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O Sintoma Social

2002, Ágora: Estudos em Teoria Psicanalítica

The social symptom. The notion of symptom, which Freud extracts from the medical discourse and then subverts, will be often altered by Lacan to be given an intrinsic value to the structure of the subject. Its articulation with the social tie is always rearticulated, as well as the possibility of giving the social symptom a psychoanalytical notion.

See discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.net/publication/262659097 O sintoma social Article in Ágora Estudos em Teoria Psicanalítica · December 2002 DOI: 10.1590/S1516-14982002000200001 CITATIONS READS 0 20 1 author: Vanier Alain Paris Diderot University 54 PUBLICATIONS 17 CITATIONS SEE PROFILE All content following this page was uploaded by Vanier Alain on 29 December 2014. The user has requested enhancement of the downloaded file. Arti gos O S INTOMA SOCIAL* Ala in Va n ie r Psiquiatra, é professor de psicopatologia e de psicanálise na Universidade de Paris 7 ( Denis Diderot) . Analista m em bro do Espaço Analítico ( AFPRF) do qual foi presidente. RESUMO: A noção de sintom a, que Freud extrai do discurso m édico e a subverte, será várias vezes rem anejada por Lacan para tom ar radicalm ente um valor fundador para a estrutura do sujeito. Sua articulação com o laço social se encontra sem pre rearticulada, assim com o a possibilidade de fazer do sintom a social um a noção psicanalítica. Palavras - chave : Gozo, laço social, objeto, sintom a. ABSTRACT: The social symptom. The notion of symptom, which Freud extracts from the m edical discourse and then subverts, will be often altered by Lacan to be given an intrinsic value to the structure of the subject. Its articulation with the social tie is always rearticulated, as well as the possibility of giving the social sym ptom a psychoanalytical notion. Ke yw ords : Jouissance, social tie, object, sym ptom . E xistirá sintom a social do ponto de vista da psicanálise? Em geral, o sintoma é uma marca individual e se manifesta como algo que se afasta em relação a um a norm a de funcionam ento fisiológico ou com portam ental. Bem , o ato fundador de Freud diz respeito a um certo estatuto do sintom a. Desloca-o da tradição hipocrática, m édica, com o signo tom ando lugar no interior da constituição de um quadro clínico, para ser concebido com o dotado de sentido. O sintom a é um entrave do qual se busca m enos livrar o sujeito dele do que tom á-lo com o palavra não dita. Mensagem desconhecida pelo sujeito, pode então prestar-se à interpretação. Algum a coisa procura ser dita e não consegue fazê-lo de outra m aneira. Após Freud, um a concepção * Este texto retom a e avança certos elem entos apresentados por ocasião do colóquio organizado pelo Espaço Brasileiro de Estudos Psicanalíticos, no Rio de Janeiro, em agosto de 2000, e publicado em parte em VANIER, 2001 e 2001a. Ág o ra v. V n . 2 ju l/ d e z 2 0 0 2 2 0 5 - 217 206 ALAIN VANIER anam nésica prevista para dar conta do conjunto do estilo de um sujeito no interior do qual os sintom as teriam lugar, recobriu a radicalidade do avanço de sua proposta. Por outro lado, a noção de laço social não é óbvia, do ponto de vista da psicanálise. Para pensar a questão do sintom a social convém interrogar não apenas a noção de sintom a com o tam bém nossas concepções do social para tentar encontrar o lugar em que se entrelaçam . Lacan retom a a abordagem freudiana do sintom a orientando-a logo para aquilo que constituirá o desenvolvim ento ulterior de seu ensinam ento. “Freud [...] ateve-se ao que se negligenciava sob o título de ‘conteúdo’ dos sintom as, e que é o m ais concreto da realidade: a saber, ao objeto que provoca um a fobia, ao aparelho ou à função som ática im plicada num a histeria, à representação ou ao afeto que ocupa o sujeito em um a obsessão” ( LACAN, 1938, p. 88) . Assim , o sentido do sintom a é aquilo que convém decifrar no conteúdo. Na história da psicanálise, a origem do sintom a foi sucessivam ente: um a sedução sexual, depois, os efeitos do auto-erotism o, ou ainda a constelação de um certo núm ero de traços que, passando do nascim ento de um irm ão ao laço entre a m ãe e o pai, se organizarão em torno desse ponto focal, deste “com plexo nodal das neuroses”, que é o com plexo de Édipo. O sintom a ganha desde então o valor “de um a função de expressão do recalcado”. O tratam ento será um trabalho cujo objetivo é trazer à consciência o elem ento originário, esquecido, recalcado. Mas a experiência de Freud, à m edida que a psicanálise se desenvolve, vai conduzi-lo a um certo núm ero de retificações a esta concepção. Nesse texto de antes da guerra, Lacan salienta que pouco a pouco a noção de resistência, e depois a de transferência, obrigam a repensar o estatuto do sintom a de outro m odo. Ele sublinha, já nesse m om ento, que “o sintom a neurótico representa no sujeito um m om ento de sua experiência em que ele não sabe se reconhecer, um a form a de divisão da personalidade”. O m ovim ento de Freud perm ite que a noção de sintom a evolua: de m odalidade de expressão do inconsciente, ele se torna defesa contra a angústia, concebida com o sinal de um perigo de castração. Esta evolução, para Lacan, “tende a transform ar em term os de estrutura a referência do sintom a ao sujeito”. O sintom a apresenta desde então valor estrutural e constitui para Lacan a m arca de um a divisão fundam ental na personalidade entre o sujeito e o eu. Não é possível, portanto, referir apenas ao Imaginário, que ainda não era chamado assim, esta primeira abordagem do sintom a em Lacan. Mas o sintom a já adquiriu um valor fundam ental, não com o traço de um acidente da psicogênese, e sim com o testem unha radical da constituição do sujeito e do eu. A partir dos anos 1950, com a introdução dos três registros — Sim bólico, Im aginário e Real — , o sintom a é caracterizado com o sim bólico. O sintom a é essencialm ente significante, tem a estrutura significante e se apresenta com o um a m etáfora. É, pois, na ordem do significante que ele deve ser interpretado. Esta leiÁg o ra v. V n . 2 ju l/ d e z 2 0 0 2 2 0 5 - 217 O SINTOMA SOCIAL tura é aquela que Lacan propõe a partir das prim eiras obras freudianas que são A interpretação dos sonhos, A psicopatologia da vida cotidiana ou O chiste e sua relação com o inconsciente. Ora, o significante de representar um sujeito para outro significante introduz a divisão deste sujeito ( LACAN, 1964-1965) . Mas, ao m esm o tem po, esta divisão subjetiva é m ascarada, apagada, suturada. É aí que Lacan situa o ser. Portanto, o sintom a é este ser do sujeito enquanto ser de verdade: é o passo fundam ental da psicanálise. Daí advém a “dificuldade de ser do psicanalista”, pois ele deve, para que a análise possa se dar, constituir-se com o o próprio com plem ento do sintom a. Desde seus prim eiros trabalhos Lacan acentua o ser social do hom em . Freud indicava com o “na vida psíquica do indivíduo tom ado isoladam ente, o Outro intervém regularm ente com o m odelo, apoio e adversário e, por causa disso, a psicologia individual é tam bém , im ediata e sim ultaneam ente, um a psicologia social” ( FREUD, 1921). O Outro está im plicado desde a origem , para o sujeito. Da m esm a maneira, o estágio do espelho que Lacan toma emprestado de Wallon e, além deste, a vários outros psicólogos, m anifesta a necessidade de um Outro de quem o sujeito se possa distinguir para constituir sua unidade na im agem ; este outro é neste momento o semelhante, porém, mais tarde, ele mostrará como é também a mediação do Outro que nom eia que será cham ada para conferir a im agem . Para Henri Wallon, a prem aturidade biológica testem unhava o enraizam ento do ser social do hom em ; para Lacan, ela se torna necessária para conceber essa antecipação que é o estágio do espelho, que dá conta da im portância da captação im aginária na vida do hom em , da qual ele dirá que foi esta constatação a razão de seu trabalho. O social, nesta prim eira abordagem , é antes de tudo im aginário. Lacan leu Hegel com Kojève, e enfatiza a dialética do m estre e do escravo. Para Hegel, “inversam ente, nesta m ediação, a relação im ediata se torna para o m estre a pura negação desta m esm a coisa ou o gozo; o que não é executado pelo desejo é executado pelo gozo do m estre; para term inar com a coisa: a satisfação no gozo. Isto não é executado pelo desejo por causa da independência da coisa; m as o m estre, que interpôs o escravo entre a coisa e ele, se liga assim apenas à dependência da coisa, e sim plesm ente goza com ela. Ele abandona o lado da dependência da coisa ao escravo, que a elabora.” (HEGEL, 1941, p. 162) Estou com entando a dialética do m estre e do escravo e a leitura que dela faz Lacan apenas para salientar que este últim o, quando retom a esta questão, lateraliza o gozo de maneira diferente da de Hegel. Lembremo-nos do comentário de Kojève: Ág o ra v. V n . 2 ju l/ d e z 2 0 0 2 2 0 5 - 217 207 208 ALAIN VANIER “O Mestre consegue ir ao fundo da coisa e satisfazer-se no Gozo. [É pois unicam ente graças ao trabalho de um outro ( de seu Escravo) que o Mestre está livre frente à Natureza, e conseqüentem ente, satisfeito consigo m esm o. Mas ele só é Mestre do Escravo porque liberou-se anteriorm ente da ( e da sua) natureza arriscando sua vida num a luta de puro prestígio que — de tal m aneira — nada tem de ‘natural’.] O Desejo não consegue fazê-lo por causa da autonom ia da coisa. O Mestre, contrariam ente, que introduziu o Escravo entre a coisa e ele m esm o, só se une em seguida ao aspecto da dependência da coisa, e goza dela, portanto, de um a-m aneira-pura. Quanto ao aspecto da autonom ia da coisa, ele a deixa para o Escravo, que transform a-a-coisapelo-trabalho.” ( KOJÈVE, 1947, p. 23-24) Na obra de Lacan, o term o gozo aparece regularm ente quando ele faz referência à dialética do m estre e do escravo. Porém , de form a diferente de Hegel, Lacan situa sem pre o gozo do lado do escravo. Cito, com o exem plo: “O trabalho”, nos diz Hegel, “ao qual o escravo se subm ete renunciando ao gozo pelo m edo da m orte, será justam ente o cam inho por onde realizará sua liberdade. Não há engodo m ais m anifesto politicam ente e ao m esm o tem po, psicologicam ente. O gozo é fácil para o escravo e deixará o trabalho servil.” ( LACAN, 1966a, p. 811) 1 No entanto, para Lacan, diferentem ente de Marx, estam os em um a sociedade de escravos, todos do m esm o lado da m áquina da produção capitalista. Todos renunciam os ao gozo, condição da entrada no laço social; m as som os todos apanhados na prom essa, reafirm ada com insistência, de um a possibilidade de recuperação desse gozo perdido oferecida pelo consum o que será dem ocraticam ente repartido entre todos. Essa leitura pouco ortodoxa da dialética do Mestre e do Escravo feita por Lacan tem conseqüências tanto para sua concepção do sintom a quanto do laço social. Nos dois casos, trata-se do estatuto do gozo. Lacan irá rearticular esta noção com os sucessores de Hegel, em particular com Marx. Ela tinha sido abandonada desde o Sem inário sobre a Ética, e ele a retom a num a vertente econôm ica, no sentido freudiano do termo. Lacan dá a Marx um lugar decisivo com o intérprete de Hegel, com a invenção do sintom a: Marx inventor do sintom a no sentido freudiano. Com efeito, Lacan 1 E acrescenta: “O ardil da razão seduzido pelo que aí ressoa de um m ito individual bem conhecido do obsessivo, de quem sabem os não ser rara a estrutura na intelligentsia, porém por pouco que este escape à m á fé do professor, ele dificilm ente se ilude com o que quer que seja do seu trabalho que deve lhe dar acesso ao gozo. Prestando um a hom enagem verdadeiram ente inconsciente à história escrita por Hegel, ele encontra freqüentem ente seu álibi na m orte do Mestre. Mas o quê desta m orte? Sim plesm ente ele a aguarda” ( LACAN, 1966a, p. 811) . Ág o ra v. V n . 2 ju l/ d e z 2 0 0 2 2 0 5 - 217 O SINTOMA SOCIAL escreve em 1966, “a crítica de Marx” opera uma “reviravolta [...] a partir de Hegel”. Trata-se do “retorno [...] da questão da verdade”. Isto intervém desde antes da psicanálise, pois, assim , introduz-se “um a dim ensão que se poderia dizer do sintoma, que se articula com o que ela representa de retorno da verdade enquanto tal, na falha de um saber” ( LACAN, 1966b, p. 234) . Neste m om ento, a referência a Marx se introduz pelo viés da questão da verdade. Seu estatuto com o inventor do sintom a se desdobrará em dois tem pos. Inicialm ente, trata-se do sintom a com o m etáfora da verdade. O sintom a é, desde então, concebido com o sim bólico. É um a fala am ordaçada, um a verdade escondida, enterrada, um a form ação m etafórica que, com o para Freud, perm ite um a satisfação sexual substitutiva, m as esta vertente da “satisfação” ainda está deixada de lado. O sintom a está à espera de ser decifrado, de ser lido. Esta concepção do sintom a conduzirá à noção de forclusão, para as psicoses. Nessa perspectiva, o sintom a, assim com o a interpretação, são sem pre ligados, ao m enos para a neurose, à dim ensão edipiana. É isto que deixará, para o tratam ento das psicoses com a noção de forclusão do nom e-do-pai, o grupo de seus alunos em um a certa confusão, pois isto não significaria que não seria possível fazer nada com os psicóticos? Para poder interpretar, com o intervenção capaz de esclarecer o sintoma, fazendo emergir a verdade nele escondida, é preciso um a condição, a saber, o Édipo, figura da castração, fundam ento da m etáfora que é o próprio sintom a: se não há Édipo, não há interpretação possível. Marx é posto com o inventor da noção de sintom a antes de Freud. Lacan era um hom em de seu tem po, parte ativa dos debates de sua época — o que tam bém constitui um ensinam ento para o psicanalista de hoje. Assim tam bém quando ele introduz a dim ensão sim bólica com o saída para o im passe m ortífero do espelho, da relação do sujeito com sua própria im agem , com o sem elhante, referido à m orte com o m estre absoluta, o que está em jogo é o debate com Sartre e os existencialistas franceses. Da m esm a m aneira, a volta de Marx à cena dos ensinam entos de Lacan coincide com os acontecim entos de 1968. A crítica de Marx ao ardil da razão é, pois, a m arca deste retorno da verdade. Longe de aposentar a idéia e de pensar a história com o realização da razão, a ideologia é o que, para Marx, deve ser criticada. O sintom a, reafirm a então Lacan, é diferente do signo; trata-se aqui de separá-lo efetivam ente do sintom a no sentido da psiquiatria ou da m edicina; o sintom a é significante e só tem sentido na relação a outro significante. É aí, diz, “que reside a verdade do sintom a”. Assim , o sintom a não é representação de um a irrupção da verdade, ele é verdade. A partir desses anos, Lacan opera um rem anejam ento da noção de sintom a que tem conseqüências no que diz respeito à abordagem clínica e à direção do tratam ento. Ora, essa reviravolta irá conduzi-lo a um a outra leitura de Marx, dando ênfase não apenas à crítica da ideologia com o tam bém à dim ensão de um a econoÁg o ra v. V n . 2 ju l/ d e z 2 0 0 2 2 0 5 - 217 209 210 ALAIN VANIER m ia do gozo. A satisfação em jogo no sintom a é abordada. Mas o desvio através de Marx introduz um a questão sobre a distinção entre sintom a social e sintom a individual. Com efeito, o sintom a neurótico aparece com o um protesto, um a recusa diante do que as forças sociais exigem com o renúncia ao gozo. É o debate freudiano, que se tornou clássico, sobre o elo entre repressão e recalcam ento. Mas, se estas forças nada m ais são que a form a dada à estrutura, pode-se adm itir que elas não tenham efeito, de volta, sobre o sujeito? Bem , o que Lacan avança em seguida é a dim ensão real do sintom a. Im ediatam ente após 1968, introduz a teoria dos discursos, com o tentativa de form alização do laço social, do ponto de vista da psicanálise. O discurso é um a organização coletiva de gestão do gozo para nele instaurar um limite, para canalizá-lo. Sua questão, em vista dos acontecim entos de 68 e da situação social da época, poder-se-ia dizer de um a m aneira sim ples: com o interpretar o tipo de discurso dom inante no cam po social do capitalism o m oderno da era tecnocientífica? Será que assistim os a um rem anejam ento desse laço? Ele propõe quatro discursos para dar conta das diversas m odalidades do laço social, m as oscilará quanto à m aneira de pensar o que caracteriza o capitalism o e a m odernidade.2 Prim eiram ente, delineia o discurso do Mestre, m as a figura da m estria não é a m esm a que a da Antiguidade, que serve de m atriz a esta escritura; depois, num segundo tem po, delineia o discurso da Universidade, que ele vê reinar para além da cortina de ferro, e ao qual ele liga, num prim eiro m om ento, o discurso da ciência e, em seguida, aproxim a ao discurso da histérica. Mais tarde, proporá um quinto discurso, o discurso do capitalista, efeito de um a “inversão” do discurso do Mestre.3 O m estre antigo, identificado com a emergência da filosofia, é aquele que se apropria do savoir- faire do escravo para constituir seu saber. Ora, este m estre não trabalha. Hoje em dia, o desejo do m estre é que tudo gire, que funcione, e Lacan não identifica o proprietário m oderno com a figura que aparece no discurso do Mestre. O discurso do Mestre com pleta a definição do significante, é o m odelo da operação de sim bolização e, com isto, é o discurso do inconsciente. Se este últim o representa o sujeito para um outro significante, esta operação, a sim bolização, tem um resto, com o testem unha a descrição do jogo do fort feita por Freud. Há um resto inassim ilável, não sim bolizável. Este objeto, do qual se aproxim am os trabalhos de autores anglo-saxões, sobretudo Winnicott, m as tam bém Melanie Klein, passa a ocupar Lacan porque ele se interessa agora, no próprio m ovim ento da obra freudiana, pela questão da fantasia com o um dos fatores em jogo no tratam ento. Esta reviravolta a propósito do sintom a acom panha e segue um a reelaboração do objeto a. Objeto a inicialm ente im aginário, referido ao desejo e encontrado na 2 3 Discurso do Mestre, Discurso da Histérica, Discurso da Universidade, Discurso do Analista. Discurso do Capitalista. Cf. LACAN, J. ( 1953-1978) e o com entário de G. Lérès ( 1999) . Ág o ra v. V n . 2 ju l/ d e z 2 0 0 2 2 0 5 - 217 O SINTOMA SOCIAL relação com o pequeno outro, do qual o a é a inicial, depois no lugar na dim ensão significante, sim bólica, com a escritura dos discursos. Ele aparece desde o início com o efeito do im aginário, m as tam bém efeito da História pois, em um m om ento dado, o aspecto inassim ilável do a “esvaziou-se”. Aquilo que estava separado deste m ais-do-gozo em verdade tornou-se “contado, contabilizado” com o m ais-valia e acum ulado com o capital (LACAN, 1969-1970). A psicanálise, ao rearticular a m ais-valia com o m ais-do-gozo interpreta o que está junto no discurso contem porâneo e restitui a disjunção entre o m ais-do-gozo e a verdade. A obra de Marx se presta bem para m arcar a dim ensão real do sintom a, pois não basta denunciar ou sim plesm ente enunciar esta verdade para que seja lá o que for se m ova do discurso que esta verdade m ascarada parecia sustentar. Lacan questiona, portanto, a m ais-valia (Mehrwert) em Marx.4 A m ais-valia é a parte do valor da produção que não volta para o trabalhador. Esta dim ensão é tem po, um tem po que não se recupera nunca. O proletário é o trabalhador assalariado que produz e valoriza o capital e que é jogado fora assim que não é m ais indispensável para as necessidades de valorização do “senhor Capital”. Marx acrescenta que o proletário não é o hom em da floresta prim itiva ou o pobre, pois, de certa m aneira, ele é proprietário de sua floresta. Sem entrar nas diferenças entre m ais-valia absoluta, m ais-valia relativa, etc., pode-se notar que, com o capitalism o, o próprio trabalho se tornou um a m ercadoria e, com o toda m ercadoria neste sistem a, não é feita para ser consum ida m as sim para ser trocada, para produzir m ais-valia. Há um a história que pode ser contada a esse respeito: Dois am igos que não se viam havia um tem po, se reencontram ; um diz ao outro: — O que você está fazendo agora? — Estou vendendo sardinhas. — Isto m e interessa! Posso ver suas sardinhas? — Claro. Ele o conduz a um entreposto e lhe m ostra um as caixas. — Posso pegar um a lata? — Sim , pode pegar um a lata. — Posso provar? — Claro que sim , pode provar! O outro prova e grita: — Mas isso não dá para com er! — Quem falou em com er? É para com prar, vender, com prar, vender... 4 Traduzido tam bém m ais recentem ente por survaleur ( sobrevalor) , K. Marx ( 1993) . Ág o ra v. V n . 2 ju l/ d e z 2 0 0 2 2 0 5 - 217 211 212 ALAIN VANIER É a isto que Marx cham a fetichism o da m ercadoria. A função não é m ais o uso e sim a troca para a construção do capital. E será que o capitalista pode usufruir desta m ais-valia realizada? Realm ente não, e não por m otivos de m oral religiosa m as sim porque ele deve reinvesti-la para aum entar a produtividade. Assim , este gozo que escapa ao trabalhador, ao proletário, também não é devolvido ao proprietário. Toda a organização do capitalism o — e Lacan o m ostrará muito bem com a escritura do capitalista que põe em relação direta o objeto a e o sujeito dividido — visa essa produção constante de objetos que parecem ser o objeto cobiçado, o objeto do desejo do sujeito do m undo m oderno. Vam os aproxim ar isso do que diz Hannah Arendt quanto à condição do hom em m oderno, quando, partindo do m odo pelo qual a econom ia é constantem ente relançada por com andos m ilitares, faz valer com o esta consum ação — ou poderíam os dizer com Lacan “consum ição”— , é produção de destruição ( ARENDT, 1961, p. 321) . Ela m ostra com o os objetos produzidos são feitos para serem destruídos, com o é exem plarm ente o caso do m aterial m ilitar, m as que vale para o conjunto do consum o no qual a m oda, por exem plo, é um dos processos destrutivos, que realiza o destino do objeto: ser jogado fora. Essas imitações de objeto são para Lacan exatamente aquilo que perm ite a ele definir o objeto a com o causa do desejo e não com o sua m eta. Com efeito, além desses objetos, dessas im itações de objetos oferecidos para o consumo, cada vez que o sujeito chega a possuí-los termina com um: “não é isso!” O sujeito vai assim de objeto em objeto, de significante em significante, já que esses objetos só valem por sua captura no cam po significante. Porém , rem etem ao que foi inicialm ente perdido, o gozo, ao qual o sujeito renunciou, do qual ninguém usufrui: o que não quer dizer que o sujeito não vá, im aginariam ente, atribuir a um outro este gozo do qual ele se sente despossuído. Produzido pelo discurso do m estre, pela sim bolização, ele circula no laço social e o faz funcionar. Esta renúncia ao gozo produz o objeto a com o fragm ento do gozo que ninguém usufrui, resto do efeito do interdito do incesto, objeto perdido, originariam ente ligado ao corpo, objeto que vai causar o desejo. O sujeito instalará nele um a série de imitações do que seria, para ele, a meta de seus desejos. A destruição que afeta esses objetos é tam bém m anifestação da pulsão de m orte, que é gozo. A pulsão de m orte, construída a partir do autom atism o da repetição e do efeito do significante, do sim bólico — a palavra com o assassinato da coisa — é tam bém referida à questão do gozo com o algum a coisa da qual o sujeito está privado m as que tam bém tem a ver com a m orte. Precisam ente, o risco de m orte que o escravo da luta hegeliana não correu. Assim , o m ais-de-gozar é o objeto perdido que, ao m esm o tem po, circula perm anentem ente pelo sujeito com o fragm ento originariam ente perdido, que o sujeito tenta incansavelm ente recuperar. Ág o ra v. V n . 2 ju l/ d e z 2 0 0 2 2 0 5 - 217 O SINTOMA SOCIAL Em 1974, Lacan retom a essas questões trazendo outra, a de saber se a psicanálise é um sintom a. De fato, qual seria o estatuto da psicanálise na visão dos outros discursos? Naquela em que “o real se cruza” para que as coisas não se voltem com o o discurso do m estre m oderno poderia desejar, ou, contrariam ente, todos esses discursos a acom panhariam e a favoreceriam ? Será a psicanálise um sintom a? Lacan responde de m odo afirm ativo, m as não diz que ela seja um sintom a social. A psicanálise é um sintom a porque não passa de um tratam ento do sim bólico, porque está presa à questão do real, sua tônica fica do lado do real. Sem esse sintom a, é o real “na m edida que se cruza para im pedir que as coisas andem no sentido em que podem dar conta de si m esm as de form a satisfatória — satisfatória pelo m enos para o m estre — , o que não quer dizer que o escravo dela sofra de nenhum a m aneira, longe disto; o escravo, neste negócio, está muito m ais a salvo dos aborrecim entos do que se pode crer, é ele que goza, contrariam ente ao que diz Hegel” ( LACAN, 1975, p. 186) . Neste sentido, a psicanálise é um sintom a porque se coloca com o entrave ao que funciona no discurso capitalista, no discurso do m estre. É por isso que é necessário que a psicanálise fracasse para sobreviver, pois se for bem sucedida não será m ais que um sintom a esquecido. Lacan faz um a reviravolta e um deslocam ento em relação à noção clássica do sintom a com o elem ento a reduzir, o que parecia ser tarefa de um a psicanálise. De fato, se o sintom a tem valor de verdade, sua retirada conduz ao esquecim ento que seria tam bém o esquecim ento desta verdade. Ao contrário, é a norm alidade que se torna sintom ática, no sentido anterior do termo. A psicanálise é, portanto, um novo discurso, um laço social inédito, m as é tam bém o que perm ite escrever os outros. Ela vem , de certa m aneira, no lugar da relação sexual que não existe. A m ais-valia é logo transferida para o registro da contabilidade, a saber, o inconsciente, o que conta do fato do significante. É necessário o m ais-do-gozo para que a m áquina gire. Com efeito, “a m ais-valia é a causa do desejo do qual uma economia faz seu princípio: o da produção extensiva, portanto insaciável, da falta do gozo. Acum ula-se de um a parte para aum entar os m eios desta produção a título de capital. Estende o consum o de outra parte sem o que essa produção seria vã, justam ente pela sua inépcia em procurar um gozo do qual pudesse ser desacelerada” ( LACAN, 1970, p. 87). Mas logo aparece no discurso de Marx este resto de “entificação humanista” sob a forma da missão histórica devotada ao proletariado (LACAN, 1971). Aquilo que Marx abriu, depois de Hegel, volta a se fechar com uma outra solução de fechamento que aquela avançada por Hegel. O proletário é aquele que é despojado de tudo, m as algo subsiste que faz o apoio “daquilo que se produz sob a espécie da m ais-valia”. É preciso constatar que se a denúncia m arxista não im pediu que as coisas se estragassem , muito pelo contrário, nós som os levados a nos reportar a algum a coisa de “m ais original”, e que se encontraria na própria origem de todo discurso enquanto discurso da im itação. Ág o ra v. V n . 2 ju l/ d e z 2 0 0 2 2 0 5 - 217 213 214 ALAIN VANIER É isto o mais-do-gozo, além da mais-valia. É a descoberta do que Freud chamou de sexual e que é para Lacan a relação sexual com o algo que não existe. Aquilo que faz objeção à relação sexual é efeito da linguagem . Para Lacan, só existe um único sintom a social, a ser entendido com o retorno do real no cam po social do mundo contem porâneo: “Cada indivíduo é realm ente um proletário, ou seja, não tem nenhum discurso do qual fazer laço social, dito de outra m aneira, com o im itar” ( LACAN, 1975, p. 187) . A utilização do term o indivíduo, que quer dizer literalm ente o que não está dividido, indica bem que não se trata do sujeito no sentido do sujeito do inconsciente. Cada indivíduo, cada eu, cada elem ento da m ultidão, do corpo social, é realm ente um proletário, é no nível do real que ele é um proletário. O proletário designava na sociedade rom ana aquele que só era considerado útil pelos filhos que engendrava (Santo Agostinho), aquele que estava reduzido à função de puro genitor, aquém de qualquer nom e. O proletário é aquele que goza, que não está separado de seu gozo, m as está despojado de sua função de saber, o outro do Mestre, um indivíduo, sem o inconsciente. É um a vertente do que som os todos, objetos a, “tantos abortos”. Ora, este sintom a social se refere a um a certa dim ensão do sintom a no sentido individual, já que o gozo do sintom a isola o sujeito, aquilo que Freud sublinhava insistindo sobre o caráter associal do neurótico. A psicanálise não é, portanto, um sintom a social pois ela é este laço que vem no lugar da falta da relação sexual. “Isto não é absolutam ente suficiente para fazer dela um sintom a social pois um a relação sexual falta em todas as form as de sociedade. É ligada à verdade que estrutura todos os discursos. É justam ente por isso, de resto, que não há verdadeira sociedade fundada sobre o discurso analítico” ( Idem ) . O sintom a social viria m arcar o que particulariza um a sociedade. Estam os na via do sintom a com o função particularizante do sujeito. Mas, para Freud, só há sociedade fundada sobre a função paterna. Qual seria então a articulação possível entre o social e o sintom a? Na verdade, se “a psicanálise é sintom a do ponto no tem po em que chegam os à civilização,” ( LACAN, 1968-1969) nem por isso, para o sujeito, o sintom a é m arca de sua relação com o gozo, quer dizer, com o real, porque o gozo é excluído pelo fecham ento sim bólico. E esta função do sintom a “é aquilo que do inconsciente pode se traduzir por um a letra”, ( LACAN, 1974-1975) e é por que existe a repetição. Existe assim algum a coisa que não cessa de se escrever. Esta perspectiva, que situa a origem do sintom a não em Hipócrates m as sim em Marx, tem a ver com o laço que existe entre o sintom a e o inconsciente, este últim o respondendo ao outro. Assim , Lacan pode dizer que o sintom a só se pode definir de forma diferente pela “m aneira com que cada um goza do inconsciente na m edida que o inconsciente o determ ina”. Ág o ra v. V n . 2 ju l/ d e z 2 0 0 2 2 0 5 - 217 O SINTOMA SOCIAL Em seus últim os sem inários, Lacan se vê com pelido, contra sua vontade — já que sem pre fora seu projeto poder dispensar e ir além das idéias fixas de Freud — a voltar à questão do pai. Para sustentar a estrutura é necessário o Nom e-do-Pai, m as essa função paterna se desdobra em duas vertentes: o Nom e-do-Pai, no plano sim bólico, e o pai do nom e, quer dizer, o pai que dá o nom e, que faz o ato de nom ear, com o gozo inferido. Ele utiliza Joyce, tanto de sua obra com o de sua vida, para m ostrar que qualquer coisa pode vir no lugar do Nom e-do-Pai. 5 Este desdobram ento da função do pai e este estatuto particular do Nom e-do-Pai o conduzem a conceber um nó borrom eano de quatro term os, a quarta volta sendo aquela do Nome-do-Pai como necessário para nomear e distinguir os três registros. Esta abordagem é coerente com a fórmula que Lacan havia criado para a m etáfora paterna em que o Nom e-do-Pai já se encontrava em um a posição externa ao parêntese sim bólico, posição do significante que não está no Outro. Para Joyce, a construção de um a ponta de real, sua escritura e em particular a de Finnegans Wake, com a inflação imaginária, sua megalomania, a constituição de seu ego como sinthoma, é o que perm ite sustentar a estrutura. Esses term os provêm do grego sumptôma, que tam bém quer dizer tanto “acontecim ento infeliz” quanto “coincidência” e m ais precisam ente “coincidência de signos”. Este termo, por sua vez, provém do verbo sunpiptein, “cair junto”, “se encontrar, acontecer ao m esm o tem po”, com posto de sun “com” e de piptein, “cair”, “sobrevir”. Cair junto remete a essa parte de gozo que cai com o objeto na sim bolização, esse m ais-de-gozo que não cessa de retornar, esse gozo ligado ao sintom a. Assim , o sinthoma pode vir no lugar do Nom e-do-Pai e, paradoxalm ente, perm ite considerar o próprio pai com o um sintom a, o sintom a do neurótico. Isto posto, restam em aberto as questões trazidas pela clínica. Se for verdade que esta nova abordagem abre a possibilidade de um tratam ento das psicoses, que a precedente ( que havia perm itido a elaboração do conceito de Nom e-do-Pai) tinha fechado, ainda assim , essa equivalência deve ser m anejada com prudência na m edida que abre um certo núm ero de questões: haveria um a reversibilidade da m etáfora paterna, suscetível de explicar certo núm ero de fenôm enos clínicos, questão que não podem os deixar de lado no que diz respeito a um a certa instabilidade do nó sinthomático. O pai nunca se reduz com pletam ente à sua função sim bólica. A função de pai, poderia dizer Lacan, é a função do sintom a, que é algo diferente do fato de o pai ter ou não sintom as. É preciso acrescentar, aqui, o da perversão paterna, m aneira com o ele põe um a m ulher na posição de causa do desejo. O pai real, agente da 5 Esse rem anejam ento tem o efeito nada negligenciável de reabrir a possibilidade de um tratam ento das psicoses, cuja prim eira abordagem tinha perm itido a prim eira elaboração do Nom e-do-Pai ( LACAN, 1975-1976) . Ág o ra v. V n . 2 ju l/ d e z 2 0 0 2 2 0 5 - 217 215 216 ALAIN VANIER castração, reveza com o pai sim bólico, põe-no em função, m as não apenas o pai da realidade, castrado. É tam bém um a figura do pai real que goza, pois é o que goza com a m ãe, com aquela que, por um tem po, é toda-mulher para o sujeito. Para o neurótico, seu real é que este pai fala — nom eia. O que é um a espécie de im postura. É isto que Lacan indica quando diz que jam ais se analisa ninguém enquanto pai. Um filho fala e isto tom a para o filho daquele valor de palavra de pai. O pai freudiano não é aquele do patriarcado, ele deve “m anter-se afastado de todos os magistérios”, ele é apenas a figura im aginária, aquilo que serviria de tela à função. Ao contrário, é o ponto por onde a castração pode ser fechada, castração que Lacan designa com o num eral, referindo-se à num eração das dinastias reais. Pois, “o Pai nada m ais é que um referencial. Nós interpretam os esta ou aquela relação com o Pai [...] O Pai é um termo de interpretação analítica. A ele se refere qualquer coisa”. Pois não é o pai que fala, é a linguagem . Não é o pai enquanto tal que enuncia a interdição do incesto, ele pertence às condições da linguagem e da palavra, e é na linguagem que se encontra depositada essa interdição, é a linguagem que separa, que distingue. A função paterna é um a interpretação do estatuto persistente do religioso, da necessidade da crença que é um traço da estrutura. A psicanálise não deixa lugar para a transcendência m as sim para a função do terceiro, que separa, não pode se reduzir ou se instaurar sobre a base sim ples do consenso, m esm o que este fosse dem ocrático; Freud, por isso, sem pre recorreu ao m ito para articular o que poderíam os considerar com o a articulação da linguagem com a palavra. Esta instauração da função fálica com o função da falta, que separa, é o m odo paradoxal que o neurótico tem de habitar a linguagem. A psicose mostra que, sem este ponto, nada orienta o sentido ou dá a ele lim ite. Mas se o pai é um sintom a propriam ente dito, não haveria um a reviravolta operada em relação a Freud? Para Freud, o gozo do neurótico, seu sintom a, tornálo-ia associal; para Lacan, é o sintom a propriam ente dito que se torna ao m esm o tem po condição do social e o m odo particular de inscrição do sujeito no discurso, ou seja, no laço social. Tradução de Helena Floresta de Miranda Recebido em 12/ 8/ 2002. Aprovado em 30/ 9/ 2002. Ág o ra v. V n . 2 ju l/ d e z 2 0 0 2 2 0 5 - 217 O SINTOMA SOCIAL REFERÊNCIAS ARENDT, H. ( 1961) Condition de l’homme moderne, trad. G. Fradier, Paris, Calm ann-Lévy. FREUD, S. ( 1921) “Massenpsycologir und Ich-Analyse”, G.W, XIII. HEGEL, G.W.F. ( 1941) La Phénoménologie de l’ esprit . Trad. J. Hyppolite, Paris, Aubier, tom o I. KOJÈVE, A. ( 1947) Introduction à la lecture de Hegel, Paris, Gallim ard. LACAN, J. ( 1938/ 1984) Les complexes familiaux dans la formation de l’ individu, Paris, Navarin. . ( 1953-1978) “Du discours psychanalytique”, in Lacan in Italia 1 9 5 3 - 1 9 7 8 , Milão, La Salam andra: 1978, p. 32-55 . ( 1964-1965) Problèmes cruciaux pour la psychanalyse. Sem inário inédito. . ( 1966a) “Subversion du sujet et dialectique du decir dans l’ inconscient freudien”, in Ecrits, Paris, Seuil. . ( 1966b) “Du sujet enfin em question”, in Ecrits, Paris, Seuil. . ( 1968-1969) , D’un autre à l’Autre, inédito. . 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