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EM BUSCA DE UMA AVALIAÇÃO MAIS JUSTA

Diversas insatisfações, com relação ao tema Avaliação, são percebidas nos relatos de alguns professores, no exercício de sua profissão. Como tornar essa prática mais justa, e capaz de auxiliar o educando em seu processo de construção de conhecimento, promover uma autonomia que o leve a ser parte integrante de seu contexto, reconhecendo que a prática da avaliação está à sua disposição para auxiliá-lo e não para puní-lo?

1 EM BUSCA DE UMA AVALIAÇÃO MAIS JUSTA Tânia Szücs dos Santos 1 Diversas insatisfações, com relação ao tema Avaliação, são percebidas nos relatos de alguns professores, no exercício de sua profissão. Como tornar essa prática mais justa, e capaz de auxiliar o educando em seu processo de construção de conhecimento, promover uma autonomia que o leve a ser parte integrante de seu contexto, reconhecendo que a prática da avaliação está à sua disposição para auxiliá-lo e não para puní-lo? Ferreira (1992) constatou, em sua pesquisa, que existe o desconhecimento do conceito de avaliação, distorcendo seu real papel no aperfeiçoamento do processo ensino-aprendizagem. Sendo assim, muitas vezes o professor age de forma autoritária e arbitrária quando avalia a aprendizagem dos alunos. O objetivo desta reflexão é de identificar e delinear posturas avaliativas que despertem o interesse dos pesquisadores da atualidade que estão em busca deste tipo de avaliação, como uma forma de contribuição à aprendizagem de seus alunos. 1 Pedagoga, Psicopedagoga, Especialista em Avaliação Educacional, Mestranda em Educação na UEL. 2 Com base na literatura recente e em pesquisas realizadas e publicadas no site da CAPES, este estudo busca algumas respostas que possam direcionar e trazer contribuições para a prática docente. “Avaliação educacional, em geral, e a avaliação da aprendizagem escolar, em particular, não são fins em si mesmas” afirma LUCKESI, (2002, p.28); mas devem acontecer com o objetivo de encontrar um direcionamento da ação em busca da qualidade da aprendizagem do aluno. Quando a avaliação acontece apenas para atribuir notas, tem apenas como função a classificação e a conseqüente exclusão e não o acolhimento e inclusão. Sendo assim, esta prática não é justa nem coerente com os propósitos e/ou funções que deveria assumir: o auxílio para a construção de conhecimento por parte do aluno. Nessa perspectiva, a avaliação deve ser vista, sentida e sofrida pelo aluno como um real auxílio à sua aprendizagem. Com base nesta afirmação, tem-se a clareza de que a prática autoritária não condiz com uma proposta de avaliação que realmente auxilie o aluno na construção do seu conhecimento. Porém, o atual exercício da avaliação vem acontecendo a “serviço de um modelo teórico e de educação que demonstra... uma defasagem no entendimento e na compreensão da prática social” (Idem). Essa prática faz com que a educação sirva como um mecanismo de conservação e reprodução da sociedade, à medida em que não promove as transformações necessárias para que o aluno assuma um compromisso real com 3 sua aprendizagem. Quando o aprendiz estuda determinados conteúdos que não o fazem pensar ou refletir e, até mesmo, relacioná-los com sua realidade, significa que não houve aprendizagem, mas a mera reprodução de conteúdos. Nesse contexto, o autoritarismo se apresenta, segundo Luckesi (2002), como elemento necessário para a garantia desse modelo social, através de um modelo teórico conservador da sociedade e da educação. Para propor um rompimento ou mudança nas práticas de avaliação, Luckesi (2002) sugere a necessidade de situá-la num contexto pedagógico que esteja a serviço de uma pedagogia preocupada com a educação como mecanismo de transformação social. Em sua tese de doutorado, Luckesi (1992) concluiu que a avaliação da aprendizagem serve para propor e encaminhar o disciplinamento dos educandos, ou seja, é praticada com propósitos que nada contribuem para a aprendizagem dos alunos. Nesta perspectiva, Costa (1992) pontua, em sua pesquisa, o quanto a avaliação pode ser um entrave para avanços significativos na aprendizagem. A Avaliação da Aprendizagem escolar no Brasil está a serviço de uma pedagogia dominante que serve a um modelo social dominante – um modelo social conservador, passando pelas práticas das Pedagogias: Tradicional, Escolanovista e Tecnicista – traduções do modelo liberal conservador da nossa sociedade, tentando promover uma igualdade social nunca alcançada, já que o modelo social não o permite. (LUCKESI, 2002, p. 29). A prática da avaliação no contexto escolar - em um modelo liberal conservador - é autoritária, exigindo controle e enquadramento dos indivíduos nos parâmetros previamente estabelecidos de equilíbrio social - um instrumento disciplinador apenas, tanto de condutas cognitivas quanto de sociais. 4 A prática da avaliação, nas pedagogias que se preocupam com a transformação, devem buscar a superação do autoritarismo e desenvolver a autonomia do educando, manifestando-se como um mecanismo de diagnóstico da situação, buscando o avanço e o crescimento. Para Cunha (1992), a avaliação deve ter a possibilidade de desempenhar efetivamente sua função pedagógica e social, minimizando as diferenças sociais que estão postas no contexto social. Essa prática é difícil de ser modificada, porque a avaliação, para Luckesi, é um ato amoroso, só que a sociedade na qual ela está sendo praticada não é amorosa, vencendo aí a sociedade e não a avaliação. Aplica-se provas, exames, mas não se realizam avaliações. “Provas e exames pressupõem julgamento e exclusão, avaliação pressupõe acolhimento, tendo em vista a transformação” (LUCKESI, 2002, p.171). A avaliação, em uma perspectiva de ato amoroso, segundo o autor acima, acolhe a situação, na sua verdade, e tem como característica o não julgamento; porém, estes aparecerão, mas para dar curso à ação e não para excluíla, sendo assim um ato acolhedor, integrativo e inclusivo. Na escola, a avaliação da aprendizagem tem dois objetivos: “auxiliar o educando no seu desenvolvimento pessoal e responder à sociedade pela qualidade do trabalho educativo realizado” (LUCKESI, 2002, p. 174), objetivos que devem andar juntos, para que o educador não se perca em práticas autoritárias. Muitos professores demonstram uma certa resistência às mudanças, talvez porque esta pratica se apresenta de forma cristalizada em sua própria vida, 5 idéias sobre a avaliação que foram formadas ou construídas pelas práticas vividas desde os tempos em que eram alunos. Por esse motivo, torna-se necessário que o professor também reconheça a necessidade da mudança, para melhoria do processo e, através deste comprometimento, busque alternativas que tornem a avaliação uma prática mais justa e inclusiva. Quando as práticas de avaliação puderem assumir essa postura, o educador saberá que sua principal função não é a de um julgamento definitivo e acabado, mas de direcionamento para a ação. E essa ação de apoio, auxílio e compreensão do processo ensino aprendizagem - da forma como vem sendo realizada - apenas se destina à classificação e exclusão, não podendo ser considerada parte do processo. O aluno deve reconhecer a avaliação como um processo que o auxilia na construção de seu conhecimento e, principalmente, ao professor que conduz esse processo, como um orientador, tornando essa prática - plagiando Luckesi - um “ato amoroso”. Dessa forma transforma-se as práticas avaliativas em práticas mais justas, que respeitem as diferenças e peculiaridades de cada indivíduo. 6 REFERÊNCIAS COSTA, Maria Salete da. Mudamos a alfabetização escolar. E a avaliação como fica? Uma experiência na perspectiva construtivista sócio interacionista. Dissertação de Mestrado. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo 01/06/1992. CUNHA, Myryam Crestian Chaves da. A problemática da avaliação no ensinoaprendizagem do português. Dissertação de mestrado. Universidade Federal do Pará - Letras: Lingüística e Teoria Literária. 01/12/1992. DALLA, Marilucia Silva. A dimensão socializadora da Avaliação: Análise A Partir Da Avaliação Qualitativa. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal do Espírito Santo 01/11/1989. FERREIRA, Eliane dos Santos. Obstáculos a Avaliação no trabalho docente. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal do Rio de Janeiro 01/05/1992. LUCKESI, Cipriano Carlos. Avaliação da Aprendizagem Escolar: Estudos e proposições. – 13.ª ed. – São Paulo: Cortez, 2002. _______________________ Avaliação educacional escolar: Sendas percorridas. Tese de Doutorado - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo 01/04/1992. ** Artigo publicado em: Berbel, N. A. N, Gomes, D. F. M. (orgs). Exercitando a reflexão com conversas de professores. P.235-238. Londrina: GRAFCEL, 2005.