Laboratório de Estudos
da Pobreza (LEP)
Fortaleza — Ceará
Outubro de 2010
Editor Responsável e Patrono:
Pedro Sisnando Liete
AUTORES:
Adriano Sarquis Bezerra de Menezes
Almir Bittencourt
Andrei Gomes Simonassi
Arnaldo Santos
Carlos Alberto Manso
Carlos Eduardo Marino
Djalma Pinto
Emerson Luís Lemos Marinho
Flávio Ataliba F. D. Barreto
Francisco Mavignier Cavalcante França
Gerardo Clésio Maia Arruda
Heloisa Helena Maia de Mendonça
João Mário Santos de França
Marcelo Miranda de Melo
Odorico de Moraes Eloy da Costa
Paulo Rogério Faustino Matos
Pedro Sisnando Leite
Ricardo Antonio de Castro Pereira
Ricardo Brito Soares
Tereza Maria de Oliveira
Vicente Ferrer Augusto Gonçalves
Ceará
Justo
Movimento
Ceará
mais Justo
Ceará
Justo
Uma Agenda para o Desenvolvimento
do Estado do Ceará
Diretrizes para um crescimento econômico com
equidade e justiça social
InIcIatIva
Laboratório de estudos da Pobreza (LeP)
CaeN-uFC
Fortaleza — Ceará
Outubro de 2010
Movimento Ceará mais Justo
Copyright © 2011 by Laboratório de Estudos da Pobreza (LEP)
CAEN-UFC
Editor Responsável e Patrono
Pedro Sisnando Leite
Projeto Gráfico e caPa
Carlos Alberto Alexandre Dantas
Impresso no Brasil
SOBRE OS AUTORES
Adriano Sarquis Bezerra de Menezes — Possui
graduação em Economia pela Universidade Federal
do Ceará (1982), Mestrado em Economia pela Universidade Federal do Ceará (1990) e Doutorado pelo
Instituto de Economia da Universidade Federal do
Rio de Janeiro (2007). Atualmente é professor titular da Universidade de Fortaleza e Pesquisador do
Escritório Técnico de Estudos Econômicos do Nordeste–ETENE, do Banco do Nordeste do Brasil S/A.
Tem experiência na área de Economia, com ênfase
em Economia Regional e Urbana, Finanças Públicas,
Economia Empresarial e Organização Industrial.
Almir Bittencourt — Professor Associado do Departamento de Economia Aplicada, da Universidade
Federal do Ceará. Pós-Graduado em Economia pela
EPGE/FGV, Rio de Janeiro (1975-1976), Pós-Graduado em Planejamento Econômico pelo ILPES/CEPAL,
Santiago do Chile (1987), Especialização em Controle de Empresas Públicas pelo IIAP, Paris, França
(1989), Mestre em Economia pela Universidade Federal do Ceará (1998) e Doutor em Economia pela
Universidade Federal do Ceará (2004). Tem experiência na área de Economia, com ênfase em Ma-
croeconomia e Economia do Setor Público, atuando
principalmente nos seguintes temas: crescimento
econômico, produtividade, economia do setor público, economia regional e econometria aplicada.
Andrei Gomes Simonassi — Possui doutorado
em Economia pela Fundação Getulio Vargas — FGV/
RJ (2006). Economista pleno do Instituto Brasileiro
de Economia IBRE-FGV passou em 2008 a Professor
adjunto do Curso de Pós-Graduação em Economia
da Universidade Federal do Ceará, onde é chefe do
Departamento de Economia Aplicada DEA-FEAAC,
coordenador do Mestrado Profissional em Economia
do Setor Público MESP-CAEN e Pesquisador do Núcleo de Conjuntura e Finanças NCF-CAEN/UFC. Tem
experiência na área de Economia, com ênfase em
Métodos Quantitativos Aplicados à Economia do Setor Público e Finanças.
Arnaldo Santos — Jornalista, sociólogo, doutor
em ciências políticas pela universidade Nova de Lisboa (UNL) Portugal, e pós-doutorando em economia
política pela Universidade Federal do Ceará (UFC)
— CAEN e pesquisador do Laboratório de Estudos da
Pobreza — LEP-CAEN — UFC. Foi Secretário de comunicação da Prefeitura Municipal de Fortaleza. Como
jornalista é diretor da TV Fortaleza — Canal 6 da
net, onde apresenta o programa Observatório e também apresenta o programa Visão Política pela FGF
TV Canal Universitário — 14 da Net.
Carlos Alberto Manso — Bacharel em Ciência
da Computação pela Universidade Federal da Paraíba, Mestre e doutorando em Economia pela Universidade Federal do Ceará. Tem experiência na áreade Ciência da Computação, com ênfase em Banco
de Dados. É Coordenador Acadêmico da Faculdade
Lourenço Filho. Como economista, atua como pesquisador junto ao Laboratório de Estudos da Pobreza (LEP) do CAEN/UFC, sendo autor de diversos trabalhos na área de crescimento econômico.
Carlos Eduardo Marino — Graduado em Ciências Econômicas pela Universidade Federal do Ceará — UFC (2000). Mestrado em Economia pelo CAEN
— Centro de Pós-Graduação em Economia da UFC
(2004). Doutorando em Economia no CAEN-UFC,
com ingresso em 2008, com área de interesse em
Desenvolvimento Econômico, especialmente desigualdade regional e pessoal de renda no Brasil; e
Finanças Públicas com ênfase em competição tributária e política tributária. Auditor Fiscal Adjunto da
Receita Estadual da Secretaria da Fazenda (SEFAZ-CE), desde 1990, exercendo diversas funções técnicas e gerenciais.
Djalma Pinto — Graduado em direito, ex-Procurador Geral do Estado do Ceará, ex-Professor de
Direito Tributário da Universidade de Fortaleza, autor, entre outras, das seguintes obras: Direito Eleitoral Anotações e Temas Polêmicos, Distorções do Poder, Meditações sobre a Violência, Direito Eleitoral,
Improbidade Administrativa e Responsabilidade Fiscal, A CIDADE DOS MENINOS, Elegibilidade no Direito
Brasileiro, MARKETING, POLÍTICA E SOCIEDADE.
Emerson Luís Lemos Marinho — Doutor em
Economia pela Fundação Getulio Vargas (EPGE/FGV-RJ) e Mestre em Estatística pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Atualmente, é Professor Titular do Departamento de Economia Aplicada
da UFC e do programa dePós-Graduação em Economia da UFC (CAEN). É Pesquisador do CNPq (1D) e
Pesquisador do Laboratório de Estudo da Pobreza
(LEP/CAEN). Atua nas áreas de crescimento e desenvolvimento econômico e métodos quantitativos
em economia.
Fabricio Carneiro Linhares — Possui graduação
em Economia pela Universidade Federal do Ceará
(1997), mestrado em Economia pela Universidade
Federal do Ceará (2000) e doutorado em Economia
— University of New Hampshire (2006). Atualmente é professor adjunto da Universidade Federal do
Ceará. Tem experiência na área de Economia, com
ênfase em Métodos e Modelos Econométricos, atuando principalmente nos seguintes temas: modelos
de séries temporais e finanças públicas.
Flávio Ataliba F. D. Barreto — Graduado em
Economia pela Universidade Federal do Ceará (1986),
Mestre em Economia pelo CAEN (1990) e pela EPGE/
FGV/RJ (1995). Tem doutorado em Economia pela
EPGE/FGV/RJ (1997) e Pós-Doutor pela Universidade de Harvard/EUA (2002) e Universidade Técnica
de Lisboa/Portugal (2006). Atualmente é Professor
Associado II do DEA/UFC e do CAEN, onde coordena
também o Laboratório deEstudos da Pobreza (LEP).
É Catedrático do IPEA, além de Pesquisador Nível II
do CNPq. Sua área de pesquisa tem se concentrado
em crescimento e desenvolvimento econômico.
Francisco Mavignier Cavalcante França — É
economista e mestre em economia rural. Tem pós-
-graduação em gestão empresarial pela Fundação
Dom Cabral e em gestão estratégica pela Kellogg G.
Scholl of Management/USA. Atualmente é diretor
de projetos da Assist Consultores Associados. Tem
vasta experiência em pesquisa científica e em gestão pública: Univesidade Federal do Ceará e ETENE/ Banco do Nordeste. É autor de mais de 50 trabalhos técnicos e científicos, editados no Brasil e
no exterior. Áreas de atuação: desenvolvimento regional, agronegócios, clusters, avaliação econômica
de projetos, irrigação no nordeste, crédito rural,
avaliação de políticas públicas, desenvolvimento
econômico local e portal de informações.
Gerardo Clésio Maia Arruda — Graduado em
Ciências Econômicas, Especialista em Geografia
Humana, Mestre e Doutor em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (2003). Professor da Faculdade CHRISTUS e da Universidade de Fortaleza
(UNIFOR). Possui experiência profissional no desenvolvimento de atividades de elaboração e coordenação de projetos e políticas públicas na área de
geração de trabalho e renda, pesquisa de emprego
e desemprego e impactos de políticas públicas. Tem
experiência na área de Sociologia, atuando principalmente nos seguintes temas: política, trabalho,
relações de trabalho, produtividade, qualidade, migração e semi-árido.
Heloisa Helena Maia de Mendonça — Especialista em Gestão Pública (UFC) e Mestre em Economia (CAEN/UFC). É multiplicadora do Módulo
Planejamento Estratégico e Gestão por Resultados
do Projeto Brasil Municípios (Governo Brasileiro e
União Européia). Faz parte do Grupo de Pesquisa
em Finanças Públicas da Escola de Administração
Fazendária — ESAF (MP). Atua na área Municipal,
com experiência em Gestão, Planejamento e Finanças Públicas.
João Mário Santos de França — Doutor em Economia pela Fundação Getulio Vargas (EPGE/FGV-RJ) e Engenheiro Civil pela Universidade Federal
do Ceará (UFC). Atualmente, é Professor Adjunto
I nos programas de Graduação em Administração
e Pós-Graduação em Economia e Administração da
UFC (CAEN), Coordenador do Curso de Pós-Graduação em Economia — CAEN/UFC e Pesquisador do
Laboratório de Estudo da Pobreza (LEP/CAEN). Autor de artigos acadêmicos nas áreas de Economia do
Bem-Estar, Desenvolvimento Econômico e Comércio
Internacional.
Marcelo Miranda de Melo — Possui graduação
em Engenharia Civil (UFC) com Mestrado em Gestão
de Projetos (University of Manchester — U.K.), possui experiência em construção de edifícios, concreto de alta resistência e foi engenheiro consultor de
condomínios fechados. Tem experiência de 8 anos
no mercado financeiro, especialmente na área de
fomento mercantil. É professor de ensino superior
há 10 anos, possui doutorado em economia pelo
CAEN-UFC com ênfase na política de crédito no Brasil. Tem como principais linhas de pesquisa métodos
quantitativos, otimização, finanças e crescimento
econômico. Atualmente é professor Adjunto I da
UFC em regime DE.
Odorico de Moraes Eloy da Costa — Possui graduação em Estatística e Matemática Aplicada pela
Universidade Federal do Ceará — UFC (1978), mestrado em Economia Rural pela Universidade Federal
do Ceará — UFC (1982) e doutorado em Economia
pela Universidade Federal do Rio de Janeiro — UFRJ
(2007). É Analista de Planejamento e Orçamento da
Secretaria do Planejamento e Gestão do Estado do
Ceará — SEPLAG. Tem experiência na área de Economia, com ênfase em Economia da Inovação, atuando principalmente nos seguintes temas: desenvolvi-
mento local, arranjos produtivos locais, crescimento
econômico e desenvolvimento econômico, desenvolvimento regional e industrialização.
Paulo Rogério Faustino Matos — É Doutor em
Economia pela Fundação Getúlio Vargas (EPGE/FGV-RJ) e Engenheiro Civil pela Universidade Federal do
Ceará (UFC). Atualmente, é Professor Adjunto II nos
programas de Graduação e Pós-Graduação em Economia da UFC (CAEN), Coordenador do Bacharelado
em Finanças (Campus de Sobral), Coordenador do
Mestrado Profissional em Finanças e Seguro (MPFS/
CAEN), Pesquisador do CNPq (2F) e Pesquisador do
Laboratório de Estudo da Pobreza (LEP/CAEN) e
do Núcleo de Conjuntura Econômica e Financeira
(NCF/CAEN). Autor de artigos acadêmicos em finanças de nível internacional nas áreas de: Asset Pricing; Finanças Internacionais; Sistema Financeiro e
Desenvolvimento.
Pedro Sisnando Leite — Economista, pós-graduado, livre-docente, Prof. Titular (aposentado) de
desenvolvimento econômico do CAEN/UFC. Foi Pró-Reitor de Planejamento da UFC, técnico em desenvolvimento econômico e diretor da Divisão de Estudos Agrícolas do ETENE/BNB e ocupou o cargo de
Secretário de Estado do Desenvolvimento Rural do
Estado do Ceará (1995-2002). Publicou cerca de 40
livros sobre economia, desenvolvimento econômico,
agricultura, história e dezenas de artigos na imprensa especializada. Atualmente, é Vice-Presidente do
Instituto Histórico, Geográfico e Antropológico do
Ceará e da Academia de Ciências Sociais do Ceará. É
membro efetivo da Academia Cearense de Ciências.
Ricardo Antonio de Castro Pereira — Possui
graduação em Economia pela Universidade Federal do Ceará (1988), mestrado em Economia pela
Universidade Federal do Ceará (1993) e doutorado
em Economia pela Fundação Getúlio Vargas — RJ
(2006). Atualmente é professor adjunto da Universidade Federal do Ceará. Tem experiência na área de
Economia, com ênfase em Crescimento, Flutuações
e Planejamento Econômico. Atuando, principalmente, na avaliação de políticas públicas.
Ricardo Brito Soares — Possui graduação e
mestrado em Economia pela Universidade Federal
do Ceará (1996 e 1999, respectivamente), e doutorado em Economia pela University of New Hampshire — EUA (2006). Atualmente é professor adjunto do
Curso de Administração da Universidade Federal do
Ceará e do Curso de Pós-Graduação em Economia —
CAEN desta mesma universidade. As principais áreas
de concentração de pesquisas são a Economia do
Trabalho, Avaliação de Políticas Públicas, e Economia da Saúde, tendo publicado artigos que tratam
de temas diversificados nestas áreas, como mercado informal, microcrédito, fundos constitucionais,
transmissão de AIDS e sobrevivência pós-transplante.
Tereza Maria de Oliveira — Possui graduação
em Ciências Econômicas pela Universidade Federal
do Ceará (1992) e mestrado em Negócios Internacionais- Southern New Hampshire University, EUA
(2002). Atualmente é professora horista, Coordenadora do Curso de Administração de Empresas da
Universidade de Fortaleza — UNIFOR e Conselheira
do CEPE. Tem experiência na área de Administração, com ênfase em Marketing Internacional, atuando principalmente nos seguintes temas: marketing
internacional, negociação internacional, cultura e
internacionalização de empresas.
Vicente Ferrer Augusto Gonçalves — Economista, especialista em Marketing (UNIFOR) e Mestrando em economia do setor público(CAEN/UFC).
Presidente do Conselho Regional de Economia-CO-
RECON/CE, Diretor do Sindicato dos Economistas
do Ceará-SINDECON-CE, Diretor da Cooperativa de
Trabalho dos Consultores em Economia-COOPECON/
Ce. Atua como economista da Prefeitura Municipal
de Fortaleza nas áreas de Gestão, Finanças Públicas
e Desenvolvimento Municipal.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1.1 — Evolução do PIB Estadual por Setor .................. 39
Figura 1.2 — População Ocupada por Setor ......................... 40
Figura 1.3 — PIB do Ceará como Proporção do PIB do Nordeste ... 41
Figura 1.4 — Evolução do PIB per capita — Ceará e Nordeste .... 42
Figura 2.1 — Renda Familiar per capita 2006-2008 ................ 47
Figura 2.2 — Variação da Renda Familiar per capita 2006-2008 .....48
Figura 2.3 — Razão entre as Rendas dos 10% mais Ricos
e dos 10% mais Pobres, CE ............................................. 50
Figura 2.4 — Fração da Renda Familiar: 10% mais Ricos
e dos 50% mais Pobres, CE ............................................. 51
Figura 2.5 — Variações na Composição da Renda Familiar
dos 10% mais Pobres, por Tipos de Renda. CE,
2006 a 2008 .............................................................. 54
Figura 2.6 — Curva de Crescimento da Renda Familiar
per capita — CE, 2006 a 2008 ......................................... 56
Figura 2.7 — Distribuição da População por Área
Censitária — CE, 2008 .................................................. 58
Figura 2.8 — Distribuição dos 10% mais Pobres por Área Censitária
— CE, 2008 ............................................................... 59
Figura 2.9 — Distribuição dos 10% mais Ricos por Área
Censitária — CE, 2008 .................................................. 60
Figura 4.1 — Evolução da Média Salarial, 2002-2008 .............. 79
Figura 4.2 — Evolução da Renda Salarial per capita, 2002-2008 .....79
Figura 4.3 — População Ocupada por Atividades Ceará, 2002 .... 82
Figura 4.4 — População Ocupada por Atividades Ceará, 2008 .... 82
Figura 4.5 — Renda da População Ocupada por Atividades
Ceará, 2002 .............................................................. 83
Figura 4.6 — Renda da População Ocupada por Atividades
Ceará, 2008 .............................................................. 83
Figura 4.7 — Salário Médio Pessoas Ocupadas por Atividade
Principal dos Empreendimentos do Ceará, 2002-2008 ............. 84
Figura 5.1 — Distribuição da População Brasileira por Regiões
e Estado do Ceará, 2008 ............................................... 88
Figura 5.2 — Distribuição da População Brasileira Pobre por
Regiões e Estado do Ceará, 2008 ..................................... 89
Figura 5.3 — Tempo Necessário para a Extinção da Pobreza
no Ceará por Área Censitária .........................................100
Figura 9.1 — Relação Entre Anos Médios de Estudo e Renda Média
por Estado (2007) ......................................................178
Figura 9.2 — Relação Entre Anos Médios de Estudo e Renda
Média para as Pessoas Pobres, por Estado (2007) .................179
Figura 9.3 — Relação Entre Anos Médios de Estudo e Renda
Média para as Pessoas Não-Pobres, por Estado (2007) ...........180
Figura 9.4 — Relação Entre Anos Médios de Estudo e Proporção
de Pobres, por Estado (2007) .........................................181
Figura 9.5 — Relação Entre Anos Médios de Estudo e
Desigualdade, por Estado (2007) ....................................182
Figura 9.6 — Valor Médio das Transferências Voluntárias por
Município — R$ 1.000 ..................................................188
Figura 9.7 — Receita Tributária por Ente Federativo (% da
Arrecadação) ............................................................189
Figura 9.8 — Participação da Receita Tributária Municipal
na RCL. ...................................................................190
Figura 9.9 — Participação percentual do dispêndio do
governo estadual em Ciências e Tecnologia (C&T) em
relação à receita total, 2002..........................................221
Figura 9.10 — Ceará: Crédito Total, Pessoas Física e Jurídica
Per Capita Mensal (R$) ................................................238
Figura 9.11 — Ceará: Inadimplência no Crédito Total,
Pessoas Física e Jurídica Per Capita Mensal (%) ...................239
Figura 9.12 — Nordeste: Crédito Total Per Capita Mensal (R$) ..241
Figura 9.13 — Superávit Fiscal, 2006-2009 ..........................242
Figura 9.14 — Autonomia Fiscal, 2006-2009 ........................243
Figura 9.15 — Dependência Fiscal, 2006-2009......................244
Figura 9.16 — Dívida Fundada em Percentual da Receita
Corrente .................................................................246
LISTA DE TABELAS
Tabela 2.1 — Rendimento Familiar Médio por Unidades
Federativas, 2006 e 2008 .............................................. 46
Tabela 2.2 — Composição da Renda Familiar per capita
do Ceará .................................................................. 49
Tabela 2.3 — Composição da Renda Familiar do Ceará por Tipo de
Renda ..................................................................... 53
Tabela 2.4 — Distribuição da População por Área Censitária no
Ceará ...................................................................... 57
Tabela 2.5 — Distribuição da População do Ceará por Gênero ... 61
Tabela 2.6 — Distribuição da População do Ceará por Faixa
Etária e Escolaridade ................................................... 63
Tabela 3.1 — Índice de GINI do Rendimento Familiar per capita,
2006 e 2008 .............................................................. 66
Tabela 3.2 — Índice de GINI: Brasil, Regiões e Ceará .............. 68
Tabela 3.3 — Composição (%) da Renda Familiar: Brasil,
Regiões e Ceará, 2001 e 2008 ......................................... 70
Tabela 3.4 — Contribuição de cada Componente da Renda
Familiar para o Nível de Desigualdade: Brasil, Regiões e
Ceará, 2001 e 2008 ..................................................... 72
Tabela 3.5 — Contribuição Proporcional de cada Componente
da Renda Familiar para a Redução da Desigualdade: Brasil,
Regiões e Ceará, 2001 e 2008 ......................................... 73
Tabela 4.1 — A Média Salarial por Estados Brasileiros em 2008 .. 78
Tabela 4.2 — Distribuição da População Cearense, 2002 e 2008 . 80
Tabela 4.3 — Decomposição da Taxa de Crescimento Anual da
Renda do Trabalho per capita ......................................... 85
Tabela 5.1 — Número de Pobres por Unidades Federativas,
2006 e 2008 .............................................................. 90
Tabela 5.2 — Proporção de Pobres por Unidades Federativas,
2006 e 2008 .............................................................. 92
Tabela 5.3 — Estimações de Efeitos Fixos/Aleatórios das
Elasticidades Renda-Pobreza e Desigualdade-Pobreza ............ 96
Tabela 5.4 — Tempo Necessário para a Extinção da Pobreza
(Anos) ..................................................................... 98
Tabela 6.1 — Anos Médios de Estudo — Pessoas Acima de 15 anos ..105
Tabela 6.2 — Anos Médios de Estudo — Pessoas Pobres Acima
de 15 anos ............................................................... 107
Tabela 6.3 — Anos Médios de Estudo — Pessoas Não-Pobres
Acima de 15 anos ...................................................... 110
Tabela 6.4 — Anos Médios de Estudo por Condição Social —
Pessoas Acima de 15 anos ............................................. 112
Tabela 6.5 — Distribuição % da População por Classes de Anos
de Estudo — Pessoas Acima de 15 anos ............................. 114
Tabela 6.6 — Anos Médios de Estudo por Decis de Renda —
Ceará, Pessoas Acima de 15 anos .................................... 115
Tabela 6.7 — Anos Médios de Estudo por Decis de Renda —
Nordeste, Pessoas Acima de 15 anos ................................ 116
Tabela 6.8 — Anos Médios de Estudo por Decis de Renda — Brasil,
Pessoas Acima de 15 anos ............................................. 116
Tabela 7.1 — Índice de Bem-Estar de Sen por Unidades
Federativas, 2006 e 2008 ............................................. 119
Tabela 7.2 — Crescimento Pró-Pobre (FGT (0)) por Unidades
Federativas, 2006 a 2008 ............................................. 125
Tabela 9.1 — Pessoas na Extrema Pobreza por Estado, 2008-2006 .....152
Tabela 9.2 — Proporção de Pessoas na Extrema Pobreza por
Estado, 2008-2006 ..................................................... 153
Tabela 9.3 — Extrema Pobreza por Gênero no Ceará, Nordeste
e Brasil, 2008-2006 .................................................... 154
Tabela 9.4 — Extrema Pobreza por Idade no Ceará, Nordeste
e Brasil, 2008-2006 .................................................... 155
Tabela 9.5 — Pessoas Acima de 15 anos em Condição de
Extrema Pobreza por Anos de Estudo no Ceará, Nordeste
e Brasil, 2008-2006 .................................................... 156
Tabela 9.6 — Renda Mensal a ser Transferida para acabar
com a Extrema Pobreza por Zona Metropolitana, Urbana e
Rural no Ceará, Nordeste e Brasil, 2008-2006 ..................... 165
Tabela 9.7 — Taxa de Aprovação — Ensino Fundamental
Regular — Séries Iniciais (até a 4ª série) — Brasil, Regiões
Geográficas e Unidades da Federação. 2005 e 2009 .............. 171
Tabela 9.8 — Taxa de Aprovação — Ensino Fundamental
Regular — Séries Finais (5a. a 8a. Série) -Brasil, Regiões
Geográficas e Unidades da Federação 2005 e 2009 ............... 172
Tabela 9.9 — IDEB — Ensino Fundamental Regular — Brasil,
Regiões Geográficas e Unidades da Federação, 2005, 2007
e 2009 .................................................................... 174
Tabela 9.10 — Ceará: Estatísticas Descritivas ..................... 239
LISTA DE QUADROS
Quadro 7.1 — Sumário de Possibilidades ...........................124
Quadro 8.1 — Estimativas .............................................141
Quadro 9.1 — Regionalizações Adotadas por Diferentes
Instituições não Pertencentes ao Governo Estadual ..............146
Quadro 9.2 — Regionalizações Adotadas pelo Governo
do Estado ................................................................146
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO
Adriano Sarquis B. de Menezes
Arnaldo Santos
Flávio Ataliba Barreto ........................................... 29
PARTE I
Visão Geral dos Indicadores Socioeconômicos
Recentes do Estado do Ceará
1 PRODUTO INTERNO BRUTO (PIB) .......................... 37
1.1 Evolução do PIB e da População Ocupada do
Ceará por Setor ............................................ 38
1.2 Proporção entre o PIB do Ceará e do Nordeste .... 41
2 RENDA .......................................................... 45
2.1 Ceará, Estados, Nordeste e Brasil ..................... 46
2.2 Participação e Evolução da Renda entre os Decis
no Ceará .................................................... 48
2.2.1 Participação e Evolução da Composição da Renda .... 52
2.2.2 Evolução da Renda por Área Censitária .............. 56
2.2.3 Evolução da Renda por Gênero ........................ 60
2.2.4 Evolução da Renda por Faixa Etária e Escolaridade ... 61
3 DESIGUALDADE ............................................... 65
4 MERCADO DE TRABALHO .................................... 77
5 POBREZA ....................................................... 87
5.1 Número de Pobres ........................................ 89
5.2 Proporção de Pobres ..................................... 91
5.3 A Importância da Desigualdade na Redução
da Pobreza ................................................. 93
5.4 Estimativas do Tempo de Extinção da Pobreza ..... 97
6 EDUCAÇÃO ....................................................103
6.1 Evolução dos Anos Médios de Estudos: População
Total, Pobres e Não-Pobres ............................104
6.2 Evolução dos Anos Médios de Estudos: Zonas
Territoriais e Faixas de Anos ..........................111
6.3 Anos Médios de Estudos por Decis de Renda:
Ceará, Nordeste e Brasil ...............................114
7 AVALIANDO O BEM-ESTAR DOS CEARENSES .............117
7.1 Índice de Bem-Estar de SEN ...........................118
7.2 Índice de Bem-Estar de Kakwani-Son ................122
PARTE II
Diretrizes para uma Proposta de Crescimento
Econômico com Equidade e Justiça Social
INTRODUÇÃO ....................................................129
8 A REDUÇÃO DA DESIGUALDADE COMO ESTRATÉGIA
PARA AUMENTO DE GANHOS DE EFICIÊNCIA
ECONÔMICA NO CEARÁ ........................................133
8.1 Por que a Desigualdade Prejudica o Desempenho
Econômico? ...............................................134
9 DIRETRIZES GERAIS .........................................143
Tema 1: Planejamento .....................................143
Tema 2: Combate À Pobreza ..............................148
9.1 Adendo: O Custo Financeiro da Extinção
da Extrema Pobreza no Ceará ........................163
Tema 3: Educação .......................................164
Tema 4: Qualidade das Instituições .................182
Tema 5: Inserção Internacional ......................193
Tema 6: Descentralização e Diversidade
Industrial com Interiorização do
Desenvolvimento .............................197
Tema 7: Política de Incentivos Fiscais ..............209
Tema 8: Ciência, Tecnologia e Inovação — CT&I ..218
Tema 9: Meio Ambiente ................................226
Tema 10: Demografia e Rede de Cidades ...........230
Tema 11: Financiamento do Desenvolvimento .....235
10
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................247
Movimento
Ceará
mais Justo
APRESENTAÇÃO
O presente documento constitui o primeiro
trabalho elaborado no âmbito do Movimento Ceará
Mais Justo tendo como objetivo contribuir para a
melhoria da qualidade de vida da população cearense, especialmente as classes mais necessitadas.
Ele apresenta um conjunto de ideias que podem estimular o debate no Estado, imaginando-se um perfil dinâmico de Crescimento Econômico com Equidade e Justiça Social. O caráter diferenciador desta
Proposta consiste no reconhecimento de que é posLaboratório de Estudos
da Pobreza (LEP)
CAEN – UFC
Movimento Ceará mais Justo
Uma Agenda para o Desenvolvimento do Estado do Ceará
Diretrizes para um Crescimento Econômico com Equidade e Justiça Social
29
sível conciliar políticas públicas que são eficientes
em gerar crescimento econômico acelerado, com
ações efetivas de combate à pobreza e redução da
desigualdade.
A iniciativa para elaboração deste documento
partiu do Laboratório de Estudos da Pobreza — LEP,
vinculado ao Curso de Pós-Graduação em Economia
(CAEN), da Universidade Federal do Ceará. Mobilizou-se um grupo de estudiosos, vinculados às várias
Instituições públicas e privadas do Estado, os quais,
estimulados pelo sentimento comum quanto à necessidade de transformação do perfil socioeconômico do Estado, decidiram contribuir com reflexões
sobre os dois principais problemas atuais de nossa
sociedade, quais sejam, os seus elevados níveis de
pobreza e desigualdade, propondo, ademais, diretrizes para combatê-los.
Trata-se, portanto, de um documento eminentemente técnico, cujas ideias estão assentadas
no conhecimento oriundo de pesquisas e estudos
acadêmicos, além das experiências institucionais
de alguns participantes, cujas contribuições foram
formuladas a partir de suas vivências cotidianas
tratando dos vários temas abordados neste documento. Com isso, fica assegurada a autonomia político-partidária do trabalho, garantindo-lhe uma
30
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maior liberdade para discussão com os diversos
segmentos representativos de nossa sociedade, especialmente os assessores econômicos dos atuais
candidatos ao Governo do Estado. O interesse da
elaboração da presente Agenda é não apenas contribuir para o debate econômico no Estado, mas,
também, criar um movimento na sociedade, que
lute de forma mais organizada pela implementação de políticas públicas efetivas de melhoria significativa do quadro social hoje existente. Temos a
certeza de que somente com a ampla participação
da sociedade será possível sensibilizar a classe política quanto à necessidade premente de reversão
do atual quadro.
Para alcançar os objetivos desejados, esse documento foi estruturado em duas partes. Na primeira, é feita uma ampla análise dos principais
agregados socioeconômicos do Estado, como o PIB
e renda familiar per capita, bem como de temas
considerados prioritários em qualquer estratégia
de desenvolvimento, como desigualdade, pobreza e mercado de trabalho. Com base nesse diagnóstico, avançamos na segunda parte com a apresentação de um conjunto de diretrizes associadas
a temas importantes para o desenvolvimento do
Estado, as quais foram definidas a partir do refeLaboratório de Estudos
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Movimento Ceará mais Justo
Uma Agenda para o Desenvolvimento do Estado do Ceará
Diretrizes para um Crescimento Econômico com Equidade e Justiça Social
31
rencial analítico construído ao longo do trabalho.
Acreditamos que tais diretrizes podem contribuir
para compor uma nova agenda de políticas de desenvolvimento do Estado, sendo fundamentais para
qualquer estratégia de combate à pobreza e redução da desigualdade.
É importante ressaltar, que em virtude da limitação de tempo para utilização de todas as informações disponíveis para o entendimento mais profundo dessa complexa questão do desenvolvimento
do Estado, decidimos explorar neste documento
os temas considerados mais relevantes para o enfoque adotado, voltado para o combate à pobreza
e redução da desigualdade. Além disso, queremos
destacar que as análises aqui conduzidas não esgotam o conjunto de questionamentos que cerca esta
proposta de crescer com equidade e justiça social.
Certamente, nosso trabalho deve abrir um leque
de oportunidades de discussão, mas nosso objetivo
principal é que a maioria das ideias aqui colocadas
seja transformada em políticas e inseridas na agenda de ações estratégicas do próximo Governo.
Finalizando essa apresentação, gostaríamos
de agradecer a todos aqueles que direta ou indiretamente contribuíram para a elaboração deste
documento e que demonstraram espírito de cidada-
32
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nia, renunciando aos inúmeros compromissos para
participarem voluntariamente das discussões, de
forma a contribuir com críticas e sugestões sobre a
situação sócio-econômica atual do Ceará. As ideias
aqui expressas não representam a visão particular
de seus autores, mas sim uma visão média do grupo
sobre os temas abordados, sendo de nossa inteira
responsabilidade o que está proposto.
Adriano Sarquis B. de Menezes
Arnaldo Santos
Flávio Ataliba Barreto
(orGanizadores do documento)
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Movimento Ceará mais Justo
Uma Agenda para o Desenvolvimento do Estado do Ceará
Diretrizes para um Crescimento Econômico com Equidade e Justiça Social
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Movimento
Ceará
mais Justo
PARTE I
Visão Geral dos Indicadores
Socioeconômicos
Recentes do Estado do Ceará
Movimento
Ceará
mais Justo
1 PRODUTO INTERNO BRUTO (PIB)
Uma das variáveis econômicas mais importantes para se avaliar o nível de riqueza de uma sociedade é o PIB (Produto Interno Bruto), que mede
quanto de bens e serviços foi produzido durante um
determinado período de tempo. Esta variável reflete melhorias não só na quantidade de produtos disponíveis à população como também nos empregos
gerados no processo produtivo. Por isso, para se ter
um panorama da economia cearense, é importante
ter um foco inicial nessa variável.
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Movimento Ceará mais Justo
Uma Agenda para o Desenvolvimento do Estado do Ceará
Diretrizes para um Crescimento Econômico com Equidade e Justiça Social
37
Entretanto, sabemos que o PIB por si só não é
suficiente para medir o nível de desenvolvimento
de uma economia, isso porque o produto agregado pode ser elevado por conta da disponibilidade
abundante de insumos para a produção, e isso nada
informa sobre a produtividade e o nível tecnológico da economia. Ademais, é fundamental que ele
seja considerado na dimensão de sua população, o
que é feito através do PIB per capita, ou seja, o
PIB dividido pelo número de habitantes. Outro ponto importante é ter essa avaliação através de sua
distribuição setorial. Assim, nesta primeira seção
deste documento faremos um diagnóstico do Ceará
considerando seu PIB em diferentes aspectos.
1.1 Evolução do PIB e da População Ocupada
do Ceará por Setor
A Figura 1.1, a seguir, apresenta a tendência de cada setor na economia cearense de 1995
a 2007. Observa-se que apenas o setor de serviços
teve crescimento no período analisado, partindo de
55,86% do PIB para 70,24%, permanecendo, assim,
como o setor mais importante na composição do
PIB. A indústria, apesar da queda verificada (34,49%
para 23,57%) como proporção do PIB, apresen-
38
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Diretrizes para um Crescimento Econômico com Equidade e Justiça Social
ta ainda uma importante participação no Estado,
diferentemente da agropecuária que além de ter
baixa participação vem reduzindo mais ainda sua
importância, passando de 9,65% para 6,19% do PIB
cearense.
Figura 1.1 — Evolução do PIB Estadual por Setor
Fonte: elaboração LEP/CAEN
Por outro lado, quando analisamos a participação de cada setor da economia em termos de população ocupada, percebemos que o setor da agropecuária é o de maior importância, como mostrado na
Figura 1.2. Isso indica a baixa produtividade neste
segmento, haja vista que é o setor de menor PIB.
Tal setor era responsável por 39,18% das pessoas
ocupadas em 1995 e passou para 29,17% em 2007,
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39
sendo, com isso, o único setor que teve redução no
período analisado.
Figura 1.2 — População Ocupada por Setor
Fonte: elaboração LEP/CAEN
Já o setor de serviços teve aumento em termos de pessoas ocupadas, passando de 24,97% para
27,50%, seguindo, assim, a mesma tendência que
a participação no PIB, apresentada na figura anterior. Já o setor da indústria apresentou relação
contrária entre as pessoas ocupadas e a participação no PIB, ou seja, registrou queda na participação no PIB, enquanto que em termos de população
ocupada teve o maior aumento, saindo de 9,69%
para 15,50%.
40
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1.2 Proporção entre o PIB do Ceará e do
Nordeste
A Figura 1.3 mostra a tendência da participação do PIB do Ceará no PIB da região Nordeste.
Como pode ser observado, o Ceará teve uma perda
na participação no período como um todo, partindo
de 15,13%, em 1995, para 14,47%, em 2007, passando por um ponto de máximo em 1998, com 15,79%,
e mínimo em 2001, com 13,72%.
Figura 1.3 — PIB do Ceará como Proporção do PIB do Nordeste
Fonte: elaboração LEP/CAEN
Em termos do comportamento do PIB per capita, pode ser visto pela Figura 1.4 que tanto o
Ceará como o Nordeste apresentaram uma trajeLaboratório de Estudos
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41
tória de aumento nesse período. Para termos uma
ideia, em 1995 as duas economias tinham seus PIBs
per capita bastante próximos (o Nordeste tinha R$
2.759,92 e o Ceará R$ 2.728,28). Entretanto, se
considerarmos o ano de 2007, a diferença entre os
dois cresceu, passando o Nordeste para R$ 3.862,27
e o Ceará evoluiu para R$ 3.519,03. O menor valor para o Nordeste corresponde ao observado em
1995, enquanto o Ceará obteve seu menor valor
em 2001, com R$ 2.600,12, mesmo ano em que a
participação do PIB do Ceará apresentou seu menor nível em relação ao Nordeste, como foi mostrado na Figura 1.3.
Figura 1.4 — Evolução do PIB per capita — Ceará e Nordeste
Fonte: elaboração LEP/CAEN
42
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Resumidamente, o que se observa nessa primeira seção é que o Ceará vem reduzindo a participação do PIB agropecuário na economia, apesar
de ter grande parte da população ocupada situada
nesse segmento da economia. Ademais, verifica-se
também que o setor de serviço vem se constituindo
o principal segmento e que vem aumentando a proporção da população ocupada tanto nesse segmento
como na indústria, apesar dessa última ter perdido
participação no PIB cearense de 1995 a 2007. Em
termos de Nordeste, a economia cearense tem perdido participação no PIB regional.
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43
Movimento
Ceará
mais Justo
2 RENDA
Outra variável importante a ser analisada no
Ceará é o comportamento da renda, que neste documento é tratada como a renda familiar per capita, ou seja, a renda de todos os integrantes da
família e de todas as fontes (salários, aluguéis,
pensões, aposentadorias, transferências, etc.) dividida pelo número de pessoas que compõem a família. Na primeira seção, é feita uma comparação
da renda do Ceará em relação aos outros Estados
brasileiros, com o Nordeste e o Brasil, e na seção
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45
seguinte uma análise da renda subdividida em decis
para o Estado.
2.1 Ceará, Estados, Nordeste e Brasil
A Tabela 2.1 apresenta a renda familiar per capita de todos os Estados da Federação e do Distrito
Federal de 2006 e 2008, além de suas respectivas
variações percentuais no período. Verifica-se que o
Ceará é o 25º com menor renda no Brasil e o segundo pior do Nordeste, apesar de ter havido a melhora
de uma posição de 2006 para 2008, devido ao expressivo crescimento de 16,92% nesse período, considerado o 3º melhor desempenho do país.
Tabela 2.1 — Rendimento Familiar Médio por Unidades Federativas,
2006 e 2008
Unidades
Acre
Alagoas
Amapá
Amazonas
Bahia
Ceará
Distrito Federal
Espírito Santo
Goiás
Maranhão
Mato Grosso
Mato Grosso do Sul
Minas Gerais
Paraná
Paraíba
Pará
Pernambuco
Piauí
46
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CAEN – UFC
2006
Renda Rank
431,66
14
310,45
25
387,16
15
362,77
19
330,21
23
301,54
26
1.087,61
1
536,36
8
513,86
10
286,86
27
511,24
11
556,40
7
525,28
9
620,19
6
350,70
20
332,74
22
337,76
21
318,13
24
2008
2006-2008
Renda Rank Renda
Rank
441,48
15
2,28%
25
318,30
26
2,53%
24
399,27
17
3,13%
23
393,24
19
8,40%
16
374,20
22 13,32%
8
352,55
25 16,92%
3
1.231,85
1 13,26%
9
283,90
10
8,86%
15
593,24
9 15,45%
4
291,27
27
1,71%
26
636,28
7 24,46%
11
610,79
8
9,78%
13
576,98
11
9,84%
12
693,74
6 11,86%
11
398,62
18 13,66%
6
376,31
21 13,09%
10
364,23
23
7,84%
17
361,90
24 13,76%
5
Movimento Ceará mais Justo
Uma Agenda para o Desenvolvimento do Estado do Ceará
Diretrizes para um Crescimento Econômico com Equidade e Justiça Social
Unidades
2006
2008
2006-2008
Renda Rank
Renda Rank Renda
Rank
Rio Grande do Norte
370,00 17
419,72
16 13,44%
7
Rio Grande do Sul
660,72
5
723,52
5
9,50%
14
Rondônia
467,28 12
463,96
12 -0,71%
27
Roraima
436,43 13
456,48
14
4,59%
20
Santa Catarina
724,87
4
766,74
4
5,78%
19
Sergipe
366,53 18
390,31
20
6,49%
18
São Paulo
748,37
2
781,02
2
4,36%
21
Tocantins
373,09 16
463,51
13 24,33%
2
Fonte: LEP/CAEN a partir de microdados da PNAD/IBGE
Quando comparada ao Nordeste e ao Brasil (Figura 2.1), a renda média do Ceará em 2006 representava por volta de 55% da renda média nacional e
92,8% da média
nordestina, passando em 2008 para 59% e
97,9%, respectivamente. Esse aumento na participação pode ser constatado pela expansão da renda
familiar per capita do Ceará em mais que duas vezes
a do Brasil e quase 1,7 vezes a da região Nordeste.
Figura 2.1 — Renda Familiar per capita 2006-2008
Fonte: elaboração LEP/CAEN a partir da PNAD/IBGE
Nota: rendas avaliadas em Reais de setembro de 2008, deflacionadas pelo INPC
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47
Figura 2.2 — Variação da Renda Familiar per capita 2006-2008
Fonte: elaboração LEP/CAEN a partir da PNAD/IBGE
As Tabelas 2.2 a 2.6, a seguir, apresentam um
quadro geral de como se deu o crescimento da renda familiar per capita no Ceará entre 2006 e 2008
nos diversos decis da população e quais os tipos de
renda mais relevantes para esta variação. Ademais,
verifica-se o desdobramento espacial dessa evolução
através do comportamento da distribuição populacional nas regiões censitárias, nos gêneros e nas faixas etárias. Por fim, observa-se, ainda, a média de
anos de estudo para as pessoas a partir de 15 anos.
2.2 Participação e Evolução da Renda entre
os Decis no Ceará
A Tabela 2.2 mostra a renda média de cada decil e sua participação na renda total. Como pode ser
48
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observado, em 2006 a renda média do cearense era
de R$ 301,54. Para uma linha de pobreza correspondente à metade do salário mínimo de setembro de
2008 (R$ 207,50), a população pertencente até parte do sexto decil era considerada pobre. Por outro
lado, em 2008, uma fração da população no sexto
decil deixa a faixa da pobreza (Tabela 2.3).
Tabela 2.2 — Composição da Renda Familiar per capita do Ceará
Decil
Renda 2006
Renda 2008
Variação da
Renda de 2006
a 2008
Média Total
64,26% 40,48%
37,25% 17,38%
23,86% 5,93%
20,77% 3,33%
21,78% 4,15%
17,93% 0,83%
15,56% -1,09%
13,96% -2,57%
12,62% -3,63%
15,81% -1,01%
16,92%
Média % Total
Média
Total
1 (10% mais pobres)
21,72
0,72%
35,68
1,01%
2
57,82
1,92%
79,36
2,25%
3
88,97
2,95%
110,21
3,13%
4
119,74
3,97%
144,61
4,10%
5
151,58
5,03%
184,59
5,24%
6
194,82
6,46%
229,76
6,51%
7
250,32
8,30%
289,27
8,21%
8
333,07
11,05%
379,58 10,76%
9
460,00
15,25%
518,04 14,70%
10 (10% mais ricos)
1.336,88
44,35% 1.548,27 43,90%
População
301,54 100,00%
352,55 100,00%
Fonte: LEP/CAEN a partir de microdados da PNAD/IBGE
Nota: Renda média avaliada em Reais de setembro de 2008, deflacionada pelo INPC
No caso dos participantes da primeira faixa de
renda — os 10% mais pobres —, havia uma participação de apenas 0,72% na renda total, e uma renda
média de apenas R$ 21,72. Noutro extremo, os 10%
mais ricos detinham quase 45% da renda total do Estado, com média de R$ 1.336,88 per capita. Portanto, os 10% mais ricos tinham, em 2006, 61,6 vezes
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49
a renda dos mais pobres. Ademais, pode-se atestar
que os 50% mais pobres detinham apenas 14,59% da
renda total.
Quando se examinam esses números para 2008,
verifica-se que a renda média no primeiro decil de
renda passou para R$ 35,68 — um acréscimo de mais
de 64%. Essa expansão fez com que a renda média nesse segmento aumentasse sua participação na
renda total para um pouco mais de 1%. A renda média dos 10% mais ricos passou para R$ 1.548,27, um
aumento de 15%, mas, apesar disso, significou uma
redução na participação total de –1,01%, caindo de
44,35% para 43,90%. Em termos da relação entre a
renda dos 10% mais ricos e os 10% mais pobres, essa
passou a ser de 43,4 vezes, como pode ser visto na
Figura 2.3.
Figura 2.3 — Razão entre as Rendas dos 10% mais Ricos e dos 10% mais
Pobres, CE
Fonte: elaboração LEP/CAEN a partir da PNAD/IBGE
50
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Nessa direção, em 2008, os 50% mais pobres
passaram a absorver 15,73% da renda total, contra
14,59% relativos a 2006. Isso é um indicativo do aumento mais que proporcional na renda das pessoas
na base da pirâmide social em relação ao topo (Figura 2.4). Isso pode ser constatado também no fato
de que os seis primeiros decis aumentaram sua participação na renda total, enquanto que os quatro
últimos reduziram. Outro ponto importante, indicativo de queda na desigualdade, foi que os acréscimos foram proporcionalmente maiores nos três
primeiros decis.
Figura 2.4 — Fração da Renda Familiar: 10% mais Ricos e dos 50% mais
Pobres, CE
Fonte: elaboração LEP/CAEN a partir da PNAD/IBGE
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51
2.2.1
Participação e Evolução da Composição da
Renda
Um segundo aspecto importante na investigação da evolução da renda é o comportamento de
cada componente do rendimento familiar. Neste estudo a decomposição da renda total foi feita em
quatro segmentos, a saber: a renda do trabalho
(TRAB), aluguéis e doações (AL_DOA), os benefícios
da seguridade social (SEC_SOC) e, por fim, as transferências sociais e rendimentos de aplicações (TRN_
APL). Neste último componente estão incluídos os
benefícios do programa nacional de transferência
de renda denominado “Bolsa Família” (Tabela 2.3).
Entre os 10% mais pobres em 2006, a renda do
trabalho e as transferências e aplicações representavam quase o mesmo peso na renda total, com os
dois componentes em conjunto sendo responsáveis
por mais de 95% do rendimento familiar. Mas, à medida que se avança em direção aos decis de renda
mais elevados, aumentam as participações da renda
do trabalho e dos benefícios da seguridade social,
reduzindo-se a participação das transferências e
aplicações. Na outra ponta da distribuição, percebe-se que mais do que 70% da renda dos 10% mais
ricos são decorrentes dos salários.
52
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Tabela 2.3 — Composição da Renda Familiar do Ceará por Tipo de Renda
Decil
Composição da Renda Familiar por Composição da Renda Familiar por Composição da Renda Familiar por
Tipo de Renda 2006
Tipo de Renda 2008
Tipo de Renda 2006 a 2008
AL_
TRAB
SEC_SOC TRN_APL TRAB AL_DOA SEC_SOC TRN_APL TRAB AL_DOA SEC_SOC TRN_APL
DOA
Movimento Ceará mais Justo
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Diretrizes para um Crescimento Econômico com Equidade e Justiça Social
1 (10% +
pobres)
47,79%
2
68,72%
3,37%
4,07%
23,96% 69,46%
1,99%
6,83%
21,61%
1,07% -40,93%
67,95%
-9,80%
3
71,45%
2,59%
10,10%
15,79% 72,61%
1,65%
10,34%
15,40%
1,62% -36,22%
2,43,%
-2,46%
4
74,31%
1,67%
12,18%
11,95% 74,96%
1,19%
15,10%
8,80%
0,88% -28,47%
23,98%
-26,39%
5
74,09%
1,14%
15,73%
9,00% 72,44%
1,08%
17,56%
8,91% -2,22%
-4,49%
11,62%
-1,04%
6
67,28%
1,05%
24,09%
7,60% 69,16%
1,41%
23,12%
6,46%
2,79%
33,86%
-4,03%
-14,99%
7
66,78%
1,10%
26,28%
5,91% 66,87%
1,06%
27,07%
4,92%
0,13%
-3,90%
3,02%
-16,75%
8
67,44%
1,08%
27,31%
4,16% 59,82%
1,57%
35,05%
3,61% 11,30%
45,20%
28,35%
-13,14%
-23,92%
-14,04%
3,17%
1,77%
47,26%
55,54%
2,75%
2,89%
38,81%
16,22% -13,21%
63,16%
-17,88%
9
64,54%
1,57%
31,47%
2,38% 72,80%
1,22%
23,94%
2,05% 12,81% -22,27%
10 (10% +
ricos)
74,94%
2,19%
22,14%
0,71% 73,59%
3,15%
22,94%
0,64% -1,80%
43,32%
3,58%
-10,37%
População
70,87%
1,78%
23,04%
4,31% 70,71%
2,17%
23,14%
3,98% -0,22%
21,91%
0,44%
-7,66%
Fonte: LEP/CAEN a partir de microdados da PNAD/IBGE
53
No entanto, em 2008, verifica-se pela Tabela
2.3 que a renda dos 10% mais pobres teve um crescimento significativo. Esse crescimento, observado na
Figura 2.5, foi motivado principalmente pelo comportamento da renda do trabalho (16,22%) e dos benefícios da seguridade (63,16%), a despeito de este
último ter ainda uma participação muito pequena
na renda total (2,89%).
Figura 2.5 — Variações na Composição da Renda Familiar dos 10% mais
Pobres, por Tipos de Renda. CE, 2006 a 2008
Fonte: elaboração LEP/CAEN a partir da PNAD/IBGE
Ademais, percebe-se que a renda representada por TRN_APL teve uma redução significativa
(-17,89%) na participação da renda total, caindo
dos 47,26% anteriores para 38,81%. Ou seja, ao
contrário do que se imagina, o aumento significa-
54
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da Pobreza (LEP)
CAEN – UFC
Movimento Ceará mais Justo
Uma Agenda para o Desenvolvimento do Estado do Ceará
Diretrizes para um Crescimento Econômico com Equidade e Justiça Social
tivo na renda na camada mais pobre da população no Ceará não foi decorrente do componente
transferência (bolsa-família), mas sim do aumento
dos salários reais, especialmente os ganhos reais
de salários mínimos. Esta evidência corrobora com
os estudos que tratam essas questões em caráter
nacional.
Percebe-se, também, que as participações da
renda salarial e dos benefícios da seguridade permaneceram praticamente as mesmas, diferentemente dos componentes TRN_APL, com redução
significativa de -7,66%, e AL_DOA, que teve um
aumento importante de 21,91%, muito embora sua
participação na renda total ainda seja muito pequena (2,17%).
Todos os movimentos da evolução da renda entre os seus diversos decis podem ser visualizados
na Figura 2.6, que apresenta a chamada Curva de
Incidência de Crescimento. Essa curva, ao apresentar inclinação negativa, permite-nos concluir que os
decis mais baixos de renda tiveram proporcionalmente aumentos maiores na renda, o que caracteriza essa situação como de crescimento inclusivo. E,
no caso específico em questão, é possível perceber
que nesse período analisado a redução foi mais intensa nos três primeiros decis.
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Movimento Ceará mais Justo
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Diretrizes para um Crescimento Econômico com Equidade e Justiça Social
55
Figura 2.6 — Curva de Crescimento da Renda Familiar per capita — CE,
2006 a 2008
Fonte: elaboração LEP/CAEN a partir da PNAD/IBGE
2.2.2
Evolução da Renda por Área Censitária
O terceiro corte é feito em termos da distribuição da população por decil de renda em cada região
censitária, definida pelas três categorias disponibilizadas na PNAD: Região Metropolitana de Fortaleza
(RM), Zona Urbana (URB) e Zona Rural (RUR). Essas
variáveis estão apresentadas na Tabela 2.4.
56
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Movimento Ceará mais Justo
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Diretrizes para um Crescimento Econômico com Equidade e Justiça Social
Laboratório de Estudos
da Pobreza (LEP)
CAEN – UFC
Tabela 2.4 — Distribuição da População por Área Censitária no Ceará
Decil
Distribuição da População por
Área Censitária 2006
Distribuição da População por
Área Censitária 2008
Variação da Distribuição da
População por Área Censitária
de 2006 a 2008
RUR
RM
URB
RUR
40,36%
13,28%
-7,61%
-2,00%
Movimento Ceará mais Justo
Uma Agenda para o Desenvolvimento do Estado do Ceará
Diretrizes para um Crescimento Econômico com Equidade e Justiça Social
1 (10% + pobres)
RM
25,38%
URB
33,44%
RUR
41,18%
RM
28,75%
URB
30,89%
2
17,91%
40,74%
41,35%
21,11%
40,47%
38,42%
17,86%
-0,66%
-7,08%
3
33,08%
38,71%
28,21%
32,34%
36,19%
31,46%
-2,22%
-6,51%
11,55%
4
38,13%
37,60%
24,27%
38,91%
39,81%
39,81%
21,28%
5,88%
-12,31
5
40,96%
34,53%
24,51%
40,35%
39,19%
20,46%
-1,48%
13,50%
-16,54%
6
48,07%
34,84%
17,08%
41,16%
42,21%
16,63%
-14,39%
21,15%
-2,66%
7
44,00%
39,71%
16,29%
44,85%
37,45%
17,70%
1,92%
-5,69%
8,68%
8
45,51%
37,41%
17,08%
43,22%
39,01%
17,78%
-5,04%
4,26%
4,09%
9
49,79%
37,67%
12,54%
51,56%
36,81%
11,63%
3,54%
-2,28%
-7,22%
10 (10% + ricos)
69,04%
28,50%
2,46%
69,43%
26,09%
4,48%
0,56%
-8,45%
82,18%
População
41,19%
36,31%
22,50%
41,17%
36,81%
22,02%
-0,05%
1,37%
-2,12%
57
Fonte: LEP/CAEN a partir de microdados da PNAD/IBGE
Nota: Renda média avaliada em Reais de setembro de 2008, deflacionada pelo INPC
Inicialmente, em 2006, para a população como
um todo, percebe-se que a região metropolitana
possuía mais de 40% da população cearense, ficando
as áreas rurais com quase a metade desse percentual (22,5%). Em 2008 mais de 41% da população
encontrava-se na região metropolitana, enquanto
que 36,81% na zona urbana e 22,02%, na área rural
(Figura 2.7).
Figura 2.7 — Distribuição da População por Área Censitária — CE, 2008
Fonte: elaboração LEP/CAEN a partir da PNAD/IBGE
Portanto, não há, de 2006 a 2008, mudança significativa na distribuição da população do Estado nas
três áreas censitárias, mas verifica-se uma pequena
redução nas participações da população na Região
Metropolitana (-0,05%) e na Zona Rural (-2,12%), além
de um ligeiro acréscimo na Zona Urbana (1,37%).
58
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Diretrizes para um Crescimento Econômico com Equidade e Justiça Social
Por outro lado, quando se examina a repartição espacial dessa renda entre os diversos decis,
verifica-se que, em 2006, na faixa dos 10% mais pobres, 41,18% encontravam-se na zona rural; 33,44%
na área urbana e pouco mais de 25% na região metropolitana. Praticamente o que ocorre nesta faixa
de renda é o inverso do que se dá ao nível da população como um todo. Para 2008, na primeira faixa
de renda, mais de 40% estavam localizados na área
rural, enquanto que apenas 28,75% concentravam-se na região metropolitana (Figura 2.8).
Figura 2.8 — Distribuição dos 10% mais Pobres por Área Censitária —
CE, 2008
Fonte: elaboração LEP/CAEN a partir da PNAD/IBGE
Outra constatação é que quando se caminha em
direção às faixas de renda mais elevadas, essas proporções vão se invertendo (figura 2.9), chegando ao
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Diretrizes para um Crescimento Econômico com Equidade e Justiça Social
59
fato de que, em 2008, entre os 10% mais ricos quase
70% encontravam-se na região metropolitana de Fortaleza, e apenas 26,09% na zona urbana. Entretanto,
a zona rural teve grande expansão populacional na
composição da faixa dos 10% mais ricos, provocando
uma variação de mais de 80%, e determinando uma
participação de 4,48% nesta classe em 2008.
Figura 2.9 — Distribuição dos 10% mais Ricos por Área Censitária — CE,
2008
Fonte: elaboração LEP/CAEN a partir da PNAD/IBGE
2.2.3
Evolução da Renda por Gênero
A análise na Tabela 2.5 é feita para a composição e evolução da renda entre os diversos decis por
gênero. Tanto em 2006 como em 2008, verifica-se, a
exemplo do que ocorre na população como um todo,
60
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uma maior participação de pessoas do sexo feminino
em praticamente todos os decis de renda, com exceção do 3º e 8º em 2006, e do 2º e 3º em 2008.
Tabela 2.5 — Distribuição da População do Ceará por Gênero
Distribuição da
Distribuição da
Variação da DistriPopulação por
População por
buição da PopulaDecil
Gênero
Gênero
ção por Gênero de
2006
2008
2006 a 2008
Homens Mulheres Homens Mulheres Homens Mulheres
1 (10% + pobres) 45,56%
54,44%
46,62%
53,38%
2,31%
-1,94%
2
49,54%
50,46%
50,14%
49,86%
1,22%
-1,20%
3
50,10%
49,90%
51,34%
48,66%
2,47%
-2,48%
4
49,79%
50,21%
49,05%
50,95%
-1,48%
1,47%
5
49,07%
50,93%
49,84%
50,16%
-1,57%
-1,51%
6
46,89%
53,11%
48,75%
51,25%
3,97%
-3,50%
7
49,16%
50,84%
48,59%
51,41%
-1,16%
1,12%
8
51,06%
48,94%
47,79%
52,21%
-6,39%
¨6,67%
9
47,53%
52,47%
48,84%
51,16%
2,76%
-2,50%
10 (10% + ricos)
47,31%
52,69%
46,91%
53,09%
-0,84%
0,75%
População
48,60%
51,40%
48,79%
51,21%
0,38%
-0,36%
Fonte: LEP/CAEN a partir de microdados da PNAD/IBGE
Nota: Renda média avaliada em Reais de setembro de 2008, deflacionada pelo INPC
2.2.4
Evolução da Renda por Faixa Etária e
Escolaridade
A Tabela 2.6 nos traz a distribuição da população por faixa etária e escolaridade. Cada decil de
renda é confrontado pela composição da população
nas seguintes faixas de idade: 0 a 15, 16 a 25, 26
a 60 e acima de 60 anos. Na coluna ESCOLA, apresenta-se o número médio de anos de estudos para
pessoas a partir de 15 anos. Para 2006, verifica-se
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61
que quase 50% da população nesta faixa de renda
são crianças e/ou jovens.
Entretanto, em 2008, há uma pequena redução
nessa faixa, passando para 47,64%. Quando se caminha em direção aos decis mais elevados de renda,
percebe-se que aumenta a participação das pessoas
na faixa de 26 a 60 anos e acima desse. Para a população como um todo, constata-se que 40% encontra-se concentrada nessa faixa intermediária. Na análise comparativa dos dois anos houve uma redução
de quase 7% na faixa de 0 a 15 anos e expressivo
aumento na faixa acima de 60 anos (10,22%). Por fim,
observam-se os aumentos nos anos médios de escolaridade, tendo o Estado experimentado acréscimo de
5,63% nesse período, sendo o maior avanço verificado no nono decil de renda, com avanço de 17,47%.
Fazendo um resumo dessa seção, que avalia o
desempenho da renda familiar nos seus mais diversos
aspectos, constata-se que apesar da evolução significativa nos níveis mais baixos de renda no Ceará
nesse período, seus níveis de renda são ainda extremamente baixos. Ademais, percebe-se que grande
parte da pobreza encontra-se no interior do Estado,
apresentando baixíssima escolaridade e é composto
de quase 50% de crianças e jovens de até 15 anos de
idade. Por fim, verifica-se um grande peso das transferências de renda no orçamento dessas famílias.
62
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Tabela 2.6 — Distribuição da População do Ceará por Faixa Etária e Escolaridade
Decaiu
Distribuição da População por
Faixa Etária
2006
0 a 15 15 a 25 26 a 60
>60
Escola
2006
Distribuição da População por
Variação da Distribuição da
Faixa Etária
População por Faixa Etária de
Escola
2008
2006 a 2008
2008
15 a
0 a 15
26 a 60 >60
0 a 15 15 a 25 26 a 60 >60
25
Variação
na
Escola
de 2006
a 2008
Movimento Ceará mais Justo
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Diretrizes para um Crescimento Econômico com Equidade e Justiça Social
1 (10% +
pobres)
49,11%
19,31% 31,19% 0,39%
4,42 47,64% 18,40% 33,20%
0,76%
4,76 -2,98% -4,70%
6,43% 93,54%
7,67%
2
48,08%
16,69% 34,58% 0,65%
4,23 47,10% 16,60% 35,15%
1,14%
4,73 -2,02% -0,53%
1,67% 74,55%
11,60%
3
44,85%
18,43% 34,69% 2,04%
4,68 42,32% 18,47% 36,99%
2,22% 5,08% -5,64%
0,24%
6,66%
8,60%
8,64%
4
40,35%
20,63% 36,36% 2,65%
5,32 35,66% 21,21% 38,64%
4,48%
5,75 -11,61%
2,80%
6,27% 68,93%
8,08%
5
34,04%
21,76% 40,04% 4,16%
5,42 31,30% 21,91% 40,58%
6,21%
5,77 -8,04%
0,67%
1,35% 49,36%
6,38%
6
27,71%
20,92% 41,67% 9,70%
5,51 25,15% 22,18% 42,54% 10,12%
5,84 -9,23%
6,06%
2,08%
4,38%
6,13%
7
22,69%
20,92% 43,11% 13,28%
5,82 20,36% 22,12% 42,55% 14,98%
6,09 -10,27%
5,72%
-1,32% 12,81%
4,52%
8
18,68%
19,36% 44,15%
17,81
6,02 13,63% 17,96% 43,08% 25,32%
5,78 -27,01% -7,21%
-2,42% 42,17%
-389%
9
12,35%
17,35% 43,55% 26,75%
6,34 13,04% 19,47% 47,94% 19,55%
7,45
5,59% 12,21% 10,08% -26,92%
17,47%
10 (10% +
ricos)
14,05%
17,45% 53,68% 14,82%
10,21 14,03% 17,34% 51,75% 16,88%
População 31,19%
19,28% 40,30% 9,23%
6,02 29,02% 19,57% 41,24% 10,17%
10,37 -0,18% -0,60%
6,35 -6,95%
1,48%
-3,60% 13,89%
1,57&
2,33% 10,22%
5,63%
63
Fonte: LEP/CAEN a partir de microdados da PNAD/IBGE
Nota: 1. Renda média avaliada em Reais de setembro de 2008, deflacionada pelo INPC / 2. Escola — anos médios de estudo para
pessoas a partir de 15 anos
Movimento
Ceará
mais Justo
3 DESIGUALDADE
A Avaliação do comportamento da desigualdade no Ceará é de extrema importância nesse documento, haja vista que ela é um elemento chave
para a definição das políticas econômicas e pode
estabelecer consequências significativas no funcionamento da economia e da redução da pobreza.
Além de se constituir em um problema de importante relevância para os cearenses também o é para
o Brasil. Segundo o Programa das Nações Unidas
para o Desenvolvimento (PNUD), em 2003, dos 160
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da Pobreza (LEP)
CAEN – UFC
Movimento Ceará mais Justo
Uma Agenda para o Desenvolvimento do Estado do Ceará
Diretrizes para um Crescimento Econômico com Equidade e Justiça Social
65
países em todo o mundo onde as estatísticas estavam disponíveis, o Brasil era o 8º mais desigual em
termos do Índice de GINI, superando apenas países
como Guatemala e os africanos Suazilândia, República Centro-Africana, Serra Leoa, Botsuana, Lesoto
e Namíbia. Essa é uma situação bastante incômoda
para o país dada a sua importância dentro do ambiente global, especialmente quando comparado a
nações muito pobres. Nesse contexto, o Ceará é visto também como um dos mais desiguais do país, o
que coloca nosso estado numa posição de destaque
no mundo.
Tabela 3.1 — Índice de GINI do Rendimento Familiar per capita, 2006 e
2008
Acre
2006
Gini
Rank
60,23%
5
2008
Gini
Rank
56,77%
7
Alagoas
63,36%
1
58,64%
3
-7,45%
Amapá
49,04%
26
45,27%
27
-7,67%
3
Amazonas
53,04%
20
52,57%
17
-0,89%
19
Bahia
56,88%
10
56,79%
6
-0,15%
22
Ceará
55,91%
13
54,55%
11
-2,44%
17
Distrito Federal
60,99%
4
62,39%
1
2,29%
25
Espírito Santo
53,84%
15
52,01%
18
-3,42%
11
Goiás
51,39%
25
51,46%
20
0,13%
23
Maranhão
61,09%
2
53,14%
16
-13,02%
1
Mato Grosso
53,64%
16
54,75%
9
2,08%
24
Unidades
2006-2008
Variação Rank
-5,74%
6
4
Mato Grosso do Sul
53,59%
17
53,22%
15
-0,70%
21
Minas Gerais
53,27%
18
51,77%
19
-2,83%
15
66
Laboratório de Estudos
da Pobreza (LEP)
CAEN – UFC
Movimento Ceará mais Justo
Uma Agenda para o Desenvolvimento do Estado do Ceará
Diretrizes para um Crescimento Econômico com Equidade e Justiça Social
Unidades
Paraná
2006
Gini
Rank
Gini
52,25%
50,14%
23
2008
Rank
23
2006-2008
Variação Rank
-4,04
10
Paraíba
57,63%
8
59,09%
2
2,54%
26
Pará
52,77%
21
51,19%
21
-3,00%
14
Pernambuco
59,30%
6
57,30%
5
-3,38%
12
Piauí
61,01%
3
58,43%
4
-4,22%
9
Rio Grande do Norte
56,91%
9
56,15%
8
-1,33%
18
Rio Grande do Sul
52,00%
24
50,70%
22
-2,51%
16
Rio de Janeiro
56,05%
12
54,28%
13
-3,16%
13
Rondônia
55,35%
14
50,03%
25
-9,60%
2
Roraíma
57,90%
7
53,73%
14
-7,20%
5
Santa Catarina
46,99%
27
46,61%
26
-0,81%
20
Sergipe
56,86%
11
54,43%
12
-4,26%
8
São Paulo
52,59%
22
50,12%
24
-4,71%
7
Tocantins
53,15%
Fonte: elaborado por LEP/CAEN
19
54,65%
10
2,81%
27
A Tabela 3.1, acima, faz um apanhado geral da
desigualdade de renda para todos os estados brasileiros de 2006 a 2008. Essa variável é medida a
partir da renda familiar per capita, estando seus valores situados nos limites entre zero (perfeita igualdade) e 1 (um), quando temos um caso de extrema
desigualdade.
Em geral, podemos observar que em 2006 os
estados com mais alta desigualdade no Brasil eram,
nessa ordem, Alagoas (0,633), Maranhão (0,611) e
Piauí (0,610), enquanto que os de menor coeficiente
eram Santa Catarina (0,469), Amapá (0,490) e Goiás
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67
(0,513). Em 2008, o Distrito Federal com o aumento
desse índice de 2,29% assume a condição de maior
desigualdade do país em termos da renda familiar
per capita. A Paraíba apresenta também uma piora
acentuada, saindo da situação de oitava maior desigualdade para a segunda, devido, também, a um
aumento de 2,54% nesse índice. O Ceará, apesar da
melhora em -2,44%, perdeu duas posições, saindo
da situação de 13º mais desigual para o 11º.
Tomando como análise um período maior, de
2001 a 2008, percebe-se que o Ceará tem um desempenho satisfatório quando comparado com as
outras regiões (Tabela 3.2). As evidências são apresentadas para o Brasil, Regiões e o estado do Ceará,
de 2001 a 2008. Pode-se observar que a desigualdade no país caiu um pouco mais de 5%, sendo a
região Norte a localidade onde a queda foi mais expressiva, seguida da região Sul. O Ceará, com uma
redução de 7,69% se destaca nesse período.
Tabela 3.2 — Índice de GINI: Brasil, Regiões e Ceará
Localidades
2001
Centro-Oeste
60,22
Norte
58,03
Nordeste
61,1
Ceará
62,24
Sul
55,16
Sudeste
57,14
Brasil
60,13
Fonte: elaborado por LEP/CAEN
68
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CAEN – UFC
2008
57
51,99
56,56
54,55
49,61
51,84
55,04
Var (%)
-3,22
-6,05
-4,54
-7,69
-5,54
-5,3
-5,09
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Para efeito de elaboração de políticas é importante identificar, dentre os componentes da renda,
aqueles que mais contribuíram para a redução da
desigualdade no período estabelecido acima. Nesse
sentido, como o Índice de GINI não possui a propriedade de ser decomposto em partes iguais, será utilizada uma técnica de decomposição a partir do uso
do conceito de razão de concentração, discutido em
PYATT (1980).
Para se realizar tal técnica, a partir da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD),
decompõe-se a renda per capita em quatro componentes, apresentados na Tabela 3.3: i) Rendimento
de todos os Trabalhos, incluindo salários e remuneração de trabalhadores por conta própria e empregados, representados pela variável TRAB; b) Rendimentos de Aluguéis e Doações feitas por pessoas de
outros domicílios dados por ALU_DOA; c) Rendas de
Aposentadorias e Pensões pagas pelo governo federal ou por institutos de previdência dada pela variável SEC_SOC e d) Rendimentos relacionados aos
pagamentos de Juros, Dividendos e Transferências
de Programas Sociais como Bolsa Família ou renda
mínima e outros rendimentos definidas nesse estudo por TRN_APL.
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69
Tabela 3.3 — Composição (%) da Renda Familiar: Brasil, Regiões e
Ceará, 2001 e 2008
TRAB
2001
2008
Localidade
ALU_DOA
2001
2008
SEC_SOC
2001
2008
TRN_APL
2001 2008
Centro-Oeste
83,25
81,5
2,87
2,4
13,04
14,31
0,84
1,79
Norte
84,17
82,18
2,38
1,86
12,84
12,95
0,62
3,01
Nordeste
74,16
71,81
2,4
2,01
22,25
23,35
1,19
3,83
72,1
70,71
2,9
2,17
23,27
23,14
1,73
3,98
Sul
76,99
76,17
2,91
2,51
18,85
19,52
1,25
1,8
Sudeste
78,08
76,33
2,54
2,01
18,61
19,91
0,77
1,75
Brasil
77,93
76,3
2,6
2,13
18,54
19,38
0,92
2,2
Ceará
Fonte: elaborado por LEP/CAEN
Pode-se constatar, por exemplo, que do total
da renda per capita, a renda de todos os trabalhos representa 72,1% no Ceará. A média nacional é
maior, chegando a quase 80%. Entretanto, observa-se também que essa variável perdeu participação
em todas as regiões em 2008, significando evidentemente que os outros componentes ganharam maior
peso. Depois da renda do trabalho, os rendimentos
contidos na variável SEC_SOC têm a segunda maior
importância, representando no Brasil um pouco menos de 20% do total. Essa variável junto com TRN_
APL teve aumento na participação em 2008, com
especial atenção para esse último no Nordeste que
mais que duplicou sua importância relativa.
Um próximo passo é examinar a contribuição
de cada componente de renda para o valor do índi-
70
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ce de GINI (Tabela 3.4). Como esse índice não pode
ser decomposto em partes ponderadas, utiliza-se o
método razão de concentração que é uma forma de
verificar a contribuição de um determinado componente de renda no valor do índice. Verifica-se, por
exemplo, que para o Brasil, um Índice de GINI de
0,5504 em 2008 (Tabela 3.1), o componente ALU_
DOA tem um nível de concentração de 0,713, sendo
o fator com maior nível. Por outro lado, TRN_APL
é o fator menos concentrado, com 0,192. Pode-se
observar ainda que, como a renda do trabalho é de
forma expressiva o componente mais importante na
renda total, ele tem grande peso na determinação
da magnitude da desigualdade no Brasil, já que estando seu nível de concentração na ordem de 0,551
é bastante próximo ao índice de GINI nacional. Isso
significa que é esse fator que praticamente comanda a medida de desigualdade.
A partir dos valores observados na Tabela 3.4,
pode-se calcular a contribuição proporcional, entre
2001 e 2008, de cada componente de renda para a
variação do índice de desigualdade, o que é feito na
Tabela 3.5. Constata-se, inicialmente, que o principal responsável pela queda da desigualdade nas
diversas localidades é o aumento da renda do trabalho. Com exceção do Nordeste, em todas as regiões
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71
e no Brasil, essa contribuição está acima de 60%,
com destaque para o Sudeste que é responsável por
quase 78% da variação do Índice de GINI. O estado
do Ceará com 62,56% apresenta um comportamento
semelhante ao da região Sul.
Tabela 3.4 — Contribuição de cada Componente da Renda Familiar para
o Nível de Desigualdade: Brasil, Regiões e Ceará, 2001 e 2008
TRAB
2001 2008
ALU_DOA
2001 2008
SEC_SOC
2001 2008
TRN_APL
2001
2008
Centro-Oeste
0,59
0,57
0,67
0,69
0,65
0,62
0,58
Norte
0,58
0,53
0,64
0,65
0,56
0,57
0,44
0,02
Nordeste
0,61
0,58
0,61
0,66
0,65
0,61
0,15
-0,02
Ceará
0,62
0,55
0,62
0,68
0,67
0,61
0,09
-0,06
Sul
0,54
0,49
0,72
0,73
0,58
0,5
0,63
0,34
Sudeste
0,56
0,51
0,7
0,71
0,59
0,55
0,7
0,44
0,7
0,71
0,62
0,57
0,55
0,19
Localidade
Brasil
0,6
0,55
Fonte: elaborado por LEP/CAEN
0,2
Quanto aos outros componentes, verifica-se
que ALU_DOA teve pouca participação na redução da desigualdade enquanto que SEC_SOC teve
expressiva influência na região Sul, contribuindo
com quase 28% para sua redução. Isso significa que
entre as pessoas que recebem esse tipo de rendimento, a desigualdade ficou menor nesse grupo de
renda, o que por extensão contribui para a queda
da desigualdade geral. Ainda sobre esse componente, a contribuição de 16,76% no Ceará acompanha
72
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o padrão nacional (16,36%) e das regiões Nordeste
(16,46%) e Sudeste (15,90%).
Tabela 3.5 — Contribuição Proporcional de cada Componente da Renda
Familiar para a Redução da Desigualdade: Brasil, Regiões e Ceará, 2001
e 2008
Localidade
TRAB
ALU_DOA
SEC_SOC
Valor
TRN_APL
Valor
(%)
Valor
(%)
(%)
Valor
(%)
Centro-Oeste
-0,02
69,69
0
0,04
0
8,63
-0,01
21,64
Norte
-0,04
67,88
0
0,53
0
6,53
-0,02
25,07
Nordeste
-0,02
45,97
0
-2,4
-0,01
16,46
-0,02
39,98
Ceará
-0,05
62,56
0
-1,63
-0,01
16,76
-0,02
22,31
Sul
-0,04
62,96
0
0,9
-0,02
27,77
-0,01
8,37
Sudeste
-0,04
77,45
0
1,03
-0,01
15,9
0
5,62
Brasil
-0,03
67,01
Fonte: elaborado por LEP/CAEN
0
0,01
-0,01
16,36
-0,01
16,06
Por fim, o último componente a ser examinado é TRN_APL, que representa, como visto, tanto
o desembolso com transferências oficiais (Bolsa-Família, por exemplo) como o pagamento de juros
das aplicações financeiras. Infelizmente, a PNAD
não faz a distinção, dentro dessa rubrica, do que
é destinado para cada grupo de despesa, apesar de
se reconhecer que elas possuem naturezas distintas. Examinando inicialmente sua importância em
termos nacionais, percebe-se que esse componente
apresenta participação semelhante ao componente
SEC_SOC.
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73
Entretanto, diferentemente deste último, a
TRN_APL mostra-se pouco expressiva nas regiões
mais desenvolvidas do país, ou seja, as regiões Sul
e Sudeste. Já em termos das regiões Norte, Centro-Oeste e Nordeste sua contribuição é bem mais significativa, uma vez que ela é responsável por quase
40%, por exemplo, na queda desigualdade de renda
nessa última região. Como grande parte desse componente nas regiões mais pobres é composta pelos recursos provenientes dos programas de transferência, especialmente o Bolsa-Família, pode-se
intuir que esses elementos, de certa forma, são
responsáveis por esse movimento na desigualdade.
Em termos do estado do Ceará a contribuição dessa variável é bem menos expressiva, com 22,31%,
apresentando um padrão de comportamento semelhante ao do Nordeste.
Em resumo, essa seção aponta que a desigualdade de renda no Ceará é ainda bastante expressiva, apesar de ela ter caído nos últimos anos. Entretanto, quando se compara a magnitude dessa queda
com a de outros Estados verifica-se que perdemos
posição relativa. Outra importante constatação é
que a queda da desigualdade vem sendo motivada
em nosso Estado principalmente pela expansão da
renda do trabalho, muito embora as transferências
74
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também tenham impactado de forma expressiva
nessa redução. Portanto, a intensificação das políticas de geração de emprego, aliadas à ampliação de
programas de transferências para classes de renda
mais baixa são estratégias importantes para a redução das desigualdades, razão pela qual devem ser
intensificadas.
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Movimento
Ceará
mais Justo
4 MERCADO DE TRABALHO
Visto que a renda do trabalho é o principal responsável pela redução recente da desigualdade no
Ceará, faremos a seguir uma investigação da dinâmica do mercado de trabalho no Estado de 2002 a
2008. Isso será importante na medida em que nos
dará subsídios para implementação de políticas nesse setor. Inicialmente, a Tabela 4.1 apresenta a média salarial por estados brasileiros para o ano de
2008, considerando apenas as pessoas com idade
ativa de trabalho (15 anos ou mais). Pode-se verificar que o Ceará, com R$ 618,30, tem a segunda pior
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77
média salarial do País, ficando à frente apenas do
Piauí. Isso é um importante sinal da baixa produtividade de nossa força de trabalho.
Tabela 4.1 — A Média Salarial por Estados Brasileiros em 2008
Estados
Distrito Federal
São Paulo
Rio de Janeiro
Santa Catarina
Mato Grosso
Paraná
Rio Grande do Sul
Mato Grosso do Sul
Goiás
Espírito Santo
Acre
Roraima
Minas Gerais
Rondônia
Amazonas
Tocantins
Amapá
Pará
Rio Grande do Norte
Paraíba
Sergipe
Alagoas
Pernambuco
Bahia
Maranhão
Ceará
Piauí
Fonte: elaborado por LEP/CAEN
Média Salarial (R$ em 2008)
2.116,81
1.290,04
1.223,21
1.221,19
1.180,07
1.155,65
1.132,39
1.072,49
1.016,10
983,80
951,73
947,71
939,27
914,34
897,98
888,10
877,65
777,67
767,60
750,10
748,01
722,58
702,84
699,77
651,51
618,30
585,87
Ademais, a Figura 4.1 revela que, em termos
de evolução da média salarial, o Estado apresentou
uma taxa de crescimento de 12,68%, entre 2002 e
2008, sendo inferior à média nordestina (19,23%),
mas superior à taxa nacional (7,60%), com destaque para a recuperação verificada entre 2006-2008.
78
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Quando se avalia essa evolução em relação a toda
população, o desempenho no Ceará, com uma taxa
de 30,61%, é superior novamente ao Brasil e Nordeste (Figura 4.2).
Figura 4.1 — Evolução da Média Salarial, 2002-2008
Fonte: elaboração LEP/CAEN
Figura 4.2 — Evolução da Renda Salarial per capita, 2002-2008
Fonte: elaboração LEP/CAEN
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79
Na Tabela 4.2, investiga-se, a partir dos grupos
populacionais, quais são aqueles com maior expansão nesse período. Nessa direção, divide-se a população entre os componentes da população em idade
ativa e não-ativa. No primeiro caso, considera-se
ainda a divisão entre inativa e economicamente
ativa, sendo que esse último pode ser expresso em
idade ocupada (empregados, conta-própria, empregadores e não-remunerados) e desocupada. Pode-se
observar que para uma taxa de crescimento populacional de 8,67% de 2002 a 2008, a população ocupada teve um crescimento de mais que 20% (680.498
pessoas), motivado principalmente pelo aumento
dos empregados de 30,26% (514.393 pessoas) e empregadores com uma taxa de 54,41% (46.423 pessoas), sendo esses componentes os principais responsáveis pela evolução do mercado de trabalho no
Estado.
Tabela 4.2 — Distribuição da População Cearense, 2002 e 2008
Divisões
Demográficas
2002
(2008-2002)
Var QT Var POP
QT
% POP
QT
% POP Var QT
(%)
(%)
7.796.221 100,00% 8.472.231 100,00% 676.010
8,67%
População
População em
Idade Ativa
6.135.682
(PIA)
Pop. Economicamente 3.676.020
Ativa (PEA)
População
3.386.929
Ocupada
80
2008
78,70% 7.082.494
83,60% 946.812 15,43%
6,22%
47,15% 4.337.750
51,20% 661.730 18,00%
8,59%
43,44% 4.067.427
48,01% 680.498 20,09% 10,51%
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Divisões
Demográficas
2002
QT
% POP
Empregados 1.699.711 21,80%
Conta Própria 1.184.721 15,20%
Emprega85.318
1,09%
dores
Não Remu416.534
5,34%
nerados
População
289.091
3,71%
Desocupada
Pop. Economicamente 2.459.662 31,55%
Inativa (PEI)
População em
Idade Eco1.660.539 21,30%
nomicamente
Não-Ativa
Fonte: elaborado por LEP/CAEN
2008
QT
2.214.104
1.340.086
(2008-2002)
Var QT Var POP
(%)
(%)
26,13% 514.393 30,26% 19,87%
15,82% 155.365 13,11%
4,09%
% POP
Var QT
131.741
1,55%
46.423 54,41% 42,09%
381.496
4,50%
-35.038
-8,41% -15,72%
270.323
3,19%
-18.768
-6,49% -13,95%
2.744.744
32,40% 285.082 11,59%
2,69%
1.389.737
16,40% -270.802 -16,31% -22,99%
Nas Figuras 4.3 e 4.4, faz-se uma nova análise
do mercado de trabalho cearense a partir da distribuição da população ocupada e sua renda por atividades de 2002 a 2008, respectivamente. Verifica-se
que grande parte desse contingente, em 2002, encontrava-se nas atividades agrícolas (31%), seguido
do comércio (16%) e indústria (14%). Em 2008 constata-se uma redução na participação da população
no setor agrícola (27%) com aumento expressivo no
pessoal ocupado no setor industrial (um crescimento de dois pontos percentuais) e no comércio, subindo sua participação para 17%.
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Figura 4.3 — População Ocupada por Atividades Ceará, 2002
Fonte: elaboração LEP/CAEN
Figura 4.4 — População Ocupada por Atividades Ceará, 2008
Fonte: elaboração LEP/CAEN
Entretanto, em termos da renda da população
ocupada nesses segmentos (Figuras 4.5 e 4.6) pode-se observar que há praticamente uma manutenção
nas participações, com exceção do setor industrial
82
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que teve um crescimento na participação de 12 para
14% nesse período e o setor comercial que passou
de 20 para 21%.
Figura 4.5 — Renda da População Ocupada por Atividades Ceará, 2002
Fonte: elaboração LEP/CAEN
Figura 4.6 — Renda da População Ocupada por Atividades Ceará, 2008
Fonte: elaboração LEP/CAEN
Por fim, completando essa análise, a Figura 4.7
consolida essas informações ao apresentar o saláLaboratório de Estudos
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83
rio médio do pessoal ocupado por atividade de 2002
a 2008. Verifica-se que os maiores salários médios
estão na administração pública e no segmento de
saúde e educação com expressivo crescimento nos
últimos anos. Por outro lado, o setor agrícola e industrial são os que apresentam os menores salários
entre todas as atividades e que também mostram
uma estagnação na evolução desses valores nesse
período.
Figura 4.7 — Salário Médio Pessoas Ocupadas por Atividade Principal
dos Empreendimentos do Ceará, 2002-2008
Fonte: elaboração LEP/CAEN
Na última análise dessa seção faz-se uma investigação de quais foram os elementos responsáveis pela evolução da renda do trabalho no estado
do Ceará nesse período comparado com o Nordeste
e Brasil. Para tanto, a taxa de crescimento da renda
84
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do trabalho foi decomposta em 4 (quatro) componentes descritos na Tabela 4.3: a) Taxa de Emprego
que é a razão entre o número de pessoas empregadas e o número de trabalhadores; b) Força de Trabalho, sendo considerada como a razão entre o número
de trabalhadores (ocupados ou não) e o número de
habitantes; c) Horas Trabalhadas representada pelo
número de horas trabalhadas per capita e; d) Produtividade calculada a partir da razão entre a renda
do trabalho e o número de trabalhadores. Este último componente pode ainda ser repartido entre a
Escolaridade do trabalhador e no seu Retorno.
Tabela 4.3 — Decomposição da Taxa de Crescimento Anual da Renda do
Trabalho per capita
2006-2008
Indicadores de
Mercado
CE
NE
BR
Taxa de Em0,10% 0,00% 0,20%
prego
Força de Tra1,57% 0,98% 0,96%
balho
Horas Trabal-0,48% -0,68% -0,59%
hadas
Produtividade
1,68% 3,6% 1,43%
Escolaridade
3,51% 3,50% 2,18%
Retorno de
-1,82% 0,18% -0,74%
Educação
Renda do Trab2,87% 3,97% 2,00%
alho per capita
Fonte: elaborado por LEP/CAEN
CE
2006-2008
NE
BR
CE
2002-2008
NE
BR
0,68% 0,42% 0,69% 0,29%
0,14% 0,36%
0,99% 0,21% 0,29% 1,37%
0,72% 0,74%
0,23% 0,20% 0,13% -0,24% -0,39% -0,35%
5,71% 4,33% 2,83% 3,03%
2,91% 4,08% 2,97% 3,31%
3,89% 1,90%
3,69% 2,44%
2,80% 0,25% -0,15% -0,28%
0,25% -0,54%
7,61% 5,16% 3,94% 4,45%
4,37% 2,65%
Um dos principais resultados a se observar foi
que o componente mais importante na evolução
anual da renda do trabalho entre 2002-2008 foi o
Laboratório de Estudos
da Pobreza (LEP)
CAEN – UFC
Movimento Ceará mais Justo
Uma Agenda para o Desenvolvimento do Estado do Ceará
Diretrizes para um Crescimento Econômico com Equidade e Justiça Social
85
aumento da produtividade. No Ceará, esse ganho representou uma taxa de crescimento média anual de
3,03%, enquanto que no Brasil essa taxa foi 1,90%, e
no Nordeste a expansão foi de 3,89%. No caso específico do Ceará, a taxa verificada decorreu especialmente da expansão que se observou de 2006-2008.
Por fim, pode-se decompor o ganho de produtividade entre dois componentes: anos de escolaridade e retorno da escolaridade. Assim, constata-se
que a expansão da escolaridade foi o principal responsável pelo ganho de produtividade com destaque
no período como um todo, para o Nordeste. Além
do mais, verifica-se que nessa região seu retorno
foi positivo, diferente do que ocorreu no Ceará e
Brasil. Isso significa que os anos a mais de educação
provocaram aumentos menos que proporcionais na
renda nessas duas últimas localidades.
De forma resumida, podemos evidenciar que o
estado do Ceará apresenta um dos salários médios
mais baixos do país e que seu valor vem sendo puxado
para baixo por conta da baixa produtividade no setor
agropecuário. No entanto, nos últimos anos constata-se uma expansão expressiva puxada principalmente
pelos ganhos de produtividade advindos da melhoria
educacional, o que torna esse elemento estratégico
na definição de políticas a serem sugeridas.
86
Laboratório de Estudos
da Pobreza (LEP)
CAEN – UFC
Movimento Ceará mais Justo
Uma Agenda para o Desenvolvimento do Estado do Ceará
Diretrizes para um Crescimento Econômico com Equidade e Justiça Social
Movimento
Ceará
mais Justo
5 POBREZA
Antes de avaliarmos as condições de pobreza
do Ceará, é importante definir a linha de pobreza utilizada. Contabilizamos como pobre neste documento as pessoas com renda familiar per capita
mensal inferior à metade do salário mínimo no ano
de 2008, ou seja, R$207,501. Em termos de Brasil,
Nesse caso, é preciso destacar que não se está levando em consideração o
fato de que em estados mais ricos, o custo de vida é em geral mais elevado,
de forma que, uma família em que seus componentes possuam renda média
superior a meio salário mínimo será tida como acima da linha de pobreza
em qualquer estado, mesmo que em termos reais, ou seja, em termos de
poder de compra, esta tenha maiores dificuldades nessas localidades.
1
Laboratório de Estudos
da Pobreza (LEP)
CAEN – UFC
Movimento Ceará mais Justo
Uma Agenda para o Desenvolvimento do Estado do Ceará
Diretrizes para um Crescimento Econômico com Equidade e Justiça Social
87
percebemos pelas Figuras 5.1 e 5.2 que há uma distribuição desigual da pobreza no país.
Figura 5.1 — Distribuição da População Brasileira por Regiões e Estado
do Ceará, 2008
Fonte: LEP/CAEN a partir dos microdados da PNAD/IBGE
Por exemplo, apesar da população da região
Nordeste representar por volta de 28% da população
brasileira, concentra 49% dos pobres do país (2008).
No outro extremo, a região Sul, com 15% da população do país, possui apenas 8% dos seus pobres. No
Ceará, a desproporcionalidade entre essas relações
é significativa, uma vez que com 4% da população
brasileira, 8% do total de pobres no país residem no
Estado.
88
Laboratório de Estudos
da Pobreza (LEP)
CAEN – UFC
Movimento Ceará mais Justo
Uma Agenda para o Desenvolvimento do Estado do Ceará
Diretrizes para um Crescimento Econômico com Equidade e Justiça Social
Figura 5.2 — Distribuição da População Brasileira Pobre por Regiões e
Estado do Ceará, 2008
Fonte: LEP/CAEN a partir dos microdados da PNAD/IBGE
5.1 Número de Pobres
Em termos do total de pobres existentes a Tabela 5.1 apresenta um quadro geral do país comparando todos os estados em relação à quantidade
absoluta de pobres. Inicialmente pode-se constatar
que todos os estados brasileiros conseguiram reduzir
a quantidade de pobres ao longo destes dois anos,
tendo sido a menor redução de 7,44% no estado de
Roraima e a maior de 26,68% no estado do Paraná. No entanto, em termos gerais, pode-se observar
que tais reduções não foram capazes de gerar modificações significativas.
Laboratório de Estudos
da Pobreza (LEP)
CAEN – UFC
Movimento Ceará mais Justo
Uma Agenda para o Desenvolvimento do Estado do Ceará
Diretrizes para um Crescimento Econômico com Equidade e Justiça Social
89
É fácil ver que os Estados com maior renda
conseguiram, em média, obter maiores reduções
percentuais no número de pobres, enquanto os Estados com menor renda, especialmente situados
no Nordeste tiveram um perfil marcado por reduções menos significativas. Nesse contexto, o estado
do Ceará, que estava em quinto lugar no ranking
nacional e em terceiro no regional, em 2006, com
4,7 milhões de pessoas abaixo da linha de pobreza,
manteve-se nessas mesmas posições em 2008, com
aproximadamente 4,1 milhões de pobres com redução de 13%, mas sendo apenas a 17ª maior variação
no país.
Tabela 5.1 — Número de Pobres por Unidades Federativas, 2006 e 2008
Unidades
Acre
Alagoas
Amapá
Amazonas
Bahia
Ceará
Distrito Federal
Espírito Santo
Goiás
Maranhão
Mato Grosso
Mato Grosso do Sul
Minas Gerais
Paraná
Paraíba
Pará
Pernambuco
Piauí
90
2006
Valor
Rank
336.022 25
2.026.623 11
253.682 26
1.552.410 16
7.814.903
1
4.711.560
5
527.372 24
1.062.634 17
1.758.446 14
3.977.300
6
962.530 19
689.517 21
6.206.308
3
2.620.284
9
2.011.602 12
3.586.148
7
4.814.602
4
1.884.701 13
Laboratório de Estudos
da Pobreza (LEP)
CAEN – UFC
2008
Valor
Rank
287.532
25
1.788.567
12
213.031
26
1.423.090
14
6.891.674
1
4.099.470
5
464.157
24
882.516
18
1.303.114
16
3.468.285
6
727.587
20
585.986
21
4.967.265
3
1.921.127
10
1.858.151
11
3.150.158
7
4.319.054
4
1.598.757
13
2006-2008
Variação
Rank
-14,43%
15
-11,75%
22
-16,02%
11
-8,33%
25
-11,81%
21
-12,99%
17
-11,99%
20
-16,95%
10
-25,89%
2
-12,80%
18
-24,41%
3
-15,02%
14
-19,96%
6
-26,68%
1
-7,63%
26
-12,16%
19
-10,29%
24
-15,17%
12
Movimento Ceará mais Justo
Uma Agenda para o Desenvolvimento do Estado do Ceará
Diretrizes para um Crescimento Econômico com Equidade e Justiça Social
2006
Valor
Rank
Rio Grande do Norte 1.554.313 15
Rio Grande do Sul
2.477.880 10
Rio de Janeiro
3.370.800
8
Rondônia
615.289 22
Roraíma
171.115 27
Santa Catarina
860.334 20
Sergipe
1.026.126 18
São Paulo
7.365.784
2
Tocantins
602.235 23
Fonte: LEP/CAEN a partir de microdados
Unidades
2008
Valor
Rank
1.319.209
15
1.936.398
9
2.698.036
8
501.867
22
158.391
27
743.841
19
917.615
17
5.765.155
2
482.218
23
da PNAD/IBGE
2006-2008
Variação
Rank
-15,13%
13
-21,85%
4
-19,96%
7
-18,43%
9
-7,44%
27
-13,54%
16
-10,57%
23
-21,73%
5
-19,93%
8
Contudo, é preciso observar que estados mais
populosos tendem a apresentar maior número de
pobres. O índice proporção de pobres, a seguir, permite avaliar essa questão a partir de sua proporcionalidade com o tamanho da população.
5.2 Proporção de Pobres
Na Tabela 5.2 estão apresentadas as proporções de pobres de cada Estado e suas respectivas
variações entre 2006 e 2008. É notável que, apesar
da correção pelo tamanho da população, a maior
redução foi de 28,08% no estado do Paraná, enquanto a menor redução, de 9,27%, aconteceu no estado
da Paraíba. Observa-se novamente que as taxas observadas em cada Estado não foram capazes de alterar de forma significativa suas posições relativas.
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da Pobreza (LEP)
CAEN – UFC
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91
Tabela 5.2 — Proporção de Pobres por Unidades Federativas, 2006 e
2008
2006
2008
2006-2008
Valor
Rank
Valor Rank Variação Rank
Acre
50,46%
10
41,55% 12
-17,65% 12
Alagoas
65,27%
1
56,36%
1
-13,66% 21
Amapá
42,63%
15
34,05% 15
-20,12%
9
Amazonas
47,36%
12
41,88% 10
-11,57% 26
Bahia
54,76%
6
47,33%
7
-13,57% 22
Ceará
56,99%
4
48,39%
6
-15,10% 18
Distrito Federal
21,70%
25
18,38% 22
-15,34% 17
Espírito Santo
31,45%
19
25,60% 17
-18,60% 11
Goiás
30,87%
20
22,20% 21
-28,08%
2
Maranhão
63,61%
2
54,19%
2
-14,80% 20
Mato Grosso
33,10%
17
24,18% 20
-26,96%
3
Mato Grosso do Sul
29,80%
21
24,71% 19
-17,09% 14
Minas Gerais
31,81%
18
24,96% 18
-21,55%
7
Paraná
25,19%
22
18,12% 23
-28,08%
1
Paraíba
53,98%
7
48,98%
5
-9,27% 27
Pará
50,30%
11
42,76%
9
-15,00% 19
Pernambuco
56,08%
5
49,39%
4
-11,93% 24
Piauí
60,76%
3
50,53%
3
-16,84% 15
Rio Grande do Norte
50,48%
9
41,84% 11
17,12% 13
Rio Grande do Sul
23,07%
23
17,83% 24
-22,72%
5
Rio de Janeiro
21,84%
24
17,20% 25
-21,23%
8
Rondônia
41,21%
16
33,04% 16
-19,82% 10
Roraíma
42,64%
14
37,62% 13
-11,78% 25
Santa Catarina
14,47%
27
12,21% 27
-15,61% 16
Sergipe
51,79%
8
45,21%
8
-12,70% 23
São Paulo
18,39%
26
14,14% 26
-23,10%
4
Tocantins
47%
13
37,01% 14
-21,64%
6
Fonte: LEP/CAEN a partir de microdados da PNAD/IBGE
Nota: linha de pobreza igual a ½ salário mínimo de 2008, R$ 207,50
Unidades
O Ceará estava em quarto lugar no ranking
nacional e regional em 2006 — com quase 57% de
sua população na condição de pobreza — passando
para sexto lugar em 2008 em ambos os rankings com
um índice de aproximadamente 48%, apresentando
92
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da Pobreza (LEP)
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apenas o 18º desempenho do país. É possível observar que Estados mais ricos tendem a obter maiores
reduções percentuais tanto na quantidade absoluta como na proporção de pobres, diferentemente
do que ocorre com Estados menos desenvolvidos.
Grande parte desse fenômeno pode ser explicado
pelo fato dos estados com maior nível de renda possuírem em média menores níveis de desigualdade,
o que faz impactar de forma mais significativa qualquer expansão de renda sobre a pobreza.
5.3 A Importância da Desigualdade na
Redução da Pobreza
Para corroborar essa evidência, fizemos uma
estimativa econométrica utilizando dados de renda
e desigualdade para os estados brasileiros de 1995 a
2005 a partir da equação (1) cujos resultados estão
apresentados na Tabela 5.3.
ln P(a)ait = ci + f · lnYit + g ·lnGit + d · t + uit
i = 1,..., N, t = 1,...,T (1)
Ela apresenta as estimativas das elasticidades
renda-pobreza e desigualdade-pobreza para o Brasil e regiões desagregadas, considerando os modelos
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da Pobreza (LEP)
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93
com efeitos aleatórios (EA), efeitos fixos (EF) ou de
primeiras diferenças (PD). Os modelos foram estimados para cada índice de pobreza: a incidência
da pobreza, P(0), sua intensidade dada por P(1) e o
grau de sua severidade, P(2).
Em termos gerais, constata-se que o logaritmo
natural da desigualdade de renda, medida pelo índice de GINI, possui um impacto consideravelmente
maior sobre níveis de pobreza do que o logaritmo
natural da renda média. Em outras palavras, nas
especificações de modelo para cada medida de pobreza, a elasticidade desigualdade-pobreza é maior
do que a elasticidade renda-pobreza (em termos
absolutos).
Esse resultado implicaria, por exemplo, que
um aumento de 10% na renda média causaria uma
redução média de 8,8% da incidência da pobreza
no Brasil, enquanto uma redução da desigualdade
em 10% iria reduzi-la em 17%. Esse diferencial de
impactos parece tornar-se ainda maior quando se
considera os demais índices de pobreza. O mesmo
aumento de 10% na renda média reduziria a intensidade da pobreza em 10,5% e a severidade em 10,9%,
enquanto uma redução de 10% da desigualdade reduziria a intensidade da pobreza em 24,9% e a severidade em 29,3%. Isso sugere que a redução da desi-
94
Laboratório de Estudos
da Pobreza (LEP)
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gualdade tem um impacto muito mais expressivo nas
camadas mais pobres da população que o aumento
da renda média.
Esse mesmo diferencial nas elasticidades pode
ser observado quando se desagrega a amostra para
os grupos de regiões Norte/Nordeste e Sul/Sudeste/
Centro-Oeste. No entanto, verifica-se que a magnitude das elasticidades renda-pobreza e desigualdade
pobreza são maiores, em termos absolutos, para o
segundo grupo que o primeiro. Ou seja, nas regiões
Norte/Nordeste, um aumento de 10% na renda média
reduz a incidência da pobreza em 7,1%, a intensidade em 9,5% e a severidade em 10,9%, enquanto que
na outra esses valores seriam 13,6%, 16,9% e 17,3%.
Em relação à redução na desigualdade de renda, o diferencial de elasticidade entre as
regiões é ainda mais expressivo. Por exemplo,
para uma queda de 10% na desigualdade de renda
nas regiões Norte/Nordeste, a proporção de pobres
cairia em 11,2%, a intensidade em 19,1% e a severidade em 23,9%. Já nas regiões Sul/Sudeste/Centro-Oeste, a mesma redução implicaria em valores
bem maiores, ou seja, de 24,4% em P(0), 33,2% em
P(1) e 37,6% em P(2).
O diferencial de elasticidades entre as variáveis de renda média e desigualdade, como tamLaboratório de Estudos
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Diretrizes para um Crescimento Econômico com Equidade e Justiça Social
95
bém entre regiões Norte/Nordeste e Sul/Sudeste/
Centro-Oeste permanecem quando se estimam as
mesmas especificações em primeira diferença (PD),
como mostra a Tabela 5.3. Ou seja, o decréscimo da
desigualdade apresenta impacto (em termos absolutos) superior ao crescimento da renda média não
somente para o Brasil como um todo, mas também
entre os grupos de regiões analisados.
Tabela 5.3 — Estimações de Efeitos Fixos/Aleatórios das Elasticidades
Renda-Pobreza e Desigualdade-Pobreza
Variáveis
Explicativas
Intercepto
Renda Média
- In Y
Incidência da Pobreza
In P(0)
BR N/NE(B) S/SE/
CO(B)
5.197*
(0.163)
-
Variáveis Dependentes
Incidência da Pobreza Incidência da Pobreza
In P(1)
In P(2)
(C)
BR(C) N/NE(A) S/SE/
BR
N/NE(B) S/SE/
CO(B)
CO)
5.867*
- 6.001*
(0.186)
- (0.237)
-
-0.880* -0.711* -1.367* -1.048* -0.955* -1.695* -1.106* -1.106* -1.732*
(0.028) (0,026)
Desigualdade de 1.698* 1.125*
Renda - In G
(0.071) (0.060)
Teste de Wald 1858.7* 814.8*
Teste F
Teste de
Hausman para
EA
EF
EF/EA
Teste de Woordridge par AR 1
Teste de White
HT
para Heteroc
N
270
160
(0,057) (0,032) (0,022) (0,060) (0,041) (0,029) (0,096)
2.440* 2.492* 2.492* 3.322* 2.932* 2.393* 3.760
(0.084) (0.079) (0.052) (0.088) (0.105) (0.063) (0.142)
2240.7* 2496.9*
1822.9* 2413.8*
758.2*
1187.1*
548.4*
EF
EA
EF
EF
EA
EF
EF
-
-
AR 1
-
-
-
-
HM
-
HT
HM
-
HT
HM
110
270
160
110
270
160
110
Nota: Entre parênteses, desvio padrão da estimativa. Nível de significância: *1%,
**5%, ***10%. Amostras: BR = Brasil; N/NE = Regiões Norte e Nordeste; S/SE/CO =
Regiões Sul, Sudeste e Centro-oeste. Legenda: EA = Efeitos Aleatórios; EF = Efeitos
Fixos; HT = Heterocedasticidade; HM = Homocedasticidade; AR1 = Autocorrelação
96
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de 1ª ordem. Sobrescrito: (a) Estimativas obtidas por MQG para correção da
heterocedasticidade e autocorrelação dos resíduos; (b) Estimativas obtidas por
MQG para correção somente da heterocedasticidade; (c) Estimativas obtidas por
MQG para correção somente da autocorrelação dos erros.
Assim, essas estimativas anteriores vêm a colaborar com a ideia de que o impacto sobre a pobreza ocorre com mais intensidade quando o Estado
possui baixo nível de desigualdade inicial e quando
a redução da desigualdade ocorre de forma acentuada quando da expansão da renda.
5.4 Estimativas do Tempo de Extinção da
Pobreza
Um aspecto importante, ainda, a considerar
sobre a desigualdade é avaliar em quanto tempo
poderia ser extinta a pobreza no Ceará caso não
haja alteração no perfil da distribuição de renda no
Estado. Nesse sentido, nessa simulação a pobreza
seria extinta apenas pelos efeitos promovidos pela
expansão da renda. A Tabela 5.4 apresenta os resultados obtidos utilizando metodologia proposta por
Morduch (1998)2. As estimativas foram realizadas
para o estado do Ceará, assim como para suas reMORDUCH, J. Poverty, Economic Growth, and Average Exit Time. Economics Letters, v. 59, p. 385–390, 1998.
2
Laboratório de Estudos
da Pobreza (LEP)
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Diretrizes para um Crescimento Econômico com Equidade e Justiça Social
97
giões metropolitanas, urbanas e rurais. Essa divisão
possibilita um melhor entendimento da concentração espacial da pobreza e do tempo médio de sua
extinção nessas diferentes áreas.
Tabela 5.4 — Tempo Necessário para a Extinção da Pobreza (Anos)
Crescimento da
Renda Real (g)
0,50
Ceará
Metropolitana
Urbana
Rural
97,50
86,70
85,20
138,40
1,00%
48,80
43,30
42,60
69,20
1,50%
32,50
28,90
28,40
46,10
2,00%
24,40
21,70
21,30
34,60
2,50%
19,50
17,30
17,00
27,70
3,00%
16,30
14,40
14,20
23,10
3,50%
13,90
12,40
12,20
19,80
4,00%
12,20
10,80
10,60
17,30
4,50%
10,80
9,60
9,50
15,40
8,70
8,50
13,80
5,00%
9,80
Fonte: elaborado por LEP/CAEN
Como pode ser claramente observado, o tempo
médio de extinção da pobreza reduz com o crescimento da renda real. Considerando todo o Estado,
caso a renda real das famílias crescesse a uma taxa
anual consecutiva de apenas 0,5%, levar-se-iam 97
anos e seis meses para a extinção completa da pobreza no Ceará. Por outro lado, ela seria extinta
em apenas 10 anos se a renda real crescesse a 5%
ao ano, o que não é razoável esperar, na medida
em que seria necessário um crescimento da renda
98
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Diretrizes para um Crescimento Econômico com Equidade e Justiça Social
aos moldes da China de 10% ao ano durante 10 anos
para, descontada uma taxa média de inflação a 5%
ao ano, atingir a cifra real de 5% ao ano.
Em termos da região metropolitana, verifica-se que nessa área comparativamente ao Estado, a
pobreza seria reduzida em 88% desse seu tempo.
Comportamento semelhante à região metropolitana
pode ser observado também na zona urbana. Já na
zona rural, o tempo de extinção seria bem mais expressivo. Caso a renda real evoluísse nessa região a
uma taxa de 0,5% ao ano, levar-se-ía quase 140 anos
para a erradicação da pobreza. Na verdade, isso revela um quadro de pobreza crônica na área rural do
Estado. A Figura 5.3 permite visualizar também os
resultados encontrados. Verifica-se que para todos
os cenários o tempo médio de extinção na zona rural é superior ao das outras regiões.
Uma questão importante é identificar o tempo
previsto em que a pobreza seria extinta no Estado
considerando a taxa média de crescimento da renda
ocorrida no Estado nos anos anteriores. Entre 19952007, verifica-se que houve uma expansão média
real da renda de 1,58% ao ano no Ceará. Nesse caso,
a pobreza no Estado seria extinta em aproximadamente 32 anos. Com relação à região metropolitana, levar-se-iam mais de 100 anos, já que o cresciLaboratório de Estudos
da Pobreza (LEP)
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Diretrizes para um Crescimento Econômico com Equidade e Justiça Social
99
mento médio nessa localidade, no período, foi de
apenas 0,19%. Na zona urbana, o crescimento da
renda também foi muito baixo, representando uma
taxa média de apenas 0,64%, o que implicaria em
pouco menos de 97 anos. Por fim, a zona rural teve
uma expansão média significativa na renda real,
nesse período, de 5%. Seguindo essa tendência, o
prazo seria de 14 anos para extinção da pobreza
nessa localidade.
Figura 5.3 — Tempo Necessário para a Extinção da Pobreza no Ceará
por Área Censitária
Fonte: elaborado pelos autores a partir dos dados da PNAD/IBGE
De forma resumida, podemos considerar a partir das informações vistas nessa seção que o Ceará,
apesar ter apresentado uma significativa melhora
100
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em alguns de seus indicadores de pobreza, possui
um nível ainda muito acentuado e desproporcional ao tamanho da população do Estado. Ademais,
dado o elevado nível de desigualdade existente e a
sensibilidade que esse componente tem no impacto sobre a sua redução, percebe-se que a pobreza
no Ceará não caiu na magnitude esperada mesmo
diante de uma expressiva expansão da renda média da economia e quando comparado aos outros
Estados da federação. Entretanto, exceção é feita
para a categoria de pessoas na extrema pobreza,
onde o Ceará apresentou uma redução significativa, sendo o segundo melhor desempenho do país.
Ademais, a pobreza no Estado está caracterizada
como sendo rural e ligada diretamente a atividades
agropecuárias, com predominância entre as mulheres e crianças e representadas por pessoas de baixa
qualificação.
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101
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Ceará
mais Justo
6 EDUCAÇÃO
A análise dessa variável é feita para os períodos de 1995 a 2002, 2002 a 2006, 2006 a 2007 e
1995 a 2007. São apresentadas diversas informações
sobre a trajetória dos níveis educacionais para a população acima de 15 anos, assim como o posicionamento de cada Estado em relação ao país. São
realizadas também comparações de desempenho
de indicadores do Ceará, levando-se em conta as
regiões metropolitanas, rurais e urbanas do Nordeste e do país. Por fim, são apresentadas evidências
quanto às estreitas relações existentes entre renda,
educação, desigualdade e redução da pobreza.
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103
6.1 Evolução dos Anos Médios de Estudos:
População Total, Pobres e Não-Pobres
As Tabelas 6.1 a 6.3, a seguir, apresentam a
evolução dos anos médios de estudos para todos os
Estados brasileiros, considerando apenas as pessoas
acima de 15 anos. Na Tabela 6.1 considera-se toda a
população, enquanto que na segunda apenas a educação entre as pessoas consideradas pobres, e na
terceira, as não pobres.
Inicialmente, analisando as informações contidas na Tabela 6.1, verifica-se que em 1995 o Ceará
apresentava a quarta pior média educacional nacional (cerca de 4 anos). Com níveis piores do que o
Ceará, naquele ano, estavam Bahia (25º), Piauí (26º)
e Maranhão (27º). Os melhores posicionados eram o
Distrito Federal (7,68 anos), Rio de Janeiro (6,87)
e São Paulo (6,47). Entretanto, já em 2002, o Ceará melhorou duas posições, aumentando sua média
educacional para 5,5 anos. Alagoas e Paraíba passam, por sua vez, a apresentarem indicadores piores do que os do Ceará. Pode-se constatar ainda que
o desempenho do Ceará nesse período (4,55%) foi
o mais expressiva do país, acompanhado de Tocantins (4,06%). Da mesma forma que em 1995, Distrito
Federal, Rio de Janeiro e São Paulo possuíam, em
2002, as três maiores médias educacionais do país.
104
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Tabela 6.1 — Anos Médios de Estudo — Pessoas Acima de 15 anos
Anos
Taxas Anuais
de Crescimento
RK Anos RK Anos RK Anos RK 95-02 02-07 06-07 95-07
Acre
6,23
6 6,66 10 6,42 16 6,99 14 0,95% 0,97% 8,51% 0,96%
Alagoas
4.07
23 4,40 27 5,13 27 5,37 27 1,11& 3,98% 4,57% 2,31%
Amapá
6,07
7 7,20
6 8,04
4 8,07
4 2,44% 2,28% 0,37% 2,37%
Amazonas
6,32
4 7,33
4 7,60
7 7,51
9 2,12% 0,49% -1,19% 1,44%
Bahia
3,98
25 5,14 23 5,92 23 6,01 23 3,65% 3,13% 1,51% 3,43%
Ceará
Distrito
Federal
Espírito
Santo
Goiás
4,00
24 5,50 22 6,10 22 6,32 21 4,55% 2,78% 3,54% 3,81%
Unidades
1995
7,68
2002
1 8,70
2006
1 9,29
2007
1 9,42
1 1,78% 1,59% 1,39% 1,70%
5,48
13 6,64 11 7,28 10 7,44 10 2,74% 2,28% 2,17% 2,55%
5,23
17 6,33 17 7,12 11 7,26 11 2,73% 2,74% 1,95% 2,73%
3,67
27 4,81 25 5,54 25 5,88 24 3,86% 4,02% 5,96% 3,93%
5,32
15 6,51 14 6,86 14 6,76 16 2,88% 0,75% -1,47% 2,00%
5,43
14 6,73
Maranhão
Mato
Grosso
Mato Grosso do Sul
Minas
Gerais
Paraná
5,24
16 6,39 16 7,03 13 7,14 13 2,83% 2,22% 1,55% 2,58%
5,66
11 7,01
Paraíba
9 7,09 12 7,22 12 3,07% 1,41% 1,82% 2,37%
8 7,63
6 7,69
6 3,06% 1,85% 0,78% 2,55%
4,20
22 4,88 24 5,54 24 5,76 25 2,14% 3,32% 3,89% 2,63%
Pará
5,54
Pernam4,52
buco
Piauí
3,78
Rio Grande
4,62
do Norte
Rio Grande
6,27%
do Sul
Rio de
6,87
Janeiro
Rondônia
5,97
12 6,46 15 6,39 17 6,57 18 2,19% 0,34% 2,78% 1,42%
Roraíma
Santa
Catarina
Sergipe
5,95
10 6,56 12 7,36
São Paulo
6,47
6,01
4,51
19 5,59 21 6,19 19 6,26 22 3,04% 2,26% 1,12% 2,71%
26 4,59 26 5,40 26 5,54 26 2,77% 3,76% 2,56% 3,19%
18 5,68 18 6,11 21 6,33 20 2,95% 2,17% 3,54% 2,62%
5 7,07
7 7,57
8 7,56
8 1,72% 1,34% -0,13% 1,56%
2 7,66
2 8,25
2 8,37
2 1,55% 1,77% 1,44% 1,65%
9 6,55 13 6,24 18 6,67 17 1,32% 0,36% 6,66% 0,92%
8 7,21
5 7,84
9 7,68
7 1,39% 3,15% 4,26% 2,13%
5 7,92
5 2,60% 1,88% 1,02% 2,30%
20 5,67 19 6,15 20 6,52 19 3,27% 2,79% 5,84% 3,07%
3 7,62
3 8,22
3 8,32
3 2,34% 1,76% 1,21% 2,10%
Tocantins
4,23
21 5,62 20 6,42 15 6,77 15 4,06% 3,72% 5,31% 3,92%
Fonte: elaboração LEP/CAEN a partir de microdados da PNAD/IBGE
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105
De 2002 a 2006 o Ceará aumenta a média de
escolaridade para 5,5 anos, mas permanece na
mesma posição nacional, a 22ª. Destaque positivo
nesse período foi o estado de Goiás que passou da
17ª posição para a 11ª. Em 2007, por outro lado,
o Ceará ganha uma posição, crescendo esse indicador entre 2006 e 2007 em 3,54%. Este aumento,
entretanto, não se constituiu em um desempenho
tão expressivo em termos nacionais. Destaques nesse período foram os desempenhos do Acre (8,51%),
Rondônia (6,66%) e Maranhão (5,96%). Por fim, se
considerarmos o período como um todo, ou seja,
entre 1995 e 2007, o Ceará teve o terceiro melhor
desempenho nacional em termos de média anual
com 3,81%, inferior apenas a Tocantins (3,92%) e
Maranhão (3,93%).
A evolução dos anos médios educacionais para
as pessoas pobres acima de 15 anos são apresentadas na Tabela 6.2. Consideramos pobres as pessoas
com renda familiar per capita inferior a R$ 190,00
em reais de 2007 (corresponde a ½ salário mínimo
da época). Pode-se observar que em 1995, os pobres
no estado possuíam a menor média nacional, com
apenas 2,58 anos. Acompanhando o Ceará nessa situação tínhamos Alagoas (26ª), Piauí (25ª) e Bahia
(24ª). O Distrito Federal continuava com a melhor
106
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média educacional do país mesmo entre os indivíduos pobres. È interessante observar que os pobres
no Distrito Federal tinham mais anos médios de estudos do que a população como um todo no Ceará.
Tabela 6.2 — Anos Médios de Estudo — Pessoas Pobres * Acima de 15 anos
Unidades
1995
2002
2006
Taxas Anuais
de Crescimento
2007
Anos RK Anos RK Anos RK Anos RK 95-02 02-07 06-07 95-07
Acre
4,35
5 4,85
11 4,85
19
5,14 19 1,55% 1,16% 5,81% 1,39%
Alagoas
2,59
26 3,21
27 3,92
27
4,24 26 3,07% 5,57% 7,85% 4,11%
Amapá
4,28
6 5,96
3 6,52
1
6,55
2 4,73% 1,89% 0,46% 3,55%
Amazonas
4,62
2 6,01
1 6,11
5
5,91
6 3,76% -0,34% -3,33% 2,05%
Bahia
2,77
24 3,90
24 4,75
22
4,73 24 4,89% 3,86% -0,42% 4,46%
Ceará
2,58
27 4,31
19 5,01
17
5,27 18 7,33% 4,02% 5,06% 5,95%
4,73
1 5.99
2 6,39
2
6,80
1 3,37% 2,54% 6,22% 3,02%
3,78
13 4,78
13 5,28
13
5,64
9 3,35% 3,31% 6,60% 3,33%
3,81
12 4,74
13 5,70
7
5,69
8 3,12% 3,65% -0,18% 3,34%
Maranhão 2,82
22 3,93
23 4,44
24
4,74 23
4,47 3,75% 6,54% 4,33%
15 4,79
12 5,24
14
5,43 13
3,80 2,51% 3,56% 3,26%
14 4,73
15 5,14
16
5,30 16 3,51% 2,28% 3,07% 2,99%
17 4,62
17 5,39
11
5,41 14 4,46% 3,16% 0,37% 3,92%
Distrito
Federal
Espírito
Santo
Goiás
Mato
3,67
Grosso
Mato
Grosso do 3,70
Sul
Minas
3,38
Gerais
Paraná
3,59
16 5,02
10 5,49
10
5,57 11 4,79% 2.08% 1,45% 3,66%
Paraíba
2,77
23 3,53
25 4,32
25
4,62 25 3,46% 5,38% 6,71% 4,26%
Pará
4,18
8 5,28
6 5,15
15
5,29 17 3,34% 0,04% 2,68% 1,96%
Pernambuco
3,15
20 4,23
21 4,94
18
5,02 20 4,21% 3,42% 1,61% 3,88%
Piauí
2,70
25 3,28
26 4,08
26
4,17 27 2,78% 4,80% 2,18% 3,62%
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Unidades
1995
2002
2006
Taxas Anuais
de Crescimento
2007
Anos RK Anos RK Anos RK Anos RK 95-02 02-07 06-07 95-07
Rio
Grande
do Norte
Rio
Grande
do Sul
Rio de
Janeiro
3,30
18 4,26
20 4,79
21
4,83 22 3,65% 2,51% 0,83% 3,17%
4,22
7 5,12
8 5,57
9
5,71
7 2,76% 2,18% 2,48% 2,52%
4,53
4 5,58
4 6,26
4
6,37
5 2,98% 2,65% 1,74% 2,84%
Rondônia 3,83
11 4,73
16 4,79
20
5,38 15 3,02% 2,58% 11,62% 2,83%
Roraíma
4,54
3 5,09
9 6,06
6
6,49
Santa
Catarina
4 1,63% 4,86% 6,86% 2,98%
3,97
10 5,15
7 5,62
8
5,61 10 3,72% 1,71%
Sergipe
3,23
19 4,16
22 4,68
23
São Paulo 4,13
9 5,50
5 6,27
3
Tocantins 3,00
21 4,35
18 5,28
12
4,87 21
6,50
-0,18 2,88%
3,61 ¨3,15% 3,98% 3,42%
3 4,09% 3,34% 3,60% 3,78%
5,50 12 5,31% 4,69% 4,08% 5,05%
Fonte: elaboração LEP/CAEN a partir de microdados da PNAD/IBGE
Nota: * Com renda familiar per capita menor que ½ salário mínimo (R$ 190,00 em
reais de setembro de 2007)
Entretanto, considerando o período 1995-2002,
o Ceará teve uma expansão bastante expressiva na
educação dessa parcela da população, ganhando 8
posições, o que o fez ocupar a 19ª posição relativa
deste indicador em 2002. Isso representou o melhor
desempenho do país, com uma taxa anual média de
7,33%. O Estado com desempenho mais próximo foi
o Tocantins com 5,31%. De 2002 a 2006 o Ceará ganha mais duas posições, mas volta a perder uma em
2007. Pode-se constatar ainda que, nesse ano, os
Estados com piores médias educacionais do país en-
108
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tre os pobres eram, por ordem decrescente, o Piauí,
Alagoas, Paraíba e Bahia. No período completo, os
Estados que mais aumentaram a média educacional entre os pobres foram o Ceará (5,95% ao ano),
Tocantins (5,05%) e Bahia (4,46%). Por outro lado,
Acre e Pará tiveram os piores desempenhos.
A Tabela 6.3 reúne informações a respeito da
média educacional entre os indivíduos considerados não-pobres, ou seja, aqueles com renda familiar per capita maior que meio salário mínimo (R$
190,00 em reais de setembro de 2007). Em 1995 o
Ceará tinha uma média educacional nessa classe de
6,21 anos, valor correspondente a quase 2,5 vezes a
escolaridade dos pobres neste mesmo ano. Em parte, essa discrepância poderia justificar a elevada
desigualdade de renda no Estado. Entretanto, esse
valor cai para 1,35 em 2007, sinalizando que a desigualdade educacional no estado vem se reduzindo.
Apesar disso, essa redução poderia ter sido muito
mais expressiva se o Estado tivesse acompanhado
o desempenho das outras unidades nacionais, uma
vez que passou da 18ª para a 22ª posição relativa no
índice de escolaridade entre os pobres.
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109
Tabela 6.3 — Anos Médios de Estudo — Pessoas Não-Pobres * Acima de
15 anos
Unidades
1995
2002
2006
Taxas Anuais
de Crescimento
2007
Anos RK Anos RK Anos RK Anos RK 95-02 02-07 06-07 95-07
Acre
7,04
4 7,79
7 7,62
12 8,18
7 1,45% 0,98% 7,09% 1,25%
Alagoas
6,40
13 6,63
26 6,71
26 6,46
27 0,50% -0,52% -3,80% 0,08%
Amapá
6,95
6 8,43
3 8,74
2 8,74
2 2,76% 0,72% 0,00% 1,91%
Amazonas
7,32
3 8,47
2 8,51
4 8,50
4 2,08% 0,07% -0,12% 1,25%
Bahia
5,84
26 6,77
24 6,91
23 6,91
24 2,11% 0,41% 0,00% 1,40%
Ceará
6,21
18 7,21
20 7,10
20 7,13
22
8,33
1 9,46
1 9,79
1 9,76
1 1,82% 0,62% -0,31% 1,32%
6,52
12 7,65
10 7,91
10 7,84
11 2,28% 0,49% -0,89% 1,54%
6,10
22 7,03
22 7,54
13 7,59
13
5,59
27 6,50
27 6,88
23 6,98
23 2,15% 1,42% 1,44% 1,85%
6,31
16 7,36
15 7,43
15 7,20
20 2,20% -0,44% -3,14% 1,10%
6,32
15 7,66
8 7,64
11 7,71
12 2,75% 0,13% 0,91% 1,66%
6,37
14 7,32
18 7,52
14 7,57
14 1,99% 0,67% 0,66% 1,44%
Paraná
6,59
11 7,66
9 8,10
7 8,06
9 2,15% 1,02% -0,50% 1,68%
Paraíba
6,06
23 6,86
23 6,62
27 6,69
26 1,77% -0,50% 1,05% 0,82%
Pará
6,73
9 7,44
14 7,22
18 7,32
17 1,43% -0,33% 1,38% 0,70%
Pernambuco
6,19
19 7,34
17 7,26
17 7,18
21 2,43% -0,44% -1,11% 1,24%
Piauí
6,05
24 6,68
25 6,80
25 6,72
25 1,42% 0,12% -1,18% 0,88%
17 7,34
16 7,10
21 7,31
18 2,39% -0,80% 2,91% 1,36%
7 7,63
11 7,95
9 7,85
10 1,46% 0,57% -1,27% 1,09%
2 8,05
4 8,58
3 8,52
Distrito
Federal
Espírito
Santo
Goiás
Maranhão
Mato
Grosso
Mato
Grosso
do Sul
Minas
Gerais
Rio Grande do
6,21
Norte
Rio
Grande
6,89
do Sul
Rio de
7,44
Janeiro
110
Laboratório de Estudos
da Pobreza (LEP)
CAEN – UFC
2,13 -0,22% 0,42% 1,15%
2,03 1,53% 0,66% 1,82%
3 1,13% 1,13%
-0,70 1,13%
Movimento Ceará mais Justo
Uma Agenda para o Desenvolvimento do Estado do Ceará
Diretrizes para um Crescimento Econômico com Equidade e Justiça Social
Unidades
Taxas Anuais
de Crescimento
Anos RK Anos RK Anos RK Anos RK 95-02 02-07 06-07 95-07
1995
Rondônia 6,98
2002
2006
2007
5 7,46
13 7,02
22 7,31
19 0,95% -0,41% 4,05% 0,38%
Roraíma
6,12
21 8,00
6 8,33
6 8,39
6 3,83% 0,95% 0,72% 2,63%
Santa
Catarina
6,61
10 7,60
12 8,07
8 8,10
8 1,99% 1,27% 0,37% 1,69%
Sergipe
5,99
25 7,22
19 7,33
16 7,53
15 2,67% 0,84% 2,69% 1,91%
São Paulo 6,83
8 8,04
5 8,45
5 8,48
5 2,33% 1,07% 0,35% 1,80%
Tocantins 6,17
20 7,13
21 7,12
19 7,38
16 2,07% 0,69% 3,59% 1,49%
Fonte: elaboração LEP/CAEN a partir de microdados da PNAD/IBGE
Nota: *Com renda familiar per capita maior ou igual a ½ salário mínimo (R$ 190,00
em reais de setembro de 2007)
6.2 Evolução dos Anos Médios de Estudos:
Zonas Territoriais e Faixas de Anos
A análise desenvolvida a seguir tem como foco
a evolução da educação entre os pobres e não pobres nas zonas territoriais de 1995 a 2007. As zonas
rurais do país e dos Estados, como já se sabe, são
áreas concentradoras de indivíduos pobres, também apresentam, como se observa na Tabela 6.4, os
níveis educacionais mais baixos. Os melhores níveis
de escolaridade estão nas zonas metropolitanas.
Laboratório de Estudos
da Pobreza (LEP)
CAEN – UFC
Movimento Ceará mais Justo
Uma Agenda para o Desenvolvimento do Estado do Ceará
Diretrizes para um Crescimento Econômico com Equidade e Justiça Social
111
112
Tabela 6.4 — Anos Médios de Estudo por Condição Social — Pessoas Acima de 15 anos
Unidades
1995
Todos
Pobres*
2007
Não-Pobres**
Todos
(1995-2007)
Pobres* Não-Pobres**
Todos
Pobres*
Não-Pobres**
Laboratório de Estudos
da Pobreza (LEP)
CAEN – UFC
Movimento Ceará mais Justo
Uma Agenda para o Desenvolvimento do Estado do Ceará
Diretrizes para um Crescimento Econômico com Equidade e Justiça Social
Brasil
5,55
3,40
6,68
7,33
5,32
7,90
32,07%
56,4%
18,26%
Metropolitano
6,90
4,56
7,45
8,54
6,57
8,83
23,77%
44,08%
18,52%
Urbano
5,66
3,70
6,65
7,40
5,55
7,91
30,74%
50,00%
18,95%
Rural
2,86
2,37
3,84
4,36
4,03
4,65
52,45%
70,04%
21,09%
Nordeste
4,11
2,83
6,03
6,04
4,80
7,00
46,96%
69,61%
16,09%
Metropolitano
6,31
4,40
7,66
8,03
6,39
8,73
27,26%
45,23%
13,97%
Urbano
4,63
3,31
6,27
6,42
5,13
7,30
38,66%
54,98%
16,43%
Rural
2,09
1,86
2,91
3,67
3,71
3,59
75,60
99,46%
23,37%
Ceará
4,00
2,58
6,21
6,32
5,27
7,13
58,00%
104,26%
14,81%
Metropolitano
5,95
3,96
7,53
7,73
6,17
8,46
29,92%
55,81%
12,35%
Urbano
3,89
2,70
5,74
5,96
5,34
6,51
53,21%
97,78%
13,41%
Rural
1,59
1,56
1,68
4,06
4,21
3,85
155,35%
169,87%
129,17%
Fonte: Elaboração LEP/CAEN a partir de microdados da PNAD/IBGE
Examinando o comportamento do Ceará, verifica-se que em 1995 suas médias eram inferiores ao
Brasil e ao Nordeste em todas as zonas, tanto para
os pobres como para os não-pobres. Na zona rural,
por exemplo, a média cearense correspondia a apenas 84% da educação do nordestino pobre e a 66% da
média nacional. Entretanto, em 2007, o Ceará ultrapassou a média nordestina, em ambas as classes
sociais, sendo esse avanço mais expressivo na área
rural. Esse desempenho representou um crescimento bastante expressivo de quase 170% contra 99,46%
no Nordeste e 70,04% no país. O aumento da escolaridade na área rural contribuiu fortemente para a
expansão desses índices.
Na Tabela 6.5 é feita uma análise comparando
o desempenho do Ceará com o Nordeste e Brasil,
por classes de anos de estudos, novamente considerando pessoas acima de 15 anos de idade. São escolhidas 6 classes: a primeira, para as pessoas sem
escolaridade, a segunda, para indivíduos com 1 a 4
anos de estudo, a terceira com 5 a 6 anos, a quarta
com 7 a 8 anos, a quinta com 9 a 12 anos e a última,
para pessoas com mais de 13 anos de estudo. Assim, observa-se que, em 1995, 27,76% dos cearenses acima de 15 anos eram analfabetos, percentual
inferior, porém, à média nordestina. Pode ser visto
também que apenas 2,74% tinham nível superior.
Laboratório de Estudos
da Pobreza (LEP)
CAEN – UFC
Movimento Ceará mais Justo
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Diretrizes para um Crescimento Econômico com Equidade e Justiça Social
113
Ainda relativamente à distribuição da população cearense por faixas de anos de estudo, observa-se que de 1995 a 2007 existe uma considerável
redução no número de analfabetos (-45,73%), sendo o desempenho do estado neste indicador muito
superior à redução encontrada no país (-35,28%) e
na região nordeste (-37,83%). No entanto, o nível
de analfabetismo do Estado é ainda bem superior
ao nível nacional. A classe de 9 a 12 anos foi a que
apresentou a maior expansão, com um crescimento
um pouco superior a 116%.
Tabela 6.5 — Distribuição % da População por Classes de Anos de
Estudo — Pessoas Acima de 15 anos
1995
BR
NE
CE
BR
0
17,36% 31,58% 27,76% 11,23%
1 a 4 33,15% 31,92% 37,81% 22,08%
5 a 6 12,14% 10,14% 11,93% 9,67%
7 a 8 13,13% 9,10% 8,91% 14,42%
9 a 12 17,71% 13,95% 10,85% 32,04%
13 ou
6,51% 3,31% 2,74% 10,56%
mais
Fonte: elaboração LEP/CAEN a partir dos
Anos
2007
NE
19,63%
23,88%
10,41%
12,60%
27,45%
6,02%
CE
15,06%
29,75%
12,98%
13,59%
23,51%
(1995-2007)%
BR
NE
CE
-35,28% -37,83% -45,73%
-33,39% -25,21% -21,33%
-20,38% 2,66%
8,81%
9,78% 38,48% 52,66%
80,90% 96,83% 116,82%
5,09% 62,30% 82,14%
85,75%
microdados da PNAD/IBGE
6.3 Anos Médios de Estudos por Decis de
Renda: Ceará, Nordeste e Brasil
As Tabelas de 6.6 a 6.8 mostram os Anos Médios
de Estudos pelos decis de Renda, de 1995 a 2007,
para o Ceará, Nordeste e Brasil. Pode-se constatar
114
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da Pobreza (LEP)
CAEN – UFC
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Diretrizes para um Crescimento Econômico com Equidade e Justiça Social
nos três casos que quanto maiores os decis de renda
maiores as médias educacionais. Esse fato evidencia
que há uma clara relação positiva entre nível educacional e nível de renda. Examinando a expansão
educacional por decil verifica-se que, em todos os
períodos, as maiores expansões ocorreram nos níveis mais baixos de renda, com destaque para o segundo decil. Outro fato importante é que quando se
compara o nível educacional médio no décimo decil
com o primeiro, observa-se uma tendência continuada de redução, sendo mais expressiva no Ceará
entre 1995 a 2002 e no período como um todo.
Tabela 6.6 — Anos Médios de Estudo por Decis de Renda — Ceará,
Pessoas Acima de 15 anos
Decil p
1995 2002
2006 2007 (95-02)% (02-07)% (06-07)% (95-07)%
1
3,17
4,57
5,36
5,64
44,16%
23,41%
5,22%
77,92%
2
2,62
4,00
5,17
5,51
52,67%
37,75%
6,58%
110,31%
3
3,25
4,59
5,64
6,12
41,23%
33,33%
8,51%
88,31%
4
3,42
5,27
6,28
6,19
54,09%
17,46%
-1,43%
80,99%
5
3,64
5,21
6,41
6,82
43,13%
30,90%
6,40%
87,36%
6
4,11
5,59
6,48
6,86
36,01%
22,72%
5,86%
66,91%
7
4,36
5,93
6,76
6,87
36,01%
15,85%
1,63%
57,57%
8
4,90
6,00
7,03
7,29
22,45%
21,50%
3,70%
48,78%
9
6,43
7,70
7,39
7,37
19,75%
-4,29%
-0,27%
14,62%
10
10,38
11,01 11,23 11,40
6,07%
3,54%
1,51%
9,83%
3,27
2,41 2,10 2,02 -26,42% -16,10%
-3,53%
Fonte: Elaboração LEP/CAEN a partir dos microdados da PNAD/IBGE
-38,27%
Razão entre 10% mais ricos e 10% mais pobres:
Laboratório de Estudos
da Pobreza (LEP)
CAEN – UFC
Movimento Ceará mais Justo
Uma Agenda para o Desenvolvimento do Estado do Ceará
Diretrizes para um Crescimento Econômico com Equidade e Justiça Social
115
Tabela 6.7 — Anos Médios de Estudo por Decis de Renda — Nordeste,
Pessoas Acima de 15 anos
Decil p 1995 2002 2006 2007 (95-02)% (02-07)% (06-07)% (95-07)%
1
3,49
4,61 5,31 5,49 32,09%
19,09%
3,39%
57,31%
2
3,04
4,03 4,83 5,14 32,57%
27,54%
6,42%
69,08%
3
3,38
4,42 5,28 5,54 30,77%
25,34%
4,92%
63,91%
4
3,75
4,75 5,85 5,83 26,67%
22,74%
-0,34%
55,47%
5
3,92
5,06 6,01 6,35 29,08%
25,49%
5,66%
61,99%
6
4,92
5,21 6,23 6,32 21,45%
21,31%
1,44%
46,32%
7
4,58
5,76 6,63 6,74 25,76%
17,01%
1,66%
47,32%
8
4,91
5,81 6,75 6,72 18,33%
15,66%
-0,44%
36,86%
9
6,48
7,54 7,39 8,13 16,36%
7,82%
10,01%
25,46%
10
10,01 10,90 11,31 11,25
8,89%
3,21%
-0,53%
12,39%
Razão entre 10% mais ricos e 10% mais pobres:
2,87
2,36 2,13 2,05 -17,56%
-13,33%
-3,79% -28,56%
Fonte: Elaboração LEP/CAEN a partir dos microdados da PNAD/IBGE
Tabela 6.8 — Anos Médios de Estudo por Decis de Renda — Brasil,
Pessoas Acima de 15 anos
Decil p 1995 2002 2006 2007 (95-02)% (02-07)% (06-07)% (95-07)%
1
3,92 5,10 5,71 5,94 30,10%
16,47%
4,03%
51,53%
2
3,94 5,03 5,92 6,05 27,66%
20,28%
2,20%
53,55%
3
4,38 5,58 6,54 6,65 27,40%
19,18%
1,68%
51,83%
4
4,88 5,98 6,78 6,89
22,54$
15,22%
1,62%
41,19%
5
5,25% 6,51 7,21 7,34 24,00%
12,75%
1,80%
39,81%
6
5,60 6,37 7,49 7,28 13,75%
14,29%
-2,80%
30,00%
7
6,38 7,50 7,39 7,92 17,55%
5,60%
7,17%
24,14%
8
7,38 8,28 8,79 9,05 12,20%
9,30%
2,96%
22,63%
9
8,66 9,62 10,02 10,05 11,09%
4,47%
0,30%
16,05%
10
11,35 12,15 12,53 12,50
7,05%
2,88%
-0,24%
10,13%
Razão entre 10% mais ricos e 10% mais pobres:
2,90 2,38 2,19 2,10 -17,72%
-11,67%
-4,10% -27,32%
Fonte: Elaboração LEP/CAEN a partir dos microdados da PNAD/IBGE
116
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da Pobreza (LEP)
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Movimento
Ceará
mais Justo
7 AVALIANDO O BEM-ESTAR DOS CEARENSES
Todas as evidências apresentadas anteriormente têm como pano de fundo levantar subsídios na
avaliação para os últimos anos nas condições socioeconômicas da população cearense, especialmente
no tocante as informações de renda, desigualdade
e pobreza. Esses resultados podem ser, de certa
forma, sintetizados quando da construção de indicadores que possam capturar o nível de bem-estar
de uma sociedade. Para tanto, dois indicadores se
destacam na literatura e que usaremos nesse docuLaboratório de Estudos
da Pobreza (LEP)
CAEN – UFC
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Diretrizes para um Crescimento Econômico com Equidade e Justiça Social
117
mento: o índice de bem-estar de Sen3 e o índice de
Kakwani4, ou de Crescimento Inclusivo.
7.1 Índice de Bem-Estar de SEN
Para o cálculo desse índice, estabelece-se a
relação entre renda (µ) e desigualdade (G) e bem-estar social (W ) a partir do seguinte formato: W
= µ(1 — aG) (1), sendo a um parâmetro de aversão
à desigualdade. Para o cálculo da renda, utilizamos a renda familiar per capita µ e a desigualdade
dada pelo índice de Gini (G). Além disso, tomamos
o parâmetro de aversão à desigualdade igual a uma
unidade, isto é, a = 1. Ao supor isso, estamos considerando o caso de máxima aversão à concentração
de renda pela sociedade. Apresentada dessa forma,
a medida de SEN representa a renda disponível à
sociedade após a subtração dos efeitos da desigualdade. Os resultados para esse indicador estão na
Tabela 7.1.
SEN, Amartya. K. (1977): On Economic Inequality. Clarendon Press,
Oxford.
4
KAKWANI, N; Khandker, S; Son, H (2004). “Pro-Poor Growth: Concepts
and Measurement with Country Case Studies”. International Poverty
Center/Pnud, Working Paper, Nº 1. Brasília.
3
118
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Tabela 7.1 — Índice de Bem-Estar de Sen por Unidades Federativas,
2006 e 2008
2006
2008
2006-2008
Valor Rank Valor Rank Variação Rank
Acre
171,68 16
190,84
16
11,16% 18
Alagoas
113,74 26
131,64
27
15,74% 8
Amapá
197,31 13
218,51
13
10,74% 20
Amazonas
170,35 17
186,51
17
9,49% 24
Bahia
142,39 22
161,69
22
13,55% 12
Ceará
132,93 24
160,23
23
20,53% 4
Distrito Federal
424,31
1
463,36
1
9,20% 25
Espírito Santo
247,56
9
280,24
10
13,20% 14
Goiás
249,76
8
287,94
7
15,28% 10
Maranhão
111,62 27
136,73
26
22,50% 1
Mato Grosso
237,03 11
287,91
8
21,46% 2
Mato Grosso do Sul
258,21
7
285,74
9
10,66% 21
Minas Gerais
245,44 10
278,30
11
13,39% 13
Paraná
296,13
6
345,87
6
16,80% 7
Paraíba
148,58 21
163,06
21
9,74% 23
Pará
157,15 20
183,68
19
16,88% 6
Pernambuco
137,46 23
155,53
24
13,15% 15
Piauí
124,05 25
150,43
25
21,26% 3
Rio Grande do Norte
159,42 18
184,03
18
15,43% 9
Rio Grande do Sul
317,13
5
356,71
4
12,48% 16
Rio de Janeiro
327,58
4
352,34
5
7,56% 26
Rondônia
208,65 12
231,82
12
11,10% 19
Roraíma
183,75 14
211,21
14
14,94% 11
Santa Catarina
383,24
2
409,35
2
6,53% 27
Sergipe
158,13 19
177,84
20
12,46% 17
São Paulo
354,78
3
389,61
3
9,82% 22
Tocantins
174,78 15
210,20
15
20,27% 5
Fonte: LEP/CAEN a partir de microdados da PNAD/IBGE
Unidades
De uma forma geral, observa-se inicialmente que todos os Estados tiveram aumento de bem-estar social, já que em quase todos se assistiu ao
aumento da renda e à redução da desigualdade,
com exceção de Rondônia para o caso da renda e
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119
Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso e Paraíba com
relação à desigualdade. Para o ano de 2008, Distrito Federal (426,36), Santa Catarina (409,35), São
Paulo (389,61), Rio Grande do Sul (356,71) e Rio de
Janeiro (352,34), nesta ordem, são as unidades da
federação com o maior índice de bem-estar de SEN,
resultado semelhante ao verificado em 2006, trocando apenas de posição os últimos Estados citados
acima. Deve-se ressaltar, no entanto, que Santa Catarina e Rio de Janeiro, com variações de 6,53% e
7,56%, respectivamente, foram os Estados que tiveram a menor taxa de crescimento do índice para o
período analisado.
No outro extremo, os cinco Estados com menor bem-estar em 2008 são todos do Nordeste,
na seguinte ordem: Alagoas (131,64), Maranhão
(136,73), Piauí (150,43), Pernambuco (155,53) e
Ceará (160,23). Percebe-se que esse resultado vale
também para 2006, apenas alterando as posições
entre eles. Dos 10 Estados com piores índices de
bem-estar, em 2008, nove são nordestinos.
Entretanto, como um aspecto positivo, quando
se analisa os cinco Estados que tiveram uma maior
taxa de crescimento desse indicador, três são do
Nordeste: Maranhão (22,5%), Piauí (21,26%) e Ceará
(20,53%). Deve-se destacar também o crescimento
120
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de Tocantins (20,27%) e Mato Grosso (21,46%), que
ficou em segundo lugar nesse quesito perdendo apenas para o Maranhão. Apesar deste desempenho, o
estado do Maranhão, em 2008, é o segundo pior em
termos do nível de bem-estar social de SEM, ficando
à frente apenas do estado de Alagoas. Os resultados observados para o Ceará, por exemplo, é fruto
exclusivamente do que ocorreu com a renda per capita nesse período, que teve um aumento de quase
17%, o que de certa forma mais que compensou o
fraco desempenho na desigualdade.
Um aspecto importante que se deve levar em
conta nessa discussão é que esse índice pode estar
melhorando pela maior participação na renda total
das camadas mais ricas da população, ou de outra
forma mesmo com aumento relativo da renda dos
mais pobres, mas não no nível desejado, como pode
ser observado para o Ceará. Assim, esses possíveis
efeitos, tomados em conjunto, são pouco informativos sobre a evolução da renda nas camadas mais pobres da população. Ademais, se considerarmos que
as pessoas com menores rendas deveriam ter um
peso maior no cálculo do bem-estar, é fundamental
que o índice de bem-estar reflita essa necessidade.
Para tanto, a metodologia de Kakwani e Son (2008)
ajuda-nos a avaliar o movimento da renda e da deLaboratório de Estudos
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121
sigualdade nessa perspectiva, ou seja, através da
ideia de um padrão de crescimento da renda em
que os benefícios aos mais pobres tenham mais peso
relativamente aos não-pobres.
7.2 Índice de Bem-Estar de Kakwani-Son
Como discutido, a medida de Bem-Estar de SEN
é pouco informativa em termos de sua capacidade
de avaliar o que está ocorrendo nas camadas mais
baixas de renda da população, na medida em que a
expansão da renda média ou a redução da desigualdade não implicam necessariamente no aumento da
renda dos mais pobres. Para capturar esse efeito,
torna-se imprescindível verificar a evolução da renda dos indivíduos na base da distribuição. Para isso,
o índice de bem-estar de Kakwani-Son permite-nos
avaliar o bem-estar social nessa perspectiva, ou
seja, através da ideia de um padrão de crescimento
da renda em que os mais pobres se beneficiam relativamente mais do que os não-pobres, ou seja, na
direção do chamado crescimento “pró-pobre”.
Sendo assim, deve-se considerar pelo menos
duas dimensões do problema: a primeira referente
às taxas de crescimento da renda média ( g ), e a segunda envolvendo mudanças na renda relativa (de-
122
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sigualdade). Nesse sentido, poderíamos lançar mão
do conceito da Taxa de Crescimento do Equivalente-Pobreza ( g * ) que representaria “aquela taxa de
crescimento da renda média (hipotética) que resultaria num mesmo nível de redução da pobreza, se
o processo de crescimento econômico não tivesse
sido acompanhado de mudanças na desigualdade”.
O crescimento é considerado “pró-pobre” se
a expansão da renda dos mais pobres ocorrer com
mais intensidade do que a expansão de renda dos
não-pobres, o que implica na queda da desigualdade. Por outro lado, caso haja uma retração da renda, para que a recessão seja também “pró-pobre”,
é necessário que a renda dos não-pobres diminua
com mais intensidade que a dos pobres. Podemos
apresentar diversos cenários de crescimento ou recessão “pró-pobre”. O Quadro I sumariza as possibilidades existentes. Assim, a medida de Bem-Estar
do Crescimento Pró-Pobre é dada pela diferença
entre g* e g. Seus Resultados estão apresentados na
Tabela 7.2.
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Quadro 7.1 — Sumário de Possibilidades
Estilos
Crescimento Pró-Pobre
Tricke-Down
Crescimento Empobrecedor
Recessão Fortemente Pró-Pobre
Condições
Cenários
Expansão da renda com os pobres
se beneficiando proporcionalmente
mais (redução da desigualdade)
Aumento da desigualdade com ex0 < g* < g
pansão da renda média e redução na
pobreza
Expansão da renda média com aug > 0 e g* < 0
mentos na pobreza e na desigualdade
g* > g > 0
g < 0 e g* > 0
Recessão Pró-Pobre
g < g* < 0
Recessão Anti-Pró-Pobre
g* < g < 0
Retração da renda com reduções na
pobreza e na desigualdade
Retração da renda com aumento na
pobreza, mas os efeitos negativos
são menores nos pobres
Retração da renda com aumento na
pobreza e os pobres são proporcionalmente mais afetados
Fonte: elaboração do LEP/CAEN
Podemos observar que na grande maioria dos
Estados (22), o crescimento foi do tipo inclusivo ou
“pró-pobre”, com destaques para Roraima, Acre,
São Paulo e Amapá, com maiores avanços nessa medida de bem-estar. Mais especificamente, examinando o desempenho do Ceará, verifica-se que apesar dele ter sido também do tipo “pró-pobre”, seu
índice de bem-estar teve apenas o 18º desempenho
do país. Podemos observar que esse resultado é semelhante ao seu desempenho dos indicadores de
pobreza e desigualdade e bem diferente do comportamento do índice de bem-estar de SEN visto na
seção anterior, no qual foi o quarto do país. Esses
resultados apontam que quando se pondera um ín-
124
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dice de bem-estar pela expansão da renda relativa dos mais pobres os impactos passam a ser mais
consistentes. Daí a importância de direcionarmos
políticas que possam aumentar a produtividade da
economia, mas através do aumento da renda média
dos mais pobres.
Tabela 7.2 — Crescimento Pró-Pobre (FGT (0)) por Unidades
Federativas, 2006 a 2008
Unidades
Taxas de Crescimento Anuais
Renda PEGR
Y* - Y
(Y)
(Y*)
1,13% 6,58%
5,46%
1,25% 5,18%
3,93%
1,54% 6,07%
4,53%
4.03% 4,47%
0,44%
6,25% 6,91%
0,65%
7,81% 9,27%
1,45%
6,23% 5,72%
-0,51%
4,25% 5,89%
1,64%
7,18% 8,84%
1,66%
0,85% 5,30%
4,45%
10,94% 9,37%
-1,58%
4,66% 4,78%
0,11
4,69% 6,50%
1,80%
5,60% 9,20%
3,59%
6,40% 4,57%
-1,84%
6,15% 6,31%
0,16%
3,77% 5,52%
1,75%
6,45% 9,54%
3,09%
Resumo
Cenário
Estilo
Acre
Expansão
Pró-Pobre
Alagoas
Expansão
Pró-Pobre
Amapá
Expansão
Pró-Pobre
Amazonas
Expansão
Pró-Pobre
Bahia
Expansão
Pró-Pobre
Ceará
Expansão
Pró-Pobre
Distrito Federal
Expansão
Tricke-Down
Espírito Santo
Expansão
Pró-Pobre
Goiás
Expansão
Pró-Pobre
Maranhão
Expansão
Pró-Pobre
Mato Grosso
Expansão
Trick-Down
Mato Grosso do Sul
Expansão
Pró-Pobre
Minas Gerais
Expansão
Pró-Pobre
Paraná
Expansão
Pró-Pobre
Paraíba
Expansão
Tricke-Down
Pará
Expansão
Pró-Pobre
Pernambuco
Expansão
Pró-Pobre
Piauí
Expansão
Pró-Pobre
Rio Grande do
6,30% 9,16%
2,86%
Expansão
Pró-Pobre
Norte
Rio Grande do Sul
4,54% 7,19%
2,65%
Expansão
Pró-Pobre
Rio de Janeiro
1,67% 4.50%
2,83%
Expansão
Pró-Pobre
Rondônia
-0,36% 18,91%
19,27%
Recessão Fortem. Pró-Pobre
Roraíma
2,25% 11,61%
9,37%
Expansão
Pró-Pobre
Santa Catarina
2,81% 2,96%
0,15%
Expansão
Pró-Pobre
Sergipe
3,14% 4,77%
1,63%
Expansão
Pró-Pobre
São Paulo
2,14% 7,07%
4,94%
Expansão
Pró-Pobre
Tocantins
10,85% 9,67%
-1,18%
Expansão
Tricke-Down
Fonte: LEP/CAEN a partir de microdados da PNAD/IBGE
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mais Justo
PARTE II
Diretrizes para uma Proposta
de Crescimento
Econômico com Equidade e
Justiça Social
Movimento
Ceará
mais Justo
INTRODUÇÃO
Fundamentados nas análises desenvolvidas na
primeira parte deste documento, podemos afirmar
que apesar das mudanças econômicas e sociais que
marcaram a dinâmica político-institucional do Estado nas últimas décadas, elas não foram suficientes
para eliminar a pobreza que ainda atinge parcela
significativa da população, bem como reduzir a desigualdade, traduzida tanto em termos da renda
pessoal, onde os 10% mais ricos têm rendimentos
equivalentes a 44,3 vezes aos dos 10% mais pobres,
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129
quanto espacial, com a Região Metropolitana de Fortaleza sendo responsável pela geração de mais de
60% da riqueza gerada no Estado, enquanto predominam nas demais áreas grandes vazios econômicos.
Ao lado disso, há fortes desigualdades em termos
da posse de domicílios, tendo em vista que ainda temos um déficit habitacional no Estado de mais de 300
mil moradias, bem como no número de pessoas que
têm condições de vida mais digna, tendo em vista
que uma grande proporção de famílias ainda vive em
domicílios sem acesso aos serviços de abastecimento
de água, esgotamento sanitário e coleta de lixo.
Essas desigualdades econômicas e sociais representam os principais fatores condicionantes para
a persistência do elevado nível de pobreza em que
vive parcela expressiva da população. Mas, também
significam o fracasso de um modelo que vem sendo
adotado ao longo dos anos, assentado, principalmente, na industrialização incentivada com urbanização, levando a processos de exclusão social e
territorial que vêm prejudicando a própria dinâmica
econômica do Estado.
Por outro lado, a base produtiva do Estado, em
sua expressão meramente econômica, ainda revela
baixa produtividade, especialmente no setor agrícola, o que reduz a capacidade competitiva da eco-
130
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nomia, dificulta a incorporação de inovações tecnológicas aos processos produtivos, bem como limita
as possibilidades de melhoria da remuneração média dos trabalhadores. Talvez isso explique porque,
nos últimos dez anos, a economia cearense não registrou grandes modificações em termos de formação de novas aglomerações industriais ou agrícolas.
A participação do PIB do Estado na região Nordeste
do Brasil ainda permanece próxima de 15%, ou seja,
a mesma posição histórica. Em termos nacionais, a
participação da economia do Estado para a formação do produto nacional tem sido pouco expressiva,
com uma taxa anual média em torno de 1,8%.
De qualquer maneira, o estado do Ceará desponta como a terceira maior economia da região
Nordeste, atrás apenas da Bahia e Pernambuco. Mas,
o sustentáculo da economia cearense tem sido o setor serviços, cujo desempenho tem sido influenciado
pelo turismo, principalmente de turistas domésticos,
por conta das potencialidades naturais do Estado. A
cadeia do turismo, ao contemplar inúmeras atividades complementares, responde por boa parcela do
emprego nos principais pólos turísticos do Estado.
A maior fragilidade está no setor agropecuário,
que sofre com as irregularidades climáticas, devido
à predominância das áreas de clima semiárido, torLaboratório de Estudos
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131
nando a atividade agropecuária do Estado um grande
risco econômico, prejudicial não apenas à produção,
mas também à vida das pessoas. É fato reconhecido
que a pobreza rural se relaciona fortemente com as
condições agroclimáticas, com a pouca disponibilidade de recursos naturais da zona semiárida e com a má
distribuição de terras. Mas, os mais pobres não são os
trabalhadores que moram nas fazendas, mas os proprietários de minifúndios, os quais são submetidos a
maiores dificuldades que os trabalhadores contratados e têm menos acesso aos serviços públicos. Esse
quadro de subdesenvolvimento da agricultura do Ceará está apoiado em uma complexa herança geográfica, ecológica e antropológica, juntamente com distorções das políticas econômicas e sociais até agora
adotadas, razão porque o combate à pobreza rural
deve constituir a principal prioridade do Governo.
A partir desse breve panorama macroeconômico, iremos fazer no próximo tópico uma pequena
reflexão sobre a importância da redução da desigualdade para melhorar a eficiência da economia.
Na seção seguinte, apresentamos alguns temas relevantes para o desenvolvimento do Estado, associando a cada um deles um conjunto de diretrizes
que, no nosso entendimento, são necessárias para o
aperfeiçoamento das políticas de combate à pobreza e redução das desigualdades.
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8 A REDUÇÃO DA DESIGUALDADE COMO
ESTRATÉGIA PARA AUMENTO DE GANHOS
DE EFICIÊNCIA ECONÔMICA NO CEARÁ
Como visto anteriormente, o Brasil se caracteriza por ser um país com uma das maiores desigualdades de renda no mundo. Recentemente, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
(PNUD) divulgou um relatório que apontou, tendo
por base o índice de GINI, que o Brasil é um dos 7
(sete) países com maior desigualdade do planeta.
Nesse contexto, o estado do Ceará também é desLaboratório de Estudos
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133
taque negativo, sendo o 11º mais desigual do Brasil,
considerando o ano de 2008. Outro estudo publicado este ano pela Organização das Nações Unidas
(ONU) constatou que cinco cidades brasileiras estão
entre as 20 mais desiguais do mundo, sendo Fortaleza a 13ª nesse grupo.
De um modo geral, ainda não há um completo
consenso em nossa sociedade e nas diversas esferas
de Governo em tratar esse tema de forma absolutamente prioritária. Muitas vezes essa discussão é
jogada para escalas menores de preocupação. As
desigualdades, sejam elas étnicas, etárias, de gênero ou espaciais, não só impedem que determinada população tenha acesso de forma democrática a
bens e serviços, como também determinam o sucesso das gerações futuras, especialmente as crianças
e jovens menos favorecidos. Na verdade, o custo
social que se impõe com a presença de elevados
índices de desigualdade em uma sociedade, acaba
traduzindo-se também num expressivo custo econômico, como veremos a seguir.
8.1 Por que a Desigualdade Prejudica o
Desempenho Econômico?
Vários são os aspectos sobre os possíveis malefícios que elevados índices de desigualdade acarre-
134
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tam sobre a geração de riqueza numa sociedade, os
quais podem ser classificados em 6 (seis) grupos distintos: a) O surgimento de atividades ilícitas; b) O
aumento nas despesas improdutivas; c) A restrição
de crédito; d) A presença de maior carga tributária;
e) A criação de instabilidade político-institucional;
e f) O tamanho do mercado interno.
Inicialmente podemos inferir que em sociedades muito desiguais, maiores são os incentivos para
que os indivíduos se engajem em atividades fora do
mercado formal como crimes, drogas, contrabandos, etc. Isso, além de configurar desperdício de
capital humano (que poderia estar sendo alocado
em alguma atividade produtiva), também contribui
para minorar a arrecadação tributária dos governos.
Por outro lado, a repressão a essas atividades
acarreta dispêndio de recursos que poderiam ser
usados em atividades produtivas. Muitas vezes, os
governantes são obrigados a aumentar seus gastos
no aparelhamento militar, construção e reformas de
delegacias, criação de centros de detenção, entre
outras atividades, que evidentemente são despesas improdutivas no sentido de ter pouco impacto
na capacidade de geração de riqueza. Para se ter
uma ideia da magnitude desses gastos no Ceará,
em 2008 a despesa total paga pelas Secretarias de
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135
Segurança Pública e de Justiça foram na ordem de
R$ 1,08 bilhões e R$ 175 milhões, respectivamente,
o que juntas representam aproximadamente 11,28%
da receita corrente do governo.
Outro argumento refere-se à presença da restrição de crédito. Sabe-se que o processo de desenvolvimento econômico é caracterizado pela complementaridade entre o capital físico e capital humano,
tal que o crescimento aumenta quando o capital humano também aumenta. Dessa forma, a restrição de
crédito prejudicaria a possibilidade dos indivíduos
mais pobres investirem em capital humano, já que
eles teriam maiores dificuldades em antecipar rendas futuras pela falta de garantias a esses empréstimos. Ademais, a falta de crédito também inibe o
espírito empreendedor presente naqueles indivíduos
mais carentes, o que dificulta novas gerações de negócios e renda nesse segmento da sociedade.
Questões relacionadas à decisão política dos
eleitores majoritários também surgem como importante argumento sobre os efeitos nocivos da desigualdade sobre o crescimento econômico (Person
e Tabellini, 1994; Alesina e Rodrik, 1994). A ideia
principal é que diante de uma distribuição desigual
de renda e riqueza o eleitor mediano, desprovido
de ativos e renda, desejará ganhos no curto prazo
através de uma redistribuição de renda do capital
136
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para o trabalho. Desta forma, através do processo
político, programas partidários que anunciam a taxação do capital tenderão a ser sancionados nas urnas, implicando o funcionamento da economia com
elevada carga tributária. Isso resultará em menor
acumulação de capital e, por conseguinte, menor
taxa de crescimento da economia no futuro.
Outro ponto a se observar é que os conflitos
sociais, decorrentes de uma forte desigualdade, podem levar a uma maior instabilidade político-institucional, gerando maiores incertezas no ambiente
econômico, reduzindo assim os investimentos e a capacidade da economia em se ajustar a choques (PEROTTI, 1996; RODRIK, 1998; BOURGUIGNON, 2003).
Por fim, em sociedades com elevada desigualdade, o
mercado consumidor tende a ser mais restrito. Isso
certamente terá efeito negativo nas vendas, ampliação das plantas das fábricas e nos projetos de investimentos por parte das empresas, limitando assim o
crescimento da atividade econômica.
Todos esses elementos estão presentes em
maior ou menor intensidade numa determinada
sociedade que apresente altos índices de desigualdade. Desse modo, é de se esperar que economias
com essas características possuam níveis de renda e
produto bem abaixo de seus níveis potenciais máxiLaboratório de Estudos
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137
mos. O Ceará, por exemplo, poderia ter um nível de
produção bem mais elevado com a mesma quantidade de fatores produtivos existentes atualmente.
Nesse contexto, far-se-á um exercício de simulação
para verificar a perda de renda que o estado do Ceará possui diante da desigualdade existente. A título de exemplo, vamos fazer uma comparação com
Santa Catarina, uma das unidades federativas com
melhor distribuição da renda no país. A ideia é verificar quanto se perde de renda e produto pelo fato
de não se ter uma distribuição de renda semelhante
a esse Estado. Para estimarmos a perda potencial
de produto e renda que o Ceará possui por não ter
um nível de desigualdade compatível a Santa Catarina utiliza-se a técnica de Análise de Regressão.
Essa técnica serve como ferramenta para se
analisar quantitativamente alguns fenômenos econômicos. Caso se queira analisar o efeito que uma
variável (explicativa) tem sobre outra (dependente), podemos estimar um modelo econométrico da
seguinte forma:
ln Rit = a + ci + ßlnGit + eit
onde: ln Rit : é logaritmo natural da Renda e variável dependente
do modelo
ln Git : é o logaritmo natural do coeficiente de desigualdade
de Gini, que é a variável explicativa.
138
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O termo ci pode ser entendido como fatores,
características individuais de cada Estado, que não
variam no tempo, mas, que afetam a variável dependente. Já o termo de erro, eit , é tido como um
representante de todas as demais variáveis que não
foram incluídas no modelo, porém que afetam ln Rit
, e que supomos atender algumas propriedades.
Os valores a e ß são coeficientes a serem estimados. O coeficiente ß estimado será responsável
por determinar o efeito da respectiva variável explicativa sobre a variável dependente do modelo.
Assim, nesse formato, a estimativa do coeficiente ß
nos dá a elasticidade da renda com respeito à desigualdade.
O R² é um coeficiente que mede a proporção
da variação total da variável dependente explicada
pelo modelo de regressão, ou seja, pelas variáveis
explicativas do modelo. Ele varia entre 0 e 1, caso
seu valor seja 1 significa um perfeito ajuste do modelo e se for 0 significa que não há nenhuma relação
entre a variável dependente e as explicativas. Então o ajuste do modelo é tanto melhor quanto mais
próximo o R² for de 1.
A partir dessa técnica, a Figura 8.1 ilustra a relação existente entre desigualdade e renda, tomando por base as 26 unidades federativas brasileiras,
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no decorrer de 13 anos (1995 a 2007) totalizando
338 observações.
Figura 8.1 — Relação entre Desigualdade e Renda
Fonte: elaborado por LEP/CAEN
Constata-se a partir da dispersão das observações, que existe uma relação inversa entre essas
duas variáveis, ou seja, Estados que apresentam
maiores níveis de desigualdade tendem a ter, em
média, menores níveis de renda. Essa relação pode
ser simplificada por uma reta de ajustamento entre as observações que no caso em questão apresenta um coeficiente angular negativo e que pode
ser comprovado
nas −estimativas apresentadas no
=
Quadro 8.1.
140
= de Estudos
Laboratório
da Pobreza (LEP)
CAEN – UFC
=
Movimento Ceará mais Justo
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ln Rit = 5,46 — 0,80 ln Git
(0,135) (0,088)
R2 = 0,337
No de Obs. = 338
Quadro 8.1 — Estimativas
Fonte: elaboração LEP/CAEN
Pode-se observar que o valor de -0,8 representa o valor da elasticidade entre as variáveis renda e
a desigualdade. Isso significa que para cada redução
de 1% na desigualdade, a renda familiar aumentaria em termos médios em 0,8%, ou de outra forma,
para um aumento na desigualdade de 10% se teria
uma queda na renda em 8%. O nível de ajustamento
do modelo dado pelo R² (0,33) aponta que 33% da
variação no logaritmo natural da renda é explicada
pela variação no logaritmo natural da desigualdade,
valor relativamente alto, uma vez que esse modelo considera apenas o efeito da desigualdade sobre
a renda, sem levar em conta outros fatores determinantes. Tomando por base então o valor médio
estimado de -0,8, pode-se calcular quanto se deixa de ganhar na renda pelo fato da desigualdade
no Ceará (0,5455) não está no nível de Santa CaLaboratório de Estudos
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141
tarina (0,4661). Essa redução significaria uma queda de aproximadamente 14,5% nesse índice. Como
a elasticidade estimada da renda com respeito à
desigualdade foi de -0,8 ou -80%, essa redução no
GINI significaria um aumento na renda de 11,64%
[
∆G
∆R
=β
= 11,64% = (-0,80).(-0,14)]. O estado
R
G
do Ceará poderia ter, então, um aumento médio de
11,64% na renda de cada indivíduo, o que representaria um acréscimo monetário de aproximadamente
R$ 41,00 por mês, já que a renda média é em torno
de R$ 352,00.
Considerando-se toda população, poder-se-ia
ter um acréscimo de mais de R$ 4,2 bilhões, o que
correspondendo a 7,2% do PIB em 2008.
142
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9 DIRETRIZES GERAIS
Tema 1: Planejamento
DIRETRIZ 1: RETOMAR A CAPACIDADE DE PLANEJAMENTO DE MÉDIO E LONGO PRAZO DO ESTADO:
Redefinição da função de planejamento, dissociando as atividades de gestão administrativa, e estabelecendo uma regionalização mais apropriada para o
Estado;
DIRETRIZ 2: GARANTIR RECURSOS PARA CONTINUIDADE E CONCLUSÃO DOS PROJETOS EM ANDAMENTO E PARA FINANCIAMENTO DAS NOVAS POLaboratório de Estudos
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LÍTICAS SOCIAIS: Planejamento orçamentário para
alocação dos recursos necessários para o financiamento dos projetos em andamento no Estado, bem
como das novas políticas sociais sugeridas;
DIRETRIZ 3: ADOTAR MODELO DE AVALIAÇÃO
DE IMPACTOS DAS POLÍTICAS PÚBLICAS ADOTADAS: É
função do Planejamento avaliar sistematicamente
os resultados das políticas, para medir sua eficácia
no sentido de atingir os objetivos desejados.
A regionalização tem sido um instrumento de
aperfeiçoamento do planejamento da ação pública
para tratar com as questões específicas dos diferentes espaços geográficos. Essas diferenças geográficas podem ser explicadas por razões naturais, tendo
em vista a diversidade de clima, relevo, solo e de
vegetação, que geram diferentes paisagens naturais, ou humanas, provocadas pelas diferenças culturais e de produção de riquezas, onde os espaços
regionais são profundamente modificados pela ação
dos homens.
A regionalização, portanto, é uma forma de
harmonizar os diferentes recortes regionais para
fins de planejamento governamental e de coordenação das ações das diversas instituições. Além de
fomentar a descentralização das políticas governamentais, estimula e facilita a participação da
144
Laboratório de Estudos
da Pobreza (LEP)
CAEN – UFC
Movimento Ceará mais Justo
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sociedade e, tomada como fim último, promove a
redução das desigualdades regionais via ações específicas de governo para a região, tendo em vista as
marcantes diferenças entre os subespaços estaduais
como as áreas de litoral, serras e sertão.
No caso do Ceará, torna-se oportuno a tentativa de uma regionalização que procure conciliar os
interesses conflitantes de atuação de diversas instituições estaduais, visto a multiplicidade de “regionalizações” adotadas atualmente, em função
da temática dos diferentes setores de atuação do
Governo do Estado, e que leve em consideração os
diversos recortes territoriais. Para se ter uma ideia
mais específica sobre as várias regionalizações levadas em consideração no Estado, basta dizer que,
além de sua divisão política, que engloba 184 municípios e 785 distritos, o Ceará está dividido em várias regiões como objetos de ações específicas das
mais diferentes instituições estaduais e mesmo instituições que não pertencem ou não estão ligadas
ao Executivo Estadual.
O Quadro 9.1, a seguir, apresenta algumas
regionalizações adotadas por instituições que não
pertencem ou não estão ligadas diretamente ao governo estadual:
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145
Instituições
Regionalização
07 mesorregiões
IBGE
33 microrregiões
SEBRAE
09 macrorregiões
APRECE
21 macrorregiões
Quadro 9.1 — Regionalizações Adotadas por Diferentes Instituições não
Pertencentes ao Governo Estadual
Por outro lado, o poder Executivo do Estado do
Ceará adota diferentes regionalizações, tendo em
vista atender às necessidades dos diversos Órgãos
estaduais, conforme se depreende do Quadro 9.2,
abaixo.
Órgãos
Tipo de Regionalização No de Regiões
Secretaria do Planejamento
Secretaria de Saúde
Secretaria da Educação
Macrorregião
8
Macrorregião
3
Microrregião
21
Macrorregião
21
Secretaria de Turismo
Macrorregião
Procuradoria Geral da Justiça
Unidade Regional
Secretaria de Desenvolvimento Agrário
EMATERCE
Territórios Rurais
13
CEACs
71
Secretaria da Cultura
Microrregião
20
Macrorregião
4
Secretaria da Fazenda
6
13
Microrregião
25
Secretaria de Infra-Estrutura - DERT
Distritos Operacionais
10
Secretaria das Cidades
PDR
5
Quadro 9.2 — Regionalizações Adotadas pelo Governo do Estado
146
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Para efeito de planejamento, o Ceará está dividido em 8 (oito) Macrorregiões de Planejamento
— MRPlan, assim definidas: Macrorregião da Região
Metropolitana de Fortaleza; Macrorregião Litoral
Oeste; Macrorregião Sobral/Ibiapaba; Macrorregião
Sertão dos Inhamuns; Macrorregião Sertão Central;
Macrorregião Baturité; Macrorregião Litoral Leste/
Jaguaribe; e Macrorregião Cariri/Centro Sul.
Certamente, essas regionalizações significam
uma forma de descentralização que objetiva transformar regiões administrativas em territórios de
desenvolvimento, aproximando o Governo dos cidadãos. Mas, essa profusão de divisões territoriais
dentro dessas regionalizações, não contribui para
um planejamento efetivo das ações governamentais. A multiplicidade de ações empreendidas pelos diferentes órgãos, muitas vezes, sem uma coordenação mais ampla, termina por fragilizar a ação
governamental, levando ao desperdício de recursos
públicos.
Se o Governo do Estado decidir implementar
uma política de desenvolvimento de médio e longo prazos, com o objetivo de minorar os efeitos
da pobreza e reduzir as disparidades de renda entre a população, fica difícil executá-la de maneira
harmoniosa, visto que a distribuição espacial de
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147
cada uma dessas regionalizações atualmente existentes, não guarda qualquer inter-relação entre as
mesmas e, mesmo aquelas instituições que apresentam uma “regionalização” com a finalidade de
implementar suas ações, o fazem sem nenhuma
argumentação teórica, baseado no empirismo e de
forma individualizada.
Ao lado disso, é importante estabelecer metas estratégicas setoriais para garantir os recursos
necessários para a conclusão de obras estruturantes que vêm sendo realizadas no Estado, as quais,
certamente, vão gerar externalidades importantes
para melhorar a produtividade da economia do Estado. Dentre essas obras destacaríamos o Cinturão
Digital, Centro de Eventos, Escolas Profissionalizantes, Hospitais Regionais, Metrôs, Implantação de
parques eólicos e de energia fotovoltaica e de biomassa, dentre outros.
Tema 2: Combate À Pobreza
DIRETRIZ 3: CRIAÇÃO DE UMA SECRETARIA INTERINSTITUCIONAL DE COMBATE À POBREZA: Teria a
função de gerar estudos, definir ações, coordenar,
em articulação com outras Secretarias, as ações do
Governo de combate à pobreza, e introduzir, no âm-
148
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bito estadual, a cultura de avaliação permanente
dos impactos das políticas adotadas. Essa Secretaria
seria responsável pela gestão dos recursos do FECOP
e do Projeto São José, bem como de todos os demais Programas ou Projetos de combate à pobreza;
DIRETRIZ 4: ESTABELECER UM PROGRAMA ESPECÍFICO DE ERRADICAÇÃO DA EXTREMA POBREZA NO
ESTADO: Programa com ações de curto e longo prazo, envolvendo políticas de transferências diretas
de renda, associadas a ações de longo prazo voltadas para a provisão da infra-estrutura básica, como
habitação, saúde, saneamento e abastecimento de
água, de forma a garantir a melhoria das condições
de vida dessa população;
DIRETRIZ 5: PRIORIZAÇÃO DE POLÍTICAS DE
COMBATE À POBREZA RURAL: Elaboração de estratégias para o desenvolvimento das áreas rurais do
Estado, de forma a manter a população nas cidades
e povoados do interior ocupada em atividades econômicas rentáveis;
DIRETRIZ 6: ELABORAÇÃO DE UM PROGRAMA DE
CRÉDITO (“PROJETO CONFIAR”) PARA OS ESTRATOS
MAIS POBRES DA POPULAÇÃO: Para garantir o acesso
ao crédito das camadas mais pobres da população,
não contempladas nos atuais programas de microcrédito, além de estimular o espírito empreendedor, conLaboratório de Estudos
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Diretrizes para um Crescimento Econômico com Equidade e Justiça Social
149
tribuindo para criação de novas oportunidades de trabalho. Uma das principais atribuições do Projeto deve
ser o acompanhamento das pessoas beneficiadas.
A pobreza é um importante problema a ser enfrentado pelos formuladores de políticas no Estado,
e que está relacionado diretamente ao elevado nível de desigualdade, conjugado ao baixo nível de
renda observado, o que reduz o bem-estar de parte
dessa população. Para um indivíduo não ser considerado pobre é preciso ter algumas necessidades
básicas atendidas, necessidades essas que não se limitam à obtenção de alimentos, mas também a moradias adequadas, saúde, educação, entre outras.
Com isso, indivíduos que possuem baixos níveis de
renda são privados de algumas dessas necessidades.
É importante destacar que a situação de pobreza
pode gerar um ciclo perverso, visto que, ao serem
privados dessas necessidades os indivíduos dispõem
cada vez menos de recursos para sair da pobreza,
podendo agravar ainda mais seu nível de privação.
Em vista desses desafios para combater a pobreza, o Estado tem um papel fundamental, ao definir políticas públicas focadas nesse público alvo,
tendo em vista atender a todas as necessidades
básicas dessa população mais pobre. Certamente,
o FECOP constitui um importante instrumento de
150
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governo para essa finalidade, muito embora, atualmente, esteja financiando ações difusas, que terminam desviando da finalidade para a qual foi criado.
O limite da pobreza poderia ser entendido
como a quantidade mínima de calorias que um homem necessita adquirir diariamente para garantir
sua sobrevivência. Nesse documento, vamos considerar a condição de extrema pobreza como sendo
essa condição básica. Nesse sentido, uma pessoa
extremamente pobre é entendida como aquela que
vive com renda mensal familiar per capita igual
ou inferior a 1/8 do salário mínimo vigente, que
corresponde a R$ 49,17, em 2006, e R$ 51,25, em
2008. A renda de 2006 foi deflacionada para reais de
2008 pelo Índice Nacional de Preço ao Consumidor
(INPC), que no período analisado foi de 12,39%.
A Tabela 9.1 apresenta o total de pessoas na
extrema pobreza em todas as unidades da federação de 2006 e 2008. O ranking apresentado é feito
a partir do ordenamento na forma decrescente pelo
número de pessoas nessa condição. Como pode ser
visto a grande maioria dos Estados conseguiu reduzir
o número de pessoas na extrema pobreza. O Ceará,
em 2006, era o terceiro Estado nessa situação, mas
teve um importante avanço em 2008, saltando para
a sexta posição, tendo a segunda maior variação entre os dois anos, com uma redução de 36,04%.
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151
Tabela 9.1 — Pessoas na Extrema Pobreza por Estado, 2008-2006
Unidades
2008
Nr. Pes
2006
RK
Nr. Pes
(06-08)%
RK
Var.
Rodônia
70.303 22
64.495 24
9,01%
Acre
45.750 25
63.064 25 -27,45%
Amazonas
274.888 13
298.219 13 -7,82%
Roraima
23.335 26
19.757 27 18,11%
Pará
381.362
9
538.266 7 -29,15%
Amapá
12.017 27
20.906 26 -42,52%
Tocantins
68.085 23
84.670 22 -19,59%
Maranhão
782.537
4
976.402 4 -19,86%
Piauí
367.707 10
445.929 10 -17,54%
Ceará
633.808
5
991.007 3 -36,04%
Rio Grande do Norte
285.735 12
218.998 15 30,47%
Paraíba
322.076 11
352.633 11 -8,67%
Pernambuco
825.867
3
951.086 5 -13,17%
Alagoas
386.871
7
449.441 9 -13,92%
Sergipe
145.806 17
145.928 17 -0,08%
Bahia
1.331.253
1 1.416.845 1 -6,04%
Minas Gerais
644.675
5
752.180 6 -14,29%
Espírito Santo
107.761 18
131.929 18 -18,32%
Rio de Janeiro
384.778
8
458.467 8 -16,07%
São Paulo
922.451
2 1.013.752 2 -9,01%
Paraná
240.642 15
267.001 14 -9,87%
Santa Catarina
66.138 24
92.064 20 -28,16%
Rio Grande do Sul
252.290 14
351.554 12 -28,24%
Mato Grosso do Sul
89.688 20
90.178 21 -0,54%
Mato Grosso
105.048 19
111.839 19 -6,07%
Goiás
186.763 16
173.792 16
7,46%
Distrito Federal
87.703 21
81.403 23
7,74%
Fonte: elaboração LEP/CAEN a partir da PNAD/IBGE
RK
25
6
18
26
3
1
8
7
10
2
27
17
14
13
22
20
12
9
11
16
15
5
4
21
19
23
24
A Tabela 9.2 apresenta a proporção de pessoas
em extrema pobreza, que é calculado dividindo o
número total de pessoas em extrema pobreza pelo
número total de pessoas na unidade federativa. O
Estado com maior proporção de pobres em 2006 era
152
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o Maranhão e continuou com essa posição em 2008,
contudo, obteve o sétimo melhor desempenho em
redução da pobreza com redução de 22,37%. Santa Catarina, que ocupa a última posição em termos
de pessoas extremamente pobres, nos dois períodos
teve o quinto melhor desempenho em termos de redução da extrema pobreza com 29,54% de redução.
Já o Ceará saiu da quarta posição para a nona entre os dois anos, e foi o segundo estado em termos
de redução da proporção de pessoas extremamente
pobres, com redução de 37,81%, ficando atrás apenas do Amapá com redução de 43,09%.
Tabela 9.2 — Proporção de Pessoas na Extrema Pobreza por Estado,
2008-2006
Unidades
Rodônia
Acre
Amazonas
Roraima
Pará
Amapá
Tocantins
Maranhão
Piauí
Ceará
Rio Grande do Norte
Paraíba
Pernambuco
Alagoas
Sergipe
Bahia
Minas Gerais
Laboratório de Estudos
da Pobreza (LEP)
CAEN – UFC
2008
P. P
RK
4,63%
15
6,61%
11
8,09%
9
5,54%
12
5,18%
14
1,92%
26
5,23%
13
12,23%
1
11,62%
3
7,48%
9
9,06%
6
8,49%
7
9,44%
4
12,19%
2
7,18%
10
9,14%
5
3,24%
19
2006
P. P
4,12%
9,50%
8,90%
4,87%
7,54%
3,38%
6,33%
17,57%
14,66%
12,03%
7,18%
9,72%
11,17%
14,70%
7,27%
10,14%
3,85%
RK
15
8
9
14
10
21
13
1
3
4
12
7
5
2
11
6
18
(06-08)%
Var.
RK
12,48%
25
-30,42%
4
-9,10%
19
13,74%
26
-31,37
3
-43,09%
1
-17,48%
10
-22,37%
7
-20,73%
8
-37,81%
2
26,24%
27
-12,66%
15
-15,42%
14
-17,07%
11
-1,22%
22
-9,83%
18
-15,93%
13
Movimento Ceará mais Justo
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Diretrizes para um Crescimento Econômico com Equidade e Justiça Social
153
Unidades
2008
2006
P. P
RK
P. P
Espírito Santo
3,13%
21
3,80%
Rio de Janeiro
2,45%
22
2,94%
São Paulo
2,26%
25
2,46%
Paraná
2,27%
24
2,56%
Santa Catarina
1,09%
27
1,54%
Rio Grande do Sul
2,32%
23
3,20%
Mato Grosso do Sul
3,78%
16
3,91%
Mato Grosso
3,49%
17
3,90%
Goiás
3,18
20
3,02%
Distrito Federal
3,47%
18
3,40%
Fonte: elaboração LEP/CAEN a partir da PNAD/IBGE
RK
19
24
26
25
27
22
16
17
23
20
(06-08)%
Var.
RK
-17,69%
9
-16,56%
12
-8,11%
20
-11,53%
16
-29,54%
5
-27,41%
6
-3,39%
21
-10,54%
17
5,27%
24
2,06%
23
Fazendo um corte por gênero, verifica-se pela
Tabela 9.3 que o total de pessoas abaixo da linha de
extrema pobreza em 2008 no Ceará é de 633.808,
sendo a maioria do gênero feminino, tendência essa
seguida tanto no Nordeste como no Brasil. No entanto, essa tendência se agravou no período, uma
vez que para as três regiões analisadas a redução
da pobreza foi maior para os homens do que para as
mulheres.
Tabela 9.3 — Extrema Pobreza por Gênero no Ceará, Nordeste e Brasil,
2008-2006
Brasil
2006
Variação
Masculino 286.046 456.657 -37,36% 2.360.243 2.802.125 -15,77% 4.096.076
4.821.998
-15,05%
Feminino 347.762 534.350 -34,92% 2.721.417 3.146.144 -13,50% 4.949.261
5.739.807
-13,77%
Total
10.561.805
-14,36%
2008
Ceará
2006 Variação
2008
Nordeste
2006 Variação
2008
633.808 991.007 -36,04% 5.081.660 5.948.269 -14,57% 9.045.337
Fonte: elaboração LEP/CAEN a partir da PNAD/IBGE
154
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O corte por idade é apresentado na Tabela 9.4
Praticamente todas as faixas etárias apresentaram
redução no número de pessoas pobres tanto para o
Ceará como para o Nordeste e Brasil, com exceção
das pessoas com mais de 66 anos. As faixas etárias
que apresentaram o melhor desempenho foram as
de 0 a 5 anos e as de 6 a 10, mostrando que a maior
parte da redução da extrema pobreza se deve às
pessoas em idade de dependência familiar.
Tabela 9.4 — Extrema Pobreza por Idade no Ceará, Nordeste e Brasil,
2008-2006
2008
0-5 113.525
6-10 99.116
11-17 123.449
18-65 296.126
66 ou
1.592
mais
Total 633.808
Ceará
Nordeste
2006 Variação 2008 2006 Variação
203.148
-44,12% 996.026 1.272.684
-21,74%
162.694
-39,08% 767.028 984.861
-22,12%
159.735
-22,72% 882.060 1.005.537
-12,28%
464.554
-36,26% 2.421.663 2.672.158
-9,37%
876
991.007
81,74%
14.883
12.029
-36,04% 5.081.660 5.948.269
14,23%
2008
1.826.289
1.306.235
1.478.519
4.368.937
65.357
Brasil
2006 Variação
2.420.003
-24,53%
1.636.901
-20,20%
1.660.661
-10,97%
4.808.620
-9,14%
35.620
83,48%
-14,57% 9.045.337 10.561.805
-14,36%
Fonte: elaboração LEP/CAEN a partir da PNAD/IBGE
Por fim, fazemos o último corte, considerando
os anos médios de estudos para as pessoas maiores
de 15 anos (Tabela 9.5). O Ceará apresentou, nesse
segmento, um desempenho melhor que o Nordeste e Brasil, com uma redução de 34,58%. Ademais,
percebe-se que a melhora ocorreu especialmente
nos níveis mais baixos de instrução. Para as duas
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155
primeiras classes, a diminuição do número de pessoas extremamente pobres foi maior que a diminuição total, com exceção da primeira classe no Brasil.
Isso pode ser um indicativo de que as classes de
pior nível educacional foram as que obtiveram as
maiores reduções. Já para na classe com maior nível educacional houve um aumento no número de
pessoas em situação de extrema pobreza.
Tabela 9.5 — Pessoas Acima de 15 anos em Condição de Extrema
Pobreza por Anos de Estudo no Ceará, Nordeste e Brasil, 2008-2006
Ceará
2008 2006
Sem
Instrução
Var.
2008
Nordeste
2006
Var.
78.710 131.009 -32,92% 649.077 731.551 -11,27%
2008
Brasil
2006
Var.
941.092 1.000.986 -5,98%
1-4
84.912 155.894 -45,53% 832.353 1.009.037 -17,51% 1.337-027 1.670.015 -19,94%
5-8
108.065 160.856 -32,82% 811.893 886.829 -8,45% 1.553.205 1.720.437 -9,72%
9-12
66.281 71.503 -7,30% 448.463 400.963 11,85% 1.053.089 1.010.080 4,26%
Mais de 12
2.261
1.312 72,33%
26.323
17.059 54,31%
113.681
72.788 56,18%
Sem declaração
2.799
3.735 -25,06%
9.612
8.108 18,55%
23.756
23.417 1,45%
Total
343.028 524.319 -34,58% 2.777.721 3.053.547 -9,03% 5.0212.850 5.497.723 -8,66%
Fonte: elaboração LEP/CAEN a partir da PNAD/IBGE
Como se depreende dos dados apresentados,
a pobreza é mais contundente no meio rural ou em
pequenos povoados, onde as pessoas são dependentes, principalmente, das atividades agropecuárias
156
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de subsistência, seja de sequeiro ou de pequena
irrigação. De maneira geral, observa-se que os problemas fundamentais da pobreza, desigualdade e
desemprego têm origem na vida econômica das áreas rurais.
A característica da pobreza rural no Ceará reside no fato de que a maioria das pessoas está concentrada em áreas de baixo potencial, dependendo
para viver de terras marginais e de microfúndios.
Assim, a produção de alimentos tem prioridade sobre a conservação do meio ambiente dessas terras
vulneráveis. Outro motivo da pobreza rural é que
a maior parte da produção é de qualidade inferior,
com baixa produtividade, sendo destinada ao consumo dos próprios estabelecimentos e famílias dos
produtores. Além disso, as políticas federais de preços agrícolas baixos são favoráveis às populações
urbanas, mas fatais para os produtores de alimentos
e matérias primas.
Outra causa do fraco desempenho da agricultura cearense decorre da ênfase mal colocada na industrialização, baseada nos incentivos para a atração de empresas, localizadas nos principais centros
urbanos do Estado. Sabe-se que o desenvolvimento
industrial permite dar velocidade às taxas de crescimento econômico e acelera a modernização, mas
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157
sem o desenvolvimento agrícola paralelo e complementar, resulta em concentração da renda, geração
de pobreza no meio rural e caos social em toda a
sociedade.
Apesar dos esforços já empreendidos pelas várias gestões do Estado para resolver as causas originais da pobreza no campo, ainda são muitas as
dificuldades em aumentar a produção e a produtividade da agricultura de subsistência em benefício
dos pequenos produtores. Os incentivos oferecidos
até agora não estão sendo suficientes para superar
o subdesenvolvimento do campo. Os agricultores
tradicionais ainda resistem às mudanças porque são
analfabetos e não estão suficientemente organizados para o processo produtivo e a comercialização
dos seus produtos.
Nos últimos 30 anos o Ceará foi dotado de razoável infra-estrutura de estradas, recursos hídricos,
educação, saúde, energia, comunicações e de apoio
ao cidadão. No segmento social, também ocorreram inúmeros avanços: bolsa família, aposentadoria
rural, Programa de Saúde da Família, segura-safra,
merenda escolar e outros. No entanto, esses avanços não foram acompanhados pelo setor produtivo
primário do Ceará. Um indicador emblemático desse hiato é o caso do algodão mocó, cuja produção
158
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caiu de 1,3 milhão de hectares, em 1980, para 4
mil, em 2009.
O desafio, portanto, para os governantes, é
identificar atividades econômicas rentáveis e competitivas para incrementar a renda e gerar empregos produtivos para a mão-de-obra disponível ou
subutilizada do meio rural, de maneira a reduzir
a pobreza absoluta. Ao mesmo tempo é necessária
a adoção de políticas adequadas, baseadas em um
modelo onde a qualidade, a equidade e a competitividade substituam as disparidades na distribuição
dos benefícios do desenvolvimento.
A realidade nos tem mostrado que, por mais
forte que possa ser um programa para a agricultura,
a população rural tenderá a emigrar para a marginalidade das cidades se não forem criadas oportunidades econômicas alternativas de renda no próprio
quadro rural. As agroindústrias e outros ramos neutros (sem ligação direta com a agricultura) podem
significar um elemento-chave para introduzir novas
atividades nas comunidades do interior e ter um
efeito indireto no emprego rural para as famílias
dos produtores locais. Uma boa articulação do setor
agropecuário com os setores industrial e de serviços
é fundamental para que todos sejam beneficiados
com essa solução. A escolha das indústrias a serem
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159
instaladas, por exemplo, deve levar em conta o impacto que provocarão na economia local e na criação de trabalho produtivo para os desempregados
das áreas rurais. Enfim, como a história econômica
comprova, criar oportunidades de emprego no meio
rural constitui uma das alternativas mais eficazes
para erradicar definitivamente a pobreza em nosso
Estado.
Outro desafio está relacionado com a urbanização do campo, de maneira a evitar os processos
migratórios para os poucos centros dinâmicos do Estado. A urbanização dos países desenvolvidos ocorreu através do aumento da produtividade agrícola,
levando a que uma população cada vez menor suprisse as necessidades alimentares dos habitantes
nas cidades. Atualmente, apenas 3% da população
empregada na agricultura produz o suficiente para
atender o consumo interno desses países e, muitas
vezes, com excedentes para exportação.
No nosso caso, no Nordeste e, particularmente, aqui no Ceará, o processo de urbanização tem
ocorrido, mas com uma diferença fundamental: ao
tempo em que ocorre a saída da população do campo para a cidade, não tem melhorado a produtividade agrícola e, na maioria dos casos, tem ocorrido
diminuição da produtividade média com elevação
160
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Diretrizes para um Crescimento Econômico com Equidade e Justiça Social
das necessidades de importação de alimentos. Temos hoje na agricultura do Ceará cerca de 35% da
população ocupada, ou seja, 1,2 milhões de pessoas
produzindo apenas 7% do produto interno do Estado. Há excedente de pelo menos 600 mil pessoas
ocupadas na agropecuária.
A solução viável para redução da pobreza rural
é, certamente, o Governo promover o desenvolvimento do interior, mantendo a população nas cidades e povoados do interior ocupada. Além disso,
uma política de desenvolvimento rural necessita,
também, de investimentos em infra-estrutura básica de saneamento, habitação e serviços sociais de
saúde e educação. Sai bem mais barato para o Governo investir na melhoria das condições de vida da
população rural do que nas grandes cidades.
Outra ação fundamental para combater a pobreza rural é ajudar o agricultor com tecnologia,
através de uma orientação técnica adequada às
necessidades dos pequenos produtores rurais do
Estado. Essa estratégia se apóia nos programas de
capacitação, os quais devem compreender toda a
população agrícola do Estado. Ao lado disso, temos
a educação como o grande desafio para acelerar o
crescimento e melhorar a distribuição de renda no
meio rural. A luta contra o analfabetismo constitui
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Diretrizes para um Crescimento Econômico com Equidade e Justiça Social
161
um meio eficaz para mobilizar a população rural em
torno dos objetivos do desenvolvimento.
A educação de adultos é de rentabilidade imediata. O adulto já possui conhecimento e experiência no campo da produção, podendo dedicar-se com
mais eficiência a outras atividades não agrícolas.
Neste particular, se encontra a chave para a redução rápida da população ocupada diretamente nas
lides agrícolas para outras atividades mais rentáveis
do próprio quadro rural. É a transformação estrutural da economia e emprego com vistas a aumentar
o nível de renda das famílias beneficiadas e suas
comunidades. Mas o realmente importante é que os
índices de desenvolvimento social podem ser alterados rapidamente pela melhoria da educação.
É fácil perceber que a educação pode ser um
ativo mais bem distribuído do que qualquer outro. Ela
é personalizada, enquanto os demais ativos tendem a
ficar nas mãos de poucos. Assim, com o crescimento
da educação, automaticamente há uma melhoria na
distribuição da riqueza. É por esse motivo que a desigual acumulação de capital humano explica a disparidade de renda e pobreza rural do Ceará. Vale lembrar que nenhum país do mundo saltou da agricultura
tradicional e de subsistência para a modernidade sem
educação e capacitação dos agricultores.
162
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9.1 Adendo: O Custo Financeiro da Extinção
da Extrema Pobreza no Ceará
A inserção deste adendo representa um exercício complementar para a análise desenvolvida anteriormente, servindo como indicativo do custo que o
Governo estadual teria para acabar com a extrema
pobreza no Ceará, dentro de uma estratégia de curto prazo, considerando-se dois períodos de análise,
os anos de 2006 e 2008.
Sem dúvida, uma das estratégias de curto prazo para extinguir a extrema pobreza consiste na
transferência de recursos de forma direta às pessoas que são consideradas extremamente pobres, até
o limite em que possam sair dessa situação. Para a
extinção da extrema pobreza no Ceará, em 2006,
eram necessários 22,96 milhões de reais por mês,
somando 275,60 milhões no ano.
Para o ano de 2008 a quantia mensal reduziu
para 13,93 milhões e a soma para 167,18 milhões,
uma redução de 39,34%, superior a redução do Nordeste e o Brasil que foram, respectivamente, 9,81%
e 9,89% (Tabela 9.6). No Ceará a maior redução se
deve à zona urbana e à zona rural indo no sentido
contrário ao Brasil que teve a região metropolitana
como a maior responsável pela redução dos valores
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Diretrizes para um Crescimento Econômico com Equidade e Justiça Social
163
que devem ser transferidos para acabar com a extrema pobreza.
A realidade nos mostra que ainda temos no Ceará uma população estimada em 633 mil pessoas vivendo em extrema pobreza, algo em torno de 7% da
população. A extinção desse quadro é possível, pois
só os recursos do FECOP, estimados em 250 milhões/
ano, são mais do que suficientes para financiar um
programa de erradicação da extrema pobreza em
nosso estado. Tudo é uma questão de opção política
do futuro governador.
Portanto, o desafio que se impõe ao próximo
governo é tirar essa geração, formada, principalmente, por jovens na faixa de 0 a 15 anos de idade,
dessa situação, ou deixar que ela suceda seus pais
na mesma condição social. Só uma decisão política
pela implantação de um programa de inclusão social pode mudar essa realidade que nos agride.
Tema 3: Educação
DIRETRIZ 7: MELHORAR A GESTÃO DAS ESCOLAS PÚBLICAS: Devido às diferenças de desempenho
entre escolas públicas e privadas e entre escolas públicas do mesmo Estado, é importante estabelecer
metas de evolução da qualidade e premiar escolas/
164
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Tabela 9.6 — Renda Mensal a ser Transferida para acabar com a Extrema Pobreza por Zona Metropolitana,
Urbana e Rural no Ceará, Nordeste e Brasil, 2008-2006
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Ceará
2008
2006
Nordeste
Var.
2008
2006
Brasil
Var.
2008
2006
Var.
Metropolitana
6.008.197,06
7.667.929,31 -21,65%
21.038.628,32
23.510.012,30 -10,51%
69.099.568,08
80.828.786,44
-14,51%
Zona Urbana
3.722.006,60
7.321.040,51 -49,16%
55.045.175,15
59.486.483,10 -7,47%
127.271.792,10
135.839.938,30
-6,31%
Zona Rural
4.201.730,89
7.977.892,91 -47,33%
53.874.821,29
61.093.264,00 -11,82%
75.628.492,63
85.184.296,65
-11,22%
Total Mensal
13.931.934,55
22.966.862,73 -39,34%
129.958.624,80
144.089.759,00 -9,81%
271.999.852,80
301.853.021,40
-9,89%
Total Anual
13.183.214,60 275.602.352,70 -39,34% 1.559.503.498,00
1.729.077.112,00 -9,81% 3.263.998.234,00 3.622.236.257,00
-9,89%
Fonte: Elaboração LEP/CAEN a partir da PNAD/IBGE
165
redes que atinjam metas; avaliar periodicamente
os alunos e professores; instituir bônus para professores e funcionários que alcançarem as metas;
implementar políticas de retenção dos melhores
professores; realizar cursos de gestão escolar; organizar e incentivar o funcionamento de conselhos de
administração nas escolas integrados por professores, gestores e pais de alunos.
DIRETRIZ 8: RACIONALIZAR GASTOS: Uma política educacional de racionalização de gastos deve
levar em consideração os seguintes aspectos: elevar
o número de horas-aula; diminuir tamanho da turma
não é prioridade: apenas para turmas muito grandes; estruturar currículo básico para toda a rede;
extinguir o abono de faltas; realizar a avaliação de
programas de capacitação e qualificação de docentes; reduzir o absenteísmo de docentes e ausências
imotivadas.
DIRETRIZ 9: DAR TRANSPARÊNCIA AOS RESULTADOS ALCANÇADOS PELA ESCOLA PÚBLICA: Desenvolver e divulgar programas de atividades nas comunidades em que as escolas estão inseridas para
que todos conheçam sua qualidade e suas potencialidades, buscando o envolvimento dos pais de alunos, professores e servidores; divulgar amplamente
resultados das avaliações; desenvolver mecanismos
166
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de incentivo para que os pais monitorem a presença
de professores na escola e a qualidade de ensino
ministrado; premiar melhores alunos e melhores escolas: incentivar a introdução de programas inovadores e avaliá-los.
DIRETRIZ 10: ELABORAR UMA LEI DE RESPONSABILIDADE SOCIAL, VOLTADA PARA EDUCAÇÃO NOS
MUNICÍPIOS: O Governo estadual deve editar uma
lei proibindo o repasse voluntário de verbas pelo Estado ao Município que não cumprir suas atribuições
para com a educação. A Constituição da República
dedica inúmeros dispositivos à educação, por sua
importância decisiva para o progresso, na realização pessoal, para a própria felicidade das pessoas, a
segurança pública e a paz na sociedade. A sugestão
para essa iniciativa do Governo estadual está amparada no Art.24, da Constituição Federal, que dispõe
sobre a competência da União, Estados e Distrito
Federal para legislar concorrentemente sobre educação, cultura, ensino e desporto.
DIRETRIZ 11: AMPLIAÇÃO DO PROGRAMA DE IMPLANTAÇÃO DE ESCOLAS DE TEMPO INTEGRAL COM
ÊNFASE PARA O ENSINO MÉDIO PROFISSIONALIZANTE, PRIORIZANDO AS VOCAÇÕES E POTENCIALIDADES
ECONÔMICAS LOCAIS: A melhoria de competitividade do setor produtivo do Estado precisa contar com
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167
trabalhadores dotados de competência técnica adequada, de nível médio, de elevada produtividade.
Esta é uma pré-condição para o desenvolvimento,
pois, cada vez mais, educação, ciência e tecnologia passam a assumir um papel decisivo no processo
produtivo moderno;
DIRETRIZ 12: CRIAÇÃO DO PROGRAMA “ESCOLA DIGITAL”: Estabelecer metas para os próximos
quatro anos, visando dotar toda a rede pública estadual com laboratórios pedagógicos de informática, compreendendo terminais de computadores
ligados à internet através de cabos de fibra ótica,
em número suficiente para atender todos os alunos
e professores;
DIRETRIZ 13: CRIAÇÃO DE CENTROS DE LÍNGUAS ESTRANGEIRAS NOS MUNICÍPIOS CEARENSES:
A experiência exitosa do município de Sobral deve
servir de exemplo para difusão desses Centros nos
diversos municípios cearenses, tendo em vista as
inúmeras oportunidades de negócios internacionais
que se vislumbram para o Estado.
O tema EDUCAÇÃO assume grande importância
quando se trata da proposição de políticas públicas
que visam a mudanças profundas nas sociedades e
na economia em particular. Os exemplos de países
que ao longo de sua história encararam a educa-
168
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ção como um elemento estratégico de desenvolvimento, comprovam, efetivamente, a sua relevância
para a explicação de seus atuais padrões de vida e
de bem-estar.
A educação de qualidade constitui um instrumento inequívoco de mobilidade social, de participação efetiva na vida social e de progresso integral
do cidadão. O cidadão com boa educação amplia
suas possibilidades de escolha, tornando-se apto a
um amplo leque de oportunidades, além de elevar
suas perspectivas de trabalho e de realizações individuais e coletivas. Assumi-la como a mais importante
de todas as prioridades é preparar a sociedade para
os desafios de um futuro fundado no conhecimento
e no progresso tecnológico sustentável, contribuindo de forma determinante para a efetiva redução
da miséria, da pobreza e das desigualdades.
As políticas de transferência de renda, quando desvinculadas de outras políticas, entre as quais
se destaca a educação, podem minorar os estados
de pobreza e miséria circunstancialmente, mas não
alteram efetivamente as reais necessidades de progresso econômico e social das sociedades no longo
prazo. Isso só vai ser possível com melhoria do padrão educacional da população e sua evolução, pois
fundamentam a rápida elevação da eficiência técniLaboratório de Estudos
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169
ca e a expansão da produtividade total dos fatores
de produção do conjunto da economia, resultando,
como consequência, na melhoria do padrão de vida
das sociedades.
Os países que possuem elevados padrões educacionais são responsáveis pela expansão do conhecimento, da tecnologia e do ritmo de absorção de
tecnologia gerada em distintos lugares, os quais se
configuram fatores estratégicos do desenvolvimento econômico. Por outro lado, pouca disponibilidade e baixa qualidade educacional da mão-de-obra
podem constituir-se em fatores inibidores do crescimento econômico.
Os dados da evolução dos índices de aprovação no Ensino Fundamental Regular, de 2005 a 2009,
apresentados nas Tabelas 9.7 e 9.8, a seguir, mostram
que apesar do crescimento dos aspectos quantitativos no estado do Ceará, a qualidade dos padrões
educacionais é baixa, quando comparada com os de
outras regiões do Brasil, notadamente Sul e Sudeste.
Além disso, dentro do próprio Estado, observam-se
padrões bastante distintos entre as escolas públicas
e privadas. Assim, torna-se mais que urgente uma reestruturação da política educacional do Estado, para
que, mantida sua persistência no longo prazo, os seus
efeitos positivos possam ser sentidos.
170
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Tabela 9.7 — Taxa de Aprovação — Ensino Fundamental Regular — Séries Iniciais (até a 4ª série) — Brasil,
Regiões Geográficas e Unidades da Federação. 2005 e 2009
Região/
Unidade da
Federação
TAXA DE APROVAÇÃO - 2009
TAXA DE APROVAÇÃO - 2005
Rede
SI a 4a
SI
1a
2a
3a
4a
Movimento Ceará mais Justo
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Diretrizes para um Crescimento Econômico com Equidade e Justiça Social
Indicador de
Rendimento SI a 4a
(P)
0,83
88,5
0,81
87,3
0,97
97,6
0,80
86,2
0,86
91,1
0,74
81,0
0,80
85,7
0,97
97,1
0,75
83,6
0,74
80,4
0,95
96,7
0,93
95,8
0,97
98,1
0,89
92,5
0,85
90,9
0,96
98,2
171
Brasil
Total
81,6 89,5 76,2 80,1 84,6 84,8
Brasil
Pública
80,0 89,4 74,1 78,1 83,0 83,4
Brasil
Privada(1) 97,1 95,1 96,5 97,4 97,6 97,3
Brasil
Municipal 78,1 88,9 71,7 76,1 81,0 82,4
Brasil
Estadual 85,5 91,7 82,4 84,1 88,6 85,7
Norte
Total
71,8 87,0 61,3 71,5 77,0 80,3
Norte
Estadual 77,5 92,2 69,2 76,3 80,3 83,3
Norte
Privada(1) 96,7 100,0 95,4 96,9 97,2 97,4
Nordeste
Total
73,1 83,5 66,9 71,8 75,8 77,9
Nordeste
Estadual 73,8 80,0 68,4 70,1 77,6 77,0
Nordeste
Privada(1) 96,0 91,6 95,1 96,6 96,5 96,4
Sudeste
Estadual 92,4 95,0 94,2 90,6 95,9 88,8
Sudeste
Privada(1) 98,0 95,1 97,8 97,9 98,4 97,8
Sul
Total
98,8 9,60 83,4 86,7 90,4 90,2
Sul
Estadual 86,3 79,0 79,3 88,0 89,5 88,3
(1)
Sul
Privada
97,5 91,5 96,3 97,9 90,0 98,0
CentroTotal
83,8 90,8 78,8 82,2 85,7 87,0
0,85
90,9
Oeste
CentroEstadual 83,0 89,7 78,5 80,4 84,9 86,0
0,84
91,0
Oeste
CentroPrivada(1) 97,3 97,3 96,6 97,4 97,6 97,3
0,97
98,3
Oeste
Ceará
Total
81,3 87,7 78,7 80,9 81,3 82,1
0,82
89,0
Ceará
Estadual 78,7 89,4 78,1 81,8 74,1 80,6
0,80
85,0
Ceará
Privada 96,8 95,7 96,1 97,4 97,2 96,9
0,97
96,5
Fonte: MEC/Inep.
Notas: (1) Médias da Prova Brasil/SAEB 2009 e Ideb 2009 calculados somente com
Indicador de
Rendimento
(P)
0,89
0,88
0,98
0,86
0,92
0,82
0,86
0,97
0,84
0,81
0,97
0,96
0,98
0,92
0,91
0,98
SI
1a
2a
3a
4a
94,9
94,5
97,4
94,2
96,2
92,0
94,2
96,4
92,3
88,5
96,0
97,9
97,8
98,3
98,3
991,
86,4
84,9
97,4
83,3
91,1
74,0
83,8
96,3
82,2
79,5
96,4
98,0
98,1
88,5
86,9
97,3
85,1
83,5
97,8
82,0
88,8
77,1
80,5
97,3
79,8
78,0
97,2
94,4
98,1
90,1
89,0
98,1
89,2
88,0
97,9
86,7
92,2
82,7
86,7
97,6
83,3
80,2
97,0
97,8
98,4
92,7
90,0
98,4
89,1
88,0
97,6
87,3
90,1
85,3
87,6
97,8
84,2
80,4
96,9
92,8
97,9
93,1
91,1
98,2
96,7
87,7
87,6
90,6 92,6
0,91
97,1
90,8
85,4
90,7 92,9
0,91
98,3
98,0
98,4
98,3 98,5
0,98
93,5 88,8 87,3 87,8 88,5
86,0 89,5 86,3 84,2 83,4
95,2 96,5 97,2 96,8 96,7
0,89
0,86
0,96
as escolas urbanas
172
Tabela 9.8 — Taxa de Aprovação — Ensino Fundamental Regular — Séries Finais (5a. a 8a. Série) -Brasil, Regiões
Geográficas e Unidades da Federação 2005 e 2009
Região/Unidade
da Federal
Rede
5a a 8a
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TAXA DE APROVAÇÃO - 2005
TAXA DE APROVAÇÃO - 2009
Indicador de
Indicador de
6a
7a
8a
5a a 8a 5 a
6a
7a
8a
Rendimento (P)
Rendimento(P)
72,9 77,1 79,5 79,7
0,77
81,3 77,7 81,4 83,6
83,7
0,52
70,8 75,3 77,7 77,9
0,75
79,7 75,7 79,8 82,1
82,2
0,80
94,9 94,4 94,5 94,2
0,94
94,6 95,2 94,3 94,5
94,3
0,95
67,3 73,1 76,8 80,3
0,74
78,6 73,3 78,1 81,9
84,6
0,79
73,8 76,9 78,4 76,5
0,76
80,5 77,9 81,1 82,3
80,8
0,80
71,0 75,7 78,5 78,9
0,76
79,2 74,9 79,2 82,0
82,9
0,80
72,0 75,4 77,5 77,3
0,75
77,9 74,5 77,8 79,9
80,2
0,78
95,6 95,3 95,5 93,8
0,95
95,1 95,2 95,0 95,3
94,7
0,95
61,9 69,6 73,1 77,1
0,70
75,5 68,8 75,2 79,4
82,0
0,76
58,8 67,1 70,5 73,0
0,67
70,7 62,7 70,2 74,8
76,7
0,71
92,5 92,3 92,4 91,7
0,92
93,3 93,8 93,3 93,2
92,7
0,93
83,6 84,2 85,3 80,7
0,83
85,5 84,7 86,7 86,8
83,8
0,85
83,4 83,8 83,8 76,9
0,82
84,9 85,2 87,5 86,0
81,0
0,85
95,9 95,1 95,3 95,2
0,95
95,0 95,7 94,5 9,50
94,9
0,95
75,9 77,0 79,4 84,2
0,79
82,2 79,9 80,7 82,6
86,8
0,82
73,4 74,4 76,6 81,3
0,76
80,6 78,5 79,0 80,9
84,6
0,81
96,8 96,1 95,6 95,7
0,96
95,7 96,5 95,7 95,3
95,5
0,96
72,6 75,2 76,7 77,4
0,75
83,3 81,4 83,1 84,8
84,4
0,83
69,4 72,3 73,9 73,3
0,72
80,8 78,6 80,7 82,7
81,3
0,81
94,8 94,1 94,1 94,4
0,94
94,6 95,4 94,5 94,3
94,1
0,95
61,9 69,6 73,1 77,1
0,70
75,5 68,8 75,2 79,4
82,0
0,76
58,8 67,1 70,5 73,0
0,67
70,7 62,7 70,2 74,8
76,7
0,71
92,5 92,3 92,4 91,7
0,92
93,3 93,8 93,3 93,2
92,7
0,93
71,8 76,0 78,9 79,7
0,76
84,5 80,3 84,0 85,8 89,2
0,85
72,5 75,3 76,9 76,1
0,75
82,2 77,7 79,5 82,0 86,0
0,81
94,2 93,4 93,1 92,5
0,93
94,0 94,3 94,1 93,8 93,6
0,94
5a
Brasil
Total
77,0
Brasil
Pública
75,0
Brasil
Privada
94,5
Brasil
Municipal 73,2
Brasil
Estadual
76,3
Norte
Total
75,3
Norte
Estadual
75,3
Norte
Privada
95,1
Nordeste
Total
69,3
Nordeste
Estadual
66,8
Nordeste
Privada
92,2
Sudeste
Total
83,5
Sudeste
Estadual
82,1
Sudeste
Privada
95,4
Sul
Total
78,8
Sul
Estadual
76,1
Sul
Privada
96,1
Centro-Oeste
Total
75,2
Centro-Oeste
Estadual
72,1
Centro-Oeste
Privada
94,4
Nordeste
Total
69,3
Nordeste
Estadual
66,8
Nordeste
Privada
92,2
Ceará
Total
76,2
Ceará
Estadual
75,4
Ceará
Privada
93,4
Fonte: MEC/Inep.
Notas: (2) Médias da Prova Brasil/SAEB 2009 e Ideb 2009 não calculados devido à perda amostral.
(3) Médias da Prova Brasil/SAEB 2009 e Ideb 2009 calculados sem as escolas privadas.
Outro importante indicador da qualidade da
educação no Estado é o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), criado pelo Instituto
Nacional de Estudos e de Pesquisas Educacionais —
INEP, formado a partir da agregação de dois conceitos de grande importância para a qualidade da
educação: fluxo escolar e médias de desempenho
nas avaliações. É calculado com base na taxa de
rendimento escolar (aprovação e evasão) e no desempenho dos alunos no SAEB (Sistema Nacional de
Avaliação da Educação Básica) e na Prova Brasil.
Quanto maior for a nota da instituição no teste e
quanto menos repetências e desistências ela registrar, melhor será a sua classificação, numa escala
de zero a dez. O índice permite um mapeamento
detalhado da educação brasileira, com dados por
escolas, municípios e estados, além de identificar
quem são os que mais precisam de investimentos e
cobrar resultados.
De acordo com os dados da Tabela 9.9, a seguir, os resultados mais recentes no Ceará apontam
a média de 4,4 para as séries iniciais do Ensino Fundamental e 3,9 para as últimas séries do Ensino Fundamental. Em 2005, as médias eram mais baixas:
3,2 e 3,1, respectivamente. Como se observa, os
números cresceram, mas, apesar disso, ainda são
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da Pobreza (LEP)
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Diretrizes para um Crescimento Econômico com Equidade e Justiça Social
173
muito inferiores aos dos países desenvolvidos, que
apresentam média de 6,0. O objetivo do Governo
Federal é alcançar essa marca até 2021.
Tabela 9.9 — IDEB — Ensino Fundamental Regular — Brasil, Regiões
Geográficas e Unidades da Federação, 2005, 2007 e 2009
Região/
Unidade da
Federação
Brasil
Brasil
Brasil
Brasil
Brasil
Norte
Norte
Norte
Nordeste
Nordeste
Nordeste
Sudeste
Sudeste
Sudeste
Sul
Sul
Sul
Centro-Oeste
Centro-Oeste
Centro-Oeste
Ceará
Ceará
Rede
Total
Pública
Privada(1)
Municipal
Estadual
Total
Estadual
Privada(1)
Total
Estadual
Privada(1)
Total
Estadual
Privada(1)
Total
Estadual
Privada(1)
Total
Estadual
Privada(1)
Total
Estadual
Séries Iniciais
(até a 4a série)
IDEB
IDEB
IDEB
2007
2005
2009
(N X
(N X P)
(N X P)
P)
3,8
4,2
4,6
3,6
4,0
4,4
5,9
5,0
6,4
3,4
4,0
4,4
3,9
4,3
4,9
3,0
3,4
3,8
3,2
3,6
4,2
5,5
5,6
5,9
2,9
3,5
3,8
2,9
3,3
3,7
5,4
5,5
5,8
4,6
4,8
5,3
4,5
4,7
5,4
6,3
6,3
6,8
4,4
4,8
5,1
4,2
4,6
4,9
6,2
6,3
6,7
4,0
4,4
4,9
3,9
4,5
5,0
5,9
5,9
6,4
3,2
3,8
4,4
3,2
3,5
4,2
Anos Finais
(5a a 8a série)
IDEB
IDEB
IDEB
2005 2007
2009
(N X P) (N X P) (N X P)
3,5
3,2
5,8
3,1
3,3
3,2
3,1
5,4
2,9
2,6
5,3
3,9
3,6
6,1
3,8
3,5
6,1
3,4
3,1
5,5
3,1
2,8
3,8
3,5
5,8
3,4
3,6
3,4
3,3
5,3
3,1
2,8
5,4
4,1
3,8
6,1
4,1
3,9
6,1
3,8
3,5
5,7
3,5
3,4
4,0
3,7
5,9
3,6
3,8
3,6
3,5
5,3
3,4
3,0
5,5
4,3
4,1
6,0
4,3
4,0
6,2
4,1
3,8
5,8
3,9
3,6
Ceará
Privada
5,4
5,5
5,9
5,5
5,4
5,4
Fonte: MEC/Inep.
Notas: (2) Médias da Prova Brasil/SAEB 2009 e Ideb 2009 não calculados devido à
perda amostral.
(3) Médias da Prova Brasil/SAEB 2009 e Ideb 2009 calculados sem as escolas
privadas.
174
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A partir desses números, fica evidente a importância do papel que a Secretaria de Educação do
Estado deve desempenhar na articulação ativa das
políticas educacionais frente aos municípios, para
que os resultados sejam alcançados sem disparidades gritantes entre regiões do Estado. Embora o Estado se ocupe do ensino de 2° grau e os municípios
tenham a responsabilidade pelo ensino fundamental, nenhum efeito significativo de transformação
da educação será alcançado no longo prazo se não
houver uma política educacional articulada no âmbito estadual.
Na realidade, apesar da ênfase do Texto Constitucional, assegurando ensino fundamental obrigatório, gratuito, no Brasil, e a manifestação unânime
de políticos, intelectuais, magistrados e policiais,
enfatizando a necessidade de priorização da educação para minimizar os problemas sociais, constata-se, no geral, certo descaso de muitos governantes
municipais na administração dessa pasta. A gestão
dos recursos destinados à educação, salvo honrosas
exceções de Municípios com Prefeitos comprometidos com essa causa, mostra-se deficiente. Professores desmotivados, desvios de verbas através de
fraudes em licitações, aquisição de livros sem qualidade ou em quantidade inferior ao valor pago pelo
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Diretrizes para um Crescimento Econômico com Equidade e Justiça Social
175
Poder Público, superfaturamento no preço de aquisição da merenda escolar são algumas formas de má
aplicação dos recursos nessa área essencial para o
destino da nação.
O princípio da igualdade jamais será vivenciado pela sociedade se ao brasileiro mais carente não
for assegurada a escola com a mesma qualidade daquela frequentada pelo filho do cidadão mais abastado. Mais policiais, mais presídios, aparato judicial
crescente serão sempre insuficientes se a educação
não tiver a qualidade necessária para cumprir o seu
grande papel de preparar o indivíduo para viver em
sua comunidade, contribuindo para a prosperidade
de todos. O custo de oportunidade que a educação
propicia, será sempre muito menor do que o custo
do aparato estatal para conter o ímpeto daqueles
que ameaçam a paz social por não terem sido domesticados, exibindo um nível crescente de embrutecimento pela falta de educação de qualidade na
infância. Psicólogos, pedagogos, sociólogos, juristas, economistas, enfim, todos os segmentos mais
esclarecidos têm ponderado sobre a necessidade
de aprimoramento na qualidade da educação, no
fornecimento de creches para garantia da dignidade das crianças mais carentes que, sem receberem
atenção alguma dos pais, do Estado e da sociedade
176
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acabam dedicando o seu existir, quando jovens e
adultos, à destruição da paz no seu grupo social.
Daí a necessidade de um acompanhamento
mais efetivo da sociedade e do Estado na forma
como vem sendo ministrada a educação, no ensino fundamental, sob a responsabilidade dos Municípios, razão porque uma das diretrizes apresentadas
refere-se, justamente, à edição de uma lei, proibindo o repasse voluntário de verbas pelo Estado
ao Município que não cumprir suas atribuições para
com a educação.
As evidências empíricas confirmam a significativa relação entre educação e renda nos seus mais
diversos aspectos. A Figura 9.1, relativa ao ano de
2007, mostra que existe uma associação positiva
entre os anos médios de estudos e a renda média.
Isso significa que, em média, 70% da dispersão de
renda entre os Estados observados podem ser explicados pela escolaridade das pessoas. Isso é um forte
indicativo da importância da educação na determinação da renda.
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177
Figura 9.1 — Relação Entre Anos Médios de Estudo e Renda Média por
Estado (2007)
Fonte: elaboração LEP/CAEN
No caso da Figura 9.2, a correlação é construida a partir dos anos de estudos e a renda média
entre os pobres. Pode-se constar, nesse caso, que
apesar de encontramos uma relação positiva, quando comparado à situação anterior, o poder explicativo é menos significativo (0,28%). Esta evidência é
natural, se levarmos em conta que como os indivíduos pobres possuem menores níveis educacionais,
existem outros elementos condicionantes deste resultado e que não estão presentes nessa análise.
178
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Diretrizes para um Crescimento Econômico com Equidade e Justiça Social
Figura 9.2 — Relação Entre Anos Médios de Estudo e Renda Média para
as Pessoas Pobres, por Estado (2007)
Fonte: elaboração LEP/CAEN
Na Figura 9.3 é apresentada a relação entre
Anos Médios de Estudos e a Renda Média, para os
indivíduos considerados não-pobres. Mais uma vez
constata-se uma relação positiva e significativa entre as duas variaveis
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179
Figura 9.3 — Relação Entre Anos Médios de Estudo e Renda Média para
as Pessoas Não-Pobres, por Estado (2007)
Fonte: elaboração LEP/CAEN
Na Figura 9.4 evidencia-se a relação entre Anos
Médios de Estudos e o índice de Pobreza denominado Proporção de Pobres, também para o ano de
2007. Claramente se observa que, em média, Estados com níveis mais elevados de educação possuem
uma menor proporção de pobres, sendo uma relação claramente negativa.
180
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Figura 9.4 — Relação Entre Anos Médios de Estudo e Proporção de
Pobres, por Estado (2007)
Fonte: elaboração LEP/CAEN
Por fim, a Figuras 9.5 apresenta a relação entre
Anos Médios de Estudos e Desigualdade de Renda. A
relação é inversa, determinando que maiores níveis
educacionais estão associados a menores níveis de
desigualdade.
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181
Figura 9.5 — Relação Entre Anos Médios de Estudo e Desigualdade, por
Estado (2007)
Fonte: elaboração LEP/CAEN
Tema 4: Qualidade das Instituições
DIRETRIZ 14: DEFINIR PROGRAMA DE MODERNIZAÇÃO DA GESTÃO PÚBLICA MUNICIPAL: Visa capacitar os servidores públicos municipais, dotandolhes
com o instrumental técnico e analítico necessário
para operacionalizar as políticas públicas voltadas
para as transformações estruturais nas economias
locais. Para isso, tornam-se necessários o acompanhamento, orientação e fornecimento de tecnologias de melhoria da gestão pública municipal.
Portanto, o Estado deve atuar efetivamente para
o fortalecimento institucional dos municípios, prin-
182
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cipalmente nas áreas de gestão por resultado, arrecadação própria, planejamento, elaboração de
projetos etc.
DIRETRIZ 15: ESTIMULAR A FORMAÇÃO E INSTITUIÇÃO DE CONSÓRCIOS PÚBLICOS INTERMUNICIPAIS: Trata-se de um arranjo institucional de gestão
estratégica e sustentável, visando melhorar a qualidade dos serviços públicos municipais prestados à
população.
DIRETRIZ 16: FORTALECER E DISSEMINAR OS
CONSELHOS MUNICIPAIS DE CONTROLE DAS CONTAS
PÚBLICAS: Visa ampliar o controle social das contas
públicas. Eles seriam estimulados pelo Governo do
Estado, com a participação de técnicos especializados na área de finanças publicas, além de representantes da sociedade no respectivo município.
As Instituições constituem um dos elementos
mais importantes em qualquer estratégia de desenvolvimento, pois são elas que vão determinar as
possibilidades de se alcançar os objetivos desejados
pela sociedade. A partir delas é que se estabelece
uma estrutura de governança que pode garantir o
desenvolvimento de determinada região. Daí porque é fundamental a existência de Instituições fortes e de qualidade, que estejam, acima de tudo, à
disposição dos interesses da maioria da população.
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183
Portanto, as instituições são necessárias para
facilitar a vida econômica. O tipo e a qualidade das
instituições fazem uma grande diferença para determinar a capacidade dos membros da comunidade em satisfazer suas aspirações econômicas, bem
como estabelecer as possibilidades da economia
crescer. Ou seja, instituições têm a ver, fundamentalmente, com as regras que regulam práticas econômicas e relações sociais. A vitalidade das relações
sociais é, predominantemente, produto do ambiente institucional.
Nesse sentido, o desenvolvimento deve ser visto como resposta à evolução das instituições que
dão apoio às relações sociais e comerciais. O crescimento econômico vai depender do grau em que
os riscos potenciais envolvidos nas transações (de
comportamentos oportunistas) são controlados pelas instituições que reduzem os custos de informação, encorajam a formação e mobilidade do capital
e facilitam a cooperação.
Dessa forma, desenvolvimento econômico é
desenvolvimento institucional, e uma sociedade
que convive em um contexto formado por “boas”
instituições vai criar um ambiente estável que desenvolve a confiança, reduz a incerteza e favorece
o crescimento.
184
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Esse pressuposto nos induz a refletir sobre a
estrutura Institucional do Estado, para avaliar em
que medida as atuais formas de articulação entre
as esferas de governo, sociedade e o setor privado,
são propícias para a implantação de um novo modelo de desenvolvimento econômico, orientado para
o combate à pobreza e redução das desigualdades.
Certamente, a qualidade da gestão pública emerge
como o fator mais relevante, por ser a instância que
faz a mediação das relações do setor público com
o mercado, condicionando a qualidade das políticas
públicas, cuja finalidade principal é gerar benefícios permanentes para toda a sociedade.
Diante disso, analisando a qualidade da gestão
pública no Estado observamos que um dos maiores
obstáculos encontra-se na qualidade gerencial dos
municípios cearenses e, consequentemente, em sua
capacidade de operacionalizar as políticas públicas
necessárias para promover as transformações estruturais em suas respectivas economias. Na realidade, essa importância dos municípios adveio com
a Constituição de 1988, quando eles receberam o
status de ente subnacional, representando o menor
ente federado brasileiro, num processo de descentralização política, administrativa e financeira, passando a assumir competências e funções específicas
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185
na manutenção dos serviços de atendimento básicos
de saúde, educação e assistência social, entre outros, na tentativa de reduzir a burocracia atrelada
às intermediações da entrega de bens e serviços públicos à sociedade.
Essa descentralização, apesar de positiva, termina prejudicando a qualidade dos serviços públicos prestados na grande maioria dos municípios do
Estado, tendo em vista, principalmente, o baixo nível de qualificação do quadro de servidores públicos municipais, especialmente dos gestores, além
de provocar desperdício de recursos que vêm sendo
aplicados através dos mais diferentes programas.
Essa realidade está a exigir do governo do Estado,
intensificar os Programas de qualificação da gestão
pública municipal
Além disso, observa-se que há pouco controle social sobre os recursos destinados para as administrações municipais. Diante disso, duas ações
tornam-se necessárias: fortalecer os órgãos de
controle institucional, como o Tribunal de Contas
dos Municípios e Ministério Publico; e a criação de
Conselhos Municipais de controle de contas publicas
para exigir das Prefeituras e das Câmaras de vereadores que prestem contas dos recursos públicos.
Mas o controle social só será possível quando a po-
186
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pulação local tiver acesso sistemático aos relatórios
de acompanhamento da gestão fiscal/financeira do
município produzidos pelos órgãos de controle.
Nos últimos anos, o Governo Central tem buscado estabelecer uma coordenação das políticas públicas, em especial as sociais, entre as três esferas
de poder. Isso ocorre mesmo com a característica
competitiva de nosso federalismo, onde cada nível
de governo procura encontrar seu papel específico
sem que haja incentivos para o compartilhamento
de tarefas e uma atuação sincronizada. A cooperação e integração entre os níveis de governo é uma
regra importante na produção e gerenciamento de
políticas e programas públicos, especialmente na
área social.
No contexto da descentralização financeira,
destacam-se os recursos a título de Transferências
Voluntárias — TV, repassados pelo governo central
aos locais, objetivando a realização de projetos distintos em cada unidade federativa. Por conseguinte, pode-se confirmar a existência e disponibilidade
de recursos públicos federais a serem destinados a
projetos elaborados com o foco em Políticas Públicas. Somente em 2008, foram alocados aproximadamente R$ 5,5 bilhões de reais pelo Governo Federal aos Municípios. A Figura 9.6, abaixo, ilustra os
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187
valores médios, ao ano, percebidos por municípios
nos Estados do Ceará, Bahia, Pernambuco e Minas
Gerais, para o período de 2001 a 2008:
2500
2000
BA
1500
CE
1000
PE
500
MG
0
2001 2002
2003 2004 2005 2006
2007 2008
Figura 9.6 — Valor Médio das Transferências Voluntárias por Município
— R$ 1.000
Fonte: Secretaria do Tesouro Nacional — STN (Elaboração Própria)
Como pode ser observado ao longo da série,
exceto os municípios do Estado de Minas Gerais,
os demais tiveram crescente êxito na captação de
recursos junto ao Governo Federal, com destaque
para os pertencentes ao Ceará e à Bahia. Entretanto, alguns questionamentos são efetuados acerca
do impacto dos mesmos na qualidade de vida da
população, visto que historicamente as práticas de
gestão municipal não são integradas com outros entes, não observam a regionalização e sequer têm o
foco nos resultados.
188
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Sob o prisma das finanças próprias municipais
e, diante da responsabilidade social em promover
serviços públicos de qualidade, destaca-se o pequeno desempenho e capacidade de arrecadação própria dos muncípios, como se obsera na Figura 9.7,
abaixo. Na realidade, a situação fiscal dos municípios é bastante desigual e pode estar associada aos
diversos índices socioeconômicos e regionais. Mas,
regra geral, eles têm limitada competência constitucional para tributar, estando concentrada em propriedades urbanas, rurais e serviços.
Figura 9.7 — Receita
(%e da Arrecadação)
T Tributária por Ente Federativo
i
Fonte:RReceita Federal
própria)
a do Brasil (Elaboração
E
ó
b
daa participação
dac RepUm
r breve
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u
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dos municípios
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9
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Laboratório de Estudos
da Pobreza (LEP)
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Movimento Ceará mais
Uma Agenda para o Desenvolvimento do Estado do Ceará
aDiretrizes para um Crescimento Econômicomcom Equidade e Justiça
e Social
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Pernambuco, Bahia, Minas Gerais e Municípios do
Brasil, apresentado na Figura 9.8, evidencia o pequeno desempenho dos municípios em geral, mas
especialmente os cearenses que ao longo de todo o
período mantiveram a participação na RCL em torno
de 3,5%, correspondendo a aproximadamente 50%
do desempenho médio dos municípios brasileiros,
indicando a existência de margem para crescimento desta receita que ampliaria a capacidade de investimento nas ações públicas em Educação Básica,
Saúde e outras.
Figura 9.8 — Participação
da Receita
Tributária
Municipal
na RCL.
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Fonte: Secretaria do
— STN (Elaboração
Própria)
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T Tesouro Nacional
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indícios de que a capacidade operacional dos mesmos precisa ser otimizada através do acesso a novas
ferramentas, tecnologias e práticas de gestão pública. Por essa razão, nos últimos anos, organismos nacionais e internacionais têm criado políticas e programas de apoio ao desenvolvimento institucional e
modernização da gestão municipal, como é o caso
do programa empreendido pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento — BID, através do Setor de
Capacidade Intitucional e Finanças — ICF, que tem
como uma de suas atribuições a formulação de programas e projetos para melhoria da gestão pública.
Há, ainda, o Programa de “Reforço da Capacidade Institucional em Municípios Selecionados para
a Redução da Pobreza”, ou Projeto Brasil Municípios
— PBM, desenvolvido através de parceria entre a
União Européia e o Governo Brasileiro, com o objetivo de contribuir para aumentar a eficácia e o
impacto das políticas públicas em nível local, por
meio de apoio ao desenvolvimento da capacidade
de gestão nos municípios brasileiros, com melhores
condições para o aumento da qualidade e da eficiência da atuação dos quadros gerenciais e técnicos
dos governos locais.
Finalmente, podemos destacar a experiência
do Governo de Minas Gerais que criou o Programa
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Novo Somma — Programa de Modernização Institucional e Ampliação da Infra-estrutura do Estado de
Minas Gerais, destinado aos municípios e priorizando ações voltadas ao abastecimento de água, esgotamento sanitário, resíduos sólidos e infra-estrutura
urbana; modernização administrativa municipal,
com financiamento de equipamentos de informática, aquisição e desenvolvimento de software,
capacitação de recursos humanos, entre outros; e
desenvolvimento urbano, com a construção de edificações municipais de patrulha mecanizada para a
recuperação de estradas vicinais, visando à melhoria do escoamento da produção.
Essas iniciativas, juntas e/ou isoladamente, indicam a abertura de fontes de financiamento, apoio
logístico e técnico à integração de ações entre os
entes federados. Portanto, é preciso que o governo
do Estado do Ceará, a partir do conhecimento desses programas mencionados, tenha disposição para
elaborar algum programa para melhoria da gestão
pública municipal, de maneira a viabilizar uma articulação mais profícua com os municípios, com
vistas à realização de ações públicas no combate à
pobreza e redução da desigualdade de renda.
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Tema 5: Inserção Internacional
DIRETRIZ 17: CRIAÇÃO DE UM COMITÊ DE COORDENAÇÃO EXECUTIVA DE COMÉRCIO EXTERIOR,
COMPOSTO POR REPRESENTANTES DO GOVERNO
(COM AS SECRETARIAS ENVOLVIDAS), FIEC E SEBRAE-CE: Terá o papel de prospectar novos negócios para o Estado, identificar áreas de interesses
internacionais de investimentos no Ceará, fontes
de investimentos públicos (agências multilaterais)
e privados, firmar parcerias na área de turismo de
negócios e lazer, para atração de grandes eventos
e novas companhias aéreas internacionais para
fazer a ligação do Ceará com outros continentes,
além de projetar o Estado e todo seu potencial na
Europa, Ásia e EUA;
DIRETRIZ 18: AMPLIAR OS INVESTIMENTOS EM
QUALIDADE, INOVAÇÃO, INTELIGÊNCIA DE MERCADO
E INFRA-ESTRUTURA, NAS PRINCIPAIS CADEIAS PRODUTIVAS DO ESTADO: Selecionar setores estratégicos
para torná-los competitivos no Brasil e no mundo;
DIRETRIZ 19: ARTICULAR A POLÍTICA ESTADUAL
DE ATRAÇÃO DE INVESTIMENTOS COM UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO DAS EXPORTAÇÕES: Seria
inserir na política industrial estratégia de internacionalização das empresas, para evitar que as exLaboratório de Estudos
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portações do Estado permaneçam concentradas em
empresas tradicionais, de médio e grande portes.
Sabe-se que a realização de negócios com o
exterior é um importante mecanismo através do
qual é possível a dinâmica de uma economia. A interação com mercados internacionais seja no setor
industrial, agropecuário ou de serviços, especialmente o turismo, seria de fundamental importância
no Ceará na ampliação de oportunidades de novos
investimentos. Além do mais, os negócios internacionais ampliam a oportunidade de acesso a novas
tecnologias e ideias, instrumentos essenciais para
o mais rápido crescimento das economias. O Ceará a despeito de todos os esforços já realizados,
especialmente através do SEBRAE e da FIEC, ainda
apresenta insignificante participação no comércio
internacional brasileiro, próximo a 1% de nossas exportações. Além do mais, nossas exportações estão
basicamente centradas em produtos com baixo valor agregado como calçados, vestuário, couro, castanha de caju, flores, dentre outros.
No entanto, o processo de internacionalização
da economia cearense e sua forma de operar suas
atividades com o Resto do Mundo dependem fortemente do grau de comprometimento e de envolvimento da administração pública estadual. A orien-
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tação do poder público através da coordenação com
os gestores privados na ampliação dos negócios internacionais será decisiva quanto às estratégias a
serem adotadas.
Por exemplo, a escolha de destinos de exportação resulta de um balanceamento entre os benefícios esperados, os custos a suportar e os riscos
associados a uma determinada decisão do setor privado em que o Estado possa ter um papel decisivo
na facilitação desse processo. Alguns dos critérios
mais comumente utilizados para a realização de negócios envolvem fatores como o risco político, a distância cultural, a distância geográfica, a dimensão
e as convenções do mercado, o poder aquisitivo e o
comportamento dos consumidores e o potencial de
crescimento, a situação e tendência demográficas,
o ambiente econômico, a volatilidade cambial, os
níveis de regulação ou não dos mercados, a estrutura industrial, a intensidade da concorrência e o
cenário institucional. Todos esses elementos criam
de certa forma uma distância psicológica entre os
mercados que precisam ser mais bem entendidos e
minimizados. Nesse sentido o governo teria uma importância nesse processo de forma que possa centralizar todas as informações exigidas no processo
de internacionalização, organizando e colaborando
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com o setor privado especialmente possibilitando o
acesso das micro e pequenas empresas a realizarem negócios com o exterior. A coordenação dessas
ações pode, por exemplo, permitir que as empresas
cearenses criem uma espécie de rating ou indicador
de atratividade que pondere cada um destes critérios em função das suas prioridades e preferências.
De um modo geral, é difícil identificar com absoluta precisão, as motivações e as razões que ditam a atratividade de cada mercado para uma dada
empresa assim como o seu desempenho em cada
mercado. Todavia é claro que não são somente os
fatores de natureza macroeconômica têm importância nesse processo. A percepção da distância psicológica entre mercados é, sem dúvida, uma variável
que nos pode conduzir no processo de compreensão
da atratividade internacional dos mercados e no balancear que as empresas fazem entre risco e oportunidade que cada um representa.
Nesse processo, podemos falar de uma forma
resumida de 3 (três) tipos de mercados: os sofisticados como os dos Estados Unidos, Europa comunitária e Japão, os emergentes ou de grande crescimento, como Índia e China e os complementares ou
de baixa distância psicológica como Portugal, Espanha e América Latina. Esta forma de caracterizar
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os mercados mostra como a distância psicológica
existente entre o Ceará e essas economias podem
dificultar a realização de negócios no Estado. Nesse
aspecto, percebe-se a necessidade do Governo de
agir de forma coordenada com as partes interessadas na realização de negócios em nosso Estado.
A instalação, por exemplo, da Refinaria, da Siderúrgica e das Zonas de Processamento de Exportação (ZPE) no Ceará exigiria um esforço adicional de
coordenação desses investimentos potencializando
seus benefícios através do encadeamento de novos
investimentos. Nesse sentido, o Governo do Estado
poderia a partir da criação de um órgão ligado a
Secretaria de Desenvolvimento Econômico, ou mesmo através de uma Secretaria de Comércio Exterior
do Ceará, facilitar e coordenar todos esses esforços
nessa direção.
Tema 6: Descentralização e Diversidade
Industrial com Interiorização do
Desenvolvimento
DIRETRIZ 20: DEFINIR ESTRATÉGIA PARA CRIAÇÃO E ATRAÇÃO DE EMPREENDIMENTOS COMPETITIVOS NAS ÁREAS SITUADAS NO ENTORNO DA FERROVIA TRANSNORDESTINA E NAS ÁREAS COM POTENCIAL
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ECONÔMICO A SEREM BENEFICIADAS PELA TRANSPOSIÇÃO DO RIO SÃO FRANCISCO;
DIRETRIZ 21: CRIAR NOVOS CENTROS URBANOS
DE PORTE MÉDIO: Selecionar algumas áreas do Estado para constituírem-se em novos pólos urbanos, as
quais seriam objeto de intervenção diferenciada do
Estado, visando dotá-las de toda a infra-estrutura
econômica capaz de integrá-las aos centros mais
dinâmicos;
DIRETRIZ 22: FORTALECER AS CADEIAS PRODUTIVAS LOCAIS ATRAVÉS DA POLÍTICA DE APOIO AOS
ARRANJOS PRODUTIVOS LOCAIS-APLS: O Estado já
tem identificadas as principais aglomerações produtivas, com amplas possibilidades de tornarem-se
casos exitosos de APL’s se assim forem apoiados.
Apesar de existir o Decreto Nº 28.810, de 03 de
agosto de 2007, que instituiu o Núcleo Estadual de
Apoio aos Arranjos Produtivos Locais, o Governo
ainda não tem uma política definida de apoio aos
mesmos, muito embora conste no seu Art.2º como
uma das finalidades do referido Núcleo “estabelecer, promover, organizar e consolidar a política
pública de apoio aos Arranjos Produtivos Locais
como política da indução do desenvolvimento local para geração de emprego e renda, e estimulo
à exportação”;
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DIRETRIZ 23: ESTABELECER POLÍTICAS DE INCLUSÃO PRODUTIVA, ESTIMULANDO NOVOS EMPREENDEDORES, COOPERATIVAS E MICRO E PEQUENAS
EMPRESAS;
DIRETRIZ 24: AGREGAR À MATRIZ PRODUTIVA
DO ESTADO NOVOS SETORES DA FRONTEIRA TECNOLÓGICA E DO CONHECIMENTO, COMO NANOTECNOLOGIA, BIOMEDICOTECNOLOGIA, INSERÇÃO DE NOVOS MATERIAIS (GÁS-QUÍMICO E PETROQUÍMICOS),
BIOFÁRMACOS, COMPONENTES UNIVERSAIS — SEMICONDUTORES, CONDUTORES, CHIPS — COMPONENTES DEDICADOS — INFORMÁTICOS, ELETROELETRÔNICOS, DENTRE OUTROS.
A indústria cearense vem registrando expressivo crescimento nas últimas duas décadas, garantindo a expansão e diversificação da estrutura produtiva do Estado, com a implantação de inúmeras
empresas, associadas a diversos setores, que possibilitaram a melhoria da renda e ampliação do emprego industrial. Essa expansão da produção industrial no Estado foi decorrente da política pública
de atração de investimentos industriais, apoiada na
utilização de instrumentos como a oferta de infra-estrutura e de incentivos fiscais pelo poder público
estadual, bem como a existência de uma oferta de
mão-de-obra de baixo custo.
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Pode-se afirmar que essa política, baseada na
isenção tributária, foi a forma alternativa encontrada pelos Estados mais pobres da federação, principalmente os localizados no Nordeste, para compensar a inexistência de políticas regionais de incentivo
à industrialização, de responsabilidade do Governo
Federal.
O Ceará foi um dos estados nordestinos mais
beneficiados com essa política de atração de investimentos industriais, mas os impactos dessa estratégia se reproduziram de forma bastante desigual
entre as várias sub-regiões, consolidando uma estrutura produtiva similar à existente no Nordeste.
Ou seja, gerou uma configuração econômica marcada pela elevada concentração em poucas áreas já
consolidadas e um nível de especialização produtiva
em certos segmentos tradicionais da indústria.
Portanto, sob o ponto de vista espacial, a dinâmica da industrialização tem se reproduzido de
forma diferenciada nos diversos sub-espaços do Estado, concentrando-se, basicamente, nos municípios localizados na Região Metropolitana de Fortaleza — RMF, os quais têm se beneficiado não apenas
dos incentivos fiscais oferecidos pelo Governo, mas
também da proximidade de maior mercado para
contratação de trabalhadores qualificados, maior
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disponibilidade de empresas fornecedoras e menores custos de transportes. Fora desse eixo, podemos
identificar alguns pólos de maior expressão econômica, como é o caso de Sobral e Juazeiro do Norte,
predominando, no entanto, municípios com fraca
estrutura de suporte urbano e uma densidade industrial incapaz de gerar encadeamentos intersetoriais
locais que promovam a expansão da base produtiva.
Outro aspecto importante na industrialização
do Estado tem sido a especialização da produção,
que se acentua na medida em que descemos na escala hierárquica de nossa rede de cidades. Ou seja,
os menores municípios apresentam uma tendência
de se especializarem em poucos setores, ao passo
que os de maior porte contam com uma estrutura industrial mais diversificada, como é o caso daqueles
localizados na Região Metropolitana de Fortaleza.
Isto ocorre devido às enormes economias de localização e urbanização existentes nos centros urbanos
mais dinâmicos da economia estadual, muito embora predomine na grande maioria dos municípios
cearenses, principalmente os localizados no interior
do Estado, estruturas produtivas fortemente dependentes de indústrias tradicionais, como Alimentos
e Bebidas, Têxtil, Couros e Peles e Vestuário. A
maioria desses municípios possui uma economia de
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pequeno porte, fortemente associada a um ou dois
desses setores tradicionais, os quais são incapazes
de gerar dinâmica econômica local própria.
O que explica a existência de setores tradicionais em municípios do interior do Estado, cujas economias são de pequeno porte, são os baixos requerimentos locacionais dessas indústrias em termos
de infra-estrutura ou de economias de aglomeração
já existentes, mas os baixos salários se destacam
como um dos fatores mais decisivos para atração
de empresas. É possível afirmar, no entanto, que alguns movimentos de localização industrial que vêm
ocorrendo no Ceará tenham sido incentivados pela
melhoria das condições de infra-estrutura de transportes e de comunicações que atinge a maior parte
do Estado, bem como pela maior flexibilidade locacional das empresas, por conta dos novos padrões
tecnológicos e dos avanços das redes de transmissão
de informações, reduzindo, dessa forma, o custo da
distância em relação aos centros mais avançados.
A cidade de Fortaleza, que exerce uma força
polarizadora muito forte na economia do Estado,
apresenta um grau de diversidade bastante elevado, mas a dinâmica industrial local tem sido liderada
por setores tradicionais, como Alimentos e Bebidas,
Têxteis e Vestuário, responsáveis por mais de 60% do
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emprego da indústria local. No entanto, verifica-se,
também, a formação de aglomerações de indústrias
dinâmicas, cuja lógica de localização é a busca de
vantagens relacionadas à infra-estrutura, incentivos
fiscais ou outro tipo de suporte governamental. Por
esta razão, cabe destacar a importância das políticas de incentivos fiscais e financeiros que vem sendo adotada pelo governo estadual, sem a qual um
estado pobre como o Ceará não teria condições de
atrair investimentos de setores de maior densidade
tecnológica, com maior capacidade de irradiar.
Mas a política de industrialização não pode ficar restrita aos incentivos fiscais, uma vez que eles
não são suficientes para atrair setores de produção
mais sofisticados, com maior conteúdo tecnológico.
Para isso, o Estado precisa investir fortemente na
qualificação da força de trabalho, construir um sistema educacional público de qualidade e ampliar os
serviços de infra-estrutura em todos os níveis.
Como se observa, a estratégia de industrialização tem sido um elemento importante para explicar a dinâmica de organização do território cearense, cuja maior marca tem sido a concentração
econômica na Região Metropolitana e poucas áreas
do interior do Estado, caracterizando, portanto, a
tendência monocêntrica de localização das atividaLaboratório de Estudos
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des industriais. Assim, mantendo-se o atual modelo
de desenvolvimento, a perspectiva é de ampliação
da concentração da renda e da produção industrial
nesses pólos de maior dinamismo, com o aprofundamento das disparidades intra-regionais, uma vez
que os investimentos industriais estão espacialmente cada vez mais seletivos.
Na realidade, a atual política do governo concorre para aprofundar especializações nas áreas
mais competitivas do Estado, marginalizando os espaços que ainda não apresentam os fatores locacionais relevantes para localização industrial. Caso
não aja um reposicionamento da intervenção pública nesses espaços excluídos, as exigências predominantes no mercado revelam uma clara tendência
de marginalização econômica e social das regiões
mais pobres do Estado, uma vez que os investimentos industriais têm-se tornado espacialmente mais
seletivos por conta das novas estratégias empresariais, as quais estão agora submetidas às exigências
de buscas crescentes de tecnologia, infraestrutura
econômica e mão-de-obra qualificada, além da redução de custos via incentivos e benefícios oriundos
do Poder Público.
Portanto, o maior desafio para o Governo é promover o desenvolvimento econômico mais equilibra-
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do do Estado, de maneira a reduzir a pressão social
que tem se estabelecido não apenas na Capital, mas
também nos centros urbanos mais importantes.
A criação ou ampliação da uma infra-estrutura
adequada nas áreas de pouca projeção econômica
no Estado vai repercutir no bem estar da sociedade,
e no projeto de vida das famílias, além de gerar
externalidades positivas que vão elevar a competitividade das empresas, com impactos imediatos
na taxa de crescimento dessas economias. E o mais
importante, reduz o fluxo migratório em direção à
Região Metropolitana de Fortaleza e demais Centros
urbanos de importância no interior do Estado, motivado, essencialmente, pela falta de políticas de
infra-estrutura urbana.
Essa constatação torna evidente a importância
da ampliação da infra-estrutura do Estado para o
combate à pobreza e redução das desigualdades,
contribuindo, assim, para a melhoria das condições
de vida da população, que é, evidentemente, o
objetivo principal de qualquer política pública de
desenvolvimento. A avaliação dessa melhoria tem
um caráter fortemente subjetivo, mas a sua concepção vai estar relacionada com o atendimento
de necessidades básicas para o ser humano, como
renda, educação, saúde, lazer, alimentação, conLaboratório de Estudos
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dições de moradia, vestuário, higiene, transporte,
dentre outras.
São esses os elementos que contribuem para
a formação de aglomerações, sejam econômicas,
sejam demográficas, nos diferentes espaços. Mas é
a distribuição desigual das atividades econômicas
que explica porque algumas regiões são mais ricas
do que outras e detêm maiores possibilidades de
oferecer padrões de vida mais elevados a seus habitantes. Esse fenômeno tem sido bastante estudado
pelos economistas, que atribuem essa tendência às
variações espaciais em termos de instituições e de
dotações (naturais e de capital humano e físico),
bem como às relações espaciais entre as unidades
econômicas. Além disso, destacam o papel das políticas públicas, especialmente dos investimentos
públicos em infra-estrutura como fatores determinantes para a localização das atividades e, consequentemente, de promoção do desenvolvimento.
Existem, ainda, duas outras abordagens que
tentam explicar essa distribuição desigual das aglomerações. A primeira parte do princípio de que regiões com larga população e muitas firmas já têm
alguma vantagem natural. A natureza dota todos
os lugares com características específicas e, nesse
caso, a aglomeração de firmas e famílias pode ser
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explicada por uma casual acumulação de fatores
naturais, exógenos à economia, tais como clima ou
dotações de recursos naturais.
Na segunda abordagem as aglomerações são
decorrentes das vantagens obtidas pela maior proximidade entre os agentes, independente da localização geográfica particular. Nesse caso, a interação
entre os próprios agentes importa mais do que a
relação deles com a natureza e as vantagens da proximidade para interação são decorrentes dos spillovers de conhecimento e informação, das economias
de especialização intraindústria, das economias do
mercado de trabalho ou dos efeitos do tamanho do
mercado. São esses os fatores que atuam na determinação das aglomerações econômicas. Nesse caso,
as aglomerações são explicadas pelos retornos crescentes de escala e custos de transporte.
Portanto, as aglomerações podem emergir em
qualquer lugar, contanto que sejam criadas as condições propícias à geração de retornos crescentes,
o que pode ser feito a partir de uma política pública
que priorize os elementos relevantes para geração
de um ambiente favorável à aglomeração econômica. No caso do Ceará, observamos que os movimentos recentes da indústria, caracterizados pela
tendência de localização concentrada em poucos
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centros urbanos, têm sido sustentados pelas vantagens comparativas que esses centros já apresentam
em relação aos demais, razão porque se tornam necessárias medidas mais ousadas para romper com
essa lógica de mercado.
Dentre essas medidas, poderíamos mencionar
a ampliação e melhoria da infra-estrutura econômica e social como um elemento decisivo para criação
de novos pólos econômicos no Estado, levando-o a
um patamar mais equilibrado de desenvolvimento.
Isso ocorre devido aos impactos que a infra-estrutura gera em termos de crescimento econômico,
provocando melhoria de produtividade em todos os
setores da economia. Além disso, há obstáculos urgentes a serem desobstruídos no Estado, o que abre
grandes oportunidades de novos investimentos nessa área.
Portanto, para estimular a interiorização do
desenvolvimento, as políticas devem privilegiar investimentos maciços em Infra-estrutura, como fonte segura de combater a pobreza e a desigualdade,
estimulando o crescimento econômico sustentável
das áreas atualmente mais distantes dos grandes eixos econômicos do Estado.
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Tema 7: Política de Incentivos Fiscais
DIRETRIZ 25: REVER E APERFEIÇOAR AS ATUAIS
REGRAS DE CONCESSÃO DE INCENTIVOS FISCAIS: O
Estado deve avaliar se os atuais critérios de concessão de benefícios fiscais têm sido eficientes para
promover a industrialização do Estado, observando
os pressupostos da descentralização, com interiorização, e da diversidade industrial. Além disso, é
relevante avaliar os desdobramentos dessa política
em termos de mudanças estruturais na economia
cearense, principalmente na área social.
As isenções fiscais e os subsídios na área industrial vêm sendo um dos principais instrumentos
utilizados pelo governo do Estado do Ceará desde
o final da década de 1970, para propiciar, mesmo
que de forma artificial, a maior dinâmica de nossa
economia. Com a agenda reformista adotada pelo
Estado brasileiro a partir do início dos anos noventa, que resultou, dentre outras coisas, na redução
da capacidade de formulação de políticas de desenvolvimento regional, esses mecanismos foram
ampliados fortemente dando origem à competição
entre as unidades da federação brasileira na busca
por empreendimentos privados, resultando no que
se convencionou chamar de “guerra fiscal”.
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Na realidade, os Estados mais pobres da federação foram forçados a adotarem esse tipo de
política como única alternativa para compensar a
inexistência de um planejamento nacional, voltado
para corrigir de forma mais acelerada o desequilíbrio regional brasileiro, atenuando os principais impedimentos estruturais nas áreas econômica, social
e político-institucional que têm dificultado o desenvolvimento dos estados mais pobres da nação.
Compreende-se como legítimo esse sentimento de nossos gestores públicos de que algo deve ser
feito imediatamente, tendo em vista o quadro de
extrema carência que ainda caracteriza as condições de vida de boa parte da população cearense.
Infelizmente, para uma economia incipiente como
a nossa, com elevados níveis de pobreza e desigualdade, as políticas que produzem resultados consistentes só se concretizam nos médio e longo prazos.
Nesse sentido, os benefícios fiscais funcionam como
uma tentativa de antecipar a qualquer custo um futuro promissor, mesmo que isso produza consequências adversas no funcionamento da economia.
De uma maneira geral, quando se atrai uma indústria para uma região pobre do Estado é evidente
que aumenta a demanda por trabalhadores naquela
localidade, mas esta maior procura é proveniente
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na maioria das vezes, de atividades de baixos requisitos locacionais, enquanto as funções mais qualificadas que podem existir em alguns desses setores
são supridas, primordialmente, por importação de
mão-de-obra de outras regiões do país. O problema é que, mesmo que se gere algum emprego no
município no qual a indústria foi instalada, muitos
empregos em outras localidades do Estado podem
estar sendo extintos. Isso acontece pela concorrência desigual existente entre empresas incentivadas
e as não incentivadas já localizadas no Estado e que
já vêm contribuindo para os cofres públicos. Para
atenuar essa discriminação e permitir uma concorrência mais equilibrada, as empresas não incentivadas, de capital predominantemente local, acabam
exigindo tratamento fiscal semelhante, e isso, naturalmente, acaba tendo um rebatimento negativo
nas finanças estaduais, com a redução da arrecadação do governo.
Diante da complexidade do ambiente econômico, a introdução das isenções fiscais torna ainda a
análise mais complexa e qualquer avaliação precisa ser feita com bastante critério, de modo que se
possa estabelecer opiniões responsáveis. O certo é
que do ponto de vista agregado, a “guerra fiscal”
se caracteriza como um processo em que, potenLaboratório de Estudos
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Diretrizes para um Crescimento Econômico com Equidade e Justiça Social
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cialmente, os estados envolvidos perdem. No caso
particular do Ceará, diante do mecanismo de incentivo atualmente vigente, é necessário que se faça
uma investigação mais profunda da validade de sua
continuidade no formato atual ou da necessidade
de sua reformulação. Logicamente, caso houvesse
um maior acesso às informações das empresas incentivadas, poder-se-ia fazer uma análise bem mais
consistente sobre os benefícios e problemas desse
sistema, apontando inclusive com alternativas bem
mais eficientes para o governo.
De qualquer maneira, a intenção do Governo
do Estado do Ceará em utilizar um mecanismo de
incentivo à instalação de indústrias, que beneficie o
processo de geração de empregos, é louvável, muito embora ela possa desencadear consequências adversas no mercado de trabalho, não justificando sua
implantação. Essas consequências estariam relacionadas ao grau de complementaridade das atividades
que estão sendo incentivadas, em comparação com
aquelas não incentivadas e ao tratamento desigual
às empresas.
Em termos do grau de complementaridade dos
segmentos incentivados, vale à pena citar que estudos desenvolvidos e empiricamente validados,
revelam que a concessão de incentivos a um deter-
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Diretrizes para um Crescimento Econômico com Equidade e Justiça Social
minado setor produtivo, pode gerar efeitos tanto
positivos como negativos sobre os fluxos agregados
de criação e destruição de postos de trabalho. Isso
vai depender, basicamente, do grau de complementaridade entre o setor beneficiado e os demais setores existentes na economia. Para se ter uma idéia
mais clara deste efeito, suponha inicialmente que
a economia é caracterizada pela existência de somente dois setores, complementares no processo
produtivo.
Neste caso específico, a concessão do benefício seria positiva para a economia, já que levaria a
aumentos no processo de criação de novos empregos e reduções na dinâmica de destruição dos postos de trabalho já existentes. Este processo ocorre, basicamente, porque como as duas atividades
são complementares no processo produtivo, ao se
beneficiar um setor, este benefício transborda ao
complementar, estimulando indiretamente o setor
que não recebeu o benefício. Desta forma, é de se
esperar que a concessão do benefício leve a um aumento no fluxo agregado de criação de novos postos
de trabalho.
Contudo, a história anterior se inverte, se os
dois únicos setores existentes forem concorrentes
no processo produtivo. Neste caso particular, é de
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se esperar que o incentivo dado a um setor provoque um impacto negativo sobre o outro setor, levando a aumentos no fluxo de destruição de empregos
e reduções no processo de criação de novos postos
de trabalho no setor não beneficiado.
Desta forma, a utilização de uma política de
benefícios estaria correta, se:
• os benefícios gerados em termos de geração de emprego superem os prejuízos, o que
não é possível assegurar a partir da política
sugerida;
• os incentivos forem concedidos a setores
produtivos em fase inicial de implantação,
como aqueles com vocação tecnológica,
sem concorrentes locais.
Assim, de uma forma geral, devem-se levar em
consideração, ao se desenhar um mecanismo de incentivos, os desdobramentos que tal medida provoca não somente sobre o estoque atual de empregos
gerados pelo setor beneficiado, mas também o seu
impacto sobre o total de emprego nos outros setores produtivos.
O atual critério de incentivos fiscais do Governo não faz nenhuma referência a esses efeitos an-
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teriormente mencionados, ou seja, não se tem, a
priori, condições de determinar se a concessão de
subsídios será benéfica ou não para a economia no
aspecto relacionado com a geração de empregos.
Por outro lado, se os maiores benefícios são dados às empresas com maior número de empregados
de forma direta é de se esperar que isso provoque
um predomínio das grandes empresas no mercado
em detrimento do espaço para as menores, estimulando assim a concentração industrial em poucas
empresas, aumentando ainda, o poder de mercado
destas.
Deve-se lembrar que as micro, pequenas e médias empresas representam a maior proporção no
total de empresas, sendo responsáveis também por
grande parte dos empregos formais no país. Desta forma, uma política que beneficie fortemente
as empresas de grande porte, potencialmente mais
competitivas, podem também gerar distorções significativas no mercado, dificultando a sobrevivência
das empresas menores.
Para se ter uma ideia dos impactos desta distorção, vamos supor que, para um determinado
setor produtivo, sejam dados benefícios para instalação de empresas rivais, com o mesmo nível de
eficiência, gerando 550, 350 e 250 empregos direLaboratório de Estudos
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tos, respectivamente. Como a empresa que gerou
550 empregos diretos tem, pelo atual critério do
governo, um maior incentivo, é de se imaginar que
as duas empresas que geraram em conjunto 600
empregos possam ser eliminadas do mercado, devido à dificuldade de concorrência destas com uma
empresa de menores custos, advindos do benefício.
Assim, a geração de emprego direto obtido através
da empresa beneficiada pode ser compensada pela
destruição de empregos nas empresas concorrentes
de menor porte, levando a que o resultado líquido
desse processo seja a perda agregada de empregos.
Há de se convir que rigorosamente do ponto de
vista da sociedade como um todo, é indiferente se
gerar 600 empregos por uma única empresa ou 600
empregos vindo de 5 empresas cada uma gerando
120 postos de trabalho. Mas como o sistema atual
não traz nenhum item nesse aspecto, fica impossível determinar as vantagens para o Estado na adoção de uma política industrial neste formato. Além
do mais, o critério é colocado exclusivamente ao
número de empregos diretos gerados e nenhuma referência é feita aos empregos indiretos. Devemos
ter em mente que um determinado empreendimento pode gerar poucos empregos diretos, mas muitos indiretos de modo que o total de empregos seja
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algo importante. Mas esse ponto não é considerado
na atual política de incentivos. Aliás, essa é uma
questão importante para o governo, que tem como
objetivo criar dinâmicas locais próprias, as quais,
logicamente, vão ser mais propícias de surgirem
quando se intensificam os negócios.
No mundo moderno, políticas sociais e políticas industriais são ações que, na grande maioria
das vezes, apresentam objetivos não coincidentes.
Tentar conciliar tais interesses acaba provocando
ineficiência no alcance dos objetivos pretendidos
nas duas direções. Políticas na área industrial têm
como foco principal o aumento da produtividade industrial tornando o setor o mais eficiente possível,
tendo em vista a competição cada vez maior com
empreendimentos semelhantes localizados nas mais
diversas partes do mundo.
Nesse sentido, a interiorização industrial pode
ser conseguida se limitarmos nossas ações para pólos industriais específicos, onde alguns elementos
de competitividade já estejam presentes, mas isso
não está contemplado nas atuais regras estabelecidas pelo governo. Uma política que deveria ser
aprofundada seria a do fortalecimento dos pólos já
existentes, através do estímulo da infra-estrutura
local com concessão de benefícios fiscais relacioLaboratório de Estudos
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nados diretamente a gastos em P&D. Essas ações
teriam maior chance de sucesso, uma vez que a
dinâmica de longo prazo dos segmentos industriais
estaria garantida.
O combate à pobreza e a geração de empregos, especialmente nos municípios mais pobres, deveriam ser realizadas de forma independente das
ações na área industrial, já que a natureza do problema é distinta. Devemos imaginar políticas que
sejam focadas diretamente nos indivíduos pobres e
que possam aproveitar o potencial de cada localidade, não necessariamente no estímulo à área industrial. Nesse sentido, o Governo precisa imaginar
que um setor industrial dinâmico e competitivo,
que venha a se instalar no Estado, seja à base de
geração de riqueza e receita para o próprio Governo, que poderá ter recursos suficientes para a realização das políticas sociais tão necessárias em nossa
sociedade.
Tema 8: Ciência, Tecnologia e Inovação — CT&I
DIRETRIZ 26: CONSTRUIR E ATUALIZAR UMA
BASE DE DADOS EM CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO PARA O ESTADO: O planejamento e a efetividade das ações de política governamental requerem
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uma base de dados sistematizada sobre informações
relevantes nas áreas de ciência, tecnologia e inovação. Sem isso, sequer podem ser formuladas políticas adequadas e muitos menos avaliação sobre a
efetividade da intervenção institucional. A título de
exemplo, são mencionados, a seguir, alguns dados
e informações que devem compor essa base: grupos de pesquisa emergentes em áreas estratégicas
e aqueles já consolidados e reconhecidos por sua
competência; informações sobre gastos públicos em
pesquisa e conhecimento; atuação dos grupos e órgãos de extensão tecnológica; formação de mestres
e doutores nas universidades; grupos de pesquisa
atuantes nas Universidades e órgãos de pesquisa;
publicação de artigos científicos em periódicos nacionais e internacionais; e pesquisas em áreas estratégicas para o Estado.
DIRETRIZ 27: ARTICULAR COM AS UNIVERSIDADES UM PROGRAMA CONJUNTO PARA A FORMAÇÃO
CONTINUADA DE PROFESSORES NAS ÁREAS DE CIÊNCIAS PARA ATUAÇÃO NAS ESCOLAS PÚBLICAS: A
carência de professores qualificados nas áreas de
ciências (matemática, física, química e biologia)
pode comprometer a formação de potenciais pesquisadores e futuros cientistas. Esse quadro pode
se revelar particularmente dramático nas escolas
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públicas, notadamente as localizadas no interior
do Estado. A formação de professores constitui uma
atividade que não dispensa a contribuição decisiva
das universidades, por meio de projetos pedagógicos adequados às exigências atuais. Importa também destacar a necessidade de implantação de uma
ampla política de valorização dos docentes em um
quadro de gestão de qualidade e de resultados.
DIRETRIZ 28: ESTABELECER POLÍTICAS DE FINANCIAMENTO FOCADAS EM ÁREAS ESTRATÉGICAS:
O levantamento de áreas estratégicas que possibilitam o dinamismo tecnológico do Estado e a focalização de uma política de incentivos e financiamento
prioritariamente voltados a esses setores representa uma etapa importante a ser vencida, no nosso
entendimento, para o sucesso da atuação institucional em um quadro de limitação de recursos e de
intensa disputa com regiões do País com mais tradição e dotada de um maior quadro de competências
técnicas. Na Figura 9.9, seguinte, são apresentadas
informações sobre os gastos dos estados brasileiros
com Ciência e Tecnologia em relação ao total da
receita estadual. Observa-se que o Estado do Ceará
ocupa a 10ª posição no cenário brasileiro, situando-se atrás dos estados de Pernambuco e Rio Grande
do Norte.
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Figura 9.9 — Participação
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do dispêndio
do governo estadual
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pação muito pequena na composição total do volume e da quantidade de projetos apresentados relativamente a regiões dos país mais desenvolvidas
nos mais diversos segmentos da pesquisa científica. Dessa forma, é necessário incentivar e fornecer
meios aos pesquisadores dos centros de pesquisa e
de pós-graduação do Estado, para uma participação
ativa e articulada na disputa pelos recursos disponibilizados pelos órgãos de financiamento.
DIRETRIZ 30: ARTICULAR COM AS UNIVERSIDADES A CRIAÇÃO DE CURSOS NAS ÁREAS DE GESTÃO E
DE POLÍTICAS DE C,T&I, BEM COMO NA ELABORAÇÃO
DE PROJETOS DESTINADOS ÀS AGÊNCIAS FINANCIADORAS (FINEP, FUNDOS SETORIAIS, etc.): As universidades poderão criar e instituir, de modo articulado com as instituições gestoras do Estado, cursos
voltados para a concepção, formulação e gestão de
políticas orientadas para C,T&I, capacitando e qualificando pessoal, inclusive de professores e pesquisadores, para uma atuação mais eficiente e com uma
visão mais ampla dos desafios a serem superados e
das oportunidades que poderão ser vislumbradas e
aproveitadas. A disputa cada vez mais acirrada por
recursos na área de C,T&I e a sua distribuição historicamente desfavorável ao Nordeste requerem uma
preparação de recursos humanos que tenham uma
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visão adequada do funcionamento dos sistemas institucionais de fomento, contribuindo, dessa forma,
para um melhor aproveitamento das oportunidades.
DIRETRIZ 31: FORTALECER E DIVULGAR AS
AÇÕES DE EXTENSÃO TECNOLÓGICA: Reconhecida
como fundamental para o desenvolvimento econômico, a extensão tecnológica promove a difusão e
a absorção de novas tecnologias, principalmente,
em micro, pequenas e médias empresas. A extensão
tecnológica que efetivamente induza a inovação
tecnológica de arranjos produtivos locais impulsionará, certamente, um segmento de grande importância para a economia do Estado. O Ceará já possui
alguma tradição nesse tipo de atividade, pois conta com vários órgãos e entidades que atuam na extensão tecnológica, necessitando, contudo, de uma
maior articulação entre elas e de forma integrada
a uma política estadual de extensão tecnológica.
Importa ressaltar, ainda, a necessária atuação integrada às universidades, uma vez que elas possuem
atuação destacada nas atividades de extensão, as
quais, certamente, têm o importante papel de ligação entre a atividade de pesquisa e o processo de
inovação tecnológica.
Há um consenso de que o conhecimento constitui elemento importante do desenvolvimento
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econômico-social, constituindo-se num instrumento
determinante para a melhoria do nível de vida da
população e fator decisivo para a sustentabilidade do meio-ambiente e garantia de bem-estar das
gerações futuras. Uma sociedade do conhecimento eleva a capacidade tecnológica, possibilitando a
combinação de formas tradicionais e modernas as
quais propiciam o avanço científico e a sustentabilidade dos processos de desenvolvimento econômico-social.
Na Declaração de Santo Domingo, A Ciência
para o Século XXI, resultante do encontro promovido pela UNESCO, há o reconhecimento de que os países e regiões que apresentam debilidade científica
e tecnológica estão submetidos a uma insignificante participação no conjunto das sociedades do conhecimento, ocasionando uma inserção fortemente
dependente e marginal, que se não for revertida
dificilmente superará a indesejável presença em
seu meio das desigualdades sociais e a degradação
ambiental.
O Ceará apresenta muitas carências de recursos
naturais, mas tem, em compensação, a possibilidade de ampliar competências já identificadas e desenvolver novas áreas de atuação reconhecidamente estratégicas na sociedade do conhecimento, visto
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que se trata efetivamente das fontes relevantes do
dinamismo socioeconômico no longo prazo, permitindo ao estado superar os desafios da pobreza. Mas
para isso, o Estado tem que superar alguns desafios
básicos como da necessidade de prover educação
de qualidade, sobretudo na escola pública.
A ampliação da participação econômica e a
obtenção de vantagens comparativas podem induzir a inserção do Ceará num ambiente econômico
mundial caracterizado por elevado dinamismo tecnológico e uma acirrada competição por mercados.
Ciência, tecnologia e inovação constituem elementos estratégicos determinantes de uma inserção
sustentada num ambiente de alta competitividade impulsionado pelos avanços do conhecimento,
atendendo, ao mesmo tempo, aos requerimentos
de justiça social e respeito ao meio-ambiente. Dessa forma, constitui uma providência inadiável que
o estado adote como prioritária uma política de
atuação efetiva nas áreas de ciência, tecnologia e
inovação, para que se processe uma radical transformação da realidade sócio-econômica.
Uma das recomendações da Declaração de Santo Domingo, no âmbito das estratégias de políticas
científicas e tecnológicas, trata da necessidade de
fortalecimento institucional para, dessa forma, posLaboratório de Estudos
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sibilitar a formulação, implementação, avaliação e
gestão de estratégias e políticas de ciência e tecnologia. Ressalta, ainda, que tal estratégia é indispensável haja vista que se torna imprescindível a
intervenção do estado em áreas em que o mercado
não responde de forma adequada e eficientemente.
Além disso, cabe enfatizar que as políticas institucionais devem levar em consideração a necessidade
de permanente articulação entre todos os atores envolvidos em atividades de ciência, tecnologia e inovação, buscando facilitar os processos de inovação
em áreas estratégicas e promover a inclusão social.
Tema 9: Meio Ambiente
DIRETRIZ 32: FOMENTAR NEGÓCIOS AMBIENTAIS: O Estado deve promover e apoiar a produção
orgânica, a fabricação de produtos originários da
biodiversidade da caatinga, a produção integrada
de frutas para os mercados mais exigentes, a reciclagem de resíduos sólidos e de efluentes, a adoção
da estratégia de produção mais limpa etc.;
DIRETRIZ 33: ESTABELECER FORMAS DE PAGAMENTO POR SERVIÇOS AMBIENTAIS: Para garantir a
sustentabilidade dos recursos naturais existentes
no Estado;
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DIRETRIZ 34: PROGRAMA CIDADE LIMPA: Eliminar os lixões a céu aberto em todos os municípios
do Estado e promover a reciclagem do lixo, priorizando a discussão sobre a regionalização da gestão
dos resíduos e o estabelecimento de consórcios intermunicipais;
DIRETRIZ 35: ENERGIAS ALTERNATIVAS: Intensificar os programas de implementação de sistemas
alternativos de produção de energia, tais como biomassa, biodiesel, biodigestores e unidades de aproveitamento de energias, eólica e solar;
Nos últimos trinta anos o mundo passou a conviver com uma série de desafios e oportunidades
fruto do progresso tecnológico. Essa onda virtuosa
está redirecionando uma série de paradigmas, até
então aceitos e defendidos, por meio da ampliação
da perspectiva de valores como:
• estratégias ambientais para sustentabilidade;
• inclusão social dos ganhos com o desenvolvimento;
• valorização das diversidades locais;
• exploração das potencialidades naturais;
• comunicação para transparência;
• diálogo entre governo, setor privado e terceiro setor.
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Como pode se depreender, os desafios são complexos e incalculáveis. Para superá-los, os caminhos
não são triviais. De modo geral, os mecanismos e as
práticas para o desenvolvimento sustentável já são
conhecidos. Falta, porém, definir quem e como será
conduzido o processo virtuoso de desenvolvimento
sustentável de regiões deprimidas como o semiárido
do Ceará.
Deve-se considerar, aqui, desenvolvimento sustentável como sendo a busca da conciliação entre
o uso dos recursos econômicos, sociais e ambientais
atuais e futuros, sem comprometer a efetividade de
quaisquer dessas demandas.
Assim, para efetivar o desenvolvimento sustentável há muitas possibilidades e instrumentos. Aqui,
em função do objetivo da proposta do “Ceará mais
Justo”, propõe-se considerar o meio ambiente ou
os recursos naturais em duas perspectivas. Uma é
considerar os recursos ambientais como oportunidades de geração de emprego e renda e a outra
é considerá-lo como um ativo da sociedade, razão
pela qual deverá ser conservado e/ou recuperado.
Como gerador de negócio e emprego, deve-se
promover e apoiar a produção orgânica, a fabricação de produtos originários da biodiversidade da
caatinga, a produção integrada de frutas para os
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mercados mais exigentes, a reciclagem de resíduos
sólidos e de efluentes, a adoção da estratégica de
produção mais limpa e a responsabilidade socioambiental nos estabelecimento rurais, agroindustriais,
industriais e de serviços.
Na proposta de manutenção da sustentabilidade dos recursos naturais, propõe-se a compensação ou pagamento por serviços ambientais que tem
como objetivo transferir recursos, monetários ou
não, para aqueles que ajudam, sem obrigatoriedade para isto, a conservar e/ou mitigar tais recursos
por meio da adoção de práticas, técnicas e sistemas
na agricultura, na indústria, no meio urbano, etc.
Como os benefícios proporcionados por tais serviços
contemplam toda a sociedade é justo que seus implementadores sejam recompensados.
Os serviços ambientais referem-se às funções
providas pela natureza, decorrentes do funcionamento saudável dos ecossistemas. A produção de
oxigênio pelas plantas, a capacidade de otimização
dos recursos hídricos, a integridade e fertilidade do
solo e o equilíbrio climático são alguns dos serviços ambientais. Para o Ceará, os serviços ambientais
a serem encampados por esta proposta são: reflorestamento com espécies nativas, recomposição da
mata ciliar, conservação de água e solo, controle de
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queimadas, adoção de sistemas agro florestais, preservação da fauna e da flora, construção de obras de
contensão de sedimentos (solo) e aumento da umidade do solo e adoção de práticas conservacionistas.
Tema 10: Demografia e Rede de Cidades
DIRETRIZ 36: ELABORAÇÃO DE UM PLANEJAMENTO TERRITORIAL INTEGRADO DOS MUNICÍPIOS
DO ESTADO;
DIRETRIZ 37: CRIAÇÃO DE INDICADORES DE
QUALIFICAÇÃO DE CIDADES SUSTENTÁVEIS, COM METAS A SEREM ALCANÇADAS;
DIRETRIZ 38: FORTALECER A CAPACIDADE DE
GESTÃO URBANA DOS MUNICÍPIOS DO ESTADO;
De maneira geral, os movimentos populacionais tendem a refletir os processos econômicos que,
por sua vez, ocorrem de forma diferenciada nos
diversos subespaços regionais. Embora seja o mais
relevante, esse não é um fator único, pois há evidências empíricas que comprovam que as decisões
de migração das pessoas podem depender também
de circunstâncias não-econômicas, de natureza endógena (decorrentes dos problemas causados pela
própria aglomeração, como insegurança, poluição
etc.) ou exógena (clima, por exemplo).
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No caso do Ceará, a industrialização tem sido
caudatária desse mesmo processo de desigualdade
na distribuição geográfica da população do Estado,
uma vez que a dinâmica demográfica tem ocorrido na direção dos centros médios e grandes, principalmente da Região Metropolitana de Fortaleza,
contribuindo para o congestionamento populacional
dos municípios economicamente mais dinâmicos do
Estado.
Na realidade, a ocupação demográfica do território cearense tende a reproduzir a mesma dinâmica da economia estadual, com baixa incidência
de aglomerações populacionais no interior e forte
concentração na RMF e algumas cidades de porte
médio ou grande. A característica mais marcante de
todo esse processo é sua natureza fortemente concentradora. Ou seja, os processos migratórios são
orientados pela lógica econômica, cuja dinâmica
vai privilegiar aqueles espaços já dotados com os
fatores locacionais mais relevantes.
A concentração populacional, portanto, é a
principal característica de nosso sistema urbano,
formado por 184 municípios, dos quais, apenas 8
(Fortaleza, Caucaia, Juazeiro do Norte, Maracanaú,
Sobral, Crato e Itapipoca) têm mais de 100.000 habitantes, representando, conjuntamente, 45% da
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população do Estado. Somente nos municípios da
região metropolitana vivem 40% da população, sendo que a capital, Fortaleza, concentra 30% dos habitantes do Estado. Além disso, quase a metade dos
municípios do Estado (49%) tem menos de 20 mil
habitantes e pelo menos 30% da população estão
ocupados com atividades agrícolas.
Outro aspecto evidente desse quadro é a fragilidade da rede urbana das áreas menos dinâmicas do
Estado, o que traz implicações no desempenho da
economia cearense, além de colocá-las em desvantagem competitiva frente às demais, de maior nível
de renda e com uma rede urbana mais estruturada e
de maior densidade econômica. A nossa morfologia
urbana está centrada, basicamente, em três importantes sistemas, formados pelos municípios da Região Metropolitana de Fortaleza, Sobral e parte da
região do Cariri, notadamente as cidades de Crato,
Juazeiro e Barbalha, os quais concentram a maior
parte de riqueza do Estado, exercendo uma força
polarizadora muito forte. As demais áreas, situadas
mais distantes desses grandes centros, apresentam
poucas perspectivas de crescimento, com um quadro de estagnação que contribui sistematicamente
para expulsar população para as cidades com melhores condições econômicas e de serviços urbanos.
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Certamente, essa configuração da rede urbana
do Estado constitui um forte entrave para as políticas públicas de desenvolvimento, principalmente
se considerarmos o intenso processo de descentralização fiscal para os municípios, advindo com
a Constituição de 1988. Sem estrutura adequada
para absorverem as novas atribuições de políticas
públicas, a maior parte dos municípios cearenses,
assim como de vários outros Estados, tem respondido, de forma ineficiente, às demandas de sua
população, cuja sobrevivência vem sendo condicionada pelas transferências governamentais federais
(aposentadorias e pensões), programas de ajuda
do Governo Federal (tipo Bolsa Família) ou, ainda,
pela renda proveniente da atividade agropecuária,
exercida em condições bastante precárias e sujeitas às adversidades climáticas. Essa situação contribui para a persistência do quadro de pobreza que
domina boa parte dos municípios cearenses, além
de limitar o crescimento ordenado do espaço urbano, deteriorando as condições de vida de toda a
população.
Há necessidade, portanto, de o Governo do
Estado formular uma nova estratégia para melhoria da qualidade de vida no ambiente urbano e
redução da concentração populacional na Região
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Metropolitana de Fortaleza, de maneira a induzir
a formação de uma rede equilibrada de cidades
no Ceará. Isso vai exigir uma série de iniciativas a
serem tomadas no escopo de um projeto mais amplo de integração de cidades, a partir da criação
de uma rede de serviços modernos e tradicionais
que gere complementaridade entre os diversos subespaços existentes no Estado. Certamente, esse
projeto passa pela melhoria da qualidade de vida
nas cidades do interior, requerendo maiores investimentos nos setores de habitação, saúde, saneamento, cultura, meio ambiente, acompanhados,
ainda, por uma política efetiva de promoção de
investimentos produtivos.
O fortalecimento da rede de cidades vai propiciar mudanças significativas em termos de funcionalidade do sistema urbano do Estado, uma vez que
novas centralidades estarão surgindo, criando pólos
econômicos dinâmicos, capazes de irradiarem o seu
dinamismo para os municípios de seu entorno. Assim, novas oportunidades de negócios vão surgir no
interior do Estado, atraindo população e empreendedores, gerando, dessa forma, um processo cumulativo de geração de emprego e renda.
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Tema 11: Financiamento do Desenvolvimento
DIRETRIZ 39: UTILIZAÇÃO DE RECURSOS “EXTRA-MERCADO” PARA FINANCIAMENTO DAS GRANDES
OBRAS DO ESTADO;
DIRETRIZ 40: ESTABELECER UM MAIOR VÍNCULO
INSTITUCIONAL COM AS INSTITUIÇÕES FEDERAIS DE
CRÉDITO (BNDES, BANCO DO BRASIL, CAIXA ECONÕMICA E BNB);
DIRETRIZ 41: UTILIZAÇÃO DAS POSSIBILIDADES
DE AMPLIAÇÃO DO ENDIVIDAMENTO DO ESTADO PARA
FINANCIAMENTO DE AÇÕES ESTRATÉGICAS;
O financiamento representa um dos aspectos
mais importantes do processo de desenvolvimento. Isso ocorre porque os planos de investimentos,
tanto público, quanto privado, são sustentados por
diferentes mecanismos de financiamento, os quais
podem ser de origem fiscal ou financeira, que, ao
final, vão estimular o crescimento econômico, contribuindo, indiretamente, para o desenvolvimento,
uma vez que a melhoria dos indicadores sociais no
longo prazo requer mais crescimento econômico.
Mas como garantir o crescimento econômico, considerando os elevados desníveis econômicos e sociais, onde os fluxos de poupança nem sempre são
adequados para atender às necessidades de invesLaboratório de Estudos
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timento? A solução para isso está no fortalecimento
dos mecanismos extra-mercado, ou seja, nos instrumentos clássicos de política de financiamento, de
natureza fiscal e creditícia, operacionalizados pelo
Estado.
No caso do crédito, a literatura mostra que em
sociedades altamente desiguais a restrição de crédito é bastante prejudicial para os indivíduos mais
desassistidos e pobres, os quais teriam menos opções de investir tanto no crédito educativo (capital humano), como quando da obtenção de crédito
para geração de negócios. É o caso do Brasil, onde
os serviços financeiros não parecem estar disponíveis para um significativo percentual da população,
a qual por ser de baixa renda, não tem acesso aos
instrumentos financeiros disponíveis.
O ponto fundamental é que as classes sociais
mais pobres, localizadas predominantemente no
Nordeste, têm poucas chances de prosperarem devido à falta de acesso ao crédito, razão porque precisam de um tratamento diferenciado do setor público, através de programas de crédito específicos
para atingir essa faixa da população. O microcrédito tem sido uma experiência exitosa para propiciar
a inclusão bancária e financeira dessa camada da
população.
236
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da Pobreza (LEP)
CAEN – UFC
Movimento Ceará mais Justo
Uma Agenda para o Desenvolvimento do Estado do Ceará
Diretrizes para um Crescimento Econômico com Equidade e Justiça Social
Por outro lado, analisando-se o crédito per capita no Ceará, relativamente a outros Estados, é
possível perceber uma evolução de janeiro de 2004
a dezembro de 2009 do saldo das operações de crédito destinados à pessoa física per capita, a qual
passou da ordem de grandeza de quase R$ 500,00
para aproximadamente R$ 1.000,00, sendo o crescimento mensal médio do saldo destas operações
de 2,43%, bem superior à taxa de crescimento de
1,42% evidenciada para a série temporal ao longo
do mesmo período para o crédito de pessoas jurídicas. Este crescimento, no entanto, foi insuficiente
para acompanhar uma tendência dos estados mais
desenvolvidos e consequentemente do crédito agregado nacional, em que o volume voltado para pessoas físicas já tem superado o montante de pessoas
jurídicas. No estado do Ceará, o crédito para pessoa
física era responsável por 31% do montante total no
início da amostra, atingindo atualmente o patamar
de 42%.
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da Pobreza (LEP)
CAEN – UFC
Movimento Ceará mais Justo
Uma Agenda para o Desenvolvimento do Estado do Ceará
Diretrizes para um Crescimento Econômico com Equidade e Justiça Social
237
R$ 7.385,00
R$ 7.000
R$ 6.860,00
R$ 6.000
R$ 6.149,00
R$ 5.634,00
R$ 5.000
R$ 5.055,00
R$ 4.000
R$ 4.170,00
R$ 3.000
R$ 2.000
R$ 1.000
R$ 0
jan/04
jul/04
jan/05
jul/05
Total
jan/06
jul/06
Pessoa Física
jan/07
Pessoa Jurídica
jul/07
jan/08
jul/08
jan/09
jul/09
PIB real per capita
Figura 9.10 — Ceará: Crédito Total, Pessoas Física e Jurídica Per Capita
Mensal (R$)
Fonte: elaboração LEP/CAEN
Em termos agregados, a taxa de crescimento
médio do estoque das operações de crédito está em
1,76%, percentual aparentemente elevado se comparado com o crescimento do PIB real per capita,
o que pode ser corroborado quando nas inclinações
das séries apresentadas na Figura 9.10, porém relativamente desanimador, quando comparado à taxa
de crescimento do crédito total dos outros estados
da região Nordeste, sendo superior apenas ao estado da Bahia e inferior a quase todos os demais estados do Brasil. Como resultado, tem-se um estoque
médio per capita de R$1.247,39, superior apenas
aos estados da Paraíba, Maranhão e Piauí.
238
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Diretrizes para um Crescimento Econômico com Equidade e Justiça Social
A contrapartida está na inadimplência média
observada de 4,01% no agregado, com tendência de
queda para pessoa física (Ver Figura 9.11), sendo o
cearense o segundo melhor pagador do Nordeste e
um dos melhores do País. A consolidação das principais estatísticas pode ser verificada na Tabela 9.10.
12,00%
10,00%
8,00%
6,00%
4,00%
2,00%
0,00%
jan/04
jul/04
jan/05
jul/05
jan/06
Total
jul/06
jan/07
Pessoa Física
jul/07
jan/08
jul/08
jan/09
jul/09
Pessoa Jurídica
Figura 9.11 — Ceará: Inadimplência no Crédito Total, Pessoas Física e
Jurídica Per Capita Mensal (%)
Fonte: Elaborado pelos Autores
Tabela 9.10 — Ceará: Estatísticas Descritivas
Estatísticas
Descritivas
Ceará
Crédito per capita
Física
Jurídica
Total
Inadimplência
Física
Jurídica
Total
Média
R$ 489,41
R$ 757,99
R$ 247,39
6,90%
2,42%
4,01%
Desvio padrão
R$ 253,01
R$ 257,72
R$ 508,04
1,46%
0,44%
0,49%
Máximo
R$ 1.002,60 R$ 1.357,42 R$ 2.360,02 10,23%
Mínimo
R$ 182,93
Crescimento
2,43%
médio
Fonte: elaboração LEP/CAEN
Laboratório de Estudos
da Pobreza (LEP)
CAEN – UFC
R$ 506,84
R$ 689,77
1,42%
1,76%
5,49%
3,86%
5,55%
1,51%
3,15%
Movimento Ceará mais Justo
Uma Agenda para o Desenvolvimento do Estado do Ceará
Diretrizes para um Crescimento Econômico com Equidade e Justiça Social
239
Observando estas estatísticas da evolução do
crédito no Ceará e comparando com os demais estados da região Nordeste através da Figura 9.12, em
que parece visível não ser a atual situação confortável, cabe questionar se as políticas públicas estão
corretamente direcionadas, visando tornar este um
mecanismo que consiga gerar aumento de renda per
capita, a qual no interstício analisado evoluiu de R$
4.150,00 para R$ 7.358,00. O que poderia ser feito
com o intuito de aumentar a ordem de grandeza
dos volumes ofertados e principalmente demandados, sem gerar um descontrole na inadimplência?
Qual poderia ser o impacto esperado da interseção
entre políticas públicas destinadas ao incentivo do
empreendedorismo, maior nível de educação e capacitação constante da sociedade e maior redução
de carga tributária associada à micro negócios e
concessão gradual de crédito para os atuais beneficiados de Bolsa Família?
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Laboratório de Estudos
da Pobreza (LEP)
CAEN – UFC
Movimento Ceará mais Justo
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Diretrizes para um Crescimento Econômico com Equidade e Justiça Social
R$ 4.000
R$ 3.500
R$ 3.000
R$ 2.500
R$ 2.000
R$ 1.500
R$ 1.000
R$ 500
R$ 0
jan/04
jul/04
Pernambuco
jan/05
jul/05
Paraíba
jan/06
Ceará
jul/06
Alagoas
jan/07
Rio Grande do Norte
jul/07
Sergipe
jan/08
Bahia
jul/08
jan/09
Maranhão
jul/09
Piauí
Figura 9.12 — Nordeste: Crédito Total Per Capita Mensal (R$)
Fonte: elaboração LEP/CAEN
Outra fonte de financiamento do desenvolvimento é de origem fiscal, baseada na política orçamentária do governo estadual. O equilíbrio fiscal e a
maior autonomia financeira do governo estadual são
condições necessárias para garantir os investimentos públicos necessários para combater a pobreza e
reduzir a desigualdade.
Para aferir a situação das finanças públicas estaduais, analisa-se a situação econômica do Estado
do Ceará via a via as médias regional e nacional de
acordo com três indicadores: a) o resultado fiscal,
dado pela razão entre receitas e despesas; b) a autonomia fiscal, dada pela razão entre receita tributária e despesa total e c) a dependência financeira,
Laboratório de Estudos
da Pobreza (LEP)
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Movimento Ceará mais Justo
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Diretrizes para um Crescimento Econômico com Equidade e Justiça Social
241
dada pela razão entre transferências de recursos e
gasto total.
Deste modo podemos inferir acerca do equilíbrio das contas estaduais, bem como da capacidade
de se financiar com recursos próprios ou ainda sobre
o seu nível de dependência para honrar com os compromissos relacionados ao pagamento de pessoal e
investimentos.
A figura 9.13, abaixo, mostra que o superávit fiscal no Estado é crescente ente 2006 e 2007, mas reverte esta tendência a partir deste ano, de forma que
em 2009 as contas estaduais apresentaram um pequeno déficit de aproximadamente 0,7% da receita total.
A evolução segue as tendências regional e nacional.
Figura 9.13 — Superávit Fiscal, 2006-2009
Fonte: Elaboração vLEP/CAEN
l
P
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Em termos de independência financeira o Estado pouco evoluiu entre 2006 e 2009. Como é possível
observar nas Figuras 9.14 e 9.15, a seguir, o nível de
autonomia fiscal é inferior à média nacional e similar
ao padrão médio regional. Observa-se ainda que, a
depender de sua receita tributária, em 2009 apenas
44,1% dos gastos orçamentários do Estado seriam cobertos. No Nordeste, a autonomia média dos estados,
em 2009, é de 40,3%, mas a média Brasil é de 60,1%.
Em termos de dependência de recursos, os valores
observados para o período 2006-2009 foram estáveis:
os recursos transferidos representam 36,2% dos gastos totais do estado, contra os valores de 46,9% e
23,3% observados para as respectivas médias regional e nacional, nas mesmas bases de comparação.
Figura 9.14 — Autonomia Fiscal, 2006-2009
m
Fonte: Elaboração LEP/CAEN
l
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Laboratório de Estudos
da Pobreza (LEP)
CAEN – UFC
0
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Figura 9.15 — Dependência Fiscal, 2006-2009
2
Fonte: Elaboração LEP/CAEN
l
P
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estes federados. A Resolução do Senado no 40/2001
permitiu
o endevidamento
dos estadosuem atém2 ved
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a sua receita
corrente
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Receita
Corrente
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244
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da Pobreza (LEP)
CAEN
i – UFC
a
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e
Movimento
Ceará mais
e
e Justo
a
o
Uma Agenda para o Desenvolvimento do Estado do Ceará
Diretrizes
para um Crescimento
Econômico
c
e
ç com Equidade e Justiça Social
a
b
a
e
A Resolução do Senado Federal no 43/2001 estabeleceu que em cada exercício financeiro, o montante global das operações de crédito realizadas
não poderá ser superior a 16% da receita corrente
líquida. Desta forma, em termos anuais a captação
de empréstimos pelo Ceará estaria limitada a R$
1,3 bilhão. A mesma resolução limita o serviço da
dívida a 11,5% da receita corrente líquida. Em 2009,
o serviço da dívida atingiu R$ 774 milhões, 9,2% da
receita corrente líquida. Desta forma, a eventual
captação de novos empréstimos deve considerar essas restrições.
A Figura 9.16 mostra a associação da dívida
pública fundada e a receita corrente, das unidades
federadas do Nordeste em 31 de dezembro de 2009.
Note-se que caso o Ceará opte por obter financiamentos de forma a ter o mesmo nível de endividamente da Bahia, ainda abaixo da média regional
de 49% da receita corrente, comprometeria apenas
65% da receita corrente líquida, e poderia obter financiamentos no volume de R$ 1,66 bilhão.
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140,0
132,21
120,0
100,0
80,0
64,38
60,0
44,70
40,0
40,61
30,81
46,75
35,67
20,87
20,0
25,67
0,0
AL
BA
CE
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PB
PE
PI
RN
SE
Figura 9.16 — Dívida Fundada em Percentual da Receita Corrente
Fonte: Elaborado pelos autores com dados da STN
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Movimento
Ceará
mais Justo
10 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este documento que ora fazemos chegar aos
candidatos ao governo do estado, ao Senado, à sociedade e a impressa traz uma visão geral sobre o atual
quadro econômico e social do Estado e seus desdobramentos na perpetuação da pobreza e da desigualdade. Nossa principal motivação para elaboração
desta Agenda foi sugerir um conjunto de diretrizes
para contribuir com o Governo estadual no sentido
de implementar políticas que induzam o crescimento
econômico com equidade e justiça social.
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De forma resumida, o que se depreende do amplo diagnóstico feito na primeira parte deste documento é que a participação do PIB agropecuário na
economia do Estado vem reduzindo, apesar de um
grande percentual da população ocupada está ligado a esse segmento. Ademais, verifica-se também
que o setor de serviços é o principal setor de nossa
economia e que vem aumentando a participação da
proporção da população nessa atividade.
Em termos do desempenho da renda familiar,
constata-se que apesar da evolução significativa observada nos últimos anos, o nível médio de renda no
Ceará é ainda extremamente baixo, sendo um dos
menores do País. Ademais, percebe-se que grande
parte da pobreza encontra-se no interior do Estado, apresentando baixíssima escolaridade, sendo
composto de quase 50% de crianças e jovens de até
15 anos. Grande parte dos segmentos mais pobres
depende da renda do trabalho e dos programas de
transferências do governo federal.
Quanto à desigualdade de renda no Ceará, ela
é ainda bastante expressiva apesar, de ter caído
nos últimos anos. Entretanto, quando se compara
a intensidade dessa queda com a de outros Estados verifica-se que o Estado perdeu posição relativa. Outra importante constatação é que a queda da
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desigualdade vem sendo motivada principalmente
pela expansão da renda do trabalho, seguida das
transferências, com um peso menor. Esta evidência aponta que intensificar políticas de geração de
emprego, juntamente com programas de transferências para classes de renda mais baixas, podem
ser estratégias importantes para redução das desigualdades, razão porque devem ser intensificadas.
Por outro lado, constata-se que o Ceará apresenta
ainda um dos salários médios mais baixos do País,
o que pode ser explicado pela baixa produtividade no setor agropecuário e a baixa qualificação do
conjunto dos trabalhadores em geral, apesar de ter
ocorrido, nos últimos anos, uma maior expansão puxada principalmente pelos ganhos de produtividade
advindos da melhoria educacional.
Resumidamente, sabemos que o Ceará é um
dos estados mais pobres da federação. Sua renda
média, de, aproximadamente, R$ 352, em 2008,
está entre as três mais baixas do País e seu PIB não
chega a 2% do PIB brasileiro. Diante desse quadro,
o anseio necessário e urgente de expandir a riqueza
do Estado faz com que muitas das ações governamentais acabem por negligenciar os aspectos distributivos e de bem-estar das políticas adotadas.
Nesse contexto, pensar em desenvolvimento do esLaboratório de Estudos
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tado do Ceará é pensar também numa agenda que
promova os aspectos relacionados à distribuição da
riqueza. Isso é importante tanto em termos dos valores sociais, éticos e humanísticos, que não se está
colocando em questão, como também do ponto de
vista econômico. Desenhar e implementar políticas
que possam incrementar a renda dos mais pobres é
uma questão fundamental nesse processo, uma vez
que além de propiciar de forma direta o aumento
da renda da economia, gera também ganhos indiretos pela queda da desigualdade.
Na segunda parte do documento, procuramos
sistematizar nossas idéias, agrupando-as em temas
considerados imprescindíveis para o Estado iniciar uma nova etapa de desenvolvimento. A cada
um desses temas selecionados, estabelecemos um
conjunto de diretrizes, que traduzem a percepção
de nosso grupo quanto aos encaminhamentos que
o Estado pode adotar em relação a cada um dos
temas. Logicamente, temos a compreensão de que
os desafios para combater a pobreza e reduzir a desigualdade, são bastante complexos, razão porque
queremos, com este documento, apenas manifestar
nosso compromisso em contribuir para o debate,
procurando qualificar as políticas públicas a serem
implementadas pelo próximo Governo.
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Finalmente, queremos manifestar o sentimento dos autores de que não podemos adiar mais a
solução desses dois problemas que afligem toda a
sociedade, que é a pobreza e a desigualdade, e ao
mesmo tempo, conclamar todos os segmentos representativos da sociedade, independente de coloração partidária, para agregarem-se a essa nova
iniciativa, de maneira a potencializarmos nossos esforços em busca de um Ceará mais Justo.
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