Esta tese foi moldada no conceito de pesquisa-intervenção proposto por Lúcia Rabello de Castro e Vera Lopes Besset, tendo em vista uma concepção de sujeito compreendido como subjetividade em-processo (ou vivente) conforme Felix Guattari e...
moreEsta tese foi moldada no conceito de pesquisa-intervenção proposto por Lúcia Rabello de Castro e Vera Lopes Besset, tendo em vista uma concepção de sujeito compreendido como subjetividade em-processo (ou vivente) conforme Felix Guattari e Gilles Deleuze. Seus métodos inferenciais fundamentam-se no sistema epistemológico de Charles Sanders Peirce -inclusivo das intuições no raciocínio lógico - representado no Brasil, em virtude do seu difícil acesso, por Lúcia Santaella. Produzida a partir de dados empíricos recolhidos em uma Oficina de Leitura sobre a obra Peter Pan e Wendy, de James Matthew Barrie, realizada com crianças de uma escola pública de Porto Alegre (RS, Brasil), ela reúne reflexões em torno da ideia do livro como mídia complexa, cujos valores estéticos e comunicativos são interferentes nas operações leitoras. Tais reflexões partem da proposição de que o comportamento presente nos discursos verbais e visuais implícitos no livro ilustrado ocorre de modo híbrido, acórdico, entrelaçado, e não dialógico e linear, garantindo um efeito único e indelével sobre a consciência memorial e afetiva do leitor, já apresentada em dissertação de mestrado defendida na mesma instituição. Os dados recolhidos na Oficina foram analisados considerando a identificação dos leitores com uma edição ilustrada da obra selecionada, tanto de um ponto de vista estético-cognitivo, orientado por uma semiótica de base peirceneana e estudos sobre o desenho e a expressão infantil - em que se destaca o nome do psicólogo Phillipe Greig -, quanto do ponto de vista psicossocial e emoafetivo, tendo por base a psicóloga Louise Kaplan e os filósofos Felix Guattari e Gilles Deleuze. Além disso, o estudo empírico propulsionou algumas derivações, divididas em quatro ensaios: no primeiro, uma reavaliação do conceito de livro como suporte e mídia tendo em vista seu histórico, seu status como ícone cultural, e em sua relativização às novas interfaces de leitura, apoiada numa grade teórica que inclui desde historiadores ou filósofos da linguagem escrita como Roger Chartier, Wilson Martins, Vilém Flusser, David Olson e Jacques Derrida, passando por nomes da Comunicação ou do Design Gráfico, incluindo Rafael Cardoso, Philip Meggs e Aston Purvis, entre outros mais atentos à espécie livro-ilustrado, como Alan Powers. No segundo, retoma-se o texto literário Peter Pan e Wendy a partir dos estudos de mestrado, reapresentando-o como módulo integrante do Universo Peter Pan em sua conjuração pelas mais diversas mídias, contextualizando-o histórica e culturalmente, no sentido de situar e contrastar as expectativas do leitor do seu tempo e local de origem às do leitor contemporâneo brasileiro. Nomes como Nestor Garcia Canclini, Henry Jenkins, Nicolas Bourriaud, Roger Chartier e estudiosos da cultura e do comportamento como Sivia e Guillermo Obiols, Zygmunt Bauman e Michelle Perrot se destacam, além de especialistas nesse clássico infantil como Maria Tatar, Peter Hollindale, Jacqueline Rose e Isabelle Cani. No terceiro ensaio, emula-se um novo conceito de leitor e de leitura, a partir das definições latina leggere e do legens, em que agentes e operações leitoras são ampliadas em sentido humanístico, na discussão de categorias como leitor crítico, leitor competente, leitor negativo/positivo e a emancipação através da leitura literária. Tal abordagem reflete e discute as ideias iluministas de Immanuel Kant, ainda influentes no moderno pensamento ocidental, em contraste aos desconstrutivistas já citados, como Felix Guattari e Gilles Deleuze. Por fim, um último ensaio avalia os contextos culturais, políticos e mercadológicos, macromediadores do encontro bem-sucedido entre os leitores, o livro, a literatura e a arte. Através dele, defende-se a ideia de um espaço emoafetivo e prazeroso de circulação, de acesso e de mediação do livro ilustrado, estimulante de uma leitura critico-sensível não apenas do literário, mas também dos discursos artísticos gráficovisuais, a serem integrados na subjetividade. Esta última reflexão se sustenta em pensadores da cultura e da arte, tais como as sociólogas Marilena Chauí e Gisela Taschner, o antropólogo Roy Wagner e o historiador, também antropólogo Michel de Certeau, personalidades ligadas ao mercado editorial como o editor Felipe Lindoso e teóricos da educação como Fernando Hernández e Humberto Maturana.