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íntimas e multipercepções que mostram um distanciamento
da escrita quanto às convenções narrativas. A voz feminina em suas múltiplas enunciações artísticas e críticas está
focalizada no artigo “Escrita do eu em tempos de comunicação e trânsitos: a voz de Valdelice Pinheiro”, de Maria
de Lourdes Netto Simões, sobre a obra da poetisa de
Itabuna, e sua relação com a identidade cultural da Bahia.
Por fim, as reflexões filosóficas sobre a memória como
fundamento da identidade subjetiva é abordada no artigo
“A escritura da memória como fundamento identitário do
eu”, de Carlos Eduardo Japiassú de Queiroz, que contém
um relato memorial, enquanto Denise Campos e Silva
Kuhn, em “Tennessee Williams’ Camino Real and August
Strindberg’s The Dream Play: expressionism in the
Theatre”, elegem a dramaturgia de Tennessee Williams e
August Strindberg para estudar a criação teatral como
manifestação da visão subjetiva de seus autores.
Esse conjunto de artigos, como sugerimos, é uma mostra instigante de enfoques possíveis de “escritas do eu”.
Agradecemos a todos que colaboraram com este número
da Revista Brasileira de Literatura Comparada e esperamos
que a diversidade aqui apresentada, além de confirmar a
riqueza do debate crítico em nosso âmbito de atuação, sirva de estímulo para novos questionamentos e avaliações.
Escrita de si como performance
Diana Klinger*
RESUMO: O texto se propõe discutir o conceito de autoficção
como um conceito específico da narrativa contemporânea. A
autoficção é pensada como um discurso ambivalente: ela faz
parte da cultura do narcisismo da sociedade midiática contemporânea, mas se coloca numa linha de continuidade com a crítica estruturalista do sujeito e com a crítica filosófica da representação. Assim, ela tem pontos de contato tanto com a teoria
da “performance de gênero” (por exemplo, na obra de Judith
Butler) em que a subjetividade é pensada como “desnaturalização” do eu, quanto com a arte cênica da performance. Dessa perspectiva, a autoficção seria uma das formas que assumem
a literatura depois do fim do paradigma moderno das letras.
PALAVRAS-CHAVE:
Autoficção, performance, representação, crí-
tica do sujeito.
ABSTRACT:
This text aims to discuss autofiction as a concept
specific to contemporary literature. In it, I consider autofiction
as an ambivalent discourse: participating in the narcissistic culture of contemporary mass media, it simultaneously continues
the structuralist critique of the subject and twentieth-century
philosophy’s critique of representation. Thus, it shares aspects
of performance theory from within gender studies (for example,
in the work of Judith Butler), where the subject is thought as a
denaturalization of the self, as well as with performance art. From
this perspective, autofiction is one of the forms that literature
takes on after the paradigm of modern literature is in decline.
Orna Messer Levin
Pedro Brum
* Pesquisadora do Programa
Avançado de Cultura
Contemporânea (PACC) da
Universidade Federal do
Rio de Janeiro (UFRJ).
Bolsista de Faperj.
KEYWORDS: Autofiction, performance, representation, critique
of the subject.
Uma das questões que atravessam a prosa literária
atual na América Latina é a presença problemática da pri-
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meira pessoa autobiográfica. Ela aparece, por exemplo, nos
dois últimos romances de João Gilberto Noll (2002; 2004),
Berkeley em Bellagio e Lord que narram a experiência do
escritor na Europa, fazendo que seja difícil descolar a figura do narrador da figura do autor. Também se coloca essa
questão na obra de Silviano Santiago (1985; 1995): em
Stella Manhattan e em Viagem ao México. Silviano cria –
mediante a intromissão de um narrador em primeira pessoa que expõe os bastidores da escrita – a ilusão de uma
contemporaneidade entre escritura e experiência. A questão da relação do eu ficci onal com o sujeito autoral já
estava em pauta, de maneira alegórica, no romance Em
liberdade (Santiago, 1981), e retornará nos contos de Histórias mal contadas (Santiago, 2005), e na forma de uma
“autobiografia falsa” em O falso mentiroso (Santiago, 2004).
Na literatura hispano-americana, a questão aparece sintomaticamente em inúmeras narrativas recentes: por exemplo, na obra inteira do colombiano Fernando Vallejo, assim como na do cubano Pedro Juan Gutierrez, estruturadas
em ambos como sagas autobiográficas, nas quais se mantém, respectivamente, o mesmo narrador em todos os romances que relatam uma e outra vez as mesmas histórias
pessoais e familiares, sob diferentes pontos de vista. Esse
jogo com o autobiográfico aparece também nas novelas
do argentino Daniel Link (2004; 2006) La ansiedad e
Montserrat, na novela Como me hice monja, de Cesar Aira
(1993), em El juego del alfiler, do colombiano Darío
Jaramillo Agudelo (2002), nos textos do mexicano
Mario Bellatín (2005), por exemplo Lecciones para uma
liebre muerta, ou nos romances do uruguaio Mario Levrero
(1996; 2005), El discurso vacío e La novela luminosa, romance que inclui o diário de sua própria escrita. Trata-se
de escritores, como apontou o crítico Reinaldo Laddaga
(2007, p.14), que “têm publicado livros nos quais se imaginam [...] figuras de artistas que são menos os artífices de
construções densas de linguagem ou os criadores de histórias extraordinárias, do que produtores de ‘espetáculos de
realidade’, dos quais é difícil dizer”, continua Laddaga, “se
Escrita de si como performance
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são naturais ou artificiais, simulados ou reais”. Essas obras
se situam além do paradigma moderno das letras, baseado
em narrativas autônomas em relação com a figura do autor
e em uma busca de uma linguagem literária claramente diferenciada da cultura de massas.
A autoficção abrange um amplo leque de possibilidades: em alguns casos (como o de César Aira ou Marcelo
Mirisola), o autor coloca o seu nome no protagonista de
um relato disparatado ou inverossímil. Em outros casos,
os relatos têm índices referenciais mais concretos, de maior
carga biográfica (João Gilberto Noll, Silviano Santiago,
Daniel Link). Por exemplo, Montserrat é uma novela
construída a partir de fragmentos, a maioria deles publicados primeiro no blog de Daniel Link. Na novela aparecem muitos personagens conhecidos do entorno do escritor e, no entanto, o livro começa com uma aclaração de
que “os fatos e personagens são ficcionais e qualquer semelhança com a realidade é pura homonímia ou coincidência.” Já Fernando Vallejo faz precisamente o contrário, quando afirma que nos seus livros ele só conta a
verdade, e nem sequer muda os nomes dos personagens.
O narrador assume, cinicamente, todos os clichês do “politicamente incorreto” e, para tanto, a primeira pessoa imprime ao texto uma carga política muito forte. Outro caso
interessante, como “gesto literário”, é o de uma narrativa
que “cria um personagem” que é o autor: por exemplo,
“Cucurto”, personagem criado nos textos de Santiago Veja,
ou Pedro Lemebel, em que os textos são parte da performance do autor.
Escrita de si como “sintoma” da época atual. O fato
de muitos romances contemporâneos se voltarem para
a própria experiência do autor não parece destoar de uma
sociedade marcada pela exaltação do sujeito. Uma sociedade na qual a mídia tem insistido na visibilidade do privado, na espetacularização da intimidade e na exploração
da lógica da celebridade. Uma cultura midiática que manifesta uma ênfase tal do autobiográfico, que leva a pensar que a televisão se tornou um substituto secular do
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confessionário eclesiástico e uma versão exibicionista do
confessionário psicanalítico.
Assistimos hoje a uma proliferação de narrativas
vivenciais, ao grande sucesso mercadológico das memórias,
das biografias, das autobiografias e dos testemunhos; aos
inúmeros registros biográficos na mídia, retratos, perfis,
entrevistas, confissões, reality shows; ao surto dos blogs na
internet, ao auge de autobiografias intelectuais, de relatos
pessoais nas ciências sociais (a chamada antropologia pósmoderna), a exercícios de “ego-história”, ao uso dos testemunhos e dos “relatos de vida” na investigação social, e à
narração auto-referente nas discussões teóricas e epistemológicas (Arfuch, 2005, p.51).
O que considero, porém, mais interessante da boa
narrativa contemporânea é que ela não é apenas um reflexo da cultura midiática, mas se situa também no contexto
discursivo da crítica filosófica do sujeito que se produziu
ao longo do século XX. Essa crítica começa com a desconstrução da categoria do sujeito cartesiano operada por
Nietzsche, que implica assumir os efeitos da morte de Deus
e do homem, ou seja, da figura construída tanto pela tradição da filosofia moderna, fundada no cogito cartesiano,
quanto pela tradição cristã na qual interioridade, renúncia e consciência de si seriam seus eixos fundantes. A crítica nietzschiana do sujeito implica também a desconstrução da categoria a ele associada de verdade. Em A genealogia
da moral, Nietzsche (2004, p.36) argumenta que na origem da moral se encontra o ressentimento contra a vontade de força, de dominação. Mas seria um erro da razão
entender que o atuar é determinado por um atuante, um
“sujeito”. “Não existe tal substrato; não existe ser por trás
do fazer, do atuar, do devir; ‘o agente’ é uma ficção acrescentada à ação – e a ação é tudo”. E mais adiante conclui
que, “o sujeito foi até o momento o mais sólido artigo de fé
sobre a terra, talvez por haver possibilitado à grande maioria
dos mortais, aos fracos e oprimidos de toda espécie, enganar a si mesmos com a sublime falácia de interpretar a
fraqueza como liberdade, e seu ser assim como mérito”.
Escrita de si como performance
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Foi o estruturalismo que deu continuidade à crítica
do sujeito em meados do século XX. O estruturalismo estabeleceu um paradigma transdisciplinar cujo eixo seria
uma concepção lógico-formal da linguagem. Assim, na
sua reformulação do conceito de inconsciente freudiano,
J. Lacan (1985) afirma que ele está estruturado como uma
linguagem e que nele existem relações determinadas: é a
estrutura que dá seu estatuto ao inconsciente. Seguindo
o mesmo raciocínio de Lacan, também R. Barthes (1977,
p.85) pensa o sujeito como signo vazio: “o sujeito é apenas um efeito da linguagem”. O Foucault dos anos 1960
também toma esse caminho. Em As palavras e as coisas,
Foucault (1966, p.398) fala aliás do apagamento do homem “como na beira do mar, um rosto de areia”.
Em seu texto “O que é um autor?”, Foucault (1994)
faz uma análise do conceito de autor centrando-se na
relação do texto com o sujeito da escrita; quer dizer, no
modo como o texto aponta para essa figura que – agora
só aparentemente – é exterior e anterior a ele. O ensaio
é uma declaração da morte do autor que, como ponto
de partida toma as palavras do personagem de Beckett
em Esperando Godot: “Que importa quem fala, alguém
disse que importa quem fala”. Nessa indiferença, Foucault
reconhece um dos princípios éticos fundamentais da escrita contemporânea; éticos porque se trata de um princípio que não marca a escritura como resultado, mas que a
domina como prática. Na escritura, diz Foucault (1994,
p.793), “não se trata da sujeição de um sujeito a uma linguagem, trata-se da abertura de um espaço no qual o sujeito que escreve não deixa de desaparecer”.
Foucault percebe uma passagem de uma relação da
escrita com a imortalidade (por exemplo, a epopéia grega
estava destinada a perpetuar a imortalidade do herói, e
nas Mil e uma noite Sherazade conta uma história a cada
noite para não morrer) para uma relação da escrita com a
morte. Diz Foucault (1994, p. 793): “a obra que tinha o
dever de conduzir à imortalidade do herói tem recebido
agora o direito de matar, de ser assassina do seu autor”.
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Escrita de si como performance
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Fala-se da “morte do autor”, porque têm desaparecido os
caracteres individuais do sujeito escritor, de maneira que
“a marca do escritor já não é mais que a singularidade de
sua ausência”.
Esse é o espaço filosófico-filológico que Nietzsche abriu
ao se perguntar, não o que eram o bem e o mal em si mesmos, mas o que era designado como tal e, então, quem é
que sustenta esses conceitos. Segundo Foucault (1966,
p.317), à pergunta de Nietzsche – “quem fala?” – Mallarmé
responde que quem fala, “em sua solidão, em sua frágil vibração, em seu nada, fala a palavra mesma”, em seu “ser
enigmático e precário”. Mallarmé – diz Foucault – “não pára
de apagar-se a si mesmo de sua própria linguagem” (ibidem).
Adverte, porém, Foucault que não é tão simples descartar a categoria de autor, porque o próprio conceito de
obra e a unidade que essa designa dependem daquela categoria. Por isso Foucault busca localizar o espaço que ficou vazio com o desaparecimento do autor (“um acontecimento que não cessa desde Mallarmé”), e rastrear as
funções que esse desaparecimento faz aparecer. De fato,
para Foucault, o autor existe como função autor: um nome
de autor não é simplesmente um elemento num discurso,
mas ele exerce um certo papel em relação aos discursos,
assegura uma função classificadora, manifesta o acontecimento de um certo conjunto de discursos e se refere ao
estatuto desse discurso no interior de uma sociedade e no
interior de uma cultura. Nem todos os discursos possuem
uma função autor, mas em nossos dias, essa função existe
plenamente nas obras literárias. Para a crítica literária
moderna, o autor é quem permite explicar tanto a presença de certos acontecimentos numa obra como suas transformações, suas deformações, suas modificações diversas.
O autor é também o princípio de uma certa unidade de
escritura – é preciso que todas as diferenças se reduzam ao
mínimo graças a princípios de evolução, de amadurecimento ou de influência. Finalmente, o autor é um certo
“lar de expressão” que, sob formas mais ou menos acabadas, se manifesta tanto e com o mesmo valor em obras, em
1
Segundo Josefina Ludmer,
esses gêneros costumam ser
associados pela crítica ao
feminino e, portanto, sofrem
uma dupla marginalização.
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rascunhos, em cartas, em fragmentos etc. Quer dizer que,
para Foucault, o vazio deixado pela “morte do autor” é
preenchido pela categoria “função autor” que se constrói
em diálogo com a obra.
Com o intuito de evitar a sacralização burguesa do
nome do autor, a teoria literária devedora do formalismo
russo ou do estruturalismo “passa a conceber a literatura
como um vasto empreendimento anônimo e como uma
propriedade pública, em que escrever e ler são percursos
indistintos, autor e leitor papéis intercambiáveis, nesse
universo onde tudo é escrita” (Melo Miranda, 1992, p.93).
A crítica que sustenta essa acepção da literatura desconfia de qualquer relação exterior ao texto, marginalizando
e considerando “gêneros menores” por serem gêneros da
realidade, ou seja, textos fronteiriços entre o literário e o
não-literário, a toda uma série de discursos relacionados
com o eu que escreve: crônicas, memórias, confissões, cartas, diários, auto-retratos (Ludmer, 1984, p.47-54).1
No clássico ensaio “A morte do autor”, Roland Barthes
se pergunta, a propósito de uma passagem de Sarrasine, de
Balzac: “Quem fala assim? É o herói da novela, interessado em ignorar o castrado que se esconde sob a mulher? É o
indivíduo Balzac, dotado por sua experiência pessoal de
uma filosofia da mulher? É o autor Balzac, professando
idéias “literárias” sobre a mulher? É a sabedoria universal?
A psicologia romântica?”. Barthes (1988, p.65) conclui que
é impossível responder a essas perguntas porque “a escritura é a destruição de toda voz, de toda origem. A escritura é esse neutro, esse composto, esse oblíquo, aonde foge
nosso sujeito, o branco-e-preto aonde vem se perder toda
identidade, a começar pela do corpo que escreve”.
Será, no entanto, que a destruição “da identidade do
corpo que escreve” não é menos um produto da “escritura” do que de uma concepção modernista da escritura? Não
será que ela não depende de uma perspectiva da autonomia da arte, segundo a qual “a realidade externa é irrelevante, pois a arte cria sua própria realidade” (cf. Hutcheon,
1988, p.146)? Sendo assim, a escritura como destruição
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da voz e do corpo que escreve seria um conceito datado, e
talvez historicamente ultrapassado. Por isso – como assinala Beatriz Sarlo (1995, p.11) –, se nós, os leitores, ainda
nos interessamos pelos escritores é porque “não fomos convencidos, nem pela teoria nem por nossa experiência, de
que a ficção seja, sempre e antes de tudo, um apagamento
completo da vida”.
A partir disso, uma pergunta se torna inevitável: como
pensar o sujeito da escrita depois da crítica estruturalista
do sujeito, de sua descentralização? O “retorno do autor” –
a auto-referência da primeira pessoa autobiográfica na narrativa contemporânea – talvez seja uma forma de questionamento do recalque modernista do sujeito. “Retorno”
remeteria assim não apenas ao devir temporal, mas especialmente ao sentido freudiano de Wiederkehr, de reaparição
do recalcado.
Parto, então, da hipótese de que essas narrativas
contemporâneas respondem ao mesmo tempo e paradoxalmente ao narcisismo midiático e à crítica do sujeito.
Há dois anos, na pesquisa que concluiu no meu livro Escritas de si, escritas do outro. O retorno do autor e a virada
etnográfica (Klinger, 2007), considerava que o conceito
de “autoficção” (posto em circulação em 1971 pelo escritor francês Serge Doubrovsky) podia dar conta desse paradoxo. No entanto, tenho percebido que em muitas das
discussões acadêmicas e jornalísticas esse conceito tem
adquirido uma amplitude tal que parece abranger desde
Infância¸ de Graciliano Ramos, até os blogs pessoais. Por
isso, se acreditamos – como acredito – que alguma coisa
tem mudado na literatura recente, torna-se importante
especificar a noção de autoficção como uma característica
própria da narrativa contemporânea, que pode ter pontos
de contatos, mas se diferencia de outras narrativas anteriores. Para isso, é necessário chegar numa definição precisa
do que consideramos “autoficção”.
Parto da hipótese de que a autoficção se inscreve no
coração do paradoxo deste final de século XX: entre um
desejo narcisista de falar de si e o reconhecimento da im-
Escrita de si como performance
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possibilidade de exprimir uma “verdade” na escrita. Assim, a autoficção se aproxima do conceito de performance,
que, como espero mostrar, também implica uma desnaturalização do sujeito.
O termo inglês “performance” significa “atuação”,“desempenho”, “rendimento”, mas começou a assumir significados mais específicos nas artes e nas ciências humanas a partir dos anos 1950 como idéia capaz de superar a
dicotomia arte/vida. Do ponto de vista da antropologia,
uma performance é “toda atividade feita por um indivíduo
ou grupo na presença de e para outro indivíduo ou grupo”
(Schechner, 1988, p.30). Assim, para Victor Turner (apud
Taylor, 2003, p.19), as performances revelam o caráter profundo, genuíno e individual de uma cultura. Pelo contrário, o performático significa, na teoria de gênero da crítica
norte-americana Judith Butler, não o “real, genuíno”, mas
exatamente o oposto: a artificialidade, a encenação.
A argumentação de Butler (2003, p.197), ainda que
voltada para uma gender theory, pode ser muito proveitosa para pensar o conceito de autoficção. Para Butler,
o gênero é uma construção performática, quer dizer,
uma construção cultural imitativa e contingente. O gênero é “um estilo corporal, um ato, por assim dizer, que tanto
é intencional como performativo, onde performativo sugere uma construção dramática e contingente de sentido”. Butler argumenta que a noção de gênero como essência interior de um sujeito e como a garantia de identidade
é uma ilusão mantida para os propósitos da regulação da
sexualidade dentro do marco obrigatório da heterossexualidade reprodutiva. Assim entendido, o gênero é considerado uma ficção regulatória e encarna uma performatividade
por meio da repetição de normas que dissimulam suas convenções. A performance dramatiza o mecanismo cultural
de sua unidade fabricada. Butler analisa o caso da paródia
do gênero que realiza o travesti e diz que essa paródia não
presume a existência de um original que essas identidades
parodísticas imitariam. “A paródia que se faz é da própria
idéia de um original” (ibidem, p.199).
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A perspectiva de Butler interessa precisamente pela
desconstrução do mito de original, pois ela argumenta que
a performance de gênero é sempre cópia da cópia, sem original. Da mesma maneira, a autoficção também não
pressupõe a existência de uma sujeito prévio, “um modelo”, que o texto pode copiar ou trair, como no caso da
autobiografia. Não existe original e cópia, apenas construção simultânea (no texto e na vida) de uma figura teatral – um personagem – que é o autor.
Para se compreender essa relação entre escrita e performance é preciso levar em consideração a crítica à noção
de representação da episteme moderna, que se produz nos
campos mais diversos, da estética à metafísica, passando
pela política. Vou limitar minha argumentação à critica
de Derrida, que considero bastante significativa. Segundo
Derrida (1996, p.78ss.) apesar da força dessa corrente, a
autoridade da representação se impõe ao nosso pensamento
mediante uma história densa e fortemente estratificada.
Com efeito, toda epistemologia moderna está fundada sobre a noção de representação. O antropólogo Paul Rabinow
(1986, p.234) define assim o conhecimento: “conhecer é
representar adequadamente o que está fora da mente”.
A partir dessas premissas, Derrida se pergunta: o que
é a representação em si mesma? Qual é o eidos da representação? E diz que, antes de saber como e o que traduzir
por representação, devemos nos perguntar pelos conceitos
de tradução e de linguagem, conceitos dominados freqüentemente pelo conceito de representação, seja interlingüística, intralingüística ou inter-semiótica (entre linguagens discursivas e não-discursivas) na arte, por exemplo.
Em cada caso nos encontramos com pressuposto, ou o desejo, de uma identidade de sentido invariável, que regula
todas as correspondências. Esse desejo seria o de uma linguagem representativa, linguagem que representaria um
sentido, um objeto, um referente, que seriam anteriores e
exteriores a essa linguagem. Sob a diversidade das palavras de línguas diferentes, sob a diversidade dos usos da
mesma palavra, e sob a diversidade dos contextos e dos
Escrita de si como performance
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sistemas sintáticos, o mesmo sentido ou o mesmo referente, o mesmo conteúdo representativo conservaria sua identidade irredutível. O representado seria uma presencia e
não uma representação.
A crítica a essa noção de linguagem representativa
não pode evadir o pensamento de Heidegger. Segundo o
filósofo alemão, diz Derrida, no mundo grego não havia
uma relação com o ente como uma imagem concebida
como representação (Bild): o mundo era pura presença
(Anwesen). É com o platonismo que o mundo se anuncia como Bild; o platonismo prepara, destina, envia o mundo da representação. É na Modernidade que o ente se determina como objeto trazido perante o homem, disponível
para o sujeito-homem que teria dele uma representação.
A representação chegou a ser o modelo de todo pensamento do sujeito, de todo o que lhe sucede a esse e o modifica em sua relação com o objeto. O sujeito, diz Derrida,
não se define apenas como o lugar e a localização de suas
representações: ele mesmo, como sujeito, fica aprendido
como um representante. O homem, determinado em primeiro termo como sujeito, se interpreta ao mesmo tempo
na estrutura da representação. O sujeito, segundo Lacan,
é aquilo que o significante representa para outro significante. Estruturado pela representação, como alguém que
tem representações, é também sujeito representante, alguém que representa alguma outra coisa. Quando o homem determina tudo o que existe como representável, ele
mesmo se põe em cena, no círculo do representável, colocando-se a si mesmo como a cena da representação, cena
na qual o ente deve se “re-apresentar”, ou seja apresentar
novamente. Assim se remete da representação em relação
com o objeto à representação como delegação, substituição de sujeitos identificáveis uns com os outros.
Derrida formula a desconstrução da noção de representação a partir da noção de envio (Geschick). Um envio
não constitui uma unidade, e não tem nada que o preceda.
Não emite senão remetendo: “tudo começa no remeter,
ou seja, não começa”. Essas pegadas, esses rastros, são re-
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missões a um passado sem origem do sentido, remissões
que não têm estrutura de representantes nem de representações, de significantes, nem de signos, nem de metáforas etc. As remissões do outro ao outro, as pegadas de
différance, não são condições originárias e transcendentais.
São um envio, um destino (Geschick) que “não está nunca
seguro de se juntar, de se identificar, de se determinar”
(Derrida, 1996, p.78). Da mesma forma se pode pensar a
autoficção como “envio”, remissão sem origem, sem
substrato transcendente.
Então, é a partir da crítica à noção de representação e
de sujeito que se pode formular um conceito de autoficção
que seja específico da literatura contemporânea. O sujeito
que “retorna” nessa nova prática de escritura em primeira
pessoa não é mais aquele que sustenta a autobiografia: a
linearidade da trajetória da vida estoura em benefício de
uma rede de possíveis ficcionais. Não se trata de afirmar
que o sujeito é uma ficção ou um efeito de linguagem, como
sugere Barthes,2 mas que a ficção abre um espaço de exploração que excede o sujeito biográfico. Na autoficção,
pouco interessa a relação do relato com uma suposta “verdade” prévia a ele, que o texto viria saciar, pois como aponta
Cristopher Lasch (1983, p.42), “o autor hoje fala com sua
própria voz mas avisa ao leitor que não deve confiar em
sua versão da verdade”.
Confundindo as noções de verdade e ilusão, o autor
destrói a capacidade do leitor de “cessar de descrer”. Assim, o que interessa na autoficção não é a relação do texto
com a vida do autor, e sim a do texto como forma de criação de um “mito do escritor”. É preciso dizer algumas palavras do que entendemos aqui por mito. Em Mitologias,
Roland Barthes (2003) oferece uma sagaz descrição do
mecanismo de criação do mito, partindo da estrutura
ternária do conceito de signo de Saussure. Significante,
significado e signo são três termos formais, aos quais se
podem atribuir diferentes conteúdos. Por exemplo, para
Freud, o significante é constituído pelo conteúdo manifesto de um comportamento, enquanto o significado é seu
2
Também Philippe Sollers,
em seu texto “Logique de la
fiction”, in Logiques (Seuil,
1968, p.15-43. Coll. Tel Quel),
citado por Emilie Lucas-Leclin
(2005, p.3).
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sentido latente. O terceiro termo é a correlação entre os
dois primeiros. Quer dizer que os sonhos e os atos falhos
são signos, ou seja, eventos concebidos como economias
realizadas graças à junção da forma (primeiro termo) e da
função intencional (segundo termo).
Barthes concebe o mito em analogia com o signo saussuriano e o inconsciente freudiano, pois ele reproduz o mesmo esquema tridimensional. O mito se constrói a partir de
uma idéia semiológica que lhe preexiste no sistema da língua: o que é signo (junção de três termos) no primeiro sistema é significante (primeiro termo) no segundo. O signo,
termo final do sistema da língua, ingressa como termo inicial no segundo sistema, mitológico. Barthes chama esse
signo (significante no segundo sistema) de “forma”, e o significado, de “conceito”. O terceiro termo, no sistema do
mito, é a significação.
O mito porém se aproxima mais do inconsciente freudiano do que do signo lingüístico, pois num sistema simples como a língua o significante é vazio e arbitrário e,
portanto, não oferece nenhuma resistência ao significado.
Pelo contrário, “assim como para Freud, o sentido latente
do comportamento deforma seu sentido manifesto, assim
no mito o conceito deforma o sentido” (Barthes, 2003,
p.313). O mito, dirá Lévi-Strauss (1987, p.233), é linguagem, mas linguagem que opera num nível muito elevado e
cujo sentido consegue decolar – cabe usar uma imagem
aeronáutica – do fundamento lingüístico sobre o qual tinha começado a se deslizar.
A autoficção é uma máquina produtora de mitos do
escritor, que funciona tanto nas passagens em que se relatam vivências do narrador quanto naqueles momentos
da narrativa em que o autor introduz no relato uma referência à própria escrita, ou seja, a pergunta pelo lugar da
fala (O que é ser escritor? Como é o processo da escrita?
Quem diz eu?). Reconhecer que a matéria da autoficção
não é a biografia mesma e sim o mito do escritor nos permite chegar próximos da definição que interessa para nossa
argumentação. Qual a relação do mito com a autoficção?
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O mito, diz Barthes (2003, p.221), “não é uma mentira,
nem uma confissão: é uma inflexão”. “O mito é um valor,
não tem a verdade como sanção.” A autoficção participa
da criação do mito do escritor, uma figura que se situa no
interstício entre a “mentira” e a “confissão”. A noção do
relato como criação da subjetividade, a partir de uma manifesta ambivalência a respeito de uma verdade prévia
ao texto, permite pensar a autoficção como uma performance do autor.
É no sentido de artifício, como “comportamentos
duplamente exercidos, comportamentos restaurados, ações
que as pessoas treinam para desempenhar, que têm que
repetir e ensaiar” (Schechner, 2003, p.27), que pensamos
a identidade autoral no caso das narrativas contemporâneas mencionadas no início. O conceito de performance
deixaria ver o caráter teatralizado da construção da imagem de autor. Estou propondo uma sutil diferença entre o
sujeito escritor e a figura do autor. Dessa perspectiva, não
haveria um sujeito pleno, originário, que o texto reflete
ou mascara. Pelo contrário, tanto os textos ficcionais quanto a atuação (a vida pública) do escritor são faces complementares da mesma produção da figura do autor, instâncias
de atuação do eu que se tencionam ou se reforçam, mas
que, em todo caso, já não podem ser pensadas isoladamente. O autor é considerado como sujeito de uma performance, de uma atuação, que “representa um papel” na
própria “vida real”, na sua exposição pública, em suas múltiplas falas de si, nas entrevistas, nas crônicas e auto-retratos, nas palestras. Portanto, o que interessa do autobiográfico no texto de autoficção não é uma certa adequação
à verdade dos fatos, mas sim “a ilusão da presença, do acesso ao lugar de emanação da voz” (Arfuch, 2005, p.42).
Assim, a autoficção adquire outra dimensão que não a ficção autobiográfica, considerando que o sujeito da escrita
não é um “ser” pleno, cuja existência ontológica possa ser
provada, senão que o autor, a figura do autor, é resultado
de uma construção que opera tanto dentro do texto ficcional quanto fora dele, na “vida mesma”.
Escrita de si como performance
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Daí que o texto de autoficção se aproxime também da
performance como arte cênica. O texto autoficcional implica uma dramatização de si que supõe, da mesma maneira
que ocorre no palco teatral, um sujeito duplo, ao mesmo
tempo real e fictício, pessoa (ator) e personagem. A dramatização supõe a construção simultânea de ambos, autor
e narrador. Imaginando uma analogia entre a literatura e
as artes cênicas, poder-se-ia traçar uma correspondência
entre o teatro tradicional e a ficção, por um lado, e a arte
da performance e a autoficção, por outro. Na cena teatral
existe um paradoxo, que Julian Olf (apud Cohen, 2002,
p.95) chama de dialética da ambivalência, que pode ser
enunciado como a impossibilidade de “ser” e representar
simultaneamente. O ator não pode ser e construir um outro ser ao mesmo tempo. Quando o ator entra na cena teatral, ele passa a “significar”, a virar signo, desdobrando-se
em ator e personagem. O ator situa-se assim entre dois
pólos: o da atuação e o da representação. Essa ambivalência
é insalvável: o ator nunca poderá estar somente “atuando”, mesmo que ele represente a si mesmo, nem poderá
estar completamente possuído pelo personagem. Ora, esse
paradoxo está em relação a um outro, que atinge tanto a
representação teatral quanto o texto ficcional: como no
texto de ficção, no espetáculo teatral espaço e tempo são
ilusórios, no teatro e no romance tudo remete ao imaginário. Quanto mais o ator (ou o autor do texto) entra no
personagem, e mais real tenta fazê-lo, mais reforça a ficção,
e portanto, a ilusão. Por isso a arte da performance rejeita a
ilusão, ela é precisamente “o resultado final de uma longa
batalha para liberar as artes do ilusionismo e do artificialismo” (Glusberg, 2003, p.46).
A arte da performance supõe uma exposição radical
de si mesmo, do sujeito enunciador, assim como do local
da enunciação, a exibição dos rituais íntimos, a encenação
de situações autobiográficas, a representação das identidades como um trabalho de constante restauração sempre
inacabado (Ravetti, 2002, p.47). Na arte da performance,
a ambivalência do teatro persiste, mas ao contrário desse,
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o performer está mais presente como pessoa e menos como
personagem. Da mesma forma que na performance, na
autoficção convivem o escritor-ator e o personagem-autor. E não se procura aumentar a verossimilhança, pois
ela, como vimos, aumentaria paradoxalmente o caráter
ficcional. No texto de autoficção, entendido nesse sentido, quebra-se o caráter naturalizado da autobiografia numa
forma discursiva que ao mesmo tempo exibe o sujeito e o
questiona, ou seja, que expõe a subjetividade e a escritura
como processos em construção. Assim, a obra de autoficção
também é comparável à arte da performance na medida
em que ambos se apresentam como textos inacabados,
improvisados, work in progress, como se o leitor assistisse
“ao vivo” ao processo da escrita.
Literatura como performance, isto é, como uma prática inserida num contexto sociocultural mais amplo, no qual
a figura do autor interfere na leitura do texto. Reinaldo
Laddaga (2006, p.7) afirma que estamos perante uma profunda transformação da configuração da modernidade estética, na qual a literatura se destinava “a um espectador
ou um leitor retraído e silencioso, que a obra devia subtrair
[...] do seu entorno normal para confrontá-lo com a manifestação da exterioridade do espírito ou do inconsciente”. Isso ainda era válido para a literatura latino-americana digamos até os anos 1980: da obra de Borges, Carpentier,
Lezama Lima, Guimarães Rosa até Garcia Marquez, Carlos
Fuentes, Julio Cortázar ou Clarice Lispector, para citar
apenas alguns exemplos. Os novos narradores, diz Ladagga
(2006, p.10), sabem que suas operações se realizam numa
época de superabundância informativa, na qual é improvável encontrar esse tipo de leitor que deseja se isolar do
entorno de comunicações ordinárias para se confinar na
confrontação solitária com um artefato de linguagem.
Por isso, a escrita de si como performance também supõe uma revisão na noção de valor literário: a autoficção
não pode ser lida apenas a partir das qualidades estéticas
do texto. A autoficção só faz sentido se lida como show,
como espetáculo, ou como gesto. Isso é característico, também, de certa literatura que Josefina Ludmer (2007) cha-
Escrita de si como performance
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ma de “pós-autônoma”. Estas obras performáticas podem
ser lidas junto com aquelas narrativas que, segundo Ludmer
(2007), “aparecem como literatura mas não podem ser lidas com os critérios ou com as categorias literárias (específicas da literatura) como autor, obra, estilo, escrita, texto e sentido. E, portanto, é impossível lhes atribuir um
‘valor literário’: já não tem, para essas escritas, literatura
boa ou ruim”. Sendo assim, a autoficção mostraria algo a
mais do que uma tendência da narrativa contemporânea.
Talvez ela seja um dos signos de um esgotamento da cultura moderna das letras.
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RESUMO: Sob a hipótese de que o conceito de literário está sen-
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do reconfigurado, o objetivo principal do trabalho é o comentário teórico sobre o conceito de autoficção, entendido como uma
estratégia da literatura contemporânea capaz de eludir a própria incidência do autobiográfico na ficção e tornar híbridas as
fronteiras entre o real e o ficcional, colocando no centro das
discussões novamente a possibilidade do retorno do autor, não
mais como instância capaz de controlar o dito, mas como referência fundamental para performar a própria imagem de si autoral que surge nos textos. O foco investigativo se concentrará
na produção de alguns autores que se lançaram na rede, como
Clarah Averbuck, João Paulo Cuenca, Santiago Nazarian.
PALAVRAS-CHAVE: Autoria, autoficção, blog, literatura contem-
porânea.
ABSTRACT:
Under the hypothesis of that the concept of literary is being reconfigured, the main objective of the essay is the
theoretical commentary about the concept of autoficção as a
strategy of contemporary literature, by setting in the center of
the arguments afresh the possibility from the recurrence author’s.
The focus will be concentrated in the production of some authors whom if they had launched in the net, some names: Clarah
Averbuck, João Paulo Cuenca, Santiago Nazarian,
KEYWORDS :
Authorship, autoficção, blog, contemporary
literature.
* Professora doutora de
Teoria Literária da
Universidade Federal de
Uberlândia (UFU) –
Uberlândia (MG).
“A necessidade canônica, quando se vai trabalhar
com o contemporâneo, de saída nos coloca diante
dessa questão: O que é literatura?”
(Beatriz Resende)