Música afro-brasileira

Resumo: Ao tratar das questões étnico-raciais através das Leis 10.639/03 e 11.645/08 no PIBID-Música e no Estágio Supervisionado, observei que o assunto sempre gera reações diversas: animação, desconforto, interesse, questionamentos. O objetivo desse texto, portanto, é discutir as experiências realizadas tendo como referencial teórico as publicações da SECADI/MEC, Munanga (2005), Gomes (2003) e os próprios trabalhos acadêmicos produzidos pelos bolsistas PIBID e/ou estudantes do Curso de Licenciatura em Música da UFBA. Do ponto de vista metodológico, trata-se de um relato de experiência que leva em conta vários momentos como as reuniões gerais do PIBID-Música, a orientação e acompanhamento das aulas de Estágio Supervisionado e do mestrado, bem como trabalhos acadêmicos derivados das discussões e atividades. Como resultado dessas reflexões é possível apontar a necessidade de realizar pesquisas para conhecer a visão dos professores e dos estudantes, e a partir dos resultados obtidos, planejar intervenções e cursos de formação continuada. Palavras chave: Leis 10.639/03 e 11.645/08, música afro-brasileira e indígena, PIBID. Introdução Durante os últimos anos as questões étnico-raciais, abordadas através das Leis 10.639/03 e 11.645/08, têm se tornado uma parte central dos momentos de estudo, discussão, planos de intervenção e de atividades no PIBID, foram temas abordados nos 4 semestres da disciplina Estágio Supervisionado 1 , bem como na orientação de alguns trabalhos de mestrado. Embora este tema seja de meu interesse há um certo tempo, começou a reverberar também entre boa parte dos estudantes, muitos deles/as negros/as, que já vivenciaram muitas situações 1 No curso de Licenciatura da Escola de Música da UFBA, os estudantes precisam cursar quarto semestres de Estágio Supervisionado. Os primeiros dois são voltados para observação/monitoria e os últimos dois para regência de classe. No primeiro semestre, que é centrado no universo escolar, as questões ligadas à educação para as relações étnico-raciais entram no estudo das Leis 10.639/03 e 11.645/08 e os principais documentos elaborados pela SECADI/MEC. No segundo, cuja atenção é voltada para as várias formas de ensinar e aprender música além da escola, as discussões levam também em consideração os processos de ensino e aprendizagem da música afro-baiana, afro-brasileira, e indígena, principalmente de contextos de tradição oral.

Os Ritmos da Roda é uma obra de interesse para estudiosos e amantes da música brasileira, por abordar uma tradição de música e dança das mais antigas de nosso país, que influenciou gêneros musicais como o samba de partido alto do Rio de Janeiro. Para tanto, apresenta teorias e ferramentas para a análise da música de matriz africana - especialmente de seus fundamentos rítmicos - pouco difundidas no Brasil. Este estudo marca assim um momento importante do Brasil, em que culturas marginalizadas como o samba de roda passaram a ser reconhecidas como patrimônio cultural, ao contribuir em nível acadêmico e intelectual para o reconhecimento dessa arte que é razão de viver de muitos baianos. Que a riqueza do samba de roda contagie ainda mais músicos e pesquisadores!

Muito se fala sobre os ritmos do samba, porém ainda são poucas as fontes que contribuem para
desvendar seus mistérios. Pesquisa etnográfica e análise musical baseada em teorias musicológicas
africanas revelaram diversas facetas das concepções rítmicas do Samba de Roda do Recôncavo da
Bahia. Este artigo propõe-se a apresentar tais facetas ao mesmo tempo em que esclarece fundamentos
rítmicos africanos ainda pouco explorados no Brasil. A difusão das teorias africanas pode trazer nova
luz à etnomusicologia brasileira, oferecendo outra visão sobre a estruturação de fenômenos musicais
que não a europeia. A análise do Samba de Roda demonstrou a presença de conceitos tais como o dos
pulsos elementares, beats, linhas-rítmicas e fórmulas cíclicas tanto na execução dos instrumentos de
percussão, como nos de corda dedilhada – discutidos em outro artigo –, no canto e na dança. Assim
sendo, princípios africanos revelam-se mais do que mera influência cultural, agindo como
organizadores temporais de toda a performance musical e exigindo sua análise para a compreensão de
tradições musicais afro-brasileiras.

A segunda edição, revista e ampliada, do livro de Spirito Santo, Do samba ao funk do Jorjão: ritmos, mitos e ledos enganos no enredo de um samba chamado Brasil, foi lançada pela Escola Sesc de Ensino Médio em agosto de 2016. Através do trabalho de campo e da pesquisa histórica, o autor enlaça, em sete capítulos e um epílogo, diversas linhas evolutivas para tramar a história do samba em perspectiva afro-diaspórica. O “funk do Jorjão” do título remete ao episódio do Carnaval de 1997 em que o mestre de bateria Jorge de Oliveira inseriu uma batida derivada de uma faixa instrumental de electro de Los Angeles em repetições do estribilho do samba-enredo da Unidos do Viradouro. Tal fato ilustra a tese principal do livro: o samba resulta da “hibridização de formas musicais africanas no contexto da diáspora negra nas Américas”. O autor identifica quatro levas sucessivas de escolas de samba: as “escolas matriz” do Estácio e da Mangueira; as “escolas rurais” do Império Serrano e da Portela; as “escolas tijucanas”, dentre as quais o Salgueiro; e as “escolas suburbanas” da Mocidade Independente, da Grande Rio, da Beija-Flor, da Caprichosos de Pilares e da União da Ilha. Em meio a descrições musicais, organológicas, iconográficas e coreográficas informadas pela geografia cultural, Spirito Santo contesta vários mitos — o da hegemonia das culturas yoruba e fon, o da casa de tia Ciata enquanto berço do samba, o da trirracialidade musical — para denunciar o racismo estrutural da historiografia da música brasileira.

Esta selección presenta música de origen afro proveniente del litoral Pacífico de América, desde México hasta Chile.  Incluye géneros como el son de artesa de la Costa Chica mexicana, música jarocha para marimba (incluyendo la canónica "La Bamba" con sus elaboraciones en el temprano rock'n roll), música de marimba guatemalteca, bunde colombiano, patacoré de Ecuador, lundú de Brasil, landó de Perú, chicha (cumbia andina), saya afroboliviana y finalmente lambada.

Algunos trayectos y tradiciones presentan lagunas en su historia puntual, dado que la ruta de la marimba no está del todo intacta ni se conoce en su totalidad; ella es particularmente oscura en sus orígenes, dado que el instrumento no se ha sostenido en Cuba, por ejemplo.

Algunas de estas músicas fueron recreadas tardíamente en y para el circuito comercial latinoamericano, revistiendo una "autenticidad" dudosa pero poniendo en tela de juicio todo el discurso académico sobre la autenticidad y la pureza, mostrando un repertorio mayormente negado por los musicólogos antagónicos a la idea africanista.

Forma parte del punto de partida de estas investigaciones la idea de que no existe tal cosa como una música cien por ciento auténtica y no globalizada.

La selección de música para ilustrar esta serie se encuentra en: https://1drv.ms/u/s!AisN19ltgXzegZk-HE-vRONmTs0GIw?e=4bdtwl

O texto introduz ao contexto e reflexões que levaram à organização do dossiê Matizes Africanos da Música Brasileira, para ao final apresentar as doze contribuições que o compõem. A música negra-"notas negras"-tem sido representada em âmbito acadêmico, desde os primórdios da Etnomusicologia, sobre "pautas brancas": predominantemente por e para investigadores brancos, sob perspectivas eurocêntricas. A autora objetiva sua própria experiência como uma expoente dessa tendência para buscar um caminho de desconstrução de práticas acadêmicas eurocêntricas e racialmente estruturadas na Musicologia. Oferece uma revisão bibliográfica de referências pouco conhecidas no Brasil que vão de autores "africanistas", passa pela musicologia de perspectiva africana, até chegar nas recentes discussões sobre racismo na música. O objetivo é, de um lado, apresentar tais debates ao público lusófono e, de outro, provocar o campo da musicologia ao desenvolvimento de uma musicologia mais condizente com a realidade brasileira, aliada à luta antirracista, que escute e abra espaço para as diversas vozes até então silenciadas no âmbito acadêmico, mas que compõem o Brasil e suas musicalidades. Palavras-chave: Racismo musical. Colonialidade. Etnomusicologia. Música Brasileira. Matizes Musicais. Abstract: The text introduces into the context and reflections behind the organization of the special volume "African Hues in Brazilian Music", presenting its twelve articles at the end. Since the beginning of Ethnomusicology black music-"black notes"-has been represented in the academic field on "white scores"; e.g. predominantly by and for white researchers, under Eurocentric perspectives. The author objectifies her own experience as an exponent of such tendency, in order to seek for a path of deconstruction of eurocentric and racially structured academic practices. She offers a bibliographical review of references still little known in Brazil that go from "Africanist" authors, to others

A pergunta sobre o momento em que o funk se abriu para experimentações e influências de outros gêneros musicais, desculpe minha franqueza, não me parece um bom ponto de partida porque o funk carioca se origina da ressignificação e apropriação de uma grande variedade de gêneros, e esses processos estão em jogo em outros gêneros no Brasil há pelo menos onze décadas (como mostrei no artigo "Fonograma 108.077: o lundu de George W. Johnson" em 2011). O funk carioca sempre foi aberto. A narrativa hegemônica de acordo com a qual ele começa com a gravação do LP Funk Brasil em 1989 apaga uma gênese e um passado do qual, embora recente, pouco se sabe. Já em 1994 o "Rap do parapapá", de Cidinho e Doca, tomava elementos da melodia de "Your Love" (1985), do grupo de pop-rock londrino The Outfield, e os colocava sobre uma base de electro de Los Angeles, o "808 Beatapella Mix", do single 8 Volt Mix (1988); em 1995 o "Rap da felicidade", gravado por Cidinho e Doca, combinava uma melodia tradicional brasileira com a mesma base. Essas experimentações foram facilitadas pelo desenvolvimento do instrumentário eletrônico e de seu know-how. No final da primeira década do século XXI, o projeto das Unidades de Polícia Pacificadora conseguiu erradicar, se não "o tráfico", os bailes de favela onde essa experimentação vicejava. Conquistar novos espaços tornou-se questão de sobrevivência. Daí, em parte, a aceleração de processos de hibridação.

Lançado em 10 de novembro de 2016, o livro 1976: Movimento Black Rio, dos jornalistas Luiz Felipe de Lima Peixoto e Zé Otávio Sabadelhe, celebra os quarenta anos da manchete de Lena Frias, Black Rio: o orgulho (importado) de ser negro no Brasil, publicada em 17 de julho de 1976 no Caderno B do Jornal do Brasil. Em 28 reportagens, os autores recorrem a entrevistas e material previamente publicado para contar a história da cultura de bailes que, alimentados por soul, funk e disco afro-norte-americanos, espalharam-se pela Zona Norte carioca nos anos 1970, bem como a história do conjunto das apropriações desses gêneros por Tim Maia, Toni Tornado, Hyldon, Carlos Dafé, Cassiano, Gerson King Combo, Dom Salvador e Abolição, União Black, e Banda Black Rio. O livro tenciona constituir “uma contribuição à construção discursiva de uma memória social positiva da população negra brasileira” e oferece elementos para um trabalho necessário de revisão historiográfica que transcende o âmbito do tema tratado, apesar de erros fatuais que poderiam ter sido corrigidos por cruzamento de dados.

Livro sobre o espetáculo "Calungá - o mar que separa é o mar que une". Produção do Projeto Guri (Associação Amigos do Projeto Guri) em parceria com o músico Naná Vasconcelos. Concepção, direção artística e musical de Chico Santana. Material didático.

O presente artigo se propõe a analisar alguns aspectos culturais e musicais de um bloco afro formado principalmente por mulheres negras na cidade de São Paulo - o bloco Afro Oriashé -, procurando discutir a relação entre produção musical, construção de identidade étnica e luta anti-rascista.

O presente artigo tem o intuito de compartilhar a concomitância de
características universais e particulares no âmbito sonoro-musical do candomblé
ketu. Para tanto, inicialmente serão apresentados conceitos e ideias presentes em
diferentes trabalhos que abordam temáticas africanas e afrodiaspóricas; conceitos
estes que, apesar de suas especificidades, comungam a referida condição de
simultaneidade entre aspectos universais e particulares. Na sequência, tendo como
referencial principal a música instrumental do candomblé ketu, seus elementos,
funções e dinâmicas, serão expostas correspondências com diferentes realidades
musicais dos universos africanos e afrodiaspóricos, inclusive aproximações com
complexos religiosos próximos. Finalizando, esta conjuntura será observada por
meio da análise de diferentes performances, entrevistas e registros do toque agueré:
ritmo característico do orixá Oxóssi, próprio do repertório religioso musical em
questão. Neste último momento serão compartilhadas diferentes atividades do
denominado quarteto instrumental, que é composto pelos atabaques rum, rumpi
e lé, acrescidos do gã (instrumento idiofone metálico), com ênfase nas atividades
do rum – tambor grave, solista.

Entrevista solicitada por pelo jornalista Gabriel Albuquerque na quinta-feira, 2 de junho de 2016, em vista de uma matéria sobre a apresentação do MC Bin Laden no Museum of Modern Art (MoMA), de Nova York, para o Jornal do Commercio, de Recife. Perguntas recebidas em 7 de junho, respostas concluídas em 10 de junho. Publicada em 2 de agosto.

The representation of music and dance in Post and Wagner’s paintings: an archaeology of Brazilian Black music. The relatively brief period of Dutch colonization in Pernambuco (1630-1654) corresponds to an exceptional documentary undertaking driven by Jean- Maurice de Nassau. Frans Janzsoon Post, responsible for the painting of landscapes, villages and their inhabitants, often represented Black drummers accompanied by a few dancers. Here, we attempt to define a recurrent motif in the corpus of these works, belonging to the Dutch Golden Age. A gouache from the adventurer Zacharias Wagner completes the collection. By comparing art history analysis concerning the place of music in contemporary Dutch paintings with the few written sources, we emphasize the following points: precision regarding the organologic descriptions, the position of the musicians and the dancers’ bodies, as well as the type of performance represented.

This presentation, in Portuguese, was delivered at the University of São Paulo, Brazil, in June 2014. I speak about the origins of the Mardi Gras Indians and show similarities between Afro-Brazilian traditions and the Mardi Gras Indians in Louisiana.