Governança neoliberal em territórios
minerários: o investimento
social privado na RMBH
Neoliberal governance in mining territories: private social
investment in the Metropolitan Region of Belo Horizonte
Junia Maria Ferrari de Lima [I]
Renato Barbosa Fontes [II]
Léa Guimarães Souki [III]
Resumo
Este artigo discute uma das expressões da governança neoliberal que, no caso brasileiro, se manifesta, dentre outras formas, a partir do chamado
“investimento social privado”. Trata-se de um conjunto de ações, de caráter gerencial, conduzido por
empresas e/ou suas fundações na região onde operam suas atividades, e que visa a ampliar sua hegemonia a partir da valorização de suas imagens, ao
mesmo tempo que elas despolitizam e subtraem,
das sociedades locais, sua capacidade participativa
e transformadora. Com base no conceito de hegemonia de Antonio Gramsci e utilizando os relatórios de sustentabilidade disponibilizados nos sites
de empresas minerárias que atuam no vetor sudeste da Região Metropolitana de Belo Horizonte,
interessa-nos aqui reunir elementos que permitam
identificar mais essa particularidade da “governança neoliberal”.
Abstract
This paper addresses one of the expressions of
neoliberal governance that, in the Brazilian case,
manifests itself, among other forms, through the
so-called “private social investment”. It is a set
of managerial actions conducted by companies
and/or their foundations in the region where
they operate, aiming to expand their hegemony
by improving their image. However, at the same
time, this causes depoliticization and decreases
the participatory and transformative capacity of
the local societies. Based on Antonio Gramsci's
concept of hegemony and using sustainability
reports available on the websites of mining
companies operating in the Southeast vector of
the Metropolitan Region of Belo Horizonte, the
main goal of this paper is to collect elements that
enable to identify this particularity of “neoliberal
governance”.
Palavras-chave: cidades minerárias; investimento
social privado; organizações da sociedade civil; Região Metropolitana de Belo Horizonte; governança.
Keywords: mining cities; private social investment;
civil society organizations; Metropolitan Region of
Belo Horizonte; governance.
Cad. Metrop., São Paulo, v. 24, n. 54, pp. 625-645, maio/ago 2022
http://dx.doi.org/10.1590/2236-9996.2022-5408
Artigo publicado em Open Acess
Creative Commons Atribution
Junia Maria Ferrari de Lima, Renato Barbosa Fontes, Léa Guimarães Souki
Introdução
As reformas liberais que marcaram a economia
mundial no último quartel do século XX, comumente nomeadas, na literatura, por neoliberalismo, tiveram especial impacto no Brasil
a partir dos anos 1990, facilitadas, em grande
medida, pelo Estado democrático que se reorganiza após um longo período de ditadura
militar. A abertura política do País, portanto,
coincide com um empresariamento do Estado,
caracterizado por uma crescente participação
do setor privado e de suas formas gerenciais e
concorrenciais de administração, constituindo
uma associação que aqui nomeamos governança neoliberal. Especialmente o setor extrativista, fortemente favorecido pela demanda
de commodities no mercado internacional, assumiu protagonismo nesse modelo de gestão
pública no Brasil.
Este artigo tem como propósito discutir uma das expressões dessa governança neoliberal que, no caso brasileiro, tem se
realizado a partir do chamado investimento
social privado. Segundo Acselrad (2018), na
perspectiva de garantir eficiência extramuros,
o capital privado aposta em um conjunto de
discursos e práticas de gestão empresarial do
social – práticas de “não mercado”, segundo
o autor –, seja a partir das próprias empresas, seja a partir de suas fundações. Essas
ações também têm se apoiado em parcerias
e transferências de recursos para algumas
organizações da sociedade civil (OSCs)1 sediadas em cidades onde essas empresas operam.
Interessam-nos aqui, especificamente, as práticas adotadas pelas empresas de mineração
que atuam em alguns municípios do chamado
vetor sudeste da RMBH, 2 conhecidos pelos
históricos ciclos de exploração a que têm sido
626
submetidos. Inclui-se, além dos recursos naturais, uma outra modalidade de exploração
praticada pelas mineradoras da região com
o sentido de um “apaziguamento social” na
medida em que pode enfraquecer seu ânimo
combativo. Em síntese, "as corporações têm
acionado tais microtecnologias de poder para,
ao mesmo tempo, evitar rupturas nos fluxos
de mercadorias e materiais e legitimar, no plano local, o regime neoliberal que predomina
no plano macroeconômico" (ibid., p. 33). Nesse sentido, é objetivo deste trabalho apresentar algumas dessas estratégias utilizadas, bem
como reunir elementos que permitam avaliar
os ganhos embutidos às empresas nessas
aproximações, a fim de responder se é possível identificar nessas ações mais uma expressão do padrão de governança neoliberal.
O termo governança está longe de ser
recente. Sua apropriação deu-se em diferentes
períodos históricos e correntes de pensamento, o que lhe atribuiu múltiplos significados e
diversos usos. Seu uso atual foi recuperado por
teóricos liberais para designar um novo léxico
político que "visa a substituir as expressões
tradicionais da política por expressões [e práticas] gerenciais" (Deneault, 2018, p. 19). Como
enfatizam Dardot e Laval (2016), as mudanças
históricas na concepção e ação do Estado imprimiram um novo vocabulário político. Nesse sentido, o Estado passa a adotar objetivos
e metas que visam à eficácia e ao lucro, além
de anular o que entendem por gastos inúteis,
o que na perspectiva do setor privado inclui,
geralmente, as políticas sociais. Para Deneault,
o risco de se aplicar a teoria do management à
política e à vida pública – discurso da “boa governança” –, dentre outros, é que "não mais se
fala de luta social, mas de aceitabilidade social.
Não se fala mais de princípio de precaução ou
Cad. Metrop., São Paulo, v. 24, n. 54, pp. 625-645, maio/ago 2022
Governança neoliberal em territórios minerários
de natureza, mas de desenvolvimento sustentável. [...] Não se denuncia mais a propaganda,
fala-se da responsabilidade social das empresas" (Deneault, 2018, pp. 19-20).
Este artigo se apoia nas reflexões suscitadas por uma pesquisa realizada nos municípios
do vetor sudeste da Região Metropolitana de
Belo Horizonte (RMBH), cujas matrizes econômicas estão fortemente apoiadas na atividade minerária e onde foi possível observar um
número expressivo de registros de OSCs nas
últimas décadas. Esses municípios compõem o
chamado Quadrilátero Ferrífero, localizado na
região central de Minas Gerais – incluindo parte
da região metropolitana (Figura 1), que é uma
extensão territorial de onde se extrai grande
parte dos recursos minerais hoje no Brasil. Essa inserção determina uma forte influência das
atividades mineradoras e, consequentemente,
a participação significativa das companhias mineradoras não apenas na economia local, mas
também nas relações sociais e políticas.
Figura 1 – Mapa do Quadrilátero Ferrífero com municípios do vetor sudeste da RMBH
Fonte: “Governança e Associativismo na Região Metropolitana de Belo Horizonte”,
pesquisa em curso no Laboratório de Estudos Urbanos e Metropolitanos da Escola de
Arquitetura da UFMG, com base em PDDI-RMBH.
Cad. Metrop., São Paulo, v. 24, n. 54, pp. 625-645, maio/ago 2022
627
Junia Maria Ferrari de Lima, Renato Barbosa Fontes, Léa Guimarães Souki
Com o intuito de identificar as características daquilo que estamos chamando de
expressão da governança neoliberal, foram
pesquisados os relatórios de sustentabilidade disponibilizados nos sites das mineradoras
que operam na região. Como parte das ações
desses grupos, são oferecidos recursos na forma de editais voltados para o atendimento de
demandas sociais (esporte, lazer, assistência
social) das comunidades locais, a partir da intermediação e do gerenciamento das organizações sociais que atuam na região.
Para tanto, o artigo está organizado em
três seções, além desta introdução, que apresenta o tema, e de uma conclusão que sintetiza algumas considerações. A primeira seção
discute a governança neoliberal e, para isso,
recupera alguns elementos do neoliberalismo,
com especial enfoque na adesão da sociedade civil a esse ideário, entendendo que a boa
governança neoliberal se sustenta, em grande medida, nessa parceria. Para tal, faz-se um
breve histórico da expansão do associativismo
no Brasil a partir da década de 1990, com destaque para o crescimento das OSCs. Os dados
aqui utilizados são da pesquisa “Mapa das organizações da sociedade civil”, coordenada e
organizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Lopez, 2018).
Na consolidação desse formato de participação da sociedade civil, foi possível identificar o desenvolvimento de um tipo de associativismo capaz de assimilar uma prática social de
expressão neoliberal.
A segunda parte dedica-se a um levantamento preliminar sobre os aspectos que
identificam as diretrizes do investimento social privado das empresas minerárias do vetor sudeste da RMBH. Para apresentar essas
628
informações, aqui sistematizadas suscintamente, foi necessário reunir dados divulgados
pelas próprias mineradoras em seus sites institucionais e/ou relatórios de sustentabilidade,
principais canais de comunicação e fontes de
investigação identificados. Também foram consultados jornais on-line, sites da Amig (Associação dos Municípios Mineradores de Minas Gerais) e do Gife (Grupo de Institutos Fundações
e Empresas), entre outros. Esse caminho deu
visibilidade para o caso da empresa AngloGold
Ashanhti, explorado neste artigo a título de
exemplo, cujo trabalho de parceria e financiamento a algumas OSCs da área de estudo
merece destaque. A escolha por essa empresa
adveio das características do seu principal programa de investimento social privado – o “Parcerias Sustentáveis” –, responsável por traçar
editais anuais de financiamento de projetos
sociais da região na qual a empresa opera, a
partir de repasses para algumas OSCs. No caso de Minas Gerais, os municípios em que foram identificadas essas parcerias são: Barão
de Cocais, Santa Bárbara e, especificamente na
RMBH, Caeté, Nova Lima, Raposos e Sabará.
Segundo balanço divulgado3 pela própria empresa, o programa já apoiou 240 iniciativas nos
municípios vizinhos às suas operações, beneficiando diretamente cerca de 27.000 pessoas
com um investimento de aproximadamente
R$9 milhões.
Na terceira seção, utilizamos a crítica
gramsciana para aclarar o entendimento dessas contradições e ambiguidades no interior
do campo da sociedade civil. Isto é, as características dessa expansão da democracia de maneira simultânea à difusão dos interesses do
grande capital do setor minerário. Encerrando
a discussão, as considerações finais sintetizam
Cad. Metrop., São Paulo, v. 24, n. 54, pp. 625-645, maio/ago 2022
Governança neoliberal em territórios minerários
nossos questionamentos e os riscos dessa face
da governança neoliberal, capaz de reduzir ou
constranger as respostas da sociedade civil às
atividades minerárias consideradas deletérias
para o bem comum.
Governança neoliberal –
da participação social
ao associativismo empresarial
Inicialmente, é importante salientar que o
neoliberalismo, mais do que uma reinvenção
vigorosa do capitalismo é um sistema normativo que impõe a lógica da concorrência generalizada como conduta, e a empresa como
modelo de eficiência a ser adotado pela máquina do Estado e pelos indivíduos, em suas
relações tanto internas quanto com o mundo.
Em outros termos, produz comportamentos e
ordena as relações sociais segundo o padrão
empresarial, transformando não apenas o Estado numa esfera submetida a exigências de
eficácia e desempenho, mas também os indivíduos em empreendedores e concorrentes
entre si (Dardot e Laval, 2016). Aí se encontra,
segundo os autores, a grande eficiência desse
modelo normativo, ou seja, na sua capacidade
de produzir subjetividades que alteram estruturalmente as nossas formas de relacionar
com os outros e com nós mesmos, além de
justificar as desigualdades expostas pelo próprio modelo econômico e nos desresponsabilizar dos engajamentos em torno das causas
coletivas (ibid.).
Nesse sentido, mais do que a associação
entre mercado e Estado amplamente discutida
pela literatura pertinente, a boa governança
Cad. Metrop., São Paulo, v. 24, n. 54, pp. 625-645, maio/ago 2022
neoliberal pressupõe a adesão da sociedade
civil. Este não é um movimento recente, longe disso, a sociedade civil é identificada, desde os escritos carcerários de Antonio Gramsci
(1926-1937), como um terreno fértil para
reprodução e legitimação de ideias e interesses capitalistas.
Na interpretação do neoliberalismo,
Theodory, Peck e Brenner (2009) entendem
que ele poderá variar em cada localidade e
período, considerando a especificidade de características políticas, econômicas, culturais,
históricas e geográficas. Esse distanciamento
da visão do neoliberalismo como uma entidade ou um corpo de doutrinas acabadas abre
espaço para a discussão sobre sua operacionalização e seus efeitos sociais cotidianos e,
por isso, suas inovações. Para a análise do caso específico de alguns municípios da RMBH,
essa advertência será útil, especialmente para
aqueles cuja economia está alicerçada na extração mineral e que serão objeto de discussão
em capítulo específico.
Utilizando o mesmo princípio de evitar
generalizações e desconhecer o potencial heurístico guardado em determinados conceitos
gerais, lembramos que a apropriação do conceito de governança está presente em diferentes correntes de pensamento, o que determina, ao termo, diversos significados e formas
de aplicação. Neste artigo, o conceito é compreendido como estruturante do vocabulário
neoliberal que sintetiza a ação conjunta entre
Estado e capital privado – no âmbito nacional
e internacional –, além de instituições, associações, igrejas e representações diversas da
sociedade civil, atuando em consonância com
os princípios de eficiência, concorrência e produtividade empresariais.
629
Junia Maria Ferrari de Lima, Renato Barbosa Fontes, Léa Guimarães Souki
Em escala internacional, por exemplo,
foi expressiva a disseminação dos ideais neoliberais conduzida por agências multilaterais,
como o Banco Mundial e o Fundo Monetário
Internacional (FMI), com significativas implicações, especialmente, para os países periféricos. Dentre elas, podemos dizer que o poder
político passou a sofrer interferência direta
desses órgãos – uma espécie de credores do
Estado – no direcionamento das políticas públicas e econômicas.
No Brasil, a recente difusão das reformas neoliberais, também chamada de inflexão
ultraliberal,4 tem impactado diretamente não
apenas a qualidade de vida nas cidades brasileiras – com o encolhimento das políticas sociais, a desregulamentação de políticas de proteção ambiental e o crescimento do trabalho
desprotegido –, mas também no sentido de
uma fragilização das organizações classistas e
do comprometimento do processo democrático – com a interrupção e o fechamento de
diversos espaços de participação da população
na discussão das políticas públicas, como é o
caso dos conselhos e das conferências de políticas públicas.
Entretanto, apesar desse modelo de
governança, seria imprudente negar ou desconhecer que as legislações firmadas no período pós-constituinte (1988), como as Leis
Orgânicas da Saúde, da Assistência Social e de
Diretrizes Básicas da Educação, assim como os
Estatutos da Criança e do Adolescente e das
Cidades, tenham trazido importantes avanços
no fortalecimento de políticas sociais. Na perspectiva de ampliação da cidadania, mesmo
que sem uma nítida ruptura da condição de
cidadania regulada,5 que atrela essa condição
ao status de trabalhador com carteira assinada, a luta pelos direitos registrou importantes
630
realizações, criando novos direitos e incluindo
outros atores em pautas já conquistadas. Esses
novos marcos legais, que vieram na esteira da
Constituição de 1988 e da expansão dos movimentos sociais, contribuíram para uma diversificação e complexificação da participação da
sociedade civil, inclusive de forma mais aproximada à administração pública, a partir dos
conselhos setoriais, conferências, orçamentos
participativos e outros.
Participação social –
da reivindicação à parceria
A redemocratização é um marco na construção
do arcabouço jurídico-político que trouxe consigo a ampliação e a diversificação do espaço
para distintos interesses de classe. A década
de 1990, no Brasil, pode ser vista como um
período de crescimento da participação social,
reiterada pela Constituição Federal de 1988,
que consagrou, em seus princípios fundamentais, a participação popular na gestão pública.
O envolvimento da sociedade civil no desenho,
implementação e controle social das políticas
públicas acabou por gerar um deslocamento
de boa parte dos grupos anteriormente envolvidos em pautas de caráter mais reivindicatório, inclusive para a composição da gestão pública. No bojo da redemocratização, foram temas como reforma urbana, redemocratização,
regularização fundiária, bem como a criação
de conselhos setoriais, conferências, orçamentos participativos, que absorveram parte da cidadania ativa na direção de um outro formato
mais aproximado com a administração pública.
Além disso, no mesmo período, portanto ainda sob influência do relativo ambiente de confiança e participação gerado pela
Cad. Metrop., São Paulo, v. 24, n. 54, pp. 625-645, maio/ago 2022
Governança neoliberal em territórios minerários
Constituição de 1988, o governo do presidente
Fernando Henrique Cardoso implementou o
Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado (1995),6 coordenado pelo então Ministro da
Administração Federal e Reforma do Estado,
Luiz Carlos Bresser-Pereira. O referido plano
deixa evidente a intenção de um enxugamento dos direitos trabalhistas e da previdência
social, com perdas significativas para a população em geral, e aponta, de forma explícita, na
direção da terceirização das políticas públicas
a partir de parcerias com as organizações não
estatais (terceiro setor ou organizações da sociedade civil). Segundo Bresser-Pereira (1997),
A reforma provavelmente significará
reduzir o Estado, limitar suas funções
como produtor de bens e serviços [...],
mas implicará, provavelmente, em ampliar suas funções no financiamento de
organizações públicas não estatais para
a realização de atividades nas quais externalidades ou direitos humanos básicos
estejam envolvidos necessitando serem
subsidiados. (p. 6; grifos nossos)
Essa intenção de despolitização do Estado, associada a uma desestatização da regulação social, é compatível a uma nova forma de
organização política: o Terceiro Setor (Simões,
2010). Santos (2001) acrescenta que seria
uma forma de organização mais vasta que o
Estado – ainda que o mantenha como articulador –, mas capaz de conformar-se como um
híbrido que combina elementos estatais e não
estatais, nacionais e globais.
Coincidentemente, multiplicaram-se os
registros dessas organizações a partir desse
período, motivadas também pela precarização das políticas sociais e das organizações
classistas, além do crescimento das formas de
Cad. Metrop., São Paulo, v. 24, n. 54, pp. 625-645, maio/ago 2022
trabalho desprotegido, tal como mencionado
anteriormente. Segundo Lopez (2018, p. 22),
em 2015, o total de pessoas ocupadas com
vínculos formais nas OSCs no Brasil equivalia
a "mais de 30% do que empregava o setor da
agricultura, 26% do total empregado na indústria e 26% do total de pessoas empregadas no
setor público (incluindo civis e militares)".
A maior parte dessas OSCs, popularmente também conhecidas por organizações não
governamentais (ONGs), como pode ser observado no Quadro 1, foi criada nas décadas de
1990-2000 (24,6%) e de 2000-2010 (33,8%). A
partir de 2011, há uma estabilização no número de novos registros, mas, ainda assim, com
uma taxa anual de crescimento na casa dos 3%
(ibid.), justificado por um contexto de novas
legislações que regulamentam a estrutura administrativa e burocrática dessas organizações,
bem como o acesso aos financiamentos e fundos públicos.
Esse período aponta para uma guinada no perfil da participação que, segundo
Fontes (2010), direcionou o associativismo
civil para um contexto profissionalizante de
atuação. A hipótese da autora (Fontes, 2006;
2010 e 2018), e que aqui se configura como
discussão central, é que, no interior da disputa hegemônica no Brasil, há um movimento de conversão das bases do associativismo
civil à uma base mercantil-filantrópica, associado a uma certa dinâmica da expansão financeirizada mundial, sob o guarda-chuva da
responsabilidade social.
Segundo dados do Ipea (Lopez, 2018),
o Brasil atingiu, no final de 2016, a marca de
820 mil OSCs com Cadastros Nacionais de
Pessoas Jurídicas (CNPJs) ativos no País, como pode ser observado no Gráfico 1. Desse
631
Junia Maria Ferrari de Lima, Renato Barbosa Fontes, Léa Guimarães Souki
Quadro 1 – OSCs por faixas do ano de criação no Brasil
Faixas de ano de criação
Total
%
Ano 1970
28.579
3,50
De 1971 a 1980
72.466
8,80
De 1981 a 1990
88.147
10,70
De 1991 a 2000
201.389
24,60
De 2001 a 2010
277.452
33,80
2011
29.663
3,60
2012
25.722
3,10
2013
28.113
3,40
2014
24.870
3,00
2015
23.835
2,90
2016
19.949
2,40
Fonte: SRF (Brasil, 2016). Elaboração Ipea, em Lopez (2018, p. 140).
Gráfico 1 – OSCs ativas em 2016, por região e década de criação (%)
Centro-Oeste
Nordeste
Norte
Sudeste
Sul
Fonte: SRF (Brasil, 2016) e Rais/MTE (Brasil, 2015). Elaboração Ipea em Lopez (2018, p. 142).
632
Cad. Metrop., São Paulo, v. 24, n. 54, pp. 625-645, maio/ago 2022
Governança neoliberal em territórios minerários
total, 709 mil (86%) aproximadamente representam associações civis sem fins lucrativos,
outras 99 mil (12%) configuram organizações
religiosas e 12 mil (2%) são fundações privadas (ibid., p. 21). Segundo o autor, "Os novos
dados retratam um setor amplo, com importância econômica no mercado de trabalho,
além da conhecida relevância em ações de
interesse público" (ibid.). Casimiro (2018), ao
analisar a série histórica dessas organizações
civis – de 1996 a 2016 –, constata um aumento em torno de 715 mil novas instituições, o
que representa um crescimento de aproximadamente 680%.
No final na década de 1980, é promulgada a lei n. 9.637 de 1988 (Brasil, 1988) que
institui a primeira forma das organizações
sociais de interesse público, em acordo com
a perspectiva do referido Plano de Reforma
do Estado, e, na sequência, o chamado
terceiro setor será regulado também pela
lei n. 9.790/1999 e pelo decreto legislativo
n. 3.100/1999, culminando com o novo marco
regulatório dado pela lei n. 13.019/2014.
Esse conjunto de leis e ações acaba por
influenciar o segmento do terceiro setor de
modo a gerar efeitos ambíguos e contraditórios. Se, por um lado, traduz os anseios da
sociedade civil organizada no sentido de um
maior rigor e transparência no repasse desses recursos, por outro, sinaliza como oportunidade para o ideário neoliberal no sentido
de imprimir, também à participação social, o
caráter empresarial que já alcançara a esfera
pública. Em síntese, impulsionadas no período
de redemocratização no Brasil, as estratégias
do modelo empresarial de governança predominam e alcançam todos os setores – privado,
público e associativo.
Cad. Metrop., São Paulo, v. 24, n. 54, pp. 625-645, maio/ago 2022
Associativismo empresarial
Um marco para o seguimento desse modelo
de associativismo empresarial foi a constituição do Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (Gife) em 1995, organização composta
por grandes empresários mobilizados pelos
pressupostos da responsabilidade social ou
investimento social privado e que se autodeclaram como sendo sem fins lucrativos. O grupo conta com 160 associados7 que, somados,
investem por volta de R$2,9 bilhões por ano
na área social, operando projetos próprios ou
viabilizando de terceiros. O exemplo do Gife,
no Brasil, assinala uma característica que vai
se tornando um padrão no setor, ou seja, uma
concentração de fundações que se autodeclaram sem fins lucrativos e que se apresentam
como sociedade civil, mas todas com origem
em grupos da iniciativa privada.
Com o discurso de responsabilidade
social empresarial (RSE), suas ações demonstram convergir para a legitimação desse princípio como diretriz estratégica de uso dos recursos privados, alinhando a perspectiva do
respectivo negócio a uma dimensão pública,
a partir de ações sociais. O discurso adotado,
entretanto, emprega termos típicos do mercado, tais como “capacidade de assumir riscos”
e “promover inovação”, além de procurar
distanciar-se, segundo o Gife, de práticas de
ações assistencialistas. Suas ações prescrevem
orientar-se por meio da “1) preocupação com
planejamento, monitoramento e avaliação
dos projetos; 2) estratégia voltada para resultados sustentáveis de impacto e transformação social; 3) envolvimento da comunidade no
desenvolvimento da ação”.8
633
Junia Maria Ferrari de Lima, Renato Barbosa Fontes, Léa Guimarães Souki
Esse discurso, além de alinhado à linguagem da governança neoliberal, sinaliza um
grande interesse no sentido de construção,
fortalecimento e divulgação da imagem dessas empresas. Em seus textos institucionais,
é comum ver suas ações apresentadas como
investimento, e os atores sociais chamados de
investidores sociais.
O investimento social possui instrumentos poderosos ligados à mobilização dos
recursos da sociedade e do capital privado. Como investidores sociais, devemos
ser capazes de incorporar a dimensão
pública na gestão de recursos privados.
Estruturas de governança fortes e a ampliação da transparência são vetores
fundamentais para assegurar o devido
equilíbrio entre os interesses público
e privado e um diálogo aberto e efetivo com grupos sociais. (Disponível em:
https://gife.org.br/quem-somos-gife/;
grifos nossos)
Atualmente há cerca de 20 empresas de
mineração9 atuando em sete municípios que
compõem o que aqui denominamos vetor sudeste da RMBH e cujos PIBs estão majoritariamente ancorados nessa atividade econômica.
Dessas mineradoras, apenas 12 têm site institucional e/ou relatórios de sustentabilidade
disponibilizados on-line, o que nos obrigou a
reduzir o recorte de análise para esse universo,
abaixo sintetizado.
Foi possível constatar semelhanças nos
discursos institucionais das 12 empresas analisadas: (1) sustentabilidade, presente em
todas elas; (2) segurança, presente em 9 empresas; e (3) responsabilidade social, vista em
7 empresas. Outros aspectos, como ética, liderança, qualidade e saúde, por exemplo, são
também mencionados.
634
Isto sugere que esses princípios, em especial a tríade sustentabilidade, segurança e
responsabilidade social, tenham sido internalizados na prática das empresas como um recurso de legitimação e, em última instância,
de sua hegemonia. A responsabilidade social
é apresentada, de maneira geral, como uma
preocupação das empresas com as comunidades locais, e suas ações são viabilizadas a partir
de recursos próprios, doações ou via leis de incentivo fiscal, em diversas áreas.
A sustentabilidade apresenta-se como
um elemento que sobressai na maioria dos
sites e relatórios. Sua visibilidade se dá por
meio de informações sobre a adoção de medidas de educação ambiental e investimentos
sociais que visam garantir o desenvolvimento
social e a preservação dos recursos naturais. As
empresas ressaltam, com clareza, seu papel primordial no escopo de atuação, o que pode ser,
em grande medida, entendido pela visibilidade
internacional do conceito de sustentabilidade.
A segurança, de modo geral, aparece
como essencial nas operações das empresas
visando ao bem-estar dos funcionários através
da adoção de medidas de prevenção de acidentes de trabalho, por exemplo, ou de medidas relacionadas à saúde dos indivíduos.
Desse universo de empresas, 8 10 são
multinacionais e estão inseridas no Pacto Global da ONU,11 iniciativa voluntária lançada em
2000 e voltada para o setor empresarial. No
Brasil, essas empresas se organizam através
da Rede Brasil do Pacto Global, que preside o
Conselho das Redes Locais na América Latina e
tem sede em Nova York. Entre seus objetivos,
encontra-se “alavancar o potencial da comunidade empresarial como agente de transformação também é garantir a competitividade dos
Cad. Metrop., São Paulo, v. 24, n. 54, pp. 625-645, maio/ago 2022
Governança neoliberal em territórios minerários
Quadro 2 – Diretrizes e princípios recorrentes entre as mineradoras
Empresas
Nacional/
Multinacional
Diretriz Base
Princípios recorrentes
1. AngloGold Ashanti
Sustentabilidade
Segurança
Responsabilidade Social
2. ArcelorMittal
Sustentabilidade
3. CSN Mineração
Meio Ambiente
Segurança
Responsabilidade Social
4. Jaguar Mining
Multinacional
ODS da ONU
Sustentabilidade
Segurança
Responsabilidade Social
5. Mineração Usiminas
Sustentabilidade
Segurança
Responsabilidade Social
6. Vale - Cia Vale do Rio Doce
Sustentabilidade
Segurança
Responsabilidade Social
7. Vallourec Mineração
Sustentabilidade
Segurança
Responsabilidade Social
8. Grupo AVG
Responsabilidade socioambiental
9. Grupo MBL
Meio ambiente
Segurança
Responsabilidade Social
10. Herculano Mineração
Nacional
11. Minerita
12. Vórtice Mineral
Política própria
Responsabilidade socioambiental
Segurança
Meio Ambiente
Segurança
Meio Ambiente
Segurança
Fonte: sites das empresas trabalhados pelos autores.
Cad. Metrop., São Paulo, v. 24, n. 54, pp. 625-645, maio/ago 2022
635
Junia Maria Ferrari de Lima, Renato Barbosa Fontes, Léa Guimarães Souki
negócios na economia mundial e a inclusão de
lideranças em fóruns decisórios globais de referência".12 Isto é, as ações de responsabilidade social não são apenas indissociáveis das atividades econômicas, mas apresentam-se como
vantagem e ganho no mercado financeiro.
Nesse mesmo sentido, a Bolsa de Valores de São Paulo, atual B3, comprova que as
ações de empresas que compõem o Índice de
Sustentabilidade Empresarial – ISE, o qual mede o desempenho corporativo de acordo com
os critérios de sustentabilidade, contribuem
para maior confiabilidade dessas empresas,
melhorando sua performance no mercado financeiro em relação às demais. Segundo o
portal da Bolsa de Valores de SP,
O objetivo do ISE B3 é ser o indicador do
desempenho médio das cotações dos
ativos de empresas selecionadas pelo
seu reconhecido comprometimento com
a sustentabilidade empresarial. Apoiando os investidores na tomada de decisão
de investimento e induzindo as empresas
a adotarem as melhores práticas de sustentabilidade, uma vez que as práticas
ESG (Ambiental, Social e de Governança
Corporativa, na sigla em inglês) contribuem para a perenidade dos negócios.13
Esses índices funcionam a partir de um
ranking das empresas que se enquadram
nos critérios de sustentabilidade estabelecidos pelo mercado financeiro e inclui uma
avaliação das ações de responsabilidade social empresarial (RSE), cuidados ambientais e
transparência financeira. Para isso, as empresas precisam publicar suas ações no balanço
social ou relatório de sustentabilidade, a fim
de dar transparência às atividades corporativas. Em sua pesquisa sobre a relação entre
RSE, ISE e valorização de ativos das empresas, Joseph et al. (2018) indicam que há uma
636
associação entre “a participação nos índices
de sustentabilidade e melhorias em todas as
categorias de ativos tangíveis [financeiros,
organizacionais, físicos, tecnológicos] e intangíveis [inovações, recursos humanos, reputação]” (p. 74).
Nos meandros da luta pela hegemonia
travada entre sociedade civil, Estado e empresas, novas formas de disputa vão sendo criadas e antigas estratégias metamorfoseadas,
de forma a produzir um ambiente de linguagem híbrida, construída à beira do caminho. É
nesse contexto de busca pela hegemonia que
as práticas e as culturas vão de adaptando no
espaço permitido pela jovem democracia brasileira. Assim, longe de serem consideradas
práticas de solidariedade espontâneas, desinteressadas e ancoradas em projetos políticos
de transformação social radical, a RSE e as parcerias com organizações sociais locais parecem
compor um cenário mais amplo, articulado ao
mercado financeiro, em que as empresas são
duplamente favorecidas (financeiramente e
em relação a sua imagem) ao incorporarem
em suas práticas a questão social.
O caso da AngloGold Ashanti
Para compreender de que maneira os interesses privados do mercado se condensam
hegemonicamente às causas tidas como coletivas e como a matriz discursiva neoliberal é
traduzida nessas aproximações, tomemos como exemplo uma dessas empresas mineradoras – AngloGold Ashanti. A empresa, com sede
administrativa no município de Nova Lima
(MG), também acumula atividades extrativas
nos municípios próximos – Sabará (MG) e Santa Bárbara (MG).
Cad. Metrop., São Paulo, v. 24, n. 54, pp. 625-645, maio/ago 2022
Governança neoliberal em territórios minerários
Sua presença na região remete à exploração do ouro em Minas Gerais, que data do
século XVII. Com a independência do Brasil
em 1822, a exploração mineral é aberta ao
capital estrangeiro e, em 1834, a região onde
hoje se encontram os municípios de Raposos e Nova Lima recebe a Saint John Del Rey
Mining Company, empresa inglesa de mineração de ouro, que atua ali até 1957. Nesse
mesmo ano, passam a incorporar acionistas
brasileiros e, em 1960, é criada a Mineração
Morro Velho. Em 1974, a empresa associa-se à
sul-africana Anglo American Corporation, formando a AngloGold e, em 2004, funde-se com
a Ashanti Goldfields, dando origem ao atual
conglomerado AngloGold Ashanti (Couto e
Costa, 2003).
A mediação da relação sociedade e empresas, expressão da governança neoliberal,
não se restringe a práticas sociais limitadas. Ao
contrário, ela abre um amplo espectro capaz
de capturar a vida ativa dos territórios minerários. No edital do programa de 2019, são elegíveis organizações da sociedade civil (OSCs),
ou, mais especificamente, “pessoas jurídicas
de direito privado, sem fins lucrativos e cooperativas legalmente constituídas” nas seguintes
áreas: a) cultura, turismo, gastronomia: inclui
desenvolvimento de produtos locais e artesanais para atender ao mercado e ao setor turístico; b) associativismo e cooperativismo: inclui
a estruturação de empreendimentos sociais
de caráter produtivo com ênfase em setores
como o de comércio e serviços, que propiciem
a inserção das pessoas na cadeia produtiva
de trabalho; c) soluções sustentáveis: inclui
empreen dimentos sociais que promovam
soluções ambientalmente sustentáveis que
beneficiem a coletividade, como economia de
energia elétrica e água. Essas soluções devem
Cad. Metrop., São Paulo, v. 24, n. 54, pp. 625-645, maio/ago 2022
priorizar a existência de um empreendimento
social, com potencial para ter autossustentação financeira.
Visando ao autofinanciamento futuro, o
programa mantém uma espécie de coach ou
mentoria, um suporte técnico para as instituições beneficiadas para que “o projeto desenvolva fontes de receita próprias visando à autossustentação financeira, aproximando-se de
um modelo de negócio social”.14 A intenção é
melhorar o desempenho das instituições parceiras, pois a conversão dos projetos das OSCs
em negócios sociais é definida pela própria
AngloGold Ashanti como sua principal missão,
além de estabelecer como objetivo “solucionar
algum problema social e/ou ambiental. São autossustentáveis financeiramente e reinvestem
o lucro no próprio negócio para aumentar o
seu impacto” (ibid.).
Chamamos a atenção para alguns aspectos críticos em relação à iniciativa da AngloGold
Ashanti de apoio financeiro às OSCs: 1) é possível observar um direcionamento mercantil
forte do edital a partir da defesa de um modelo empresarial e de um discurso empreendedor na gestão dos recursos dos projetos como
condição ao financiamento; 2) a perspectiva
de mentoria e suporte para tornar o projeto social empreendedor ou de negócio social
estimula a criação de um novo senso comum
em torno do associativismo local, para o qual
a perspectiva empreendedora é um exemplo a
ser seguido.15 Acreditamos que a disseminação
desse senso comum contribuiria para minorar
os impactos negativos ambientais da atuação da empresa na região e, ao mesmo tempo, legitimar suas práticas; 3) como pode ser
observado no balanço do Programa Parcerias
Sustentáveis, os projetos giram em torno de
pautas e atividades locais, não convergem com
637
Junia Maria Ferrari de Lima, Renato Barbosa Fontes, Léa Guimarães Souki
temáticas mais substantivas como aquelas relacionadas à questão social ou à contradição
capital e trabalho, mas, ao mesmo tempo conseguem dialogar diretamente com a temática
de reconhecimento (empreendedorismo para
mulheres e causas étnico-raciais).
É nesse cenário que adquire força um
formato de participação de algumas organizações da sociedade civil na composição da boa
governança neoliberal. Caracterizadas por uma
atuação orientada pelo modelo adotado pelas
empresas de capital privado – a chamada filantropia empresarial ou, como se autonomeiam,
investimento social privado –, esse formato
ganha espaço em diversas associações que
precisam se mostrar eficientes para acessar
os recursos disponíveis e, principalmente, nas
fundações originadas nas próprias empresas.
A sociedade civil como
um terreno em disputa:
os aparelhos privados
de hegemonia
No bojo da variada recriação do associativismo, reinterpretado com novos matizes e eventualmente com novos significados, os aparelhos privados de hegemonia, entendidos como
parte do Estado ampliado, trazem particularidades do mundo empresarial para as organizações civis. O modelo de sociabilidade empresarial e a gestão de características empreendedora e competitiva condensam-se à imagem
de solidariedade, parceria com a comunidade
e/ou sustentabilidade, numa mensagem aparentemente contraditória, mas para Dardot e
Laval (2016), portadora de uma estratégia de
captura da nossa subjetividade.
638
O crescimento e a diversificação do aparelho associativo podem ser interpretados como um movimento contraditório também por
Fontes (2010 e 2018) e Casimiro (2018). Os
autores encontram na perspectiva gramsciana
a explicação para essa ambiguidade: de um lado, o aparelho associativo é entendido como
expansão da democracia e, portanto, conquista das classes trabalhadoras; de outro, é entendido como possibilidade de fortalecimento
simultâneo das trincheiras do capitalismo. Em
outras palavras, esses aparelhos não estariam
livres da disseminação e da defesa dos interesses e da ideologia liberal e burguesa.
Os autores mencionados, Fontes (2018)
e Casimiro (2018), reconhecem a “arte da associação”, para usar o termo cunhado por
Tocqueville, como uma força vital da democracia e da justiça social. Contudo, também a
colocam sob suspeita de facilitar a dominação
de classe enquanto facilitadora de certos consensos no território de atuação das empresas.
A interpretação das contradições da expansão
do associativismo na democracia brasileira
contemporânea sustenta-se na hipótese de
a sociedade civil organizada ser, também, um
terreno fértil para legitimação dos interesses
do capital privado.
Os escritos carcerários de Gramsci
(2019) trazem uma poderosa contribuição para interpretação da dinâmica da reprodução
do capital a partir de uma percepção ampliada
de Estado que abrange as disputas políticas no
interior da sociedade civil. Isto é, a sociedade civil não deve ser interpretada como uma
mera oposição ao Estado, ou como descreve a
concepção liberal, um espaço de liberdade de
indivíduos. Além disso, o Estado não deve ser
concebido como o único espaço do poder político e de dominação.
Cad. Metrop., São Paulo, v. 24, n. 54, pp. 625-645, maio/ago 2022
Governança neoliberal em territórios minerários
A própria noção, em voga há algum tempo, da sociedade civil como sinônimo de terceiro setor e de organização não governamental sugere-nos uma imagem de neutralidade
em relação ao mercado e aos governos ou a
uma esfera privada de interesse público, motivada por certo tipo de altruísmo benevolente.
O caso da AngloGold, aqui apresentado, demonstra que algumas formas de parceria entre
sociedade civil e esfera privada nada têm de
apolíticas, pelo contrário, fazem parte de uma
disputa pela hegemonia do território.
Essa tensão é compreendida por
Gramsci sem dissociação brusca entre aquilo
que chamou de sociedade política e o que definiu como sociedade civil. Ao contrário, para ele
há uma relação orgânica entre as duas dimensões, enfeixada pelo conceito de hegemonia,
uma interpretação mais refinada para compreender os elementos de dominação de classe. A
sociedade política, segundo o autor, pode ser
entendida pelo Estado no seu sentido restrito,
ou seja, o aparelho governamental encarregado da administração direta e do exercício legal
da coerção sobre aqueles que não consentem
nem ativa, nem passivamente (Gramsci, 2019).
De modo sintético e do ponto de vista analítico, a sociedade civil, por sua vez, é um campo
amplo de análise, constituída por uma diversidade de organizações civis (sindicatos, associações, igrejas, etc.), terreno em que as classes
se organizam e defendem seus interesses na
disputa para conservar ou conquistar determinada hegemonia (ibid.).
No que diz respeito ao conceito de hegemonia, tal como interpreta Bianchi (2018),
entende-se como sendo o exercício da capacidade de direção e de liderança política e
econômica. Opõe-se, portanto, à mera dominação, na qual uma das frações simplesmente
Cad. Metrop., São Paulo, v. 24, n. 54, pp. 625-645, maio/ago 2022
impõe seus projetos econômico-corporativos
às demais frações e classes sociais, sem levar
em conta os projetos de interesses destas. Assim, o poder privado, para dominar, teria que
se apresentar como defensor de interesses
coletivos. Deve apresentar-se como expressão
de toda a sociedade, eventualmente “incorporando reivindicações e interesses de grupos subalternos, subtraindo-os de sua lógica
própria e enquadrando-os na ordem vigente”
(ibid., p. 155). A aparência de universalidade
exige que sejam absorvidas demandas das
classes populares de forma que os interesses
privados permaneçam encobertos.
Não sendo, pois, a hegemonia simplesmente a imposição de certos interesses, mas
a promoção e reorganização dos vários benefícios para melhor servir aos objetivos a que visam, Hall, Lumley e Mclennan (1980) chamam
a atenção para um aspecto da luta hegemônica
capitalista que é a despolitização das lutas sociais, com a finalidade de evitar a compreensão
do caráter de classe dos interesses em pugna.
Essa despolitização é um efeito possível da relação entre as organizações civis e empresas,
característica da governança neoliberal, capaz
de deslocar pautas e reivindicações e torná-las
práticas sociais empresariais sem o efeito transformador esperado pela sociedade civil.
Nessa perspectiva, podemos interpretar
algumas das associações da sociedade civil
como meios difusores de cultura de massas e
reprodutores de ideologias, e que se utilizam
das formas jurídicas convencionais postas pelo
marco legal do Estado, mecanismo definido como aparelhos privados de hegemonia (APHs).
Sua atualidade interpretativa permite-nos analisar as formas pelas quais as classes se organizam não apenas num único aparelho, mas
em variadas formas. Esses aparelhos podem
639
Junia Maria Ferrari de Lima, Renato Barbosa Fontes, Léa Guimarães Souki
funcionar como importantes peças de articulação do consenso e de organização de anuência
espontânea que podem ser conseguidas, por
exemplo, ao fazer concessões de interesses
políticos, ideológicos e econômicos, em determinado grau que não afete seus interesses
essenciais ou de longo prazo.
A governança neoliberal estaria adquirindo novas expressões em seu estágio mais
recente, ao reconhecer o valor da representação na forma de associacionismo ou da arte
da associação. Contudo, esse reconhecimento
introduz, em sua prática, valores próprios do
neoliberalismo. Fraser (2020) alerta para as
sutilezas desse modelo econômico ser mais
sofisticado ao articular uma “política econômica regressiva, pró-negócios, com uma política progressista de reconhecimento, valorizando a representatividade, mas ressignificando
igualdade como sinônimo de meritocracia”
(ibid., p. 18).
Existiria uma faixa interpretativa, ainda
pouco explorada, para entender o movimento
de construção hegemônica do neoliberalismo
que é sua capacidade de acoplar-se a diferentes projetos de reconhecimento (questões
étnico-raciais e de gênero, por exemplo). Nas
organizações da sociedade civil, seria possível
observar não apenas apassivamento de algumas lutas sociais, mas também um direcionamento de valores, linguagens, costumes morais e de um novo senso comum. E estariam,
em grande medida, organizadas e pautadas
por demandas de agências multilaterais e
agenciadas por organizações civis associadas
às empresas do grande capital.
640
Considerações finais
Considerando os efeitos da ideologia neoliberal sobre o atual padrão de governança, as
experiências nos ambientes minerários apontam indícios de aproximação entre as empresas mineradoras do vetor sudeste da RMBH e
a sociedade civil organizada sob a forma de investimento social privado. Ainda que os dados,
como apresentados no Quadro 1, indiquem
um número crescente das OSCs, restam ainda
dúvidas sobre os impactos dessa expansão no
âmbito das possibilidades da formação de uma
cidadania ativa. Ao que parece, o campo das
OSCs é um terreno no qual os mais distintos
interesses se expressam – das lutas anticapitalistas aos recentes empreendedorismos neoliberais. No espectro do Quadrilátero Ferrífero,
encontram-se desde as fundações e associações que trabalham com recursos das empresas minerárias, como também OSCs que atuam
a partir de temas relacionados ao meio ambiente, economia solidária, gênero e raça – em
pautas que variam entre ações despolitizadas
e outras de caráter mais contestatórios. Em
síntese, há representações da sociedade civil atuando de diversas formas, mas chama a
atenção essa configuração particular que abre
espaço para parcerias com o capital privado.
Seus novos formatos são capazes de reduzir
ou alterar as tradicionais rotas de contestação
desses grupos. Como estratégia de aproximação mais recorrente, o investimento social
privado tem se mostrado como uma forma
efetiva de qualificar a imagem das empresas
Cad. Metrop., São Paulo, v. 24, n. 54, pp. 625-645, maio/ago 2022
Governança neoliberal em territórios minerários
e legitimá-las perante as comunidades e as organizações da sociedade civil, além de auferir
ganhos financeiros.
No caso da rede associativa em torno
das empresas mineradoras da RMBH, especialmente nos municípios que exploraram no
passado ou ainda mantêm atividades de extração, essas parcerias sugerem um outro ciclo de
domínio/dependência a partir do investimento social privado, estratégico na defesa corporativa das empresas. Os aparelhos privados de
hegemonia são investimentos que, além de
facilitarem situações lucrativas, também parecem criar uma cultura, um senso comum, de
valores compartilhados para além da simples
absorção da linguagem neoliberal. Possuem
um papel nas formas de organização de sociabilidade e na conexão da base econômica e do
Estado. Esta seria, pois, uma das características da dominação do neoliberalismo, especificamente no setor minerário exportador de
commodities: sujeito às flutuações no mercado
internacional, aferidor de importantes lucros
e com papel relevante na economia de Minas
Gerais e do Brasil.
No caso das mineradoras que atuam na
RMBH, percebe-se que há um beneficiamento
dessas empresas por meio de maior presença
de suas respectivas fundações, iniciativas de
investimento social privado e parcerias com
as OSCs, operando com mais legitimidade no
território em que estão instaladas. Porém,
não se trata de um efeito automático, mas
de um jogo de posições de múltiplas camadas que atuam de maneira gradual. Estas se
expressam a partir de editais elaborados pelas empresas para financiamento de projetos
coordenados por OSCs, patrocínio de eventos culturais e esportivos, parcerias entre as
empresas e prefeituras locais, bem como de
Cad. Metrop., São Paulo, v. 24, n. 54, pp. 625-645, maio/ago 2022
ações das empresas diretamente nas comunidades. Outra hipótese a ser considerada é
o constrangimento do desenvolvimento do
associativismo local na direção de uma possível luta contra expressões mais substantivas,
especialmente contra os efeitos deletérios do
extrativismo minerário.
Dito isso, cabe evidenciar que, ao contrário do que se propaga simplificadamente,
os argumentos referentes à hegemonia não
são meramente culturais, embora a cultura as
incorpore de maneira consistente. Essa hegemonia remete também às diversas lutas constantes intra e entreclasses sociais, e, se essas
lutas atingem algum grau de estabilidade, esta
se faz, em grande medida, pela despolitização
ou pelo silêncio dos dominados. O equilíbrio
atingido nunca é absolutamente estável, ele
sempre conterá algum dinamismo.
A reformulação do papel do Estado
brasileiro, ao se democratizar, trouxe consigo
novas formas de configuração e fortalecimento de sua hegemonia, construindo consensos
através da materialização de políticas e no
âmbito das lutas simbólicas. A organização
empresarial pôde se utilizar do novo marco legal das organizações da sociedade civil capturando e ressignificando os problemas sociais
e suas soluções, no caso das cidades minerárias. Nesse sentido, cabe-nos avaliar, como
reflexão final, os limites e possibilidades de
se construir um novo e mais persuasivo senso
comum, ou uma contra-hegemonia por parte
dos setores não empresariais, trabalhadores
e população afetada pela mineração. Isto é,
o fortalecimento de um outro lado que não o
do capital minerário, uma rede de associações
autônomas ancoradas no entendimento da diferença e especificidade dos interesses de uns
e de outros.
641
Junia Maria Ferrari de Lima, Renato Barbosa Fontes, Léa Guimarães Souki
[I] https://orcid.org/0000-0002-1534-5621
Universidade Federal de Minas Gerais, Escola de Arquitetura, Departamento de Urbanismo. Belo
Horizonte, MG/Brasil.
[email protected]
[II] https://orcid.org/0000-0002-6220-8849
Universidade Federal de Minas Gerais, Escola de Arquitetura, Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo. Belo Horizonte, MG/Brasil.
[email protected]
[III] https://orcid.org/0000-0003-0290-8090
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Instituto de Ciências Sociais, Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais. Belo Horizonte, MG/Brasil.
[email protected]
Nota de agradecimento
Este artigo é um desdobramento de parte da pesquisa “Governança e Associativismo na Região
Metropolitana de Belo Horizonte”, desenvolvida no âmbito do Laboratório de Estudos Urbanos
e Metropolitanos da Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais. As autoras
e autor agradecem as contribuições de toda equipe de pesquisadores, especialmente Renata
Salles e Viviane Fernandes, pela elaboração das tabelas e gráfico, e Gabriel da Cruz pela
elaboração do mapa.
Notas
(1) Organização da Sociedade Civil (OSC) é a forma mais recente (lei n. 13.019/2014 e lei n. 13.204/2015)
de designar entidades institucionalizadas (com CNPJ) ou de direito privado, sem fins lucrativos e
não governamentais (Lopez, 2018).
(2) Este recorte inclui os municípios de Brumadinho, Caeté, Itatiaiuçu, Nova Lima, Raposos, Rio Acima
e Sabará.
(3) Disponível em: https://issuu.com/anglogoldashantibr/docs/balanco_parcerias_sustentaveis_2019.
Acesso em: 11 nov 2020.
642
Cad. Metrop., São Paulo, v. 24, n. 54, pp. 625-645, maio/ago 2022
Governança neoliberal em territórios minerários
(4) Ribeiro (2020) compreende inflexão ultraliberal como a dinâmica instaurada no Brasil após o golpe
parlamentar e o posterior impeachment de Dilma Rousseff. A inflexão sinaliza a ruptura com
um ciclo de organização política e econômica inaugurado a partir da redemocratização, com
governos que conciliaram medidas conservadoras e compromissos com os setores populares.
A tese central de Ribeiro (ibid.) é a de que o Golpe de 2016 “alterou de maneira radical essa
correlação de forças que vinha se constituindo no interior do bloco de poder na direção de um
controle mais efetivo por parte das forças conservadoras” (p. 2).
(5) Cidadania regulada é um conceito cunhado por Wanderley Guilherme dos Santos que entende o
caso brasileiro do desenvolvimento da cidadania “[...] cujas raízes encontram-se, não em um
código de valores políticos, mas em um sistema de estratificação ocupacional, e que ademais,
tal sistema de estratificação ocupacional é definido por norma legal. Em outras palavras, são
cidadãos todos aqueles membros da comunidade que se encontram localizados em qualquer
uma das ocupações reconhecidas e definidas em lei” (Santos, 1979, p. 75).
(6) Regulamentado pela emenda constitucional n. 19, de 4 de junho de 1998.
(7) Na lista de associados, ao lado de fundações empresariais brasileiras (que inclui grandes bancos
privados, empresas mineradoras e da construção civil), figuram também grande quantidade de
entidades estrangeiras, como as fundações Bunge, Cargill, Nestlé Brasil, Nokia, Volkswagen, os
institutos Coca-Cola Brasil, HSBC Solidariedade, Renault, Wal-Mart, além da participação direta
de empresas como Monsanto e Microsoft, dentre outras. Disponível em: https://gife.org.br/
quem-somos-gife/. Acesso em: 15 maio 2021.
(8) Disponível em: https://gife.org.br/investimento-social-privado. Acesso em: 15 maio 2021.
(9) Multinacionais: AngloGold Ashanti; ArcelorMittal; CSN Mineração S.A.; Jaguar Mining Inc.;
Mineração Usiminas S.A.; Vale S.A.; Vallourec Mineração. Nacionais: Cefar; Comisa; Ferrous
Resources do Brasil; Grupo AVG; Grupo MBL; Herculano Mineração; London Mining Brasil;
Mineral do Brasil; Mineração Boa Vista; Mineração Serra Azul; Minerita - Minérios Itaúna Ltda;
Tamisa Mineração; Vórtice Mineral.
(10) AngloGold Ashanti; ArcelorMittal; CSN Mineração S.A.; Jaguar Mining Inc.; Mineração Usiminas
S.A.; Vale S.A.; Vallourec Mineração; Vórtice Mineral.
(11) Disponível em: https://pactoglobal.org.br/no-brasil. Acesso em: 2 jun 2021.
(12) Disponível em: https://pactoglobal.org.br/no-brasil. Acesso em: 2 jun 2021.
(13) Disponível em: http://www.b3.com.br/pt_br/market-data-e-indices/indices/indices-desustentabilidade/indice-de-sustentabilidade-empresarial-ise.htm. Acesso em: 17 maio 2021.
(14) Disponível em: https://issuu.com/anglogoldashantibr/docs/balanco_parcerias_
sustentaveis_2019. Acesso em: 11 nov 2020.
(15) Como senso comum, entende-se aqui uma espécie de cimento que liga e cria consensos sobre
a maneira de compreender, agir e julgar a vida social. Poderia ser quase sinônimo de ideologia
no sentido que é compartilhado pelo grupo, abarca a vida social e, por ser muito familiar, nem
sempre será visível para quem compartilha.
Cad. Metrop., São Paulo, v. 24, n. 54, pp. 625-645, maio/ago 2022
643
Junia Maria Ferrari de Lima, Renato Barbosa Fontes, Léa Guimarães Souki
Referências
ACSELRAD, H. (org.) (2018). Políticas territoriais, empresas e comunidades: o neoextrativismo e a
gestão empresarial do “social”. Rio de Janeiro, Garamond.
BIANCHI, A. (2018). O laboratório de Gramsci: filosofia, história e política. Porto Alegre, Zouk.
BRASIL (1998). Lei n. 9.637 de maio de 1998. Dispõe sobre a qualificação de entidades como
organizações sociais, a criação do Programa Nacional de Publicização, a extinção dos órgãos
e entidades que menciona a absorção de suas atividades por organizações sociais, e dá outras
providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9637.htm. Acesso em:
20 out 2020.
BRESSER-PEREIRA, L. C. (1997). Estratégia e estrutura para um novo Estado. RSP, v. 48, n. 1, pp. 5-25.
CASIMIRO, F. H. C. (2018). A nova direita: aparelhos de ação política e ideológica no Brasil contemporâneo.
São Paulo, Expressão Popular.
COUTO, E.; COSTA, A. (2003). Trajetória histórica da empresa mineração Morro Velho. In: V CONGRESSO
BRASILEIRO DE HISTÓRIA ECONÔMICA. Anais... São Paulo, Associação Brasileira de Pesquisadores
em História Econômica.
DARDOT, P.; LAVAL, C. (2016). A nova razão do mundo: ensaio sobre a sociedade neoliberal. São Paulo,
Boitempo.
DENEAULT, A. (2018). "As empresas multinacionais: um novo poder soberano inscrito na ordem das
coisas". In: ACSELRAD, H. (org.). Políticas territoriais, empresas e comunidades: o neoextrativismo
e a gestão empresarial do “social”. Rio de Janeiro, Garamond.
FONTES, V. (2006). Sociedade civil, classes sociais e conversão mercantil-filantrópica. Observatório
Social de América Latina. CLACSO. Ano VII, n. 19, pp. 341-350.
______ (2010). O Brasil e o capital imperialismo: teoria e história. Rio de Janeiro, EPSJV/Editora UFRJ.
______ (2018). Gramsci, Estado e sociedade civil: anjos, demônios ou lutas de classes? Revista Outubro,
n. 31.
FRASER, N. (2020). O velho está morrendo e o novo não pode nascer. São Paulo, Autonomia Literária.
GRAMSCI, A. (2019). Cadernos do Cárcere - volume 3. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira.
HALL, S.; LUMLEY, B.; McLENNAN, G. (1980). “Política e Ideologia: Gramsci”. In: CENTRE FOR
CONTEMPORAY CULTURAL STUDIES (org.). Da ideologia. Rio de Janeiro, Zahar.
JOSEPH, G. et al. (2018). Responsabilidade social corporativa e índices de sustentabilidade: um estudo
dos ativos tangíveis e intangíveis à luz da visão baseada em recursos. Revista de Gestão Social e
Ambiental. São Paulo, v. 12, n. 1, pp. 73-88.
LOPEZ, F. G. (org.) (2018). Perfil das organizações da sociedade civil no Brasil. Brasília, Ipea. Disponível
em: http://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=33432
Acesso em: 20 out 2020.
644
Cad. Metrop., São Paulo, v. 24, n. 54, pp. 625-645, maio/ago 2022
Governança neoliberal em territórios minerários
RIBEIRO, L. C. Q. (2020). As metrópoles e o direito à cidade na inflexão ultraliberal da ordem urbana
brasileira. Texto para discussão. Rio de Janeiro, Observatório das Metrópoles.
SANTOS, B. S. (2001). “Para uma reinvenção solidária e participativa do Estado”. In: BRESSER PEREIRA,
L. C.; WILHEIM, J.; SOLA, L. (orgs.) Sociedade e estado em transformação. São Paulo, Editora
Unesp, pp. 243-271.
SANTOS, W. G. (1979). Cidadania e justiça: a política social na ordem brasileira. Rio de Janeiro, Campus.
SIMÕES, C. (2010). Curso de direito do serviço social. São Paulo, Cortez.
THEODORE, N.; PECK, J.; BRENNER, N. (2009). Urbanismo neoliberal: la ciudady el imperio de los
mercados. Temas Sociales, n. 85. Santiago/Chile.
Texto recebido em 19/ago/2021
Texto aprovado em 27/set/2021
Cad. Metrop., São Paulo, v. 24, n. 54, pp. 625-645, maio/ago 2022
645