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São Cipriano entre Brasil e Portugal

2020, São Cipriano entre Brasil e Portugal - Comunicação de Pesquisa

Comunicação de pesquisa apresentada na III Semana Infernal, organizada pela Universidade Federal do Pampa e pela Universidade Federal de Santa Maria.

São Cipriano entre Brasil e Portugal Inês Teixeira Barreto Mestranda do P. E. P. G. em História PUC-SP Orientador: profº drº Alberto Luiz Schneider [email protected] III Semana Infernal – 2020 (Unipampa – UFSM) OBJETIVO • Estudar os hibridismos culturais criados a partir da circularidades do imaginário mágico entre Portugal e Brasil • Como e quais tradições e crenças portuguesas foram absorvidas pelas religiosidades de matriz africana? • Como elas sobreviveram e encontraram terreno para sua sobrevivência, da era Moderna até a Contemporaneidade? CONTEXTO • Feitiçaria portuguesa possui forte substrato católico, com elementos pré-cristãos, judaico e mouros • Práticas e imaginários que absorveram a influência católica ao invés de resistir a ela • Colonização portuguesa e escravidão de africanos e ameríndios • Encontros entre catolicismo, religiões africanas e ameríndias, judaísmo e islã: nascem os hibridismos entre culturas e práticas mágico-religiosas que formam um novo elemento, completamente único. FONTES • Elementos rastreados a partir do O Livro de S. Cipriano – o Thesouro do Feiticeiro • Literatura, da sociologia e da historiografia: Arthur Ramos, Nina Rodrigues, João do Rio, Edison Carneiro, Gilberto Freyre • Músicas como pontos cantados (canções rituais) de Jurema, Catimbó e Umbanda: Música de Feitiçaria de Mário de Andrade, JB Carvalho, Joãozinho da Gomeia REFERENCIAIS TEÓRICO-METODOLÓGICO • Hibridismo cultural – Nestor Canclini • Polifonia e polissemia da cultura – Michel de Certeau • Lutas de representações – Roger Chartier • Paradigma indiciário – Carlo Ginzburg • História dos livros – Robert Darnton S. CIPRIANO • São Cipriano de Cartago ou de Antióquia • Martirizado por volta de 300 d.C. junto com Santa Justa, ou Justina • Bruxo convertido por Justina que se torna um mártir • Lendas, feitiços e orações ligado a S. Cipriano circulam na Europa e no Oriente Médio desde o século 4 d.C. • Jerusa Pires Ferreira e Owen Davies • Primeiros documentos escritos em latim no século 5: Conversão, Confissão e Paixão ou Martírio de São Cipriano • Folhetos, manuscritos e orações a do século 11 • Hagiografias a partir do 12 • Calderon de La Barca e Gil Vicente no século 16 • Grande popularidade no final do século 18 • Tradições orais sobre o santo foram coletadas por etnólogos portugueses no 19 e no 20: José Leite de Vasconcelos, Teófilo Braga e Francisco Adolfo Coelho BRASIL • Influência dos livros e das tradições orais chegam com os colonos portugueses. • Práticas coloniais do século 18: bolsas de mandinga, oração para feitiços amorosos, adivinhação para descobrir tesouros estavam enterrados. • Sofrem modificações ao longo dos séculos 18 e 19 chegam na Umbanda e na Quimbanda do século 20. • Popular até os anos 1930. Relacionado com pretos-velhos na Umbanda e com exus na Quimbanda. Um ponto cantado de Umbanda São Cipriano é quem manda nos pretos-velhos São Cipriano manda Rei Congo baixar Olhai meu pai, olhai meu pai Venha ver os pretos-velhos trabalhar Ilustração: Pontos Ilustrados instagram.com/pontosilustrados RESULTADOS PARCIAIS • Presença de culto aos santos, sua relação com os divindades de origem africana e a sobrevivência de entidades e mitos da feitiçaria europeia dentro das práticas e crenças brasileiras. • Práticas descritas pelos autores brasileiros, como o uso de incenso, das encruzilhadas como lugares mágicos, sacrifício ritual de galinhas pretas e o uso de orações cristãs. • Todos esse elementos estão no livro de São Cipriano, mostrando que eles também possuem uso na feitiçaria portuguesa • As religiosidades yorubá e bantu são predominantes no campo das encantarias, absorveram elementos e se mostraram um terreno para sobrevivência de práticas e crenças de outras culturas. REFERÊNCIAS BUTTLER, E.M. Ritual Magic. Cambridge: Cambridge Press, 1949. 328p. CANCLINI, N. G. Culturas Híbridas. São Paulo: Edusp, 2008. 385 p CHARTIER, R. A História Cultural: entre práticas e representações. S.l: 1990. CERTEAU, M. de. A Cultura no Plural. Rio de Janeiro: Papirus Editora, 2001. 256p DARNTON, R. O beijo de Lamourette. São Paulo: Companhia das Letras, 2010. DAVIES, O. Grimoires: a history of magic books. Oxford: Oxford Academic Press, 2010. FERREIRA, J. P. Livros e Leituras De Magia. Revista USP, n. 31, p. 42–51, 1996. _____________. O Livro de São Cipriano: uma legenda de massas. São Paulo: Perspectiva: 1992. • MEYER, M. Feitiços Do Amor. Revista USP, n. 31, p. 104–111, 1996. NEGRÃO, L. N. Entre a Cruz e a Encruzilhada. Editora Edusp: São Paulo: 1996. ______________________. Magia e Religião na Umbanda. Revista USP, nº 31, p 76-89, Setembro de 1996. SOUZA, L. de M. e. O Diabo e a Terra de Santa Cruz: feitiçaria e religiosidade popular no Brasil colonial. São Paulo: Companhia das Letras, 1986. 396p. VEIGA, M. A. L. Sob a capa negra: necromancia, feitiçaria, curandeirismo e práticas mágicas de homens em Aragão (séculos XV e XVI) . 2011. 216 p. Tese (Doutorado em História) Departamento de História – FFLCH -USP, São Paulo, 2011