabile. Anche Tafuri aveva culum della Scuola Romana di Giovannoni. Fu poi assistente
capito quanto problematico fosse questa scissione tra storia di Ernesto Rogers a Milano e di Ludovico Quaroni a Firenze
delle arti figurative e storia dell’architettura – benché an- e il suo primo posto d’insegnamento a Palermo era ancora
ch’egli solo raramente scriva sulle arti figurative. Neanche orientato sull’architettura, sul restauro e sull’urbanistica.
nel saggio introduttivo del catalogo della mostra Giulio Ro- Solo nel 1968 quando con il libro sul manierismo vince la
mano è tanto interessato nella pittura di Giulio quanto nella cattedra di Venezia, ha l’ occasione di allargare il raggio del
sua sprezzatura che si rispecchia anche in essa. suo insegnamento e di fondare una scuola propria.
Come Geymüller negli anni sessanta e come Giovanno- Permettetemi di tornare un momento alle divergenze ini-
ni negli anni novanta dell’Ottocento, anche il giovane Tafuri ziali tra noi e il libro di Tafuri sul manierismo. All’Hertziana
sente questa mancanza della dimensione storica e d’un me- avevamo crescenti problemi con il concetto e con il culto del
todo rigorosamente storico nella storia dell’architettura ita- manierismo e con i suoi interpreti sempre più sofisticati. Sa-
liana. Era uno studente ribelle e protestava contro i metodi pete che la scoperta del così detto manierismo risale agli
arrugginiti dei suoi professori. Anche nei suoi scritti succes- anni prima e dopo la prima guerra mondiale, quando gli allo-
sivi egli critica i colleghi che fanno la storia dell’architettura ra giovani Walter Friedländer, Max Dvorak e Nikolaus Pevs-
con l’occhio del progettista. Come Geymüller e come Giovan- ner lo contrapponevano all’arte classica del vecchio Heinrich
noni ai loro tempi prosegue il suo studio a Lettere, con Giulio Wölfflin. Il loro sguardo sull’arte, e in particlare quwello di
Carlo Argan che nel 1959 aveva vinto la cattedra di storia Dvorak, era anche influenzato dall’arte contemporanea e cioè
dell’arte all’Università La Sapienza di Roma, uno degli ulti- dall’espressionismo e dal surrealismo. Vedevano l’anticlassi-
mi che insegnò nella facoltà di Lettere anche efficacemente co nell’ arte cinquecentesca, ma erano anche in primo luogo
la storia dell’architettura. (Quando nei primi anni del secolo interessato dell’assurdo, capriccioso, straordinario e anomalo
ebbi la cattedra nello stesso Dipartimento di Lettere della che secondo loro contrastava con l’Ultima Cena di Leonar-
Sapienza, la maggior parte degli studenti interessati alla sto- do, la Scuola d’Atene Raffaello o l’Adamo di Michelangelo, i
ria d’architettura andavano alla facoltà d’architettura e non grandi esempi dell’arte classica di Wölfflin e tutto quello che
a Lettere). Neanche il metodo di Argan corrispondeva però al si allontanava dalla finzione d’un arte normativa fu conside-
quello della Bibliotheca Hertziana: Argan racconta la storia rato manieristico. Dell’arte normativa e classica di Wölfflin
dell’architettura in primo luogo come storia di idee e di con- facevano parte anche il Tempietto, benché sia oggi da noi
cetti in un vasto arco di tempo, mentre noi, in maniera più considerato meno normativo della Rotonda di Palladio o del
concreta e meno sofisticata, ci interessavamo al committente, palazzo dei Conservatori di Michelangelo che risalgono al
alle funzioni e al rapporto tra funzione, forma e struttura. periodo del così detto manierismo. Nella Vienna dei grandi
Nei primi anni della sua carriera Manfredo seguì il curri- psicologi Hans Sedlmayr cercava sulla stessa scia di spiegare
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il nuovo linguaggio di Borromini addirittura con la sua anima conosciuti. Allora neanche Tafuri dubitava però che esistesse
schizofrenica. Oggi sappiamo che per tante ragioni di natu- uno stile manierista nell’architettura, un fenomeno definibi-
ra genetica, storica, sociale e religiosa neanche Leonardo, le e circoscrivibile tra Rinascimento e Barocco – benché già
Bramante, Raffaello e Michelangelo potevano essere ugual- Benedetto Croce avesse messo in guardia gli storici dell’arte
mente equilibrati come i loro prototipi antichi, che anche in di essere cauti con le periodizzazioni e con le rispettive eti-
questi artisti è già presente molto di quello che si chiama chette. Termini classificatori come il romanico, il gotico, il
anticlassico o manierista e che nessuno di loro si fermava manierismo, il barocco o il rococò sono – lo sappiamo troppo
alla bellezza perfetta raggiunta. bene – indispensabili per strutturare la storia; ma sono validi
Dopo la fine del dettato culturale del fascismo e, prima di solo per un tempo limitato. Non sono pianeti che, una vol-
tutto, del nazismo e con la riabilitazione dell’arte contempo- ta scoperti nell’universo della cultura, saranno presenti per
ranea nel dopoguerra l’interesse per il manierismo divenne sempre. Non c’è dubbio che anche a Tafuri piacesse il ribelle
quasi un culto e raggiunse il culmine nella mostra del 1955 e a volte osceno Giulio Romano più di Raffaello che era il
di Amsterdam. Un fiume di pubblicazioni anche in lingua ita- nostro grande eroe. L’altra grande differenza già discussa era
liana fu dedicato al manierismo, e ora anche all’architettura il metodo. Avevo problemi con il metodo astratto di Argan
di questo periodo. che Tafuri segue nel libro, e nella menzionata presentazione,
non avevo proprio niente da dire.
Il libro giovanile di Tafuri reagisce al caos e alla confu-
sione intellettuale nella discussione sul manierismo e guarda Io tornai in Germania e solo quando mi trasferii nel 1980
i fenomeni con la razionalità e con la chiarezza metodologi- di nuovo in Italia per dirigere, assieme a Matthias Winner,
ca del suo maestro Argan. Ebbe una risonanza positiva, ma, l’Hertziana, i nostri progetti cominciarono a convergere e
diversamente dai suoi libri successivi, non fu tradotto e non con i progetti man mano anche i nostri metodi. Il cinque-
vide una seconda edizione. Neanche oggi è di facile lettura: centesimo anniversario della nascita di Raffaello cadeva al
per esprimere il suo pensiero, in prima linea concettuale, Ta- 1983 e sapevo solo che dovevamo fare un grande conveg-
furi si serve d’infiniti e non sempre facilmente comprensibili no per riassumere i risultati dei recenti studi raffaelleschi.
termini astratti. Egli riassume e contrappone con chiarezza Inaspettatamente un giorno mi vennero a trovare Manfredo
le diverse proposte e teorie e sottolinea le enormi lacune e il nostro coetaneo amico Stefano Ray, cattedratico di storia
della ricerca: ricorda che mancavano ancora monografie ag- dell’architettura al Dipartimento di Piazza Borghese. Mi pro-
giornate sull’architettura di Bramante, di Raffaello, di Giulio posero di fare, su incarico di Renato Nicolini, allora assessore
Romano, di Peruzzi, di Sangallo, di Sanmicheli e di Palladio alla cultura, una mostra romana su Raffaello architetto. Anni
e che fosse prematuro creare un movimento stilistico auto- fa Rudolf Wittkower, morto nel 1971, mi aveva incaricato di
nomo, partendo da artisti e da monumenti ancora così poco scrivere una monografia su Raffaello architetto per la sua
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collana di Zwemmer, e avevo raccolto già una bella quantità di quelle della Scuola Romana. Parla relativamente poco di
di materiale. L’opportunità di collaborare con Tafuri, con Ray Raffaello e non con la stessa ammirazione come farà poi di
e con i loro allievi e di fare un grande catalogo di carattere Giulio Romano. La mostra ebbe un bel successo, ma ancor di
monografico mi sedussero però subito. All’Hertziana aveva- più il catalogo che, ripubblicato in diverse edizioni e tradotto,
mo a disposizione un centro logistico ideale con assistenti, è tuttora il testo di riferimento per Raffaello architetto.
segretarie, un fotografo e un architetto disegnatore, e grazie Grazie a una costellazione unica e visti da oggi questi
all’amico Guy Dewez e alla generosità del Comune potei far anni erano utopici per noi storici dell’architettura del Rinas-
fare il grande modello ligneo di Villa Madama che oggi si cimento – un’età dell’oro senza pari come mai prima e mai
torva nel ministero degli esteri. Distribuimmo le opere di Ra- dopo. I contatti e le amicizie con gli studiosi non solo dei Di-
ffaello tra gli esperti, e tra essi anche Shearman, Oberhuber, partimenti di Piazza Borghese e di Venezia ma anche di altre
Pagliara, i Bentivoglio, Günther, Burns e Nesselrath. La colla- università s’intensificarono e il numero di giovani talenti in-
borazione, forse la prima così estesa di un gruppo italiano teressati a studiare l’architettura del Rinascimento cresceva.
con un gruppo internazionale nell’ambito della storia dell’ar- Al Centro Andrea Palladio di Vicenza ci incontravamo una o
chitettura rinascimentale, funzionava perfettamente. Tafuri, due volte l’anno con l’ultra – palladiano Renato Cevese che
viziato dal successo sia come autore sia come oratore, non l’aveva da poco fondato, con Chastel e Ackerman e con i più
aveva nessun problema a scrivere schede di rigore filologico giovani Tafuri, Bruschi, Forster, Wolters, Puppi, Guillaume, e
e sapeva benissimo che solo con un tale sforzo comune sare- Burns. Progettavamo splendidi seminari in parte itineranti su
bbe stato possibile penetrare più profondamente nei segreti Palladio, sui palazzi del Rinascimento italiano, su Serlio, su
di questi anni così decisivi per tutta la storia dell’arte. Non Sanmicheli, su Bramante milanese, su Peruzzi e su altri poi
c’erano problemi ideologici tra lui e noi oltremontani liberali pubblicati dal CISA e cioè con lo stesso intento di colmare le
e più scettici rispetto al marxismo. grandi lacune della ricerca nel nostro campo come le mostre
Il saggio introduttivo di Tafuri si aggancia al libro su Via – ma con il grande vantaggio di un continuo scambio d’idee
Giulia che aveva pubblicato assieme a Salerno e a Spezzafer- e di un forte effetto didattico sulla generazione più giovane.
ro nel 1975 e alle rispettive ricerche sulla Roma rinascimen- Ci incontravamo anche ogni seconda estate ai seminari
tale cominciate in precedenza. Egli dimostra magistralmente del Centre d’études de la Renaissance a Tours diretti da André
come le chiese, i palazzi, le ville e la rete stradale rispecchia- Chastel e dal suo allievo Jean Guillaume. Lì si seguiva un me-
no, in un intreccio quasi indissolubile, la politica religiosa e todo comparativo confrontando tipologie de la Renaissance
profana dei papi Giulio II e Leone X, gli interessi della nobiltà come la scala, la chiesa, il palazzo, il cantiere, il trattato.
e del Comune, e che si tratta di uno dei momenti più gran- Anche le relazioni di questi seminari che estendevano il ra-
di della città – approccio metodologico con tutt’altre radici ggio dei nostri studi a un livello europeo, furono poi pubbli-
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cate Dopo la morte improvvisa di Lotz nell’autunno 1980 più bella della mia amicizia con Manfredo. Quasi ogni mese
Manfredo ed io fummo subito d’accordo nel proporre Chastel il Comune di Mantova ci mandava un vigile con una vecchia
come nuovo presidente del Consiglio Scientifico del Centro Alfa Romeo che ci portava ad velocità paurosa in poche ore
Palladio, e Chastel seppe presto animare i nostri incontri e a Palazzo Te e il giorno dopo nello stesso modo a Roma. Ore
seminari vicentini con il suo vasto orizzonte intellettuale, la preziose in cui parlavamo della nostra gioventù: lui figlio di
sua urbanità, il suo edonismo, la sua gioia di vivere che ave- una ebrea con la quale durante l’occupazione doveva nascon-
vamo già goduto nei ristoranti sulle rive della Loira e per cui dersi nella cantina – una delle principali ragioni della sua
proprio la stagione mite dell’Italia offriva la cornice ideale. futura malattia, io discendente della nazione di cui egli aveva
Chastel trasformò il modesto bollettino del CISA e gli diede tanto sofferto benché non di famiglia nazista. Confessavamo
il nome tipicamente francese di Annali di architettura (ben- la nostra comune ammirazione per Nietzsche che in Italia era
ché il nostro metodo non avesse molto in comune con quello più apprezzato che in Germania, ma anche di Husserl, Heide-
delle Annales degli storici francesi). Anche grazie a Chastel il gger, Benjamin e Adorno che erano stati decisivi per la sua
CISA poté poi trasferirsi al Palazzo Barbaran e farvi il museo formazione intellettuale, e proprio questo suo forte legame
palladiano con i plastici delle fabbriche palladiane già rea- con il pensiero tedesco conferì al nostro rapporto una più
lizzati da Cevese. Chastel era abituato a comandare e ogni profonda dimensione.
tanto Tafuri ed io dovevamo ricordargli lo spirito democratico Ci fu poi anche un momento di crisi, quando egli chiese di
del CISA. Ci delegò con successo l’incarico di convincere Ren- essere unico curatore del mostra e del catalogo (forse perché
zo Piano che il suo progetto di costruire una torre accanto si sentiva il principale apologeta di Giulio), ma alla fine fum-
alla basilica palladiana fosse inaccettabile. mo accordo sulla responsabilità dell’ intero gruppo. Durante
Uno dei tanti seminari del Centro Palladio ci portò al pa- le nostre riunioni all’interno di palazzo Té vedevamo con or-
lazzo Té di Mantova; e proprio lì nacque a Manfredo e a me rore con quale dilettantismo il Comune di Mantova faceva
l’idea di continuare la mostra di Raffaello architetto in un’al- restaurare l’esterno per la mostra e minacciamo di disdirla,
tra dedicata a Giulio Romano – questa volta però a Giulio Ro- se non vi fosse coinvolto l’Istituto di Restauro di Roma. Il
mano artista universale – e, solo grazie agli affreschi erotici Comune di Mantova cedette e senza questa coincidenza il
l’afflusso del pubblico si moltiplicò rispetto alla mostra su palazzo sarebbe stato vittima, come tanti altri monumenti,
Raffaello. Il team dei collaboratori comprendeva quasi tut- di restauratori irresponsabili. Il grande saggio introduttivo di
ti bravi conoscitori non solo dell’architettura rinascimentale Manfredo parte, naturalmente, con i famigerati modi erotici
ma anche della pittura di Giulio, come Ernst Gombrich, Kon- di Giulio e da lì arriva alle “sprezzature” ovvero alla legge-
rad Oberhuber e Sylvia Ferino Pagden, già assistente alla Bi- rezza capricciosa delle architetture giuliesche. Non parla più
bliotheca Hertziana. La preparazione della mostra fu la fase di manierismo e si basa largamente sulle analisi e risulta-
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ti precedenti del nostro gruppo: la convergenza dei metodi Nell’Italia contemporanea Tafuri gode tuttora di grande
è evidente – convergenza anche da parte nostra, in quanto fama, benché solo pochi dei suoi libri siano presenti nelle li-
grazie a lui diventavamo molto più consapevoli di prima del brerie, e questa fama non è basata in primo luogo sugli scrit-
più ampio retroscena politico e culturale di questo periodo. ti del suo periodo “rosso” ma sulla sua lunga e ammirevole
La convergenza dei nostri metodi è ancora più evidente evoluzione di storico dell’architettura. Non era ancorato nel
nel suo saggio per il secondo volume del corpus dei disegni credo di determinate ideologie e stava continuamente impa-
di Antonio da Sangallo il Giovane, pubblicato solo sette anni rando e allargando il raggio dei suoi interessi. Proprio grazie
dopo la sua morte. Già nel 1983 Victoria Newhouse della Ar- a queste straordinarie qualità divenne esemplare per le ge-
chitectural History Foundation di New York mi aveva chies- nerazioni più giovani e contribuì essenzialmente all’apertura
to di fare con loro something big – qualcosa di veramente della storia dell’architettura italiana ai metodi di altre scuole
grande, e allora proposi la pubblicazione dei quasi duemila e alla collaborazione internazionale.
disegni di Sangallo. I nostri amici romani erano entusiasti, e
Manfredo, che era in primo luogo interessato alle chiese, si
assicurò subito un saggio e una bella fetta delle rispettive
schede. Leggendo il saggio non si crederebbe che sia stato
scritto dallo stesso autore del libro sul manierismo di venti
anni prima, e anche rispetto al saggio su Giulio il suo metodo
si è ulteriormente avvicinato al nostro. Parla solo brevemente
della crisi religiosa degli anni prima e dopo le tesi di Lutero e
con la conoscenza intima dei singoli progetti penetra nei pro-
getti, forme e tipologie di Sangallo, e non può essere un caso
che proprio dalla metà degli anni ottanta in poi egli spostò
il baricentro del suo lavoro sul Rinascimento e che il suo ra-
pporto con l’architettura contemporanea divenne sempre più
critico. Con lo stesso rigore filologico, nel 1993, organizzò
con Francesco Paolo Fiore la mostra su Francesco di Giorgio,
inaugurata dopo la sua morte. Non poté neanche partecipare
alla splendida mostra veneziana del 1994 e al grande cata-
logo sui modelli rinascimentali, anch’essi caratteristici eventi
di questi anni.
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Tafuri e Portugal: uma recordação Em 5 de março de 1994, pouco mais de uma semana
Tafuri and Portugal: a memory após seu desaparecimento em Veneza, eu publicava em
Tafuri e il Portogallo: un ricordo Lisboa nas páginas da revista “Expresso” – então o sema-
nário cultural de maior circulação no país – uma curta
Rafael MOREIRA crónica sob o título “Morreu Tafuri”, fato de que logo tive-
ra conhecimento por um telefonema do Francesco Paolo
Fiore e um cartão do seu chefe de Departamento, Prof. Ar-
naldo Bruschi, deixando-me quase em estado de choque.
Foi, creio eu, o único obituário, senão mesmo a única
notícia sobre o assunto aparecida em toda a imprensa por-
tuguesa. Tafuri era um amigo, e sua perda “golpeia fundo
no coração todos os empenhados em renovar a História da
Arte: o mesmo coração que acabou por levá-lo aos 58 anos,
após longa agonia vivida corajosamente”. Mas ele era pra-
ticamente um desconhecido em Portugal – onde apenas
havia aparecido, em 1979, a versão de “Teorias e História
da Arquitectura”, baseada na 4ª edição italiana (da Later-
za, 1976), a que se viria juntar em 1985 a de “Projecto e
Utopia”; mas sem qualquer ressonância, traduzidas por 2
jovens arquitectos marxistas de formação italiana e publi-
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cadas pela Editorial Presença – a Martins Fontes, de São amigos ou interlocutores: como eu tive desde 1980, em
Paulo – e Livros Horizonte, provavelmente tendo mais em tantos seminários, cursos e conferências do “Centro Palla-
vista o mercado brasi - leiro do que o português. dio” de Vicenza – que frequentávamos anualmente -, do
Nessa curta resenha, após as habituais palavras de cir- Centre d’Études Supérieures de la Renaissance de Tours,
cunstância, de apresentação biográfica e da sua bibliogra- do “Centro Leon Battista Alberti” de Mantova, do “Centro
fia essencial, eu escrevia com sentida e profunda emoção: Studi Europa delle Corti” de Ferrara, ou nas salas de aula
“Não mais ouviremos a sua figura de doge veneziano com ou de leitura e nos corredores do IUAV de Veneza, do Di-
voz cavernosa a animar colóquios e conferências (como em partimento di Storia dell’Architettura da Piazza Borghese
Vicenza, há seis meses atrás, já muito abalado), sempre re ou da Biblioteca Hertziana de Roma: essa “alta roda” de
- mando contra a corrente, subvertendo ideias e construin- estudos sobre o Renascimento em que tive a sorte de ser
do raciocínios com a sua inteligência e esmagadora erudi- introduzido desde cedo pela mão do Prof. André Chastel.
ção. Não mais veremos as exposições que organizava quase Ninguém podia ser o mesmo depois de ouvi-lo: nem um
anualmente, sempre inovadoras: a última sobre Francesco di jovem preparando Doutoramento, como então eu era, vin-
Giorgio Martini no Palazzo Publico de Siena, na Primavera do de uma terra sem tradição nesses estudos, quase que
de 1993” – uma exposição marcante, que eu visitei cuida- parada no tempo.
dosamente, seguindo depois de carro para ver as próprias Portugal é hoje um país perfeitamente integrado na
obras na Itália Central. Europa, nos seus sucessos como nos seus problemas, e
Em Setembro passado, quando de uma conferência Lisboa a 5ª cidade em todo o planeta que mais atrai inves-
que fui convidado a fazer no IUAV pelo Prof. Massimo Bul- timento imobiliário mundial. Mas estava longe de o ser nos
garelli, voltei a lembrar a figura inesquecível de Manfre- terríveis anos 60 do século XX, esses “anos de chumbo” de
do Tafuri (na “Sala Manfredo Tafuri” do Palazzo Badoer), um sufocante cinzentismo e do auge da guerra colonial.
nosso mestre comum, que tanto marcou minha formação Para o inteligente estudante activista dos últimos anos da
como historiador da arte e da arquitetura – e de historia- Faculdade de Arquitectura de Roma. como era Tafuri, era
dor tout court... – embora não chegasse a ser 20 anos mais uma terra incognita, algo que se ignorava por completo,
velho do que eu: não propriamente uma geração anterior... muito para além dos seus horizontes de interesse.
Mas Tafuri tinha o condão de atrair como um ímã, de As muitas viagens que esse finalista realizou entre os
influenciar, impressionar as pessoas que dele se aproxi- 21 e os 25 anos pela Europa com um grupo de colegas
mavam, com ele conviviam, ou tiveram a sorte de ser seus – antes de, após sua formatura (1959), se associar a al-
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guns deles em grupos de extrema-esquerda de protesto já superou Las Vegas, e muito menos a fascinante “arte
em favor da reforma da Universidade, sobretudo a AUA Namban” luso-japonesa dos séculos XVI e XVII -, e toda a
(Associazione Urbanisti ed Architetti), muito ativa em mani- brilhante nova realidade brasileira, não entravam no seu
festações, distribuição de panfletos e artigos em revistas círculo de visão do universo dos fatos. Não o podemos
de Arquitetura – dirigiram-se para a Europa do Norte: Bél- censurar por isso: eram esses próprios países que se pre-
gica, França, Inglaterra, países nórdicos, mas sobretudo tendiam manter periféricos, à margem do mundo da mo-
ao mundo germânico, Alemanha e Áustria. A Península dernidade – salvo raras excepções, que ele desconhecia,
Ibérica era um território fechado no seu auto-isolamento, como é natural.
incapaz de atrair as atenções desses universitários: uma A primeira ocorrência de Portugal – ou melhor: de um
terra “onde não acontecia nada”... português – no universo tafuriano, é o artigo que publica
Creio que ainda não foi bem ressaltado que para esses em 1964 (30 anos antes da sua morte, no inicio da carrei-
jovens – e entre eles sobretudo Manfredo, obcecado com a ra!) nos Quaderni do “Istituto di Storia dell’Architettura”
difícil situação europeia e a crise da cultura arquitetónica, da Faculdade de Arquitetura da Universidade de Roma,
artística, cultural, social e política da Itália do Pós-Guer- que continuam a ser publicados na belíssima instalação
ra – o mais importante foco de interesse era a Alemanha da Piazza Borghese, hoje sob a direção de Francesco Pao-
pré-Nazi, da República de Weimar, da qual, e sobre a qual, lo Fiore (nº 61, pp. 1-26): “Un fuoco urbano della Roma
lia tudo que podia: os filósofos (Nietzsche, Husserl, Kierk- barocca”. É uma análise – ainda mais de crítica do que
gaard, Lukács, Adorno, Walter Benjamin, Heidegger – e, de história pura – do complexo eclesiástico constituído,
na sua sequência, o existencialista Sartre, cujo L’Être et le no coração de Roma (a esquina da Via Condotti com a Via
Néant fora traduzido para italiano em 1951); mas também del Corso, quase em frente ao Caffè Greco), pela igreja de
escritores, como Kafka e Brecht; sociólogos, como Veblen, fachada côncava da SS. Trinità dei Spagnoli e o convento
Max Weber, Sombart, Simmel – e, é claro, o economista anexo, agora – desde 1880 – de missionários Dominica-
(ou economista político) Karl Marx. nos, construído em 1741-46 pelo architetto portoghese
O mundo cultural português, incluindo o Brasil, per- (segundo afirma Armellini em 1891 nas Chiese di Roma)
manecia-lhe totalmente estranho, fora do seu horizonte Manuel Rodrigues dos Santos, ou Emmanuel Rodríguez Dos
de interesses: não existia. A sua riquíssima arte híbrida Santos como costumam dizer os italianos: provavelmente
colonial – o afro-português, o indo-português (um mundo um cristão- -novo de origem judaica fugido à Inquisição
à parte só por si!), o chino-português de Macau, que hoje nos tempos de D. João V, pois encontramos um mercador
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do Porto exatamente com esse nome forçado em 1627 coloca aí corretamente as teorias de Morris no contex-
pelo Tribunal do Santo Ofício de Lisboa a abjurar do ju- to duma luta entre o pensamento elitista tradicional e as
daísmo e condenado ao degredo em Angola, porém absol- mudanças radicais da Revolução Industrial e do nascente
vido em última instância. Capitalismo, vendo Morris como um intelectual engajado,
Já aqui Tafuri ensaia seus primeiros passos na Filolo- comprometido com um sincero desejo de desenhar em be-
gia histórica, ao reconstruir atentamente a evolução do nefício das classes operárias, porém incapaz de se libertar
projeto através de desenhos e outros materiais de arquivo da resistência instintiva da classe alta contra a emanci-
inéditos, em grande parte descobertos por ele próprio no pação dos trabalhadores, caindo no que ele chama “um
Archivio di Stato di Roma; embora esteja acima de tudo in- complexo de culpa”.
teressado em “la qualità del relazionarsi alla città”: ou seja, Quanto a seu desconhecimento da realidade portugue-
o modo como esse complexo urbano se insere no conjunto sa, seria preenchido nos anos seguintes através de suas
da cidade, o dinamismo da espacialidade desse ponto – leituras vorazes, de uma curiosidade insaciável: decerto
“ganglion” como lhe chama – numa das mais importantes o manual de Reynaldo dos Santos (o Gustavo Giovannoni
encruzilhadas do centro histórico de Roma, para a qual português), presidente da Academia Nacional das Belas-
convergem várias linhas visuais a que esse “foco” confere -Artes de Lisboa e o grande divulgador de alta qualidade
uma exuberante expressão arquitetónica. Mas nada nos da arte lusa, nos três volumes dos seus Oito Séculos de
diz sobre o enigmático Manuel Rodrigues dos Santos, que Arte Portuguesa. História e Espírito, publicados em fascí-
continua a ser um mistério: figura que bem merecia um culos entre 1964 e 1968 (o 2º volume, sobre Arquitetura,
estudo monográfico que ainda não teve. data de 1966), que Tafuri decerto leu com atenção, es-
Faltam a esse artigo juvenil duas coisas: um sentido tudando suas excelentes e muito numerosas ilustrações.
mais preciso da realidade histórica e da sua complexa ar- Não vejo a que outra obra sobre a arte portuguesa ele
ticulação de diferentes contextos; e um melhor conheci- poderia então ter tido acesso – porque não as havia.
mento de Portugal e da sua riquíssima cultura arquitetó- O resultado desses estudos seria sintetizado num livro
nica e artística. A primeira lacuna seria completada no ano de que é difícil falar, porque o próprio autor mais tarde o
seguinte, 1963, pelo artigo “Architettura e socialismo nel renegou, excluindo-o mesmo da sua lista de obras e quase
pensiero di William Morris”, recensão a Mario Manieri Elia, não permitindo que nele se falasse, como se nunca o ti-
ed., William Morris. Architettura e socialismo, publicada no vesse escrito: refiro-me a L’Architettura del Manierismo nel
nº 280 (pp. 35-39) da revista Casabella Continuità. Tafuri Cinquecento europeo, publicado em 1966 e ainda hoje cita-
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do em alguns livros sobre esse tema ultrapassado, devido vido por Antonio Pinelli no seu belo livro de 1993. Tafuri
ao seu enorme sucesso popular – mas que o autor mais previra este desfecho 20 anos antes dele suceder.
tarde viria a rejeitar por completo, negando-o mesmo, “Un’errore di gioventù”: disse-me ele, de mau-humor e
numa atitude de total (e meritória) autocrítica. mudando rapidamente de assunto, na vez em que, des-
Diga-se de passagem, em rápido parênteses, que ele cendo a escadaria da Basílica palladiana de Vicenza, ousei
tinha razão: o conceito de Maneirismo – “uma invenção dos perguntar-lhe por esse livro maldito, que o próprio au-
historiadores da Pintura dos anos 30 do século XX”, na irôni- tor varreu da memória e da lista de suas obras; embora
ca frase do historiador francês do Urbanismo Pierre La- continue a figurar em algumas bibliografias, e decerto
vedan (a ponto de ter sido posto de lado por um dos seus nas estantes de muitos nostálgicos, apaixonados por esse
criadores, Sir Ernst Gombrich, na reedição da tese doutoral conceito hoje superado.
sobre o Palazzo Tè, escrita em Viena de 1931 a 33) – é um Esse livro “errado” deu lugar a outro, um manual clás-
pseudo- -conceito hoje definitivamente abandonado pela sico na historiografia do Renascimento – embora Tafuri,
historiografia, morto e enterrado. Sob um nome criado em sempre incapaz de mencionar o fantasmagórico “livro
1789 pelo Abade Luigi Lanzi na Storia Pittorica d’Italia, no inexistente”, coloque a sua origem na entrada sobre “Re-
início da moda dos “-ismos”, foi elaborada como categoria nascimento” redigida para o Dizionario di Architettura e
estilística histórico-artística pelo historiador da pintura Urbanistica de Paolo Portoghesi... – com várias edições e
Walter Friedlaender em 1925 (Mannerism and Anti-Manne- traduções: o magistral L’Architettura dell’Umanesimo, pu-
rism in Italian Painting), para atingir o apogeu nas obras de blicado por Laterza em 1969. Como sucederá ao longo da
Antal e do “estalinista” Arnold Hauser. É hoje vista como carreira – talvez sob influência da “Escola da Hertziana”
um logro quase ridículo, um termo que mais ninguém usa -, é no Cinquecento que se concentram suas apreciações
(embora possa por vezes ser útil): prova-o a recente expo- mais inovadoras. Portugal merece aí dois inteiros subcapí-
sição no Palazzo Strozzi de Florença, no Verão passado, tulos àparte (III.3 e XII.4) que ocupam 6 páginas (pp. 119-
Pontormo e Rosso Fiorentino: divergenti vie della “maniera”, 120 e 262-6), com direito a 2 fotografias de folha inteira:
curada por Carlo Falciani e Antonio Natali, cujo texto final uma da icônica janela manuelina do Convento de Cristo
do catálogo, da autoria de Elizabeth Cropper, conclui que em Tomar, de 1510, outra do Claustro Grande da autoria
“não temos mais necessidade dessa palavra” – como já vem de Diogo de Torralva no mesmo convento, de 1558.
dizendo há muito o Prof. Frommel... -, recuperando o ter-
Faz afirmações muito originais e certeiras sobre o ca-
mo não-anacrônico, vasariano, de “Bella Maniera” promo-
rácter anti-europeu, exótico, obsessivo, luxuoso e do mais
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desenfreado irracionalismo tardogótico do “estilo Manue- sempre atualizando suas leituras.
lino” e seus prováveis influxos coloniais: È forse la prima Um bom exemplo desse tom pessoal na apreciação dos
volta che nell’architettura europea si può parlare di influenze dogmas da historiografia portuguesa é o do engenheiro
e memorie di modelli non europei quali quelli indoafricani; italiano Filippo Terzi, erguido por Reynaldo ao lugar de
uma intuição hoje confirmada pelos estudos de Peter Mark “herói” da introdução do Renascimento no país. Refere-o
sobre os marfins ditos “afro-portugueses”- que eu prefiro com algum respeito – mas confere a primazia a Diogo de
chamar “sapé-manuelinos”- produzidos na Serra Leoa pelo Torralva, tido como “o melhor leitor de Serlio em Portu-
povo Sapé e na côrte de Lisboa desde cerca de 1480 até gal”.
1530-40, e pela moda cada vez mais avassaladora entre
“Gran architetto è questo Torralva!”, dizia-me várias ve-
os museus norte-americanos e europeus da arte “indo-
zes. E essa intuição precoce não tem cessado de ser confir-
-portuguesa” e luso-japonesa “Namban” dos séculos XVI
mada pelos estudos mais recentes, de Ayres de Carvalho,
e XVII.
Manuel Branco, Conceição Pires Coelho, ou de mim pró-
Mas sobretudo hesita em aceitar a recusa, feita então prio, que erguem o “mestre das obras reais” de D. João III
– e ainda hoje! – pelos historiadores de arte em Portugal, ao nível dos grandes arquitetos europeus do século XVI.
da afirmação de Vasari dos 9 anos passados em Portugal Pena é que não tenha percebido – ou tido os meios para
pelo escultor Andrea Sansovino no fim do século XV (con- compreender – a real importância do desenhador e tra-
firmada por mim próprio, ao encontrar no Archivio di Stato tadista das artes neoplatónico Francisco de Holanda, só
de Florença o contrato do insignis magister sculptor com o agora a ser redescoberto; ou a altíssima qualidade e valor
representante do rei de Portugal D. João II para embarcar do mestre João de Castilho, de altura só comparável a um
de imediato para Lisboa em Dezembro de 1492, e o seu Benedikt Ried em Praga – que no entanto ele aproxima
regresso em 1501); e vê corretamente em Diogo de Tor- certeiramente de “i maestri del manuelino portoghese”.
ralva a vitória decisiva do Classicismo europeu sobre os
É que Portugal continuava a ser um país distante, pe-
últimos fulgores do universo formal e mental do Gótico.
riférico, quase desconhecido nesses anos finais da década
O principal autor em que se baseia – sem segui-lo à letra,
de 60. Apenas com a “Revolução dos Cravos” do 25 de abril
preferindo sempre formular juízos pessoais – é Reynaldo
de 1974, e na sua sequência com a adesão à Comunidade
dos Santos (único que cita no texto); mas já refere The
Europeia em 1986, as coisas mudaram da noite para o dia.
Art of Portugal, 1500-1800 de Robert Smith, publicado em
Nova York e Londres em 1968: sinal de que continuava Não sei até que ponto tais acontecimentos tiveram al-
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gum impacto no interesse e curiosidade de Tafuri por esse e foi ao Escorial – de que nos falará Carlos Sambricio.
estranho país. Ignoro se ele tomou parte no movimento de Enfim, conheceu a Espanha.
“turismo político” da extrema-esquerda italiana – em par- Daí resultou um livro pouco conhecido, publicado em
ticular de Lotta Contínua – de acorrer a Lisboa para ver 1978 pela Universidade de Sevilha: Retorica y Experimenta-
de perto as manifestações, ocupações de bancos, fábricas lismo. Ensayos sobre la Arquitectura de los Siglos XVI y XVII,
e propriedades privadas que então tiveram lugar. Nas nos- de 267 pgs. e ampla ilustração. É uma recolha de artigos
sas breves conversas, nos intervalos entre seminários ou anteriores (entre 1967 e 1973) que vão desde Alberti e
à mesa do café do “Capitaniato” na Piazza dei Signori de Giulio Romano, passando por Jacopo Sansovino, Palladio
Vicenza, nunca tive coragem de o perguntar: mas penso e os palladianos, até Guarino Guarini, Claude Perrault e
que não (ao contrário do que sucedeu, por exemplo, com Christopher Wren, em torno do binómio – “dialéctica”,
Arnaldo Bruschi, que me confessou que tinha sido a única como ele próprio diz na “Introducción” – entre a Retórica
vez que tinha vindo a Portugal). Tafuri deve ter acompa- ou arte da comunicação por palavras, e o Experimentalis-
nhado tudo isso de longe, pelos jornais, com um certo de- mo, a autocrítica científica dessa disciplina humanística
sinteresse. Ele movia-se sobretudo guiado por contactos ou afirmação das coisas (em que é evidente o choque da
pessoais e amizades, em restritos círculos fechados. Não leitura de Les Mots et les Choses de Michel Foucault).
era um homem de rua.
Há aí, por detrás de um conceito alargado de Renasci-
O mesmo aconteceu com a Espanha, também cortada mento – do século XV ao XVIII, do Quattrocento ao Ilumi-
do convívio com a Europa durante décadas pela ditadura nismo – que no fundo era o seu (cuja fase final iria explo-
de Franco – mas que começou mais tarde, após o fim da rar no clássico La Sfera e il Labirinto de 1980), uma ideia
Guerra Civil (1936-39), e acabou também depois, aderin- “dura” de História, amadurecida e total. É talvez a primeira
do à Comunidade Europeia no mesmo ano que Portugal: manifestação de uma História da Arquitetura como disci-
porém com mais sorte. Os laços de amizade que ligavam plina académica autónoma, plenamente adulta e segura
Tafuri ao arquiteto professor de Sevilha Víctor Pérez Es- de si, que ele vinha lutando por construir no interior do
colano, fizeram que ele viesse à capital andaluza proferir IUAV, e que iria frutificar nos anos seguintes na trilogia
o curso doutoral “Difusão do Classicismo Renascentista”, das grandes obras sobre a sua época de eleição (com a
na Escola Superior de Arquitetura de Sevilha, em Março Arquitetura contemporânea), o “Cinquecento”: L’Armonia
de 1974, voltando a Roma em Setembro. Aproveitou para e i Confliti, de 1983; Venezia e il Rinascimento, de 1985;
visitar cidades da Andaluzia (Úbeda e Granada, sobretudo) e Ricerca del Rinascimento, de 1992. E tal como nestas –
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com a exceção da detalhadíssima monografia sobre San o complexo panorama da vida arquitetónica da Itália da
Francesco della Vigna – recorre ao expediente de reeditar época, imagem das suas vicissitudes e nó do conjunto de
trabalhos já publicados, mas ligados “por un hilo conduc- factores sociais, econômicos, políticos e ideológicos que
tor unificado” como diz na Introdução do livro sevilhano, a constituem. “He wanted to characterize an architectural
os passos num percurso de várias vias, sempre em aberto, culture by focusing on one of its most controversial prota-
com avanços e recuos: um eterno “work in progress”. gonists”, diz Titia Hoekstra na sua tese doutoral Building
Não é nossa pretensão, nem teríamos competência versus Bildung. Manfredo Tafuri and the construction of a
para tanto, analisar aqui o conceito tafuriano de História historical discipline apresentada à universidade holandesa
– ou História da Arquitetura, que ele vê como um ramo de Groningen em 2005 (p. 144).
histórico à altura dos demais. Uma escolha pessoal desde Penso ser nesse livro de ‘64 que, pela primeira vez,
a juventude, em que no início dos anos 60 o recém-forma- Tafuri usa o conceito-chave da sua ideia de História: a
do arquiteto decidira “jogar fora qualquer compasso” (Bas- palavra intreccio, “entrecruzamento, entrelaçamento, nó,
ta, butto qualsiasi compasso!) rompendo de vez com o exer- feixe, tessitura”. É como um intreccio de músculos, fibras,
cício da profissão para se dedicar em exclusivo ao ofício nervos e ossos que ele vê e interpreta a espessura do
de historiador, reforçada pelas polémicas contra a “falsa corpo em sangue e carne-viva da História, feito de movi-
história” de Zevi e de Benevolo, pela leitura do fundamen- mentos instáveis que se cruzam em várias direções e rit-
tal Walter Gropius e la Bauhaus (1951) de Giulio Carlo Argan mos diversos: uma concepção que deriva em linha reta da
– cujo método cultural, sobretudo a ideia de relacionar visão histórica da Nouvelle histoire francesa e da Escola
o formalismo austero de Gropius com o espírito da ética dos Annales, de Marc Bloch, e sobretudo de Lucien Feb-
protestante estudada por Weber, fascinou Tafuri -, e pela vre em, por exemplo, Pour une Histoire à part entière, de
estreita colaboração com Ludovico Quaroni, de quem foi 1962. Na entrevista que deu a Luisa Passerini 1 ano antes
assistente, levou-o às primeiras investigações de história, de sua morte, ele diz-se desapontado com a história da
contemporânea e renascentista em paralelo, e a publicar arquitetura ensinada na Faculdade – “sem homens vivos,
em 1964 o livro que marca a sua irreversível conversão sem sociedade, sem história verdadeira ... Ninguém na Itália
à História: Ludovico Quaroni e lo sviluppo dell’architettura conhecia Marc Bloch, ou Lucien Febvre, ou a Escola dos An-
moderna in Italia, uma monografia sobre um artista ainda nales: o que havia era uma real falta de História.” – e com a
vivo e atuante – o que já de si era uma novidade – toma- abordagem “operativa” de Zevi, sobretudo após a grande
do como centro de um debate e figura-símbolo de todo mostra do Palazzo delle Esposizioni de Roma “Michelan-
270 271
gelo architetto” (1964) sobre a atualidade do artista, mas Basta referir como, partindo da rejeição da tese de Ro-
que não fazia senão mostrar o que Tafuri chamava “histó- senthal de atribuir a totalidade do projeto a uma síntese
ria falsificada”. Foi isso que o lançou nos braços da Histó- de vários modelos – da Villa Adriana em Tívoli ao Palácio
ria real dos historiadores e o fez fascinar-se pela história de Diocleciano em Split ou ao Castelo de Bellver em Palma
das mentalidades de Lucien Febvre – que várias vezes me de Mallorca – pelo pintor castelhano Pedro Machuca, in-
disse, em conversa, considerar o maior historiador do sé- troduz o esquema teórico centro vs. periferia e “l’intreccio
culo XX. É entre essa polaridade de conceitos construída storico fra programmi e risposte progettuali” para deixar em
pelo historiador e o intreccio dos fatos reais que Tafuri aberto a hipótese da contradição, própria da arquitectu-
fabrica a sua própria concepção da História, tão diversa da ra renascentista espanhola, entre um projecto inicial com
historiografia positivista alemã do século XIX a que fora origem em Roma e o anti-romanismo que “informa un’ulte-
beber a primeira inspiração: a de um Leopold von Ranke, riore opera unica nella seconda mettà del secolo: l’Escorial”,
de um Theodor Momsen, ou da Storia dei Papi de Ludwig sem propor nenhum nome como seu autor (no artigo de
von Pastor, que tão de perto conhecia. 1987); para chegar à conclusão, no capítulo de 1992, de
Onde esse caminho é bem visível – e tornando à Es- se tratar de “un’invenzione di Giulio Romano”, um projecto
panha – é na distância que separa dois trabalhos seus: o enviado de Roma antes do Saque e trazido pelo núncio
pouco conhecido artigo “Il palazzo di Carlo V a Granada: papal junto do Imperador, Baltasar Castiglione.
architettura “al romano” e iconografia imperiale” publica- Qual desenhador de tapeçarias, ele apresenta o petit
do no nº 32, de 1987, da revista Ricerche di Storia dell’Arte patron inicial, o esboço prévio à pequena escala e pouco
num número especial dedicado a “El siglo de oro: Archi- detalhado, para fazer o carton final com o quadro comple-
tettura spagnola del Cinquecento” (pp. 4-26), que se com- to, reconstruído traço a traço, fio a fio, montando à escala
pleta com o capítulo de Ricerca del Rinascimento, de 1992, real os fragmentos desse “grande desígnio, ou desenho”
“La Granada di Carlo V: il palazzo, il mausoleo” (pp. 255- (para parafrasear Beatriz Siqueira Bueno no seu livro no-
304). Sai fora do nosso propósito analisar de que modo tável, e o título da recente exposição do Museu Metro-
evoluíu o pensamento do autor nesses 5 anos, a respeito politan de Nova York “Grand Design” sobre o tapeceiro
dessa obra-prima da arte ibérica que é o Palácio de Carlos romanista flamengo da 1ª metade do século XVI, Pieter
Quinto em Granada, que o Imperador mandou construir Coeck van Aelst).
em 1528 para comemorar o seu casamento com Isabel de O método tafuriano é, assim, ir à procura de um fio
Portugal: seria tema para um estudo à parte. condutor no emaranhado labiríntico das problemáticas e
272 273
dos factos reais, subindo de hipótese em hipótese – das pa, o Nazarí com a sua Alhambra (al-Amrha, “a Vermelha”)
quais ele já sabe a resposta, como trunfo guardado no transmutada no Palácio de Carlos V. É clara sua atração
bolso... – e da conclusão menor para a maior, da microà pelas cidades multiculturais, onde diferentes mundos se
macro-escala. Por isso, na sua obra inacabada (não esque- sobrepõem e entrecruzam como estratos geológicos su-
çamos que morreu a meio da vida produtiva, o que nos perpostos. Falta Lisboa, a Rainha do Oceano na época do
leva a pôr a questão do que teria produzido se tivesse capitalismo monárquico nascente que era a sua época de
vivido outros 30 ou 40 anos) são tão ou mais importan- eleição.
tes as críticas que faz, as hipóteses que levanta, as pistas Em setembro de 1993 tivemos, finalmente, a oportuni-
que abre, as questões que deixa em suspenso – e para as dade de convidar Manfredo Tafuri a vir a Portugal proferir
quais já deveria ter na mão algum resposta pronta... – do uma conferência em Lisboa, na Fundação Calouste Gul-
que aquilo que realmente fez. Interessa mais (a mim, pelo benkian – e talvez outra na Universidade Nova, onde eu
menos) o muito que poderia ter feito e não teve tempo de era docente da disciplina de “Arte do Renascimento”. Foi
concluir, deixando-o apenas no ar, do que sua obra efeti- no âmbito do seminário do Centro Palladio de Vicenza, so-
vamente publicada. É esse “Tafuri in nuce” que sobretudo bre Exempla e Progetto di Architettura nell’ Europa del Cin-
devemos procurar. quecento – o último em que Manfredo participou, já com
...E é aqui que entra Portugal – e o mundo colonial ar adoentado -, em que eu apresentei uma lição (“Porto-
português. É minha convicção, quase uma certeza, que ele gallo: Modelli e geometrismo nell’architettura del Rinas-
estava no seu caminho, que mais cedo ou mais tarde, um cimento”) sobre as relações entre Cartografia e Arquite-
dia chegaria lá. tura através do uso de figuras geométricas, em particular
Além de Roma, a caput mundi e o seu berço natal, onde do círculo, que teve o mérito de merecer a Tafuri algumas
tudo começou e sempre retornava, dividindo o tempo com observações e perguntas, como sempre com algo de iróni-
outras terras, foram seus lugares de eleição a Sereníssima co. Ele aceitou com muito agrado o convite, na condição
República de Veneza e – fora da Itália, sem contar os a de ir a Tomar, e de ser apenas no ano letivo seguinte, pois
que o atraía a arquitetura contemporânea, sobretudo Vie- entretanto teria de ir aos Estados Unidos fazer uma deli-
na “la Rossa”, essa cidade-fronteira com o mundo oriental cada operação de cirurgia cardíaca.
como Veneza) – no Sul da Espanha Sevilha, o centro do Como se sabe, o processo de recobro foi tragicamente
mundo colonial castelhano, e Granada, a mítica cidade das interrompido pela sua morte logo no ano seguinte, a 23 de
3 religiões, cabeça do último reino muçulmano da Euro- fevereiro. E Tafuri acabou não vindo a Lisboa.
274 275
Estamos em crer que se tivesse realizado essa viagem, mica – e as implicações de um projeto do passado sobre
ido a Tomar ver seu admirado Diogo de Torralva, e conhe- o futuro, num contínuo ir-e-vir do dispositivo crítico que
cido ao vivo – como ele gostava – a arquitetura renas- alguém já designou por “o pêndulo de Tafuri” (Antonino
centista portuguesa (e até um claustro circular, como o do Saggio, 1995). Temos de lançar mãos à obra.
Palácio de Carlos V em Granada que tanto havia estudado,
no Mosteiro agustiniano da Serra do Pilar, de 1537), muita
coisa teria mudado. O peculiar ambiente português, tão
afim ao seu gosto multicultural, e a atmosfera e a arte
de Lisboa, a grande rival de Veneza no século XVI, não
deixariam de o interessar e questionar, levando-o sabe-se
lá a que estudos. E atrás disso viria a descoberta do mun-
do colonial português e da sua arte tão excêntrica quão
fascinante – e, quem sabe, o Brasil (o do Nordeste, Olinda
e Salvador, não Minas Gerais e o Aleijadinho de Germain
Bazin, com quem não penso teria qualquer afinidade...).
Mas, como eu terminava o obituário publicado sob o
impacto do seu prematuro falecimento, já nada havia a
fazer. “Tarde demais!”..., concluía eu esse necrológio. Res-
ta-nos completar o que ele poderia ter feito e não teve
tempo de fazer: inspirados no exemplo que nos deixou
por herança, prosseguir o seu tão trabalhado esforço na
eterna e sempre impossível missão da busca da verdade
na História: a história real da Arquitetura e da “ideologia
arquitetónica” (um conceito tão tafuriano), vistas segundo
uma estratégia pós-estruturalista (como o “pensiero ne-
gativo” de Massimo Cacciari e a “micro-história” de Carlo
Ginzburg) no contexto das outras linguagens da história
– a das mentalidades, da religião, social, política, econô-
276 277
3ªsessãosessionsessione
Cidade e Arquitetura
no Século XX
Manfredo Tafuri e a morte da Manfredo Tafuri desapareceu, prematuramente, há
arquitetura cerca de 20 anos, em 23 de fevereiro de 1994. O histo-
Manfredo Tafuri and the death of riador romano contava 59 anos. No seu velório, Massimo
architecture
Cacciari o descreveu como o professor dos “indícios e das
Manfredo Tafuri e la morte
dell’architettura conjeturas”, não dos “fundamentos e certezas”.
Alguns meses depois, em janeiro de 1995, a revista
Marco de MICHELIS Casabella publicava um número monográfico sobre Tafuri
com artigos de historiadores ilustres e de arquitetos in-
TraduçãoTranslationTraduzione fluentes como por exemplo Vittorio Gregotti, José Rafael
Marisa Barda
Moneo, Howard Burns, Jean-Louis Cohen, Joan Ockman,
RevisãoReviewRecensione entre outros.
Anita Di Marco
Lia-se sobre a “ruptura epistemológica” provocada por
Tafuri na narrativa histórica da arquitetura do século XX
(Cohen) ou, do “choque cultural” provocado pelas suas
pesquisas sobre a arquitetura americana, dividida entre
a neovanguarda e o enfoque realístico e historicista dos
arquitetos pós-modernos (Ockman).
Como demonstram sucessivas reflexões controversas,
como uma verdadeira “prestação de contas” publicadas
280 281
no número especial – “Being Manfredo Tafuri” – de ANY como sendo uma “poética da renúncia”1. No entanto, “a
de 2000, a recepção crítica do pensamento de Tafuri está morte da arquitetura” permanecerá como uma espécie de
longe de ser alcançada. Já em 1994, das páginas de Archis, palavra-chave da aceitação de Tafuri: para Aldo Rossi, que
um significativo representante da geração sucessiva de o acusava, um pouco brincando e um pouco a sério, de “as-
historiadores americanos como Mark Wigley reconhecera sassinar a arquitetura” 2; até mesmo para intérpretes sutis
que Tafuri pertencesse, de alguma maneira, ao passado e da arquitetura recente tais como Rem Koolhaas que, já na
que seus textos acabavam sendo embaraçosos justamente década de 1980, denunciava o caráter “intimidatório”3 das
pela sua capacidade de criar, a cada vez, sempre novos e ideias do historiador italiano e o acusava de considerar “a
diferentes territórios de pesquisa. arquitetura como uma série de cadáveres no necrotério”4.
Portanto, não deve surpreender que, nesses últimos Todos nós sabemos que Koolhaas não tinha razão e
vinte anos, Tafuri tenha ocupado o pano de fundo das que Manfredo Tafuri não “odiava”5 a arquitetura. Sabemos
reflexões sobre a arquitetura em vez de estimular novas também “que seu trabalho não foi produzido contra os ar-
pesquisas e novos aprofundamentos. Em sua maioria, seus quitetos, contra sua cultura” como pensava Ignaci de Sola
livros estão esgotados e uma edição crítica de sua obra Morales 6.
está longe de acontecer. As controvérsias de Manfredo Tafuri com a arquitetura
Vamos tentar refletir brevemente sobre os motivos contemporânea parecem ter sido caracterizadas pelo re-
desse embaraçoso esquecimento. conhecimento de uma condição de perda, de dúvida, de
No primeiro número de 1969 da revista “Controspazio”, ansiedade, que marcou seu destino. Afinal, a famosa aber-
Paolo Portoghesi tinha interpretado Per una critica della tura de Projeto e Utopia é “afastar a angústia compreen-
ideologia architettonica (Por uma crítica da ideologia ar- dendo e interiorizando suas causas: isso parece ser um dos
quitetônica), publicado no ano anterior por Manfredo Ta- principais imperativos éticos da arte burguesa”.
furi nas páginas de “Contropiano”, como sendo o anúncio
1 Progetto e utopia, p.2
funesto da morte da arquitetura. O próprio Tafuri negava, 2 ANY, p.10
repetidamente, esse caráter apocalíptico de seu texto ob- 3 Arch. D’au…1985
servando “que nunca havia cantado sobre túmulos inexis- 4 Women tabk 197
tentes” e que, certamente, não reconhecia sua pesquisa 5 Ibidem
6 Any p. 59.
282 283
Essas dúvidas parecem ter começado já no final do décadas precedentes, os arquitetos franceses tinham ten-
século XVII, com o debate entre os “antigos e os moder- tado substituir as regras “objetivas” das ordens clássicas
nos” na França de Perrault. A discussão sobre as “ordens com as noções “subjetivas” de “caráter”, que envolviam a
clássicas” colocara em crise os próprios fundamentos da experiência sensível – até mesmo perceptível – do obser-
arquitetura. A analogia naturalística da coluna com o cor- vador. E German Boffrand tinha introduzido aquela ideia
po humano, de suas proporções com um sistema de regras de “arquitetura falante” que procurava reestabelecer uma
reconhecíveis no universo natural – não menos do que ligação analógica com a pintura e a poesia.
com as regras matemáticas da representação em perspec- A “cabana primitiva” de Laugier constituía, por sua vez,
tiva dos volumes no espaço – tinha representado, durante um “arquétipo natural” – um princípio “genético” 7 – do
o “longo renascimento”, aquele fundamento racional que qual se tirava a própria noção de “ordem”, como funda-
garantira também à arquitetura – arte não mimética por mento estrutural – estético e construtivo e não decora-
excelência – um estatuto coerente com o da pintura e o da tivo – de todos os edifícios. Dessa maneira, nosso abade
escultura. Se o objetivo da imitação mais perfeita possível tentava restabelecer uma sequência coerente desde o
dos fenômenos naturais não podia ser, por si só, outor- início, através da regra, em direção à perfeição, cujo pa-
gado à arquitetura, a referência, pelo contrário, parecia pel era o de exorcizar o risco do capricho e do arbítrio
possível para as “regras” que conformam a natureza e per- sem fundamento. “O gosto propagandeado por Laugier se
mitem sua representação tridimensional. orientava na direção da simplicidade, da pureza formal e
A crise desse sistema evidenciava, de forma intensa, a da sinceridade estrutural” 8. Porém, isso exigia “um guia
questão da sobrevivência da própria noção de arquitetura, que o dirigisse e freios que o impedissem de ir além dos
e de como ela, através da interpretação do texto vitruvia- limites” 9. Além desses limites, a própria arquitetura estava
no, começou a tomar forma a partir dos tratados de Fran- condenada a desaparecer.
cesco di Giorgio e de Alberti, até os de Palladio e de Serlio. Sabemos que o próprio Tafuri tinha dado pouca aten-
A história da arquitetura ocidental, a partir do século ção ao tratado de Laugier, sobre o qual se fixou apenas,
XVIII, também pode ser descrita como a história da busca creio eu, para destacar o novo papel que a cidade assumia
de uma sobrevivência da própria arquitetura. com relação às práticas arquitetônicas. Mas o fato de o
Caso contrário, como podemos interpretar, por exem-
7 Introdução a Laugier, p. 15
plo, um dos livros mais influentes do século XVIII, ou seja, 8 Herrmann in id: p. 21
“Essai sur l’architecture” de Marc-Antoine Laugier? Já nas 9 Laugier, p.39
284 285
início de sua reflexão sobre a arquitetura contemporânea racionalidade que, essencialmente, o universo capitalista
ter tido como protagonista a “utopia negativa”10 de Gio- não possui.
vanni Battista Piranesi, no mesmo período final do século Mas o problema não estava relacionado, apenas, à ine-
XVIII, parece demonstrar que Tafuri também determinava xorável separação entre arquitetura, progresso técnico,
uma cronologia da “crise” da arquitetura a partir do século novos conhecimentos científicos, revoluções das formas
XVIII. próprias da revolução industrial, do consumo e da políti-
Não é por acaso que, no início de Progetto e Utopia, ca. Não se relacionava apenas à separação já consumada
ele lembrava a definição de arquitetura dada por Quatrè- entre a disciplina de engenharia e a de arquitetura. O pró-
mere de Quincy na Encyclopdie méthodique: ela “busca a prio surgimento da noção de “tectônica” – um neologismo
salubridade das cidades, conserva a saúde dos homens, cunhado no contexto das ciências arqueológicas, mas logo
protege suas propriedades e trabalha apenas para a segu- assumido pelos arquitetos – assume, se prestarmos aten-
rança, a tranquilidade e a ordem da vida cívica”. ção, um significado de crise. A tectônica, isto é, a arte de
O único problema era que a própria constituição da interligar as diferentes partes de um edifício, configuran-
ciência e da técnica, como sendo corpos independentes do como unidade aquilo que, originalmente, era descon-
do conhecimento, separava e isolava a arquitetura dos tínuo, parece ser a expressão da conscientização da uni-
processos reais de configuração e de transformação da dade perdida da arquitetura. Aponta um problema. Exige
sociedade moderna. a possibilidade de reestabelecer um sistema de relações
entre as partes que, inexoravelmente, estava perdido.
Para Tafuri, essa era a origem da natureza ideológica
de qualquer experimentação/produção arquitetônica mo- Em Londres, em 1851, olhando o Palácio de Cristal
derna: o fato de não ser mais protagonista das transfor- de Joseph Paxton, Gottfried Semper, talvez o mais lúcido
mações reais produzidas pelo desenvolvimento capitalista pensador da arquitetura do século XIX, logo reconheceu
e de ser capaz de interpretar seu significado apenas poste- uma contradição extraordinariamente ameaçadora. O edi-
riormente. Poder-se-ia dizer que não mais era permitido à fício de Paxton, uma estufa de ferro e vidro transformada
arquitetura dar forma à realidade, mas apenas reformá-la. em um enorme complexo de exposições, segundo Semper,
Reforma é uma palavra chave crucial da modernidade por parecia algo incoerente com a própria noção de tectônica.
exprimir o desejo de restabelecer aquela ordem e aquela Seu ideal é alcançar a maior leveza possível até o limite
da imaterialidade. As junções entre as numerosas placas
de vidro e a estrutura metálica se repetem com uma regu-
10 Angelus Novus, p. 89-127; Biraghi, p. 67
286 287
laridade sem deformações, que não correspondem mais a estatuto ideológico da arquitetura contemporânea, o úni-
nenhuma “sintaxe compositiva” dos elementos. Para sal- co estatuto que, mesmo sendo contraditório, podia justifi-
var a própria noção de “arquitetura”, Semper é obrigado a car a resistência contra sua própria “mise en abme”12.
articulá-la em duas categorias bem distintas, dando ape- Portanto, é verdade que Tafuri falou da “morte da ar-
nas àquela “monumental” o papel de manter viva a ideia quitetura” e da busca angustiante para salvar, através da
de uma composição bem proporcional de seus elementos. ideologia, pelo menos os fragmentos, até o desencanto
A outra, aquela “útil”, tem o destino que advém do pro- da vanguarda e suas tentativas de espelhar justamente a
gresso da técnica. crise de valores que a ameaçava. Mas, não se tratava nem
Tafuri não se concentra diretamente nesses temas. de um anúncio, nem de uma condenação.
Mas colhe com precisão a paralela e, igualmente, amea- O projeto histórico de Tafuri “era o de revelar esse de-
çadora transformação da cidade em metrópole, “que in- sencanto exatamente pelo que era”13. Ele não quis contar
corpora, na informalidade de seu corpo, qualquer objeto a história da relação entre arquitetura e realidade, mas
arquitetônico,”11 absorvido em um espaço contínuo, do- o evento contraditório das tentativas da arquitetura de
tado de invisível racionalidade, essencialmente diferente “existir” na realidade do mundo contemporâneo. De reco-
daquela que tinha caracterizado a cidade histórica. Bem nhecer toda a realidade como um “ready made” e, exata-
na passagem entre os séculos XIX e XX, Otto Wagner ti- mente por isso, poder transformá-la14.
nha descrito a perturbadora novidade: a vastidão das pe-
Portanto, seus “heróis” são justamente aqueles arqui-
riferias, as dimensões inusitadas e regulares das ruas e
tetos que combatem essa batalha, que “afastam a angús-
praças, o irrefreável processo de crescimento, diante do
tia entendendo-a e internalizando as suas causas”15. Seus
qual, a arquitetura metropolitana era chamada a elaborar
heróis são aqueles que se movem entre as ruínas e tentam
um novo personagem, caracterizado por uma regularidade
anônima: a ponto de mudar seu próprio nome. Não mais o 12 (N.do T.: Mise en abme é um termo em francês, no âmbito da literatu-
ra, cinema e das artes plásticas, normalmente traduzido como “narrativa ou
de arquitetura com todos os condicionantes de sua histó- construção em abismo”, usado e teorizado por André Gide ao falar sobre uma
composição que inclui a própria narrativa dentro de outras narrativas. Na
ria mas, com o de “Baukunst”, ou seja, a “arte de construir”. pintura, por exemplo, isso ocorre quando o quadro possui uma cópia menor
de si mesmo dentro do próprio quadro; algo como um reflexo especular, o
Esse é o dilema ao qual Tafuri dedicou seu “projeto reflexo de um elemento do interior do outro, como na obra As Meninas, de
histórico”. Não à reconstrução historicista dos “fatos exa- Diego Velásquez.)
13 Vidler, p. 174.
tamente como aconteceram”; mas sim à construção de um
14 Arch. Contemporanea, p,105. Biraghi, p.76.
11 Teorie e storia, p. 112 15 Toward a critique if architectural ideology, Hays, p.6
288 289
interpretar seu significado. Louis Kahn, cuja extraordinária complexidade é reduzida
Claramente não são os protagonistas de uma “arquite- por Tafuri a símbolo de uma resistência mística, desco-
tura genérica”, que acreditam poder, astutamente, desviar nhecendo a verdadeira natureza do problema. Uma qui-
o olhar para outro lado e ir além da ideologia. Nem mes- mera inconsciente e, por isso mesmo, anti-histórica pela
mo o desesperado otimismo das neovanguardas das déca- sua pretensão de restabelecer a plenitude do significado
das 1950 e 1960 – mas talvez também de tantos arquite- da forma arquitetônica, incompatível com a realidade.
tos do início do século XXI! – que tinham acreditado na E, paradoxalmente, é ainda vítima Robert Venturi,
possibilidade de uma imersão purificadora na pluralidade também responsável por uma tentativa de “refundação
pulsante das manifestações da sociedade contemporânea, da arquitetura”, só nas aparências diferente da tentativa
de poder ir além “da arquitetura”, simplesmente aceitando de Kahn, pois esse esforço também está baseado na re-
a realidade e seus materiais “as found”16. proposição de uma “forma significante”, de uma renovada
Para Tafuri muito mais apaixonante havia sido a “ar- “densidade da imagem arquitetônica”20 que, ao historiador
queologia do presente”,17 praticada por Carlo Scarpa e, italiano, parece ser ainda mais destrutiva que a modesta
de maneira diferente, por James Stirling. Segundo Tafuri, qualidade de seus projetos e edifícios.
Stirling reduzia a linguagem arquitetônica – ainda não a Sabemos muito bem quem são “os novos cavaleiros da
realidade – a fragmentos “as found”; ele manipula essa pureza” 21 de Tafuri. São aqueles arquitetos – os “Five” nos
linguagem, a reescreve, a desmonta e remonta, “conde- Estados Unidos, Aldo Rossi na Itália – que, no final dos
nando-a a meditar e refletir sobre si mesma”18. “Sua arqui- anos sessenta, introduziram uma reflexão crítica da tra-
tetura – assim afirma Tafuri – não abre novos caminhos, dição moderna e de seus instrumentos peculiares, mesmo
não indica metas a alcançar, não confia o próprio destino correndo risco de saberem que o resultado final desse pro-
a ninguém, a não ser a si próprio”.19 cesso não teria sido nada mais que a retirada da subjetivi-
Claro, são numerosas as vítimas do projeto histórico dade solitária da prática arquitetônica: o resultado que o
de Tafuri: não somente as neovanguardas dos anos 60 e a próprio Aldo Rossi reconheceria, alguns anos depois, em
denominada arquitetura radical. Vítima é, principalmente, seu livro “Autobiografia científica” onde observava que,
ao escrever “A arquitetura da cidade” ele, “provavelmente
16 Fim de século desejara, apenas, livrar-se da cidade e, na realidade, havia
17 la sfera e il lab. p. 325.
18 Arch contemp p. 368 20 Teorie e storia, p. 252-253. biraghi p. 120.
19 Ivi. 21 Sfera e lab., p. 323.
290 291
descoberto sua arquitetura”. “A sua insistência sobre as tervir neles de forma lúcida” 23.
coisas tinha revelado sua força” 22. A tentativa de seguir – e até mesmo absorver – a crí-
Há uma afinidade sutil e profunda – e até mesmo am- tica tafuriana era intensa a ponto de identificar o histo-
bígua – entre a ideia de Rossi de que a arquitetura pode riador romano como um dos arquitetos mais apaixonados
representar a si mesma como sendo um instrumento cog- de La Tendenza, enquanto, para Scolari, a relação com a
nitivo autônomo e uma disciplina independente – entre a história contém um projeto bem definido, inteiramente
afirmação de Rossi sobre a existência de um corpo autô- desenvolvido, mas não menos importante ou sugestivo do
nomo do conhecimento arquitetônico e a reivindicação de que aqueles que foram ‘somente’ projetados”24.
Tafuri sobre a autonomia da pesquisa histórica diante da Depois de irem além do dilema apocalíptico sobre a
prática do projeto arquitetônico. “morte da arquitetura”, Rossi e Scolari pareciam prontos
Essa afinidade foi, explicitamente, reivindicada em um para apresentar uma verdadeira interpretação tafuriana
texto escrito por Massimo Scolari, no catálogo da exposi- do drama que caracterizava a arquitetura daqueles anos:
ção “Arquitetura Racional” de 1973, organizada por Aldo “a de se ver obrigada a virar as costas à “arquitetura pura”,
Rossi. Para Scolari o caráter progressivo da redescoberta uma espécie de forma sem qualquer tipo de utopia, no
da autonomia disciplinar da arquitetura está no reconhe- melhor dos casos, uma sublime inutilidade. “Na realida-
cimento da fundamentação histórica dos próprios instru- de, deveríamos sempre preferir – assim dizia Tafuri – a
mentos de análise e de intervenção, em contraposição ao sinceridade daqueles que têm a coragem de falar a língua
momento utópico das vanguardas. Scolari buscava definir dessa silenciosa, irrealizável pureza às tentativas mistifi-
uma condição “crítica” para a estratégia de fortalecimento cadas de vestir a arquitetura com os trajes da ideologia. 25
e autonomia da arquitetura: “a arquitetura é um proces- “O projeto histórico” constitui o colossal capítulo de
so cognitivo que, por si só, ao reconhecer a própria au- introdução (Casabella 1977, Oppositions 1979) do volume
tonomia, hoje requer uma refundação da disciplina; uma La sfera e il Labirinto, publicado por Tafuri em 1980, reu-
refundação que recusa soluções interdisciplinares da pró- nindo uma série de ensaios publicados, separadamente,
pria crise; que não pesquisa a si mesma nem mergulha em anos anteriores, tanto na Itália quanto nos Estados
nos eventos políticos, econômicos, sociais e tecnológicos Unidos.
somente para camuflar a própria esterilidade criativa e
23 Hays, p. 131-132
formal, mas sim, deseja entendê-los para ser capaz de in-
24 Hays, p. 133
22 Autobiografia scient. p.22 25 Hays, p. 133
292 293
Hoje ele pode ser utilizado como elemento crucial um “projeto de crise”.
para interpretar a natureza da historiografia de Tafuri: Mark Wigley individualizou bem neste aspecto o lega-
seus percursos tortuosos, às vezes, até mesmo labirínticos do mais extraordinário e peculiar de Tafuri quando afirma
e, seus significados. que sua “gigantesca herança não é a sua análise específica
Sobre todas as questões fica uma leve impressão so- de eventos particulares, mas a escandalosa introdução de
bre a natureza da mensagem arquitetônica, sobre a sua contradições no coração da análise histórica” (ANY,1)
estrutura linguística ou melhor, da sua dissolução, da sua Cacciari e Rella e suas reflexões, especificamente so-
multiplicação “em técnicas incomunicáveis entre si”. bre a filosofia da história de Benjamin, são, evidentemen-
A referência do texto de abertura de Tafuri é um mo- te, os companheiros de caminhada de Tafuri nesse per-
delo exemplar, a prática micro-histórica descrita por Carlo curso.
Ginzburg: uma pesquisa na qual “as peças estão disponí- Projeto de crise significa, antes de mais nada, interro-
veis somente em parte e as figuras que podem ser com- gar-se sobre a questão “das origens” e, o próprio projeto
postas são, teoricamente, mais de uma... Por isso, o fato ligado a essas origens pelo ponto final “que tudo explique
que tudo é solucionável é um indício ambíguo”. e que faça a verdade vir à tona”; e nessa perspectiva, a
A falta de homogeneidade dos materiais sobre os quais noção de genealogia formulada por Foucault vem ao au-
o historiador de arquitetura pode trabalhar – linguagem, xílio, quase como um expediente capaz de tirar do foco
técnicas, instituições, espaço histórico – torna impossível a centralidade da origem: de “opor-se ao deslocamento
reconduzi-los a uma única “estrutura subjacente”, ou “tra- meta-histórico dos significados ideais e das teleologias
duz-los em uma única linguagem”. indefinidas”.
Em relação a essa condição, o papel da história não Dessa maneira o saber deixa, portanto, de se consi-
é somente aquele “hermenêutico” da interpretação mas derar como “verdade universal”, mas, como diz Foucault,
o da “produção de significados”, sejam eles provisórios e “derruba as proteções ilusórias, rompe a unidade do sujei-
nunca definitivos, “a partir dos vestígios significantes dos to”, tornando-se então “projeto de crise”.
eventos”. O encontro entre Tafuri e Foucault constitui um dos
Essa provisoriedade dos resultados da luta – da tensão nós mais complexos da interpretação da filosofia da his-
– entre “a análise e os seus objetos” permite que Tafuri tória de Tafuri. Georges Teyssot acredita que o texto tafu-
formule a hipótese de um “projeto histórico” como sendo riano constitua, substancialmente, um ataque a Foucault
294 295
como também a Guattari e a Deleuze. E Tony Vidler, no se muito bonita de Simmel, que diz “o segredo da forma
mesmo contexto do número monográfico de ANY, atribui está no fato que ela é limite; ela é o próprio objeto e, ao
às “melhores tradições do marxismo ortodoxo” o aspecto mesmo tempo, o cessar do objeto”. A pesquisa histórica se
quase cômico “das alusões repetitivas a Barthes, Foucault, situa nesse intervalo instável e sutil.
Deleuze, Derrida”, sempre seguidas por uma “ressalva”26 e Certo, Tafuri está bem alinhado com a tradição do pen-
pela denúncia da ambiguidade do niilismo deles. samento marxista – Lukacs, Adorno, Benjamin. Porém,
Na realidade, a relação de Tafuri com os novos filóso- encontra um espaço autônomo de pensamento exatamen-
fos franceses aconteceu sempre através da mediação do te no momento em que recusa qualquer possibilidade de
pensamento crítico alemão: Nietzsche, Heidegger, Adorno reencontrar um centro, uma síntese conclusiva do percur-
e Benjamin. Por exemplo, ele usa, repetidamente, o termo so do historiador: o único percurso permitido ao historia-
“desconstrução” porém sempre como um ato preliminar dor não é aquele na direção do centro, mas “na direção
a uma “reconstrução”, ainda que provisória, lembrando o do divórcio entre significante e significado”, em busca dos
risco, já evocado por Nietzsche em “Aurora”, de um conhe- “múltiplos significados da realidade”.
cimento que prevê um só temor – “o de extinguir-se em si Aqui aparece uma nova metáfora nietzschiana que
próprio” – ou em “além do bem e do mal”, de “um perfeito será muito valiosa para Tafuri: a do conhecimento que
conhecimento que encontra a anulação”. Para Tafuri, este tropeça “em palavras eternizadas e duras como pedras”
é o risco das práticas de desconstrução: o “da re-consa- (Aurora). Despedaçar essas pedras ou, melhor, deslocá-las
gração dos fragmentos analisados no microscópio como e reposicioná-las é o papel do historiador, direcionando o
novas unidades autônomas e significantes em si mesmas”. próprio campo de pesquisa “aos limites das linguagens, às
Para Tafuri é crucial encaminhar a pesquisa histórica fronteiras das técnicas, às percepções que dão profundi-
em direção à pluralidade de suas linguagens e de seus dade” , “destruindo a linearidade da história de uma lin-
protagonistas, envolver sua complexidade peculiar, os guagem formal e a sua autonomia”.
inúmeros limiares que deslocam, continuamente, seus Como já lembramos, a questão da constituição dos sa-
sujeitos parciais e suas línguas “intraduzíveis”, isto é, in- beres disciplinares separados e intraduzíveis, da dissolu-
capazes de superar os próprios limites. Tafuri cita uma fra- ção do saber clássico da arquitetura e da separação entre
26 N. do T.: Em italiano o escritor usou o temo “distinguo” s. m. [pres. indic.
técnica e arquitetura, nos primórdios do moderno, consti-
do verbo distinguere]. Fórmula que, na filosofia escolástica, introduzia um tui para Tafuri um elemento fundamental para identificar
argumento como resposta a uma objeção fazendo uma distinção; mais tarde
passou a ser de uso corrente. a natureza ideológica das práticas arquitetônicas no tem-
296 297
po da modernidade. Quando isso for necessário, Tafuri mudará o terreno de
A diferença crucial entre as práticas de desconstrução sua pesquisa, voltando-se ao grande período – às pala-
e o projeto tafuriano é a defesa da sobrevivência do “espa- vras “duríssimas” – do renascimento.
ço histórico”, da capacidade de superar as fronteiras entre Mas, enquanto a multiplicidade de linguagens ocupar
as linguagens e os sistemas de domínio, capacidade que o centro de seu pensamento, então será óbvio privilegiar
permite à história lidar com a realidade, mesmo que pro- o terreno da modernidade.
visoriamente. Aqui, o historiador poderá, pacientemente, perseguir
Aqui surge mais um crucial dilema: “como construir seus diversos papéis: o da descrição crítica da “invenção
uma história que, após ter estilhaçado e decomposto o do projeto”, da história geral das estruturas e das relações
aparente aspecto compacto do real, após ter deslocado as de produção.
barreiras ideológicas que escondem a complexidade das É esse panorama multiforme que, talvez, possa expli-
estratégias de domínio, alcança o ponto crucial daquelas car porque, para Tafuri, uma abordagem filológica pudes-
estratégias: isto é, que alcance os seus modos de produ- se parecer supérflua nas suas pesquisas sobre a arquite-
ção” e, ao mesmo tempo, não caia na armadilha da ilusão tura do século XX. Reler, hoje, os textos de Tafuri sobre a
de ter reconquistado um “centro definitivo”, de ter exorci- arquitetura contemporânea revela uma relação realmente
zado a natureza “infinita e provisória” da análise crítica: as precária, quase rudimentar, com as fontes primárias. No
diversas histórias descritas na introdução de seu volume entanto, os resultados, às vezes extraordinários, dessa
sobre a arquitetura contemporânea. abordagem parecem ser o resultado de uma capacidade
Para Tafuri, a arquitetura é um terreno ideal de exercí- realmente inédita de ampliar as próprias pesquisas para
cio dessa prática histórica, exatamente pela sua complexi- territórios até então desconhecidos, de preencher o palco
dade e pela multiplicidade de suas linguagens e técnicas. da história com atores inesperados – clientes, políticos,
“O despedaçamento da ordem clássica” no tempo moder- cientistas, pensadores.... – e assim construir uma densa
no acentuou mais ainda essa complexidade, “dispersando rede de significados críticos entre essas diferentes vozes.
e diferenciando” as diferentes abordagens na construção O quadro do quebra-cabeças da arquitetura moderna –
do ambiente físico. Para o historiador, é impossível encon- esse enigma do qual falamos no início desta comunicação
trar uma obra no período moderno na qual coexistam a – foi radicalmente transformado por essas investigações
pluralidade das linguagens, as técnicas, as arquitetônicas, seminais. E é papel das gerações sucessivas recolocar a
as políticas...
298 299
peças no lugar.
Nesse ponto, os caminhos da arquitetura contemporâ-
nea se separavam, irremediavelmente, do projeto históri-
co tafuriano.
O seu “desencanto” total era prova da consciência de
que não havia mais nada a ser encontrado na “solidão hip-
nótica” dessa arquitetura que ele amava chamar de ‘hiper-
moderna’.
Aos seus olhos não havia nada além de fragmentos. O
prosseguir da pesquisa pretendia novos territórios.
300 301
ti, José Rafael Moneo, Howard Burns, Jean-Louis Cohen, Joan fredo Tafuri sulle pagine di “Contropiano”, come l’annuncio
Ockman, solo per ricordarne alcuni. funesto della morte dell’architettura. Tafuri stesso negava
Vi si poteva leggere della “rottura epistemologica” pro- ripetutamente questo carattere apocalittico del suo testo,
vocata da Tafuri nel racconto storico della architettura del osservando “di non aver mai cantato su tombe inesistenti” e
ventesimo secolo (Cohen) o dello “schock culturale” provoca- di non riconoscere di certo la sua ricerca come una “poetica
to dalle sue ricerche sulla architettura americana, divisa tra della rinuncia”1 . Eppure, la “morte della architettura” rimarrà
neoavanguardie e l’approccio realistico e storici - sta degli una sorta di parola-chiave della ricezione tafuriana: per Aldo
architetti postmoderni (Ockman). Rossi che lo accusava, un po’ per gioco e un poco per davvero,
di “assassinare l’architettura”2; persino per interpreti sottili
Come dimostrano controverse successive riflessioni, come
della architettura recente come Rem Koolhaas, che, ancora
le vere e proprie “rese dei conti” pubblicate nel numero spe-
negli anni ottanta, denunciava il carattere “intimidatorio”3
ciale –“Being Manfredo Tafuri”- di ANY del 2000, la recezione
delle idee dello storico italiano e e lo accusava di considerare
critica del pensiero tafuriano è tutt’altro che compiuta. Già
“l’architettura come una schiera di cadaveri all’obitorio”4.
nel 1994, dalle pagine di Archis, un significativo rappresen-
tante della generazione successiva di storici americani, come Noi tutti sappiamo che Koolhaas aveva torto, che Manfre-
Mark Wigley, aveva riconosciuto come Tafuri appartenesse in do Tafuri non “aveva in odio”5 l’architettura. Sappiamo anche
qualche modo al passato e come i suoi testi risultassero alla “che il suo lavoro non è stato prodotto contro gli architetti,
fine imbarazzanti proprio per la loro capacità di inaugurare contro la loro cultura”, come invece pensava Ignaci de Sola
ogni volta sempre diversi territori di indagine. Morales6.
Non deve dunque stupire che in questi vent’anni, Tafuri Il confronto di Manfredo Tafuri con l’architettura con-
abbia occupato lo sfondo delle riflessioni sulla architettura, temporanea sembra essere stato caratterizzato dal riconos-
piuttosto che stimolare nuove ricerche e nuovi approfondi- cimento di una condizione di perdita, di dubbio, di ansietà,
menti. I suoi libri sono per lo più esauriti. Una edizione critica che ne ha segnato il destino. Del resto, l’incipit famoso di
della sua opera è lontana a venire.
Cerchiamo di riflettere brevemente sulle ragioni di questo 1 Progetto e utopia, p.2
imbarazzato oblio. 2 ANY, p.10
3 Arch. D’au…1985
Nel primo numero del 1969 della rivista “Controspazio”, 4 wonen tabk 1978
Paolo Portoghesi aveva interpretato Per una critica della ide- 5 ibidem
ologia architettonica, pubblicato l’anno precedente da Man- 6 Any p. 59.
302 303
Progetto e utopia è: “Allontanare l’angoscia comprendendo- dei libri più influenti del diciottesimo secolo, cioè l’”Essai sur
ne e introiettandone le cause: questo sembra essere uno dei l’architecture” di Marc-Antoine Laugier? Già nei decenni pre-
principali imperativi etici dell’arte borghese”. cedenti, gli architetti francesi avevano cercato di sostituire le
Questi interrogativi sembrano aver avuto l’inizio già sul regole “oggettive” degli ordini classici con le nozioni “sogget-
finire del diciassettesimo secolo con il dibattito tra gli “an- tive” di “carattere” che coinvolgevano l’esperienza sensibile
tichi e i moderni” nella Francia di Perrault. La discussione – perfino percettiva - dell’osservatore. E Germain Boffrand
sugli “ordini classici” aveva messo in crisi i fondamenti stes- aveva introdotto quella idea di “architettura parlante” che
si della architettura. L’analogia naturalistica della colonna cercava di ristabilire un collegamento analogico con la pit-
con il corpo umano, delle sue proporzioni con un sistema di tura e la poesia.
regole riconoscibili nell’universo naturale- non meno delle La “capanna originaria” di Laugier costituiva a sua volta
regole matematiche della rappresentazione prospettica dei un “archetipo naturale” – un “principio genetico”7 - dal quale
volumi nello spazio- aveva rappresentato durante il “lungo traeva orgine la nozione stessa di “ordine”, in quanto fonda-
rinascimento” quel fondamento razionale che aveva garanti- mento strutturale – estetico e costruttivo e non decorativo
to anche all’architettura – arte per eccellenza non mimetica - di ogni edificio. E, in questo modo, il nostro abate cercava di
- uno statuto coerente con quello della pittura e della scul- ristabilire una sequenza coerente dal principio, attraverso la
tura. Se l’obiettivo della imitazione la più perfetta possibile regola, verso la perfezione, il cui compito era quello di esorci-
dei fenomeni naturali non poteva essere, di per sé, assegnato zzare il rischio del capriccio e dell’arbitrio privo di fondamen-
alla architettura; il riferimento era sembrato invece possibile to. “Il gusto propagandato da Laugier era orientato verso la
per le “regole” che conformano la natura e ne permettono la semplicità, la purezza formale e la sincerità strutturale” 8. Ma
rappresentazione tridimensionale. esso richiedeva “una guida che lo indirizzasse e dei freni che
La messa in crisi di questo sistema sollevava drammatica- gli impedissero di travalicare i limiti” 9. Al di là di questi limiti,
mente la questione stessa della sopravvivenza della nozione l’architettura stessa era condannata a sparire essa stessa.
stessa di architettura, come essa, attraverso la interpreta- Sappiamo che Tafuri aveva egli stesso riservato ben scar-
zione del testo vitruviano, aveva preso forma a partire dai sa attenzione al trattato di Laugier, sul quale si era soffer-
trattati di Francesco di Giorgio e di Alberti, fino a quelli di mato, io credo, soltanto per sottolineare il nuovo ruolo che
Palladio e di Serlio. veniva assunto dalla città per le pratiche architettoniche. Ma
La storia dell’architettura occidentale a partire dal di- che l’inizio della sua riflessione sull’architettura contempora-
ciottesimo secolo può essere raccontata anche come la storia
7 Introduzione a Laugier, p. 15
della ricerca di una sopravvivenza dell’architettura stessa. 8 Herrmann in id: p. 21.
Come altrimenti potremmo interpretare, ad esempio, uno 9 Laugier, p.39
304 305
nea, abbia avuto come protagonista “l’utopia negativa”10 di cenze scientifiche, rivoluzione delle forme stesse della produ-
Giovan Battista Piranesi nello stesso scorcio finale del diciot- zione industriale, del consumo, della politica. Non riguardava
tesimo secolo, mi sembra dimostrare come anche Tafuri de- soltanto la separazione ormai consumata tra la disciplina
finisse una cronologia della “crisi” dell’architettura a partire dell’ingegneria e quella dell’architettura. Lo stesso apparire
dal diciottesimo secolo. della nozione di “tettonica” –un neologismo coniato nel con-
Non a caso, all’inizio di Progetto e Utopia, egli ricorda- testo delle scienze archeologiche ma ben presto fatto pro-
va Quatrèmere de Quincy e la sua definizione di architettu- prio dagli architetti- assume, a ben vedere, un significato di
ra nella Encyclopedie méthodique: essa “cerca la salubrità crisi. La tettonica, l’arte cioè del collegare le diverse parti di
delle città, conserva la salute degli uomini, protegge le loro un edificio, del configurare come unità quello che originaria-
proprietà e lavora soltanto per la sicurezza, la tranquillità e mente è discontinuo, sembra essere l’espressione della con-
l’ordine della vita civica”. sapevolezza dell’unità perduta dell’architettura. Segnala un
problema. Rivendica la possibilità di ristabilire un sistema di
Il solo problema era che il costituirsi stesso della scienza
relazioni tra le parti che è inesorabilmente andato perduto.
e della tecnica come corpi indipendenti di conoscenza sepa-
ravano e isolavano l’architettura dai processi reali di configu- Di fronte al Crystal Palace di Joseph Paxton, a Londra nel
razione e di trasformazione della società moderna. 1851, Gottfried Semper, forse il più lucido pensatore dell’ar-
chitettura del diciannovesimo secolo, aveva subito riconos-
Questa, per Tafuri, era l’origine della natura ideologica
ciuto una contraddizione straordinariamente minacciosa.
di qualsiasi sperimentazione/produzione architettonica mo-
L’edificio di Paxton, una serra in ferro e vetro trasformata in
derna: il fatto di non essere più protagonista della trasfor-
un enorme complesso espositivo, sembrava a Semper come
mazioni reali prodotte dallo sviluppo capitalistico e di essere
un evento incoerente con la nozione stessa di tettonica. Il suo
soltanto capace di interpretarne il senso a posteriori. Si po-
ideale è quello di raggiungere la maggior leggerezza possibi-
trebbe dire che all’architettura non era più consentito di dare
le, fino al limite dell’immaterialità. I giunti tra le innumerevo-
forma alla realtà, ma, al più, di ri-formarla. Riforma è una
li lastre di vetro e la struttura metallica si reiterano con una
parola-chiave cruciale della modernità in quanto esprime il
regolarità senza accenti che non corrispondono più ad alcuna
desiderio di ristabilire quell’ordine e quella razionalità che
“sintassi compositiva” degli elementi. Per salvare la nozione
l’universo capitalistico essenzialmente non possiede.
stessa di “architettura”, Semper è costretto ad articolarla in
Ma il problema non riguardava soltanto l’inesorabile se- due categorie ben distinte, affidando solo a quella “monu-
parazione tra architettura, progresso tecnico, nuove conos- mentale” il compito di tenere in vita l’idea di una ben pro-
10 Angelus Novus, p. 89-127; Biraghi, p. 67. porzionata composizione dei suoi elementi. All’altra, quella
306 307
“utile”, tocca il destino che le è affidato dal progresso della tamento dell’avanguardia e ai suoi tentativi di rispecchiare
tecnica. proprio quella crisi di valori che la minacciava.
Tafuri non si sofferma direttamente su queste tematiche. Ma non si è trattato né di un annuncio, né di una con-
Ma coglie con precisione il parallelo e altrettanto minaccioso danna.
trasformarsi della città in metropoli, “che fagocita nell’infor- Il progetto storico di Tafuri “era quello di rivelare questo
malità del suo corpo ogni oggetto architettonico”11, assorbito disincantamento per quello che esso era”12. Egli non ci ha
in uno spazio continuo, dotato di una invisibile razionalità, voluto raccontare la storia del rapporto tra architettura e re-
essenzialmente diversa da quella che aveva caratterizzato la altà, ma la vicenda contradditoria dei tentativi della archi-
città storica. Otto Wagner ne aveva descritto proprio a ca- tettura di “esistere” nella realtà del mondo contemporaneo.
vallo tra diciannovesimo e ventesimo secolo la sconvolgen- Di riconoscere l’intera realtà come un “ready made” e, proprio
te novità: la vastità delle periferie, le dimensioni inusitate e per questo, di poterla trasformare.13
regolari delle strade e delle piazze, l’inarrestabile processo
I suoi “eroi”, dunque, sono proprio quegli architetti che
di crescita, di fronte ai quali l’architettura metropolitana era
combattono questa battaglia, che “allontano l’angoscia com-
chiamata a elaborare un altrettanto nuovo carattere, contra-
prendendone e internalizzandone le cause”14. I suoi eroi sono
ddistinto da un’anonima regolarità: fino al punto da cambiare
quelli che si muovono tra le rovine e cercano di interpretarne
il suo stesso nome. Non più quello di architettura con tutti i
il significato.
condizionamenti della sua storia, ma quello di “Baukunst”, di
“arte del costruire”. Non lo sono di certo i protagonisti di una “architettu-
ra generica” che credono di poter astutamente volgere lo
Questa è il dilemma al quale Tafuri ha dedicato il suo
sguardo altrove e andare oltre l’ideologia. E neppure il dis-
“progetto storico”. Non già alla ricostruzione storicista dei
perato ottimismo delle neoavanguardie degli anni cinquanta
“ fatti esattamente come si svolsero”. Bensì alla costruzione
e sessanta –ma forse anche di tanti architetti all’inizio del
di uno statuto ideologico dell’architettura contemporanea,
ventunesimo secolo!- che avevano creduto alla possibilità di
l’unico statuto che, seppur contradditoriamente, ne poteva
una purificatrice immersione nella pulsante pluralità delle
giustificare la resistenza contro la sua stessa “mise en abime”.
manifestazioni della società contemporanea, di poter andare
E’ dunque vero: Tafuri ci ha parlato della “morte dell’ar- oltre “l’architettura” semplicemente accettando la realtà e i
chitettura” e della angosciosa ricerca di metterne in salvo,
attraverso l’ideologia, almeno i frammenti, fino al disincan- 12 Vidler, p. 174.
13 Arch. Contemporanea, p,105. Biraghi, p.76.
11 Teorie e storia, p. 112. 14 Toward a critique if architectural ideology, Hays, p.6.
308 309
suoi materiali “as found”15. getti e dei suoi edifici.
Per Tafuri, molto più appassionante era stata quella “ar- Sappiamo bene chi sono “i nuovi cavalieri della purezza”20
cheologia del presente”16 praticata da Carlo Scarpa, e in modo di Tafuri. Sono quegli architetti –i “Five” in America, Aldo
diverso da James Stirling. Stirling, secondo Tafuri, riduce il Rossi in Italia- che sul finire degli anni sessanta introduceva-
linguaggio architettonico –non già la realtà- a frammenti “as no una riflessione critica sulla tradizione moderna, sui suoi
found”. Lo manipola, lo riscrive, lo smonta e rimonta, lo “con- strumenti peculiari, anche a costo di divenire consapevoli che
danna a meditare e riflettere su se stesso”17. “La sua architet- l’esito finale di questo processo sarebbe stato null’altro che il
tura –così Tafuri- non apre sentieri nuovi, non indica mete a ritiro nella solitaria soggettività della pratica architettonica:
cui tendere, non affida ad altri che a sé il proprio destino”18. quel risultato che lo stesso Aldo Rossi avrebbe riconosciuto,
Certo: sono numerose le vittime del progetto storico ta- qualche anno dopo nella sua “Autobiografia scientifica”, dove
furiano: non solo le neoavanguardie degli anni sessanta e egli aveva osservato che, scrivendo “L’architettura della cit-
la cosiddetta architettura radicale. Vittima è Louis Kahn, tà” egli “probabilmente aveva soltanto voluto liberarsi della
soprattutto, la cui straordinaria complessità, viene ridotta città e, in realtà, aveva scoperto la sua architettura”. “Il suo
da Tafuri a simbolo di una mistica resistenza, inconsapevole insistere sulle cose aveva svelato la sua forza”21.
della vera natura del problema. Una chimera incosciente e, C’è una affinità sottile e profonda – e anche ambigua - tra
per ciò stesso, antistorica per la sua pretesa di ristabilire una l’idea rossiana che l’architettura può rappresentare se stes-
pienezza del significato della forma architettonica, incompa- sa come uno strumento cognitivo autonomo e una disciplina
tibile con la realtà. E paradossalmente ne è analogamente indipendente – tra l’affermazione di Rossi della esistenza di
vittima Robert Venturi, anch’egli responsabile di un tenta- un corpo autonomo della conoscenza architettonica- e la ri-
tivo di “rifondazione dell’architettura” solo apparentemente vendicazione tafuriana della autonomia della ricerca storica
dissimile da quello di Kahn, anch’esso fondato sulla ripro- di fronte alla pratica del progetto architettonico.
posta di una “ forma significante”, di una rinnovata “densità Questa affinità è stata esplicitamente rivendicata in un
dell’immagine architettonica”19 che appare allo storico italia- testo scritto da Massimo Scolari nel catalogo di quella mos-
no ancor più distruttiva della modesta qualità dei suoi pro- tra “Architettura razionale” curata da Aldo Rossi nel 1973. Per
Scolari, il carattere progressivo della riscoperta della autono-
15 Fine di secolo mia disciplinare della architettura risiede nel riconoscere il
16 la sfera e il lab. p. 325. fondamento storico dei propri strumenti di analisi e di inter-
17 Arch contemp p. 368.
18 Ivi. 20 Sfera e lab., p. 323.
19 Teorie e storia, p. 252-253. biraghi p. 120. 21 Autobiografia scient. p.22
310 311
vento, contrapposto alla stagione utopistica delle avanguar- di quelli che hanno il coraggio di parlare la lingua di questa
die. Scolari cercava di definire una condizione “critica” per la silenziosa, irrealizzabile, purezza‘”24.
strategia di autonomizzazione della architettura: “l’architet- “Il progetto storico” costituisce il colossale capitolo in-
tura è un processo cognitivo che di per sè, nel riconoscimento troduttivo (Casabella 1977, Oppositions 1979) del volume La
della propria autonomia, oggi richiede una rifondazione della sfera e il Labirinto, pubblicato da Tafuri nel 1980, raccoglien-
disciplina: una rifondazione che rifiuta soluzioni interdisci- do una serie di saggi, pubblicati isolati negli anni precedenti,
plinari della propria crisi; che non ricerca e non immerge se sia in Italia che negli USA.
stessa negli eventi politici, economici, sociali e tecnologici,
Esso può venire oggi utilizzato come una chiave cruciale
solo per mascherare la propria sterilità creative e formale, ma
per interpretare la natura della storiografia tafuriana: i suoi
piuttosto desidera comprenderli per essere capace di interve-
percorsi tortuosi, talora perfino labirintici, e i suoi significati.
nirvi lucidamente”22.
Su tutte le questioni aleggia quella della natura del mes-
Il tentativo di arruolare – persino di assorbire- la critica
saggio architettonico, quella della sua struttura linguistica:
tafuriana si spingeva così lontano fino al punto di identificare
o, meglio, della sua dissoluzione, della sua moltiplicazione
lo storico romano come uno “degli architetti più appassionati
“in tecniche fra loro incomunicabili”.
di Tendenza, in quanto – per Scolari - la relazione con la
storia contiene un progetto ben definito, interamente svilu- Il riferimento dell’incipit tafuriano è, esemplarmente, la
ppato, ma non meno importante o suggestivo di quelli che pratica microstorica descritta da Carlo Ginzburg: una ricerca
sono ‘soltanto’ progettati”23. nella quale “i pezzi sono disponibili solo in parte e le figure
che i possono comporre sono teoricamente più di una… Per-
Dopo essere andati al di là del dilemma apocalittico sulla
ciò, il fatto che tutto vada a posto è un indizio ambiguo”.
“morte della architettura”, Rossi e Scolari sembravano pronti
per fare propria l’interpretazione tafuriana del dramma che La disomogeneità dei materiali sui quali allo storico
caratterizzava l’architettura di quegli anni: “quella di vede- dell’architettura è consentito di lavorare – linguaggio, tec-
re se stessa obbligata a volgere le spalle alla “architettu- niche, istituzioni, spazio storicorende impossibile i ricondurli
ra pura’, una istanza di forma priva di qualsiasi utopia, una a una unica “struttura soggiacente”, di “tradurli” in un unico
sublime inutilità, nel migliore dei casi. ‘In vero, ai tentativi linguaggio.
mistificati di vestire l’architettura con gli abiti della ideolo- Rispetto a questa condizione, compito della storia non
gia, noi dovremmo sempre preferire –così Tafuri- la sincerità è soltanto quello “ermeneutico” della interpretazione, ma
quello della “produzione di significati”, sia pure provvisori e
22 Hays, p. 131-132
23 Hays, p. 133. 24 Hays, p. 133.
312 313
mai definitivi “a partire dalle tracce significanti degli eventi”. Guattari e Deleuze. E Tony Vidler, nel medesimo contesto del
Questa provvisorietà degli esiti della lotta – della ten- numero monografico di ANY, attribuisce alle “migliori tradi-
sione - tra “ fa l’analisi e i suoi oggetti” consente a Tafuri di zioni del marxismo ortodosso” l’aspetto quasi “comico” del-
formulare l’ipotesi di un “progetto storico” come “progetto le ripetute allusioni a Barthes, Foucalult, Deleuze, Derrida,
di crisi”. sempre seguite da un “distinguo” e dalla denuncia dell’ambi-
guità del loro nichilismo.
Mark Wigley ha ben individuato in questo aspetto il lasci-
to più straordinariamente peculiare di Tafuri quando afferma In realtà il rapporto i Tafuri con i nuovi filosofi francesi
che la sua “eredità monstrous non è la sua specifica analisi di avviene sempre attraverso la mediazione del pensiero cri-
eventi particolari, ma la scandalosa introduzione di contrad- tico tedesco: Nietzsche, Heidegger, Adorno e Benjamin. Egli
dizioni nel cuore dell’analisi storica”(ANY,1) usa, ad esempio, ripetutamente il termine “decostruzione”,
ma sempre come un atto preliminare a una, sia pur prov-
Cacciari e Rella e le loro riflessioni, in particolare, sulla
visoria, “ricostruzione”, ricordando il rischio, già evocato da
filosofia della storia di Benjamin, sono evidentemente i com-
Nietzsche in “Aurora” di una conoscenza che prevede un solo
pagni di strada di Tafuri in questo cammino.
timore, “quello di estinguersi in e stessa” o, in “Al di là del
Progetto di crisi significa, innanzitutto, interrogarsi sulla bene e del male”, di “una perfetta conoscenza che incontra
questione “delle origini” e, quello a questa collegata del pun- l’annullamento”. Questo, per Tafuri, è il rischio delle pratiche
to di stazione finale “che tutto spieghi, che faccia scaturire decostruttive: quello “della riconsacrazione dei frammenti
una verità”: e in questa prospettiva soccorre la nozione di ge- analizzati al microscopio come nuove unità autonome e in
nealogia formulata da Foucault, proprio come un grimaldello sé significanti”.
capace di scalzare la centralità dell’origine: di “opporsi allo
Per Tafuri, cruciale è indirizzare la ricerca storica verso
spiegamento metastorico delle significazioni ideali e delle
la pluralità dei suoi linguaggi e dei suoi protagonisti, coin-
teleologie indefinite”.
volgerne la peculiare complessità, gli innumerevoli punti di
In questo modo, appunto, il sapere cessa di pretendersi soglia, che ridislocano continuamente i suoi soggetti parziali
come “verità universale”, ma, come dice Foucault, “abbatte e le sue lingue “intraducibili”, cioè incapaci i oltrepassare i
le protezioni illusorie; spezza l’unità del soggetto”, diventa, propri limiti.
appunto “progetto di crisi”.
Tafuri cita una frase assai bella di Simmel, dove ques-
L’incontro tra Tafuri e Foucault costituisce uno dei nodi ti dice che “il segreto della forma sta nel fatto che essa è
più complessi della interpretazione della filosofia della storia confine; essa è la cosa stessa e, nello steso tempo, il cessare
tafuriana. Georges Teyssot ritiene che il testo tafuriano con- della cosa”: in questo intervallo instabile e sottile si situa la
figuri, sostanzialmente, un attacco a Foucault, come anche a
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ricerca storica. storia di fare, anche se provvisoriamente, i conti con la realtà.
Certo, Tafuri è ben dentro la tradizione del pensiero mar- Qui giunge a galla un ennesimo, cruciale, dilemma: “come
xista – Lukacs, Adorno, Benjamin -. Ma vi trova uno spazio costruire una storia che, dopo aver frantumato e scompos-
autonomo di pensiero, proprio nel momento in cui ricusa ogni to l’apparente compattezza del reale, dopo aver spostato le
possibilità di ritrovare un centro, una sintesi conclusiva al barriere ideologiche che nascondono la complessità delle
percorso dello storico: l’unico percorso che allo storico è dato strategie di dominio, giunga al cuore di quelle strategie: che
di tracciare non è quello verso il centro, ma quello “verso il giunga, cioè, ai loro modi di produzione” e, al tempo stes-
divorzio fra significante e significato”, alla ricerca dei “signifi- so, non cadere nella trappola della illusione di aver ricon-
cati molteplici” della realtà. quistato un “centro definitivo”, di aver esorcizzato la natura
Qui appare una nuova metafora nietzscheana che sarà “infinita e provvisoria” della analisi critica: le molte storie
cara a Tafuri: quella della conoscenza che inciampa “in pa- descritte nella introduzione al suo volume sulla architettura
role eternizzate e dure come sassi” (Aurora). Spezzare questi contemporanea.
sassi, o meglio spostarli e ricollegarli, è il compito dello sto- L’architettura è, per Tafuri, un terreno ideale di esercizio
rico, indirizzando il proprio campo di indagine “sui limiti dei di questa pratica storica: proprio per la sua complessità e
linguaggi, sui confini delle tecniche, sulle soglie che danno per la molteplicità delle sue lingue e delle sue tecniche. “La
spessore”, “distruggendo la linearità della storia di un lin- frantumazione dell’ordine classico” nel tempo moderno ha
guaggio formale e la sua autonomia”. accentuato ulteriormente questa complessità, “disperdendo
Come abbiamo già ricordato, la questione della costi- e differenziando” i diversi approcci alla costruzione dell’am-
tuzione di saperi disciplinari separati e intraducibili, della biente fisico. Nel tempo moderno diviene davvero impossibile
dissoluzione del sapere classico della architettura e della se- per lo storico incontrare un’opera nella quale si incontrino la
parazione tra tecnica e architettura all’alba della stagione pluralità dei linguaggi, quelli tecnici, architettonici, politici…
moderna, costituisce per Tafuri un elemento fondamentale Quando questo risulterà necessario, Tafuri cambierà il
per identificare la natura ideologica delle pratiche architet- terreno della sua indagine, rivolgendosi alla grande stagione
toniche nel tempo della modernità. – alle parole “durissime” - del rinascimento.
Tra le pratiche decostruttive e il progetto tafuriano, la Ma fino a quando sarà la molteplicità dei linguaggi ad
cruciale differenza è quella della difesa della sopravvivenza occupare il centro del suo pensiero, allora risulterà ovvio pre-
dello “spazio storico”, di quella capacità di travalicare i con- diligere il terreno della modernità.
fini tra i linguaggi e i sistemi di dominio che consente alla Qui, lo storico potrà perseguire pazientemente i suoi com-
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piti diversi: quello della descrizione critica della “Invenzione prosieguo della ricerca pretendeva nuovi territori.
progettuale”, della storia generale delle strutture e dei ra-
pporti di produzione.
E’ questo multiforme panorama che può forse spiegare
perché, per Tafuri, un approccio filologico sembrasse perfino
superfluo nelle sue ricerche sulla architettura del novecento.
Rileggere oggi gli scritti tafuriani sulla architettura contem-
poranea rivela davvero un rapporto davvero precario, quasi
rozzo, con le fonti primarie. Eppure, i risultati talvolta stra-
ordinari di questo approccio sembrano essere il risultato di
una capacità davvero inedita di estendere le proprie indagini
verso territori fino ad allora sconosciuti, di riempire il pal-
coscenico della storia con attori inaspettati –clienti, politici,
scienziati, pensatori, ...- e di costruire un reticolo denso di
significati critici tra queste voci differenti.
La cornice del puzzle della architettura moderna –il puz-
zle di cui abbiamo parlato all’inizio di quetsa comunicazione-
è risultata radicalmente trasformata da queste investigazioni
seminali. Ed è stato il compito delle generazioni successive di
rimetterne a posto le tessere.
A questo punto, I cammini della architettura contempo-
ranea si separavano, irrimediabilmente, dal progetto storico
tafuriano.
Il suo totale “disincantamento” era testimone della con-
sapevolezza che non vi fosse più nulla da trovare nella “soli-
tudine ipnotica” di questa architettura che egli amava chia-
mare ‘ipermoderna’.
Ai suoi occhi non rimanevano più altro che frammenti. Il
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Roma e Veneza: as duas cidades Um preâmbulo de “architecte engagé”
na sua biografia de
Manfredo Tafuri
Rome and Venice: the two cities in his Em 1963, no número 276 de “Casabella Continuità” apa-
biography of Manfredo Tafuri recem os retratos de jovens arquitetos emergentes1: na-
Roma e Venezia: le due città nella quela galeria também poderia ser representado Manfredo
sua biografia di Manfredo Tafuri Tafuri se o alto número de potenciais presenças não obri-
gasse a limitar o setor a apenas a Itália setentrional, ao
Guido ZUCCONI longo do eixo Turim-Milão-Udine2. Para comparecer nessa
seleção não era necessário ter realizado obras: porém era
TraduçãoTranslationTraduzione
Marisa Barda decisivo possuir um perfil de arquiteto-intelectual, segun-
do uma ampla visão – para não dizer heterônoma – que
RevisãoReviewRecensione
Anita Di Marco Ernesto Rogers tinha delineado muito bem nas páginas
daquela mesma revista.
O termo heteronomia da arquitetura corresponde a uma
abordagem que parte de muito longe e se mistura, nutrin-
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do-se de diversos setores e aparentemente distantes do Nesse mesmo ano de 1964, Tafuri publica seus primei-
campo da arquitetura: as referências mudam de peso e de ros dois livros: o escasso Architettura moderna in Giappo-
intensidade segundo os períodos, mas na “idade do jovem ne e o bem mais elaborado Ludovico Quaroni e lo sviluppo
Tafuri” sobressaiam a sociologia e a filosofia, com o cine- dell’architettura moderna in Italia. O primeiro nasce na série
ma, o teatro e as artes figurativas com especial atenção do editor Cappelli que, no decorrer dos anos 1960 e 1970,
para as vanguardas do século XX. organiza assistentes, colaboradores e colegas de Leonar-
A distância era enorme em relação a uma abordagem do Benevolo que, não por acaso, é o responsável oficial
de tipo tradicional que se baseava por um lado, nas belas da coleção. Alguns desses (Mario Manier Elia, Giuseppe
artes e, por outro, nas ciências físico-matemáticas, como Miano) seguirão Tafuri em Veneza para depois voltarem
o demonstravam os currículos de formação das escolas para a capital, após o período passado no IUAV.
de arquitetura. É desse tipo de enfoque, que Giovannoni O segundo livro se coloca na órbita de quem, já a par-
havia delineado no primeiro quarto de século, que, após tir do título, comparece como figura de referência: bem
1950, destaca-se o IUAV de Giuseppe Salmonà. Como pro- mais do que o primeiro, o volume sobre Quaroni nos aju-
va, nos primeiros anos da década de 1960, ocorreram as da a entender alguns aspectos da biografia de Tafuri: não
primeira ocupações estudantis das Faculdades de Milão e somente o âmbito intelectual no qual situa sua atividade
Roma. Reivindicava-se uma abordagem similar na arquite- nos anos após a graduação, mas também o modelo de re-
tura, a ser realizada de maneira mais ampla e diversificada ferência no que se relaciona a uma possível abordagem
em relação àquilo que, então, podiam oferecer os vários sobre os problemas de arquitetura e da cidade. Junto a Ro-
Portaluppi ou Fasolo, que ainda olhavam o modelo de Gio- gers e Samonà, Quaroni é outro relevante representante
vannoni. daquela visão heterônoma que invoca a formação de uma
Se traçássemos um mapa ideal da heteronomia italia- nova figura do arquiteto-intelectual.
na, não por acaso, iríamos tocar lugares e personagens Narrado pelo próprio Tafuri, um episódio daqueles
que cruzam, ou até mesmo caracterizam, a biografia ju- anos revela a distância que o separava da geração pre-
venil de Tafuri. Desde a primeira ocupação de Valle Giulia cedente. No livro sobre Quaroni, ele escreve que, no tor-
(1962) até o próprio IUAV, onde estabilizará sua figura de por e na tristeza dos anos 1930, até mesmo uma figura
docente, a partir de 1964, passando por Milão sob a prote- medíocre como a de Enrico Del Debbio3 poderia passar
ção de Ernesto Nathan Rogers, representante máximo de por grande projetista. Segue-se, então, uma querela por
uma visão muito alargada da arquitetura.
3 Ver Ludovico Quaroni citato, pp. 26-28.
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difamação e, a partir disso, um curioso processo se desen- uma parte desses artigos. Isso nos permitiria olhar para
rola em Cremona, sede legal das Edições di Comunità. O os interesses (e leituras) que acompanharam um período
episódio se encerra com “tarallucci e vino”4 diante de um decisivo para a formação de Tafuri. Em 1965, é publicado
juiz que convida as partes a fazerem um acordo. Durante Scrittori e popolo5, do amigo Alberto Asor Rosa, com quem
o almoço conciliatório, o querelante traça um sulco entre compartilhará parte de sua militância nos movimentos
a sua geração e a sucessiva: “vocês leem de tudo e pude- operários e de qualquer forma latere no PCI6.
ram criar uma cultura, nós tínhamos apenas que desenhar, Em 1968 Tafuri consegue a cátedra de História da ar-
desenhar, desenhar...”. De qualquer modo, o processo con- quitetura no IUAV onde permanece por 27 anos até seu fa-
frontou um jovem arquiteto-intelectual e um veterano lecimento prematuro. Mas nem por isso abandona Roma,
discípulo da velha escola de Giovannoni, encarnada na onde deixa boa parte de sua biblioteca pessoal, mesmo
figura de Del Debbio. entre mil mudanças e adversidades pessoais.
Primeiro em Milão, entre 1964 e 1966, e depois no biê- Mesmo com seus compromissos universitários defini-
nio sucessivo, em Palermo, Tafuri elabora uma abordagem tivamente fixados em outro lugar, a cidade onde nasceu e
original da arquitetura, tomada e pesquisada a partir de se formou ficará sempre na base de sua vida de estudioso
uma pluralidade de visões: isso dará certo sentido às suas e no centro de muitas de suas curiosidades intelectuais.
aulas sobre a idade contemporânea, as quais, segundo ele Certamente, após 1968 teve que reduzir – mas não aban-
mesmo admitiu mais tarde, se refletirão nas páginas de donar totalmente – seu perfil inicial de architecte engagé,
Teorie e storia dell’architettura, em 1968, ano de sua pu- igualmente dividido entre duas vertentes: de um lado o
blicação. estudo e a didática, e de outro, o compromisso com as
Daquele período seriam elencadas e analisadas as crí- políticas ligadas à cidade, além daquelas ligadas ao terri-
ticas que ele escreve para “Paese Sera”, principalmente no tório. A amizade juvenil com Antonio Cederna e sua mili-
biênio 1966-1968, quando tem a ocasião de se mover em tância em “Italia Nostra” ficam para trás.
uma serie de setores que vão bem além da arquitetura
e da cidade. Por ocasião de um aniversário próximo, ou
5 Ver Scrittori e popolo. Il populismo nella letteratura italiana contemporanea,
quem sabe até antes, poderíamos pensar em republicar Samonà e Savelli, Milano 1965. Ao reconstruir um quadro da literatura italiana
do século XX, o autor desmistificava alguns “lugares comuns”, retomados na
4 N.do T: Taralucci são pequenos tarralli, ou seja, pequenas rosquinhas doces valorização mítica da ideia de “povo”.
ou salgadas, típicas do Sul da Itália. A expressão finire in tarallucci e vino se di- 6 Sua condição de inscrito no PSIUP (Partito Socialista Italiano di Unità Prole-
fundiu por toda a Itália e oferecer taralli e vino a um hóspede significa cordia- taria) não o impedirá de cooperar com grupos tipo o “Potere Operaio” junto a
lidade e amizade, portanto, a expressão remete a um clima amigável e sereno. Mario Tronti e Massimo Cacciari, junto com Asor Rosa.
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O que constitui uma verdadeira linha de separação en- Via Giulia e a elaboração de uma metodologia
tre um antes e um depois é, talvez, Teoria e storia dell’ar-
chitettura: nesse livro ele não somente teoriza, mas vive
Em 1969, quando sua transferência para Veneza le-
pessoalmente a distância de quem tem a tendência de
galmente oficializada, Tafuri inicia sua pesquisa sobre via
misturar o estudo da história e a prática profissional. De
Giulia, em Roma. Dois historiadores da arte o acompanha-
fato, o que cessa definitivamente é qualquer possibilidade
ram na empreitada: Luigi Salerno, estudioso de longa data
de relação com a atividade de arquiteto, exceto o fato de
dos séculos XVI e XVII e o outro, Luigi Spezzaferro, jovem
manter uma continuidade física com o estúdio AUA (Archi-
assistente de Argan. O primeiro não irá muito além de es-
tetti Urbanisti Associati) de Piazza dei Caprettari onde ha-
crever um ensaio; o segundo trabalhará junto a Tafuri em
via realizado seus primeiros acenos como projetista; aqui
um trabalho de pesquisa não muito fácil que cruza uma
Tafuri nunca cessará de ter seu ponto de apoio romano e
grande quantidade de fontes heteronômicas: algumas do
boa parte de sua biblioteca.
tipo literário, ligadas principalmente à memorialística,
Quem ia àquela sede, convocado por ele, deveria atra- outras referentes à história da edificação (narrativas sobre
vessar uma série de salas cheias de tecnógrafos e de de- edifícios, normas relativas ao ornamento e os alinhamen-
senhistas, em uma atmosfera que contrastava com a ima- tos). Muito provém de arquivos particulares e, portanto, a
gem do estudioso imerso na leitura. Guiado pelo cheiro do colaboração com dois especialistas dos séculos XVI e XVII
charuto toscano, se encontrava, por fim, em um ambiente se revela muito preciosa.
completamente diferente do precedente: aqui, entre mon-
Via Giulia é vista como “fragmento” de uma história
tanhas de livros e revistas, aparecia Tafuri, mesmo antro-
mais ampla e como “primeiro episódio” nas ainda pouco
pologicamente diferente dos seus ex-sócios, com os quais
exploradas circunstâncias da Roma do século XVI, em re-
continuava a dividir uma parte do aluguel.
lação à qual pretendia-se realizar um ambicioso programa
O que, no início, parecia ser fruto de um equívoco so- de pesquisas. Na sua minúscula dimensão e, de qualquer
bre o endereço, revelava-se uma janela sempre aberta no forma significativa, esse estudo de caso apresenta muitas
ambiente que havia feito de pano de fundo, na década analogias com aquela micro-história que, dali a breve, Car-
após a graduação: evidência visual de uma clara exclu- lo Ginzburg7 delineará. A unidade do lugar é acompanha-
são na sua biografia de arquiteto engajado que, em certo da da unidade de tempo que corresponde ao papado de
ponto, decide por um, entre os possíveis caminhos que,
inicialmente, lhe foram mostrados. 7 Em 1976 Carlo Ginzburg publica Il formaggio e i vermi: il cosmo di un mugnaio
del ‘500, Einaudi, Torino 1976.
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Giulio II, em uma relação direta e quase exclusiva entre o de espaço (a Veneza culta com alguns aspectos especial-
cliente (o próprio pontífice) e o projetista (principalmente mente significativos); similarmente, o cliente (o doge An-
Bramante). Tudo é dominado pelo conceito de renovatio, a drea Gritti) tem um papel essencial em uma relação direta
ser declinado tanto no sentido institucional-administrati- com alguns arquitetos, começando com Jacopo Sansovino,
vo quanto no edilício-arquitetônico: por sua vez, renovatio e junto a uma categoria fundamental para entender a his-
imperii e renovatio urbis deve ser entendido como potente tória das edificações da cidade lagunar, ou seja, os proto-
estímulo de um ambicioso programa de renovação geral: magistri. Participam também personalidades, como, por
Em outras palavras, tratava-se de verificar uma hipótese exemplo, Tiziano, Lorenza Lotto, Vettor Fausto, Francesco
(ou se preferirem, aceitar um desafio) em relação à capa- Maria dela Rovere.
cidade da arquitetura de retomar um contexto cultural e Mesmo nesse caso, a rennovatio urbis oferece uma am-
político mais amplo. biente onde é possível inserir uma série de acontecimen-
A ampla monografia foi publicada em 1973, mas não tos que, ainda mais que no caso de Roma, pretende-se
teve o sucesso que merecia e ficaria com os estigmas de estudar em suas tramas com a história política, com o de-
uma raridade bibliográfica8. Mesmo se o acompanhamen- senvolvimento da ciência, com as tendências de reformas
to iconográfico não parece consonante à sua importância e contrarreformas que agitam as cidades italianas no sé-
metodológica, essa extensa monografia conseguiu, po- culo XVI. Bem mais que no estudo de via Giulia, aqui entra
rém, refletir seus efeitos no período sucessivo. Nesse meio em jogo uma visão “ à parts entières”, como Tafuri amava
tempo, Luigi Spezzaferro era chamado pelo IUAV para au- lembrar, citando Lucien Febvre.
mentar o número de estudiosos romanos. Em junho de 1983, o seminário “Renovatio urbis. Ve-
Aproximadamente 10 anos depois da apresentação da nezia nell’età di Andrea Gritti”, consagra não apenas essa
pesquisa sobre via Giulia, Manfredo Tafuri aplicaria um nova linha de trabalho, mas também representa a ocasião
modelo similar no estudo da Veneza renascentista: nes- para apresentar o programa inaugurado alguns anos an-
sas circunstâncias, os estudos de caso se multiplicam, tes. Esse último tinha sido baseado em três áreas funda-
mas permanece o mesmo traçado conceitual que guiara a mentais do centro lagunar: la platea de San Marco, o Arse-
pesquisa do século XVI romano. Aqui também existe uma nale e Rialto, às quais se acrescentaram alguns casos de
unidade de tempo (a primeira parte do século XVI) e uma estudos específicos como a igreja de San Francisco dela
Vigna.
8 Luigi Salerno, Luigi Spezzaferro, Manfredo Tafuri, Via Giulia: una utopia urba-
nistica del 500, Staderini, Roma 1973. Grupos de trabalho trabalharam nas três áreas, desde
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o final dos anos 1970, e logo dariam uma prova concreta cializados e de figuras técnicas ad hoc. Esse dado emerge
das pesquisas: a primeira publicação é L’armonia e i confli- no seminário “Le macchine imperfette” que Tafuri e o então
tti, (1983) de Antonio Foscari e do próprio Tafuri; em se- Departamento de Análise crítica e histórica tinham dedi-
guida, L’Arsenale, della Repubblica di Venezia (1984), escrito cado, no outono de 1977, à arquitetura, ao programa, às
por Ennio Concina e, por fim, Rialto, le fabbriche e il ponte instituições no século XIX (como mencionava o subtítu-
(1987), de Donatella Calabi e Paolo Morachiello9. Mesmo lo)10.
respeitando as sensibilidades e formações diferentes, to- Dali em diante o termo urbanismo só poderá ser uti-
dos partiram de uma base comum e de uma leitura crítica lizado em relação aos grandes planos do século XIX e a
compartilhada. uma geração de técnicos-burocratas conscientes do “salto
Em 1984, há apenas um ano do simpósio, são publica- epistemológico”. Foi uma prescrição respeitada, escrupu-
das as atas do seminário “Renovatio Urbis”, realizado, no losamente, por todos os membros do departamento, que
ano anterior, na sede do mesmo departamento de história polemizava com aqueles – como Benevolo, Guidoni e Sica
que, nesse meio tempo, tinha encontrado uma sede pró- –, se obstinavam em falar de “urbanismo do neolítico” ou
pria e reconhecimento. Resulta um quadro complexo que, simplesmente de “urbanismo medieval”.
em parte, registra e divulga, fora do Departamento, o pla- O simpósio “Rennovatio Urbis” marcou um reposiciona-
no de pesquisa elaborado havia alguns anos. mento de Tafuri e de seu grupo de trabalho. Redimensio-
Em seus propósitos venezianos, o esquema conceitual nada a paixão pelos maitres à penser parisienses (Barthes,
de via Giulia sofreu mudanças e se enriqueceu de novos Foucault, Lacan, mas não Derrida), agora, o diretor do de-
aportes metodológicos ou críticos. A palavra urbanismo partamento olha com interesse crescente não somente a
desapareceu quando se referia à cidade renascentista, micro-história de Carlo Ginzburg, mas também a historio-
sendo substituída pela expressão “estratégia urbana”, grafia francesa dos “Anais”11. Na introdução aos atos, Ta-
mas não se tratava de uma simples diferença de nome. furi questiona Fernand Braudel junto com Gaetano Cozzi.
Era o reflexo da atenção àquilo que ocorria no século XIX, Eles são questionados, em respeito a uma visão coerente
individualizado como divisor de águas entre um antes e com essa tendência.
um depois, marcado pelo nascimento de aparatos espe-
10 Ver as atas publicados com o título, Le macchine imperfette. Architettura,
programma, istituzioni nel XIX secolo, de Paolo Morachiello, Georges Teyssot,
9 O primeiro foi publicado pela Electa e o outro pela Einaudi, segundo o Officina, Roma 198..
novo andamento editorial que, nos anos 1980, caracterizava a atividade do 11 Em 1976 Carlo Ginzburg tinha publicado Il formaggio e i vermi: il cosmo di
Departamento de História da arquitetura. un mugnaio del ‘500, Einaudi, Torino 1976
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“[...] as tradições e as estruturas do longo prazo contra testemunham os artigos publicados em 1984, em “Casa-
as quais as hipóteses inovadoras se chocam, junto com as bella”13.
novas condições estabelecidas pelas novas conformações Entre o final dos anos 1970 e o início dos anos 1980,
europeia e do Mediterrâneo”12. demostrando um interesse nunca atenuado pelo sécu-
Portanto, o quadro se enriqueceu de novas ideias me- lo XX, percebe-se também seu interesse pela criação de
todológicas e incorporou instrumentos inéditos de análise arquivos dedicados à arquitetura contemporânea, como
histórica; todavia, a estrutura de fundo permanece aquela demonstra, em 1990, sua intervenção no Centro studi ar-
elaborada para o estudo de arquitetura e das edificações chivio della comunicazione di Parma14. A obra realizada por
de Roma do século XVI, sob a direção de alguns papas Tafuri se revelaria decisiva porque, constituindo o CSAC
particularmente iluminados. de Arrturo Carlo Quintavalle, poderia conseguir recursos
de alguns dos mais importantes projetistas italianos do
século XX. Mantendo esse tipo de cuidado, Tafuri publi-
Continuidade ou descontinuidade?
cou, em 1986, Storia dell’architettura italiana, 1944-85,
idealmente ligado ao volume que Giorgio Ciucci publicaria
Em meados dos anos 1980, Tafuri já havia deslocado alguns anos depois, sobre o período entre guerras15.
o foco de seus interesses sobre o Renascimento italia- Também a cidade de Veneza e o seu futuro são obje-
no, decididamente, tomando a estrada da filologia, junto to de reflexão para Tafuri, que projeta na laguna parte
com Burns, Connors, Frommel, Thoenes e outros estudio- daquele empenho tempos atrás dedicado aos problemas
sos que gravitavam em volta da Biblioteca Hertziana em urbanos da Roma contemporânea. Sobre isso, ver a in-
Roma. Reduziu – mas não abandonou completamente – tervenção de Tafuri no simpósio que o Instituto Vêneto
alguns interesses por ele cultivados, com particular inten-
sidade, na primeira parte de sua biografia de estudioso:
por um lado tem o dever em relação aos problemas de sua 13 Ver a respeito La macchina e la memoria. La città nell’opera di Le Corbusier’ in
“Casabella”, n. 502, maio de 1984 e n. 503, junho de 1984.Sobre esse tema ver
época, da cidade e da sociedade na qual vive e trabalha; também o artigo de Hèlène Lipstadt Harvey Mendelsohn, Tafuri e Le Corbusier,”
Casabella” n.623, junho de 1995, onde se salienta a admiração exteriorizada
por outro lado, tem suas pesquisas sobre a arquitetura de Tafuri pelo Campidoglio di Chandigarh..
contemporânea. Sobre isso, por exemplo, não interrom- 14 Ver a esse respeito Il disegno dell’architettura: incontri di lavoro, Parma 23-
24 ottobre 1980, org. de Gloria Bianchino, Centro studi archivio della comuni-
perá jamais seu interesse pela obra de Le Corbusier, como cazione dell’Università di Parma, Parma, 1983.
15 Ambos publicados pela Einaudi na coleção PBE; o volume de Ciucci, Gli
12 O texto está na contracapa. architetti e il fascismo. Architettura e città, 1922-1944, foi publicado em 1989.
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Gramsci organiza em 1988.16 em 1969 após vencer o concurso pela cátedra20.
Permanece o nó da continuidade ou da descontinuida- Em 1966, imprimia o já esquecido, L’architettura del
de: qual das duas predomina? Segundo o testemunho de Manierismo nel Cinquecento europeo21: o livro marca a oca-
Cristoph Frommel, guardado nas atas do simpósio, o Ta- sião do encontro com Aldo Quinti que iniciara a atividade
furi que se preparava para a exposição sobre Raffaello Ar- de editor há dois anos. Ainda no período pré-venezino, a
chitetto 17 sofreu uma mudança radical e imprevista, quase Officina Edizioni tinha indicado a publicação de uma mo-
como se tivesse passado por uma “caminho de Damasco” nografia de Tafuri sobre Giulio Romano22. O livro nunca
pessoal. Tudo isso aconteceu após 1980, ano em que foi seria publicado, porém testemunharia um interesse que
publicado La sfera e il labirinto, volume heterogêneo que iria se materializar 20 anos depois com a exposição e o
mostrava um evidente caráter bicéfalo18. catálogo dedicados à sua vida e à sua obra23. Em 1967,
De fato, quem comparasse a introdução com o catálo- é publicado um artigo sobre Borromini que, talvez, pos-
go da exposição sobre Raffaello com as páginas iniciais de sa ser relacionado com o livro de Paolo Portoghesi que,
Progetto e Utopia, veria que preponderava a opção descon- poucos anos antes, tinha iniciado a produção da Officina
tinuidade, confortado pelo fato que entre um e outro dos edizioni sobre arquitetura24.
dois livros contavam-se apenas 10 anos19. No outro prato Officina Edizioni se tornará a referência privilegiada
da balança, porém, pesa uma atenção sobre o renascimen- de um grande número de volumes publicados por ele e pe-
to que não é repentina, mas vem de longe, como demons-
trado pelos dois generosos volumes que, em seguida, 20 Ver a esse respeito, Jacopo Sansovino: e l’architettura del ‘500 a Venezia,
Tafuri tenderia a não reconhecer: Architettura dell’Umane- Marsilio. Padova 1969; L’architettura dell’Umanesimo, Laterza Roma/Bari, 1969.
21 No ano seguinte, na mesma linha de pesquisa, Tafuri publicava o artigo
simo e a monografia sobre Sansovino, ambos publicados L’idea di architettura nella letteratura teorica del Manierismo, in «Bollettino
CISA», IX, (1967), pp…...
22 Ver Maristella Casciato, Quarante années de publications en architecture.
16 Ver a esse respeito, Idea di Venezia, Atti del convegno: 17-18 giugno 1988. Officina Edizioni: un editeur italien et ses auteurs, intervenao no Simpósio “Le
“Quaderni della Fondazione dell’Istituto Gramsci Veneto”, n.3/4, 1988; mais livre et l’architecte”, organizado em Paris, janeiro-fevereiro 2008, pelo Institut
tarde publicado em 1989 pela Arsenale, Venezia. national d’histoire de l’arte dall’École nationale supérieure d’architecture de
17 O catálogo da mostra Raffaello Architetto foi publicado em 1984, para a Paris-Belleville. Publicado depois no volume Le livre et l’architecte, de Jean-
Electa, org. por Stefano Ray, além de Christoph Luitopold Frommel e Manfredo -Philippe Garric e outros, INHA/Mardaga, Paris 2011, pp………; o texto hoje
Tafuri. está disponível em italiano também no site http://www.officinaedizioni.it/
18 Publicado pela Einaudi, o volume inicia o sodalício com o editor de Turim. about/parigi-2008.
19 Progetto e Utopia foi publicado em 1973; na realidade é uma coletânea 23 Ver Giulio Romano architetto, de Manfredo Tafuri, Electa, Milano 1989.
de contribuições, anteriormente publicadas, na sua maior parte, na revista 24 Ver Manfredo Tafuri, Inediti borrominiani, in “Palatino”, XI (1967). pp. 255-
“Contropiano”. 262; Paolo Portoghesi, Borromini nella cultura europea, Officina, Roma 1964.
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los seus colaboradores. Com essa finalidade, nasce a co- Einaudi saem volumes e monografias de conteúdo análo-
leção “Architettura”, que Tafuri edita entre 1970 e 1984; a go, como L’armonia e i conflitti.
lista dos autores, em quase sua totalidade, é formada por Para a parte relativa ao contemporâneo – e, em parti-
docentes ou aspirantes a docentes do IUAV. São também cular, no período 1970-1984 –, a romana Officina Edizioni
publicados textos de profissionais de fora do Instituto de pode ser plenamente considerada como uma espécie de
História, por exemplo, Carlo Aymonimo e Aldo Rossi. “University Press” em relação àquela escola que Tafuri de-
No movimento pendular que caracteriza os interesses senvolvia em Veneza e que, no arco de aproximadamente
científicos de Tafuri, a coleção da Officina parece, propo- 10 anos, mudaria três vezes de nome26: de Istituto di Sto-
sitalmente, desequilibrada em relação ao contemporâneo, ria dell’architettura a Dipartimento di Analisi critica storica
a ser entendido segundo um amplo significado que com- (1974), até estabilizar-se definitivamente em 1982 com o
preende a história da arquitetura e a filosofia, especial- nome de Dipartimento di Storia dell’architettura.
mente sobre a estética25. Aquela série de volumes sobre Sobre o aspecto da didática, o ano de 1980 marca o
os séculos XIX e XX na Europa testemunham a amplitude ano da virada: em 1979-80, o curso havia sido dedicado às
dos temas tratados desde o início no Instituto de História “Vanguardas europeias”; no ano sucessivo a “Giovanni Ba-
da arquitetura, que Tafuri orientava em direção a uma plu- ttista Piranesi”, para depois passar, em 1981-82, ao tema
ralidade de interesses e temas. O amplo catalogo também “Arte e arquitetura na Veneza do Humanismo”. A partir
representa uma “janela”, através da qual, todos podem desse momento até o último curso, realizado em 1983-84,
comunicar os resultados do próprio trabalho de pesquisa. Tafuri aborda somente temas ligados ao Renascimento,
Entre todos aqueles publicados com Aldo Quinti, so- também nesse caso, alternando Roma e Veneza como ba-
mente o primeiro e o último volume se referem a obras ses para ilustração dos temas e das obras.
e sujeitos do século XVI: trata-se, no segundo caso, do já Já, nos dois textos de 1966, essas duas polaridades
citado “Renovatio Urbis”. Com o quase contemporâneo Ra- urbanas, mesmo se aparentemente escondidas, podiam
ffaello Architetto, abre-se uma nova fase na qual os catá- ser percebidas, entendendo-as como chave de leitura da
logos de exposições sobre o Renascimento são publicados relação entre elaboração e difusão dos modelos renascen-
preferencialmente pela editora Electa, enquanto que pela tistas. Depois, ao longo dos anos 1980, com os estudos
mais amadurecidos de Manfredo Tafuri, esse dualismo se
25 No período 1970-1984, Tafuri, promove a publicação de 27 volumes; so-
mente um aborda o século XVIII (La Lisbona del marchese Pombal), enquanto 26 Officina IUAV, 1925–1980. Saggi sulla scuola di architettura di Venezia, de
todos os outros se referem aos séculos XIX e XX. Guido Zucconi e Martina Carraro, Marsilio, Venezia, 2011, pp…… sgg..
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revela um fator dialético: entre as duas entidades opostas,
a cidade dos papas representa, por um lado, o lugar onde
a utopia renascentista se realiza, enquanto a Dominan-
te ascende como símbolo de um encontro perdido com “a
arte à maneira dos antigos”.
Segundo o Tafuri de Venezia e il Rinascimento, o centro
lagunar tolera, para não dizer dificulta, os modelos que
provém de Roma e de Florença, sentindo-os como com-
pletamente estranhos à sua tradição histórica e artísti-
ca. Longe de querer indicar o significado da realização de Roma e Venezia: le due città nella sua biografia di Manfredo
uma aliança, o caráter binário daquele título indicava um Tafuri
contraste irremediável, assumindo, no final, as caracterís-
ticas de um verdadeiro paradoxo. Desde sempre, olhando
bem a série de binômios escolhidos para seus livros, na
realidade, todos funcionam como pares de opostos: Pro- Un esordio da “architecte engagé”
getto e Utopia, La sfera e il labirinto, L’armonia e i conflitti.
No período entre 1968-1984, o centro de seus inte-
Nel 1963, nel numero 276 di “Casabella-Continuità”, com-
resses parecia também dividido entre cidade onde nasceu paiono i ritratti di giovani architetti emergenti1: in quale gal-
e se formou e a cidade com a qual associava sua vida de leria avrebbe potuto essere effigiato anche Manfredo Tafuri
professor universitário; porém, não a de estudioso que, se l’alto numero di potenziali presenze non avesse costretto
como já vimos, será sempre dividida entre Roma e Veneza. a restringere il campo alla sola Italia settentrionale, lungo
Fica ainda a dúvida se, mesmo na sua biografia de homem l’asse Torino-Milano-Udine2. Per comparire in questa selezio-
e estudioso, Roma e Veneza devem ser entendidas como ne non era necessario avere realizzato delle opere: era inve-
opostas ou, talvez, como polos de uma dialética que inclui ce decisivo possedere un profilo di architetto-intellettuale,
a complexidade de um modo de atuar que evita a pesquisa 1 Si veda Progetti di architetti italiani, numero monografico, giugno 1963. Si
veda in particolare l’editoriale di Ernesto Nathan Rogers, Introduzione, pp. 13
mono-temática e mono-geográfica. sgg. e l’articolo di Francesco Tentori, Progetti e problemi, pp. 2 sgg.
2 La testimonianza è stata resa al sottoscritto da Guido Canella, ai margine
di una discussione sulla “alterità” di Tafuri rispetto alla generazione dei suoi
coetanei architetti.
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secondo una visione ampia –per non dire eteronoma- che nesto Nathan Rogers, capofila di una visione molto allargata
Ernesto Rogers aveva ben delineato sulle pagine di quella dell’architettura.
stessa rivista. Nello stesso 1964 Tafuri pubblica i suoi primi due libri: lo
Il termine eteronomia dell’architettura corrisponde ad un scialbo Architettura moderna in Giappone, e il ben più ela-
approccio che parte da molto lontano e si mescola, traendo- borato, Ludovico Quaroni e lo sviluppo dell’architettura mo-
ne alimento, con settori di versi e apparentemente lontani derna in Italia. Il primo nasce nella serie dell’editore Cappelli
dal campo dell’architettura: i riferimenti cambiano di peso che, nel corso degli anni sessanta e settanta allinea assis-
e d’intensità, a seconda dei tempi, ma nella “età del giovane tenti, collaboratori e sodali di Leonardo Benevolo, non caso,
Tafuri” primeggiavano la sociologia e la filosofia, affiancate responsabile ufficiale della collana. Alcuni di questi (Mario
da cinema, teatro e arti figurative con un occhio di riguardo Manier Elia, Giuseppe Miano) seguiranno Tafuri a Venezia per
per le avanguardie del Novecento. poi fare ritorno alla capitale, dopo un certo periodo passato
La distanza era netta rispetto ad un approccio di tipo allo IUAV.
tradizionale che si basava sulle arti belle da un lato e sulle Il secondo libro si colloca nell’orbita di chi, già dal titolo,
scienze fisico-matematiche dall’altro, come ben dimostrava- compare come figura pivotale. Ben più del primo, il volume
no i curricula formativi delle scuole di architettura. Da questo su Quaroni ci aiuta a cogliere alcuni aspetti della biografia
tipo di impostazione che Giovannoni aveva ben delineato nel di Tafuri: non soltanto l’ambito intellettuale in cui si colloca
primo quarto di secolo, si distacca dopo il 1950 lo IUAV di la sua attività negli anni dopo la laurea, ma anche il modello
Giuseppe Samonà. A riprova di questo, nei primi anni sessan- di riferimento per quanto riguarda un possibile approccio ai
ta, avevano avuto luogo le prime occupazioni studentesche problemi dell’architettura e della città. Quaroni è, con Rogers
delle facoltà di Milano e Roma; vi si rivendicava un approc- e Samonà, un altro autorevole rappresentante di quella visio-
cio simile all’architettura, da realizzarsi in forme più vaste ne eteronoma che invoca la formazione di una nuova figura
e diversificate rispetto a quello che potevano offrire allora i di architetto-intellettuale.
vari Portaluppi o Fasolo che ancora guardavano al modello Raccontato dallo stesso Tafuri, un episodio di quegli anni
giovannoniano. ben rivela la distanza che lo separava dalla generazione
Se tracciassimo un’ideale mappa dell’eteronomia italiana, precedente. Nel libro su Quaroni, egli scrive che, nel torpore
andremmo non a caso a toccare luoghi e personaggi che in- e nel grigiore degli anni trenta, poteva passare per grande
tersecano, o addirittura caratterizzano, la biografia giovanile progettista anche una figura mediocre come quella di Enri-
di Tafuri. Dalla prima occupazione di Valle Giulia (1962) fino co Del Debbio3. Parte allora una querela per diffamazione e,
allo stesso IUAV, dove stabilizzerà la sua figura di docente, a
partire dal 1964 , passando: per Milano sotto l’egida di Er- 3 Si veda Ludovico Quaroni citato, pp. 26-28
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su quella base, ha luogo un curioso processo che si svolge dividerà parte della sua militanza nelle formazioni operaiste
a Cremona, sede legale delle Edizioni di Comunità. Finirà a e comunque a latere del PCI5.
“tarallucci e vino” di fronte ad un giudice che invita le parti Nel 1968, Tafuri. vince la cattedra di Storia dell’architet-
a soprassedere; durante il pranzo conciliatore, il querelante tura presso lo IUAV che terrà ininterrottamente per ventisette
traccia un solco tra la sua e la generazione successiva: “Voi anni, fino alla sua prematura scomparsa. Ma non per questo
leggete di tutto e avete potuto farvi una cultura, noi dove- abbandonerà Roma dove, pur tra mille traslochi e traversie
vamo soltanto disegnare, disegnare…”. Il processo ha messo personali, lascerà gran parte della sua biblioteca.
dunque confronto un giovane architetto-intellettuale e un
Anche quando il suo impegno universitario sarà defini-
anziano epigono della vecchia scuola giovannoniana, incar-
tivamente fissato altrove, la città, ove è nato e si è formato,
nata nella figura di Del Debbio.
rimarrà sempre sullo sfondo della sua vita di studioso e al
Prima a Milano tra il 1964 e il ’66, poi a Palermo nel centro di molte delle sue curiosità intellettuali. Certamente,
biennio successivo, Tafuri elabora un originale approccio dopo il 1968, dovrà allentare –ma non del tutto abbandona-
all’architettura, ripresa e investigata da una pluralità di re- quel suo iniziale profilo di architetto engagé, equamen-
angolazioni: questo darà un senso alle sue lezioni sull’età te diviso tra due versanti: da un lato studio e la didattica,
contemporanea le quali poi, per sua stessa ammissione, si dall’altro l’impegno nelle politiche legate alla città, oltre che
rifletteranno nelle pagine di Teorie e storia dell’architettura. al territorio. L’amicizia giovanile con Antonio Cederna e la
quando sarà dato alle stampe nel 1968. sua militanza in “Italia Nostra” resteranno alle spalle.
Di quel periodo andrebbero elencate ed analizzate le re- A costituire una vera e propria linea di displuvio tra un
censioni che egli scrive per “Paese Sera”, specialmente nel prima e un dopo, è forse è Teoria e storia dell’architettura:
biennio 1966-1968, quando ha occasione di spaziare in una qui non soltanto teorizza, ma vive personalmente la presa di
serie di campi che vanno ben al di là della sola architettura e distanza da chi tende a mescolare lo studio della storia e la
della città. Nell’occasione di un prossimo anniversario o for- pratica professionale. Infatti quello che allora cessa definiti-
se anche prima, potremmo pensare a ripubblicare una parte vamente è ogni possibile rapporto con l’attività di architetto,
di questi articoli: questo permetterebbe di gettare lo sguar- salvo mantenere una continuità di tipo fisico con lo studio
do sugli interessi (e le letture) che hanno accompagnato un AUA (Architetti Urbanisti Associati) di piazza dei Caprettari
periodo decisivo per la formazione di Tafuri. Nel 1965 esce dove aveva mosso i primi passi da progettista; qui Tafuri non
Scrittori e popolo 4 dell’amico Alberto Asor Rosa, con cui con- cesserà mai di mantenere il suo “punto d’appoggio” romano e
4 Si veda Scrittori e popolo. Il populismo nella lettertura italiana contempora-
nea, Samonà e Savelli, Milano 1965. Nel ricostruire un quadro della letteratura 5 La sua condizione di iscritto allo PSIUP non gli impedirà di fiancheggiare
italiana del Novecento, L’autore demistificava alcuni “luoghi comuni”, riassumi- formazioni come “Potere Operaio” insieme con Mario Tronti e Massimo Cacciare,
bili nella valorizzazione mitica dell’idea di “popolo”. insieme con Asor Rosa.
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buona parte della sua biblioteca. alla memorialistica, altre riferite alla storia edilizia (conti di
Chi veniva convocato da lui in quella sede, doveva at- fabbrica, disposizioni riguardanti l’ornato e gli allineamenti).
traversare una serie di stanze piene di tecnigrafi e di diseg- Molto proviene da archivi privati e perciò la collaborazione
natori in un’atmosfera che contrastava con l’immagine dello con due specialisti di Cinque e Seicento si rivela particolar-
studioso immerso nella lettura. Guidato dall’odore del sigaro mente preziosa.
toscano, si trovava finalmente al suo cospetto in un ambiente Via Giulia è assunto come “ frammento” di una storia più
completamente diverso da quello che l’aveva preceduto: qui, vasta e come “primo affondo” nell’ancor poco esplorata vi-
tra montagne di libri e di riviste, appariva Tafuri, diverso an- cenda di Roma cinquecentesca, rispetto alla quale si vorre-
che antropologicamente dai suoi ex-soci con cui continuava bbe varare un ambizioso programma di indagini. Nella sua
a dividere una parte dell’affitto. dimensione minuscola e pur tuttavia significativa, questo
Quello, che all’inizio sembrava il frutto di un equivoco case study presenta molte analogie con quella microstoria
circa l’indirizzo, si rivelava come una finestra sempre aperta che, di lì a breve, delineerà Carlo Ginzburg 6. All’unità di luogo
sull’ambiente che aveva fatto da sfondo al decennio trascorso si accompagna l’unità di tempo che corrisponde al papato
dopo la laurea: evidenza visiva di un netto scarto nella sua di Giulio II, in un rapporto diretto e quasi esclusivo tra il
biografia di architetto impegnato che, a un certo punto, im- committente (lo stesso pontefice) e il progettista (soprattut-
bocca con decisione una tra le possibili strade che gli erano to Bramante). Su tutto domina il concetto di renovatio, da
state inizialmente prospettate. declinarsi in senso sia istituzionale-amministrativo, sia edi-
lizio-architettonico: renovatio imperii e renovatio urbis da
intendersi, a loro volta, come potenti leve di una ambizioso
Via Giulia e l’elaborazione di un método programma di rinnovamento generale. In altre parole si trat-
tava di verificare un’ipotesi (o, se preferite, di accettare una
Nel 1969, quando il suo trasferimento a Venezia è sta- scommessa) riguardante la capacità dell’architettura di rias-
to consacrato dalla legge, Tafuri inizia a Roma la ricerca su sumere un più ampio contesto culturale e politico.
via Giulia. Ad accompagnarlo nell’impresa sono due storici La corposa monografia uscirà nel 1973 , ma non avrà il
dell’arte: uno – Luigi Salernostudioso di lungo corso del Cin- successo che merita e resterà con le stigmate di una rarità
que e Seicento, l’altro – Luigi Spezzaferro- giovane assistente bibliografica7. Anche se l’apparato iconografico non appare
di Argan. Il primo non andrà molto al di là della scrittura di consono alla sua importanza metodologica, questa corposa
un saggio, il secondo lavorerà a fianco di Tafuri in un non
6 Nel 1976 Carlo Ginzburg pubblica Il formaggio e i vermi : il cosmo di un
facile lavoro di ricerca che interseca una grande quantità di mugnaio del ‘500, Einaudi, Torino 1976.
fonti eteronome: alcune di tipo letterario, legate soprattutto 7 Luigi Salerno, Luigi Spezzaferro, Manfredo Tafuri, Via Giulia: una utopia
urbanistica del 500, Staderini, Roma 1973.
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monografia capace però di riverberare i suoi effetti sul perio- la platea marciana, l’Arsenale, Rialto a cui si aggiungono al-
do successivo. Nel frattempo Luigi Spezzaferro sarà chiamato cuni specifici casi di studio, come la chiesa di San Francesco
allo IUAV ad infoltire un gruppo di studiosi romani. della Vigna.
Circa dieci anni dopo il varo della ricerca su via Giulia, Fin dalla fine degli anni settanta, su tutte e tre le aree
Manfredo Tafuri applicherà un modello simile allo studio di lavorano dei gruppi di lavoro che presto daranno una prova
Venezia rinascimentale: i case study, in questo frangente, si tangibile del loro sforzo investigativo: il primo ad uscire è
moltiplicano ma resta la medesima intelaiatura concettuale L’armonia e i conflitti, (1983) di Antonio Foscari e dello stes-
che aveva guidato la ricerca sul Cinquecento romano. Anche so Tafuri, segue poi L’Arsenale, della Repubblica di Venezia,
qui vi è unità di tempo (il primo Cinquecento) e di spazio (Ve- (1984) scritto da Ennio Concina; infine Rialto, le fabbriche e
nezia colta in alcuni nodi di particolare significato); in modo il ponte, (1987) di Donatella Calabi e Paolo Morachiello8. Pur
analogo, il committente (il doge Andrea Gritti) svolge un nel rispetto di sensibilità e di formazioni diverse, tutti hanno
ruolo essenziale in un rapporto stretto con alcuni architetti preso le mosse da una piattaforma comune e da una condi-
ad iniziare da Jacopo Sansovino e accanto ad una categoria visa lettura critica.
fondamentale per comprendere la storia edilizia della città Nel 1984, ad un solo anno di distanza dal convegno, es-
lagunare, ovvero i protomagistri. Entrano in gioco anche di- cono gli atti del convegno “Renovatio Urbis” che si era tenuto
verse personalità come Tiziano, Lorenzo Lotto, Vettor Fausto, l’anno prima nella sede dello stesso Dipartimento di storia
Francesco Maria della Rovere, per citarne soltano alcuni. che, nel frattempo, ha trovato una sua sede e una sua precisa
Anche in questo caso, la renovatio urbis offre una cornice riconoscibilità. Ne esce un quadro complesso che, in parte,
ove inserire una serie di vicende che, ancor più che nel caso registra e fa conoscere all’esterno il piano di ricerche che è
di Roma, si intendono studiare nei loro intrecci con la storia stato elaborato qualche anno prima.
politica, con lo sviluppo della scienza, con le pulsioni rifor- Nelle sue applicazioni veneziane, lo schema concettuale
matrici e contro-riformatrici che agitano le città italiane nel di via Giulia ha subito mutamenti e si è arricchito di nuove
XVI secolo. Ben più che nello studio di via Giulia, qui entra acquisizioni sia metodologiche, che critiche. E’ scomparsa la
in gioco una visione “ à parts entières”, come Tafuri amava parola urbanistica, laddova riferita alla città rinascimentale:
spesso ricordare citando Lucien Febvre. sarà sostituita dall’espressione “strategia urbana” e non si
Nel giugno 1983, il convegno “Renovatio urbis. Venezia tratta di una semplice differenza nominalistica. E’ il riflesso
nell’età di Andrea Gritti” non soltanto consacra questa nuova di un’attenzione a quello che accade nell’Ottocento individu-
linea di lavoro, ma rappresenta anche l’occasione per presen-
tare il programma varato qualche anno prima. Quest’ultimo 8 Il primo è pubblicata da Electa, il secondo da Einaudi, secondo il nuovo corso
era stato impostato su tre aree cardinali del centro lagunare: editoriale che, negli anni ottanta, caratterizza l’attività del Dipartimento di Storia
dell’architettura.
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ato come spartiacque tra un prima e un dopo, segnato dalla scontrano le ipotesi innovatrici, insieme alle nuove condizio-
nascita di apparati specialistici e di figure tecniche ad hoc. ni poste dall’assetto europeo e del Mediterraneo”11.
Questo dato emerge nel convegno “Le macchine imperfette” Il quadro si è dunque arricchito di nuovi spunti metodolo-
che Tafuri e l’allora Dipartimento di Analisi critica e storica gici, e ha incorporato inediti strumenti di analisi storica; tut-
avevano dedicato, nell’autunno del 1977, all’architettura, al tavia il telaio di fondo resta quello a su tempo elaborato per
programma, alle istituzioni nel XIX secolo (come recitava il lo studio dell’architettura e dell’edilizia di Roma cinquecen-
sottotitolo)9. tesca, sotto la regia di alcuni papi particolarmente illuminati.
D’ora in poi, si potrà chiamare in causa la parola urba-
nistica, soltanto al cospetto di grandi piani ottocenteschi e
Continuità o discontinuità?
di una generazione di tecnici-burocrati consapevoli del “salto
epistemologico”. E’ questa una consegna rispettata scrupolo-
samente da tutti i membri del dipartimento in polemica con Alla metà degli anni ottanta, Tafuri ha ormai spostato il
chi –come Benevolo, Guidoni e Sica-, si ostina a parlare di baricentro dei suoi interessi sul Rinascimento italiano, im-
“urbanistica del neo-litico” o, più semplicemente di “urbanis- boccando con decisione la strada della filologia, accanto a
tica medievale”. Burnes, Connors, Frommel, Thoenes, e gli altri studiosi gra-
Il convegno “Renovatio Urbis” ha segnato un riposiziona- vitanti attorno alla Biblioteca Hertziana di Roma. Ha attenu-
mento di Tafuri e del suo gruppo di lavoro. Ridimensionata la ato -ma non del tutto abbandonato- alcuni interessi da lui
passione per i maitres à penser parigini (Barthes, Foucault, coltivati con particolare intensità nella prima parte della sua
Lacan, ma non Derrida), ora il direttore del dipartimento biografia di studioso: da una parte c’è l’ impegno rispetto ai
guarda con crescente interesse non soltanto alla microstoria problemi del suo tempo, della città e della società nella quale
di Carlo Ginzburg, ma anche alla storiografia francese degli egli vive ed opera, dall’altra ci sono le sue ricerche sull’archi-
“Annales”10. Nell’introduzione agli atti, Tafuri chiama in cau- tettura contemporanea; su questo terreno, ad esempio, non
sa Fernand Braudel, accanto a Gaetano Cozzi. In ossequio ad verrà mai a cessare il suo interesse per l’opera di Le Corbu-
una visione coerente con questa tendenza, vengono chiamate sier, come testimoniano gli articoli pubblicati su “Casabella”
in causa. nel 198412.
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Tra la fine degli anni settanta e l’inizio degli ottanta, a to un radicale e improvviso mutamento, quasi come se fosse
riprova di un mai sopito interesse per il Novecento, si de- passato per una sua personale “via di Damasco”. Tutto questo
linea anche il suo coinvolgimento nella creazione di archi- sarebbe avvenuto dopo il 1980, l’anno in cui esce La sfera e
vi dedicati all’architettura contemporanea come dimostra il il labirinto, volume miscellaneo che mostra un evidente ca-
suo intervento nel 1980 presso il Centro studi archivio della rattere bicipite17.
comunicazione di Parma13. Decisiva si rivelerà l’opera di mal- In effetti chi confrontasse l’introduzione al catalogo della
levadore svolta da Tafuri perché il costituendo CSAC di Ar- mostra su Raffaello con le pagine iniziali di Progetto e Uto-
turo Carlo Quintavalle possa acquisire i fondi di alcuni tra pia, propenderebbe per l’ opzione discontinuità, confortato
i più importanti progettisti italiani del Novecento. In linea dal fatto che tra l’uno e l’altro dei due libri intercorrono sol-
con questo tipo di attenzione, Tafuri pubblica nel 1986 Storia tanto dieci anni18. Sull’altro piatto della bilancia pesa però
dell’architettura italiana, 1944-85, idealmente connesso al un’attenzione per il Rinascimento che non è repentina, ma
volume che Giorgio Ciucci pubblicherà qualche anno dopo viene da lontano come dimostrano i due corposi volumi che in
sul periodo tra le guerre14. seguito Tafuri tenderà a disconoscere: Architettura dell’Uma-
Anche la città di Venezia e il suo futuro sono oggetto di nesimo e la monografia su Sansovino, entrambi pubblicati
riflessione per Tafuri che proietta in laguna parte di quell’im- nel 1969 all’indomani del vittorioso concorso a cattedra.19
pegno a suo tempo rivolto ai problemi urbani di Roma con- Nel 1966 aveva dato alle stampe anche l’ormai dimen-
temporanea: Si veda, a questo proposito, l’intervento di Ta- ticato, L’architettura del Manierismo nel Cinquecento euro-
furi al convegno che l’Istituto Gramsci Veneto organizza nel peo20: il libro segna l’occasione d’incontro con Aldo Quinti,
198815. che ha iniziato l’attività di editore da un paio di anni. Ancora
Resta il nodo della continuità o della discontinuità: qua- nel periodo pre-veneziano, Officina Edizioni aveva segnalato
le delle due prevale sull’altra ? Secondo la testimonianza di
Christoph Frommel, contenuta in questi atti di convegno, il
Tafuri che prepara la mostra su Raffaello Architetto16 ha subi- di Electa, e per la cura di, Stefano Ray, oltre che di Christoph Luitopold Frommel
e Manfredo Tafuri.
13 Si veda, in proposito, Il disegno dell’architettura : incontri di lavoro, Parma 17 Pubblicato per i titoli di Einaudi, il volume avvia il sodalizio con l’editore
23-24 ottobre 1980 , a cura di Gloria Bianchino, Centro studi archivio della comu- torinese.
nicazione dell’Università di Parma, Parma 1983. 18 Progetto e Utopia esce nel 1973; in realtà raccoglie una serie di contributi
14 Entrambi pubblicati da Einaudi nella collana PBE; il volume di Ciucci, Gli apparsi in precedenza per lo più sulla rivista “Contropiano”.
architetti e il fascismo. Architettura e città, 1922-1944, uscirà nel 1989. 19 Si vedano, in proposito, Jacopo Sansovino: e l’architettura del ‘500 a Venezia,
15 Si veda, in proposito, Idea di Venezia, Atti del convegno : 17-18 giugno Marsilio. Padova 1969; L’architettura dell’Umanesimo, Laterza Roma/Bari, 1969.
1988. “Quaderni della Fondazione dell’Istituto Gramsci Veneto”, n.3/4, 1988; poi 20 L’ anno dopo, sulla stessa linea di ricerca, Tafuri pubblica l’articolo L’idea
pubblicato nel 1989 con l’editore Arsenale, Venezia di architettura nella letteratura teorica del Manierismo, in «Bollettino CISA», IX,
16 Il catalogo della mostra Raffaello Architetto è pubblicato nel 1984 , per i titoli (1967), pp…...
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l’uscita di una monografia di Tafuri su Giulio Romano21: il vo- serie di volumi sull’Otto e Novecento europeo testimoniano
lume non vedrà mai la luce ma testimonia di un interesse che dell’ampiezza dei temi trattati fin dall’inizio l’Istituto di storia
si materializzerà venti dopo con la mostra e il catalogo dedi- dell’architettura che Tafuri sta indirizzando verso una plura-
cati alla sua vita e alla sua opera22. Nel 1967 esce un articolo lità di interessi e di temi; l’ampio catalogo rappresenta altresì
su Borromini, che forse è da mettere in relazione con il libro una “finestra” attraverso la quale tutti possono comunicare i
di Paolo Portoghesi che, pochi anni prima, ha dato il via alla risultati del proprio lavoro di ricerca.
produzione di Officina edizioni, in materia di architettura23. Tra tutti quelli pubblicati con Aldo Quinti, soltanto il pri-
Officina Edizioni diverrà il referente privilegiato di un mo e l’ultimo volume riguardano opere e soggetti cinquecen-
grande numero volumi pubblicati da lui e dai suoi collabora- teschi: si tratta, nel secondo caso, del già citato “Renovatio
tori. Nasce a questo scopo, la collana “Architettura”, che Ta- Urbis”. Con il quasi contemporaneo Raffaello Architetto, si
furi dirige tra il 1970 e il 1984; la lista degli autori è formata apre una nuova fase nella quale i cataloghi di mostre sul
per la quasi totalità da docenti o da aspiranti docenti dello Rinascimento sono pubblicati prevalentemente con Electa,
IUAV. Vi si pubblicano anche i testi di chi non appartiene mentre con Einaudi escono volumi e monografie di analogo
all’Istituto di Storia, come ad esempio Carlo Aymonino e Aldo contenuto, come L’armonia e i conflitti.
Rossi. Per la parte relativa al contemporaneo -e in particolare
Nel moto pendolare che caratterizza gli interessi scien- nel periodo 1970-1984-, la romana Officina Edizioni può es-
tifici di Tafuri, la collana di Officina appare volutamente sere a pieno titolo considerata come una sorta di “University
sbilanciata verso il contemporaneo, da intendersi secondo Press” rispetto a quella scuola che Tafuri sta realizzando a
un’ampia accezione che comprende la storia dell’architet- Venezia e che nell’arco di circa dieci anni muterà denomina-
tura e la filosofia specie sul versante dell’estetica24. Quella zione per ben tre volte25: da Istituto di Storia dell’architettura
a Dipartimento di Analisi critica storica (1974), fino a stabili-
21 Si veda, in proposito Maristella Casciato, Quarante années de publications zzarsi definitivamente nel 1982 con il nome di Dipartimento
en architecture. Officina Edizioni: un editeur italien et ses auteurs, intervento al
Convegno “Le livre et l’architecte”, organizzata a Parigi, gennaio-febbraio 2008, di Storia dell’architettura.
dall’Institut national d’histoire de l’art e dall’ École nationale sup érieure d’archi- Sul fronte della didattica, il 1980 segna l’anno della svol-
tecture de Paris-Belleville,. Pubblicato poi nel volume in Le livre et l’architecte, a
cura di Jean-Philippe Garric e altri, INHA/Mardaga, Paris 2011, pp………; il testo ta: nel 1979- 80, il corso era stato dedicato alle “Avanguardie
è ora disponibile anche in italiano nel sito http://www.officinaedizioni.it/about/ europee”, l’anno successivo a “Giovanni Battista Piranesi”, per
parigi-2008.
22 Si veda Giulio Romano architetto, a cura di Manfredo Tafuri, Electa, Milano
1989. soltanto uno riguarda il Settecento (La Lisbona del marchese Pombal), mentre
23 Si veda Manfredo Tafuri, Inediti borrominiani, in “Palatino”, XI (1967). pp. 255- tutti gli altri si riferiscono all’Otto e al Novecento.
262; Paolo Portoghesi, Borromini nella cultura europea, Officina, Roma 1964. 25 Officina IUAV, 1925–1980. Saggi sulla scuola di architettura di Venezia,
24 Nel periodo 1970-1984, Tafuri, promuoverà la pubblicazione di 27 volumi; a cura di Guido Zucconi e Martina Carraro, Marsilio, Venezia 2011, pp…… sgg..
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poi passare nel 1981-82 al tema “Arti e architettura nella Ve- dioso che, come abbiamo vista, sarà sempre divisa tra Roma
nezia dell’Umanesimo”. Da questo momento fino all’ultimo e Venezia. Resta da chiedersi se, anche nella sua biografia
corso tenuto nel 1993-94. Tafuri affronterà soltanto temi le- di uomo e di studioso, Roma e Venezia siano da intendersi
gati al Rinascimento alternando, anche in questo caso, Roma come opposti; o forse, come poli di una dialettica che include
e Venezia come sfondi per l’illustrazione dei temi e delle ope- la complessità di un modo di operare che rifugge la ricerca
re. mono-tematica e mono-geografica.
Già nei due testi del 1966 comparivano, anche se sotto-
-traccia, queste due polarità urbane, da intendersi come chia-
ve per leggere il rapporto tra elaborazione e diffusione dei
modelli rinascimentali. Poi nel corso degli anni ottanta, con
gli studi più maturi di Manfredo Tafuri., questo dualismo si ri-
vela un fattore dialettico: delle due entità opposte la città dei
papi rappresenta da un lato il luogo ove l’utopia rinascimen-
tale si realizza, mentre la Dominante assurge a simbolo di
un mancato incontro con “l’arte alla maniera degli antichi”.
Secondo il Tafuri di Venezia e il Rinascimento, il centro
lagunare subisce, per non dire osteggia, i modelli che pro-
vengono da Roma e da Firenze, percependoli come comple-
tamente estranei alla sua tradizione storica e artistica. Lungi
dal marcare il senso di un avvenuto matrimonio, il carattere
binario di quel titolo sta quindi ad indicare un contrasto in-
sanabile, assumendo alla fine il carattere di un vero e proprio
ossimoro. Da sempre, a ben guardare la serie di binomi scel-
ti per i suoi libri, tutti funzionano in realtà come coppie di
opposti: Progetto e Utopia, La sfera e il labirinto, L’armonia
e i conflitti.
Nel periodo che avrà di fronte a sé, tra il 1968 e il 1984, il
centro dei suoi interessi sembrerà egualmente ripartito tra la
città, ove nato e si è formato, e la città a cui è associata la sua
vita la sua vita di docente universitario; ma non quella di stu-
354 355
4ªsessãosessionsessione
Tafuri e os arquitetos
SUMNER
Vídeoconferência
Video Conference
Videoconferenza
Vittorio GREGOTTI
358 359
Paulo Mendes da ROCHA
360 361
5ªIsessãosessionsessione
Entre Leituras
e Leitores
Manfredo Tafuri do Sul Una investigación reciente llevada a cabo en los Estados
Southern Manfredo Tafuri Unidos da cuenta del rol de la crítica de arquitectura en ese
Manfredo Tafuri da Sud país1. Aunque con matices y diferencias, algunas caracterís-
ticas allí presentadas no parecen ajenas a lo que ocurre con
Jorge LIERNUR esta actividad en América Latina. Según el informe, prepa-
rado por el Programa Nacional de Periodismo Artístico de
la Universidad de Columbia, menos de un tercio de los 140
periódicos (con una circulación de mas de 75.000) analizados
por el estudio cuentan con críticos de arquitectura, entre los
cuales sólo un tercio a su vez tienen una dedicación full-time
a esa actividad. Otros estudios del Programa muestran asi-
mismo que en los periódicos “las mas escasamente cubiertas
entre las disciplinas artísticas son las artes visuales, y que de
éstas últimas la arquitectura figura como la menos conside-
rada” 2. En la mayor parte de los casos las críticas de arqui-
tectura aparecen formando parte de las secciones de arte.
La crítica de arquitectura juega y ha jugado un
364 365
rol no despreciable en la formación de opinión pú- dente que la crítica cuyo fin es la formación de opi-
blica a través de los medios periodísticos, como lo nión pública, no puede asimilarse a aquella cuya
reflejan las columnas dedicadas al tema en diarios función está referida al campo profesional especia-
como El País, en España, el rol desempeñado por lizado en arquitectura, aunque entre ambas exista
Bruno Zevi en el semanario italiano L’Espresso, o o debería existir, como veremos, una estrecha rela-
en América Latina la tarea del Grupo Nueva Arqui- ción. Se trata, en rigor, de los dos ámbitos con de-
tectura en El Nuevo Diario en República Domini- mandas diversas, entre los que la crítica se tensio-
cana, o de Juan Pedro Posani y Alberto Sato en na desde sus orígenes, ubicados por distintos
Economía Hoy de Caracas. autores a fines del siglo XVIII. Para decirlo con
En la Argentina los principales diarios publican Terry Eagleton, quien aunque alude en particular al
suplementos especiales semanales dedicados a la “hombre de letras victoriano” extiende el dilema a
arquitectura, lo que supone la ventaja de un mayor la situación actual, “o la crítica se esfuerza por jus-
espacio y la desventaja de su relativa separación tificarse a sí misma ante la opinión pública mante-
del cuerpo principal, lo que a la vez determina un niendo una responsabilidad humanística general
distanciamiento del público general. hacia la cultura como un todo, cuyo amateurismo
cada vez será más entorpecedor a medida que se
Así como es indudable la influencia de Bruno
desarrolle la sociedad burguesa; o se convierte en
Zevi en la cultura italiana, no lo es menos la de
una especie de habilidad tecnológica, cimentando
figuras como Ada Louis Huxtable o Paul Goldber
así su legitimidad profesional a costa de renunciar
- ger en los Estados Unidos, aunque ambos hayan
a una mayor relevancia social” 3. Si bien creo que
sido principalmente activos en el ámbito periodísti-
ambas actitudes no son antagónicas sino comple-
co. Quiero decir con esto que el campo de la crítica
mentarias, he elegido centrar mis observaciones
periodística tiene una gran importancia en la cons-
en la segunda de ellas por entender que a ella es-
trucción de un espacio público para la mas pública
tán dirigidas las preocupaciones que orientan la
de las artes, y puede ser ejercida con gran respon-
realización de este encuentro, y dado que es tam-
sabilidad e inteligencia.
bién en el ámbito de la crítica especializada donde
Ahora bien, aunque, como queda aludido, falta he desarrollado mi propia actividad. Dicho esto
mucho por hacer en este sentido y aún sin tener en
cuenta la calidad de lo que se lleva a cabo, es evi- 3 Terry Eagleton, The function of criticism; Londres, 1996. Trad. Cast. La función
de la crítica; P.68, Barcelona, 1999.
366 367
debo reconocer en primer lugar que no me carac- como imprescindible el estallido del propio contex-
terizan ni una formación ni una producción meta- to en planos o capas a partir de lo que llamaba “in-
crítica, con lo que puedo a lo sumo compartir mis cidentes técnicos” (ideologías subterraneas, técni-
propios interrogantes, esperando iluminarlos en el cas diversas de dominio, etc.). La consecuencia de
curso de la discusión. Por empezar, no he inventa- este trabajo no sería la generación de uno sino de
do mi posición. Tuve el privilegio de realizar estu- múltiples significados. No el “poder” y sus institu-
dios de posgrado con Manfredo Tafuri y es a sus ciones deberían ser “de-velados” por el análisis
ideas a las que me remito a la hora de explicitar crítico, sino los choques entre los múltiples “dialec-
mis opiniones, no solamente porque son esas ide- tos” hablados por un poder que, atravesando lo
as las que no han dejado de guiar mi trabajo sino real en direcciones múltiples, producía en conse-
porque, como de esto puede deducirse las consi- cuencia asimismo restos, márgenes, residuos. La
dero tan plenamente vigentes como escasamente mención a los filósofos franceses deja ver clara-
comprendidas. No es posible obviamente conden- mente que la posición de Tafuri no era ajena al es-
sar en esta breve presentación su enorme contri- tado del debate a principios de los ochenta, fuerte-
bución en el tema que nos ocupa, pero me permito mente marcado por el llamado “giro lingüístico”. Es
al menos recordar algunos de sus aspectos, tal que, desde las formulaciones de Foucault, Haber-
como los formulara en uno de sus mas escritos im- mas y Gertz, nadie podía escapar al problema fun-
portantes: “El “Proyecto” Histórico”4. Tafuri plante- damental que deviene del reconocimiento del rol
aba allí la necesidad de hacer estallar la aparente del lenguaje como el elemento central en la consti-
unidad del objeto de análisis, dejando incluso de tución de lo social. Como lo sintetizara Elias Palti,
lado, por ingenua, la idea de que ese estallido po- “desde que el lenguaje dejó de ser concebido como
dría provocarse con la mera inclusión del objeto en un medio más o menos transparente para repre-
contexto. Revisando sus propias afirmaciones de sentar una realidad ‘objetiva’ externa al mismo, el
trabajos anteriores guiados por la mas estrecha- foco de la producción historiográfica en su conjun-
mente adorniana “crítica de la ideología”, y en po- to se desplazó decisivamente hacia los modos de
lémica con la “metafísica del deseo” de Deleuze y producción, reproducción y transmisión de senti-
Guatari, en el “Proyecto” se presentaba también dos en los distintos períodos históricos y contextos
4 Manfredo Tafuri, “Il “progetto” storico”. en La Sfera e il labirinto; p.3, Roma,
1983
368 369
culturales” 5. El texto de Tafuri está marcado por braron de la carga de la historia y fueron libres
este traumático reconocimiento de la separación para hacer arte en cualquier sentido que desearan,
arbitraria entre “palabras” y “cosas” que constituye, con cualquier propósito que desearan, o sin ningu-
precisamente, el meollo teórico de la actividad crí- no”. Tanto optimismo no ha sido compartido por
tica. Para algunos, como Arthur Danto, esa sepa- otros autores, puesto que al tiempo que supone
ración estaba implícita en el desarrollo mismo del una “liberación” de los imperativos externos, la ex-
arte moderno. Para Danto, “el modernismo marca plicación de Danto deja a los artistas en un total
un punto en el arte, antes del cual los pintores se aislamiento en la medida en que no parece que és-
dedicaban a la representación del mundo, pintando tos debieran interesarse en ninguna función comu-
personas, paisajes, y eventos históricos tal como nicativa explícita, o lo que es lo mismo en ningún
se les presentaban o hubieran presentado al ojo. vinculo activo con la sociedad. En el campo de la
Con el modernismo, las condiciones de represen- Historia el problema ha sido encarado por quienes
tación se vuelven centrales, de aquí que el arte, en como Stanley Fisch entienden que la producción
cierto sentido, se vuelve su propio tema” 6. En otras de sentido no es una tarea individual del escritor.
palabras: con el modernismo el arte se constituye Para Fisch, “los significados y los textos produci-
en una reflexión crítica acerca de su propio senti- dos por una comunidad interpretativa no son sub-
do, reflexión que solo puede adquirir, según Danto, jetivos porque no provienen de un individuo aislado
su plena expansión en el plano mismo del discurso sino de un punto de vista convencional y público”.
filosófico. Danto extrajo de esta afirmación una Palti sostiene que “retorizándola, Fisch salva, en
conclusión relativamente sencilla que le permitió definitiva, la idea dialógica, es decir la posibilidad
celebrar las múltiples y relativamente despreocu- de una comunicabilidad”. Pero mientras Fisch re-
padas expresiones del postmodernismo: a su jui- suelve un problema, el de la comunicación tenien-
cio, mediante la separación radical entre “práctica do en cuenta la relación entre obra (texto) y “comu-
artística” y “discurso filosófico” la historia del arte nidad interpretativa”, simultáneamente deja abierto
“se ha liberado a sí misma de una carga que podrá otro, el del relativismo. Esto es: la existencia mis-
entregar a los filósofos. Entonces los artistas se li- ma de “comunidad interpretativa” presupone la ne-
gación de un sistema o campo universal de inter-
5 Elias José Palti, “Giro lingüístico e historia intelectual”, en E.J. Palti, (comp.):
Giro lingüistico e historia intelectual, p. 20, Buenos Aires, 1998.
pretación, y con ello la posibilidad de traducción, o
6 Arthur Danto, After the end of Art, Washington, 1997. de transvasamiento de la argumentación mediante
370 371
una lógica racional. En “Metahistory” Hayden Whi- res de “un mas o menos explícito rechazo de las
te había llevado al extremo esta conclusión acerca tradiciones racionalistas de la Ilustración, de dis-
de una lógica literaria para la narración histórica. cursos teóricos desconectados de textos empíri-
Para él, en la medida en que la documentación cos, y de un relativismo cognitivo y cultural que
solo da cuenta de los hechos analizados de mane- entiende a la ciencia como nada mas que una ‘nar-
ra fragmentada, la posibilidad de su articulación en ración’, un ‘mito’ o construcción social entre tantas
algún sentido solo podría basarse en una prefigu- otras”. Sokal y Bricmont demuelen desde su incon-
ración no “objetiva”. De este modo White diría que sistencia el uso metafórico de términos y la confu-
“a fin de concebir ‘lo que realmente ocurrió’ en el sión consiguiente que parecen caracterizar a bue-
pasado, el historiador debe primero prefigurar el na parte de los defensores del “giro linguístico”,
conjunto completo de los acontecimientos reporta- con lo que dejan aparentemente en buena paz a
dos en los documentos como un posible objeto de las tradiciones teóricas de las ciencias duras, pero
conocimiento. Este acto prefigurativo es poético en en verdad no brindan demasiados argumentos su-
la medida en que es precogntivo y precrítico” Por perar el problema en el campo de las humanidades
cierto que la idea de una “prefiguración poética” y las artes. Volviendo al texto de Tafuri debe desta-
como “fundamento” del conocimiento no podía carse su esfuerzo de lidiar con la indeterminación
sino alarmar a los partidarios de una relación mas y el relativismo implícitos en la separación radical
consistente entre las palabras y la realidad. Es de palabras y cosas a la hora de encarar los he-
bien conocida la reacción de la comunidad científi- chos de la arquitectura. Creo que su clave consiste
ca norteamericana a este tipo de posiciones, la en la idea de “productividad”, sujeta a la formulaci-
que tuvo una expresión ampliamente difundida pri- ón que, apelando a un concepto freudiano, llama
mero mediante el episodio en torno al artículo “representación delirante”, asimilándolo al marxis-
“Transgressing the Boundaries” de Alan Sokal y ta de “abstracción determinada”. En relación con la
mas tarde a través de “Fashionable Nonsense. primera Tafuri discute al menos con la aplicación
Postmodern intellectuals’ abuse of science”, el li- de dos líneas de pensamiento: la de Gadamer,
bro que Sokal escribiera junto con Jean Bricmont aunque sin mencionarlo, y la de Barthes. Definida
en el que ambos autores se propusieron demostrar por Gadamer como “el arte de transmitir lo dicho
la aparente debilidad científica de los principales en una lengua extraña a la comprensión del otro”,
referentes teóricos “postmodernistas”, sostenedo- cuya finalidad es “revelar la extrañeza del espíritu
372 373
extraño”, la hermenéutica es considerada por Tafu- –práctica a socializar (...) la crítica histórica debe
ri como una tarea que no puede ser confundida saber jugar sobre el filo de la navaja que hace de
con la crítica, precisamente debido al rol político límite entre el distanciamiento y la participación”.
de ésta, mas allá del puro universo de la obra. Asi- De manera que “Quien no quiera mitificar el espa-
milando crítica e historia, Tafuri sostiene que ésta cio de la ‘teoría’ se encuentra hoy frente a (un) pro-
“no puede reducirse a una hermenéutica, puesto blema irresuelto: la socialización y la productividad
que no tiene como objetivo descubrir el “velo de del espacio histórico” la (crítica histórica) se ve
Maya” de la verdad, sino que su propósito es mas obligada a entrar en una lucha que pone en duda
bien romper las barreras que ella misma se cons- su propio sentido”. Tafuri formula aquí una posición
truye, para seguir adelante, para superarse”. Tam- que de algún modo se asemeja a la planteada por
bién un método crítico como el de Barthes (o Der- Habermas. Para el filósofo alemán uno de los pro-
rida, o Blanchot), cerrado sobre su objeto “puede blemas a resolver por la crítica y por los artistas
atacar obras y textos, construir genealogías fasci- modernos es el de la constante nostalgia de la re-
nantes, iluminar de modo hipnótico nudos históri- cuperación de una unión entre arte y vida, tanto
cos aplanados por lecturas facilistas. Pero deben mas cuando intentada unilateralmente desde una
negar la existencia de un espacio histórico”. Por de las esferas de la actividad humana que la mo-
ese motivo el único modo de lograr en un solo mo- dernidad, por definición, ha definitivamente instala-
vimiento la afirmación de una deconstrucción del do de forma separada. Lo importante para noso-
objeto y del propio proceso de deconstrucción resi- tros es que si bien Habermas reconoce esta
de en el impulso político que lleva al análisis, con- separación, admite asimismo que las distintas es-
taminándolo, a la búsqueda de un sentido mas allá feras de la actividad humana se unen en la expe-
de sus bordes. Así, Tafuri nos pone frente a una riencia real de la existencia, en la vida cotidiana de
opción: “O siguiendo a Barthes y la nouvelle criti- los hombres. Aludiendo a lo que llama “la reapro-
que nos dispondremos a multiplicar las metáforas piación de la cultura de los expertos desde el punto
del texto arquitectónico, desdoblando y variando de vista de la vida”, Habermas sostiene que “en la
hasta el infinito las “valencias libres”, su específico medida en que la (experiencia estética) es utilizada
‘sistema de ambigüedades’; o recorreremos a fac- para iluminar una situación de vida y se relaciona
tores externos a la obra, extraños a su construcci- con sus problemas, entra en un juego de lenguaje
ón aparente”. Por eso, “en cuanto práctica social que ya no es el del crítico. Así la experiencia esté-
374 375
tica no sólo renueva la interpretación de las nece- arte y la arquitectura modernos. Aunque en el caso
sidades a cuya luz percibimos el mundo, sino que particular de la arquitectura habría que agregar de
penetra todas nuestras significaciones cognitivas y esa liberación no debería reducirse a los aspectos
nuestras esperanzas normativas cambiando el lingüisticos. Tratándose de una práctica con finali-
modo en que todos estos momentos se refieren en- dades determinadas, la arquitectura como parte de
tre si”. Creo que Tafuri avanzó en esta dirección procesos productivos debe además ser evaluada
pero reincorporando esta posibilidad en el campo en función de su voluntad y capacidad, no menos
de la “cultura de los expertos” como clave de segu- liberadoras, de contribuir a solucionar los gigan-
ridad de la propia actividad de la crítica frente al tescos problemas que limitan el pleno disfrute de la
“autismo” derivado del “giro lingüistico”. El ámbito vida de la mayor parte de los seres humanos.
de las “situaciones de vida” aludidas por Habermas Cabe entonces retomar el tema que expuse al
es a mi juicio lo que Tafuri llama “espacio históri- comienzo de esta presentación: la relación entre
co”, un espacio de existencia transitoria y de condi- crítica periodística y crítica especializada. Por lo di-
ciones inmanentes. Es en ese “espacio histórico” cho hasta aquí considero que, mas allá de las dife-
donde las “abstracciones determinadas”o “repre- rencias de modalidades discursivas y de la diferen-
sentaciones delirantes”, no menos transitorias tie- te densidad argumental, no se trata de dos ámbitos
nen una acción de transformación. “Suturando la separados. A mi juicio solo una crítica especializa-
‘incomodidad de la civilización’, -afirma Tafuri- (las da que sea conciente de su función política -y por
representaciones delirantes) permiten la supervi- lo tanto de la necesidad de ocupar un lugar en la
vencia de la misma civilización. Pero (también ad- esfera pública- podrá alcanzar su expresión mas
vierte que) como diques que contienen a fuerzas intensa , y viceversa, solo una crítica periodística
en ebullición, ellas actúan como bloqueos si no que acepte como fundamento un trabajo analítico
son rápidamente desactivadas”. A este punto po- radical realizado con los medios mas sofisticados
demos afirmar, sintéticamente, que para un pensa- podrá eludir la empobrecida y sofocante atmósfera
miento con vocación transformadora que no esté del mundo “administrado”. Quisiera para finalizar
dispuesto a abandonar la condición dialógica de la referirme a la situación de la crítica en la Argentina
razón, lo que evita el relativismo del análisis es la y en la medida de mis conocimientos, en el Cono
responsabilidad política de la crítica en el sosteni- Sur de América Latina. Y debo decir que no me
miento de la función liberadora que aún anida en el
376 377
parece demasiado auspiciosa. Y no lo es ni en el lor positivo, mientras que lo “ajeno” es la expresión
campo de la creación de opinión pública, ni en el y causa de los males. Sin embargo, paradójica-
de la especialidad profesional. Por un lado la críti- mente sus posiciones fueron coincidentes con las
ca periodística es ejercida con escasa responsabi- de quienes, desde “afuera” formulaban ideas como
lidad, apelando con mayor frecuencia a la descrip- las de las mencionadas “comunidades interpreta-
ción insulsa o a la alabanza fácil que al ponderado tivas” abriendo con esto el camino al relativismo
juicio de valor. Rara vez, inclusive, esta crítica se cultural que permite incluir lo “diferente” al costo de
rige siquiera por los sencillos (pero en cierto modo bloquear sus posibilidades dialógicas. En el cam-
arriesgados) criterios que Raman y Coyne llaman po de la arquitectura esta paradójica coincidencia
“performance evaluation”, esto es: valoración de la entre los irreductibles partidarios del “adentro” y
obra analizada según criterios de eficiencia, eco- los representantes mas conspicuos del “afuera”,
nomía, respuesta al propósito y sustentabilidad. es claramente observable en diversos fenómenos
Por otro el ejercicio analítico especializado se re- como el del éxito de la fórmula del “regionalismo
duce a algunos casos aislados. Lo que no significa, crítico” coincidente, especialmente en ámbito su-
que este último ámbito haya estado desierto. Por damericano, con la contraparte de la “modernidad
el contrario, dejados atrás los años de una crítica apropiada”. Formuladas mas o menos simultánea-
en la que las palabras suponían una relación trans- mente la primera por un crítico inglés radicado en
parente con las cosas que imaginaban designar, los Estados Unidos y la segunda por un crítico chi-
en la región se hizo hegemónico una modalidad de leno, se trata de dos denominaciones de un mismo
análisis que, embanderada en torno a la idea de la tema, esto es: la necesaria existencia de un canon
otredad” de la “arquitectura latinoamericana”, esta- sustantivo y de unas producciones derivadas y por
bleció su modelo de referencia basado en la sen- ello adjetivas. En realidad ambas posiciones críti-
cilla cuación adentro/afuera. Especialmente desde cas se basan en un mismo presupuesto: el de la
los años ochenta y en consonancia con otras zonas homogeneidad de la identidad, tanto de los cam-
del subcontinente, esa modalidad ha logrado inclu- pos culturales externo e interno, como de la propia
sive establecer una fuerte articulación con la prá- “arquitectura moderna”. Solo la presunción de que
xis de la profesión. Para esta crítica el “afuera” y el habría una “modernidad” arquitectónica unívoca y
“adentro” se distinguían por rasgos trascendentes. claramente determinada podía permitir la postu-
En lo “propio” están las raíces inefables de todo va- lación de una “modernidad otra”. En sentido con-
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trario, basta con entender que la “modernidad” es roso, -una visión que pasa por alto que es a la vez
representada ab-initio y en todas partes por distin- formidablemente pleno de recursos y espectacu-
tas fórmulas modernistas, como para concluir que larmente fracasado- entonces las fuerzas de opo-
carece de sentido hablar de modernismos canó- sición pueden solamente ser buscadas fuera de
nicos y en consecuencia que no es menos incon- él”. Imaginado como reaccionarían los represen-
sistente imaginarlos subordinados o “diferentes”. tantes de una cultura que se sintiera de ese modo
Igual razonamiento puede aplicarse a la fórmula encerrada Eagelton describe lo que realmente ha
del “regionalismo crítico”, para el que habría una ocurrido en los años recientes: “Algunos, podemos
historia de la arquitectura moderna tout-court, que predecir, asumirían que el sistema dominante era
luego de haber nacido y crecido, pura y autónoma, totalmente negativo -que nada dentro de esta ini-
en algunos países noratlánticos, habría sido de- gualada no-contradictoria totalidad podría por de-
clinada fuera de esos países, consiguiendo en los finición ser de valor- desplazándose de allí para
mejores casos una valiosa fusión de las fórmulas idealizar algún nouménico Otro. Este culto debería
presuntamente originales con el espíritu del lugar. sin duda asociarse a una auto-laceración culposa
A la arquitectura realizada en los países periféricos por parte de algunos vástagos del primer mundo
les queda de este modo el consuelo de entrar a la que ansiarían ser justos con todo el mundo salvo
“gran narración” euronorteamericana merced a la con ellos mismos. Uno podría prever un enorme
comprensiva y solidaria inclusión de capítulos “es- surgimiento de interés por lo ajeno, lo desviado, lo
peciales” que por su misma condición la confinan exótico, lo inincorporable”. Así pues, quienes han
a la condición de la otredad. El culto de la “otre- defendido y siguen defendiendo el modelo nacio-
dad” ha obtenido en la academia norteamericana nal populista afuera/adentro antes mencionado ce-
un lugar de privilegio merced a la difusión de los lebran su condición “otra” sin percibir dos detalles:
llamados “estudios postcoloniales”. Terry Eagelton uno, que aceptar esa condición supone declararse
ha asociado esta característica tipicamente “post- imposibilitados de explorar y discutir el mundo que
modernista” con una reacción de la izquierda inte- nos rodea sin ninguna restricción de objetivo ni de
lectual frente a la masiva instalación de un fuerte método: dos, que el modelo no es mas que la in-
clima conservador y al aparente “fin de la historia” versión solo aparente de la narración euronorte-
consecuencia del proceso de globalización. Para americana. Y digo solo aparente porque en rigor
Eagelton “si el sistema es considerado todo pode- mantiene en pié los mismos valores. Los cultores
380 381
de la “diferencia” y lo “propio” gustan de emplear el con las debilitadas estructuras de producción cul-
conocido mapa de América dibujado por Joaquin tural, como para concluir que una crítica que se
Torres García con el Sur hacia arriba y el Norte proponga desde este punto de vista evaluar las
hacia abajo. experiencias y los debates contemporáneos, en
Lo que el mapa tiene en común en las dos po- nuestros países y en el mundo tiene un rol no solo
siciones es la idea de que sería mejor estar arri- plenamente justificado sino, mucho mas, impres-
ba que abajo. Pero ¿quién está en condiciones de dindible.
sostener que el arriba sea mejor que el abajo? No
hay valores de este tipo en el espacio y en todo
caso, si se tratara de jugar metafóricamente con el
dibujo ¿no sería mas apropiado a una noción igua-
litaria el dibujo de un mapa horizontal? A aquellos
que se inquietan por encontrar una crítica de la ar-
quitectura contemporánea latinoamericana sugie-
ro pensar que mucho mas apropiado me parece
apuntar a una crítica latinoamericana de la arqui-
tectura contemporánea. Esto es a una crítica de las
ideas y las obras que actualmente se producen en
todo el mundo, realizada por quienes por definición
portamos un punto de vista permeado por la reali-
dad del subcontinente. Basta observar el grado de
frivolidad y la alegre y provinciana celebración de
sus propias abundancias, o la cínica aproximación
utilitaria hacia las dinámicas urbanas mas misera-
bles dominante hoy en el panorama de la industria
internacional de la información como para recono-
cer que, teniendo que convivir cotidianamente con
las carencias materiales y espírituales de nuestros
propios pueblos, con las distorsiones de nuestros
procesos de desarrollo científico y tecnológico, y
382 383
Manfredo Tafuri e uma
viagem ao “Escorial”
Manfredo Tafuri and a trip
to the “Escorial”
Manfredo Tafuri e un viaggio
al “Escorial”
Carlos SAMBRICIO
384 385
A arquitetura desencantada, My talk today deals with not only the intellectual trajec-
Tafuri leitor de Max Weber tory of Manfredo Tafuri but more specifically with the ques-
The disenchanted architecture, tion: In what way did this trajectory presuppose the idea of
Tafuri reader of Max Weber rationalization that is characteristic of modernity and its re-
L’architettura disincantata, lations with architecture? My reason in asking this question
Tafuri lettore di Max Weber
derives, at least in part, from an attempt to dispel some of
the equivocations that have attached themselves to Tafuri’s
Daniel SHERER corpus. It is hardly necessary to point out that in the twenty
years that have passed since his death, Tafuri remains one of
the most misunderstood figures in contemporary architectu-
ral thought in addition to being one of the most influential.
Part of the difficulty of understanding Tafuri lies in the sheer
range of his production: an output encompassing over twen-
ty-two books and hundreds of scholarly articles on every era
of architectural history from the Renaissance to the present.
If his historical project has often been misread, this is at least
partly due to the fact that specialists have tended to focus on
isolated aspects of his multiple historical inquiries without
connecting, as Tafuri himself did, their diverse areas of im-
plication. Tafuri’s analysis of the rationalization processes
that shape architecture through the dynamics of capitalist
386 387
development is crucial in connecting the various phases of the Enlightenment brings to fulillment; on the other hand,
his intellectual adventure in ways that have gone largely un- one finds a will to the immediate stabilization and conso-
noticed in the expanding literature on this most complex of lidation of established values.” Tafuri then speaks of this
historians. dialectic as resulting in a tension, a moving apart, between
At the outset, however, and before I proceed, it is ne- signifying structures in the work of art and architecture and
cessary to define what Tafuri meant by rationalization, both semantic contents, leading to what the Italian philosopher –
in his own understanding of this concept and in relation to a sort of Max Weber of the aesthetic field, if you will – called
Weber’s formulation of it. When attempting to make sense of “the semantic crisis of the arts”. This becomes clear above all
this idea it is evident that we are not only dealing with pro- in the work of Piranesi, and will guide Tafuri’s reading of the
cesses of techno-scientific development, with economic for- Piranesian crisis of language and the semantic crisis of which
ces associated with capitalist expansion, with secularization, it is a part, against the readings of harmonicist stamp offered
with modernization in the broadest possible sense, but also of the humanist and Baroque codes as laid out by Wittkower.
with cultural phenomena and aesthetic transformations, far- Essentially, as of 1966, Tafuri uses Weber and Garroni against
-reaching and radical in their formal and semantic implica- Wittkower to outline a new history of art and architecture
tions, connected with these processes. All of these mutations based upon the cultural and aesthetic effets of rationali-
contribute to, and enter into the picture of, the emergence of zation that will later become oen of the key motives of his
the disenchanted world of modernity, which Weber conceptu- subsequent analysis in Theories and History of Architecture,
alized, through the thesis of Entzauberung. Architecture and Utopia and The Sphere and the Labyrinith,
not to mention the great trilogy of books on the Renaissance
Tafuri himself defined the nucleus of this concept in a
that completed his career.
seminar of 1966 held at the IUAV, “Teorie della Progettazio-
ne Architettonic” will provides important clues to his futu- Many misunderstandings have arisen concerning this tra-
re intellectual development – seeds, as it were, of his more jectory that are due at least in part to lack of iunderstanding
mature understanding of rationalization in its relations with of these basic developments. Some of the equivocal readings
architectural history and theory. Tafuri in this text speaks of Tafuri, and particularly those which hinge upon the claim
of rationalization as as a sort of historical “razor” which has that he prophesied the death of architecture, emerged alre-
two opposite sides of its blade – a blade which cuts straight ady in his lifetime, and arose in the ambit of architects, who
through traditional societies, cultures and their systems of are always caught up with the urgent concerns of the present.
value: “On the one hand, [rationalization hinges upon] values They thus tend to ignore the underlying significance of long
that correspond to a conception that is completely contin- term processes such as rationalization in favor of their short
gent, that work towards a secularizaiton of art, a process that term and hence not entirely comprehensible effects on prac-
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tice. When architects hit a point of crisis they tend to think graphic abstractions, this lesson has yet to be applied to the
it is the end of the world: against this myopic view Tafuri reception of Tafuri’s own historiography. To call Tafuri a Mar-
showed that in fact crisis is part and parcel of architecture, a xist is too vague in one direction and too precise in another.
direct result of the rhythms, the ups and downs, the inevita- Too vague because it suggests that he is like other Marxists
ble vicissitudes of rationalization. For this reason he spoke of in his attention to the hidden ideological tensions affecting
this problem in terms of “modern architecture and the eclipse architecture and the city, when in fact he is completely uni-
of history” rather than by predicting its “end”. que in this respect, insofar as in his view architectural ideo-
In this regard it is significant to recall that Tafuri himself logy is not imposed from without, but rather is immanent to
started out as an architect concerned with problems of the the discipline, an integral part of its functioning. Too precise
contemporary city before turning to history. It is precisely this because his approach engaged a variety of critical impulses
duality that enabled him to occupy an unique epistemologi- and specific readings whose hermeneutic logic was polycen-
cal position situated between the practice of architecture and tric, and which were not restricted to a unilinear analysis
its history. Far from simply managing to do this without lap- moving from economic to cultural phenomena.
sing into the operative distortions for which architects who Moreover, unlike orthodox Marxists, Tafuri was a re-
instrumentalize history like Zevi are notorious, he singled out lentless critic of closed systems, above all the teleological
this instrumentality as the object of a penetrating critique. In schematization of history that Marx inherited from Hegel. It
this way, Tafuri wrested history from the ideological grip of is no exaggeration to say that Tafuri was open to everything
the architects even as he enriched the history of architecture and critical of everything he read. Especially in what is ge-
with insights that only a practicing architect could have. nerally regarded as the most complex work of his trajectory,
Despite, or precisely because, of the difficulties one con- The Sphere and the Labyrinth, but also under the surface of
fronts in attempting to characterize Tafuri’s historical pro- his less self-evidently theoretical works, such as the one I
ject, one thing is clear: from the late 1960’s onwards, at least translated into English under the title Intepreting the Renais-
in part as a result of this project’s evolution and multiface- snace in 2006, the method of synthesizing multiple points of
ted character, contemporary architectural thought entered a view and critical paradigms with the aim of casting new light
new phase. This was marked by a dialogue with ideas that on a given subject as if from several angles simultaneously,
have little to do with the intellectual tendency with which though a sort of intellectual friction or mutual illumination,
his approach has been most often associated, Marxism. That is by now quite familiar to readers of this most thought pro-
these labels do a disservice to the specificity of his thought is voking and critically acute of historians.
a truism; exactly why this is the case is less easy to pin down. Mobilizing a unique strategy of critical montage that
For a historian who taught us to be suspicious of historio- presents unmistakable affinities with the radical cinematic
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techniques of Sergei Eisenstein which, for their part, were multiple contradictions between theoretical imperatives and
analyzed in light of the Soviet director’s own reception of the ideological mystifications they seek to unmask.
the prints of Piranesi in the Sphere and the Labyrinth, Ta- Here it may prove useful to suggest a distinction that can
furi combined the theoretical perspectives (among many help isolate specific tendencies within Tafuri intellectual for-
others) of an ever-expanding galaxy of thinkers: Nietzsche mation that tend to be overlooked. For even if the Italian
and Burckhardt Lukacs and Simmel, Sedlmayr and Benjamin, historians’ critical montage presupposes a broad range of
Heidegger and Adorno, Foucault and Lacan. Prompting an intellectual inspirations besides Marx, another figure stand
unexpected series of exchanges between the most dispara- out more clearly than the aforementioned maitres a penser
te approaches, this strategy represents a novel transposition who were pressed into the service of Tafuri’s inquiry into the
of the dialectic exploding the charge of values arising from bases of historical method.
their sudden juxtaposition and ars combinatória.
This figure is Max Weber, a constant point of reference,
Consequently, Tafuri’s mode of reading is ideal territory both implicit and explicit, in all phases of Tafuri’s intellectual
for any investigation, such as the one I am proposing today, activity. Must we envision a “Weberian” Tafuri, then, exis-
dedicated to the theme of Tafuri’s readings and readers. This ting alongside, or perhaps even working against, the familiar
is because one cannot grasp the significance of a corpus of Marxist one? Initially attractive as a genealogical hypothe-
texts as complex and overdetermined as Tafuri’s without iso- sis, in the end this alternative is no more illuminating than
lating and evaluating the strategies of reading he deployed those notoriously monolithic readings which, in emphasizing
when dealing not only with the architectural cosmos but he the Marxist underpinnings of Tafuri’s project, have impeded
wider intellectual cosmos of which it is a part. the formulation of more nuanced assessments. In any case,
Yet even if Tafuri’s orchestration of such charged theore- it is precisely these readings which are now necessary more
tical conjunctions exemplified a new level of dialectical criti- than ever, since Tafuri’s own readings of Weber (and Marx, for
cism, it also signalled the emergence of a new form of histo- that matter) utilize sociological concepts of great hermeneu-
riographic discourse. This was a discourse able to draw upon tic fertility without lapsing into the unbridled sociologism
a wide spectrum of different methods and critical paradigms that typifies much contemporary theorizing of architecture
– wider, in fact, than that any other at the disposal of the and the city.
architectural historians or theorists of his time (and for that The radical theoretical reorientation that Tafuri carried
matter our own). In Tafuri’s view this feature of his approach out between 1968 and 1973, the years of transition from The-
was linked one of the principal tasks of criticism outlined in ories and History of Architecture to Architecture and Utopia
Theories and History of Architecture of 1968: the exposure of by way of “Per una critica dell’ideologia architettonica” that
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appeared in the pages of Contropiano in 1969, presupposed a is under no illusions about ideology: he is sharply aware of
deep critical engagement with Weber’s thought. It is entirely the fact that it too will fail, just as all utopias fail, and hen-
possible that the implications of the breakup of the circular ce he is primarily interested in tracing those historical mo-
logic of harmonic wholeness are visualized in the ruptured ments, when, as he puts it, compensation in the heavens of
circle on the cover of the first Italian edition of the last book, ideology fails to be of any use. Rationalization, by the same
just as the juxtaposition of the sphere of theoretical rationa- token, can only go so far, not despite its totalizing ambitions,
lity of a harmonicist stamp in line with Wittkower’s ideas are but precisely because of them. It is to Tafuri’s credit that he
juxtaposed to the Labyrinth of a world undergoing a crisis of understood that, on precisely this point, Weber went beyond
values exemplified by the disenchantment of capitalist ratio- Marx, even if that by no means impugns the validity of the
nalization. More specifically, Tafuri cited Weber’s “Coperni- Marxian analysis of the history of capitalist exploitation.
can turn” vis a vis Marx stressing the Protestant prelude to To be more precise, the dual movement of subjective inte-
the dynamics of economic rationalization. This much is clear riorization and the conquest of metropolitan reality that ra-
form his elucidation of a specific complementarity: namely, tionalization unleashed, of Geistigung and Rationaliserung,
that in the modern era, the dramatic expansion of ideolo- contributed in a major way to the collapse of the edifice of
gy and the dialectic of rationalization were two sides of the traditional values. This in turn, led to, even as it presupposed,
same coin. the ever quickening pace of capitalist development, and its
Tafuri’s simultaneous thematization of Marx’s concept of effects on the sensorium, on the affective life and Nervenle-
ideology and Weber’s idea of rationalization had a specific ben. Entzauberung in all its effects the operates at once a
purpose: to clarify the complex relationship between modern stimulus to architecture technologically, to the spurring on of
architecture and the modern metropolis. The metropolis, and the building cycle but also at times as a hindrance in terms
the experience of shock derived from it, constituted in his of the efficacy of form, as a retarding element in the formal
view the most conspicuous and, at the same time, the most cycle. The crisis of form and the crisis of ideology, especially
decisive arena of the universal disenchantment resulting that of the ideology of the plan in modern urban schemes, go
from industrialization. Yet there is another reason for Tafuri’s hand in hand, even if they follow distinct, and only at time
reciprocally illuminating use of Marxian and Weberian forms overlapping rhythms. Tafuri aimed his critical gaze at the
of analysis: the close relationship between the compensatory points of interference between the cycles. Confronted by the
mechanisms of ideology and the various techniques of mo- crises of architecture that had become inescapable in his own
dern rationalization is inextricably linked to the seculariza- time, Tafuri traced their origins back to the unresolved con-
tion process of the “Entzauberung der Welt”. Tafuri of course tradictions generated by this process that continue to shape
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and disturb the present. ratioanlization in the avant-garde Utopias and in their appa-
From 1968 to 1994, Tafuri emphasized a number of key rent antithesis, where type and technology meet in a new
episodes in the rationalization/architecture nexus, some of urban architecture, the American skyscraper.
which were traditional subjects interpreted in radically new Rationalization understood in the Weberian sense thus
ways, others of which were topics that until Tafuri had been provided a red thread linking distinct phases of Tafuri’s histo-
the subject of varying degrees of scholarly or critical atten- riographical reflection. This much is evident from the earliest
tion and which, in any case, had never been analyzed in ter- significant writings as well as his latest, in particular from
ms of the overarching theme of a secularization. Five in par- Ricerca del Rinascimento which I translated into English in
ticular stand out: Palladio’s rationalization of villa typology, 2006. In the preface to that work, Tafuri made the following
Perrault’s subjection of the classical architectural theory to provocative observation as its incipit. This clearly has a We-
disenchantment, Piranesi’s dialectical overturning of all es- berian basis, a claim that is no way vitiated by its explicit
tablished architectural values expressing a crisis of architec- invocation of multiple and intersecting horizons of interpre-
tural form and language, the technological rationalization tation, not excluding Nietzschean and Benjaminian ones:
of the American skyscraper type in its urban context and Le E ormai da tempo che la cultura architettonica, rilfetten-
Corbusier’s urban utopias, where the force of rationalization do su se stesso, semra aver individuato una colpa originaria,
extends to the premises of a technocratic and hence wholly di cui sembra urgente in risarcimento. A ben vedere, tuttavia,
ideologized attempt to free humanity from the universe of tolto. (I will read the relevant passages from the Ricerca.)
necessity imposed by the realities of capitalist development.
The loss of the center or death of light (Sedlmayr, the
What strikes us about this set of problems is not only their
decline of the aura (Benjamin), and the agony of the referent
apparent heterogeneity, but , at a more fundamental level,
(Klein): all of these formulations, despite their diversity of ar-
their complex thematic unity: rationality thus become, for
ticulation, register a single epochal transformation: the ratio-
Tafuri, as for Weber, the common denominator of the most
nalization of the world. In fact what we are dealing with here
diverse human activities connected with the constitution of
are three losses: of center (with regard to both architectural
the laboring subject as a collective phenomenon, which here
space and historical time). This was, in the final analysis, a
Tafuri has read in terms of its most conspicuous cultural and
loss of the referent (with regard to both to the classical lan-
technical indices, architecture understood through typologi-
guage, the antique itself, and language as such) and the aura
cal rationalization (Palladio), the modernization of the theory
(with regard to the project, a direct result of the dissemina-
of the orders (Perrault), the dialectic of rationalization and
tion of the principle of total representation).
unreason in the city (Piranesi) and the dream of total urban
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Tafuri took this transformation as his point of departure Sansovino’s project for S. Maria della Vigna, was Alberti’s di-
because he wanted to understand humanist uses of repre- senchanted poetics. Like Palladio’s architecture, which it an-
sentation in relation to architecture at the dawn of the era ticipated by over a century, Alberti’s embodied “finite islands
conventionally known as modern. His critique of Wittkower’s of rationality tragically isolated from their contexts.” (20)
thesis of harmonic wholeness was also, mutatis mutandis, a Essentially it was a matter of replacing the harmonicist con-
response to Weber: for the loss of the referent that occurred ception of Wittkower with another espoused by Eugenio Ga-
as a result of the dialectic of rule and license, and the conco- rin, who exposed the dark underside of the Albertian legacy.
mitant desacralization of theoretical foundations, threw the Although Tafuri stressed the role played by such discontinui-
humanist architects back upon new resources of representa- ties and singularities in eliciting their ostensible antitheses,
tion. This was to make up for the discrepancy that arose over theoretical norms for architecture, he is not as interested, in
the course of the fifteenth and sixteenth centuries not only the Ricerca, in the bisogno di regola, as in moments of con-
between theory and practice but also between theory and its cealed transgression that demonstrate the potential instabi-
traditional metaphysical foundations. lity of the rules themselves. Thus from Bramante to Raphael
This critique of Wittkower’s reassuring idea of a humanist and Giulio, the will to transgress comes to the forefront, and
ordo grounded in the certainties of Neoplatonism could not becomes the keynote of the language games, or seen from a
account for the multiple tensions between Renaissance the- different standpoint, the incipient crisis of language, in whi-
ory and practice. With respect to Tafuri’s developing critique ch the referent of the ancients is abandoned no matter how
of this idea, carried out first in L’Armonia e I conflitti (1983) much it is cited as an ideal horizon of invention, remains the
along with Foscari, then in Venice and the Renaissance and determining factor. Hence instead of being anchored with in
finally in the Ricerca, it is significant that he did not maintain a stable system of harmonic values, the force of rationaliza-
its lack of legitimacy but instead argued for its lack of per- tion unleashed by the humanist experiment with the classical
tinence to actual works of humanist architecture such as S. canons presupposes a double move of pietas and violation,
Maria della Vigna which had previously been upheld as test- “an equilibrium at once aren’t and refined between the need
-cases for Wittkower’s harmonic thesis. Thus, even if harmo- for rule and the experimental impulse.”
nic proportion could at times serve as a basis for practice, the In this way, the desacralization of theoretical foundations
incidence of this was less frequent and not as demonstrable which Wittkower assigned to the Enlightenment was pushed
as Wittkower had previously supposed. back to the era of Raphael, Giulio and Michelangelo, and the
For Tafuri, the ultimate test, even before he considered historical roots of this process were traced to the figure Wit-
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tkower had consecrated as the fons et origo of Neoplatonic disjecta membra of antiquity; in Barbaro’s Commentrary on
architectural thought, Alberti. This shift had profound im- Vitruvius, despite all heroic efforts to reconcile the techne of
plications for Tafuri’s reinterpretation of the entire cycle of architecture and its eidos, architecture is never able to at-
humanist architecture and its relations with the urban stra- tain the strict syntactical rules of the Latin language without
tegies under Julius II and Leo X, which, like the Neoplatonic some margin of approximation. In the end it was Castiglione
theories that were once held sacrosanct by historians, were who made what was destined to be the central contribution
now revealed to be fragmentary, if nonetheless closely inter- to the theoretical debate on the inherent rationality imputed
connected episodes. Yet the interpretive shift brought about to architecture with his elusive conception of sprezzatura.
by Tafuri had an impact that was equally manifest on the This was a concept that Tafuri read as a means of subsuming
theoretical level, in his reading of the reflections pursued by techne under a general idea of artifice able to govern the
protagonists of sixteenth century literary and architectural entire range of human action from the comportment proper
culture such as Sperone Speroni and Daniele Barbaro on the to the ideal courtier to the spontaneous, yet also profoundly
limits of the analogy between architecture and language. ordered formal inventions of the artist/architect. In this way
In the first case, the attempt to reorganize the city under nature and artifice, or better yet, the real and the rational
the sign of an authoritarian political ideal was doomed to exchanged places in a dynamic that neither the thought of
failure: the rationalizing and monumental Utopia of Julius Barbaro nor Speroni could ultimately accommodate.
II was destined to the most partial of realizations, or as the Castiglione’s reflection on the uses of sprezzatura within
German architectural historians like Christof Thoenes say, as the courtly “culture of calculation” (18) gave Tafuri an impor-
Neubauruine – newly built ruins, such as those of the aborti- tant clue. This led him to draw unexpected connections, not
ve if grandiose project by Bramante for the Palazzo dei Tribu- the least of which is the relation between nature and arti-
nali on the Forum Julium. In the second, framing the opposite fice in the universe of Raphael, Giulio and Castiglione him-
end of the humanist experiment, no coherent relationship self – corollary to the discovery of the groundlessness of the
between the res aedificatoria and the grammar of the word classical language – and in particular the relation between
could be isolated even by those, like Sperone Speroni or acoutoumance and autorite, between Beaute arbitraire and
Daniele Barbaro, who tried their best to make architecture Beaute positive in Perrault’s theory of architecture, depriving
disclose its inherent nucleus of rationality on the model of the Vitruvian thought of its metaphysical basis. This was a
language. In Speroni’s Dialogo delle Lingue, all attempts to process, in the sphere of the institutional ity of linguistic
reconstitute the lost unity of the classical lexicon are doomed structures, parallel to architecture’s crossing, in the sphere
to failure, no matter how avidly one seeks to recompose the of techno-scientific rationalization, of a decisive threshold
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dividing the universe of approximation from that of technical of this is Palladio’s Rotonda, which reads as a quadrupling of
precision, hallmark of a burgeoning scientific Revolution. the Roman cupola on four sides functioning as a belvedere
Yet it was not Perrault, but Palladio which provided the overlooking the landscape. Yet this had a more general sig-
earliest testing ground for this Weberian reading of the ra- nficance for the reading of the destiny of the humanist code
tionalization/architecture nexus. This is because Palladio in later eras. That the secular villa could have typological
represented the epitome, the culmination of the ideal of har- features previously reserved for sacred architecture signalled
monic wholeness, a language which distilled the humanist a profound ideological shift. Just as the sacred values of type
thesis in its purest form in which the sacred elements of type were driven to their extreme opposite within a given linguis-
could still be transposed to a secular context – symptom of tic system, so too a gradation of architectural values purged
an emergent rationalization. Perrault took what ultimately of continuity marked functional, residential and celebratory
proved to be the next decisive step: in his case, however, the iterations of the type and their respective spatial and formal
dialectic did not concern the basic elements of type, but the solutions. Thus the connection of the main body of the villa
theoretical foundations of form and beauty, leaving architec- to the barchesse in the Villa Repeta at Campiglia was not
ture ultimately devoid of its traditional metaphysical certain- seen by Tafuri as an exception to the Palladian normative
ties. Inspired mainly by Weberian categories first rehearsed system outlined in the Quattro Libri and visible throughout
in the ambit of Contropiano, Tafuri would revolutionize our his entire development, but was a critical manifesto of his
understanding of both. In this milieu Tafuri came into contact “typological poetics”.
with Massimo Cacciari, whose “Pensiero negativo e razziona- To verify this hypothesis Tafuri adduced two important
lizzazzione” of the same year as “Per Una Critica dell’ideolo- pieces of historical evidence: first, that a significant number
gia architettonica”, 1969, is permeated by Weberian catego- of Palladio’s patrons in the Veneto (including Repeta himself )
ries and in particular is informed by Weber’s Grundbegriff of were linked by religious nonconformism and crypto-Protes-
the disenchantment of the world. And this is how he came to tant sympathies; second that Palladianism itself enjoyed its
read Palladio’s reinvention of the villa in light of Weberian greatest diffusion in Protestant, not in Catholic countries and
rationalization processes. regions. In both cases drew out highly original readings from
On the one hand, elements of typology such as the dome typological shifts that resulted in new formal values manfiest
and pedimented porticoes were liberated from their original at the level of the ars combinatoria specific to the villa.
matrices in sacred architecture and became available to se- The historical effects of this process were felt equally on
cular domestic structures, perhaps the most famous instance the level of theory and practice, becoming part of architectu-
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re’s internal dialectic of rationality and that which extended nesi’s merciless investigation of architectural law, in which
beyond this rationality. In Tafuri’s view the goal of the hu- through which the exception establishes itself as an absolu-
manist architects and theoreticans was to make the Antique te, provides unprecented insights into the process of rationa-
perfectly antique by moving beyond strict readings of rule lization and its discontents, or better yet, into architecture’s
towards the elaboration of a chain of exceptions that is vir- immanent dialectic of Enlightenment, the third way between
tually infinite. This new perspective openen by the endless classical order and rupture with the past which ultimately ex-
series of potential inventions that Tafuri identified with the plodes in disquieting, even nightmarish, forms. At this point
humanist attempt to theorize the exception raised a new and critical reason, pushed to unreason when the referent or aura
unsettling question: What does the historian propose as the disappears, undergoes an irreversible transformation.
third way for the project between the critique of the classical The historical expanse thus opened is that Tafuri investi-
past and reverence for its values? For when a language like gated when studying the infinite series of exceptions exten-
the one forged in sixteenth century, achieves a kind of for- ding from the Cinquecento into the Baroque in the wake of
mal and semantic apotheosis when the sign is detached from the Albertian project of restoring a “different” antiquity. This,
strict grammatical rules, the way is laid open for the ideology a reborn antiquity whose distance from the model violated
of utopia and its painful dissolution in the antinomies of the the inherited classical principles, set out to replace them. The
Enlightenment. tragic loss of the referent, key to humanist representation
For Tafuri these antinomies were most lucidly revealed by thus became for Tafuri the critical horizon of a history that
Piranesi. With Piranesi the exhaustive critique of the classical reached its full crisis at the end of the 18th century. For then
past, pushing its design instruments to the limit, inaugura- it was the first truly modern critique of architectural memory
ted a new era in architectures’ relations both with rationality emerged: a critique of the historical role played by the ideo-
and its other, dark side, with ratio as well as with the most logies of the avant-garde and by ideology as such for the frui-
dangerous forms of unreason. Consequently, in Tafuri’s view, tion of the project. Preserving a space for this fruition, these
it is with this architect that “anguish makes its first appe- ideologies as often as not took up forms that guaranteed the
arance in modern form”, and within his work the exception realization only as fragment. In the triple relation of Nature,
simultaneously proves and explodes the rule. In the Carceri, Reason and the City that emerged over the course of the 19th
impossible space is given eloquent visual form, and in the century and during the heroic period of the avant-gardes, the
Campo Marzio, the city is at war with its architectures, un- humanist order that burst asunder in Piranesi was reconsti-
dermining its coherence from within in favor of an urban tuted as so many attempts reconcile the aesthetic premises
image of “ hallucinating organisms in a state of decay”. Pira- of form with rationalization’s ultimate dream, the ideology
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of the plan. matter in projective terms, as well as historical ones.
This can be seen in three contiguous areas of inquiry cru- I would like to suggest that it has another matrix, howe-
cial to the the trajectories of the modern that stand out in ver: a critique of Wittkower’s formalism, which after all,
Tafuri’s analysis, and which showed how he transformed not among other features, was known for its reductive diagram-
only the scope of architectural history but the strategies and ming of plans rather than its reading of the entire edifice. In
forms of its interpretation: in Eisenstein’s cinematic, yet also fact, Tafuri’s diagramming of Piranesi’s impossible spaces in
architectonic readings of Piranesi, the disenchanted moun- the Carceri and the Campo Marzio, might be described as a
tains of the American skycraper, and in Le Corbusier’ early diagram of decentering that answers Wittkower’s schematic
and late utopias and architecture, all of which reveal the wi- geometries of the plans of the diverse modalities of centra-
der effects off a crisis of rationalization in the dissolution of lization found in Palladio’s villas: in Tafuri’s case, conditions
the aura and the removal of the referent from architecture of supreme disharmony and what Emilio Garroni called the
and its world of representations. “semantic crisis” of the arts that originated in the late 18th
Among the many methods that Tafuri adopted to clarify century but came to full fruition in the 20th century avan-
the Piranesian universe is one inherited both from his trai- t-gardes are opposed implicitly to Wittkower’s mappings of
ning as an architect: the ability to draw plans from elevations Renaissance harmony. One of the most convincing proofs Ta-
and perspectives. He effectively exposed Piranesi’s crisis of furi used to connect the universe of Piranesi to that of the
language by showing that the center evoked in the fantastic historical avant-gardes is Piranesi’s sketches after Piranesi
structures represented in the elevations of the Prima Parte di himself, which show as much attention to the underlying lo-
architetture e prospettive of 1743, cannot be verified in plan: gic of the “image in crisis” as to montage and film images,
in this as in many other instances Piranesi “presents orga- and quite clearly inspired Eisenstein in his filmic methods of
nisms that pretend to have a centrality but that never achie- juxtaposition, superimposition, and the evocation and captu-
ve one.” Tafuri even speaks of what is most characteristic of ring of the metropolitan experience of visual shock. One can-
Piranesi in terms of “systematic criticism of the concept of not imagine the staircase scene in Potemkin with its Baroque
center”, the loss of spatial centrality becoming, in some way, sense of space, without Eisenstein’s reception of Piranesi; so
an ideological concomitant of a disenchanted or “wicked” ar- too it is impossible to imagine Eisenstein or Piranesi today
chitecture, which in its drive to totality, undermines the very without think of the manifold links Tafuri discovered between
totalizing claims that is would appear to uphold. This obser- them.
vation of a recurrent discrepancy arrives at the heart of the Another piece of evidence that Tafuri adduced to build
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this historical and conceptual bridge was Claude Bragdon’s with two faces – the Columbia Exposition with its Beaux Arts
comment that the rise of the modern skyscraper was an alie- Columns, and the conquest of the technological rationality of
nating phenomenon, typical of the great metropolis, that can the ever climbing skyscrapers, caught at the very moment of
best be compared with the Carceri of Piranesi: he did this by the competition.
seeing renderings of Hugh Ferriss as Piranesian prisons able Tafuri adds that the overall dreariness of the American
to contain whole populations, an insight that Diego Rivera entries to the competition stemmed directly form the absence
also seems to have had, in his own way, when juxtaposing of any cosinderation of the real urban role of the skyscraper,
underground prisons and soaring above ground skyscrapers such as that attributed to it later by Le Corbuiser in the Plan
on ths same visual and vertical axis. In both cases, Tafuri Voisin. Here we return to another aspect of Tafuri’s reading
notes, humanity is swallowed up by an immense mechanism Le Corbusier, which links it to our earlier discussion of Per-
that is both infernal and irrational, but which is the fruit of rault, since it involves the dialectic of Nature and Reason
rationalization processes that had become well nigh univer- at the scale of the modern city. If the Plan Voisin allows te-
sal by the third decade of the twentieth century. chnology to be a new nature, at a oment when the entire
Loos and his peers in the Chicago Tribune Tower com- economic, political and social order could be reienviioned
petition attest to the crisis in question not by creating neo- along Saint Simonian lines by Corbusier himself, the later
-Piranesian conditions of alienation but by showing up the Plan Obus showed no such role for the skyscraper or for the
disenchantment of the sign by allowing any envelope to be overall plan in which it was embedded. Instead, the dialectic
attached to the same vertical and rationalized core. that becomes manifest here is a powerful critical response to
The disjunction of inside and outside thus marked a crisis the crisis of the architectural sign unleashed by Perrault that
of rationalization, making the skyscrapers, in their alterna- came to a head in Piranesi: the inherent disorder and ambi-
tion and variability, all variants of a single idea of the “Disen- guity of the city which towards the end of the 18th century
chanted Mountain”. In the article of that title later reworked was assuming a representative role in the emerging national
as a chapter of the Sphere and the Labyrinth, Tafuri unders- economies, captured allegorically by Piranesi’s Campo Mar-
cores the role played by the allusion to the classical column zio, is reversed in the attempt to harmonize technology and
in Loos’ disenchanted vision. Tafuri asserts that, despite rea- nature at the urban scale in the utopia of Le Corbusier’s plan
dings that argued that Loos Chicago Tribune Tower entry an- for Algiers.
ticipated Pop Art and Postmodernism, there is no irony in his For Tafuri, Le Corbusier formulated the most elevated
proposal, but rather a clearheaded acknowledgement of the theoretical and utopian hypothesis of modern urbanism, still
contradictions of the American city, which, reflecting a nation unsurpassed from the point of view of both ideology and
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form, as the urban structure, traversed by a vast sinuous sea as well, with his espace indicible appears the crossing of time
wall capped by a highway under which individual housing and timeless.
units are inserted and built by the inhabitants in a flexible The theme of silence, of the unsayable, of that which is
and free mode of insertion, is the repository of a new scale beyond language appears at the crossroads where Tafuri met
of values, as a statement to be understood as a territorial Rossi. When he dealt with a close and privileged interlocutor,
intervention, whose arena is that of the extended natural Aldo Rossi, who simultaneously summed up the humanist tra-
landscape. Ready-made objects at a gigantic scale, Le Cor- dition of form, the Enlightenment tradition of a highly ratio-
busier’s elements attest to a use of shock techniques no less nalized and geometrically stringent typology, and an utterly
strartling than those of Piranesi or Eisenstein himself: the new vision of the modern that sought to surpass the naïve
only difference being that here, the shock of juxtapositions functionalism of the heroic period of modern architecture,
leads to vision of organic reciprocity of technical Reason and he seemed to sense a limit that Le Corbusier did not overs-
Natural development. The fact that the public is rendered tep, since he was a constantly striving against yet another
critically participant in the act of metropolitan creation only limit. This was the boundary, pushed ever outward by his
shows the lengths to which the utopian dream of synthesis monumental forms, between mythos and logos. In Rossi, this
attempts to meet the demands of the rationalization pro- limit disappears, and with it, the long waves of history are
cess and surpass its ideological parameters through an act frozen in time. For, as Tafuri observed, “in Rossi the cate-
of formal sublimation. At Chandigarh, the overcoming of the gorical imperative of the absolute alienation of form reigns,
Weberian disenchantment assumes Nietzschean overtones, to the point of achieve an emptied out sacrality (shades of
since in this case, the historical processes of rationalization Weber here), an experience of the immobile, of the eternal
themselves end up being sublimated in symbolic, mythical return of geometrical emblems reduced to specters (shades
presences, and history seems to double back on itself, in a of Nietzsche here). The result Rossi achieves demonstrates,
kind of monumental acropolis evoking the eternal return of without possibility of appeal, the his subtraction of form from
values that are themselves architecturally transvalued. Whe- the everyday sphere is forced continuously to circumnavigate
re the gigantic urban machine meets the memoire inherent the central point from which communication springs, without
in the monumentalization of form, one encounters as well an having direct access to that source. Not because of any inabi-
intersection between the infinite past – which shiens at he lity on the part of the architect, but because that center has
moemt when the memoire involontaire is working – and the been destroyed in history, that spring has been broken up
will of the future. And at this point that the Nietzschean the- into multiple rivulets, without origin, without end.
me of the unutterable, the very theme of the Late Corbusier
In this passage, one of the most memorable in the His-
410 411
tory of Italian Architecture 1944-1985, one is made to see the tion differing if only a hair’s breath from it, and hence having
full aesthetic impact of the crisis of the architectural signifier to abandon its seemingly rational, yet in end desperate resis-
wrought by rationalization. The challenge implicit in Rossi’s tance to the irrational, because merciless triumph of modern
reduction of language to aphasia, according to Tafuri, lies rationalization.
precisely in this: to use the loss of center to discover a means One ungrasped lesson that Tafuri may still hold in store
of preserving an embattled and fragile autonomy. That is: to for us, in terms of future readings, is that before we can be
transform the eclipse of the work of art into a pretext to aug- sure that rationalization undermines the very foundations of
ment the tension between the project and the real. Moving the discipline through the internalization of capitalist ide-
from this hard-won realization of the discipline’s precarious ology – the spirit of the work being usurped, displaced, by
position under capitalism’s disenchanting power, the objec- the spirit of capitalism, to recall Weber’s famous formulation,
tive is to turn the negative effects of rationalization against even as it revolutionized its modes of production and recep-
themselves, but dialectically, not in a commodified form: so tion – we must be able to rule out these two eventualities:
that rationalization, in depriving the work of its metaphysical the dream of a sublime, impossible autonomy which will ne-
ground, does not the become the ground of a new mythology, ver be achieved, and the nightmare of a total identification
a new spectacle, a new fetishization of the project. with the unbearable, yet all too realizable, conditions of ca-
When confronting the lesson of Rossi – and by extension, pitalism triumphant. In the first case, architecture faces the
that of the New York Five – Tafuri asks us: Can one imagine negative of rationalization and absorbs it, in the second, it
a state of affairs in which the inner logic of the work ends is subsumed under the positivity of rationalization, and all
up being eclipsed, the aura disappears, in which architecture but negated. What is left for architecture? Only the most res-
might forfeit its claim to aesthetic autonomy, if that claim tricted margin of partial autonomy in which the discipline
means impotently clinging to an outmoded utopian dream may maneuver. Tafuri wrote the history of architecture in full
– a dream of “sublime uselessness, pathetic in its anachro- awareness of the extreme constraint of this margin.
nism?” Or can one imagine a horizon of interpretation in In this sense he was also aware, as few others were in his
which architecture, reduced to the zero degree of language, or our own time, that only a disenchanted history, projected
could possibly contain its own critique of autonomy within beyond the limits set by the immediate present, can meet the
itself, along with the critique leveled at heteronomy achieved challenges presented by a disenchanted architecture.
by total rationalization? In the latter case, the dream is one
of realizing, yet also of short circuiting its precarious claim
to autonomy all at once: and this means having to give up a
hard-won stance from which to criticize the real from a posi-
412 413
5ªIIsessãosessionsessione
Entre Leituras
e Leitores
416 417
Pessoalmente considero que o pensamento e a obra de dos modos de produção capitalista. Não existindo ne-
Tafuri tenham essa importância vital, preservam algo que, nhuma dimensão externa ao sistema, a história também
hoje, para nós é ao mesmo tempo essencial e urgente. fica necessariamente imersa, comprometida com ele, as-
Se há uma palavra capaz de resumir o pensamento e sim como o historiador, cujo trabalho é profundamente
a obra de Tafuri, evidentemente, só pode ser “história”: influenciado e condicionado por aquele desenvolvimen-
história da arquitetura, mas também história da mentali- to. Portanto, história e desenvolvimento do capitalismo
dade das políticas, das sociedades, das técnicas, das cida- constituem um binômio que não pode ser desfeito muito
des e muitas outras histórias. Em Tafuri existe tudo isso, facilmente, aliás, é indissolúvel.
e não só. Além disso, não se trata apenas da história de O desenvolvimento do capitalismo é o grande fenôme-
um período: não somente a história do Renascimento (ou no que une – pelo menos no Ocidente – as várias épocas
melhor, do moderno, entendido no sentido historiográfi- históricas desde o Renascimento (o período que, além da
co), mas da história da contemporaneidade também (mais afirmação da arquitetura de Brunelleschi, Alberti e Palla-
uma vez, entendida assim no sentido historiográfico), do dio, vê também o nascimento dos bancos e do fenômeno
iluminismo até quase o fim do século XX. de acumulação do capital) à Revolução Industrial, para
Em um sentido mais geral, mas, ao mesmo tempo, mais chegar aos tempos atuais com um crescimento cada vez
preciso e abrangente, poder-se-ia dizer que Tafuri, ocu- mais vertiginoso, assumindo características cada vez mais
pando-se da história moderna e contemporânea se ocupou invasivas, mais onívoras. Em cada um desses momentos,
da história na época do desenvolvimento do capitalismo. a cidade que Tafuri focaliza com sua lente de aumento é
o lugar onde são dispostas as obras dos arquitetos, mas é
História e desenvolvimento do capitalismo: a aproxi-
também a forma política precisa que responde às diversas
mação desses dois termos tem um significado intrínseco
fases do capitalismo. Este, por sua vez, de maneira nenhu-
ao momento histórico no qual Tafuri trabalhou, e no qual
ma pode ser reduzido a algo de único, idêntico a si mes-
trabalha todo o milieu onde ele circulou, mas também tem
mo, monolítico. E justamente porque é o desenvolvimen-
um significado do ponto de vista da época em que vive-
to, como condição dinâmica, o aspecto que, internamente,
mos. – Essa aproximação história e desenvolvimento do
caracteriza o capitalismo.
capitalismo – significa que também a história (da arquite-
tura e da cidade), como as outras histórias, fundamental- Porém, o desenvolvimento capitalista não é somente
mente, sofre modificações e “deformações” no momento uma condição histórica objetiva que vê a afirmação de um
em que está sujeita aos efeitos e ao intenso crescimento determinado modo de produção e, portanto, o panorama
418 419
estrutural do qual emergem personagens e edifícios: esse modo maniqueísta uma da outra: ao contrário, existe uma
desenvolvimento é também um modo de ler a realidade grande mistura e infinitas contradições em seu interior.
histórica, ou seja, aquele “longo período” acima indica- No mesmo processo de desenvolvimento capitalista, en-
do. E, para Tafuri, e outros intelectuais atuantes naque- contram-se não só os piores processos, mas também as
les anos, trata-se de uma condição indestrutível, capaz mais extraordinárias criações.
de transformar qualquer coisa que tenha contato com ela. O estudo no qual Tafuri analisa, especificamente, a re-
Não uma condição da qual se possa livrar, simplesmen- lação entre arquitetura e desenvolvimento capitalista é
te fazendo-lhe oposição ou recusando-a, mas algo a ser Progetto e utopia (1973), o livro que, como todos sabem,
levado em consideração e com a qual se confrontar em é resultado dos quatro ensaios publicados anteriormente
todos os setores. Mais ainda: o desenvolvimento capita- em “Contropiano”1. Não por acaso, o subtítulo do livro (na
lista é a condição à qual o mundo ocidental foi se con- edição inglesa, com maior evidência na capa) diz exata-
formando assim como é hoje; ou seja, não somente um mente assim: Architettura e sviluppo capitalistico2.
modo de produção conservado nas mãos de uma classe
“Contropiano”, publicada entre 1968 e 1971 e dirigida
social (burguesia) para prejudicar outra (o proletariado) –
(depois do prematuro afastamento da redação de Antonio
e, portanto, não somente o antagonista, o inimigo dessa
Negri) por Alberto Asor Rosa e Massimo Cacciari, é a ter-
última -, mas também o formidável lugar onde se originou
ceira revista do operaismo3 dentro do nicho mais amplo da
tudo o que conhecemos: as grandes e engenhosas obras
da ciência e da técnica, as referências do pensamento, 1 Manfredo Tafuri, Per una critica dell’ideologia architettonica, in «Contropia-
no», 1, 1969, pp. 31-79; Id., Lavoro intellettuale e sviluppo capitalistico, in «Con-
as “obras-primas” da arte, da literatura e, naturalmente, tropiano», 2, 1970, pp. 241-281; Id., Socialdemocrazia e città nella Repubblica di
da arquitetura; e – não por último – as próprias cidades, Weimar, «Contropiano», 1, 1971, pp. 207-223; Id., Austromarxismo e città: “Das
rote Wein”, in «Contropiano», 2, 1971, pp. 259-311.
entendidas como o artefato mais articulado e complexo 2 Manfredo Tafuri, Progetto e utopia. Architettura e sviluppo capitalistico,
a que o homem deu origem e que, por sua vez, contém Laterza, Roma-Bari, 1973; Id., Architecture and Utopia. Design and Capitalist
Development, The MIT Press, Cambridge (Mass.) 1976.
muitos outros. Esses também são, para todos os efeitos, 3 N do T O operaismo (do italiano operaio, “operário”) é um movimento políti-
produtos daquele fenômeno que chamamos desenvolvi- co marxista heterodoxo e antiautoritário - ou neomarxista - surgido na Itália,
a partir do final dos anos 1950 e início dos anos 1960, que trabalhava a reno-
mento capitalista. vação do marxismo diante dos impasses do segundo pós-guerra para o movi-
mento operário e para a esquerda. As figuras mais conhecidas desta corrente
Tafuri é bem ponderado para saber que não pode exis- de pensamento são o filósofo Antonio Negri, o cientista político Mario Tronti,
tir uma parte “boa” e uma “ruim” no desenvolvimento ca- ligado ao Partido Comunista Italiano, e Raniero Panzieri. A análise desses te-
óricos e militantes começa por observar o poder ativo da classe operária para
pitalista e, muito menos, que não é possível separar de transformar as relações de produção. Os elementos principais do operaismo
foram mais elaborados quando este se combina com o movimento autônomo.
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crítica marxista. É uma corrente de pensamento que vê constringem a reagir, a desenvolver-se, a prosseguir sua
na classe operária não apenas um sujeito historicamente pesquisa sempre na busca de novos caminhos de cresci-
oprimido, mas também o motor político do capital. Para os mento.
ativistas do movimento - Raniero Panzieri e Mario Tron- No fascículo número 1 de 1969 de “Contropiano”, no
ti, particularmente – “o capital desenvolve a si mesmo qual Tafuri publica Per una critica dell’ideologia architet-
porque é ameaçado pela força de trabalho que ele ex- tonica, há um ensaio de Umberto Coldagelli com o título
plora e na qual exerce seu próprio domínio. Portanto, o Forza-lavoro e sviluppo capitalístico6. No número 3 de 1968
desenvolvimento do capitalismo não é predestinado, cujo e no número 2 de 1969 é a vez de dois longos ensaios de
telos está escrito no progresso tecnológico e na ciência, Massimo Cacciari dedicados ao Sviluppo capitalistico e ciclo
mas é a medida política do poder da classe operária que delle lotte 7. No número 2 de 1970 é publicado o já citado
esse último exercita por via negativa”4, como dirão Tafu- ensaio de Tafuri Lavoro intellettuale e sviluppo capitalistico,
ri e Cacciari, através da luta e da recusa do trabalho. A logo seguido pelo ensaio de Enzo Schiavuta, Ricerca scien-
classe operária é, assim, concebida como uma classe que, tifica e sviluppo capitalistico8. E depois, ainda, no número 3
exatamente pelos motivos da opressão que sofre, pode de 1970 é produzido o ensaio – já citado – de Mario Tron-
reagir através dos próprios métodos de organização e ti, Classe operaia e sviluppo: onde a palavra “capitalismo”
de luta, e que, portanto, interage continuamente com o tem fim, quase como se a precisão fosse inútil a partir do
capital. Operariado e capital são dois sujeitos históricos momento em que se fala sempre e somente do desenvol-
importantíssimos. Como escreve Mario Tronti em um de vimento capitalista. Querendo ir além, desde seu primeiro
seus ensaios publicados em “Contropiano”, “sem a classe número de z1961, a revista “Quaderni Rossi” de Raniero
operária, o desenvolvimento capitalista não existe” 5. Esse Panzieri, tinha publicado o ensaio de Vittorio Foa, Lotte
desenvolvimento – poder-se-ia dizer – deve tudo à clas- operaie nello sviluppo capitalístico9.
se operária, não somente porque a explora, mas também
porque a reação dela e seu antagonismo, por sua vez, o 6 Umberto Coldagelli, Forza-lavoro e sviluppo capitalistico, in «Contropiano»,
1, 1969, pp. 81-127.
7 Massimo Cacciari, Sviluppo capitalistico e ciclo delle lotte. La Montedison di
4 Pier Vittorio Aureli, The Project of Autonomy. Politics and Architecture within Porto Marghera 1. La “fase” 1950-1966, in «Contropiano», 3, 1968, pp. 579–627;
and again Capitalism, Princeton Architectural Press, New York 2008, p. 9. Sobre Id., Sviluppo capitalistico e ciclo delle lotte. La Montedison di Porto Marghera. 2.
o operaismo cfr. também Steve Wright, L’assalto al cielo. Per una storia dell’ope- La “fase” 1966- estate 1969, in «Contropiano», 2, 1969, pp. 397-447.
raismo, Edizioni Alegre, Roma 2008.
8 Enzo Schiavuta, Ricerca scientifica e sviluppo capitalistico, in «Contropiano»,
5 Mario Tronti, Classe operaia e sviluppo, in «Contropiano», 3, 1970, p. 471. 2, 1970, pp. 285-309.
Do mesmo autor cfr. também o fundamental Operai e capitale, Einaudi, Torino
1966. 9 Vittorio Foa, Lotte operaie nello sviluppo capitalistico, in «Quaderni Rossi»,
422 423
Evidentemente, tratava-se de uma série de estudos Autore come produttore – como se colocam nesse desen-
preparados como pesquisa científica unitária, mesmo se volvimento. 11
conduzida por diversos autores; uma pesquisa que – setor Os ensaios citados de Tafuri em Contropiano não cons-
por setor, disciplina por disciplina – compara e verifica o tituem o momento inicial de uma atitude sua que poderia
modo pelo qual diversas esferas, questões, instrumentos ser definida, genericamente, como “politica” e tampouco
de luta se relacionam com o desenvolvimento capitalista. o ponto final de um percurso de pesquisa historiográfica.
Afinal, como precisa Panzieri no mesmo ano, “poder-se-ia Evidentemente, representam somente um momento den-
dizer que os dois termos, capitalismo e desenvolvimento tro de um percurso mais amplo. Nos ensaios precedentes
são a mesma coisa”10. O que não implica a presença, em de Tafuri, percebe-se igualmente uma tendência política:
nenhum deles, de uma acepção de “progresso” ou de “mo- por exemplo, no ensaio intitulado Teoria e critica nella cul-
dernização”, «mas simplesmente a reprodução ampliada tura urbanistica italiana del dopoguerra, parte do volume
seja da relação do capital seja das contradições de classe de 1964 La città território, Tafuri já mostrava uma leitu-
resultantes». ra política da realidade italiana, em especial em relação
As contribuições de Tafuri em “Contropiano” se inse- ao urbanismo, ao desenvolvimento da cidade, ou seja, às
rem nesse panorama, naturalmente e de forma dialética, falências do urbanismo no contexto italiano. Aqui Tafu-
não como simples roda de uma engrenagem maior. Por- ri evidenciava “a conexão mais ou menos estreita entre
tanto, se de um lado, eles mantêm a própria autonomia ideologias políticas e “teorias da cidade”12. Tafuri diz: “É a
em relação a um discurso mais complexo sobre o operais- partir do pensamento burguês que uma teoria da cidade
mo, por outro, se posicionam com precisão nesse mesmo começará a se desenvolver, como meio de controle dos fe-
contexto no qual todas as questões tratadas foram verifi- nômenos sociais, cada vez mais complexos em suas novas
cadas, novamente, à luz do desenvolvimento capitalista. dimensões qualitativas e quantitativas”.
São questões cujos valores devem ser avaliados e redi- Nesse caso, como também na célebre abertura do livro
mensionados dentro dos modos de produção, não tanto no Per una critica dell’ideologia architettonica (“Afastar a an-
modo como se colocam politicamente em relação a isso gústia entendendo e introjetando as causas, esse parece
porém, - como escrevia Walter Benjamin no ensaio sobre
11 Cfr. Walter Benjamin, L’autore come produttore, 1934, in Id., Avanguardia e
rivoluzione, Einaudi, Torino 1973, p. 201.
1, 1961, pp. 1-18. 12 Manfredo Tafuri, Teoria e critica nella cultura urbanistica italiana del dopo-
10 Raniero Panzieri, Relazione sul neocapitalismo, 1961, in Id., La ripresa del guerra, in AA.VV., La città territorio. Un esperimento didattico sul Centro direziona-
marxismo-leninismo in Italia, Nuove Edizioni Operaie, Roma 1977, pp. 170-171. le di Centocelle, Leonardo da Vinci Editrice, Bari 1964, p. 39.
424 425
ser um dos principais imperativos éticos da arte burgue- Tafuri se aprofundasse em seu esforço político, canalizan-
sa”)13, e Tafuri inspirou-se nessa questão da burguesia. E do-o, porém, não em uma simples “crítica”, mas em uma
é evidente que a burguesia é a classe dominante, prota- verdadeira “crítica da ideologia arquitetônica”.
gonista do desenvolvimento capitalista do Renascimento Em seus ensaios em “Contraponto”, a leitura política
em diante. Tafuri evidencia a ruptura que se cria entre o da arquitetura e da cidade assume uma conotação total-
urbanista (considerado como técnico), o político e o arqui- mente diferente – em relação àquela precedente – sob
teto. Este último tenta fazer o papel de “mediador” entre o ponto de vista da metodologia empregada que, agora,
as duas outras figuras, “com um trabalho voluntário e não se apresenta bem mais estrutural ou estruturada. “Uma
solicitado”. Nesse sentido, o arquiteto tem uma atuação coerente crítica marxista da ideologia arquitetônica e ur-
intensa porque gostaria de ter um papel nesses aconteci- banística não pode senão desmistificar as realidades con-
mentos, tentando criar, assim, uma reconciliação entre as tingenciais, históricas, nada objetivas ou universais, que
políticas de planejamento e a política tout court. Natural- se escondem atrás das categorias unificadoras dos termos
mente, tratava-se de uma ação desesperada, apesar de to- arte, arquitetura e cidade. Assumindo o próprio papel his-
mada com a melhor das intenções. De fato, Tafuri fala do tórico e objetivo de crítica de classe, a crítica de arquite-
“drama da cultura como ‘patrimônio’ de intelectuais que tura deve se tornar crítica da ideologia urbana, evitando
pretendiam agir como classe e, até mesmo, como classe de qualquer maneira entrar em colóquios “progressivos”
política autônoma”14. Um “drama” que não demoraria a se com as técnicas de racionalização das contradições do ca-
manifestar no âmbito da cultura urbanística e arquitetôni- pital”15.
ca italiana daqueles anos.
Nessa perspectiva, a falência das políticas de planeja-
O próprio Tafuri, no início dos anos 1960, colabora mento não remete mais aos limites nacionais ou pessoais
com o grupo romano AUA (Arquitetos e Urbanistas Asso- – como acontecia no ensaio publicado em La città territó-
ciados) para depois, em meados da década, interromper rio – mas é apresentada imposta pelo desenvolvimento
tal colaboração. A decisão de deixar a dupla função de capitalista. A mesma ideologia do moderno, ou seja, do
projetista e de historiador, em favor desta última e para “Movimento Moderno”, (por sinal, expressão detestada
alcançar a completa autonomia da história, permitiu que por Tafuri), é revelada nas suas implicações, na sua obra
de “cobertura” ideológica ou, então, de fuga ilusória da-
13 Manfredo Tafuri, Per una critica dell’ideologia architettonica, cit., p. 31. quelas condições. Assim, o “drama da cultura italiana
14 Manfredo Tafuri, Teoria e critica nella cultura urbanistica italiana del dopo-
guerra, cit., p. 40. 15 Manfredo Tafuri, Per una critica dell’ideologia architettonica, cit., p. 78.
426 427
do urbanismo” se transforma no “drama da arquitetura, até mesmo genéricos.
hoje:[....] ver-se obrigada a se transformar em uma inuti- Justamente em uma passagem do ensaio sobre o tra-
lidade sublime”16. Nesse momento, a crise da arquitetura balho intelectual, Tafuri aponta que “estamos na presen-
se revela pelo que é: uma crise do papel ideológico da ça de um aumento constante da estranheza intelectual
arquitetura e do arquiteto. sobre o conteúdo do próprio trabalho, que se realiza mais
Lavoro intellettuale e sviluppo capitalistico continua na concretamente quanto mais este último se caracterize
mesma direção da obra precedente. Desde o início, reapa- como “trabalho: aliás, mais precisamente, como trabalho
recem os temas já abordados: “Todo o trágico” da Kultur assalariado”18. Assim, o intelectual se torna uma das tan-
burguesa, a angústia experimentada ao ver aquela Kultur tas formas de trabalho, tornado abstrato pelos processos
expropriada de qualquer função progressiva, ao verificar- capitalistas de fragmentação e reorganização (“otimiza-
-se a falta de concretização de seu estar no mundo, ao ção”) capitalistas. Tafuri mostra como, na realidade, não
reconhecê-la como uma utopia ingênua, se lançaram a um se trata de uma catástrofe a cujos efeitos deve-se tentar
trabalho intelectual como se fosse uma utopia positiva, resistir desesperadamente, mas sim como, a partir de uma
como modelo de desenvolvimento dialético: como forma crítica ideológica, esses processos devem, ao contrário,
dialética, em uma palavra, como modelo que, reconhecen- ser abraçados e levados às últimas consequências. Por-
do a negatividade inerente do sistema, projeta sua inte- tanto, não só para Tafuri, não se pode, simplesmente, criar
gração em uma tentativa de dominação global do futuro17. oposição aos processos em andamento, em uma tentativa
No longo e complexo ensaio, Tafuri analisa os efeitos do nostálgica de fazer a roda da história retroceder, mas mes-
desenvolvimento capitalista no trabalho intelectual, ou mo o andamento de tais processos pode revelar-se como
seja, a tendência desse último de se tornar um trabalho uma potencialidade a ser aproveitada para fins de luta:
abstrato, exatamente como acontece com o trabalho do “Ler nas atuais condições de trabalho intelectual uma ten-
operário na fábrica, onde as diferentes tarefas, progressi- dência concreta de homogeneização material, que passa
vamente, foram se subdividindo e tornaram-se indiferen- através dos processos capitalistas de recuperação social e
ciadas, iguais para todos. O mesmo processo ocorreu no produtiva, significa reconhecer na massificação e na mo-
âmbito do trabalho intelectual onde as funções diversifi- bilidade dos papéis, na perda dos privilégios tradicionais
cadas, os saberes específicos se tornaram saberes gerais, reservados ao trabalho intelectual, na separação – que
já ocorre na fase de preparação escolar e universitária –
16 Manfredo Tafuri, Premessa a Progetto e utopia, cit., p. 3.
17 Manfredo Tafuri, Lavoro intellettuale e sviluppo capitalistico, cit., p. 241. 18 Ibidem, p. 280..
428 429
dos conteúdos do próprio trabalho, na estranheza que, por desenvolvimento. Em essência, isso significa estender o
fim, até mesmo o intelectual é obrigado a experimentar uso político da luta sobre o salário a estratos sociais cada
em relação à organização capitalista do trabalho, algumas vez mais amplos19.
das condições positivas a serem partilhadas e por onde Aqui não é possível seguir, passo a passo, as evoluções
começar a elaborar um programa de ataque ao plano glo- do percurso de Tafuri em todas as suas etapas. Todavia,
bal”. E ainda mais além: “Não acreditamos nas repetidas em um sentido mais geral, o que emerge é algo que, pelo
invenções dos novos aliados da classe operária. Mas seria menos em parte, a sua experiência pode ser comparada
um suicídio não reconhecer que são as mesmas linhas do à de muitos outros intelectuais do período. Com o passar
desenvolvimento capitalista que recompõem, para seus dos anos, decorridos os anos 1970, mudam as metodolo-
próprios fins, uma força de trabalho com tendências ho- gias, mudam os paradigmas do pensamento aos quais se
mogêneas que é possível fazer funcionar sob as diretrizes deve fazer referência e, em certos casos, mudam também
dos interesses dirigidos pela classe operária. Derrubar o os próprios objetos das pesquisas; mudam as pessoas, as
que, por muito tempo, foi o desenho capitalista, aquilo leituras, mas mudam, principalmente, os tempos. E é evi-
que vê como própria finalidade uma classe operária organi- dente como não se pode falar de Tafuri – um historia-
zada pelo capital. Esse é o objetivo a ser alcançado, colo- dor que, certamente, não pode ser considerado “imóvel”,
cando-se como dever a gestão operária das reivindicações não fechado em seu próprio “mundo”, no próprio “recinto”
subjetivas dos novos estratos de trabalho intelectual as- histórico, nunca satisfeito com o próprio saber adquirido,
salariado. nunca disposto a dissolver o mesmo campo de estudos,
Porém, isto não acontece, a não ser superando qual- quanto - pode-se afirmar - uma figura complexa, curiosa,
quer ilusão reacionária, qualquer proposta que tenha a problemática, sempre se interrogando, se esforçando e,
finalidade de devolver a dignidade profissional aos inte- portanto, prosseguindo na sua pesquisa – sem vê-lo limi-
lectuais “degradados”. Mostrar, concretamente, o caráter tado a seu período. E na passagem entre o final dos anos
reacionário de todo discurso que queira oferecer perspec- 1960 e os anos 1970, pelo menos na Itália, muda tudo:
tivas “alternativas” ao trabalho intelectual significa, por- mudam os tempos e mudam inclusive os que neles estão
tanto, reconhecer que a condição para utilizar a luta das envolvidos.
camadas intelectuais absorvidas diretamente na produ- Enredado nos problemas que ocorrem durante aquele
ção, em um ataque geral ao plano do capital, está somen- período, Tafuri não modifica as razões básicas que alimen-
te no interior do papel objetivo imposto pelo domínio do
19 Ibidem, p. 281.
430 431
tam suas pesquisas; os âmbitos de sua pesquisa também mas necessária. [...]. Depois que todos os véus caíram, o
não mudam, ou seja, a cidade e a arquitetura como lugares que resta é estudar, conhecer e representar os mecanis-
privilegiados do desenvolvimento capitalista. Muda a es- mos reais” 22. Dessa maneira é realizada uma recomposição
cala, mudam as geografias, mas não mudam as intenções daquela “fratura” que outros acreditaram perceber entre
reveladas nos confrontos daquele sistema econômico pro- um “primeiro” e um “segundo “ Tafuri23.
dutivo que está em condições – como estará nas décadas A atitude filológica nos estudos de arquitetura que se
sucessivas – de “abraçar” e incluir tudo. afirmou após Tafuri (obviamente, não somente por seu mé-
Entre todas as interpretações dadas sobre Tafuri, so- rito) e que se firmou, pelo menos na Itália, como o modo
bre as consequências desse período memorável, a mais “correto” de fazer história, é proposta como uma história
convincente parece ser, até agora, aquela dada por Alber- documentada e, por isso, se pressupõe imparcial, “objeti-
to Asor Rosa no ensaio Critica dela ideologia ed esercizio va; uma história baseada no que Asor Rosa chama “a cer-
storico, publicado no número de Casabella, editado um teza da informação.” 24 Nessa ideia de filologia (que não é
ano após a morte de Tafuri20. Aqui, o autor analisa as pas- aquela seguida por Manfredo Tafuri), o próprio documento
sagens essenciais da crítica ideológica arquitetônica de fala, “diz a verdade”, enquanto o historiador seria somente
Tafuri, ressaltando a “intenção de desmistificar todas as uma ponte, que se limita a abrir a boca para o fato falar.
manifestações intelectuais e políticas [...] que, ao longo Essa filologia “adormecida” em uma meticulosidade vazia,
do tempo, tivessem [...] tentado realizar uma obra de in- que troca o meio pelo fim, perdeu completamente aquela
tegração melhorada em relação à organização social ca- características de interpretação que, pelo contrário, ti-
pitalista” 21. nha para Tafuri. Essa filologia “reprimida”, como a definiu
Porém, o discurso de Asor Rosa se baseia, principal- Massimo Cacciari não é mais uma história que consegue
mente, na relação entre dois elementos que, à primeira reverter o quadro constituído, constatado, uma história –
vista, podem parecer estranhos ou até mesmo contradi- pelo menos em certa medida – revolucionária. As filologias
tórios entre si: a crítica da ideologia e a filologia. Escreve que conseguem fazer verdadeiras “descobertas” são cada
Rosa: “A ‘critica da ideologia’ precede e determina a des- vez mais raras e por um simples motivo: porque não são
coberta da “filologia”, tornando-a não somente possível, mais iluminadas por uma ideia de desenvolvimento geral
22 Ibidem, p. 32.
20 Alberto Asor Rosa, Critica dell’ideologia ed esercizio storico, in «Casabella», 23 Cfr. entre outros Howard Burns, Tafuri e il Rinascimento, in «Casabella»,
619-620, 1995, pp. 28-33. 619-620, 1995, p. 114-121.
21 Ibidem, p. 30. 24 Ibidem, p. 32.
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nas quais as coisas devem ser colocadas e interpretadas. corre o risco de não ser de nenhuma maneira: de fato, a
Na realidade, a filologia – como bem sabia Nietzsche, crítica da ideologia não é algo que pertence – e que, por-
que tinha estudado filologia – só se dá na sua relação es- tanto, se refere – exclusivamente aos anos 1960 e 1970.
treita com a filosofia. Não se faz história, documento, sem Como obra de descoberta intrínseca ao desenvolvimento
interpretação. Portanto, aquela fase da crítica da ideolo- capitalista, a crítica da ideologia não perdeu seu sentido,
gia não é uma etapa que se possa dizer concluída para nós, pela simples razão que o desenvolvimento capitalista não
assim como não se pode crer que se pudesse considerar cessou. Estamos até hoje imersos no grande mecanismo
concluída nem mesmo para Tafuri, por mais que ao longo que produz e que se reproduz de maneira cada vez mais
do tempo – de seu tempo – ela tenha mudado de nome frenética, não menos – e até mesmo em maior medida –
ou roupagem. Pessoalmente, considero que, no fundo da que nos anos 1960 e 1970.
filologia de Tafuri, tivesse ficado a ideia – que é própria da Portanto, essa filologia crítica, essa filologia inteligen-
crítica da ideologia – de ter que encontrar algo porque se te, vale dizer, essa capacidade de ler criticamente a rea-
está procurando. E aqui está realmente a diferença entre lidade, não exauriu seu papel: ainda necessitamos dela;
uma filologia “adormecida” e uma filologia animada por aliás, necessitamos ainda mais porque, os objetivos que
uma ideia de base. Em uma filologia criticamente equipa- ela persegue – se bem que transformados – ainda estão
da não basta encontrar: ela deve ser procurada (ou melhor, na nossa frente, esperando o nosso trabalho de intérpre-
deve saber procurar). tes, críticos inteligentes e cuidadosos.
Acredito que, ainda hoje, para nós, uma filologia-filo- Esse modo de fazer história não é nem um pouco neu-
sofia, uma filologia crítica, ou seja, uma história crítica, seja tral. Ao contrário de uma filologia “encantada” pela sua
indispensável e até urgentíssima, como instrumento con- pressuposta objetividade, a história crítica de Tafuri tem
tra uma história que, ao contrário, na maioria dos casos uma conotação política. Não se entende política, nesse
reflete o ponto de vista dominante (apesar de frequen- sentido, tanto como arte do governo, ou seja, aquilo que
temente camuflado atrás de um ponto de vista subjetivo, – tendo que administrar – necessita também fazer cons-
pessoal ou, pior, atrás de um “gosto” pessoal, aquele do tantes mediações e, portanto, resolver contradições. Polí-
historiador), ou seja, o ponto de vista da classe à qual o tica, a partir de seu significado etimológico, é também o
historiador pertence, se é que ainda é permitido usar essa exercício daquilo que pertence à polis: é a convivência das
expressão. Uma expressão que talvez poderia parecer diversidades, das pluralidades dissonantes, dos encontros
inadequada em uma perspectiva hodierna e que, todavia, e dos desencontros, dos contrastes, das lacerações, dos
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quais a cidade é a sede e que a política deve manter juntas é somente de uma história assim concebida que as verda-
sem ansiedade de resolvê-los, de decidi-los. O caráter po- deiras rebeliões das certezas históricas adquiridas podem
lítico da história, que mantém vivas as contradições, que se manifestar.
não as sufoca, não as mata, não as “governa” trazendo-as Acredito que ainda precisamos dessa história: uma his-
de volta com acordos, mas, as deixa viver nas suas pro- tória viva, muito próxima de nós. Por isso, Tafuri conti-
blemáticas, está presente nas páginas do livro Ricerca del nua a ser importante: não tanto porque – em um sentido
Rinascimento, assim como – mesmo de forma totalmente puramente de celebração – foi um “grande historiador”
diferente – nos ensaios de “Contropiano”. mas porque o seu modo de fazer história ainda pode ser
É a história como projeto – e ainda mais: como “pro- essencial.
jeto de crise” 25-, a história que mostra as contradições, Uma história crítica continua a ser importante por-
desmistifica, minimiza, dá conta da realidade em vez de que – como já se disse – os objetivos pré-estabelecidos
interpretá-la no sentido simplesmente formal ou até mes- ainda estão para ser alcançados. Portanto, os campos de
mo – aquilo que, para a maioria, tem o mesmo significado pesquisa de uma história assim concebida deveriam ser
– ideológico. É a história que coloca em crise, a história aqueles mais estruturais ao desenvolvimento capitalista
problemática, não aquela que fornece soluções. dentro do qual ainda nos encontramos. Para dar um exem-
Em Tafuri, essa conotação política da história não está plo, eles poderiam ser: a questão dos modos de produção
em contradição com a filologia. O que não significa que se contemporânea da arquitetura, a questão da arquitetura
deixam identificar: é o objetivo de fundo que permanece. como atividade concreta que se realiza em estúdios (aliás,
Trata-se de dois momentos de um mesmo processo. Além um trabalho frequentemente desvalorizado); os efeitos do
disso, quanto mais filológica a história consegue ser, tanto desenvolvimento capitalista na arquitetura, ou seja, o tor-
mais é capaz de se ater ao dado, de despontar diretamente nar abstrato o trabalho de arquitetura (um trabalho fra-
do documento, resultando ainda mais política; não ideo- cionado como em uma cadeia de montagem, exatamente
lógica, mediadora, administrativa ou governativa, mas como nas fábricas); a questão do papel do arquiteto no
exatamente o oposto: realista, contraditória e, enfim, pelo processo de produção da arquitetura (um papel por sua
menos potencialmente – efetivamente revolucionária. E vez fracionado); e ainda, a questão da reificação na arqui-
tetura ou daquilo que ainda nos obstinamos em chamar
25 Manfredo Tafuri, Il “progetto” storico, in Id., La sfera e il labirinto, Einaudi, desse modo, que não somente se transforma em “coisa”,
Torino 1980, p. 5. Cfr. também Marco Biraghi, Progetto di crisi. Manfredo Tafuri e submetida que é às mesmas leis da mercantilização de ou-
l’architettura contemporanea, Marinotti, Milano 2005.
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tros produtos dentro da economia capitalista, mas exata- lugar de síntese de conflitos e das tensões sociais, passada
mente como as outras mercadorias, torna-se evanescente, no decorrer do tempo da realidade de máquina mecânica
tornando-se imagem. E, nesse caso também, mais do que à de máquina informática. É a cidade que, mais uma vez,
se escandalizar ou criticar, superficialmente, é necessário produz e reproduz todas as questões que ocuparam Tafuri
analisar os processos e tentar entender a função da arqui- e que, ainda hoje, deveria constituir o terreno de nosso
tetura ao se transformar em imagem. empenho crítico, o objeto privilegiado do nosso trabalho
Da mesma maneira, uma questão central para uma filológico de historiadores críticos. Ou seja, exatamente
história crítica é a da configuração da arquitetura, porém o oposto do que faz a crítica arquitetônica hodierna de
considerada não tanto do ponto de vista de uma “estética jornais e revistas, cuja finalidade ideológica, como instru-
geral”, mas de parâmetros o mais possível “objetivos”, vale mento para manutenção e celebração do sistema arquite-
dizer, comparáveis. É aqui que emerge a importância dos tônico atual, não poderia ser mais evidente.
detalhes construtivos que devem ser comparados entre si Desse ponto de vista, se para Tafuri “a arquitetura
com máxima frieza, sem ligações românticas com a “coisa morreu” – no sentido que seu ciclo moderno terminou, ou
em si”, mas para trazer quadros mais complexos relativos melhor, exauriu sua específica função ideológica -, hoje,
aos processos de estandardização da produção e serializa- aquela função ideológica não cessou de existir: ainda está
ção dos elementos; processos que abrangem até o íntimo ali para ser reconhecida e revelada. Ao longo do tempo, a
também aqueles projetos e arquitetos que, na maioria, se arquitetura se transformou, modificou seus próprios usos
mistificam com a própria suposta “autoria”. Dessa maneira, segundo as necessidades; as próprias características, se-
a ideia do arquiteto criador (um mito, que continuamos a gundo as possibilidades tecnológicas e do gosto da época,
nos contar ou ouvir), seria desintegrada a partir de dentro, mas até hoje serve – e hoje, talvez, mais do que nunca –
não porque os “arquistar” sejam “bons” ou “ruins”, “sim- como disfarce ideológico para os “desígnios” do desenvol-
páticos” ou “antipáticos”, mas porque realmente são uma vimento capitalista.
projeção ideológica com o fito de esconder um sistema Por essa razão, ocupar-se hoje em dia de Tafuri, estu-
que eles absolutamente não interpretam, mas que se li- dar seu legado, não quer dizer fazer-lhe um “monumen-
mitam a usar e que, por sua vez, os explora. to”, eternizá-lo, sufocá-lo no abraço de uma devoção ou
Finalmente, a questão da cidade como “máquina de “admiração” estéril; nem deve significar fazer um passado
produção”, que se modifica ao longo do tempo e que resu- morto contra um passado vivo e inquieto do qual ele fa-
me, dentro de si, todas as transformações; a cidade como lava. Porque, de fato, isso equivaleria a traí-lo. Muito pelo
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contrário, “libertar-se” de Tafuri (no melhor e mais positi-
vo sentido do termo) comporta, necessariamente, adequar
sua lição aos dias de hoje, atualizá-la às questões contem-
porâneas. Significa usá-lo.
Para quem quiser trabalhar nesse sentido, com certe-
za, há muito o que fazer.
Manfredo Tafuri: storia dello sviluppo capitalista
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mente un’importanza memoriale. fondamente influenzato, condizionato da quello stesso svilu-
Personalmente ritengo che il pensiero e l’opera di Tafuri ppo. Storia e sviluppo capitalistico pertanto costituiscono un
abbiano questa importanza vitale, custodiscano qualcosa che binomio che non può essere sciolto troppo facilmente, e che
per noi oggi è al tempo stesso essenziale ed urgente. anzi risulta affatto inscindibile.
Se una parola è in grado di riassumere il pensiero e l’opera Lo sviluppo capitalistico è il grande fenomeno che ac-
di Tafuri, questa evidentemente non può essere che “storia”: comuna – perlomeno in Occidente – le varie epoche stori-
storia dell’architettura, ma anche storia della mentalità, del- che che si sono succedute dal Rinascimento (il periodo che,
le politiche, delle società, delle tecniche, delle città, e molte oltre all’affermarsi dell’architettura di Brunelleschi, Alberti,
altre storie ancora. In Tafuri c’è tutto questo, e non solo. E Palladio, vede tra l’altro anche la nascita delle banche e il
inoltre, non si tratta della storia di un periodo soltanto: non sorgere del fenomeno dell’accumulazione del capitale) alla
esclusivamente della storia del Rinascimento (o meglio, del Rivoluzione industriale, per giungere fino ai tempi attuali,
moderno, inteso in senso storiografico), ma anche della storia con una crescita via via sempre più vorticosa, assumendo
della contemporaneità (intesa – ancora una volta – in senso caratteri sempre più pervasivi, più onnivori. In ciascuno di
storiografico), dall’Illuminismo fin quasi all’intero Novecento. questi momenti la città, che Tafuri dispone sotto la sua lente
d’ingrandimento, è il luogo entro il quale si dispongono le
In un senso più generale, ma al tempo stesso più preciso
opere degli architetti, ma è anche la precisa forma politica
e onnicomprensivo, si potrebbe dire che Tafuri, occupandosi
che risponde alle diverse fasi del capitalismo, che a sua volta
di storia moderna e contemporanea, si è occupato della storia
in nessun modo può essere ridotto a qualcosa di unico, di
nell’epoca dello sviluppo capitalistico
identico a se stesso, di monolitico. E ciò perché è proprio lo
Storia e sviluppo capitalistico: l’accostamento di questi sviluppo, in quanto condizione dinamica, l’aspetto interna-
due termini ha un significato interno al momento storico in mente caratterizzante il capitalismo.
cui Tafuri ha operato, e nel quale ha operato tutto il milieu in
Ma lo sviluppo capitalistico non è soltanto una condizio-
cui egli si è mosso, ma ha un significato anche dal punto di
ne storica oggettiva che vede l’affermarsi di un preciso modo
vista dell’epoca in cui viviamo. Storia e sviluppo capitalistico
di produzione, e dunque lo “sfondo” strutturale sul quale si
significa che anche la storia (quella dell’architettura e della
stagliano personaggi ed edifici: lo sviluppo capitalistico è an-
città, al pari di tutte le altre) subisce fondamentali modifica-
che un modo di leggere la realtà storica, ovvero quel “lungo
zioni e “deformazioni” nel momento in cui è sottoposta agli
periodo” sopra indicato. E per Tafuri e per altri intellettuali
effetti e all’impetuosa crescita dei modi di produzione capita-
operanti in quegli anni, si tratta di una condizione inelimi-
listici. Non essendovi alcuna dimensione esterna al sistema,
nabile, capace di trasformare ogni cosa che venga a contatto
anche la storia risulta necessariamente immersa, implicata
con essa. Non una condizione della quale ci si possa liberare
in esso, così come lo è pure lo storico; il cui operare è pro-
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semplicemente opponendovisi, rifiutandola, bensì qualcosa nulla il sottotitolo del libro (cui nell’edizione inglese verrà
di cui si deve tenere conto e con cui confrontarsi in tutti i dato ancora più risalto in copertina) recita esattamente così:
settori. E ancora di più: lo sviluppo capitalistico è la condizio- Architettura e sviluppo capitalistico. 2
ne nella quale il mondo occidentale è venuto conformandosi “Contropiano”, pubblicata tra il 1968 e il 1971, e diret-
così come è; ovvero, non tanto o soltanto un modo di produ- ta (dopo la precoce uscita dalle redazione di Antonio Negri)
zione detenuto nelle mani di una classe sociale (la borghesia) da Alberto Asor Rosa e Massimo Cacciari, è la terza rivista
ai danni di un’altra (il proletariato) – e perciò non soltanto dell’operaismo dentro l’alveo più vasto della critica marxista;
l’antagonista, il nemico, di quest’ultima –, ma anche il formi- l’operaismo è una corrente di pensiero che vede nella classe
dabile luogo di nascita di tutto ciò che conosciamo: le grandi operaia non soltanto un soggetto storicamente oppresso, ma
opere dell’ingegno, della scienza e della tecnica, i capisaldi anche il motore politico del capitale. Per gli operaisti – Ra-
del pensiero, i “capolavori” dell’arte, della letteratura, e natu- niero Panzieri e Mario Tronti in special modo – “il capita-
ralmente quelli dell’architettura; e – non da ultimo – le città le sviluppa se stesso perché minacciato dalla forza lavoro
stesse, intese come il più articolato e complesso artefatto cui che esso sfrutta e sulla quale fonda il proprio dominio. Lo
l’uomo abbia dato origine, che ne contiene a sua volta molti sviluppo capitalistico non è dunque uno sviluppo fatale, il
altri. Anche questi sono a tutti gli effetti prodotti di quel cui telos è scritto nel progresso tecnologico e nella scienza,
fenomeno che chiamiamo sviluppo capitalistico. ma è la misura politica del potere della classe operaia, che
Tafuri è abbastanza avvertito da sapere che non vi può quest’ultimo esercita per via negativa”,3 come diranno Tafuri
essere una parte “ buona” e una parte “cattiva” nello svilup- e Cacciari, attraverso la lotta e il rifiuto del lavoro. La classe
po capitalistico, e tanto meno che non è possibile separare operaia viene così concepita come una classe che, proprio in
manicheisticamente l’una dall’altra: al contrario, vi sono una ragione dell’oppressione che subisce, può reagire attraverso i
grande mescolanza e infinite contraddizioni al suo interno. propri strumenti di organizzazione e di lotta, e che pertanto
Nello stesso processo di sviluppo capitalistico trovano posto i interagisce continuamente con il capitale. Operai e capitale
processi più deteriori ma anche le creazioni più straordinarie. sono due soggetti storici importantissimi. Come scrive Mario
Lo studio in cui Tafuri analizza in particolar modo il ra- Tronti in uno dei saggi pubblicati su “Contropiano”, “senza
pporto tra architettura e sviluppo capitalistico è Progetto e
in «Contropiano», 2, 1971, pp. 259-311.
utopia (1973), il libro che come noto discende dai quattro
2 Manfredo Tafuri, Progetto e utopia. Architettura e sviluppo capitalistico, Later-
saggi pubblicati in precedenza su “Contropiano”.1 Non per za, Roma-Bari, 1973; Id., Architecture and Utopia. Design and Capitalist Develop-
ment, The MIT Press, Cambridge (Mass.) 1976.
1 Manfredo Tafuri, Per una critica dell’ideologia architettonica, in «Contropiano», 3 Pier Vittorio Aureli, The Project of Autonomy. Politics and Architecture wi-
1, 1969, pp. 31-79; Id., Lavoro intellettuale e sviluppo capitalistico, in «Contropia- thin and again Capitalism, Princeton Architectural Press, New York 2008, p. 9.
no», 2, 1970, pp. 241281; Id., Socialdemocrazia e città nella Repubblica di Weimar, Sull’operaismo cfr. anche Steve Wright, L’assalto al cielo. Per una storia dell’ope-
«Contropiano», 1, 1971, pp. 207-223; Id., Austromarxismo e città: “Das rote Wein”, raismo, Edizioni Alegre, Roma 2008.
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classe operaia niente sviluppo capitalistico”.4 Lo sviluppo ca- rivista di Raniero Panzieri, fin dal suo primo numero del 1961,
pitalistico – si potrebbe dire – deve tutto alla classe operaia, aveva pubblicato il saggio di Vittorio Foa, Lotte operaie nello
non soltanto perché la sfrutta ma anche perché la reazione sviluppo capitalistico. 8
di questa, il suo antagonismo, lo costringono a reagire a sua Si tratta con tutta evidenza di una serie di studi impostati
volta, a svilupparsi, a proseguire nella sua ricerca di sempre come una ricerca scientifica unitaria, pur se condotta da au-
nuove vie per la crescita. tori diversi; una ricerca che – settore per settore, disciplina
Nel fascicolo numero 1 del 1969 di “Contropiano”, in cui per disciplina – mette a confronto e verifica il modo in cui di-
Tafuri pubblica Per una critica dell’ideologia architettonica, versi ambiti, questioni, strumenti di lotta, si relazionano allo
appare un saggio di Umberto Coldagelli dal titolo Forza-la- sviluppo capitalistico. Del resto, come precisa Panzieri nello
voro e sviluppo capitalistico.5 Nel numero 3 del 1968 e nel stesso anno, «si potrebbe dire che i due termini capitalismo e
numero 2 del 1969 è la volta di due lunghi saggi di Massimo sviluppo sono la stessa cosa».9 Il che non implica la presenza
Cacciari dedicati a Sviluppo capitalistico e ciclo delle lotte.6 in essi né di un’accezione di “progresso” né di “modernizza-
Nel numero 2 del 1970 compare il già citato saggio di Tafuri, zione”, “ma semplicemente la riproduzione allargata sia del
Lavoro intellettuale e sviluppo capitalistico, immediatamen- rapporto di capitale che delle contraddizioni di classe che ne
te seguito dal saggio di Enzo Schiavuta, Ricerca scientifica e conseguono”.
sviluppo capitalistico.7 E poi ancora, nel numero 3 del 1970 I contributi pubblicati da Tafuri in “Contropiano” si inse-
vede la luce il saggio – anch’esso già citato – di Mario Tron- riscono in questo panorama. Naturalmente vi si inseriscono
ti, Classe operaia e sviluppo: dove la parola “capitalistico” è dialetticamente, non come una semplice rotella all’interno
caduta, quasi come se a questo punto la precisazione risul- di un più complesso ingranaggio; se dunque da un lato essi
tasse inutile, dal momento che è ormai chiaro che è sempre mantengono una propria autonomia rispetto al discorso più
e solo dello sviluppo capitalistico ciò di cui si parla. Volendo complessivo sull’operaismo, dall’altro si collocano con preci-
allargare ulteriormente lo sguardo, già “Quaderni Rossi”, la sione entro tale contesto, in cui le questioni affrontate sono
tutte riverificate alla luce dello sviluppo capitalistico. Si trat-
4 Mario Tronti, Classe operaia e sviluppo, in «Contropiano», 3, 1970, p. 471. Dello ta di questioni di cui bisogna valutare, rimisurare il valore
stesso autore cfr. anche il fondamentale Operai e capitale, Einaudi, Torino 1966.
all’interno dei modi di produzione, non tanto il modo in cui si
5 Umberto Coldagelli, Forza-lavoro e sviluppo capitalistico, in «Contropiano», 1,
1969, pp. 81-127. pongono politicamente nei confronti di esso ma – come scri-
6 Massimo Cacciari, Sviluppo capitalistico e ciclo delle lotte. La Montedison di veva Walter Benjamin nel saggio sull’Autore come produttore
Porto Marghera 1. La “ fase” 1950-1966, in «Contropiano», 3, 1968, pp. 579–627;
Id., Sviluppo capitalistico e ciclo delle lotte. La Montedison di Porto Marghera. 2. 8 Vittorio Foa, Lotte operaie nello sviluppo capitalistico, in «Quaderni Rossi», 1,
La “ fase” 1966- estate 1969, in «Contropiano», 2, 1969, pp. 397-447. 1961, pp. 1-18.
7 Enzo Schiavuta, Ricerca scientifica e sviluppo capitalistico, in «Contropiano», 9 Raniero Panzieri, Relazione sul neocapitalismo, 1961, in Id., La ripresa del
2, 1970, pp. 285-309. marxismo-leninismo in Italia, Nuove Edizioni Operaie, Roma 1977, pp. 170-171.
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– come si pongono dentro a quello sviluppo.10 se dominante, protagonista dello sviluppo capitalistico, dal
I citati saggi di Tafuri su “Contropiano” non costituiscono Rinascimento in avanti. Il saggio Tafuri mette in evidenza
né il momento iniziale di una sua attitudine che si potre- la frattura che si crea fra l’urbanista (inteso come tecnico),
bbe definire genericamente “politica”, e nemmeno l’approdo il politico e l’architetto; quest’ultimo cerca di fare da ponte,
finale di un percorso d’indagine storiografica. Rappresentano da “mediatore” tra le altre due figure, “con un’opera di su-
evidentemente soltanto un momento di un percorso più am- pplenza gratuita e non richiesta”. L’architetto si prodiga in
pio. Nei saggi precedenti di Tafuri vi è parimenti un’attitudi- tal senso perché vorrebbe avere un ruolo all’interno di questa
ne politica: ad esempio nel saggio intitolato Teoria e critica vicenda, cercando appunto di fare un’opera di raccordo tra le
nella cultura urbanistica italiana del dopoguerra, contenu- politiche di pianificazione e la politica tout court. Si tratta
to nel volume del 1964 La città territorio, Tafuri mostra già naturalmente di un’operazione disperata, per quanto mossa
una lettura politica della realtà italiana, in particolar modo dalle migliori intenzioni; e infatti Tafuri parla del “dramma
dell’urbanistica, dello sviluppo delle città, cioè a dire i falli- della cultura come “patrimonio” di intellettuali che pretendo-
menti dell’urbanistica all’interno del contesto italiano. Qui no di poter agire come classe, e, magari, come classe politica
Tafuri mette in evidenza “la più o meno stretta connessione autonoma”.13 Un “dramma” che, nell’ambito della cultura ur-
fra ideologie politiche e “teorie della città””.11 Scrive Tafuri: banistica e architettonica italiana di quegli anni, non tarderà
“È dal pensiero borghese che si inizierà a sviluppare una te- a manifestarsi.
oria della città come mezzo di controllo dei fenomeni sociali Lo stesso Tafuri all’inizio degli anni ’60 collabora con il
sempre più complessi nelle loro nuove dimensioni qualitative gruppo romano AUA (Architetti e Urbanisti Associati), per poi
e quantitative”. interrompere tale collaborazione intorno alla metà del de-
Anche in questo caso, come nel celebre incipit di Per una cennio. La decisione di lasciare il duplice tavolo del proget-
critica dell’ideologia architettonica (“Allontanare l’angoscia tista e dello storico, a favore di quest’ultimo e per conseguire
comprendendone e introiettandone le cause: questo sembra la completa autonomia della storia, permetterà a Tafuri di
essere uno dei principali imperativi etici dell’arte borghe- dare profondità al suo impegno politico, indirizzandolo però
se”),12 è dalla vicenda della borghesia il punto da cui egli non nel senso di una semplice “critica”, bensì di una vera e
prende le mosse. Ed è evidente che la borghesia è la clas- propria “critica dell’ideologia architettonica”.
Nei saggi tafuriani su “Contropiano” la lettura politi-
10 Cfr. Walter Benjamin, L’autore come produttore, 1934, in Id., Avanguardia e ca dell’architettura e della città assume una connotazione
rivoluzione, Einaudi, Torino 1973, p. 201.
del tutto diversa – rispetto a quella precedente – dal pun-
11 Manfredo Tafuri, Teoria e critica nella cultura urbanistica italiana del dopo-
guerra, in AA.VV., La città territorio. Un esperimento didattico sul Centro direzio-
nale di Centocelle, Leonardo da Vinci Editrice, Bari 1964, p. 39. 13 Manfredo Tafuri, Teoria e critica nella cultura urbanistica italiana del dopo-
12 Manfredo Tafuri, Per una critica dell’ideologia architettonica, cit., p. 31. guerra, cit., p. 40.
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to di vista della strumentazione impiegata, che si presenta co” della Kultur borghese, l’angoscia sperimentata nel vedere
ora ben più strutturale e strutturata. “Una coerente critica espropriata quella Kultur di ogni funzione progressiva, nel
marxista dell’ideologia architettonica e urbanistica non può verificare l’ineffettualità del suo essere al mondo, nel rico-
che demistificare le realtà contingenti, storiche, niente af- noscerla come utopia ingenua, si sono rovesciati in un lavoro
fatto oggettive o universali, che si celano dietro le categorie intellettuale come un’utopia positiva, come modello di svilu-
unificanti dei termini arte, architettura, città. Assumendo il ppo dialettico: come “ forma dialettica”, in una parola, che ri-
proprio ruolo storico e oggettivo di critica di classe, la critica conoscendo l’inerenza della negatività al sistema, ne progetti
dell’architettura deve divenire critica dell’ideologia urbana, l’integrazione in un tentativo di dominio globale del futuro”.16
evitando in tutti i modi di entrare in colloqui “progressivi” Nel corso del lungo e complesso saggio Tafuri analizza gli
con le tecniche di razionalizzazione delle contraddizione del effetti dello sviluppo capitalistico sul lavoro intellettuale,
capitale”.14 ovvero la tendenza di quest’ultimo a divenire lavoro astratto,
Il fallimento delle politiche di pianificazione, in tale pros- esattamente quanto accade del lavoro operaio in fabbrica,
pettiva, non è più ricondotto a limiti nazionali o personali dove le diverse mansioni progressivamente si parcellizzano e
– come accadeva ancora nel saggio pubblicato in La città divengono indifferenziate, uguali per tutti. Lo stesso proces-
territorio – ma è mostrato nel suo essere imposto dallo svi- so ha luogo anche nel campo del lavoro intellettuale, dove
luppo capitalistico. La stessa ideologia del moderno, ovvero le mansioni diversificate, i saperi specifici diventano saperi
del “Movimento Moderno” (espressione peraltro detestata da generali, financo generici.
Tafuri) viene disvelata nelle sue implicazioni, nella sua opera Proprio in un passaggio del saggio sul lavoro intellettu-
di “copertura” ideologica, oppure di illusoria fuga da quelle ale Tafuri rileva che “siamo in presenza di un costante au-
condizioni. mento dell’estraneità dell’intellettuale al contenuto del pro-
Il “dramma della cultura” urbanistica italiana si tras- prio lavoro, che si realizza tanto più concretamente tanto più
forma così nel “dramma dell’architettura, oggi: […] vedersi quest’ultimo si caratterizza esattamente come “lavoro”: più
obbligata a divenire sublime inutilità”.15 A questo punto la esattamente, anzi, come lavoro salariato”.17 Quello intellettu-
crisi dell’architettura si rivela per ciò che è: una crisi del ruolo ale diventa cioè una delle tante forme del lavoro, reso astrat-
ideologico dell’architettura e dell’architetto. to dai processi di frammentazione e riorganizzazione (“otti-
mizzazione”) capitalistici. Tafuri mostra come in realtà non
Lavoro intellettuale e sviluppo capitalistico prosegue
si tratti di una catastrofe ai cui effetti cercare disperatamen-
nella stessa direzione intrapresa dal saggio precedente. Fin
te di resistere, bensì, a partire da una critica dell’ideologia,
dal principio riemergono i temi già affrontati: “Tutto il “tragi-
14 Manfredo Tafuri, Per una critica dell’ideologia architettonica, cit., p. 78. 16 Manfredo Tafuri, Lavoro intellettuale e sviluppo capitalistico, cit., p. 241.
15 Manfredo Tafuri, Premessa a Progetto e utopia, cit., p. 3. 17 Ibidem, p. 280.
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come questi processi vadano piuttosto assecondati portan- azionaria, ogni proposta tesa a restituire dignità professiona-
doli fino alle loro conseguenze ultime. Non soltanto dunque le a quegli intellettuali “degradati”. Mostrare in concreto la
per Tafuri non ci si può opporre semplicemente ai processi reazionarietà di ogni discorso che voglia offrire prospettive
in atto, tentando nostalgicamente di far retrocedere la ruota “alternative” al lavoro intellettuale, significa quindi riconos-
della storia, ma addirittura l’evolversi di tali processi può ri- cere che solo all’interno del ruolo oggettivo imposto dal do-
velarsi una potenzialità da sfruttare a fini di lotta: “Leggere minio dello sviluppo è la condizione per utilizzare la lotta dei
nelle condizioni attuali del lavoro intellettuale una concreta ceti intellettuali assorbiti direttamente nella produzione, in
tendenza verso un’omogeneizzazione materiale, che passa un attacco complessivo al piano del capitale: il che significa,
attraverso i processi di ristrutturazione sociale e produtti- essenzialmente, estendere l’uso politico della lotta sul salario
va capitalistici, significa riconoscere nella massificazione e a strati sociali sempre più ampi”.18 Non è qui possibile segui-
nella mobilità dei ruoli, nella perdita dei privilegi tradizionali re passo passo le evoluzioni del percorso tafuriano in tutte
riservati al lavoro intellettuale, nel distacco – che avviene le sue tappe: ciò che ne emerge in un senso più generale,
già nella fase di preparazione scolastica e universitaria – dai tuttavia, è qualcosa che, almeno in parte, può assimilare la
contenuti del proprio lavoro, nell’estraneità che finalmente sua esperienza a quella di molti altri intellettuali del perio-
anche l’intellettuale è obbligato a sperimentare nei confronti do. Con il passare degli anni, sopraggiunti gli anni Settanta,
dell’organizzazione capitalistica del lavoro, alcune delle con- cambiano le metodologie, cambiano i paradigmi di pensiero
dizioni positive da cui ripartire, per elaborare un programma cui far riferimento, in certi casi anche gli oggetti stessi del-
di attacco al piano complessivo”. E ancora, più oltre: “Non le ricerche; cambiano le persone, le letture, ma soprattutto
crediamo alle ripetute invenzioni di nuovi alleati della classe cambiano i tempi. Ed è evidente come non si possa parlare
operaia. Ma sarebbe suicida non riconoscere che sono le stes- di Tafuri – uno storico certo non “immobile”, non chiuso nel
se linee dello sviluppo capitalista a ricomporre, ai propri fini, proprio “mondo”, nel proprio “recinto” storico, mai appagato
una forza-lavoro tendenzialmente omogenea, che è possibile del proprio sapere acquisito, mai intento a dissodare sempre
far funzionare sotto il segno degli interessi diretti della clas- il medesimo campo di studi, quanto piuttosto una figura com-
se operaia. Rovesciare quello che è stato, per troppo tempo, plessa, curiosa, problematica, continuamente spinta a inter-
il disegno capitalista, quello che vede come proprio fine una rogarsi, ad arrovellarsi, e quindi a proseguire nella sua ricer-
classe operaia organizzata dal capitale: questo è l’obiettivo ca – senza vederlo inserito nel suo tempo. E nel passaggio tra
da raggiungere ponendosi come compito la gestione operaia la fine degli anni Sessanta e gli anni Settanta, quantomeno
delle rivendicazioni soggettive dei nuovi strati di lavoro in- in Italia, cambia tutto: cambiano i tempi, e cambia anche chi
tellettuale salariato. vi è immerso.
Ma ciò non è possibile se non battendo ogni illusione re-
18 Ibidem, p. 281.
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Immerso nei problemi con cui si confrontano i tempi che i meccanismi reali”. 21 In questo modo viene operata una ri-
attraversa, Tafuri non muta i motivi di fondo che muovono le composizione di quella “ frattura” che altri hanno creduto di
sue ricerche; né mutano gli ambiti di indagine, la città e l’ar- vedere tra un “primo” e un “secondo” Tafuri. 22
chitettura come luoghi privilegiati dello sviluppo capitalisti- L’attitudine filologica negli studi di architettura che si è
co. Cambia la scala, cambiano le geografie, ma non cambiano affermata dopo Tafuri (ovviamente, non soltanto per merito
le intenzioni disvelative nei confronti di quel sistema eco- suo) e che ha preso piede, almeno in Italia, come il modo
nomico produttivo che è in grado – come lo sarà anche nei “corretto” di fare storia, si propone come una storia documen-
decenni successivi – di “abbracciare” e ricomprendere tutto. taria, e proprio perciò presuntamente imparziale, “oggettiva”;
Fra tutte le interpretazioni che sono state date dei rifles- una storia basata su quella che Asor Rosa chiama “la certe-
si di questo passaggio epocale su Tafuri, la più convincente zza del dato”. 23 In questa idea di filologia (che non è affatto
pare essere tuttora quella fornita da Alberto Asor Rosa nel quella perseguita da Manfredo Tafuri) sarebbe il documento
saggio Critica dell’ideologia ed esercizio storico, pubblicato a parlare, a “dire la verità”, mentre lo storico sarebbe soltan-
sul numero di “Casabella” uscito a distanza di un anno dalla to un tramite, colui che si limita a muovere la bocca per il
sua morte.19 Qui egli analizza i passaggi essenziali della criti- dato che parla. Questa filologia “cristallizzata” in una vuota
ca dell’ideologia architettonica tafuriana, mettendone in luce acribia, che scambia il mezzo per il fine, ha completamente
l’”intento demistificatorio nei confronti di tutte quelle mani- perduto quel carattere interpretativo che aveva invece per
festazioni intellettuali e politiche […] che avessero nel tempo Tafuri. Questa filologia “sedata”, come l’ha definita Massimo
[…] tentato un’opera d’integrazione migliorativa nei confronti Cacciari, non è più una storia che riesca a rovesciare il qua-
dell’assetto sociale capitalistico”. 20 dro costituito, accertato, una storia – almeno in una qual-
Ma il discorso di Asor Rosa è incentrato soprattutto sul che misura – rivoluzionaria. Sempre più rare sono le filologie
rapporto tra due elementi che a prima vista potrebbero sem- che riescono a compiere vere “scoperte”. E questo per una
brare estranei, se non addirittura in contraddizione tra loro: semplice ragione: perché non sono più illuminate da un’idea
critica dell’ideologia e filologia. “La “critica dell’ideologia” – di sviluppo complessivo entro cui le cose vadano collocate e
scrive – precede e determina la scoperta della “filologia”, la interpretate.
rende non solo possibile ma necessaria. […] Quando ogni velo In realtà la filologia – come ben sapeva Nietzsche, che
è caduto, ciò che resta è studiare, conoscere e rappresentare aveva studiato da filologo – non si dà se non nel suo rapporto
21 Ibidem, p. 32.
19 Alberto Asor Rosa, Critica dell’ideologia ed esercizio storico, in «Casabella», 22 Cfr. tra gli altri Howard Burns, Tafuri e il Rinascimento, in «Casabella», 619-
619-620, 1995, pp. 28-33. 620, 1995, p. 114-121.
20 Ibidem, p. 30. 23 Ibidem, p. 32.
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stringente con la filosofia. Non si dà storia, documento, senza pre più vorticosa, non meno – e semmai in misura maggiore
interpretazione. Pertanto quella della critica dell’ideologia – che negli anni Sessanta e Settanta.
non è una fase che possa dirsi conclusa per noi, così come Pertanto questa filologia critica, questa filologia intelli-
non vi è credere che potesse dirsi conclusa nemmeno per Ta- gente, vale a dire questa capacità di leggere criticamente la
furi, per quanto nel corso del tempo – del suo tempo – essa realtà, non ha esaurito il suo compito: ne abbiamo ancora
abbia cambiato nome o abito. Personalmente ritengo che, al bisogno, anzi, ne abbiamo ancora più bisogno, perché gli
fondo della filologia tafuriana, fosse rimasta l’idea – che è obiettivi che essa persegue – per quanto trasformati – sono
propria della critica dell’ideologia – di dover trovare qualco- ancora tutti di fronte a noi; attendono ancora il nostro lavoro
sa perché la si sta cercando. E qui vi è davvero la differenza di interpreti, di critici intelligenti e attenti.
tra una filologia “sedata” e una filologia animata da un’idea
Questo modo di fare storia non è affatto neutrale. Tutto
di fondo. A una filologia criticamente attrezzata non basta
all’opposto rispetto a una filologia “incantata” dalla propria
trovare: essa deve cercare (ovvero deve saper cercare).
presunta oggettività, la storia critica tafuriana ha una conno-
Io credo che ancora oggi per noi una filologia-filosofia, tazione politica. Politica in questo senso non va intesa tanto
una filologia critica, ovvero una storia critica, sia indispensa- come arte del governo, ovvero ciò che –dovendo amministra-
bile, e addirittura urgentissima, come strumento contro una re – necessita anche costantemente di operare mediazioni,
storia che invece nella gran parte dei casi riflette il punto di e dunque di risolvere contraddizioni; politica, a partire dal
vista dominante (benché spesso mascherato dietro un pun- suo significato etimologico, è pure l’esercizio di ciò che pro-
to di vista soggettivo, personale – o peggio ancora, dietro priamente appartiene alla polis: è la convivenza delle diver-
un “gusto” personale, quello dello storico), ovvero il punto sità, delle pluralità dissonanti, degli incontri e degli scontri,
di vista della classe cui lo storico appartiene, se è contentito dei contrasti, delle lacerazioni di cui la città è la sede e che
usare ancora questa espressione. Un’espressione che potrà la politica deve tenere insieme, senza ansie di risolverli, di
forse sembrare inadeguata in una prospettiva odierna, e che deciderli. Il carattere politico della storia, che tiene vive le
tuttavia rischia di non esserlo affatto: contraddizioni, che non le soffoca, non le uccide, non le “go-
la critica dell’ideologia infatti non è qualcosa che appar- verna” riportandole a un accordo, ma le lascia vivere nella
tiene – e che quindi riguarda – esclusivamente gli anni Ses- loro problematicità, è presente nelle pagine della Ricerca del
santa e Settanta: in quanto opera di disvelamento interna Rinascimento, così come pure – sia pure in forma del tutto
allo sviluppo capitalistico, la critica dell’ideologia non ha diversa – nei saggi di «Contropiano».
perso il suo senso, per la semplice ragione che non è cessato È la storia come progetto – e di più ancora: come «pro-
lo sviluppo capitalistico. Siamo tuttora immersi nel grande getto di crisi»24 –, la storia che mostra le contraddizioni, de-
meccanismo che produce e che si riproduce in maniera sem-
24 Manfredo Tafuri, Il “progetto” storico, in Id., La sfera e il labirinto, Einaudi,
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mistifica, smitizza, rende ragione della realtà, anziché inter- esemplificare, essi potrebbero riguardare: la questione dei
pretarla in senso semplicemente formale, o addirittura – il modi di produzione contemporanea dell’architettura; la ques-
che è per la gran parte lo stesso – ideologico. È la storia che tione dell’architettura come attività concreta che si compie
mette in crisi, la storia problematica, non quella che fornisce all’interno degli studi (un lavoro spesso sfruttato, tra l’altro);
soluzioni. gli effetti dello sviluppo capitalistico sull’architettura, ovve-
Questa connotazione politica della storia, in Tafuri, non ro il divenire astratto del lavoro di architettura (un lavoro
è in contraddizione con la filologia. Il che non significa che parcellizzato come in una catena di montaggio, esattamente
si lascino identificare. È il loro obiettivo di fondo che per- come quello delle fabbriche operaie); la questione del ruolo
mane. Si tratta soltanto di due momenti di un medesimo dell’architetto nel processo produttivo dell’architettura (un
processo. E inoltre, quanto più filologica la storia riesce a ruolo a sua volta parcellizzato). E ancora: la questione della
essere, quanto più è capace di attenersi al dato, di scaturire progressiva reificazione dell’architettura, o di ciò che ancora
direttamente dal documento, e tanto più politica risulta; non ci ostiniamo a chiamare in questo modo, che non soltanto
ideologica, mediatrice, amministrativa o governativa, bensì si trasforma in “cosa”, sottoposta com’è alle medesime leggi
tutto l’opposto: realista, contraddittoria e infine – almeno della mercificazione degli altri prodotti all’interno dell’eco-
potenzialmente – effettivamente rivoluzionaria. Ed è solo da nomia capitalista, ma esattamente come le altre merci divie-
una storia così concepita che possono scaturire i veri sovver- ne evanescente, facendosi immagine. E anche in questo caso,
timenti delle certezze storiche acquisite. più che scandalizzarsi o criticare superficialmente, è necessa-
rio analizzare i processi e cercare di comprendere a cosa sia
Io credo che noi abbiamo ancora bisogno di questa storia:
funzionale tale suo divenire immagine.
una storia viva, che ci riguarda molto da vicino. Per questo
Tafuri continua a essere importante: non tanto perché – in Allo stesso modo, una questione centrale per una storia
un senso puramente celebrativo – è stato un “grande storico”, critica è quella della configurazione dell’architettura, consi-
quanto perché il suo modo di fare storia può essere ancora derata però non tanto dal punto di vista di un’“estetica ge-
essenziale. nerale”, quanto piuttosto di parametri quanto il più possibile
“oggettivi”, vale a dire comparabili. È qui che emerge l’impor-
Una storia critica continua a essere importante perché –
tanza dei dettagli: dettagli costruttivi da confrontare tra loro
cone si è detto – gli obiettivi che si prefigge sono ancora tutti
con la massima freddezza, senza romantiche affezioni per la
da raggiungere. Gli ambiti di ricerca di una storia così con-
“cosa in sé”, ma per trarne piuttosto dei quadri più complessi-
cepita, quindi, dovrebbero essere quelli più strutturali allo
vi relativi ai processi di standardizzazione della produzione e
sviluppo capitalistico dentro al quale ci troviamo tuttora. Per
di serializzazione degli elementi; processi che riguardano fin
Torino 1980, p. 5. Cfr. anche Marco Biraghi, Progetto di crisi. Manfredo Tafuri e nell’intimo anche quei progetti e quegli architetti che mag-
l’architettura contemporanea, Marinotti, Milano 2005.
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giormente si ammantano della propria presunta “autorialità”. tuttora – e oggi forse più che mai – da copertura ideologica
L’idea dell’architetto creatore (un mito, ormai, che continuia- ai “disegni” dello sviluppo capitalistico.
mo a raccontarci o a sentir raccontare) in questo modo verre- Per questa ragione, occuparsi oggi di Tafuri, studiarne il
bbe sgretolato dall’interno, non perché gli “archistar” siano lascito, non deve voler dire farne un “monumento”, eternarlo,
“ bravi” o “cattivi”, “simpatici” o “antipatici”, ma perché sono soffocarlo nell’abbraccio di una sterile devozione o “ammi-
davvero una proiezione ideologica, funzionale a coprire un razione”; né deve significare farne un passato morto contro
sistema che essi non interpretano affatto ma che si limitano quel passato vivo e inquieto di cui egli parlava. Perché ciò
a usare e che li sfrutta a sua volta. equivarrebbe davvero a tradirlo. Al contrario, “liberarsi” di
Infine, la questione della città come “macchina produtti- Tafuri (nel senso migliore e più positivo del termine) compor-
va” che si modifica nel tempo e che riassume dentro di sé tut- ta necessariamente adeguare la sua lezione all’oggi, aggior-
te le trasformazioni; la città come luogo di sintesi dei conflitti nandola alle questioni contemporanee. Significa usarlo.
e delle tensioni sociali, passata nel corso del tempo dalla Per chi voglia lavorare in questa direzione, c’è sicuramen-
realtà di macchina meccanica a quella di macchina informa- te molto da fare.
tica. È la città che ancora una volta produce e riproduce tutte
le questioni di cui Tafuri si è occupato, e che anche oggi do-
vrebbe continuare a costituire il terreno del nostro impegno
critico, l’oggetto privilegiato del nostro lavoro filologico di
storici critici. Ovvero l’esatto opposto di quanto fa la critica
architettonica odierna su giornali e riviste, la cui funzionalità
ideologica come strumento per il mantenimento e la celebra-
zione del sistema architettonico attuale non potrebbe essere
più lampante.
Da questo punto di vista, se per Tafuri l’“architettura è
morta” – nel senso che il suo ciclo moderno è terminato, o
meglio, ha esaurito la sua specifica funzione ideologica –,
oggi quella funzione ideologica non ha però cessato di esis-
tere: è ancora lì da riconoscere, da disvelare. Nel corso del
tempo l’architettura si è trasformata, ha modificato i propri
usi a seconda delle necessità, i propri caratteri a seconda del-
le possibilità tecnologiche e del gusto dell’epoca; ma serve
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O Tempo na obra de Bom dia a todos.
Manfredo Tafuri Minha fala procura lançar luz a alguns aspectos do tra-
Time in the work of
Manfredo Tafuri balho de Tafuri que trabalhei em minha tese. Feita entre
Tempo nel lavoro di 2008 e 2014, ela se nutre de uma bibliografia extensa so-
Manfredo Tafuri bre o historiador e de um debate intenso que ainda está
em andamento.
Rafael Urano FRAJNDLICH Tafuri, um historiador de arquitetura e de cidades, li-
dava no seu texto com diferentes diálogos entre ruas, pra-
ças e monumentos. Na sua prosa, tem-se uma elaboração
análoga: Renascimento e contemporâneo, vanguardas e
barroco, collages e ‘maneirismos’ são ladeados, entremea-
dos e contrastados, num caráter tão marcante de sua es-
crita, que Jean-Louis Cohen chegou a apelidá-lo de escrita
‘metafúrica’.
Igualmente, perpassando desde a juventude até a ma-
turidade, aparece a persistência de uma predileção pelas
obras de arquitetura que contêm uma subversão temporal
– a capacidade de intercalar o passado e o presente, a
teleologia e o nostálgico, a ruína e a transformação. “Nada
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é dado por passado”, escreveu Tafuri em 1992. “O tempo da de arquiteto e historiador, Tafuri possuía já uma indaga-
história é, por constituição, híbrido”. ção às noções de tempo que motivavam a arquitetura:
A simultaneidade com que Tafuri trabalhou seus te- num de seus primeiros cursos como assistente, ainda sem
mas é produto de uma interlocução construída pelo autor ter a cátedra de Professor Ordinário em Veneza, La storia
italiano com a temporalidade na história da arquitetura. dell’architettura moderna alla luce dei problemi attuali, faz
As referências de Tafuri, desde o princípio até o final da um itinerário sobre correntes contemporâneas, no qual Le
carreira passam por teóricos que, para além do enfrenta- Corbusier aparecia como figura central. Tafuri diz que o
mento de desafios historiográficos ou metodológicos, mo- arquiteto suíço “parece querer recuperar não apenas uma
veram esforços para tecer uma argumentação acerca do eloquência capaz de absorver no seu ditado uma alta de-
tempo, das noções de tempo que deveriam ser subvertidas finição ética, nova pela sua amplitude, mas também uma
pelas esquerdas: arrisco-me a dizer que nenhum dos escri- dimensão figural ausente para os mestres do racionalis-
tos do historiador escapou da interlocução com as corren- mo: a dimensão temporal.” Segundo o jovem Tafuri, essa
tes intelectuais em voga na Itália e na Europa. A sua gera- dimensão temporal aparece sobretudo nos jogos plásticos
ção foi das primeiras que pôde ler em italiano Heidegger, de Chandigarh e Ronchamp, mas sobretudo na crueza dos
Benjamin e outros filósofos que pensaram longamente materiais, “nas quais se acentua o aspecto sensitivo como
a subversão do instante como parte de um esforço para parâmetro de leitura, torna-se tempo congelado, violência
transformar o mundo. Dentre seus conterrâneos, nos anos feita à percepção”.
sessenta, dialogava, entre outros, com Garrone, Della Vol- Pode-se ver uma preocupação com temporalidades em
pe e Paci. Nos anos setenta, a década “radical” em que suas obras mais conhecidas, nas deambulações sobre a
publicou “Projeto e utopia”, formulou, sempre através da ‘perda da aura’ na arquitetura moderna em Teorias e histó-
história da arquitetura, debates com Bettini, Tronti, Cac- ria da arquitetura, na análise do Plan Obus feita em Projeto
ciari, Asor Rosa. A decisão de 1981, de só lecionar sobre e Utopia, na hipótese de ‘compressão do tempo’, ou ‘tempo
temas modernos, coincidiu com uma argumentação com monádico’ presente em A harmonia e os conflitos ou na in-
Marramao, Agamben (timidamente) e, uma vez mais com trodução de Ricerca del Rinascimento.
os textos de maturidade de seu colega Massimo Cacciari. Entretanto, Tafuri apenas uma vez dedicou uma confe-
Desde a juventude, uma ponderação sobre o tempo rência específica sobre o tempo apenas em 1993, intitula-
esteve presente. A título de exemplo, basta lembrar que da “A dignidade do átimo. As formas do tempo: Veneza e
nos anos sessenta, quando ainda conciliava as atividades a modernidade”, costurando relações entre o presente da
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cidade onde lecionou toda a sua vida, Veneza, e a recusa sua obra. “Projeto e utopia” e outros trabalhos são citados
de seus gestores de, após o seu auge, inseri-la completa- em termos mais universitários, alegando que “junto aos
mente no mundo contemporâneo. seus colaboradores, [Tafuri] tentou fundar, entre polêmi-
Certamente devedora dos estudos intensivos sobre a cas ainda não superadas, a autonomia absoluta da história
cidade que o autor desenvolveu nos anos sessenta, na fala da arquitetura, em relação ao projeto.”
as questões da Sereníssima são tratadas com um acento Seu esforço político é colocado sobretudo em dois mo-
pragmático, de tal modo que a frase final da conferência mentos: sua juventude, como aluno-problema na Faculda-
tem o aspecto de chamado às armas: “A batalha ainda não de Valle Giulia em Roma, e seus últimos anos de vida, no
terminou”. Pode-se ler esta conclusão de modo teórico, engajamento pela Serenissima.
uma defesa da história como disciplina, etc. No entanto o “A diginidade do átimo” é um testemunho desse con-
tom dos últimos parágrafos, muito lastreados no presen- texto. A arma de seu empenho na defesa de Veneza é a
te, criticando o show de Pink Floyd que destruiu Veneza mesma presente em sua prosa ao longo dos anos: a histó-
alguns anos antes e a Expo 2000, não deixam dúvidas que ria da arquitetura com uma estilística fragmentada e ple-
a batalha tinha ali também um viés concreto. na de virtuoses filológicas, na qual períodos distintos são
O envolvimento de Tafuri com a cidade não era somen- inesperadamente compactados para chegar nos temas do
te acadêmico. Na autobiografia publicada postumamente, presente. Veneza, por sua vez, destaca-se como protago-
o autor de “Teorias e história da arquitetura” resumia em nista de toda a estrutura da palestra: tanto quanto o teci-
um parágrafo suas atividades nos anos noventa: “Por si, do e edifícios da cidade, interessa a Tafuri a sua teologia,
[Tafuri] continua o engajamento político, seja dentro da seus mitos de que ela é, pela sua fundação em meio às
universidade ou como cidadão, combatendo em primeira águas, portadora do tempo eterno.
linha na batalha contra a Expo [2000] prevista em Vene- Tafuri se ampara nas documentações feitas pelos vê-
za, e contra os projetos de Renzo Piano para a Basílica de netos, como Marin Sanudo e Francesco Colonna, para afir-
Vicenza.” mar como é persistente o pensamento atímico na história
Esse engajamento contrasta com a interpretação que da cidade dos canais. Desta temporalidade, advém so-
Tafuri deu às suas atividades nos anos sessenta e setenta bretudo sua condição de ‘Vênus arrancada do mar’. Assim
– considerados os mais radicais pelos comentadores de como as águas dos canais são vistas como todas as águas
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dos mares, o tempo em Veneza tem uma força de ser o que abraça esses universos de sinais, sempre configurados
tempo de todo o mundo. como aparições inquietantes, não obtém deles senão in-
Em 1980, escrevendo sobre a capital do Vêneto na dicações herméticas para alimentar sentimentos que en-
época contemporânea, o historiador analisa a obra tem- volvem-se em espiral nas profundidades do intransitável.”
porária de Aldo Rossi em Veneza, o Teatro del mondo. O Esse fio de temporalidades aquáticas que contrastam-
palco flutuante interessava a Tafuri menos quando estava -se na Veneza cinquecentesca e contemporânea tem ecos
diante da Punta della Dogana – seu lugar final de atraca- em outras pesquisas de Tafuri. Vimos como em seu curso
mento – do que no seu trajeto, desde o canteiro de obras sobre Borromini, ministrado entre 1978 e 1979, existe um
em Fusina até o seu ponto de parada. “O efeito de estra- momento de introdução teórica, no qual duas aulas são
nhamento dessa construção, que alude a um mundo de dedicadas à fundamentação: especificamente, no estudo
memórias demasiado rico para ser explicitado, multiplica- de Walter Benjamin em sua obra sobre o barroco.
-se no percurso de sua construção e de seu trajeto.” As duas aulas sobre Alberti no curso de Borromini de
Para Tafuri, o passeio inicial do “Teatro” contrapõe os 1978 já anunciam a senda de textos importantes que Tafu-
períodos e retóricas dos prédios de Veneza. Desnuda cada ri publicaria sobre este autor capital: a contraposição en-
um dos marcos da cidade: o ensaio fotográfico da “Do- tre obras de viés positivo, como os seus tratados, e outras
mus” mostra o teatro diante do Palácio Ducal, da igreja da narrativas negativas, como Momus e Teogenius. Na cons-
Salute, do Moinho Stucky. O lento flutuar de seu edifício trução dessa imagem do arquiteto humanista, Tafuri de-
representa o movimento no tempo da cidade e das suas tém-se nos Intercoenales, apanhado de pequenos textos
transformações. assinados por Alberti, sobretudo num intitulado Sognum,
As águas de Veneza aparecem neste pequeno artigo a narração literária de um sonho. O filósofo sonhador se
não como força mitológica do isolamento do continente vê entre montanhas por onde flui um rio “digno de mara-
e de seus vícios. Aparece, nesse caso, em uma chave de vilha”. As águas são tenebrosas: ao invés de ondas, forma
movimento, do “fazer flutuar”. O “Teatro”, associado ao ca- rostos humanos, uma multidão anônima. A experiência de
ráter efêmero da intervenção, cria o pano de fundo para atravessar esse rio onírico é tortuosa, o viajante deve girar
que se faça saltar ao presente a variedade de símbolos de em torno de si enquanto é mordido pelos vultos. “Mas o
Veneza como uma cidade fechada à modernidade. “O olhar que estava além do rio?” Tafuri citava Alberti para a sua
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classe, “Algo digníssimo de história. Estão entre os montes modo de ‘dissimular racionalidade’, pois a busca por uma
vales nos quais conservamos as coisas perdidas.” Conclui verdade, seja pelas preceptivas vitruvianas ou por qual-
o professor: “Eis o objetivo [da transposição]: reencontrar quer outra tática, era afinal inútil, suja e, traidora dos mais
a memória. É necessário passar aquele rio para não se ter, nobres ímpetos intelectuais. “A arquitetura assume para si
em certo sentido, nostalgia da infância, reencontrar to- um único trabalho humano: a tarefa de conter a loucura
das as coisas perdidas, a vida inteira do sujeito.” Tafuri que domina o homem”.
faz essa narrativa tendo como pano de fundo suas lições O caminho que Tafuri tecia nessa ocasião parece cla-
sobre Benjamin do Drama Barroco e seu vórtice que traga ro: nos estudos de Benjamin, aprofundava-se na figura
todo o devir do tempo à origem. No entanto, existe ainda dramática do arquiteto, e como a sua busca filológica era
um outro rio. Uma pocilga, esse rio só pode ser atravessa- invariavelmente arbitrária. O estudo de Alberti e as con-
do montando nas costas de uma anciã disforme. E o que tradições entre suas palavras e projetos reforçam essa
existe na outra margem deste? “Nada menos do que uma ausência de parâmetros apriorísticos que supostamente
planície na qual se deveria finalmente encontrar não mais guiaram os humanistas e contra os quais o barroco se lan-
a vida passada, mas a verdade.” çou: nem nos sonhos a verdade é apreensível.
Tal verdade, no entanto, não é explícita e nem mesmo Tafuri escolheu esse momento dos Intercoenales nos
apreensível. Essa margem é cheia de emaranhados de ca- quais a transposição de águas se torna metáfora da cons-
belos, crinas e pêlos, que deuses caídos comem e assim tituição do sujeito: para se chegar à verdade inalcançável,
alcançam a verdade. No entanto, quando o protagonista é necessário, em um primeiro momento, anular-se como
do Sognum busca pelas raízes dessas cabeleiras, piolhos objeto em uma multidão vazia para se ter um direito à me-
gigantescos o atacam, e o sonho termina. mória. Ainda é preciso cruzar um segundo rio, colocar-se
De acordo com Tafuri, esses sonhos servem para mos- como sujeito sobre um objeto – a anciã sobre a qual se
trar como, no entendimento de Alberti, é estéril a jorna- monta para cruzar a pocilga. É bem diferente essa imagem
da pela verdade. Chama a atenção ao autor de “Projeto e das águas daquelas que se via nos mares de Veneza: nem
utopia” o fato dessa narrativa insólita ser contemporânea, a pureza de vícios, nem o fluir que aponta para o eterno.
na obra de Alberti, aos seus textos mais ligados à arquite- Em todas essas construções, no entanto, os mares e
tura, como “De Re Aedificatoria”. Conclui desse conflito que rios apontam para uma relação com categorias temporais,
o rigor geométrico nas obras do arquiteto genovês era um como o passado, a ação, a memória. Sua presença nessas
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lendas e mitos tem um papel de mediação entre o que já revela ecos dos temas estudados pelo historiador na
está fora do senso comum, resguardar uma temporalidade sua conferência sobre o átimo. Juventude e velhice são
que ultrapasse idiossincrasias. pólos que aparecem na palestra desde a analise do Batis-
Com a “Dignidade do átimo”, Tafuri inaugurava um se- tério de Parma, no qual “É a batalha contínua, o ciclo do
mestre letivo sobre Roma que restaria inconcluso, pois o tempo, do dia e da noite.”
professor estava já em debilitada condição de saúde. Seu As sombras se tornaram fantasmas. A virtualidade da
curso anterior, 1992-93, foi dedicado à obra de Alberti. morte perpassa não só os sonhos dos Intercoenales, mas
Nele, os rios tenebrosos dos Intercoenales aparecem de também as parábolas presentes na “Dignidade do átimo”:
novo, repetindo interpretações das aulas dos anos seten- o instante coincide com o instante da morte.
ta, com conteúdos novos: Categorias de instante, morte e origem estavam em
Esse rio [o primeiro] é repleto de sombras, fantasmas. ampla circulação dentro do debate político que marcaram
Não são fantasmas e sombras estáticas. Quando caem no rio, esses catorze anos na Itália, e levam a crer que, para além
se tornam crianças, e depois crescem e morrem, sempre fan- de imerso em agonias pessoais, Tafuri era crítico aos di-
tasmas. O filósofo compreende que as margens do rio são lemas filosóficos peninsulares da época, que orbitavam
a morte. Pergunta o homem às sombras, e elas respondem: em torno do decisionismo de Schmitt e do aion tal como
somos centelhas celestes destinadas a virar homens. Almas estudado por Heidegger. A título de exemplo, bastaria ci-
não ainda encarnadas, e por isso fluem e crescem. Nesse pon- tar obras de Marramao como Poder e secularização e de
to, o filósofo quer saber tudo. As sombras respondem, “pare, Agamben, como Infância e história, cujos fermentos cul-
homem, de buscar além do que é concedido ao homem.” minariam no volumoso texto de Cacciari publicado em
As sombras ganham maiores contornos: se em 1978 1990 intitulado Dell’inizio. Seus debates possuem uma
elas aparecem como simples vultos anônimos cujo signi- preponderância no ‘agir’, na tomada de decisão que inte-
ficado era a anulação do sujeito, catorze anos depois elas gra o passado e o futuro numa ação no presente.
são apresentadas como figuras fantasmáticas, ligadas ao Segundo Tafuri, Veneza é uma cidade excelente para
ciclo da vida, e elas próprias advertem ao sonhador acerca polemizar com essas corentes. Sua noção de tempo pecu-
dos limites do conhecimento e da racionalidade. O fato liar, devedora de seus mitos de fundação, fez o processo
das margens representarem a morte e o leito do rio a vida decisório, no qual o instante é um ‘agir’, ganhar uma face
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ambígua: Tafuri fala de como a construção das Procuratie, com o tempo contemporâneo é estratégica na formula-
excelente imagem daquela ação coordenada entre passa- ção de uma inteligência que consiga ultrapassar a roda
do, presente e futuro, demorou todo o século XVI para de rupturas que as vanguardas engendram. No entanto, o
ser finalmente concluída. Se a noção do instante tem uma ponto nodal do artigo não está nessa conclusão, mas no
ligação com a capacidade de decidir, Tafuri mostra como modo como o historiador articula fermentos em voga no
nesse processo, o ‘leão’ que simboliza a ação (e Veneza), seu círculo de intelectuais, utiliza-se deles para mostrar
é lento na cidade de canais, e justamente dele advém o que, diante de Veneza, qualquer formulação que coadune
poder que ela tem diante da contemporaneidade. “(...) O átimo e ação são engolidas pelo tempo longo das inde-
movimento circular que vai avante ao Tricipitium de Tizia- cisões e do afastamento da cidade de quaisquer ventos
no começa a rodar sempre mais lentamente e, ao invés de da contingência. Veneza, conforme o autor a estuda nos
andar adiante, estanca o passo (...)”. anos oitenta, não é um estudo de caso, mas sobretudo um
“Não existe progresso ou desenvolvimento (...) sem a arquétipo: a “Dignidade do átimo” procura mostrar que na
mola constante de quem negou o moderno”. Essa fala tem história da arquitetura, com seus entremeios e decisões
nomeações: “[Os que negam o moderno] podem ser as fi- cristalizados em edifícios, ruas e praças, todo tempo é o
guras de um Nietzsche, de um Schopenhauer que negam tempo da cidade longínqua, que existe no entremeio dos
a síntese hegeliana que é pobre metáfora, pobre conse- imemoriais mitos fundacionais e de suas banais problemá-
quência da circularidade dos tempos representada por ticas recentes.
Tiziano.” A temporalidade de Tafuri, o seu “átimo”, não passa
Para Tafuri, se existe uma força no átimo de Heidegger por uma revisão diante de uma guinada filosófica em curso
dentro das pesquisas italianas, que redime no presente na Itália da segunda metade dos anos setenta. Sua leitura
o passado e o futuro, ela se torna mais frágil diante de do tempo endossava um salto do presente para além da
Veneza. O Tricipitium, menos que um convite a uma ação contingência, não através de uma decisão executiva, mas
tradicionalista, remete melhor à compulsória necessidade em uma assunção de dilemas concomitantes em catego-
de prudência no agir tão caro à teologia veneziana. rias nem sempre comuns.
O argumento de Tafuri em defesa da preservação da Essa leitura informou, anos antes de nós, comentado-
cidade dos canais sustenta-se no fato de que sua cisão res, ocuparmo-nos do espólio de Tafuri, a oração fúne-
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bre feita por Cacciari durante o velamento do historiador, correntes, suas elaborações sobre as cidades contempo-
em 1994. Na ocasião, o filósofo sensivelmente se ampara râneas e questões consensuais como um certo descrédito
numa imagem análoga aos rios oníricos presentes no Sog- pela produção feita durante o seu período etc. No entan-
num de Alberti. to, a filologia foi um instrumento utilizado por Tafuri com
“No rio que é Vida”, disse Cacciari, “trascorre aqueles afinco desde sua chegada em Veneza, em 1967.
que vem batidos de aqui e lá, aqueles que se apegam a Mesmo durante suas obras de abordagem mais geral
odres inflados e vãos, aqueles que nadam desesperados dos períodos históricos, feitas durante o princípio dos
para sobreviver apenas – e outros que resistem, no entan- anos sessenta, em Roma, já havia alguns trabalhos nos
to, outros que se atêm à mesa das bonae artes, outros que quais um rigor no trato dos documentos aparecia como
põem as mãos na construção de naviculae. E nenhum mais matricial, presente, por exemplo e como bem indicou Luka
do que estes é caro aos deuses.” Skansi anteontem, em seu primeiro artigo publicado, “A
O rio, a Vida, são chamadas como metáfora heráclita. primeira estrada da Roma moderna”.
“Ninguém é livre da vicissitude que a todos nós envolve, Sobre esse direcionamento intensivo de suas pesqui-
que todos somos.” Cacciari sugere nessa imagem não só sas para o Renascimento, que Tafuri passa a engendrar a
uma referência ao modo como seu colega entendia o tem- partir dos anos oitenta, é preciso acrescentar a mudança
po, mas sobretudo a sua profissão. Nesse sentido, coloca a supracitada no contexto político italiano, que passa a se
última obra de Tafuri, “Busca do Renascimento”, como um ocupar de novas questões e traz à tona um debate sobre
“Programa de filologia viva de filologia como amor pela temporalidades e formas de decisão sobre o real.
palavra viva, pelo clássico como isso que sempre nos in- Um mês antes de fazer a sua conferência sobre a “Dig-
terroga e põe em questão, para o clássico como essencial nidade do átimo”, Tafuri fez com seus alunos um seminário
das nossas mesmas inquietudes.” para discutir os temas de seu último curso, sobre a obra de
A virada de Tafuri ao Renascimento, complexa em suas Alberti. Nele estão contidas muitas referências ao conteú-
razões, foi de fato inspirada por um “interesse filológico”? do da sua fala, no mês seguinte.
Uma série de eventos e considerações teóricas explicam “Os conselhos albertianos sobre como se podem ser
esse interesse do autor, como a sua busca por uma histó- arquitetos maus ainda que virtuosos,” disse Tafuri, “não
ria da arquitetura feita por protagonistas mais do que por são válidos somente pra o ‘400: porque, repito, vivemos
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hoje em uma Veneza ainda mais moribunda (...)” Theogenius, uma visão depreciativa da presença do ho-
Durante o seminário, várias vezes o autor de “Busca do mem diante da natureza. Segundo a historiadora de arte
Renascimento” faz menção às lições que os textos e pro- Susanna Gambino, na interpretação de Alberti, “perene-
jetos de Alberti possuem para os seus alunos. Num curso mente descontente e insatisfeito, o homem termina por
que focou tanto na tensão entre os textos propositivos e ser um perigo para si próprio e para os outros, na verdade,
os ensaios críticos de sua época feitos pelo arquiteto ge- um inimigo para a natureza.”
novês, existia na estratégia pedagógica do autor de “Pro- O ceticismo do humanista e de Tafuri apontam numa
jeto e utopia” a construção de um diálogo entre a ética de direção similar: existe um limite nas ambições do homem,
jovens estudantes venezianos e das postulações de Alber- tanto na sua capacidade de saber e entender do mundo,
ti. Os “conselhos” do arquiteto são letra viva, e justamente quanto de seu poder de transformação do real. Gambino
por isso devem ser estudados. mostra como, no Theogenius, Alberti tece uma imagem
Não se trata de uma abordagem estranha às práticas de homem que diante de sua fragilidade, escolhe um ins-
de Tafuri como professor, cuja atenção aos humanistas o trumento errado: o ‘progresso violento e destruidor, mas
levava a tentar desenhar como eles, para entender melhor igualmente impotente’.
as intenções da forma de seus projetos. Entretanto, Alber- Nos primeiros anos de sua chegada em Veneza Tafuri
ti traz em seu trabalho geral não só uma grande noção se esforçou para mostrar o caráter ideológico das van-
de arquitetura e projeto decisório, mas também de uma guardas e sua relação biunívoca com um tipo de progresso
determinada compreensão de temporalidade. ligado ao grande capital industrial e com uma construção
“Também a história é um instrumento moderno”, dis- precária das cidades. Nos anos seguintes à essa linha de
se Tafuri, “nós queremos lembrar porque somos os seres estudos sobre categorias marxistas na arquitetura con-
mais destrutivos jamais nascidos sobre o solo do mundo, temporânea, o historiador constrói uma visão crítica da
portanto temos necessidade de lembrar como dele nos ex- modernidade nas suas postulações mais imemoriais. De
cluímos continuamente.” acordo com essa interpretação, o Renascimento tem di-
lemas que o contemporâneo levou ao extremo. Na “Dig-
Essa visão do homem como uma força destrutiva per
nidade do átimo”, o historiador italiano fala das guerras
se, nesse contexto, é um eco da filosofia albertiana. Exis-
mundiais e como a técnica vive “do desprezo de si mesma”.
te, nos seus trabalhos de caráter crítico, como Momus e
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Seu mergulho no Renascimento, portanto, é uma busca Na imagem tem-se uma noção de que as coisas vivas
pela origem. lentamente se tornam decadentes. A época em que Ta-
Entretanto, essa imersão revela sua filiação a uma de- furi via Veneza como a mais ‘moribunda’ coincidia com o
terminada visão do homem no mundo, que inspirou tam- seu aprofundamento em Alberti e os seus textos sobre
bém Alberti. O tempo do progresso, em contraste com um rios, fantasmas e morte. As razões não são acidentais: se
“tempo da natureza”, é um tema do epicurismo romano, o progresso, a modernidade, acelera a transformação da
sobretudo de Lucrécio. natureza pelo homem, também ela torna mais rápida uma
suposta decadência do mundo. Veneza, no entanto, recu-
Pode parecer um salto longo. No entanto, é certo que
sou a modernidade. Dessa decadência pode advir o átimo
Alberti, colega de Bracciolini na cúria papal, teve aces-
de transformação. O átimo e sua dignidade saltam a par-
so a essa obra, e teve seus escritos influenciados por ele,
tir de imagens de um tempo eterno e sempre longínquo:
segundo um artigo de Alison Brown publicado na I Tatti
às vezes, trata-se de uma metáfora orientalista, como a
Studies in the Italian Renaissance e aprofundado por Su-
kasbah de Argel ou nos contos zen, ou imagens naturais:
sanna Gambino num ensaio da Albertiana de 2001, no qual
os rios nos Intercoenales, o mar Adriático em Veneza, as
investigam-se aspectos lucrecianos no Theogenius.
montanhas do Himalaia em Chandigarh. Mesmo em obras
Nele, a citação direta a obra de Lucrécio é uma dis- de sua juventude, como “Projeto e utopia”, o Plan Obus não
cussão sobre a morte das coisas. A discussão acerca do tem seu diálogo somente com as ideologias modernistas,
fim da vida remete àquela concepção de tempo lento: “Do mas também com as “Colinas de Fort L’empereur e a linha
nosso primeiro princípio em vida pende o nosso fim em costeira”.
morte. Mas o nosso viver é outro que um morrer-se pou-
Tafuri não é literal em sua leitura da natureza que re-
co a pouco?” Alberti responde citando Lucrécio, uma das
monta a Lucrécio – um autor que raras vezes foi citado
primeiras traduções para o italiano vulgar feita do autor
em suas obras. No entanto, é presente, nos seus ensaios,
da antiguidade:
a existência de um “outro” não histórico, justamente para
que os seus textos, sua filologia, possam alcançar os sal-
Già poi che ‘l tempo con sue forze in noi
tos de raciocínio que unem tempos e permitem sua escrita
straccò e’ nervi e allassò le membra,
livre de quaisquer amarras de tradição, escolas e perío-
claudica el piede e l’ingegno e la lingua
dos de pesquisa. Mais do que um contraste, essas figuras
persin che manca ogni cosa in un tempo
não históricas são mediação entre os pólos improváveis
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e são cotejáveis à origem: o homem, na sua angústia de (...) [Arquitetura] Não faz parte do apocalipse do mun-
construir, tornou-se eminentemente destrutivo. Como do, antes é somente um pequeno grão, (...) O mundo que vai
historiador de cidades, Tafuri teve de lidar sempre com para isso, para a liberdade, para o progresso etc. Nós não
esse caráter destrutivo visceral que o urbanismo tem na acreditamos mais em nada disso, mas acreditamos que no
antecipação da nossa ruína. Se sua obra tem um viés crí- minúsculo que está aos nossos olhos (...) no minúsculo como
tico marcado por leituras impetuosas da arquitetura, essa em qualquer conto zen, existe um instante onde a redenção
força é testemunho de sua busca por uma teoria que desse da lama, da imundície, é possível. Nós todos juntos, não eu
saída desse terrível destino. só, podemos ter esses momentos dentro dessa classe.
As cidades são uma força que ultrapassam as eras e Não à toa, a “Dignidade do átimo” é uma palestra es-
tempos. São fundadas e refundadas com diferentes dese- colar. Se existe uma descrença na fase final da obra de
jos, postulações e mitos. No entanto, todas carregam um Tafuri, ‘a batalha ainda não terminou’, ela aparece pela
aspecto de Sísifo, de acentuação da destruição. construção de uma moldura teórica pessimista, da moder-
Única alternativa a essa teleologia distópica, Tafuri se nidade (e da humanidade) como “destrutiva”. No entanto,
ampara no átimo, o brilho de transformação da história, ela permanece atenta a centelha de potencial que se man-
que salta da linha do tempo, mas em termos sobretudo tém viva. Sua intensiva pesquisa em épocas passadas era
benjaminianos, aquele do brilho redentor. um meio de fazer das suas aulas em Veneza como local
de reflexão à distância da contingência. Era o seu modo
“Walter Benjamin”, disse Tafuri em seu seminário, “o
de buscar a “força messiânica” benjaminiana que as novas
maior pensador de arte desse século escreveu: ‘nós esta-
gerações – seus alunos, ou até mesmo todos nós reunidos
mos em um estado de emergência contínua.”
neste auditório enterrado na América do Sul – têm diante
E qual o campo no qual se enfrenta essa emergência? de um mundo em catástrofe.
Ao contrário do que o decisionismo pregava no campo in-
telectual italiano, Tafuri acreditava que o potencial maior
estava nas mais decadentes cidades, nos mais esquecidos
traços de história. Daí que, para os seus alunos, explique
a força do átimo:
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Filósofa Otília Beatriz Fiori ARANTES
FFLCH-USP, SP, Brasil
Entre Política e
Arquitetura -
Vídeoconferência
Between Politics and
Architecture -
Video conference
Tra politica e architettura -
Videoconferenza
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“A ‘dialética negativa’ de 1.
Manfredo Tafuri” Vou tentar esboçar em poucos traços o percurso teórico-
“Manfredo Tafuri’s negative -político de Manfredo Tafuri a partir da fala do Asor Rosa1,
‘dialectic’” inclusive como forma de prestar uma homenagem a esta fi-
“La ‘dialettica’negativa’ di gura que foi um dos grandes intelectuais italianos do último
Manfredo Tafuri” século. Minha exposição é pois, ao mesmo tempo, uma du-
pla homenagem (a Tafuri e Rosa). Minha referência principal
Otília Beatriz Fiori ARANTES ao imaginá-la foi o texto de sua conferência de 2004, por
ocasião dos 10 anos de morte de Tafuri, em seminário na
TraduçãoTranslationTraduzione Universidade Mediterrânea de Régio Calábria (na verdade, o
Anita Di Marco
Ann Puntch que acabamos de ouvir, mas um pouco mais expandido). Na-
quele evento, Rosa, embora se dizendo um não especialista,
se propunha analisar um dos textos mais utilizados em nos-
sos cursos de Arquitetura e citado por ele novamente hoje,
Por uma crítica da ideologia arquitetônica (em geral, entre nós,
na tradução portuguesa que já é da edição ampliada de 73:
Projeto e Utopia, Arquitetura e desenvolvimento capitalista).
Jusficava sua intervenção (ainda que não precisasse de mais
credenciais do que as que já possuía para fazê-lo) recorrendo
a uma razão de ordem pessoal: ter sido um texto que, segun-
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do ele, surgira de uma intensa e recíproca colaboração entre sua formação ao final dos anos 50, quando da retomada dos
ambos, tendo inclusive sido publicado no primeiro número estudos marxistas mais inventivos e heterodoxos na Itália,
da revista Contropiano (em 1969) recém criada e dirigida pelo foi sem dúvida ao se vincular ao grupo que está na origem de
próprio Rosa com a colaboração de Cacciari (como ele aca- Contropiano, na qual colaborarão vários intelectuais mem-
bou de referir e relembrou ontem De Michelis, com quem bros do PCI, que, inegavelmente, suas posições vão se radi-
involuntariamente vou acabar dialogando também, dada calizar, na direção daquilo que Asor Rosa chamará de “teoria
a convergência, que pude constatar ao ouvi-lo, em muitos política marxista-operária”.
pontos de nossos textos). A conferência de Rosa a que me Senão vejamos: voltando um pouco atrás e examinando
reporto tinha por título “Manfredo Tafuri, delle umanesimo o conteúdo de seu livro Teorias e História da Arquitetura (pu-
revisitado”, republicada posteriormente com algumas modi- blicado em 1968). Sem retirar dele a importância e a origina-
ficações, sob o título então de “Manfredo Tafuri, Progetto e lidade, fazia eco muito próximo a todo um debate travado na
Utopia. Arquitetura e sviluppo capitalístico”. Itália por um grupo de arquitetos e críticos preocupados em
Naquele momento Rosa, Tafuri, Cacciari, dal Co e outros definir um novo “estatuto” para a Arquitetura que passasse
formavam todo um grupo empenhado, entre outras coisas, pela crítica das ideias arquitetônicas até então dominantes,
nos termos do próprio Tafuri, em confrontar, de um ponto definindo parâmetros mais “rigorosos” de controle na produ-
de vista tanto político como teórico, as tendências do de- ção e avaliação da arquitetura. Algo que talvez tenha ganho
senvolvimento capitalista com a estratégia e tradição ideo- forma especialmente no encontro coordenado por Samoná
lógica do movimento operário organizado. Inspirava-os di- em 1966, em Florença, Teoria della projetazione architectoni-
retamente os trabalhos de Mario Tronti, especialmente seu ca, em parte inspirado na voga cientificista na área dos es-
livro, que acabara de ser publicado e que foi uma referência tudos sociais, da linguística à antropologia, e muito afinada
importante para todo o grupo nessa empreitada teórico-crí- com o pensamento estruturalista francês, combinada a uma
tica, Os operários e o capital, no qual afirmava, com a ênfase análise historiográfica, de inspiração marxista (cf. Rossi, Gre-
de quem inaugura uma heresia, que “todo o aparelho fun- gotti, Grassi, Semerani, Aymonino, Emilio Battisti, Canella,
cional da ideologia burguesa foi entregue pelo capital nas Purini, o próprio Tafuri, etc. – cujas intervenções estão na
mãos do movimento operário oficialmente reconhecido. O origem ou resumem seus livros tão nossos conhecidos: Ter-
capital já não gere a ideologia, fá-la gerir pelo movimento ritório da Arquitetura, Arquitetura da Cidade, Origem da Cidade
operário”. Transferia-se assim o foco da crítica à ideologia, Moderna ou mesmo o livro citado Teorias e História da Arqui-
ou a discussão sobre os grandes sistemas abstratos de pen- tetura, etc.). Nenhuma heresia nisso..., naquele momento o
samento, para o mundo do trabalho e para a práxis histórica casamento da linguística ou da semiologia com o marxismo
das relações de classe. Embora Tafuri recue à pré-história de dava o tom.
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Sabemos que, desde a Reconstrução, a Arquitetura Mo- cussão, intitulado “A arquitetura e o seu duplo: semiologia
derna italiana estava na berlinda, dados os vínculos que e formalismo”, onde ressalta o caráter “neo-positivista” do
manteve com o fascismo. As posições defendidas na revista estruturalismo. Já estava então claro para ele que a visada
Casabella (em nova fase), reativada por um grupo de Milão semiológica não atingia o grau de esclarecimento que só a
comandado por Ernest Rogers, e na revista Architettura de interpretação histórica, mais precisamente, dialética, pode
Zevi, que retornara dos Estados Unidos tomando partido por alcançar, desmascarando assim os novos esquemas ideológi-
um neo-organicismo, faziam da Itália o palco da mais acir- cos contrabandeados por uma tal abordagem, que, no máxi-
rada e interessante polêmica em torno dos novos rumos da mo, poderia ser “descritiva”.
arquitetura – neo-liberty, neo-racionalismo, regionalismo, Em resumo, visto que esta correção de rumo é funda-
neo-realismo, etc. Mas o núcleo de estudos mais sistemático, mental e será reiterada na introdução de seu livro A Esfera
combinando pretensões teóricas e programa arquitetônico, e o Labirinto, de 80: o que de fato teria acontecido, naquele
buscando fundamentação até mesmo científica para a ativi- momento (anos 60/70) em que o estudo das linguagens alta-
dade do projetar foi sem dúvida aquele que se concentrou na mente formalizadas, de simulação ou programação, quando
Escola de Arquitetura de Veneza, sob a liderança de Samoná, ocorreu um avanço extensivo da cibernética – tudo isto di-
e do qual Tafuri foi logo um dos membros de maior destaque retamente ligado à utilização capitalista da automação –, é
e professor de “História e Crítica da Arquitetura”, tendo assu- que a arquitetura, através da semiologia, pretendeu recupe-
mido a direção do respectivo departamento em 68. rar seu significado. O que seria uma contradição em termos,
Retomando a tônica daquele debate: o próprio Tafuri em segundo Tafuri, uma vez que, reduzida a signo puro, e assim,
várias ocasiões tentará justificar esse “abraço conciliador” (a a sua própria estrutura, a relações tautológicas que remetem
expressão é dele) entre visão histórica e linguística (entre a si mesmas num máximo de “entropia”, não pode recuperar
‘diacronia’ e ‘sincronia’ como se dizia), alegando o clima da para si significados “outros” através de técnicas de análise
época – por exemplo, nas reedições de Teorias e História da que partem precisamente da aplicação de teorias neopositi-
Arquitetura. A “crítica histórica” aí exposta, era, no fundo, vistas. Estas jamais poderão explicar a obra, quando muito
uma crítica tipológica e que pretendia definir sistemas, ser – talvez sua única contribuição – explicitar a sua funciona-
rigorosa, etc. Pecado do qual ele procura se redimir já na lidade no universo da “integração”: “o enfoque semiológico
segunda edição do livro, deixado intacto mas com ressalvas – diz ele – poderá fazer recair sobre si mesmo as leis da pro-
especialmente ao quinto capítulo, onde propunha tal casa- dução e da imagem, mas a explicitação de suas implicações
mento um tanto esdrúxulo, embora de rigor na época. Em pertence a outro método de dissecação”.
Projeto e Utopia, entre os muitos acréscimos e correções ao Não se trata portanto de discutir em abstrato se se pode
texto de 69, há um capítulo justamente dedicado a essa dis- utilizar as técnicas de análise da linguagem, apenas exami-
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nar alguns de seus parâmetros em nome de uma crítica “in- irrepetível daquela tentativa que, com razão ou sem, tinha
tencionalmente exterior” (ainda citando o Autor). Do mesmo um fascínio que de então até hoje não corresponde a algum
modo, observava, nesse mesmo livro: embora a ideologia ar- outro estímulo de natureza análoga: a idéia (para dizer de
quitetônica possua uma estrutura própria, precisa ser com- forma muito esquemática), que tudo seria possível, se o qui-
parada às outras ideologias do período, sendo assim neces- séssemos”. O “desencanto” posterior de Tafuri (e aliás não só
sário expandir a análise intrínseca ao objeto arquitetônico, dele) me fará “revisitar” outros textos, mas nos detenhamos
por assim dizer extravasá-la e passar da crítica meramente ainda nesse que seguramente foi o ponto máximo de infle-
descritiva para a explicitação das características e funciona- xão de todo um raciocínio sobre a natureza da arquitetura
lidade relativamente aos fins gerais que as forças dominan- moderna.
tes se propõem, naquele “espaço histórico”.2
O que estou querendo enfatizar aqui é justamente o sal- 2.
to qualitativo que me parece ter ocorrido a partir da Con-
Na verdade, poucos ensaios terão sido tão contundentes
tropiano e do texto do Tafuri de 69 nela publicado, mas, de
na avaliação do que ocorreu com a Arquitetura neste sécu-
forma ainda mais nítida, em sua reedição de 73. Dando o
lo, ao empreender a crítica da cidade funcional moderna e
tom do tipo de pensamento marxista que então começava
da ideologia da síntese pretendida pela planificação global
a se consolidar: nesse mesmo primeiro número da revista,
– as vicissitudes na realização dessas metas redundando,
Cacciari publica “Origem do pensamento negativo”, referido
na visão crítica do autor, na reversão e no esgotamento do
em longa nota3 na edição de Projeto e Utopia de 73, que in-
Projeto Moderno. Numa palavra: a ideologia de um “novo
corpora também parcialmente um outro ensaio dele próprio,
mundo” transformada, na nova cidade moderna, em espaço
Tafuri (publicado na Contropiano 2), “Trabalho intelectual”
institucional da sociedade burguesa; e sua forma racional-
(reminiscência do polêmico Franco Fortini?) – a partir da-
mente ordenada, em “utopia regressiva”. Esta, a chave da
quele momento as análises estarão cada vez mais centradas
interpretação de Tafuri nesse ensaio histórico: o processo
no mundo do trabalho e nas relações de produção. Na ver-
de formação da ideologia urbana como superação das mi-
dade o que se esboçava ali era uma tentativa de Crítica da
tologias tardo-românticas e a subsequente transformação
Economia Política da Arquitetura.
da mesma na ideologia do Plano e do design, cada vez mais
Na conferência de 2004, Asor Rosa dizia pretender, ao re- profundamente ligado à cidade, como estrutura produtiva,
visitar aquele texto de 69, “restituir para o leitor a fragrância portanto reduzido a “mecanismo operativo”. (Os brasileiros
2 Expressão que talvez já denote novas contaminações com o pensamento aqui presentes que porventura acompanharam meus traba-
mais recente francês, em especial Foucault, mas por enquanto deixemos isto lhos sobre o Movimento Moderno e minha crítica do assim
de lado.
chamado “projeto inconcluso” da modernidade, segundo
3 Nota 32.
494 495
Habermas, hão de reconhecer naquelas idéias uma das mi- quitetônica teria justamente cumprido entre nós o seu des-
nhas principais fontes de inspiração). tino, e por assim dizer de uma maneira privilegiada em sua
Voltando a Asor Rosa: ele estende esse mesmo raciocínio força de revelação. Pode-se até mesmo afirmar que a prova
a um outro texto publicado ainda em Contropiano 2, 1971 dos nove do Movimento Moderno acabou se verificando na
(referido aliás novamente na fala de hoje) – “Austro-marxis- periferia. Pois só aqui, e nas demais situações similares de
mo e citá” (republicado e ampliado quase uma década depois “dependência” estrutural, o espírito utópico do Plano pode-
junto com outros autores sob o título de Vienna Rossa, la ria ainda ser chamado a desenrolar-se ao pé da letra.
política residenziale nella Vienna socialista) –, em que Tafuri Aliás, creio que a nossa experiência com o Movimento
também denuncia a mesma reversão das expectativas, ou Moderno por certo algo em comum terá com a de um ita-
seja “a ilusão da socialdemocracia de integrar o conflito de liano (feitas obviamente todas as ressalvas de praxe) – num
classe no ‘ordenado’ desenvolvimento urbano”; e ainda a ou- país também a seu modo periférico em relação aos centros
tros estudos de Tafuri sobre a arquitetura na União Soviética, mais avançados (entre aspas, por certo), mas, por isso mes-
onde a contradição ainda seria mais clamorosa: “fagocitan- mo, sem dúvida mais sensível aos ventos modernizantes
do uma atrás da outra toda ideologia progressista européia, que aí podiam soprar sem nenhuma forma de resistência e
trazida pelos que vieram em seu socorro, resolvendo-a e portanto deixando mais expostas as marcas autoritárias e
neutralizando-a na totalizante ‘ideologia do plano’ (aquela predatórias da modernização arquitetônica, os seus compro-
realmente decisiva, porque decidida e comandada pela au- missos institucionais, etc. A ideologia de um “novo mundo”
toridade indiscutível do partido)”. (Os termos são do próprio se transforma, na nova cidade, em espaço institucional da
Rosa, que na fala de hoje acrescenta que seria a última chan- sociedade burguesa, e a forma racionalmente ordenada, em
ce da utopia revolucionária moderna ter se realizado). Não utopia regressiva, enfim, a chave mesma da avaliação de Ta-
por acaso, Tafuri, como outros do grupo, especialmente Dal furi. Textualmente: “A crise da arquitetura moderna se inicia
Co, detém-se na análise da arquitetura operária: as Siedlun- no preciso momento em que seu destinatário natural – o
gen alemãs, as Höffe vienenses, as habitações coletivas da grande capital industrial – faz sua a ideologia de fundo, dei-
União Soviética e, em todos esses exemplos, a decantação xando de lado a superestrutura. A partir de então a ideolo-
das contradições sociais na forma, especialmente na forma gia arquitetônica esgotou o seu papel. Sua obstinação por
urbana sob o signo da planificação. ver realizadas suas próprias hipóteses converte-se em mola
Creio que não seja forçar a nota estender o raciocínio para superar realidades atrasadas ou em fastidioso estorvo.
aos países “periféricos”, como o Brasil, pois o que aconteceu Com esta chave pode-se interpretar as involuções e a an-
com a nossa arquitetura moderna não foi apenas resultado gustiosa luta consigo mesmo do Movimento Moderno, de 35
de idiossincrasias locais, ao contrário, a “racionalização” ar- até hoje.” Não esqueçamos que então (anos 30) a Itália vivia
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em pleno fascismo e que boa parte dos arquitetos modernos marcha, que atrasam, que tentam impedir, etc. Citando Wal-
havia proposto um programa de uma arquitetura moderna ter Benjamin: o que importa não é o que a obra revela das
para os “novos tempos”. Mas a aparente involução de uma tal relações de produção, mas qual a função que ela tem dentro
arquitetura não se deve seguramente a meras conjunturas das relações de produção. (Aqui começa mais diretamente
políticas locais : elas apenas teriam propiciado as condições meu diálogo com De Michelis).
para que a ideologia arquitetônica dos modernos se mos- Um parêntesis: antes de tudo historiador, Asor Rosa, na-
trasse enquanto tal. quele 1º texto de 2004, detém-se sobretudo nas ligações
Hoje em dia, desfeitas as ilusões, novas ideologias são intrincadas entre crítica e história4, para ele, um problema
forjadas e “passa-se a persuadir o público que os desequi- nunca inteiramente resolvido por nosso autor, que inclusive
líbrios e o caos, típicos da cidade contemporânea são ine- teria acabado por decretar a morte da crítica numa entrevis-
vitáveis: melhor ainda, que este caos contém em si mesmo ta à Design Book Review em 1986. Possivelmente uma afirma-
riquezas inexploradas, possibilidades ilimitadas a utilizar, ção categórica que deve ser interpretada como sintoma do
valores lúdicos a propor como novos fetiches sociais” e assim desencanto de Tafuri com a arquitetura naquele momento e
por diante, – ainda segundo Tafuri, sempre pronto a desmis- consequentemente com a crítica sobre esta arquitetura, em
tificar o pensamento arquitetônico dominante, neste caso, geral limitada a revistas e exercida pelos próprios arquite-
pondo-nos já em guarda contra as “profecias de sociedades tos, “qui francamente sono cattivi storici” (provoca ele). Pouco
estéticas” em marcha: “A imaginação no poder ratifica o acor- depois (fevereiro de 1987), num encontro que tive com ele
do entre contestação e conservação, entre metáfora simbó- (para convidá-lo a vir ao Brasil), declarou-me que nada do
lica e processos produtivos, entre evasão e realpolitik”, dizia que estava ocorrendo na arquitetura lhe interessava, que
ele, após o anti-climax de 68. ele não falaria mais sobre a arquitetura atual e que seria daí
É portanto preciso proceder não apenas a uma crítica da para a frente apenas um historiador, passando-me os seus
arquitetura como produção ideológica, mas da própria críti- três últimos programas de curso (sua disciplina passara en-
ca e de seus instrumentos de análise, como, por exemplo, a tão a se chamar simplesmente “História da Arquitetura”): Ra-
semiologia, mas também a história da economia política, da fael Sanzio, Giulio Romano e Bramante. Talvez, como aliás
técnica etc. – que só poderão se apropriar de fragmentos da reconhece o próprio Asor Rosa: “uma história que se impõe
obra. Com uma ressalva importante: não se trata de apagar como resposta empírica e muito problemática (e quem sabe
as características específicas da arquitetura, explica Tafuri, um tanto desesperada) ao vazio aberto pela crise da crítica”
mas justamente de destacá-las mediante uma leitura capaz (acrescentemos: certamente acompanhando a própria crise
de trazer à tona o significado real das opções projetuais na
dinâmica das transformações produtivas que elas põem em 4 O que não vou aprofundar aqui, em parte já discuti na minha fala de aber-
tura deste “Ano de estudos Tafurianos”.
498 499
da arquitetura). Mas adverte ao fim desta fala de hoje: só ao que lhe é distinto está cheio de ideologia, mas, entre a
uma crítica profunda da ideologia arquitetônica pôde fazer ideologia incorporada pelos signos da obra e os modos cor-
dele o grande historiador da arquitetura em que se transfor- rentes de produção ideológica existe sempre uma margem
mou. Para ele é absolutamente impossível dissociar o Tafuri ambígua” (grifo nosso). O importante é reconhecer a maneira
crítico e o Tafuri historiador, o intérprete intransigente da como este salto funciona. O papel do crítico de arquitetura
arquitetura contemporânea, em seus compromissos sistêmi- sendo portanto não apenas o de denunciar como a lógica do
cos, e o historiador e analista minucioso das obras do pas- mundo material pode eventualmente se reproduzir na obra,
sado. (Exemplificando: o que restaria do belo livro, citado há mas de questionar, recorrendo novamente ao Benjamin: “de
pouco por Rosa, Venezia e il Renascimento, se ignorássemos que maneira, como instituição organizada, consegue mais
nele suas análises das relações entre a res edificatoria e a ou menos incidir nas relações de produção”. O que implica
mentalidade patrícia, os templos renascentistas e a “inquie- por o acento na dialética entre trabalho concreto e trabalho
tude religiosa” ou a autoritas política com suas disputas de abstrato, a história e a crítica de arquitetura (ao menos como
poder, e assim por diante?) ele ainda a concebe nesse livro) devendo ter como parâme-
3. tros históricos relativos – cito Tafuri – “as vicissitudes do
trabalho intelectual e os desenvolvimentos dos modos e de
Voltando ao nosso ponto: foi sem dúvida fundamental
relações de produção”. E, ao falar em trabalho intelectual,
naquela reviravolta a que vinha aludindo e que culmina nos
ele não está visando apenas o trabalho do crítico (ou do his-
anos 80, com o livro A esfera e o Labirinto, a influência cres-
toriador), mas também o de arquiteto.
cente dos alemães da Escola de Frankfurt, especialmente
de Walter Benjamin (na realidade mais um outsider), aliás Nesse momento, sua noção de dialética, que não com-
crescentemente traduzidos e comentados na Itália desde os porta qualquer possibilidade de totalização, de harmoni-
anos 60. Assim, dirá Tafuri que a dimensão política do traba- zação dos contrários, especialmente de uma síntese final
lho intelectual (inerente à arquitetura – o horizonte daque- (justamente o “pecado” do Movimento Moderno teria sido
le primeiro ensaio, tanto quanto deste livro é obviamente a pretensão de estabelecer a síntese das contradições con-
o trabalho do arquiteto) deve ser visto como resultado da tidas nas vanguardas, ou mesmo na história pregressa da
maneira como se inscreve no interior dos modos e relações arquitetura, através da forma urbana planificada – ou seja,
de produção, tanto quanto o “autor como produtor” de Ben- através da “ideologia do plano”) nos faz pensar (guardadas
jamin. Não como reflexo, veja-se bem, apesar de suas breves as diferenças) na crítica adorniana à dimensão afirmativa da
referências lucacksianas anteriores (ainda presentes em Pro- dialética, da qual a possibilidade de qualquer totalização ou
jeto e Utopia), aliás ele é muito taxativo em relação a isto em síntese está excluída. A nostalgia de uma tal síntese, segun-
A esfera e o labirinto: “O salto que a obra realiza em relação do Tafuri, se alimentaria do terror, num esforço de neutrali-
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zação das diferenças, dos jogos de linguagem e das práticas guagens plurais (Barthes ou Blanchot e o próprio Derrida)
de poder. Descarta portanto qualquer ideia de linearidade da não ultrapassando o umbral que distingue umas das outras,
história, de progresso e mais ainda de origem única. um sistema de poder de outro – enfim, falta-lhes o “espaço
Tentando levar às últimas consequências uma tal radica- histórico” diz Tafuri. Na verdade, para ele, o método genea-
lidade na análise do discurso arquitetônico, ou, como prefere lógico, ao contrário, redescoberto por Foucault, permite ao
nos anos 80, das estruturas arquitetônicas, Tafuri vai mais mesmo tempo desconstruir e reconstruir, produzindo novos
uma vez recorrer à filosofia francesa do período, então, aos significados e deslocando aqueles previamente estabeleci-
chamados pós-estruturalistas, em especial a Foucault e ao dos – e isto num movimento contínuo, nunca definitivo (no-
seu método genealógico, inspirado diretamente em Nietzs- vamente Nietzsche).
che, como se sabe.5 Como se explica Tafuri, citando o próprio Será necessário insistir? para ele, como no quebra-cabe-
Foucault: genealogia não se opõe à história, mas às teleolo- ça da História, de Guinsburg, onde as peças nunca se encai-
gias indefinidas, o que ela evita é a causalidade linear, é a xam inteiramente, e que serve de epígrafe à introdução de
busca de uma “origem”, é a meta-história com suas signifi- Esfera e labirinto, sequer se põe a questão de recompor uma
cações ideais.6 totalidade.7 “A combinação entre antecipações intelectuais,
Nessa empreitada negativa, de recusa de todo tipo de modos de produção e modos de consumo há de fazer ‘saltar’
apaziguamento ou de congelamento de significações está- a síntese contida na obra” – diz ele –, há de evidenciar sua
veis, também poderia contribuir o método desconstrutivo ambiguidade. O que por sua vez se reflete numa “fecunda
de um Derrida – afinal Tafuri não foi indiferente ao labo- incerteza” da própria análise – as expressões são do autor.
ratório de dissecação a que Eisenman sujeita a arquitetura, Ora, é apenas por um uso ideológico da história que se
especialmente a arquitetura Moderna de um Corbusier ou procura restituir ao homem tudo o que ao longo do tempo
Terragni –, mas o perigo, segundo ele, marcando sua distân- lhe escapa – falácia do ponto de vista “humanista”, da qual
cia, é que por este método de desconstrução infinita pode-se tenta justamente escapar Tafuri. Embora Asor Rosa fale em
chegar a uma disseminação como fim em si mesma, num pro- humanismo revisitado pelo nosso autor, em especial em sua
cesso contínuo de desmantelamento, em que as partículas
7 O texto citado de Carlo Ginzburg que utiliza a imagem do quebra-cabeça
que sobram passam a ter um valor nelas próprias, as lin- para caracterizar o caráter tortuoso e complexo da investigação histórica,
cujos resultados nunca são definitivos: “... mas à diferença dos quebra-cabe-
5 É conhecida a importância das leituras de Nietzsche na formação de Tafuri ças, em que as peças estão todas ao alcance da mão e a figura que se há
(bastante enfatizadas neste seminário e retomadas por de Michelis, para rela- de compor é uma só (e portanto o controle da exatitude das operações é
tivizar a influência do pós-estruturalismo francês), mas não vou rever este tó- imediato), na investigação as peças só estão disponíveis em parte e as figuras
pico, que também fez parte da minha fala citada na nota anterior. Reporto-me que se hão de compor teoricamente são mais de uma. Sempre existe o risco
aqui rapidamente apenas à releitura de Nietzsche feita por Foucault e citada de utilizar, conscientemente ou não as peças como blocos de um jogo de
no prefácio a que estou me referindo. construções. Por isto, o fato de que tudo esteja em seu lugar é um mau indício
6 Cf. o ensaio de Foucault: “Nietzsche, a genealogia e a história”. [etc....]”. Referido por mim e comentado na conferência citada.
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recapitulação histórica da arquitetura desde o Renascimen- niilismo compiuto, a expressão é de Cacciari em “Projeto e
to, reconhece que qualquer visão totalizante, happy ending niilismo” (publicado num número da Casabella de 1983, e que
incluído, implícita no humanismo (que aliás não é ideológico gerou uma polêmica que se estendeu por vários números).
de nascença, diga-se de passagem em tributo a Asor Rosa) Segundo Tafuri, não se trata da voga pós-moderna, a seu
está fadada ao fracasso, ao menos esta, segundo ele, a tría- ver de um niilismo “imperfeito”, sempre pronto a se desfazer
de tafuriana: projeto, utopia e fracasso. Perguntando-se ao a qualquer golpe de surpresa (e aqui ele está se referindo
final: aos arquitetos propriamente pós-modernos, cujo exemplo
1. Como se poderia tornar a conceber um moderno hu- mais acabado, na Itália, era para ele Portoghese), mas de
manismo, senão dentro da crise do moderno? um niilismo completo, acabado, realizado, consumado enfim
(accompli). Sem mais!
2. Como pois concebê-lo sem introjetar o niilismo, que é
componente essencial da crise do moderno? Passada mais de uma década de sua crítica à ideologia
arquitetônica do Movimento Moderno, Manfredo Tafuri pa-
3. Como ainda, se ao Projeto e Utopia sempre se associa
rece ter radicalizado sua posição com respeito à crise da ar-
o Fracasso, que não representa banalmente a negação, mas
quitetura, para a qual a produção pós anos 60 não apresenta
o destino final e irrenunciável, que é, a bem dizer, além da
uma verdadeira alternativa. A partir de então passa não só
aparência negativa, a completude, aquilo-que-não-pode-não-
a registrar o “desencanto” do mundo moderno – como no
-ser. Aqui encerro minhas referências a Asor Rosa para um
marxismo weberiano dos frankfurtianos? talvez, embora es-
último toque, conclusivo, no nosso esboço, mas aproveitan-
tes prefiram falar em sociedade totalmente administrada –,
do a deixa do niilismo referida por ele.
mas a adotar uma postura ela própria desencantada (nada
a ver com o “desencantada aceitação do real” pós-moderna
4. denunciada em E&L). O que se pode propor neste nível? per-
Passados seis anos (1986), em relação ao texto de A esfe- gunta-se. A “coragem de falar de flores” do protesto blasé
ra e o labirinto que vimos citando, ao concluir sua História da (nas suas próprias palavras) podia ao menos soar como con-
Arquitetura Italiana recente (1945-85), depois de caracterizar fissão e testemunho de uma “inadequação sofrida”; hoje em
esta como uma arquitetura em geral experimental, a meio dia, a ausência de perspectiva faz dos adeptos de uma “van-
caminho das soluções extremas – nem projeto puro, nem guarda desencantada” filósofos de alcova – lembrando o ca-
pura desconstrução, um intricado de perspectivismo e disse- pítulo de A Esfera e o Labirinto: “L’architecture dans le boudoir”
minação, de exorcização do futuro e de uma reaproximação (certamente já comentado neste seminário), referência óbvia
com o passado –, toma uma certa distância deste tipo de ao Marques de Sade e à tagarelice dos filósofos libertinos,
hibridização, contrapondo-lhe o que ele próprio chama de cujo cinismo justamente consistia em por o Iluminismo de
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ponta-cabeça. Mas, depois de dizer que não tem respostas um texto extremamente enigmático (como uma parábola de
a dar declara que também não quer aderir a tais fantasias, e Kafka), do próprio Benjamin, O caráter destrutivo, de 1931,
adverte: é preciso precaver-se contra o “pérfido encanto dos dando aparentemente um sentido à negatividade ou à cor-
produtos que saem dos novos laboratórios do imaginário”. O rosão ou exaustão perpetrada por Eisenman, que teria che-
crítico, “sorrindo, deverá catalogá-los no museu ideal da má gado ao limite da negação da obra, ao procurar destruir os
consciência da nossa ‘pequena época’, utilizando-os como rastros da própria destruição. (Referência às suas “casas de
espelhos retrovisores”, de modo a se situar “no interior da papelão”, especialmente a eleven.)
crise que obriga a permanecer firme no terreno minado do Se, ao concluir seu texto de 69 pelo qual começamos, ele
‘mau presente’”. afirmava que nenhuma salvação poderia ser encontrada no
Também sequer adere àquelas arquiteturas que optaram interior da própria arquitetura, nem mesmo buscando con-
por negar o real, numa total autoreferencialidade. Embora tra-espaços, e que era necessário denunciar o caráter mistifi-
procure entendê-las como única forma que encontraram cado do projetar, alcançando uma dimensão especificamente
de se auto-preservarem e de assim revelarem aquilo a que política – ou seja, pela destruição sistemática das ideologias
teria ficado reduzida a atividade projetual numa sociedade que acompanham as vicissitudes do desenvolvimento capi-
que não lhes permite mais cultivar qualquer tipo de ilusão talista que contaminam a própria arquitetura –, nesse final
redentora, as considera de uma “sublime inutilidade”. Não de texto sobre Eisenman que pareceria não deixar mais lugar
esqueçamos que, mesmo na obra de alguém de quem esteve para qualquer ultrapassagem do universo devastado da ar-
muito próximo – Peter Eisenman – não deixava de apontar quitetura, ele parece retomar, através de Benjamin, a famosa
para os riscos de um formalismo extremado, onde a “pobreza fórmula de Bakunin: “a paixão pela destruição é uma paixão
da experiência”, que, para Walter Benjamin, ao comentar a criativa”. Enfim, um manifesto certamente revolucionário em
arquitetura de vidro, era tida como o limite de onde algo de pleno fascismo e ascensão do nazismo, retomado cinquenta
decente poderia surgir (o grau zero de onde talvez brotasse anos mais tarde por Tafuri, diante dos impasses que ele via
a revolução), acabava por se reduzir a apenas uma simples projetarem-se à sua frente.
“nulificação da experiência” (Peter Eisenman – the Medita- Mas é difícil precisar o que seja exatamente, no desdo-
tions of Icarus) – portanto sem retorno ou promessas. bramento de sua reflexão crítica, o niilismo compiuto. Numa
Do silêncio de Mies ao de Rossi (de um lado), ou de Ei- leitura que lhe faça justiça, diria que certamente ele não
senman (de outro) afastávamo-nos cada vez mais das ex- está simplesmente abdicando de tudo, mas talvez radicali-
pectativas benjaminianas. Afinal os tempos já eram outros zando ainda mais a destruição dos rastros da própria destrui-
e a utopia benjaminiana já desaparecera do horizonte. Ao ção num mundo de expectativas reiteradamente frustradas.
mesmo tempo Tafuri conclui as “Meditações de Ícaro” com Sem querer no entanto formular nenhuma proposta alter-
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nativa, certamente um último gesto radical, num esforço de em tempos sombrios:
ir além das formas incompletas de negação: de regressão
romântica, de reintegração, de retorno, tão ao gosto do dia, “Que tempos são esses,
em especial da arquitetura dita pós-moderna, que ele tanto Quando falar sobre flores é quase um crime?”
critica. Única maneira de recolocar pela raiz a questão da .........
arquitetura, contra a profana atenção à diferença, o frívolo Mas como posso comer e beber, se a comida que eu como eu
discorrer, o relativismo dos significados, diz ele, comentando tiro de quem tem fome? se o copo de água que eu bebo, faz falta
a fórmula adotada por Cacciari (em História da Arquitetura a quem tem sede?
Italiana). Acredito eu que uma postura tão radical, como a de Mas apesar disso eu continuo comendo e bebendo.
Tafuri-Cacciari, pretenda trazer a arquitetura ao seu limite:
“à cadeia de catástrofes não há que dar meias respostas, ou A conclusão aparentemente blasé (mas só aparentemen-
refugiar-se no passado”. “A memória faz apenas emergir os te, ao menos na acepção do Simmel), de Tafuri, não seria
antagonismos a partir dos quais a arquitetura pode interro- simétrica? Quem sabe se não seria possível traduzir da se-
gar-se sempre mais a fundo”. guinte maneira: apesar de tudo, eu continuo a falar de arqui-
Na verdade, embora de impregnação marxista, verdade tetura. O paralelo talvez nos ajude a compreender de forma
que um tanto heterodoxa, como ele próprio confessa na “In- mais justa seu niilismo, possivelmente a forma mais extrema
trodução” ao livro que venho citando, A Esfera e o Labirin- e portanto talvez a mais produtiva (voltando a Benjamin e
to, Tafuri desde aquele momento (anos 80) parecerá oscilar Bakunin) de se contrapor aos tempos sombrios – não mais,
entre uma certa dialética negativa e um não menos inde- é claro, o do nazismo, em que sufocavam Brecht e Benja-
cifrável niilismo acabado, sem a contrapartida de qualquer min, mas aos novos tempos sombrios do capitalismo fim-de-
superação sublimatória ético-estética, ou algo no gênero. -século: tempos também daquelas formações monstruosas
No momento em que ele abandonou a pretensão de uma anunciadas por Gramsci, como a Itália berlusconiana, capí-
crítica à arquitetura recente para se refugiar na história, no tulo este que ele felizmente não chegou a assistir – morreu,
mínimo deu margem a que o seu niilismo fosse interpretado como todos sabemos, em fevereiro de 1994.
como aceitação da indecidibilidade, numa formulação então
à la page, ou de um certo cinismo estetizante em moda, ao
concluir, p.ex., sua entrevista à Ana Luiza Nobre, publica-
da na AU de 1993 (alguns meses antes de sua morte): “Num
tempo em que não é mais possível falar de flores, eu falo de
flores”. Na verdade, citando o famoso poema do Brecht, Vivo
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ideologia arquitetônica (in its Portuguese translation, which
is from the 1973 extended edition: Projeto e Utopia, Arqui-
tetura e desenvolvimento capitalista). He thus justified his
intervention (even when he did not need credentials beyond
those he already had) and highlighted a personal reason: it
was a text that came up from an intense and reciprocated
collaboration between them. The text was even published
in the first issue of the new Contropiano magazine (in 1969),
created and directed by Asor Rosa himself, with the collabo-
ration of Cacciari. Rosa has already mentioned Cacciari and
The Negative Dialectic of Manfredo Tafuri
also recalled De Michelis, with whom I will involuntarily dia-
logue, because of the convergence I noticed in many of our
texts after listening to his talk.
Rosa’s lecture to which I refer was entitled “Manfredo
1. Tafuri, delle umanesimo revisitado”, later republished with
some changes, under the name “Manfredo Tafuri, Progetto
I’ll try to track in a few paragraphs the theoretical politi-
e Utopia. Arquitetura e sviluppo capitalístico”. At that point,
cal path of Manfredo Tafuri, departing from Asor Rosa’s spee-
Rosa, Tafuri, Cacciari, Dal Co and others formed a cohesive
ch1, as a way to pay a tribute to one of the greatest Italian
group which, according to Tafuri himself, was dedicated to
intellectuals of the twentieth century. Therefore, my lecture
comparing, from a political and theoretical point of view, the
is at the same time a double homage (both to Tafuri and
tendencies of capitalist development with the strategy and
Rosa). My main reference is Rosas’s 2004 speech, on the tenth
ideological traditions of organized workers’ movement. Mario
anniversary of Tafuri’s passing away, in a symposium at the
Tronti’s work really inspired them all, especially his newly
Mediterranean University of Reggio Calabria (in fact, the one
published book Workers and Capital, which was also a major
we had just listened to, but extended a bit). At the conferen-
reference for the group in this critical theoretical journey. In
ce, albeit qualifying himself as a non-expert, he was to analy-
this book, with the emphasis of someone who inaugurates
ze one of the texts most often used in Architecture programs,
a heresy, Tronti states that “The entire bourgeois ideology’s
the same one he once again quoted today, Por uma crítica da
functional apparatus was delivered by capital into the hands
1 A reference to the video conference that preceded this exposition. of the officially recognized workers’ movement. Capital no
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longer manages ideology; it makes the workers’ movement furi himself, etc. – whose interventions are at the origins or
manage it.” Thus the focus of criticism was shifted to ideolo- summary of his well-known works The Territory of Architec-
gy, or the discussion of large abstract thought systems was ture, Architecture of the City, Origin of the Modern City, etc.,
shifted to the working world and to the historical praxis of and the oft-cited book Theories and History of Architecture).
class relations. Even though Tafuri retreats to his forma- No heresy here… at the time the marriage of linguistics or
tion’s pre-history at the end of the 1950s, by retaking more semiology with Marxism set the tone.
inventive and heterodox Marxist studies in Italy, it was dou- We know that Modern Italian Architecture has been in
btlessly by connecting with the founding group at the origin the spotlight since the post-war Reconstruction, due to its
of Contropiano magazine that his positions radicalized and ties with fascism. Two magazines defended positions setting
moved toward what Asor Rosa will call “Marxist-worker po- Italy as the stage for the most heated and interesting pole-
litical theory.” At that time, Contropiano magazine attracted mics around the new directions of architecture – neo-liber-
as collaborators various intellectual members of the Italian ty, neo-rationalism, regionalism, neo-realism, etc. They were
Communist Party. Casabella (in its new phase), reactivated by a Milan group
Let’s look at it by stepping back a little and examining led by Ernest Rogers, and Zevi’s Architettura. By then, Bru-
the content of his 1968 book, Theories and History of Archi- no Zevi had just returned from the United States advocating
tecture. Without denying its importance and originality, it neo-organicism. But the most systematic study center, which
closely echoed the debate in Italy among a group of archi- combined theoretical claims and the architectonic program,
tects and critics concerned with defining a new “statute” for and sought a scientific basis for design, was doubtlessly con-
architecture that would treat the critique of hitherto domi- centrated in the Venice School of Architecture, under the
nant architecture concepts, while it should define more “ri- leadership of Samoná. Tafuri was at once one of its most
gorous” parameters for production control and architecture outstanding members and a professor of the “History and
evaluation. This movement was taking shape as especially Criticism of Architecture”, having taken over the department
evidenced in the meeting coordinated by Samoná in 1966 directorship in 1968.
at Florence, Teoria della projetazione architectonica, partly We should recall the tone of that debate: on various oc-
inspired in the scientific vogue in social studies realm, from casions Tafuri himself will try to justify in his own words this
linguistics to anthropology, and much in tune with French “conciliatory embrace”: between the historical and linguis-
structuralist thought, and also combined with a Marxist tic visions, between “diachrony” and “synchronicity” (as the
inspired historiographic analysis (cf. Rossi, Gregotti, Grassi, expressions went), pointing to the atmosphere of the times
Semerani, Aymonino, Emilio Battisti, Canella, Purini, and Ta-
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– for instance, in the new editions of Theory and History tecture cannot recover for itself “other” meanings by using
of Architecture. The historical criticism there illustrated was analytical techniques that start precisely from the applica-
basically a kind of typological criticism, one that intended to tion of neopositivist theories. These can never explain the
define systems, to be rigorous, etc. A sin for which he sought work. Perhaps their only contribution, at most they can cla-
redemption in the second edition of the book, leaving it in- rify its functionality in the universe of “integration”: “the se-
tact, but with a caveat, especially in the fifth chapter, where miological focus”, he says, “can make the laws of production
he proposed this aberrant marriage, so in vogue at the time. and image fall back on themselves, but the explanation of
In Architecture and Utopia, among the many additions and their implications belongs to another mode of dissection.”
corrections to the 1969 text, there is a chapter dedicated to We are not therefore discussing in abstract whether we
this discussion, entitled “Architecture and Its Double: Semio- can use the techniques of language analysis; we are only
logy and Formalism”, where he emphasizes the neopositivist examining some of its parameters under the name of an “in-
nature of structuralism. By then it was clear to him that the tentionally exterior” criticism (still quoting the author). In a
kind of semiology thus proposed did not achieve the neces- similar fashion, he observes in the same book: while archi-
sary degree of clarification. Only a more precise, dialectical tectonic ideology has its own structure, it needs to be compa-
historical interpretation could achieve that, thus exposing red to other ideologies of the period, and thus it is necessary
the new ideological schemes smuggled by such an approach to expand the intrinsic analysis of the architectonic subject
that at most would be “descriptive”. to be able to move on from merely descriptive criticism to an
In short, since this course correction is fundamental and explanation of the characteristics and functionality relative
will be reasserted in the introduction to his book The Sphere to the general ends proposed by the predominant forces in
and the Labyrinth in 1980, when the study of highly forma- that “ historical space”. 2
lized languages of simulation or programming, when there What I want to emphasize here is exactly the qualitative
were also extensive advances in cybernetics, and all this di- leap that seems to have occurred starting from Contrapia-
rectly connected to the capitalist use of automation, in fact no and Tafuri’s 1969 text in that publication, and in a sheer
what has happened in the 1960s and 1970s was that archi- form in its 1973 reedition. Setting the tone for the type of
tecture, through semiology, intended to recover its meaning. Marxist thinking that was then beginning to consolidate, in
That would be a contradiction in terms according to Tafuri, this same first issue of the magazine Cacciari publishes “Ori-
since it reduced architecture to pure sign and then to its own
structure, to self-referencing tautological relationships that 2 An expression which perhaps already denotes the new contaminations with
more recent French thought, especially Foucault, but for the moment we will
refer to themselves in a maximum of “entropy”, so that archi- leave that aside.
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gem do pensamento negativo”, referred to in a long note3 world” was transformed into institutional spaces of bourgeois
in the 1973 issue of Projeto e Utopia, which also includes society, and its rationally ordered form in a “regressive uto-
part of another Tafuri essay, (published in Contropiano 2), pia”. This is the key to read Tafuri in this historical essay: the
and also “Intellectual work” (reminiscent of the controversial process of urban ideological formation as an overcoming of
Franco Fortini?). From that moment on, the analyses will be late Romantic mythologies and the subsequent transforma-
increasingly centered on the world of work and relations of tion of this urban ideology into ideology of the plan and of
production. In fact, what was outlined there was an attempt the project, ever more deeply linked to the city as a produc-
at a Critique of Architecture’s Political Economy. tive structure, however reduced to an “operative mechanism”.
At the 2004 speech Asor Rosa said he intended to revi- (Brazilian people here who may have followed my works on
sit that 1969 text and “to restore for the reader the unique the modernist movement and my criticism of the so-called
sense of what, whether reasonable or not, had a fascination “unfinished project” of modernity, according to Habermas,
which until today does not correspond to any other stimulus must recognize in those ideas one of my major sources of
of an analogous nature: (to put it more schematically) the inspiration).
idea that everything is possible if we want it.” Tafuri’s later Back to Asor Rosa: he extends this same reasoning to
disenchantment (and not just his) will make me “revisit” other another text also published in Contropiano 2, 1971 (refer-
texts, but we will still dwell on this, which certainly was the red to again in today’s talk, by the way) – “Austro-marxismo
high point of inflection in the entire reasoning about the na- e cittá” (republished and expanded almost a decade later
ture of modern architecture. together with other authors under the title Vienna Rossa, la
política residenziale nella Vienna socialista). In this article
Tafuri also denounces the same reversal of expectations, i.e.,
2.
“the illusion of social democracy about integrating class con-
Indeed few essays have been so forceful in evaluating flict into the ‘ordered’ urban development”. Rosa extends this
what happened to architecture in this century, in undertaking same reasoning to Tafuri’s other studies of architecture in the
a criticism of the modern functional city and the ideology of Soviet Union, where the contradictions would be even more
synthesis intended by global planning – the vicissitudes in clamorous; “engulfing one after another all the progressive
achieving these goals, leading to the author’s critical view, in European ideologies, brought by those who came to its aid,
the reversion and in the exhaustion of the Modernist Project. resolving them and neutralizing them into a totalizing ‘ide-
In a word: in the new modern city the ideology of a “new ology of the plan’ (which was really decisive because it was
3 Note 32. decided and commanded by the indisputable authority of the
516 517
party).” (The words are Rosa’s, who in his today’s talk adds bourgeois society, and the rationally ordered form became a
that it would be the last chance for the modern revolutionary regressive utopia, the key to Tafuri’s evaluation. In his words,
utopia to be achieved). Tafuri, like others in the group, espe- “The crisis of modern architecture begins at the precise mo-
cially Dal Co, not by chance, dwell on the analysis of workers’ ment in which its natural recipient, industrial capital, makes
architecture: the German Siedlungen, the Viennese Höffe, the background ideology its own, leaving superstructure asi-
the collective residences of Soviet Union, and the decanta- de. From then on architectonic ideology exhausted its role.
tion of social contradictions into form in all these examples, Its obstinacy in seeing its own hypotheses realized becomes
especially in the urban one under the planning sign. a stimulus for overcoming backward realities or a tedious en-
I don’t think it would be an exaggeration to extend this cumbrance. With this key one can interpret the involutions
reasoning to the “peripheral” countries, such as Brazil, since and the agonizing self-struggle of the Modernist Movement
what has happened with our Modern Architecture was not from 1935 until today.” We cannot forget that at the time
just the result of local idiosyncrasies. On the contrary, the ar- (1930s) Italy was living under full fascism and that a number
chitectonic “rationalization” would have rightly achieved its of modern architects had proposed a modern architecture for
destiny among us, and one could say, in a privileged manner, the “new times”. But the apparent involution of such an ar-
in its strength of revelation. One could even state that the chitecture is not due to mere local political context: it only
real test for the Modernist Movement ended up occurring on provided the conditions in which modern architectonic ideo-
the periphery. Just here, and in similar situations of structural logy could show itself as such.
“dependency”, the utopian spirit of the Plan could still be Today, as the illusions were dispelled, new ideologies are
called upon to be unfolded to the letter. forged and “the public is persuaded that the imbalances and
I even believe that our experience with the Modernist Mo- chaos typical of contemporary cities are inevitable: better
vement certainly has something in common with the Italian yet, this chaos contains within itself the same unexplored
movement (all the obvious routine reservations made) – in riches, limitless opportunities to exploit, ludic values to pro-
a country which is also peripheral, in its way, in relation to pose new social fetishes” and so forth. According to Tafuri,
more advanced centers (quotation marks, of course) but, by who was always ready to demystify dominant architectural
the same reason, it was doubtlessly more sensitive to the thought and in this case making us aware about the ongoing
winds of modernization that could blow without any kind “prophecies of aesthetic societies”: “Imagination in power
of resistance and therefore, leave the authoritarian and pre- ratifies the agreement between contestation and conserva-
datory marks of architectonic modernization more exposed, tion, between symbolic metaphor and production processes,
its institutional commitments, etc. In the new city, the “new between evasion and realpolitik,” he used to say after 1968’s
world” ideology is transformed into institutional space for anti-climax.
518 519
Therefore we need to proceed not just with architectural ture and, from then on, he would be just an historian. He
criticism as ideological production, but also of criticism itself then gave me his last three program courses (his discipline
and its analytical tools, such as semiology, and also the his- would be called simply “The History of Architecture”): Rafa-
tory of political economy, of techniques, etc. – which can only el Sanzio, Giulio Romano and Bramante. Perhaps, and Asor
grasp fragments of the work. With one important caveat: this Rosa himself recognizes by the way, “a history that imposes
is not just erasing the specific characteristics of architecture, itself as a very problematic (and maybe a bit desperate) em-
explains Tafuri, but exactly highlighting them by a way of pirical answer to the void opened by the crisis of criticism”
reading which is able to bring out the real meaning of project (and we add: accompanying the crisis of architecture itself
options within the dynamics of the productive transforma- for certain).
tions they set in march, which hinder, which try to prevent But at the end of today’s talk he cautions: only a profou-
it, etc. Quoting Walter Benjamin, “it is not what the work nd criticism of architectonic ideology was able to make him
reveals about the relations of production that matters, but the great architectural historian into which he became. For
the function it has within the relations of production. (Here him it is absolutely impossible to dissociate Tafuri the cri-
my direct dialogue with De Michelis begins). tic from Tafuri the historian, the intransigent interpreter of
Let me open a parenthesis. Asor Rosa, above all an histo- contemporary architecture in its systematic commitments as
rian, dwells in that first text from 2004 mainly on the com- well as the historian and detailed analyst of past works. (To
plicated connections between criticism and history4, which exemplify: what would remain of the beautiful book quoted
was to him a problem never entirely settled by our author, recently by Rosa, Venezia e il Renascimento, if we were to
who also would end up declaring the death of criticism in ignore the analysis of relations between the res edificato-
an interview to Design Book Review in 1986. Perhaps this ria and the patrician mentality, the Renaissance temples and
is a categorical statement that should be read as a symptom “religious inquietude”, or the political auctoritas with their
of Tafuri’s disenchantment with architecture at that moment power disputes, and so on?).
and consequently with criticism of that architecture, gene-
rally limited to journals and done by architects themselves,
3.
“qui francamente sono cattivi storici” (as a challenge). A whi-
le later (February 1987), at a meeting when I invited him to Back to our point: the growing German influence from
visit Brazil, he told me that nothing in architecture interested Frankfurt School, especially Walter Benjamin (in reality ano-
him anymore; so he wouldn’t speak about today’s architec- ther outsider) who were increasingly translated and commen-
ted upon in Italy starting from the 1960s was doubtlessly
essential in that overturn to which he was alluding, which
4 Which I will not go into deeply here: I partially discussed this in my opening
remarks for the “Year of Tafuri Studies”. culminated in the 1980s with the book The Sphere and the
520 521
Labyrinth. Thus, Tafuri would say that the political dimen- particularly some final synthesis. (Modern Movement’s sin
sion of intellectual work (obviously the work of the architect, would have been exactly the claim of establishing a synthesis
inherent to architecture which was the horizon of that first of the contradictions contained in vanguard, or even in the
essay as much as this book) should be seen as a result of the previous history of architecture, through the urban planning
way in which it is inscribed inside the modes and relations of form, i.e., through the “plan ideology”). Tafuri’s notion of dia-
production, as much as Benjamin’s “author as producer.” Not lectics leads us to think (differences maintained) of Adorno’s
as a reflex, obviously, but despite its brief earlier references criticism of the affirmative dimension of dialectics, in which
to Lukács (still present in Projeto e Utopia). By the way, he is the opportunity for any totalization or synthesis is excluded.
categorical about this in The Sphere and the Labyrinth: “The Nostalgia for such a synthesis, according to Tafuri, is fed by
leap that the work does in relation to what it is distinctive is terror, in an effort to neutralize differences, language games
filled with ideology, but there always is an ambiguous margin and the practices of power. He therefore refuses any idea of
(our emphasis) between the ideology incorporated by the sig- linear history, of progress, and even further, of a single origin.
ns of the work and the current modes of ideological produc- In an attempt to lead such radicality in the analysis of
tion.” The point here is to recognize the way this leap works. the architectonic discourse to the ultimate consequences,
The role of architectural criticism, being therefore not just to or the architectonic structures, as he then preferred, Tafuri
denounce how the logic of the material world can eventually will once again refer to the French philosophy of the time,
reproduce itself in the work, but to ask, and Benjamin is the to the so-called post-structuralists, especially Foucault and
source again: “ how, as an organized institution, it manages his genealogical method, directly inspired in Nietzche, as we
more or less to impose itself on the relations of production.” know.5 As Tafuri explains, quoting Foucault himself: genea-
This means putting the emphasis on the dialectic between logy does not opposes history but rejects the undefined te-
concrete and abstract work, history and criticism of architec- leologies; it avoids the linear causality and the search for an
ture (at least as he still conceives it in this book), and which “origin”, it opposes metahistory and its ideal meaning.6
should have as relative historical parameters, and I quote
To this negative endeavor of refusing any kind of appea-
Tafuri, “the vicissitudes of intellectual work and the develo-
pments of modes and production relations.” By speaking of
5 The importance of Nietzsche’s lectures to Tafuri’s formation is known (emphasi-
intellectual work he is not just envisioning the work of the zed enough in this seminar and retaken by De Michelis to relativize the influence
critic (or historian) but also that of architects. of French post-structuralism), but I will not review this subject which is also part
of my speech cited in the earlier footnote. Here I slighly refer just to Foucault’s
At this point, his notion of dialectics does not carry any re-reading of Nietzsche cited in the preface to which I have refered.
possibility of totalization, harmonization of contraries, and 6 Cf. Foucault’s essay, “Nietzsche, Genealogy, History”.
522 523
sement or freezing stable meanings, Derrida’s deconstructi- of production and modes of consumption will ‘ highlight’ the
ve method can also contribute – in the end, Tafuri was not synthesis encompassed by the work, he says, it has to show
unconcerned with the laboratory of dissection to which Ei- its ambiguity.” This in turn reflects itself in an “uncertain
senman subjects architecture, especially the modern archi- fecundity” of the analysis itself – the expressions are the au-
tecture of a Corbusiser or Terragni – but the danger, accor- thor’s.
ding to him, and marking his distance, is that by this method Now, it is only for an ideological use of history that one
of infinite deconstruction one can arrive at dissemination as seeks to restore to humans all that which has escaped them
an end in itself, in a continuous process of dismantling, in over time – the fallacy of the “ humanist” point of view,
which the particles left can assume a value on their own, and exactly the one from which Tafuri attempts to evade. Even
the plural languages (Barthes or Blanchot and Derrida him- though Asor Rosa speaks of the humanism revisited by our
self ) do not overcome the threshold that distinguishes one author, especially in his historical review of architecture sin-
from the other, a system of power of the other – finally, they ce the Renaissance, he recognizes that any totalizing vision,
lack “ historical space”, says Tafuri. In reality, for him the ge- happy ending included, implicit in humanism (which by the
nealogical method rediscovered by Foucault permits on the way is not ideological by birth, we say in passing in tribute to
contrary simultaneous deconstruction and reconstitutions, Asor Rosa), is destined to failure, at least this one, which ac-
producing new meanings, and displacing those previously cording to him is the Tafuri triad: project, utopia and failure.
established – and this in a continuous, never definitive mo- Then he asks at the end:
vement (Nietzche again).
1. How would it be possible to conceive a modern huma-
Must we insist? For him, like Guinsburg’s puzzle of his- nism if it is not within the crisis of modernism?
tory where the pieces never entirely fit, and which serves
2. How then to conceive it without introjecting nihilism,
as an epigraph to the introduction of The Sphere and the
which is an essential part of the crisis of modernism?
Labyrinth, questions about recomposing a totality are never
asked.7 “The combination of intellectual anticipations, modes 3. And furthermore, if Failure is always associated to Pro-
ject and Utopia, and failure does not mean trivial negation,
7 The text quoted by Carlo Ginzburg who used the puzzle image to characteri-
but the final and incontrovertible destiny which, beyond its
ze the tortuously complex nature of historical investigation, whose results are negative appearance, is the completeness, that- which-can-
never definitive: “…but differently from the puzzles in which the pieces are all
within the reach of a hand and the figure that one must compose is only one (and
therefore, the control of the exactitude of the operations is immediate), in the consciously or not, the pieces as blocks in a game of constructions. For this
investigation, the pieces are only available in part and the figures that must be reason, the fact that everything is in its place is a bad indicator (etc...)”. Referred
theoretically composed are more than one. There always exists the risk of using, to and commented upon by me in the refered conference.
524 525
not-not-be. ve. From then on, he not only began to register the “disen-
Here I close my references to Asor Rosa with a final issue chantment” of the modern world – as in Weberian Marxism
which is conclusive in our outline, but as well as taking ad- of the Frankfurt School members? maybe, although perhaps
vantage from the clue about nihilism he referred to. the latter ones should rather speak about a totally mana-
ged society – but also foster a disenchanted stance (nothing
to do with the postmodern “disenchanted acceptance of the
4. real” denounced in S&L). What can be proposed at this le-
Six years after (1986), with respect to the text The Sphere vel? he asks himself. The “courage to speak of flowers” of a
and the Labyrinth which we have been quoting, when he con- blasé protest (in his own words) could at least sound like a
cluded his History of Italian Architecture (1945-85) and after confession and testimony to a “ bearing unbecoming”; today,
characterizing it as a generally experimental architecture, the lack of perspective turns subscribers of the “disenchan-
halfway between extreme solutions – neither pure design, ted avant garde” into mere alcove philosophers – recalling a
nor pure deconstruction, a tangle of perspectivism and dis- chapter in The Sphere and the Labyrinth, “L’architecture dans
semination, of exorcism of the future, and of a reapproxima- le boudoir” (certainly already refered in this symposium), an
tion with the past – he takes some distance from this kind obvious reference to the Marquis de Sade and the blatherings
of hybridization and contraposes it to what he himself calls of libertine philosophers, whose cynicism consisted exactly
compiuto nihilism. (The phrase is from Cacciari in “Projeto e in turning illuminism upside down. But after saying that he
niilismo” published in an issue of Casabella in 1983 which does not have answers, he declares that he does not want
provoked a great polemic which continued for several issues). to acquire such fantasies, and warns: beware of the dangers
According to Tafuri, this is not the postmodern fashion, in his from “the enchanting perfidy of the products that emerge
vision of an “imperfect” nihilism, always ready to avoid any from the new laboratories of the imagination.” The critic,
surprise (and here he is referring to the postmodern archi- “smiling, should catalogue them in the bad conscience’s ideal
tects themselves whose most fulfilled example in Italy was museum of our ‘little epoch’, utilizing them as rearview mir-
Paolo Portoghese to him) but of a complete, finished, accom- rors”, in such a way as to locate oneself “inside the crisis that
plished, consummated nihilism, in a word accompli. Without requires remaining firmly on the ‘ bad present’ minefield”.
further ado! He does not even adhere to those architectures which
Over a decade after his criticism of Modernist Movement chose to deny reality in a total move towards self-referentia-
architectonic ideology, Mandredo Tafuri seems to have radi- lism. Although he seeks to understand them as the only way
calized his position about the crisis in architecture, to which these architectures found for the sake of self-preservation,
the post-1960s production does not present a true alternati- and thus to reveal the point into which design activity would
526 527
have been reduced to in a society that no longer allows them along with the vicissitudes of capitalist development and
to cultivate any kind of redemptory illusions, he considers it which inoculated architecture itself – at the end of the text
a “sublime pointlessness”. We cannot forget that, even in the about Eisenmann, which seemed to leave no more room for
work of someone to whom he had been very close – Peter overtaking the devastated universe of architecture, he seems
Eisenman – he pointed to the risks of an extreme formalism, to resume Bakunin’s famous formula through Benjamin: “the
where “poverty of experience” – considered by Walter Benja- passion for destruction is a creative passion.” Finally, a clear-
min the limit from which something decent could arise (the ly revolutionary manifesto under full fascism and the ascen-
zero point from where, maybe, revolution could sprout) when sion of nazism, taken up again by Tafuri 50 years later, facing
commenting on the glass architecture – ended up becoming the impasses he saw ahead.
a sheer “nullification of experience” (Peter Eisenman – The But it is difficult to define exactly what compiuto nihilism
Meditations of Icarus) – therefore, without return or promi- means in the unfolding of his critical reflection. In a reading
ses. that does him justice, I would say that he certainly is not
From the silence of Mies to that of Rossi (on one side), or dismissing everything, but perhaps he is radicalizing even
of Eisenman (on the other) we have been increasingly away further the destruction of destruction traces themselves in
from Benjamin’s expectations. After all, times were different a world of recurring frustrated expectations. Nevertheless,
and Benjamin’s utopia had already disappeared from the ho- he doesn’t want to formulate any alternative proposal, whi-
rizon. At the same time Tafuri concludes his Meditations of ch would clearly be a last radical gesture in an effort to go
Icarus with an extremely enigmatic text (like a Kafkian pa- beyond the incomplete forms of negation of Romantic regres-
rable), by Benjamin himself, The Destructive Character from sion, reintegration, and of return, so becoming the likes of the
1931, and at first sight giving a sense to the negativity or day, especially of so-called postmodern architecture which
corrosion or exhaustion perpetrated by Eisenman, who would he criticizes a lot. This radicalization would be the only way
have arrived at the limit of denying the work, in trying to to get into the roots of the architecture issue, as against the
destroy the traces of the destruction itself. (Reference to his profane attention to difference, the frivolous discourse, the
“cardboard houses” especially number eleven). relativism of meanings, he says, commenting on the formula
If, at the end of his 1969 text with which we began, he adopted by Cacciari (in The History of Italian Architecture). I
states that there is no salvation to be found inside archi- believe a radical stance as that of Tafuri-Caccciari, intends to
tecture itself, nor even in the search for counter-spaces, and bring architecture to its limit: “We cannot give half answers
that it is necessary to denounce the mystifying nature of the to the chain of catastrophes or take refuge in the past.” “Me-
design activity, reaching a specifically political dimension, mory only makes the antagonisms emerge and based on the-
i.e., by the systematic destruction of the ideologies that go se architecture can ask ever deeper questions.”
528 529
In fact, although impregnated with Marxism, even though the following manner: despite everything, I continue to speak
a somewhat heterodox, as he himself confesses in the “Intro- about architecture? The parallel perhaps may help us to un-
duction” to the book I have been quoting, The Sphere and derstand his nihilism more fairly, possibly the more extreme
the Labyrinth, from that time (1980’s) on, Tafuri will seem to form and therefore perhaps the most productive (returning
oscillate between a certain negative dialectics and a no less to Benjamin and Bakunin) to counter the dark times, no lon-
indecipherable finished nihilism, without the counterpart of ger of course that of nazism, in which Brecht and Benjamin
any sublimatory ethical-aesthetic overcoming or something suffocated, but to the new dark times of end-century capita-
like that. At the moment he had put aside the pretension of lism: times also of those monstrous formations announced by
criticizing recent architecture to search refuge in history and Gramsci, such as the Berlusconian Italy, a chapter he luckily
at least he provided us some drift so that his nihilism can be did not live to see – he died, as everybody knows, in February
interpreted as acceptance of undecidability, in a fashionable 1994.
formulation, or of a certain kind of aestheticizing cynicism in
fashion, when he concluded for example his interview with
Ana Luiza Nobre, published in AU magazine in 1993 (a few
months before his death): “At a time in which it is no longer
possible to speak of flowers, I speak of flowers.” In fact, quo-
ting the famous Brecht poem, “I Live in Dark Times”:
530 531
Paolo MORACHIELLO Andrea GUERRA
Paolo Morachiello é profes- Professor Associado, Departa-
sor de História da Arquitetura na mento de Culturas do Projeto, IUAV
Universidade IUAV de Veneza. Ele de Veneza. Ele obteve seu diploma
estudou a arquitetura do mundo em “Arquivamento, Paleografia e
antigo, a figura do engenheiro en- Diplomacia” nos Arquivos do Estado
tre os séculos XV e XIX, arquitetura de Veneza em 1986. Em 1992, ele
e arte na era moderna. Entre suas obteve seu doutorado em “História
publicações: Vitruvius e Raphael. O da arquitetura e planejamento urba-
“De Architectura”, de Vitruvius, na no” (IUAV). Pesquisador desde 1996,
Participantes tradução não publicada de Fabio desde 2005 é professor associado
de História da Arquitetura. Ele é
Participants Calvo Ravennate (com V. Fontana,
membro do doutorado em pesquisa
Roma 1975); Nascimento de cidades
Partecipanti do estado. Engenheiros e arquitetos em história da arquitetura e planeja-
sob o Consulado e o Império (com mento urbano da Escola de Doutora-
G. Teyssot, Roma 1983); Imagens do do da Universidade IUAV de Veneza.
engenheiro entre os séculos XVIII A arquitetura, as igrejas e os proje-
e XVIII (com A. Biral, Milão, 1985); tos de Palladio para Veneza são um
Rialto: as fábricas e a ponte (com D. tópico de pesquisa plurianual, cujos
Calabi, Turim 1987); Beato Angeli- resultados foram apresentados em
co. Os afrescos de San Marco (Milão conferências internacionais.
1995). Para os nossos tipos, a cidade Professore associato, Departa-
grega (2008). mento di Culture del Progetto, IUAV
di Venezia. Ha ottenuto il diploma
Paolo Morachiello è docente di in “Archivistica, paleografia e diplo-
Storia dell’architettura presso l’Uni- matica” presso l’Archivio di Stato di
versità IUAV di Venezia. Ha studiato Venezia nel 1986. Nel 1992 ha conse-
l’architettura del mondo antico, la guito il dottorato di ricerca in “Storia
figura dell’ingegnere tra XV e XIX dell’architettura e dell’urbanistica”
secolo, l’architettura e l’arte in età (IUAV). Ricercatore dal 1996, dal
moderna. Tra le sue pubblicazioni: Vi- 2005 è professore associato in Storia
truvio e Raffaello. Il “De Architectura” dell’architettura. È membro del colle-
di Vitruvio nella traduzione inedita di gio del dottorato di ricerca in Storia
Fabio Calvo Ravennate (con V. Fonta- dell’architettura e dell’urbanistica
na, Roma 1975); Nascita delle città di nella Scuola di dottorato dell’Univer-
Stato. Ingegneri e architetti sotto il sità IUAV di Venezia. L’architettura di
Consolato e l’Impero (con G. Teyssot, Palladio, le chiese e i progetti per Ve-
Roma 1983); Immagini dell’ingegnere nezia, costituiscono un tema di ricerca
tra Quattro e Settecento (con A. Biral, pluriennale, i cui risultati sono stati
Milano 1985); Rialto: le fabbriche e presentati in convengi internazionali.
il ponte (con D. Calabi, Torino 1987);
Beato Angelico. Gli affreschi di San
Marco (Milano 1995). Per i nostri tipi,
La città greca (2008).
532 533
Luka SKANSI Donatella CALABI Christoph FROMMEL Rafael MOREIRA
Luka Skansi, historiador da ar- Donatella Calabi é Professora Professor Associado da Facul-
Christoph Luitpold Frommel
quitetura, é professor associada no Titular de História Urbana da Uni- dade de Ciências Sociais e Humanas
obteve o título de Doutor em Filo-
Politecnico di Milano. Ele se formou versidade IUAV de Veneza (fundada da Universidade Nova de Lisboa.
sofia, graduando-se na Universida-
em arquitetura na IUAV, Veneza, como Instituto de Arquitetura da Licenciatura em História, Faculdade
de de Munique em 1959. Nove anos
onde também obteve seu doutorado Universidade de Veneza) e Profes- de Letras de Lisboa (1975); Mestra-
depois, em 1968, obteve o título de
em 2006 com uma pesquisa sobre sora Visitante no L’Ecole des Hautes do em História da Arte, Univ. Nova
Doutor em Filosofia na Universida-
a Rússia pré-revolucionária (1900- Etudes de Paris, Academia Britânica, de Lisboa (1982); Doutoramento em
de de Bonn. Frommel foi nomeado
1917). Seus interesses de pesquisa Universidade de Leicester, Facul- História da Arte, UNL (1991). Desde
Doutor Honorário de Filosofia pela
incluem arquitetura e engenharia dade de Arquitetura na Universida- 1978 é docente no Dep. de História
Universidade de Nápoles em 1997.
italianas do século XX, arquitetura de de São Paulo, Brasil, bem como da Arte da UNL, onde é Professor
Christoph Frommel iniciou sua car-
russa e soviética e arquitetura na em muitas outras universidades Associado de nomeação definiti-
reira como companheiro e assisten-
ex-Iugoslávia. Ele escreveu ensaios distintas. Ela é ex-presidente da va. Especializado em Renascimen-
te de ensino em 1959 na Bibliotheca
e artigos sobre Carlo Scarpa, Aldo Associação Européia de Historiado- to, com duas áreas: “Arte Colonial
Hertziana - Instituto Max Planck de
Rossi, Gino Valle, Pier Luigi Ner- res Urbanos e atual presidente da Portuguesa” (1992) e “Arquitectura
História da Arte em Roma, Itália, e
vi, Myron Goldsmith, Jože Plečnik, Associação Italiana de História Ur- Militar” (1998). Dirigiu mais de 40
manteve este cargo até 1967. Um
Nikolaj Ladovskij, Mojsej Ginzburg, bana e líder de equipe do grupo de teses, a maior parte publicadas com
ano depois, em 1968, Frommel foi
Peter Behrens, Manfredo Tafuri. Em Cidades e Intercâmbios Culturais da prefácio seu. Foi Visiting professor
nomeado professor na Universidade
2012, ele foi professor visitante no European Science Foundation. Des- nas Univ. Johns Hopkins, US (1999) e
de Bonn, na Alemanha, cargo que
Canadian Centre for Architecture em de 2002, o professor Calabi é diretor Innsbruck (2001), e Professeur invi-
ocupou até 1980, quando se tornou
Montreal. Foi professor visitante na do programa internacional de dou- té em Toulouse.
diretor da Bibliotheca Hertziana -
Faculdade de Arquitetura de Bel- torado em História da Arquitetura e Instituto Max Planck de História da Associate Professor, Faculty of
grado (Sérvia), Lubliana (Eslovênia) Cidades, Ciência da Arte e restaura- Arte. Frommel trabalha como pro- Social and Human Sciences, New Uni-
e na Universidade Ca Foscari, em ção da Escola de Estudos Avançados versity of Lisbon. Degree in History,
fessor na Universidade Sapienza de
Veneza. de Veneza. Faculty of Arts of Lisbon (1975); Mas-
Roma desde 2003.
Luka Skansi, architectural his- Donatella Calabi is Chair Profes- ter in Art History, Univ. Nova de Lisboa
Christoph Luitpold Frommel at- (1982); PhD in Art History, UNL (1991).
torian, is an associate professor at sor of Urban History at the University tained Doctor of Philosophy degree,
Politecnico di Milano. He graduated Iuav of Venice (founded as the Venice Since 1978 he has been a professor at
graduating from University of Munich the UNL Dep. Of Art History, where he
in architecture at IUAV, Venice, whe- University Institute of Architecture) in 1959. Nine years later, in 1968, he
re he also received his Ph.D in 2006 and Visiting Professor at L’Ecole des is Associate Professor of permanent
got his Doctor of Philosophy degree at appointment. Specializing in Renais-
with a research on pre-revolutionary Hautes Etudes of Paris, the British University of Bonn.Frommel was made
Russia (1900-1917). His research in- Academy, the University of Leicester, sance, with two areas: “Portuguese
an Honorary Doctor of Philosophy by Colonial Art” (1992) and “Military Ar-
terests include Italian architecture the Faculty of Architecture at the Uni- University of Naples in 1997. Chris-
and engineering of the 20th century, versity of Sao Paolo, Brazil, as well chitecture” (1998). He directed more
toph Frommel started his career as a than 40 theses, most of them pub-
Russian and Soviet architecture and as many other distinguished univer- fellow and teaching assistant in 1959
the architecture in ex-Yugoslavia. He sities. She is the former president of lished with his preface. He was Visi-
at Bibliotheca Hertziana – Max Plan- ting Professor at Univ. Johns Hopkins,
wrote essays and articles on Carlo the European Association of Urban ck Institute for Art History in Rome,
Scarpa, Aldo Rossi, Gino Valle, Pier Historians and the current president US (1999) and Innsbruck (2001), and
Italy and held this post till 1967. Professeur Invite in Toulouse.
Luigi Nervi, Myron Goldsmith, Jože of Italian Association of Urban History One year later, in 1968, Frommel was
Plečnik, Nikolaj Ladovskij, Mojsej Gin- and team leader of the group on Cities appointed a professor at University of
zburg, Peter Behrens, Manfredo Tafuri. and Cultural Exchanges of the Euro- Bonn in Germany, a post he held till
In 2012 he was a Visiting Scholar at pean Science Foundation. Since 2002, 1980, when he became a director of
the Canadian Center for Architecture Professor Calabi has been the director Bibliotheca Hertziana – Max Planck
in Montreal. He was Visiting Professor of the international PhD program on Institute for Art History. Frommel has
at the Faculty of Architecture in Bel- History of Architecture and Towns, been working as a professor at Sapien-
grade (Serbia), Ljubljana (Slovenia) Science of Art, and restoration of the za University of Rome since 2003.
and at University Ca Foscari in Venice.
534 School for Advanced Studies of Venice. 535
Marco de MICHELIS Guido ZUCCONI Vittorio GREGOTTI Paulo Mendes da ROCHA
Marco De Michelis, de 1973, Natural de Modena em 1950, Arquiteto italiano, Vittorio Gre- Formou-se arquiteto e urbanis-
ensina História da Arquitetura no formou-se em arquitetura na Poli- gotti formou-se em 1952 pelo Insti- ta pela Faculdade de Arquitetura e
Departamento de História da Ar- técnica de Milão (1975) e na Univer- tuto Politécnico de Milão. Em 1974 Urbanismo da Universidade Presbi-
quitetura da Universidade IUAV de sidade de Princeton (EUA) em 1977. funda o atelier Gregotti Associatti. teriana Mackenzie, em 1954. Passa a
Veneza. Desde 1999, é decano da Se dedicou à história da arquitetura,
Faculdade de Design e Artes / IUAV Além da atividade de projetista, lecionar na Faculdade de Arquitetu-
e membro do conselho de ensino do da cidade e do planejamento ur- Gregotti dedica-se à crítica de ar- ra e Urbanismo da Universidade de
doutorado em história da arquitetu- bano: seu principal campo de inte- quitetura e ao ensino, no debate São Paulo em 1961, em meio a um
ra desde sua fundação. De janeiro de resse é o período entre os séculos sobre as alternativas ao Movimento intenso debate social promovido por
1999 a abril de 2003, ele ocupou a XIX e XX, com atenção especial ao Moderno. Desde finais da década de professores e alunos. Seus direitos
cadeira “Walter-Gropius-Professor” caso italiano. Membro do Doutora- sessenta, radicaliza a sua posição políticos são cassados em 1969 e é
de teoria da história e arquitetura na do em Teoria e História das Artes, dando importância à composição proibido de dar aulas. Retorna à Uni-
Bauhaus-Universität de Weimar. Por do Conselho Científico do progra-
muitos anos, ele realizou pesquisas formal do edifício e à relação com o versidade apenas em 1980. Em 1998
sobre a história e a teoria do moder- ma TPTI-Erasmus Mundus, liderado sítio sem, eixar de procurar a simpli- torna-se professor titular de Projeto
no na arquitetura, as vicissitudes da pela Université Paris IV-Sorbone cidade nos resultados finais. Obteve arquitetônico naquela escola, mes-
arquitetura e do planejamento urba- Panthèon e financiado pela União um grande reconhecimento interna- mo ano em que se aposenta com-
no em Berlim, casas do povo, cida- Europeia. É presidente, desde feve- cional, responsável por vários edifí- pulsoriamente. Mendes da Rocha
des-jardim e o alemão “Siedlungen”; reiro de 2009, da AISU (Associação cios como o complexo desportivo e assumiu nas últimas décadas uma
arquitetura e planejamento urbano Italiana de História Urbana). o estádio Des Costieres, em Nîmes, posição de destaque na arquitetu-
na URSS dos anos vinte e trinta. Ao
mesmo tempo, acompanhou com Nato a Modena nel 1950, laurea França, e o Centro Cultural de Be- ra brasileira contemporânea, tendo
atenção sistemática os eventos mais in architettura presso il Politecnico di lém (1989-94), em Lisboa. É também sido galardoado no ano de 2006 com
recentes da arquitetura internacio- Milano (1975) e presso l’Università di professor de composição arquite- o Prêmio Pritzker, o mais importante
nal, trabalhando nas relações entre Princeton (USA) nel 1977. Si è dedicato tônica no Instituto Universitário de da arquitetura mundial.
arquitetura e artes visuais. alla storia dell’architettura, della città Arquitetura de Veneza.
e dell’urbanistica: suo principale cam- He graduated as an architect
Marco De Michelis dal 1973 in- Italian architect Vittorio Grego- and urban planner at the Mackenzie
segna Storia dell’architettura presso po d’interesse è il periodo tra Otto e
Novecento, con particolare attenzione tti graduated in 1952 from the Poly- College of Architecture and Urba-
il Dipartimento di Storia dell’archite- technic Institute of Milan. In 1974 nism in 1954. He began teaching at
ttura della Università IUAV di Vene- al caso italiano. Membro del Collegio
di Dottorato in Teoria e storia delle he founded the Gregotti Associatti the University of São Paulo School of
zia. Dal 1999 è preside della Facoltà studio. In addition to his activity as Architecture and Urbanism in 1961,
di design e arti/IUAV e membro del arti, del Conseil scientifique del pro-
gramma TPTI-Erasmus Mundus facen- a designer, Gregotti is dedicated to amid intense social debate promoted
collegio docente del Dottorato in sto- architectural criticism and teaching by teachers and students. His political
ria dell’architettura dalla sua fonda- te capo all’Université Paris IV-Sorbone
Panthèon e finanziato dall’Unione in the debate on alternatives to the rights were revoked in 1969 and are
zione. Dal gennaio 1999 all’aprile del Modern Movement. Since the late si- prohibited from teaching. He returns
2003 è stato titolare della cattedra europea. È presidente, dal febbraio
2009, dell’AISU (Associazione italiana xties, it has radicalized its position to the university only in 1980. In 1998
“Walter-Gropius-Professor” di storia by giving importance to the formal he became a full professor of architec-
e teoria dell’architettura presso la storia urbana).
composition of the building and its re- tural design at that school, the same
Bauhaus-Universität di Weimar. Da lationship with the site, while striving year he compulsory retires. Mendes da
molti anni svolge attività di ricerca for simplicity in the final results. It has Rocha has in recent decades assumed
sulla storia e la teoria del moderno gained wide international recognition, a prominent position in contemporary
in architettura, le vicende dell’archi- responsible for several buildings such Brazilian architecture, having been
tettura e dell’urbanistica di Berlino, as the sports complex and Des Cos- awarded in 2006 with the Pritzker
case del popolo, città-giardino e “Sie- tieres stadium in Nîmes, France, and Prize, the most important in world ar-
dlungen” tedesche; architettura e ur- the Belém Cultural Center (1989-94) in chitecture.
banistica nell’URSS degli anni venti Lisbon. He is also professor of archi-
e trenta. Contemporaneamente segue tectural composition at the University
con sistematica attenzione le vicende Institute of Architecture of Venice.
più recenti della architettura interna-
536lavorando sulle relazioni tra
zionale, 537
architettura e arti figurative.
Jorge LIERNUR Carlos SAMBRICIO Daniel SHERER Marco BIRAGHI
Presidente do Centro de Estu- Carlos Sambricio, arquiteto es- O Dr. Daniel Sherer ensina na Ele estudou arquitetura na Po-
dos de Arquitetura Contemporânea panhol, doutor em História da Arte Escola de Arquitetura de Yale (2008 litécnica de Milão, onde se formou
da Universidade Torcuato Di Tella, pela Universidade Complutense de até o presente) e no Columbia GSA- em 1986, com o supervisor Massimo
em Buenos Aires, onde é professor Madri e doutor em Teoria e História PP (1998-2017). Ele obteve seu dou- Cacciari. Nos anos seguintes, ele
de Modernidade e Cultura Urbana. da Arte pela Escola de Estudos Su- torado no Departamento de História realizou atividades de doutorado e
Ele também é pesquisador do Con- periores de Ciências Sociais (Fran- da Arte e Arquitetura da Universida- pós-doutorado. Em 1997, tornou-se
selho Nacional Argentino de Pes- ça). Professor convidado no Getty de de Harvard em 2000. Suas áreas pesquisador em história da arquite-
quisa em Ciência e Tecnologia. Na Center for Humanities, Harvard de pesquisa incluem recepções mo- tura na Faculdade de Arquitetura-
Universidade de Buenos Aires, foi University, no Canadian Centre for dernas da arquitetura humanista, -Leonardo da Politécnica de Milão.
professor, presidente do Instituto Architecture, na Faculdade de Belas modernismo italiano com referência Desde 2003, ele é professor asso-
de Arte Americana e Investigações Artes de Hamburgo - Departamento à interação entre arquitetura, arte e ciado da Faculdade de Arquitetura
Estéticas e fundador e diretor da de Arquitetura e na Faculdade de design, renascimento italiano e ar- Civil, também na mesma Politécni-
cadeira latino-americana de arqui- Arquitetura da Politécnica de Milão. quitetura barroca , arquitetura con- ca, onde lecionou história da arqui-
tetura Juan O`Gorman. Ele é arqui- Autor e editor de diversas publica- temporânea, historiografia e teoria tetura contemporânea. Desde 2012,
teto formado pela Universidade de ções referentes à história da arqui- e arte contemporânea, freqüente- leciona na Escola de Arquitetura e
Buenos Aires. Estudou história da tetura e das cidades. mente em relação à arquitetura. Ele Sociedade, que se fundiu na Escola
arte e da arquitetura com Manfredo Carlos Sambricio, Arquitecto es- publicou amplamente em jornais de Arquitetura, Planejamento Urba-
Tafuri no Instituto Universitário de pañol, Doctor en Historia del Arte de europeus e americanos, incluindo no, Engenharia de Construção. Des-
Arquitetura da Veneza e no Instituto la Universidad Complutense de Ma- Artforum, AA Files, Perspecta, Zo- de 2005, ele é presidente da GIZMO,
Tilman Buddensieg Kunsthistoris- drid y Doctor en Teoría e Historia del diac, Assemblage, The Journal of Ar- revista coletiva de pesquisa e arqui-
ches, Philosophische Fakultat, Uni- Arte de la Escuela de Estudios Supe- chitecture e Potlatch. Mais recente- tetura.
versitat Bonn. riores en Ciencias Sociales (Francia). mente, ele curou a exposição “Aldo
Profesor invitado del Getty Center de Ha studiato architettura al Poli-
Chairman of the Center of Studies Rossi: A Arquitetura e Arte da Cidade tecnico di Milano, dove si è laureato
Humanidades, de la Universidad de
on Contemporary Architecture at the Harvard, del Centro Canadiense de Analógica”, em Princeton. nel 1986, con relatore Massimo Cac-
Torcuato Di Tella University in Buenos Arquitectura, la Facultad de Bellas Ar- Dr. Daniel Sherer has taught at ciari. Negli anni successivi ha svolto
Aires, where he is Professor of Mo- tes de Hamburgo – Departamento de the Yale School of Architecture (2008 attività di dottorato e post-dottorato.
dernity and Urban Culture. He is also Arquitectura y de la Facultad de Arqui- to the present) and Columbia GSAPP Nel 1997 è diventato ricercatore in
Researcher of the Argentine National tectura del Politécnico de Milán. Autor (1998-2017). He received his PhD from storia dell’architettura presso la Fa-
Council for Research on Science and y editor de diferentes publicaciones the Harvard University Department coltà di Architettura-Leonardo del Po-
Technology. At the University of Bue- referidas a la historia de la arquitec- of the History of Art and Architectu- litecnico di Milano. Dal 2003 è stato
nos Aires he was Professor, chairman tura y las ciudades. re in 2000. His areas of research in- professore associato presso la Facoltà
of the Instituto de Arte Americano e clude modern receptions of humanist di Architettura Civile, sempre presso
Investigaciones Esteticas, and foun- architecture, Italian modernism with lo stesso Politecnico, dove ha insegna-
der and director of the Juan O`Gorman reference to the interaction of archi- to storia dell’architettura contempora-
Latin-American Architecture Chair. He tecture, art, and design, Italian Re- nea. Dal 2012 insegna presso la scuola
is an architect graduated at the Uni- naissance and Baroque architecture, di Architettura e società, confluita poi
versity of Buenos Aires. He studied art contemporary architecture, historio- nel 2016 nella Scuola di Architettura
and architecture history with Manfre- graphy and theory, and contemporary Urbanistica Ingegneria delle Costru-
do Tafuri at Istituto Universitario di art, frequently in relation to architec- zioni. Dal 2005 è presidente di GIZMO,
Architettura di Venezia and Tilman ture. He has published widely in Euro- collettivo di ricerca e rivista di archi-
Buddensieg Kunsthistorisches Insti- pean and American journals including tettura.
tut, Philosophische Fakultat, Univer- Artforum, AA Files, Perspecta, Zodiac,
sitat Bonn. Assemblage, The Journal of Architec-
ture, and Potlatch. Most recently he
has curated the exhibition “Aldo Rossi:
538 The Architecture and Art of the Analo- 539
gous City,” at Princeton.
Rafael Urano FRAJNDLICH Alberto ASOR ROSA Otília Beatriz Fiori ARANTES
Professor de fundamentos, teo- Licenciado em Literatura pela Possui graduação em Filosofia
ria e projeto no curso de Arquitetu- Universidade La Sapienza em 1956. pela Universidade Federal do Rio
ra e Urbanismo da Unicamp desde Ensinou Literatura Italiana na Uni- Grande do Sul (1961), mestrado em
2015. Tem formação com ênfase em versidade de Roma “La Sapienza”, do Filosofia pela Universidade de São
história da arquitetura moderna e início dos anos 1960 até 2003. Ele Paulo (1968) , doutorado em Filoso-
contemporânea. Sua tese de dou- continua a acompanhar os desenvol- fia - Universite de Paris I (Pantheon-
torado, desenvolvida na Faculdade vimentos na literatura italiana con- -Sorbonne) (1972) e Livre Docência
de Arquitetura e Urbanismo da Uni- temporânea. Nos últimos anos, ele pela Universidade de São Paulo
versidade de São Paulo, centrou-se publicou livros com conteúdo auto- (1992). Ministrou cursos na PUC de
num estudo da obra do historiador biográfico ou narrativa explícita: O São Paulo, na Faculdade de Arquite-
de arquitetura Manfredo Tafuri e sua alvorecer de um novo mundo (2002); tura e Urbanismo e no Departamen-
relação com os círculos filosóficos Histórias de animais e outros seres to de Filosofia da Universidade de
italianos. Desenvolve pesquisa so- vivos (2005); Assunta e Alessandro São Paulo, pelo qual se aposentou
bre arquitetura moderna brasileira, (2008), uma reconstrução afetuosa em 1993. Presidiu o Centro de Estu-
sob o recorte da relação estreita da vida autêntica e lendária de seus dos de Arte Contemporânea (1979 a
entre a formulação estética de Os- pais; Histórias do erro (2013). Na úl- 1992). Tem experiência na área de
car Niemeyer e o projeto político tima década, ele abraçou e praticou Filosofia, com ênfase em Estética,
de Juscelino Kubitschek, desde a a causa do ambientalismo com gran- atuando principalmente nos seguin-
prefeitura de Belo Horizonte até a de intensidade. Por vários anos, ele tes temas: modernidade, pós-mo-
inauguração de Brasília. foi presidente da Rede de Comitês dernidade, Mário Pedrosa, crítica de
Professor of fundamentals, de Defesa do Território Ativo, espe- arte no Brasil, arte e política, arqui-
theory and design in the course of cialmente na Toscana. tetura e urbanismo.
Architecture and Urbanism at Uni- Laurea in Lettere presso l’Univer-
camp since 2015. Has a degree with She holds a degree in Philoso-
sità La Sapienza nell’anno 1956. Ha phy from the Federal University of
emphasis in the history of modern and insegnato Letteratura italiana presso
contemporary architecture. His doc- Rio Grande do Sul (1961), a master’s
l’Università di Roma “ la Sapienza” degree in Philosophy from the Univer-
toral dissertation, developed at the dall’inizio degli anni ’60 fino al 2003.
Faculty of Architecture and Urbanism sity of São Paulo (1968), a doctorate
Continua a seguire, gli sviluppi della in Philosophy - Universite de Paris I
of the University of São Paulo, focused letteratura italiana contemporanea.
on a study of the work of architecture (Pantheon-Sorbonne) (1972) and Free
Negli ultimi anni ha pubblicato libri di Teaching from the University of Sao
historian Manfredo Tafuri and its re- contenuto autobiografico oppure e di
lationship with Italian philosophical Paulo (1992). She taught at PUC São
taglio esplicitamente narrativo: L’alba Paulo, at the Faculty of Architecture
circles. Develops research on modern di un mondo nuovo (2002); Storie di
Brazilian architecture, under the cut- and Urbanism and at the Department
animali e altri viventi (2005); Assunta of Philosophy at the University of São
-off of the close relationship between e Alessandro (2008), affettuosa ricos-
the aesthetic formulation of Oscar Paulo, where he retired in 1993. She
truzione tra autentica e leggendaria chaired the Center for Contemporary
Niemeyer and the political project of della vita dei suoi genitori; Racconti
Juscelino Kubitschek, from the city of Art Studies (1979 to 1992). Has ex-
dell’errore (2013). Nel corso dell’ul- perience in Philosophy, focusing on
Belo Horizonte until the inauguration timo decennio ha abbracciato e pra-
of Brasilia. Aesthetics, acting on the following
ticato con grande intensità la causa subjects: modernity, postmodernity,
dell’ambientalismo. E’ stato per diver- Mário Pedrosa, art critic in Brazil, art
si anni Presidente della Rete dei Comi- and politics, architecture and urba-
tati per la difesa del territorio attiva nism.
soprattutto in Toscana.
540 541
Adalberto da S. RETTO JR. Mário Henrique S.
Atua como Professor na Univer- D’AGOSTINO
sidade Estadual Paulista - Unesp. Possui graduação em Arquite-
Coordenador do Curso Internacio- tura e Urbanismo pela Faculdade de
nal de Especialização Lato Sensu Arquitetura e Urbanismo da Pontifí-
em Planejamento Urbano e Políti- cia Universidade Católica de Cam-
cas Públicas: Urbanismo, Paisagem, pinas (1985), mestrado em Arquite-
Território. Possui Pós-doutorado no tura e Urbanismo pela Universidade
Istituto Universitario de Arquitetura de São Paulo (1991) e doutorado
de Veneza Italia (2007); Doutor pela em Arquitetura e Urbanismo pela
Moderadores Faculdade de Arquitetura e Urbanis- Universidade de São Paulo (1995).
Moderators mo da Universidade de São Paulo e
pelo Departamento de História da
Atualmente é professor associado
(livre-docente) da Universidade de
Moderati Arquitetura e Urbanismo do Insti- São Paulo. Tem experiência na área
tuto Universitario de Arquitetura de de Estética e História da Arquite-
Veneza (2003). Pesquisador na linha tura e do Urbanismo, atuando prin-
de pesquisa em História da Cidade e cipalmente nos seguintes temas:
na linha de pesquisa Conhecimento tratados de arquitetura, arquitetura
Histórico Ambiental Integrado na clássica, perspectiva e arquitetura
Planificação Territorial e Urbana e do renascimento.
na linha de pesquisa Conhecimento
Histórico-Ambiental Integrado na Graduated in Architecture and Ur-
Planificação Territorial e Urbana. banism from the Faculty of Architectu-
re and Urbanism of the Pontifical Ca-
Acts as Professor at Paulista Sta- tholic University of Campinas (1985),
te University - Unesp. Coordinator Master’s degree in Architecture and
of the International Specialization Urbanism from the University of São
Course Lato Sensu in Urban Planning Paulo (1991) and PhD in Architecture
and Public Policy: Urbanism, Lands- and Urbanism from the University of
cape, Territory. Post-doctorate at the São Paulo (1995). He is currently asso-
University Institute of Architecture of ciate professor (professor) at the Uni-
Venice, Italia (2007); PhD from the versity of São Paulo. Has experience in
Faculty of Architecture and Urbanism Aesthetics and History of Architecture
of the University of São Paulo and the and Urbanism, acting on the following
Department of History of Architecture subjects: treatises on architecture,
and Urbanism of the Institute of Archi- classical architecture, perspective and
tecture of Venice (2003). Researcher in Renaissance architecture.
the City History research line and in
the Integrated Environmental Histori-
cal Knowledge research line in Terri-
torial and Urban Planning and in the
research line Historical-Environmen-
tal Knowledge Integrated in Territo-
rial and Urban Planning.
542 543
Carlos MARTINS Anne Marie SUMNER Maria Cristina da S. LEME Cibele RIZEK
Atualmente é Professor Titular Possui graduação pela Faculda- Professora Titular da Faculdade Professora Titular do Institu-
(2006), pesquisador, orientador de de de Arquitetura e Urbanismo da de Arquitetura e Urbanismo Univer- to de Arquitetura e Urbanismo da
Mestrado e Doutorado do Instituto Universidade de São Paulo (1978), sidade de São Paulo,Presidente da Universidade de São Paulo, possui
de Arquitetura e Urbanismo da USP mestrado em Filosofia pela Univer- Comissão de Pós Graduação da FAU graduação em Ciências Sociais pela
São Carlos, do qual foi fundador e o sidade de São Paulo (1987) e dou- USP de 2005 a 2007, Vice diretora Universidade de São Paulo (1972),
primeiro Diretor (2011-16). Gradua- torado em Arquitetura e Urbanismo FAUUSP para o período 2011 a 2014. mestrado em Ciências Sociais pela
do pela Faculdade de Arquitetura e pela Universidade de São Paulo Graduação em Arquitetura e Urba- Pontifícia Universidade Católica de
Urbanismo da Universidade de São (2001). É titular do escritório Anne nismo pela Universidade de São São Paulo (1988) e doutorado em
Paulo (1974), Mestre em História Marie Sumner-Arquitetura Ltda e Paulo (1973), mestrado em Arquite- Sociologia pela Universidade de
Social pela FFLCH da Universidade professora adjunta da Faculdade de tura e Urbanismo pela Universidade São Paulo (1994). Atualmente é pro-
de São Paulo (1988), Doutor pela Arquitetura e Urbanismo da Univer- de São Paulo (1982) e doutorado em fessor do Programa de Pós Gradua-
Escuela Técnica Superior de Arqui- sidade Mackenzie. Tem experiência Arquitetura e Urbanismo pela Uni- ção em Arquitetura e Urbanismo do
tectura - Universidad Politécnica de na área de Arquitetura e Urbanismo. versidade de São Paulo (1990). Pós- IAU / Universidade de São Paulo e
Madrid (1992) e Livre-Docente pela -doutorado, em 1994 junto ao CSU pesquisadora do Centro de Estudos
Graduated from the Faculty of
EESC USP (1998). Coordena desde Architecture and Urbanism of the Uni- - Centre de Sociologie Urbaine do dos Direitos da Cidadania, também
1994 o ArqBrasLablat - Grupo de versity of São Paulo (1978), Master’s IRESCO - Institut des Recherches sur da Universidade de São Paulo. Tem
Pesquisa em Arquitetura e Urbanis- degree in Philosophy from the Uni- les Sociétés Contemporaines, CNRS experiência na área de Sociologia,
mo no Brasil e na América Latina. versity of São Paulo (1987) and PhD e em 1996, junto ao LADRHAUS Éco- com ênfase em Outras Sociologias
É membro do Conselho Curador da in Architecture and Urbanism from the le Architecture de Versailles, Paris, Específicas, atuando principalmente
University of São Paulo (2001). She is França. Pesquisa a formação do ur- nos seguintes temas: cidades, rees-
UFScar - Universidade Federal de head of the firm Anne Marie Sumner-
São Carlos (2014-2020). banismo no Brasil, a relação com os truturação produtiva, habitação, es-
-Arquitetura Ltda and adjunct profes-
sor at Mackenzie University School of processos de urbanização e o impac- paço público e cidadania.
He is currently a Full Professor
(2006), researcher, Master’s advisor Architecture and Urbanism. Has expe- to na estrutura urbana das cidades Full Professor at the Institute of
and PhD at the Institute of Architec- rience in Architecture and Urbanism. brasileiras. Architecture and Urbanism at the Uni-
ture and Urbanism of USP São Carlos, Full Professor at the Faculty of versity of São Paulo, holds a degree in
of which he was the founder and first Architecture and Urbanism University Social Sciences from the University of
Director (2011-16). Graduated from of São Paulo, President of the Gradua- São Paulo (1972), a master’s degree in
the Faculty of Architecture and Ur- te Commission of FAU USP from 2005 Social Sciences from the Pontifical Ca-
banism of the University of São Paulo to 2007, Deputy Director FAUUSP for tholic University of São Paulo (1988)
(1974), Master in Social History from the period 2011-2014. Graduate in and a doctorate in Sociology from the
the FFLCH of the University of São Architecture and Urbanism at the Uni- University of São Paulo. Paulo Paulo
Paulo (1988), PhD from the Superior versity of São Paulo (1973) , Master in (1994). He is currently a professor at
Technical School of Architecture - Uni- Architecture and Urbanism from the the Graduate Program in Architectu-
versidad Politécnica de Madrid (1992) University of São Paulo (1982) and PhD re and Urbanism at IAU / University
and Associate Professor by EESC USP in Architecture and Urbanism from the of São Paulo and a researcher at the
(1998). Since 1994 he has coordinated University of São Paulo (1990). Post- Center for Citizenship Rights Studies,
the ArqBrasLablat - Research Group -doctorate in 1994 at the CSU - Center also at the University of São Paulo.
on Architecture and Urbanism in Bra- for Urban Sociology of IRESCO - Ins- Has experience in Sociology, focusing
zil and Latin America. He is a member titut des Recherches sur les Sociétés on Other Specific Sociologies, acting
of the Curator Council of UFScar - Fe- Contemporaines, CNRS and in 1996 at on the following subjects: cities, pro-
deral University of São Carlos (2014- the LADRHAUS École Architecture de ductive restructuring, housing, public
2020). Versailles, Paris, France. It researches space and citizenship.
the formation of urbanism in Brazil,
the relationship with the urbanization
processes and the impact on the urban
structure of Brazilian cities.
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Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da
Universidade de São Paulo - FAU-USP
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