ARTIGO
DOI 10.20396/rap.v16i1.8663912
ENTRE NÓS: LEITURAS E OLHARES FEMINISTAS SOBRE A REPRESENTAÇÃO DAS
MULHERES EM NARRATIVAS ARQUEOLÓGICAS E VISUAIS
1
Camila Azevedo de Moraes-Wichers
2
Aluane de Sá da Silva
3
Giovanna Silveira Santos
4
Karlla Kamylla Passos dos Santos
5
Luciana Bozzo Alves
6
Paula Cristina de Almeida Silva
7
Wynne Borges Carneiro
8
Zilda Vieira Simas Oliveira
RESUMO
Este texto, tecido a muitas mãos, é inspirado na obra de Grada Kilomba, apresentando
episódios de racismo, sexismo e outros vetores de normatização e opressão de corpos
femininos, feminizados e racializados. Esses episódios passam também pela
estereotipagem e/ou apagamento das mulheres no campo da arqueologia, das narrativas
visuais e dos museus. Os episódios são circunscritos por meio de representações de
mulheres em diferentes suportes, como documentários, exposições, livros e histórias em
quadrinhos. Para evidenciar aspectos sexistas e racistas, dentre outras questões,
recorrentes nas narrativas visuais, escolhemos nos debruçar sobre a análise do
documentário “Ateliê de Luzia – Arte Rupestre no Brasil”, de 2003, do diretor Marcos Jorge,
1
Doutora e Mestra em Arqueologia (MAE/USP), Doutora em Museologia (ULHT-PT) e graduada em
História (USP). Docente do Bacharelado em Museologia e do Programa de Pós-Graduação em
Antropologia da Universidade Federal de Goiás (UFG). E-mail:
[email protected].
2
Especialização Interdisciplinar em Patrimônio, Direitos Humanos e Cidadania (NIEPDH/UFG),
bacharelado em Museologia e Comunicação Visual (UFG). E-mail:
[email protected]..
3
Mestra e doutoranda em Antropologia Social (PPGAS/UFG) e graduada em Museologia (UFG). Email:
[email protected].
4
Doutoranda em Museologia na Universidade Lusófona, Mestra em Divulgação da Ciência,
Tecnologia e Saúde – FIOCRUZ e graduada em Museologia (UFG). Professora substituta do
Bacharelado em Museologia da UFG. E-mail:
[email protected].
5
Mestra e doutoranda em Arqueologia pelo Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de
São Paulo. E-mail:
[email protected]. ORCID https://orcid.org/0000-0002-2802-5117.
6
Mestra e doutoranda em Antropologia Social pela Universidade Federal de Goiás (PPGAS/UFG) e
graduada
em
Direito
(PUC-GO).
E-mail:
[email protected].
ORCID
https://orcid.org/0000-0002-4502-9646.
7
Mestranda em Antropologia Social pela Universidade Federal de Goiás (PPGAS/UFG). E-mail:
[email protected]. ORCID https://orcid.org/0000-0001-7481-3993.
8
Discente especial do Programa de pós-graduação em Antropologia da Universidade Federal de
Goiás (UFG). Docente de Artes da Secretaria Municipal de Educação de Goiânia. E-mail:
[email protected]. ORCID https://orcid.org/0000-0002-1716-4090.
Campinas, SP v.16
n.1
p.205
06/2021
ISSN 2237-8294
© Rev. Arqueologia Pública
ARTIGO
de duas histórias em quadrinhos, a “Turma do Piteco”, idealizada em 1960, por Maurício de
Sousa, e “Luluzinha”, criada por Marjorie Henderson Buell (Marge), em 1935. Analisamos,
também, o conteúdo narrativo de duas telenovelas, “Laços de Família” (2000/2001) e
“Mulheres apaixonadas” (2003). Restou evidente a subalternização das mulheres,
sobretudo, não brancas e periféricas é recorrente em diferentes tempos, espaços e
discursos. Dessa forma, como companheiras no escrever, compreendemos que as
palavras transcritas são convites à ação: que comecemos a desvendar os episódios de
violência simbólica nas narrativas que nos rodeiam, provocando releituras e insurgências.
PALAVRAS-CHAVE: Representação; Gênero; Raça; Narrativas visuais; Narrativas
arqueológicas.
ABSTRACT
This text, elaborated by several hands, is inspired by the work of Grada Kilomba, showing
episodes of racism, sexism and other vectors of standardization and oppression of female
and racialized bodies. These episodes show the erasure and construction of stereotypes of
women at archeology research, visual narratives, and museums. The episodes are
circumscribed by means of representation of women in different places, for example
documentaries, exhibitions, books and comic books. To highlight sexist and racist aspects,
among other issues, recurring in visual narratives, we chose to focus on the analysis of the
documentary “Ateliê de Luzia - Arte Rupestre no Brasil”, from 2003, by director Marcos
Jorge, from two stories in comics, “Turma do Piteco”, created in 1960, by Maurício de
Sousa, and “Luluzinha”, created by Marjorie Henderson Buell (Marge), in 1935. We also
analyzed the narrative content of two soap operas, “Laços de Família” (2000/2001) and
“Mulheres apaixonadas” (2003). It remained evident the subordination of women, above all,
not white and poor, is recurrent at different times, spaces, and discourses. Thereby, as
partners in writing we understand that the words woven are invitations to action: that we
unveil the episodes of symbolic violence in the narratives that surround us, stoking
reinterpretations and insurgencies.
KEYWORDS: Representation; Gender; Race; Visual narratives; Archeological Narratives
RESUMEN
Este texto, “tejido por muchas manos”, inspirado en la obra de Grada Kilomba, presenta
episodios de racismo, sexismo y otros vectores de normatización y opresión de cuerpos
femeninos, feminizados y racializados. Estos episodios también pasan por el estereotipo y /
o la exclusión de la mujer en el área de la arqueología, de las narrativas visuales y de los
museos. Los episodios se circunscriben mediante representaciones de mujeres en
diferentes medios, como documentales, exposiciones, libros y cómics. Para resaltar
aspectos sexistas y racistas, entre otros temas, recurrentes en las narrativas visuales,
optamos por centrarnos en el análisis del documental “Ateliê de Luzia - Arte Rupestre no
Brasil”, de 2003, del director Marcos Jorge, de dos historias en cómics, “Turma do Piteco”,
creado en 1960, por Maurício de Sousa, y “Luluzinha”, creado por Marjorie Henderson Buell
(Marge), en 1935. También analizamos el contenido narrativo de dos telenovelas, “Laços de
Família” (2000/2001) y “Mulheres apaixonadas” (2003). Quedó claro que la subordinación
de las mujeres, especialmente las mujeres no blancas y periféricas, es recurrente en
diferentes tiempos, espacios y discursos. De esta forma, como compañeras en la escritura,
© Rev. Arqueologia Pública
Campinas, SP
v.16
n.1
p.206
06/2021
ISSN 2237-8294
ARTIGO
entendemos que las palabras tejidas son invitaciones a la acción: que nosotros develamos
episodios de violencia simbólica en las narrativas que nos rodean, provocando
reinterpretaciones e insurgencias.
PALABRAS-CLAVE: Representación; Género; Raza; Narrativas visuales; Narrativas
arqueológicas.
INTRODUÇÃO
Esse texto é fruto de um diálogo entre mulheres sobre episódios de racismo e
sexismo, inspirado na obra “Memórias da Plantação: Episódios de Racismo Cotidiano” de
Grada Kilomba (2019). A autora entende por “cotidiano” o fato de que não estamos tratando
de eventos pontuais ou isolados, mas sim de “[...] uma constelação de experiências de vida
[...] uma exposição constante ao perigo [...]” (KILOMBA, 2019, p. 80). Se a autora enfatiza
os episódios de racismo, onde o sujeito negro é inferiorizado por diferir do grupo que tem o
poder de definir a norma branca, aqui pautamos nossas análises pela interseccionalidade
entre gênero, raça, classe e sexualidade. Da mesma forma que Grada Kilomba,
compreendemos que esses episódios constituem, na realidade, políticas que tem como
objetivo impor o silêncio às pessoas que não se enquadram na norma configurada pelo
homem cis, branco, proprietário e heterossexual.
A
arqueologia
será
abordada
em
três
dimensões
para
essa
discussão.
Primeiramente, como campo científico cujos corpos acadêmicos são, majoritariamente,
caracterizados pela norma, ainda que essa realidade tenha sido parcialmente alterada na
última década. Essa dimensão está particularmente trabalhada no início do texto, que
destaca a arqueologia subaquática. Em uma segunda dimensão, esses corpos acadêmicos
produzem narrativas que constroem e reiteram a norma, resultando em discursos marcados
por um presentismo, onde padrões de gênero, entre outras normatizações, são projetados
para sociedades do passado. Essa dimensão está presente na socialização da arqueologia
em documentários, museus e materiais educativos, dentre outros, incutindo na sociedade a
norma que auxiliaram a construir e a reforçar. A escolha dos materiais visuais abordados foi
baseada na formação, constituição e experiência das autoras como mulheres no mundo. As
fotografias que demarcam o campo científico, os materiais audiovisuais, as histórias em
quadrinhos, os museus, as exposições e as novelas analisadas são suportes que marcaram
individualmente cada uma das autoras, seja pela falta de representatividade ou pela
normatização de corpos, posturas e narrativas. Ao debatermos os efeitos das políticas de
© Rev. Arqueologia Pública
Campinas, SP
v.16
n.1
p.207
06/2021
ISSN 2237-8294
ARTIGO
memória e de representação em nossas vidas e trajetórias acadêmicas vimos a
necessidade de abordar esse assunto sob uma perspectiva científica. Por fim, uma terceira
dimensão do texto reside no uso das lentes da arqueologia para leitura do mundo no qual
estamos inseridas, conforme a última parte do texto que sintetiza aspectos das políticas de
Outridade.
POLÍTICAS DE GÊNERO E RAÇA NA CIÊNCIA ARQUEOLÓGICA
A configuração da Arqueologia como ciência se deu no século XIX, no bojo da
construção das identidades nacionais, fortemente imbricada com colonialismos e
imperialismos (MORAES-WICHERS, 2017). Um ideal moderno de civilização produziu uma
norma, configurada pelo homem cis, branco, heterossexual e proprietário, transformada em
referencial para a classificação do mundo. As pessoas que não se adequam a esse ideal
passam a compor um contingente de corpos abjetos e de vidas que não importam
(BUTLER,1993), com base em um discurso pretensamente científico e neutro.
Em uma perspectiva histórica, os vestígios materiais, denominados como
arqueológicos por essa disciplina científica, compõem um processo bem mais longo,
estando associados ao ato humano de colecionar, de selecionar e ressignificar aspectos
materiais do mundo. Entretanto, essa relação com as materialidades, ao tornar-se ciência,
assumiu uma visão colonialista das histórias e das diferenças, afetando a trajetória da
arqueologia até o presente. Tal percurso, sexista, racista e nacionalista, tem resultado em
silenciamentos e representações estereotipadas das sociedades do passado, bem como em
agenciamentos e normatizações das sociedades do presente.
Estudos têm demonstrado como o campo científico da arqueologia brasileira tem
sido marcado por autorias de homens brancos europeus e estadunidenses, que compõem a
imensa maioria das referências utilizadas na formação acadêmica das/os profissionais do
campo (RIBEIRO et al., 2017; DE PAULA PASSOS, 2019). Esse quadro resulta na exclusão
das experiências, vivências e conceitos engendrados por mulheres, pessoas negras,
indígenas, periféricas e LGBTs.
Nesse primeiro momento do texto, selecionamos um subcampo específico da
disciplina para essa discussão: a arqueologia subaquática. A escolha dessa vertente se
justifica pois, suas produções e representações são especialmente marcadas pelo
androcentrismo e pela branquitude.
© Rev. Arqueologia Pública
Campinas, SP
v.16
n.1
p.208
06/2021
ISSN 2237-8294
ARTIGO
Enquanto prática científica, a arqueologia subaquática vem sendo praticada em
diversas partes do mundo desde a segunda metade do século XX, com pesquisas em
ambientes, pontual ou permanentemente submersos. Devido às particularidades que
tornam essa atividade extremamente fotogênica, atrativa aos olhares do público em geral,
inúmeros registros fotográficos e imagéticos têm sido feitos a fim de documentar o
denominado patrimônio cultural subaquático em suas variadas facetas. É possível observar
nos registros a presença maciça de pesquisadores homens, conforme ressalta Marina
Fontolan (2015). A autora examinou 17 obras publicadas entre 1966 e 2009, que continham
mais de 3500 imagens e detectou a baixíssima presença de pesquisadoras mulheres,
mesmo nos momentos em que a atuação feminina já era mais recorrente, sendo
predominantes os registros de homens brancos, comumente manuseando equipamentos
tecnológicos.
Essas imagens estão imbricadas aos seus contextos de produção e reforçam
estereótipos de gênero e de raça relacionados à prática da arqueologia subaquática. Na
memória coletiva, essa atividade é classificada, frequentemente, como busca de relíquias e
objetos valiosos em um meio perigoso e hostil, em representações que ressaltam a
necessidade de coragem e esforço físico, associando-a aos homens, pretensamente mais
fortes e corajosos (TEGA-CALIPPO, 2012).
Ao interseccionarmos raça na análise das imagens produzidas pela arqueologia
subaquática, em diálogo com a pesquisa de Fontolan (2015), podemos pressupor que o
número de homens negros seria ínfimo, tendendo a zero. A branquitude coloca-se como
detentora da razão científica e do aparato tecnológico necessário para esses estudos. As
mulheres negras, por sua vez, são totalmente excluídas das práticas e/ou representações.
A Figura 1, trazida como exemplo, corresponde a capa de um livro editado pela Sociedade
de Arqueologia Náutica, utilizado internacionalmente como referência sobre as técnicas de
pesquisas submersas. A capa constrói e reproduz a hegemonia masculina e branca nesses
estudos, ainda que o livro tenha como editora uma mulher.
© Rev. Arqueologia Pública
Campinas, SP
v.16
n.1
p.209
06/2021
ISSN 2237-8294
ARTIGO
FIGURA 1: Capa do livro Underwater Archaeology – The NAS Guide to Principles and Practice,
2009.
Bell hooks9 (2019) ao analisar as representações de pessoas negras na indústria
cinematográfica evidencia a importância da desconstrução da narrativa supremacista
branca, apontando o racismo institucional e estrutural, muitas vezes perpetrado nas
entrelinhas do discurso (hooks, 2019, p. 72). As imagens, tanto as estáticas examinadas por
Fontolan (2015), quanto as exibidas nos filmes analisados por Hooks (2019), são
carregadas de significados e poder. Essas seleções têm a capacidade tanto de romper com
paradigmas, quanto de legitimar discursos hegemônicos, reiterando a norma moderna e
ocidental.
Na última década, no Brasil, essa norma tem sido questionada por ações que atuam
nas fissuras da colonialidade, bem como por meio de contra narrativas. A ampliação dos
cursos de formação em arqueologia e as políticas de cotas têm possibilitado o acesso de
pessoas pobres, negras, indígenas, periféricas e LGBTs, dentre outras denominadas
minorias políticas, à arqueologia, alterando as condições de produção do discurso
9
Cientes que as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) impõe a citação de
autores e autoras com a grafia em caixa alta, referenciamos a escritora bell hooks, em caixa baixa,
em respeito à autora que adota, ela própria, a postura política de grafar seu nome em caixa baixa.
Para ela nomes, títulos, nada disso tem tanto valor quanto as ideias.
Campinas, SP v.16
n.1
p.210
06/2021
ISSN 2237-8294
© Rev. Arqueologia Pública
ARTIGO
científico10. Ainda que sob ataque no momento político atual, essas mudanças certamente
significam novas condições de produção do discurso científico, que poderão afetar as
imagens e representações da arqueologia.
Mas voltemos ao início do século XXI. Vamos analisar um dos filmes destinados a
socializar a arqueologia para a sociedade brasileira em um amplo senso.
POLÍTICAS DO SEXO E DA ARTE NO ATELIÊ DE LUIZA
O documentário “Ateliê de Luzia – Arte Rupestre no Brasil11”, de 2003, do diretor
Marcos Jorge, discorre sobre as pesquisas arqueológicas realizadas no país. Oito pessoas
– três arqueólogas, dois arqueólogos e três profissionais (homens) de áreas afins –,
predominantemente brancas/os, se revezam em falas destinadas a trazer aspectos da
arqueologia brasileira para o público em geral, com ênfase em temas como a antiguidade
das ocupações humanas e a arte rupestre.
A arqueologia é apresentada como ciência que se dedica a estudar “a cultura
evoluindo12”, o “homem pré-histórico” e as “tribos” indígenas. Ainda nos primeiros 20
minutos do documentário, a arqueóloga Niède de Guidon, ao expor as pesquisas realizadas
no Parque Nacional da Serra da Capivara, no Piauí, sobre as tradições da arte rupestre,
afirma que algumas pinturas caracterizam “pessoas do sexo masculino, porque o sexo está
representado” (19’05’’). No caso, o falo é utilizado como representação do masculino. Mas,
alguns segundos após a referida assertiva, Niède enfatiza que, “o problema das pinturas, é
que do ponto de vista científico, na falta do código, tudo que se disser sobre elas, nunca
poderá ser provado” (19’26’’).
Segundo Laura Furquim e Camila Jácome (2019, p. 8), tais interpretações
revelariam “um cenário de diferença”, mas não necessariamente de desigualdade, que
permanece inexplorada criticamente. Essa diferença é afirmada em representações de
gênero acionadas a partir de leituras da arte rupestre baseadas no dimorfismo sexual.
Masculino e feminino, homem e mulher são organizados em binarismos assimétricos. Butler
10
Ver exemplos de trabalhos na arqueologia subaquática: ALVES, 2016; NOVAES, 2017.
Disponível em: https://vimeo.com/132775716. Acesso em: 05 dez. 2020.
12
Os termos assinalados entre aspas e itálico foram retirados dos materiais analisados, no caso do
documentário enfatizado neste eixo do artigo.
Campinas, SP v.16
n.1
p.211
06/2021
ISSN 2237-8294
© Rev. Arqueologia Pública
11
ARTIGO
(1990) nos alerta que as categorias de sexo e gênero são construídas culturalmente, ainda
que
constantemente
afirmadas
como
elementos
“pré-discursivos”,
naturalizadas
biologicamente, anteriores e se contrapondo à cultura.
Ademais,
no
documentário,
a
ciência
arqueológica
aciona
um
masculino
pretensamente neutro, que serviria para representar tudo e todos. Quando a categoria
‘mulher’ é utilizada, vem acompanhada de uma tarefa específica. Dentre as poucas funções
designadas para a mulher, destaca-se “trabalhar com as crianças” (20’34’’). Se por um lado,
o documentário conta com a presença de muitas arqueólogas, por outro lado, sua narrativa
retira do campo de ação das mulheres diversas atividades, entre elas, a arte.
Não nos debruçamos aqui sobre o uso do termo arte e suas implicações enquanto
colonialidade do saber, posto sua construção no ocidente moderno. Como afirma Naine
Terena13, se as curadorias tivessem enfatizado a autoria indígena, a arte indígena como
fenômeno que atravessa diversas dimensões da vida, isso seria um grande avanço. Dessa
forma, compreendemos que os registros rupestres podem ser compreendidos como arte
dos “parentes” indígenas14.
O referido documentário acertadamente traça um paralelo entre a arte rupestre, o
grafite e a pichação. Se por um lado, a associação entre diferentes expressões gráficas dos
coletivos humanos ao longo do tempo – já trabalhada por Andrei Isnardis (1997),
arqueólogo que também colabora no documentário analisado – revela-se como um caminho
profícuo, por outro lado, as políticas do sexo na arte estabelecem lugares distintos para
homens e mulheres. Essa parte do documentário apresenta também oito pessoas, sendo
apenas uma mulher. Em termos raciais, apenas dois homens negros são inseridos.
Cabe nos determos nas distinções entre grafite e pichação, bem como os dualismos
e assimetrias que tal divisão sinaliza, sendo importante indicar que essa diferenciação é
própria do contexto brasileiro (MORAES, 2014, p. 29). O grafite, ainda que com ressalvas, é
mais facilmente legitimado e apreciado como arte, presente em galerias. A pichação, por
sua vez, fica na arena de uma prática de resistência contra hegemônica que não é
13
Anotação de aula proferida pela professora Naine Terena no dia 17 de setembro de 2020 no curso
Curadorias em Perspectiva do Instituto Tomie Ohtake.
14
As populações indígenas no Brasil utilizam o termo “parente” frequentemente para se referir a
indígenas de outras etnias, em processos de identificação e pertencimento. Destacamos o trabalho
de Elaine Wanderley “É pote de parente antigo! A relação de indígenas Apurinã da Terra Indígena
Caititu com os sítios e objetos arqueológicos” (WANDERLEY, 2016) como uma das pesquisas que
evidenciam as relações entre as coisas estudadas pela arqueologia e os povos indígenas.
Campinas, SP v.16
n.1
p.212
06/2021
ISSN 2237-8294
© Rev. Arqueologia Pública
ARTIGO
legitimada. Mesmo ambas as práticas estando presentes dentro do elemento visual do
movimento Hip Hop, ocorrem tensões até entre as/os adeptas/os. Existem pichadoras/es
que são grafiteiras/os e pessoas que atuam somente em um dos dois. Dentre as tensões
evidenciadas, somaremos um destaque àquelas relacionadas aos papéis de gênero e a
recorrente masculinização da prática, pois as mulheres precisam administrar o conflito de
ser mulher num movimento predominantemente masculino e masculinizado (SANTOS,
2019).
No documentário, a referida distinção também opera, em 54’00’’ aparece na legenda
“pichação (também conhecida como vandalismo)”, sendo indicado sempre se os
entrevistados são grafiteiros ou/e pichadores. Não obstante, em 60’09’’, Isnardis comenta
sobre a dificuldade de avaliar o quanto o grafite ainda possui das “gangues” de pichadores.
A técnica aparece no documentário como elemento central na “evolução” das
sociedades. Esta premissa de “técnica” é utilizada como argumento tanto para marcar as
distinções entre grafite e pichação, como entre a produção masculina e feminina. Nesses
dualismos, o grafite seria tecnicamente superior, assim como a produção masculina.
Se na “pré-história” a maternidade e o cuidado com as crianças são elementos
ressaltados como ocupações femininas, no presente, capturado pelo documentário, a
mulher grafiteira é jovem e branca, sendo que sua produção, ao fundo, possui
características feminilizadas. Compreendemos que a escolha dessa artista e obra não são
neutras, mas que compõem o campo das políticas sexuais e de arte. Além disso, embora o
Ateliê seja de Luzia no título do documentário, essa mulher considerada o esqueleto
“feminino” mais antigo das Américas15, não é afirmada como artista, como sujeita criadora
das expressões gráficas presentes em tantos espaços do atual território brasileiro.
É comum a falta de técnica ser a explicação para a ausência de mulheres artistas
(NOCHLIN, 2016 [1971]), argumento recorrentemente utilizado para invisibilizar a produção
das artistas pichadoras e grafiteiras. Entretanto, foi a modernidade ocidental que firmou um
15
Estudos recentes, baseados em análises do DNA, propõem outra narrativa acerca das primeiras
ocupações humanas do continente americano, questionando levas migratórias austro-melanésias.
Esses estudos substituíram a imagem de Luzia, uma mulher negra, pela imagem de um homem, com
feições mais próximas de uma pessoa branca (SALLES, 2020 e POSTH et al, 2018).
Campinas, SP v.16
n.1
p.213
06/2021
ISSN 2237-8294
© Rev. Arqueologia Pública
ARTIGO
patriarcado de alta intensidade16, onde as mulheres desempenham funções inferiorizadas e
desvalorizadas, restringindo a participação das mulheres em outras atividades, como a
criação artística. Essa visão, impregnada de um presentismo, é, então, projetada no
passado, na interpretação da arte rupestre.
Nesse sentido, o engajamento de mulheres na produção da arte urbana rompe
paradigmas ao quebrar a dicotomia que reserva o espaço público aos homens e a vida
privada às mulheres. Assim como nas demais dimensões da vida, a cena da arte urbana
não foge da reprodução de comportamentos machistas, sexistas e misóginos. Não
obstante, a produção feminina leva para as ruas contranarrativas pulsantes ao abordar
temas como o assédio sexual, a discriminação e a violência de gênero, a violência
doméstica, a ditadura da beleza, a maternidade e os direitos reprodutivos. A pichação feita
por mulheres por si só é transgressora, toma de assalto e intervém no espaço público,
transita em ambientes masculinizados, pede – ou melhor, exige – respeito, além de
reivindicar o território da arte urbana. As tantas luzias que nos precederam podem ser
inspirações para essa criação no presente.
Seguindo em um percurso que busca evidenciar as relações entre prática
arqueológica, materialidades, representações, silenciamentos e estereotipações, tivemos a
possibilidade de adentrar em um universo que pode ser um dos espaços mais
frequentemente acessados por crianças e jovens: as histórias em quadrinhos.
POLÍTICAS DO CORPO NAS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS
Crianças e adolescentes, muitas vezes, acabam acessando conteúdos relativos à
“pré-história”17 e, mais amplamente, sobre os papéis de gênero no presente, em histórias
em quadrinhos (HQs). Para demonstrar como esses materiais trazem conteúdos que
acabam construindo representações estereotipadas acerca do passado dos coletivos
humanos, o que revela na realidade a projeção dos ideais do presente e a normatização
16
Aqui dialogamos com Rita Segato, que defende que as sociedades ameríndias, antes da
colonização, seriam caracterizadas por um patriarcado de baixa intensidade, marcado por uma
dualidade hierárquica, que, apesar de desigual, tinha plenitude ontológica e política, a qual teria sido
substituída com a colonização por uma estrutura binária (SEGATO, 2012).
17
Termos como “pré-história” ou mesmo “pré-colonial” marcam um tempo linear, concepção própria
das sociedades ocidentais ou ocidentalizadas (MCCLINTOCK, 2010). Além de marcar essa divisão,
o termo pré-história, muitas vezes é compreendido como sinônimo das pesquisas arqueológicas,
ignorando a prática arqueológica voltada para o passado contemporâneo.
Campinas, SP v.16
n.1
p.214
06/2021
ISSN 2237-8294
© Rev. Arqueologia Pública
ARTIGO
dos corpos e formas de existir, escolhemos a HQ “Turma do Piteco”. Adiante, traremos
apontamentos sobre as políticas do corpo e do gênero na HQ “Luluzinha”.
A “Turma do Piteco”, idealizada pelo cartunista Maurício de Sousa ainda na década
de 1960 e publicada como tira no jornal Diário de São Paulo, tem como público-alvo
crianças em fase de letramento escolar básico, procurando estimulá-las à leitura. Ainda que
a obra possa buscar ensinar conteúdos básicos da história evolutiva da humanidade,
incorre em diversos equívocos, como a convivência entre seres humanos e dinossauros. O
ambiente onde se passa a história é generalizado, assim como as características da “idade
da pedra”: a constante luta pela sobrevivência; os perigos, dentre esses, os dinossauros, e
o papel do homem enquanto herói a enfrentar essas adversidades. Neste caso o herói é
Piteco, caracterizado por seu penteado, roupa e arma. A personagem Thuga, por sua vez,
constrói e reitera estereótipos de gênero: ela é uma mulher branca, gorda e seu maior
sonho é casar-se com Piteco, mas não é correspondida por ele (CARDOSO, 2020). Por que
justamente uma mulher cujo corpo foge do padrão ditado pela norma tem seus sentimentos
rejeitados?
A história “Piteco em: Homus Erectus18”, lançada em 2003, permite explorarmos
outras dimensões das políticas do corpo, sexo e gênero presentes nessa HQ. Nesta
história, Piteco encontra um povo que se movimenta engatinhando, utilizando mãos e pés.
Esse povo zomba de Piteco, porque estranha ele se movimentar andando. Mas quando
Piteco e membros desse povo são atacados por um tigre-dente-de-sabre, Piteco consegue
fugir mais rápido que todos porque é bípede. Além disso, Piteco enfrenta o tigre utilizando
seu tacape com as mãos, derrotando o animal. Assim, as pessoas começam a perceber as
vantagens de andar com os dois pés.
As personagens femininas ocupam um espaço imagético menor do que o espaço
ocupado pelos personagens masculinos na história. Com isso, percebe-se que há uma
prevalência dos últimos, são eles quem mais têm falas e interagem entre si, são os que
fazem política, evidenciando a construção do gênero no âmbito da cultura (HARDING,
1986). As materialidades que sustentam as representações sexistas são diversas. Uma
personagem feminina sempre está acompanhada por uma criança, reiterando seu lugar
social de genitora e cuidadora. É representada em posturas que sutilmente indicam a
18
Disponível em:
https://www.facebook.com/striptiras/photos/a.461812737171685.111302.435784396441186/4618127
77171681. Acesso em: 12 out. 2020.
Campinas, SP v.16
n.1
p.215
06/2021
ISSN 2237-8294
© Rev. Arqueologia Pública
ARTIGO
subserviência do corpo feminino/feminizado ao masculino. As atividades das personagens
na cena marcam diferenças e reforçam “castas” de relevância social entre os gêneros. Essa
dicotomia é hierarquizada e atua no sentido de fixar um dominante e uma subordinada
(COLLINS, 2019).
O auge da representação machista evidencia-se na cena em que os homens são
retratados em um estágio mais avançado do que as mulheres, tendo aprendido a andar de
modo bípede, inclusive o bebê19. Todas as mulheres da cena ainda estão em posição
quadrúpede, reforçando estereótipos de atraso e inferioridade do gênero feminino.
Ademais, nessa cena a fala é apenas dos homens.
19
É possível pressupor que o autor quis retratar um personagem masculino no bebê através da
lógica cromático-dicotômica ocidental que tem construído a associação entre a cor azul e a
masculinidade.
Campinas, SP v.16
n.1
p.216
06/2021
ISSN 2237-8294
© Rev. Arqueologia Pública
ARTIGO
FIGURA 2: Cena da história em quadrinhos “Piteco em: Homus erectus” da Turma do Piteco, 2003.
© Rev. Arqueologia Pública
Campinas, SP
v.16
n.1
p.217
06/2021
ISSN 2237-8294
ARTIGO
A narrativa arqueológica é uma forma de compreender o mundo, portanto,
estruturada
pelos
parâmetros
do
presente.
Compreendemos
que
as
narrativas
arqueológicas não rompem com o tipo de representação expresso na HQ Piteco. Pelo
contrário, acabam sendo eixos de um esquema de pensamento dicotômico e assimétrico,
em que as mulheres ocupam o lado inferior dessa díade. Não é por acaso que os corpos
feminizados estão alocados no que chamamos universo doméstico, enquanto as
personagens masculinas são retratadas no que poderíamos chamar de vida pública.
Narrativas e representações como essas compõem uma gama de violências físicas,
simbólicas e epistêmicas (SEGATO, 2012) contra nós, mulheres, e requerem releituras e
insurgências. Conforme nos ensina Alison Wylie, “O que precisamos é de uma história que
possa ser usada pelas mulheres e meninas hoje – e uma história que nos torna literalmente
invisíveis, certamente não pode sê-lo” (WYLIE, 2014, p. 260).
Por
seu
turno,
algumas
histórias
em
quadrinhos
parecem
perturbar
as
normatizações de gênero na sociedade contemporânea, ainda que não rompam com a
construção de estereótipos. A personagem Luluzinha, da HQ homônima, foi criada por
Marjorie Henderson Buell (Marge), em 1935, sob a forma de cartuns semanais na revista
Saturday Evening Post. Com sucesso imediato, a série continuou por quase 10 anos,
quando a autora parou de produzi-la para se dedicar ao casamento – fato que demonstra o
peso dos papéis de gênero ditados pela sociedade. A personagem continuou a fazer
sucesso em propagandas, passando a compor histórias em quadrinhos na segunda metade
do século XX. John Stanley e Irving Tripp escreveram e desenharam a quase totalidade das
histórias entre 1950 e 1959. Nos anos posteriores outras editoras e produtoras viriam a
obter o direito da personagem, que segue bastante conhecida.
© Rev. Arqueologia Pública
Campinas, SP
v.16
n.1
p.218
06/2021
ISSN 2237-8294
ARTIGO
FIGURA 3: Capa da revista “Luluzinha”, 2012.
Luluzinha usa um vestido vermelho curto de manga longa – o clássico que a
eternizou – e traz os cabelos minuciosamente produzidos em cachos, na altura dos ombros
e uma delicada boina vermelha, certamente para combinar com o vestido. Já Bolinha, usa
traje marinheiro20. Na capa analisada, o semblante vitorioso da menina, que tem ao seu
lado quase a totalidade das bolinhas de gude no jogo, enquanto Bolinha chora, mostra a
vitória da personagem feminina em uma brincadeira frequentemente associada aos
meninos. Para Bolinha, a derrota é ainda mais amarga, pois vem perpetrada por um ser
“inferior”, ou seja, uma menina.
20
Disponível em: http://www.guiadosquadrinhos.com/edicao/luluzinha-n-15/lu167100/98819.Acesso
em: 16 dez. 2020
Campinas, SP v.16
n.1
p.219
06/2021
ISSN 2237-8294
© Rev. Arqueologia Pública
ARTIGO
Para Sueli Carneiro: “[...] a construção da identidade é um processo que se dá tanto
pela aproximação com o outro (aquele com quem desejamos nos assemelhar, qualificado
positivamente) como pelo afastamento do outro (de quem nos julgamos diferentes e
qualificamos negativamente)” (CARNEIRO, 1995, p. 547). Na imagem, o senso de
identidade de Bolinha se assume instabilidade a ponto de fazê-lo chorar, pondo à prova a
noção hegemônica de masculinidade. Luluzinha subverte seu papel na história, nos termos
de Joan Scott (1990), pois pode até usar a vestimenta e o penteado indicados para garotas,
mas se comporta como um garoto, ao adentrar no seu universo de brincadeiras e mais que
isso, ao vencer o jogo.
Se filmes, documentários e histórias em quadrinhos são espaços importantes de
veiculação das narrativas de gênero, qual seria o lugar dos museus nesses processos?
POLÍTICAS MUSEAIS: SILENCIAMENTO E ESTEREOTIPAGEM
Cristina Bruno (2005) tem utilizado o conceito de memórias exiladas para
compreender a inserção dos vestígios arqueológicos na história social brasileira. Segundo a
autora, esses vestígios são onipresentes nos museus, mas raramente são tomados como
referências culturais, resultando em uma estratigrafia do abandono. Camila Moraes-Wichers
(2019) dialoga com essa ideia, demonstrando que esses vestígios, quando expostos ou
tomados como referenciais em narrativas visuais, são componentes de processos de
silenciamento e/ou estereotipagem, resultando em violências simbólicas.
Para Sandra Harding (1986), a dimensão simbólica da opressão envolve a
construção de estereótipos de raça, classe e gênero, entre outros. Patrícia Hill Collins, por
sua vez, demonstra como os estereótipos são uma representação de imagens
externamente definidas e controladoras da condição, em especial, das mulheres negras
(COLLINS, 2019).
As políticas museais, em instituições arqueológicas e antropológicas, mas também
em museus de história e arte, entre outras tipologias, são marcadas pela norma, apagando
ou representando de forma assimétrica os corpos abjetos.
Uma das autoras do presente texto, uma mulher negra, foi pela primeira vez ao
museu quando tinha dez anos, com a escola. Era o Museu das Bandeiras, na Cidade de
Goiás/GO. Apesar de impressionada com o tamanho daquele casarão, aquele espaço não a
© Rev. Arqueologia Pública
Campinas, SP
v.16
n.1
p.220
06/2021
ISSN 2237-8294
ARTIGO
interessou. Os ambientes eram escuros, existiam instrumentos de suplício e castigo em
salas que contavam uma história sobre os “escravos” e o ciclo do ouro. Sua segunda visita
a uma instituição museológica, na mesma época, foi ao Museu Imperial em Petrópolis/RJ.
Ainda que mesmerizada com o tamanho daquele edifício tão antigo, com seus cômodos
enormes, com o salão de música e camas altas com dossel, entre outros elementos, a
sensação de ausência se manteve. Os cheiros, cores e os retratos de moças de pele tão
alva, lábios rosados e cabelos claros marcaram as memórias sobre aquele espaço. Levada
pelos seus pais, que também são negros, para conhecer um pouco da história do país, a
menina percebeu que não cabia naquela narrativa: “vi a história sendo escrita e narrada por
pessoas brancas, que em nada se pareciam comigo ou com meus familiares, e meus
ancestrais serem subalternizados, era a confirmação que eu estava do lado da história que
fora escamoteado21”.
Os museus mencionados ainda que não propriamente arqueológicos – embora o
Museu das Bandeiras possua peças arqueológicas em seu acervo e exposição – são
materialidades que, lidas à luz do olhar arqueológico, colocam-se como arenas que
poderiam servir para o questionamento das estratégias da colonialidade em materializar
discursos pré-concebidos, reiterando a norma.
Algumas instituições têm buscado esse caminho. O Museu de Arte de São Paulo –
MASP, por exemplo, com a exposição “Histórias Afro-Atlânticas”, em 2018, tentou trazer à
tona outros discursos sobre as pessoas negras e, mais que isso, com a curadoria de
algumas pessoas negras. A menina, hoje mulher, finalmente se enxergou nos rostos e
corpos das pessoas artistas, das pessoas representadas ou simplesmente espectadoras:
“me identifiquei com o que estava sendo retratado e acionei memórias que eu nem sabia
que estavam guardadas22”.
21
22
Narrativa da penúltima autora do artigo.
Narrativa da penúltima autora do artigo.
© Rev. Arqueologia Pública
Campinas, SP
v.16
n.1
p.221
06/2021
ISSN 2237-8294
ARTIGO
FIGURA 4: Visita à exposição Histórias Afro-atlânticas do MASP: o encontro com a obra de
Dalton Paula. Foto: Everton Lamare, outubro/2018.
Contra Narrativas também têm sido desenvolvidas em museus de arqueologia, com
a ressignificação de acervos e elaboração de exposições com curadorias indígenas.
Recentemente, o Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo
inaugurou a exposição “Resistência Já”, fruto do trabalho com os povos Kaingang, Guarani
Nhandeva e Terena, que realizaram a curadoria da exposição, sob a coordenação de
Marília Cury (GUIMARÃES et al., 2017).
Pensamos em Alex Ratts, escrevendo “Eu sou Atlântica”, sobre a trajetória de vida
de Beatriz Nascimento: “é tempo de falarmos de nós mesmos não como ‘contribuintes’ nem
como vítimas de uma formação histórico social, mas como participantes desta formação”
(RATTS, 2007, p. 101). Pensamos em Lélia Gonzalez, em como não estamos nos livros,
nos museus, nos discursos patrimoniais, nas narrativas visuais e nas histórias em
quadrinhos. Mulheres, pessoas negras, indígenas, periféricas e LGBTs. Se lá estamos,
somos na maioria das vezes enquadradas em representações estereotipadas que visam
© Rev. Arqueologia Pública
Campinas, SP
v.16
n.1
p.222
06/2021
ISSN 2237-8294
ARTIGO
reafirmar lugares subalternizados. Pensamos nas pessoas heroínas que foram apagadas e
que hoje vão ressurgindo através da resistência da nossa sobrevivência. E é por pensar
assim, é por ver e viver tudo isso, é por pensar que os “nossos passos vêm de longe”, que
seguimos em frente.
Os apagamentos e estereótipos também nos chegam pela propaganda, imprensa,
produção fílmica hollywoodiana e televisão. Selecionamos aspectos das telenovelas para
traçar essa reflexão.
POLÍTICAS DA OUTRIDADE E ALGUMAS PALAVRAS FINAIS
Este tópico final é inspirado pelo capítulo “Você gostaria de limpar nossa casa?” de
Grada Kilomba (2019) e por duas telenovelas da rede Globo de televisão, “Laços de
Família” (2000/2001) e “Mulheres apaixonadas” (2003)23. Entre as autoras que referenciam
esta construção, além de Kilomba, destacamos bell hooks (2019)24 e Silvia Federici (2019).
Essas novelas são repletas de episódios de racismo e sexismo cotidiano, prestando-se a
algumas costuras finais desse texto. Costuras alinhadas de forma a deixar trechos abertos,
à mostra, posto que nos dispusemos a enveredar por muitos caminhos, não no intuito de
trazer verdades ou certezas, mas de expor políticas de exclusão e opressão, assim como
apontar possíveis fissuras para nossa ação.
As duas novelas supramencionadas, do autor Manoel Carlos25, trazem enredos
parecidos, com mulheres ricas e apaixonadas, enquanto as mulheres negras estão à
serviço das pessoas brancas. Essas histórias retratam as elites cariocas, em especial, do
bairro Leblon, com tramas perpassadas por dilemas da branquitude e da masculinidade
hegemônica. As materialidades são as praias, as calçadas limpas e seguras, os
apartamentos amplos e ricamente mobiliados, as roupas de grife e as jóias, a mesa posta
pela empregada negra. Uma arqueologia do contemporâneo ao traçar os materiais e seus
fluxos, revela a persistência desse cenário nas novelas aqui mencionadas e em tantas
23
Ambas estão sendo reprisadas no momento da construção deste artigo (dezembro/2020), uma na
Rede Globo e a outra no canal Viva, também do Grupo Globo.
24
Ainda sugerimos como complementar os materiais audiovisuais: o filme “Que horas ela volta?”
(2015); a série ‘Pequenos Incêndios por Toda Parte’ (Little Fires Everywhere) (2020); o vídeo
‘Empregadas domésticas’ (2020). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=v7V4tIUYLP8.
Acesso em 08 dez. 2020.
25
Homem cis, branco, heterossexual, de classe média e nascido em São Paulo, em 1933.
Campinas, SP v.16
n.1
p.223
06/2021
ISSN 2237-8294
© Rev. Arqueologia Pública
ARTIGO
outras obras. Poucas mulheres negras têm uma narrativa própria, que vá além do contato
com suas/seus patroas/patrões e com as crianças que elas cuidam. Estão à disposição da
primeira hora da manhã à última da noite, isoladas (FEDERICI, 2019), oferecendo serviços
variados.
Estudos
demonstram
que
elencos
das
novelas
brasileiras
ainda
são
hegemonicamente brancos, uma vez que apenas 8,8% das personagens poderiam ser
identificadas como não-brancas. O percentual médio de atores e atrizes pretos ou pardos
de acordo com o escritor principal da novela no período de 1985-2014 variou entre 4 e 13%,
sendo que Manoel Carlos teria escalado cerca de 11% de atrizes e atores não brancos em
suas obras (CAMPOS; FERES JÚNIOR, 201626).
Bell hooks oferece o conceito de Outridade para designar um “outro” exotizado,
particularmente por suas diferenças em termos de gênero e raça (hooks, 2019 [1992]).
Temos defendido, nesse texto, que as narrativas arqueológicas e visuais são eixos onde
silenciamentos e estereótipos são elaborados e reafirmados. Na ciência, nas visões
construídas acerca do passado – onde normas de gênero são projetadas nas sociedades
que nos precederam –, na arte das galerias e da rua, nos museus e nas histórias que teriam
como finalidade ensinar ou entreter, uma imagem persiste, inúmeras e inúmeras vezes: os
corpos feminizados são destinados ao cuidado, aos afazeres menos valorizados e ao
espaço
privado.
Quando
também
racializados,
esses
corpos
são
ainda
mais
marginalizados. Pelo prisma da interseccionalidade sabe-se que outros eixos – como
classe, sexualidade e o fato de uma mulher ser trans e não cis, para citar apenas alguns –
podem atravessar esses corpos, tornando-os ainda mais inferiorizados.
Kilomba, no capítulo mencionado, discorre sobre um episódio em que foi a um
médico branco, quando tinha 13 anos, quando ele perguntou se ela não limparia a casa
dele. A autora questiona se em outros cenários esse convite seria possível, e se fosse um
homem branco e uma menina branca? Se fosse uma médica branca e um menino negro?
26
“É curioso notar que as novelas de Manoel Carlos em específico, frequentemente focadas nos
dilemas amorosos e cotidianos das elites cariocas, foram mais de uma vez criticadas pela ausência
de personagens negros. Mas no mínimo desde “Por Amor” (1997), novela que abordou a temática
racial em um de seus núcleos, é possível perceber que o escritor opta por representar ao menos
alguns núcleos com personagens não brancos. Essa preocupação atinge seu momento mais
evidente em “Viver a Vida” (2009), primeira novela de Carlos protagonizada por uma atriz negra, Taís
Araújo. Curiosamente, porém, “Viver a Vida” se tornou alvo de críticas justamente por não tematizar
a questão racial, a despeito da cor de sua protagonista” (CAMPOS; FERES JÚNIOR, 2016, p. 49).
© Rev. Arqueologia Pública
Campinas, SP
v.16
n.1
p.224
06/2021
ISSN 2237-8294
ARTIGO
“Tal fantasia colonial poderia ocorrer no consultório de uma/um médica/o negra/o?”
(KILOMBA, 2019, p. 95).
Voltemos ao campo científico da arqueologia. Se as mulheres compõem
quantitativamente a maior parte desse campo, por que as narrativas sexistas são
reproduzidas? Estamos no campo, mas subalternizadas pelo discurso da masculinidade
moderna e ocidental? A associação da arqueologia e, em especial, da sua vertente
subaquática, com a busca de relíquias, com os perigos e aventuras, seria um eixo que
resultaria em práticas tidas como masculinizadas? Voltemos à Luzia, e às demais mulheres
negras, indígenas e artistas. Qual espaço a arqueologia e o campo patrimonial têm aberto
para essas mulheres? Por que Piteco é o personagem central na “pré-história” e Thuga a
mulher apaixonada e rejeitada? Nas novelas, as mulheres brancas, frequentemente
inseridas na norma ditada ao corpo, também são apaixonadas, se orientam por suas
emoções, retratadas como descontroladas. Exceto as mulheres negras, enquadradas pela
branquitude nos papéis de mulata, doméstica e mãe preta, como mostrou Lélia Gonzalez
(1984). Essa mulher negra não tem espaço na disciplina científica e nos museus. Doméstica
e mãe preta, ela é obrigada a trabalhar, mesmo na pandemia. Aqui relembramos – não
seria a memória o campo no qual transitamos? – Mirtes Renata Souza, mãe do menino
Miguel, morto em junho de 2020. Enquanto Mirtes cuidava do cachorro da família, Miguel foi
deixado sem cuidados por sua patroa. Em março, a primeira morte por coronavírus
confirmada pelo governo do estado do Rio de Janeiro foi de Cleonice Gonçalves, diarista
que teve contato com a patroa que estava com o vírus após uma viagem à Itália. E se essas
narrativas soam naturais para a sociedade onde vivemos, não podemos dizer que as
narrativas arqueológicas e visuais não têm a sua parcela de culpa. São essas narrativas,
enquanto violências simbólicas, a base discursiva das violências físicas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BOWENS, Amanda. Underwater Archaeology: The NAS Guide to Principles and Practice.
2ª Ed., 2009. Nautical Archaeological Society. ISBALVES, Luciana Bozzo. A Diáspora
Africana no litoral Norte paulista: desafios e possibilidades de uma abordagem
arqueológica. São Paulo: Universidade de São Paulo, p. 224, 2016. (Dissertação de
Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Arqueologia). Universidade de São Paulo, São
Paulo, 2016.
ANZALDÚA, Gloria. 2017. Queer (izar) a escritora – Loca, escritora y chicana. In:
BRANDÃO, I.; CAVALCANTI, I.; LIMA COSTA, C.; LIMA, A. C. A. Traduções da Cultura.
Perspectivas críticas feministas (1970-2010). Florianópolis, EDUFAL, Editora da UFSC.
© Rev. Arqueologia Pública
Campinas, SP
v.16
n.1
p.225
06/2021
ISSN 2237-8294
ARTIGO
ATELIÊ DE LUZIA – Arte Rupestre no Brasil. Direção: Marcos Jorge, produzido por Cláudia
da Natividade. São Paulo: Citizencrane Produções, 2003. 1 vídeo (81 min), color. Disponível
em: https://vimeo.com/132775716. Acesso em: 05 dez. 2020.
N: 978-1-405-17592-0.
BRUNO, Maria Cristina de Oliveira. Arqueologia e Antropofagia: A musealização de sítios
arqueológicos. Revista do Patrimônio Histórico Artístico Nacional, [S. l.] vol. 31, p. 234247, 2005.
BUELL, Marjorie Henderson; STANLEY, John; TRIPP, Irving. Luluzinha: Primeiras
Histórias. Rio de Janeiro: Ediouro Publicações, 2013.
BUTLER, Judith. Bodies That Matter: On the Discursive Limits of "Sex". New York:
Routledge, 1993.
BUTLER, Judith. Gender Trouble: Feminism and the Subversion of Identity. New York:
Routledge, 1990.
CAMPOS, Luiz Augusto; FERES JÚNIOR, João. “Globo, a gente se vê por aqui?”
Diversidade racial nas telenovelas das últimas três décadas (1985 – 2014). Plural - Revista
De Ciências Sociais, São Paulo, vol. 23, n.1, p. 36-52, 2016.
CARDOSO, José. Inferências adultas no universo infantil das histórias em quadrinhos da
Turma da Mônica: a leitura em Piteco — Ingá. Veredas: Revista da Associação
Internacional de Lusitanistas, [S. l.], n. 31, p. 25-41, 2020.
CARNEIRO, Sueli. Gênero, raça e ascensão social. Revista Estudos Feministas,
Florianópolis, n. 2, p. 544-552, 1995.
COLLINS, Patrícia Hill. Pensamento feminista negro: conhecimento, consciência e a
política do empoderamento. São Paulo: Boitempo, 2019.
FEDERICI, Silvia. Lutando para mudar o mundo: mulheres, reprodução e resistência na
América Latina. In: PEDROSA, Adriano; CARNEIRO, Amanda; MESQUITA, André. (Org.).
Histórias das mulheres, histórias feministas: Vol 2 Antologia, São Paulo: MASP, 2019.
FEDERICI, Silvia. O ponto zero da revolução: trabalho doméstico, reprodução e luta
feminista. Tradução Coletivo Sycorax. São Paulo: Elefante, 2019.
FONTOLAN, Marina. Imagens da Arqueologia Subaquática e Questão de Gênero: uma
leitura Pós-Moderna. Campinas: Universidade Estadual de Campinas, p. 147, 2015.
(Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em História) - Universidade
Estadual de Campinas, Campinas, 2015.
FURQUIM, Laura Pereira; JÁCOME, Camila Pereira. Teorias de gênero e feminismos na
arqueologia brasileira: do dimorfismo sexual à primavera queer. Revista Arqueologia
Pública, Campinas, vol.1, n. 13, p. 1-25, 2019.
GONZALEZ, Lélia. Beleza Negra, ou ora yê-yê-ô. Jornal Mulherio, São Paulo, ano 2, nº 5,
janeiro/fevereiro. 1982. p. 3.
© Rev. Arqueologia Pública
Campinas, SP
v.16
n.1
p.226
06/2021
ISSN 2237-8294
ARTIGO
GONZALEZ, Lélia. Racismo e sexismo na cultura brasileira. Revista Ciências Sociais
Hoje, Anpocs, São Paulo, p. 223-244, 1984.
GUIMARÃES, Viviane et al. Kaingang, Guarani Nhandewa e Terena - Resistência já!
Fortalecimento e união das culturas indígenas. São Paulo: Museu de Arqueologia e
Etnologia da Universidade de São Paulo, 2017.
HARDING, Sandra. The Science Question in Feminism. New York: Cornell Univ. Press,
1986.
hooks, bell. Olhares negros: raça e representação. São Paulo: Elefante, 2019.
ISNARDIS, Andrei. Pinturas Rupestres Urbanas: uma etnoarqueologia das pichações em
Belo Horizonte. Revista de Arqueologia, São Paulo, vol. 10, n. 1, p. 143-161, 1997.
KILOMBA, Grada. Memórias da Plantação: episódios de racismo cotidiano. Rio de Janeiro:
Cobogó, 2019.
LORDE, Audre. Irmã outsider. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2019.
MCCLINTOCK, Anne. Couro imperial: raça, gênero e sexualidade no embate colonial.
Campinas: Editora da Unicamp, 2010.
MORAES, Paul Cezanne Souza Cardoso de. Intervenções clandestinas. Goiânia:
Universidade Federal de Goiás, 2014. (Dissertação de Mestrado no Programa de PósGraduação em Arte e Cultura Visual) – Universidade Federal de Goiás. Goiânia, 2014.
Disponível em: https://repositorio.bc.ufg.br/tede/handle/tede/3487. Acesso em: 30 dez.
2020.
MORAES-WICHERS, Camila Azevedo de. Arqueologia, Gênero e Diferença: notas sobre
um acervo de estereótipos In: HIRANO, Luis Felipe Kojima; ACUÑA, Maurício; MACHADO,
Bernardo Fonseca. (Orgs) Fluxos, trânsitos e intersecções dos marcadores sociais da
diferença. Goiânia: CEGRAF, vol.1, 2019, pp. 1-20.
MORAES-WICHERS, Camila Azevedo de. Narrativas arqueológicas e museológicas sob
rasura: provocações feministas. Revista de Arqueologia, vol. 30, 2017, pp. 35-50.
NOCHLIN, Linda. Por que não houve grandes mulheres artistas? Tradução de Juliana
Vacaro. São Paulo: Edições Aurora, 2016. (Ensaios, 6). Disponível em:
http://www.edicoesaurora.com/ensaios/Ensaio6.pdf. Acesso em: 9 dez. 2020.
NOVAES, Luciana de Castro Nunes. A borda do mar como um lugar cultural:
arqueologia de praias e a dialética étnico-marítima do patrimônio imaterial no sítio da
Preguiça, Salvador/Bahia. Laranjeiras: Universidade Federal de Sergipe, 2017. (Tese de
Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Arqueologia) - Universidade Federal de
Sergipe, Laranjeiras, 2017.
PASSOS, Lara de Paula. Arqueopoesia: uma proposta feminista afrocentrada para o
universo arqueológico. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais, p.132, 2019.
(Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Antropologia) - Universidade
Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2019.
© Rev. Arqueologia Pública
Campinas, SP
v.16
n.1
p.227
06/2021
ISSN 2237-8294
ARTIGO
POSTH, Cosimo et al. Reconstructing the Deep Population History of Central and South
America.
Cell,
nº
175,
p.
1185-1197.
Disponível
em:
https://www.cell.com/action/showPdf?pii=S0092-8674%2818%2931380-1. Acesso: 04 jan.
2021.
RATTS, Alex. Eu sou atlântica: sobre a trajetória de vida de Beatriz Nascimento. São
Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo/Instituto Kuanza, 2007.
RIBEIRO, Loredana et al. A saia justa da Arqueologia Brasileira: mulheres e feminismos em
apuro bibliográfico. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 25, n. 3, p. 1093-1110,
2017.
SALLES, Silvana. DNA antigo conta nova história sobre o povo de Luzia. Análise do
genoma de habitantes antigos das Américas contesta hipótese sobre origem australomelanésia do povo de Lagoa Santa. Jornal da USP. São Paulo, 08 nov. 2018. Disponível
em: https://jornal.usp.br/ciencias/ciencias-biologicas/dna-antigo-conta-nova-historia-sobre-opovo-de-luzia/. Acesso: 04 jan. 2021.
SANTOS, Giovanna Silveira. Movimento Hip Hop: Masculino
Humanidades e Inovação, Palmas, v. 6, n. 16, p. 128-145, 2019.
e
Masculinizado?
SCOTT, Joan Wallach. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Educação e
Realidade. Porto Alegre, v.16 n.2, p. 05-22, 1990.
SEGATO, Rita Laura. Gênero e colonialidade: em busca de chaves de leitura e de um
vocabulário estratégico descolonial. E-Cadernos Ces, Epistemologias feministas: ao
encontro da crítica radical, Coimbra, n. 18, p. 105-131, 2012.
TEGA-CALIPPO, Glória Maria Vagioni. Arqueologia em notícia: pesquisas impressas,
sentidos circulantes e memórias descobertas. Campinas: Universidade Estadual de
Campinas, p. 179, 2012. (Dissertação de Mestrado. Programa em Divulgação Científica e
Cultural) - Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2012.
WANDERLEY, Elaine. É pote de parente antigo! A relação de indígenas Apurinã da Terra
Indígena Caititu com os sítios e objetos arqueológicos. Manaus: Paco Ed./FAPEAM, 2016.
WERNECK, Jurema; MENDONÇA, Maísa; WHITE, Evelyn C. (org). O livro da Saúde das
Mulheres Negras: nossos passos vêm de longe. 2. Ed. Rio de Janeiro: Pallas/Criola, 2006.
WYLIE, Alison. Arqueologia e a crítica feminista da ciência. Entrevista com Alison Wylie
concedida a Kelly Koide, Mariana Toledo Ferreira e Marisol Marini. Scientiæ studia, São
Paulo, v. 12, n. 3, p. 549-590, 2014.
Recebido em: 16/11/2020
Aprovado em:15/05/2021
© Rev. Arqueologia Pública
Campinas, SP
v.16
n.1
p.228
06/2021
ISSN 2237-8294