Faced with a society that increasingly humanizes pets, we can see the expansion of offers and the complexification of products and services destined to care in the processes of sickness, aging and / or death of these animals. The...
moreFaced with a society that increasingly humanizes pets, we can see the expansion of offers and the complexification of products and services destined to care in the processes of sickness, aging and / or death of these animals. The medicalization of life, already much discussed in relation to human life, has extended in recent years also to animal species considered as pets of humans, including an-imal mental health. This process was identified by Vlahos (2008), Segata (2012) and other authors. This paper proposes a reflection on the relationship between the medicalization of animal life and the significant increase in animal health investments made by the largest pharmaceutical companies in the world. The methodology used includes data collection of investments, material analysis of advertising campaigns for medicines for pets, interviews with veterinarians and responsible for pets and proposes an analysis in light of the literature that points out the ills and weaknesses of the pharmaceutical industry (Illich, 1981, Girona, Rovirá y Homedes, 2009, Pignarre, 2005 and others). Among the fifteen largest pharmaceutical companies in the world, it is possible to investigate in-vestments in animal health in five of them, which bought divisions of three other companies. Com-panies that have divested themselves of their animal health divisions, it seems, have done so much less for commercial interest in the area and much more for agreements between the industries them-selves - to focus on particular areas. In the last twenty years, the veterinary practice was to prescribe, for animals, medicines developed for humans. However, companies have invested heavily in exper-imentation with a more direct strategy: selling drugs developed especially for pets, including behav-ioral modification and lifestyle, often on demand by the animal's own. This all seems to be linked to the crisis that pharmaceutical companies have been facing in recent years, pointed out by the authors above. What they seem to have not identified is the incredible ability of these industries to expand their business by making it interspecies. What is perceived is a strong persuasion of both veterinari-ans (who already starts during the undergraduate course and remains during the clinical practice) and those responsible, through advertising campaigns that link medicalization to affection in the sense "Loves Cares". Thus, the motivations, strategies and impacts of the expansion of interspecies consumption targeted by the pharmaceutical industries are discussed in this paper.
Diante de uma sociedade que humaniza cada vez mais os animais de estimação, percebe-se a ampliação de ofertas e a complexificação de produtos e serviços destinados aos cuidados nos processos de adoecimento, envelhecimento e/ou morte desses animais. A medicalização da vida, já bastante discutida em relação à vida humana, se estende nos últimos anos também para as espécies animais tidas como pets dos humanos, inclusive para a saúde mental animal. Este processo foi identificado por Vlahos (2008), Segata (2012) e outros autores. Este trabalho propõe uma reflexão acerca da relação entre a medicalização da vida animal e o aumento significativo de investimentos na área da saúde animal realizados pelas maiores indústrias farmacêuticas do mundo. A metodologia utilizada alia levantamento de dados de investimentos, análise de material de campanhas publicitárias de medicamentos para pets, entrevistas com veterinários e responsáveis por animais de estimação e propõe uma análise à luz da literatura que aponta as mazelas e fragilidades da indústria farmacêutica (Illich, 1981; Girona, Rovirá y Homedes, 2009; Pignarre, 2005 e outros). Dentre as quinze maiores indústrias farmacêuticas do mundo, é possível averiguar investimentos na área de saúde animal em cinco delas, que compraram divisões de outras três empresas. As empresas que se desfizeram de suas divisões de saúde animal, ao que tudo indica, o fizeram muito menos por interesse comercial na área e muito mais por acordos realizados entre as próprias indústrias – de concentrar-se em determinadas áreas. Nos últimos vinte anos, a prática veterinária era a de prescrever, para animais, medicamentos desenvolvidos para humanos. No entanto, as empresas têm investido fortemente na experimentação com uma estratégia mais direta: vender drogas desenvolvidas especialmente para animais de estimação, inclusive de modificação comportamental e de estilo de vida, muitas vezes, sob demanda dos próprios responsáveis pelos animais. Isso tudo demonstra estar ligado à crise que as indústrias farmacêuticas vêm enfrentando nos últimos anos, apontada pelos autores acima. O que eles parecem não ter identificado é a incrível capacidade dessas indústrias de expandir o seu negócio, tornando-o interespécie. O que se percebe é uma forte persuasão tanto de médicos veterinários (que já inicia durante o curso de graduação e permanece durante a prática clínica) quanto dos responsáveis, através de campanhas publicitárias que vinculam medicalização ao afeto, no sentido do “quem ama cuida”. Sendo assim, as motivações, estratégias e os impactos da expansão do consumo interespécie visado pelas indústrias farmacêuticas são discutidas neste trabalho.