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A MÚSICA E A MASSIFICAÇÃO DE CULTURAS

A música transformou-se, assim como qualquer tipo de arte, com o passar do tempo e com as mudanças de toda e qualquer sociedade na qual esteve envolvida. A música, ou qualquer tipo de produção sonora que possa ser chamada de música, passou de ritmos repetitivos e monótonos que pela repetição levam ao êxtase (como nas composições aborígenes australianas), indo até composições magníficas de mestres como Bach, Beethoven, Mozart e Tchaikovsky. Chegando ao novo mundo, as composições se multiplicaram em gêneros, ritmos e tempos específicos de cada local, numa balburdia musical que encanta, confunde, choca e, fundamentalmente, existe. Entre diversos gêneros nos EUA, ao longo do rio Mississipi, surge o jazz por volta dos anos 1910. Jazz que era uma sublime combinação de estilos musicais europeus com o sofrimento e lamentação dos negros do sul dos EUA. O estilo musical cresce durante o começo do século, e nas décadas de 1930-1960 viu o seu auge, não só em composições, mas também em popularidade através de invenções como o rádio e os discos e gramofones.

Contribuições de Alunos A MÚSICA E A MASSIFICAÇÃO DE CULTURAS Ivan Teles Campos* A música transformou-se, assim como qualquer tipo de arte, com o passar do tempo e com as mudanças de toda e qualquer sociedade na qual esteve envolvida. A música, ou qualquer tipo de produção sonora que possa ser chamada de música, passou de ritmos repetitivos e monótonos que pela repetição levam ao êxtase (como nas composições aborígenes australianas), indo até composições magníficas de mestres como Bach, Beethoven, Mozart e Tchaikovsky. Chegando ao novo mundo, as composições se multiplicaram em gêneros, ritmos e tempos específicos de cada local, numa balburdia musical que encanta, confunde, choca e, fundamentalmente, existe. Entre diversos gêneros nos EUA, ao longo do rio Mississipi, surge o jazz por volta dos anos 1910. Jazz que era uma sublime combinação de estilos musicais europeus com o sofrimento e lamentação dos negros do sul dos EUA. O estilo musical cresce durante o começo do século, e nas décadas de 19301960 viu o seu auge, não só em composições, mas também em popularidade através de invenções como o rádio e os discos e gramofones. Justamente aí começa a nossa aventura pelos escritos do sociólogo e musicólogo alemão Theodor W. Adorno (1903-1969). Adorno, um ferrenho crítico do Jazz, questiona a razão do jazz ser tão popular e aceito pela sociedade americana. Não só os negros, mas também os brancos escutavam e tentavam dançar aquele estilo musical encantador e diferente, que se podia reconhecer quando se escutava e que se podia “acompanhar com os pés”. As rádios ficaram completamente dominadas pelo estilo, e somente no pós-guerra com o Rock um estilo musical seria tão popular. Ao analisar o fenômeno do jazz, Adorno o encaixa na categoria de “cultura de massa”, dizendo que o jazz só é o que é porque foi usado até a exaustão por rádios e diversos meios de comunicação e entretenimento, deixando as pessoas não só acostumadas ao tipo de som, mas também sem a possibilidade de escolha. A música se tornou uma “coisa” dada, aquilo que Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC-SP, Graduando do Curso de Relações Internacionais. * 63 CADUS – Revista de História, Política e Cultura, São Paulo, v.1,n.1, Julho/2015 Contribuições de Alunos estava disponível. O gostar do jazz (ou de qualquer produto da “indústria de massa”), dá-se mais por uma falta de outras modalidades disponíveis do que efetivamente devido ao gosto, conforme exemplificado no seguinte trecho: “Se perguntarmos a alguém se “gosta” de uma música de sucesso lançada no mercado, não conseguiremos furtar-nos à suspeita de que o gostar e o não gostar já não correspondem ao estado real, ainda que a pessoa interrogada se exprima em termos de gostar e não gostar. Em vez do valor da própria coisa, o critério de julgamento é o fato de a canção de sucesso ser conhecida de todos; gostar de um disco de sucesso é quase exatamente o mesmo que reconhecê-lo.” (ADORNO,1999) As críticas de adorno à tal “cultura de massas” não param por aí. Vão também ao campo da própria construção de melodias, que para ele são puras reproduções menores de grandes mestres da chamada “música séria”, num movimento chamado por ele de “estandardização” da música. Movimento este que usa algumas bases da música erudita, porém impondo a ela repetições e condensações, diminuindo o impacto e intenção original da música. A estandardização contribui para o que Adorno chama de “infantilização do ouvido”, ou seja: os estímulos musicais são tão iguais e repetitivos que o ouvinte só consegue reconhecer a música que contém os mesmos tipos de entonações e ritmos. Para Adorno, o jazz é o maior exemplo deste movimento. Adorno, em críticas posteriores a seus escritos é considerado, apesar da fundamentação teórica de sua teoria, como um preconceituoso e intolerante para com o jazz e toda a carga histórico/emocional que o estilo carrega. Talvez o fato de ter sido vítima do exílio nazista tenha parte no sentimento de amargura demostrado pelo autor em diversos de seus textos em que se remetia ao jazz. Hoje, no século XXI, com toda a tecnologia existente não só na reprodução das músicas, mas também na facilidade em se encontrar diferentes estilos e tipos musicais põem em cheque a teoria de dominação da “indústria de massas”, mas a maior herança de nossos tempos é a de não permitir que os diversos gêneros musicais existentes se percam e sejam esquecidos. E isto se aplica não só ao jazz, mas também à música erudita e qualquer outro tipo de manifestação musical. 64 CADUS – Revista de História, Política e Cultura, São Paulo, v.1,n.1, Julho/2015 Contribuições de Alunos Referências Bibliográficas ADORNO, Theodor W. in Textos Escolhidos; Os Pensadores, Nova Cultural, São Paulo, 1999 pp. 65-108; FRANÇA, Fabiano Leite in Fetichismo e Decadência do gosto musical em Adorno, disponível em: http://www.ufsj.edu.br/portal- repositorio/File/existenciaearte/Edicoes/4_Edicao/fabiano_franca_mandar_c orrigido.pdf, Acessado aos 25/05/2015; MAGALDI, Ercilia Simone Dalvio in Adorno e o Fetichismo na Música e a Regressão da Audição, disponível em: http://www.ijep.com.br/index.php?sec=artigos&id=115&ref=adorno-e-ofetichismo-na-musica-e-a-regressao-da-audicao, Acessado em 25/05/2015; DE SOUSA, J. Francisco Saraiva in Theodor W. Adorno: Música Fetichizada e Regressão da Audição, disponível em: http://cyberdemocracia.blogspot.com.br/2008/07/theodor-w-adorno-msicafetichizada-e.html, Acessado em 25/05/2015; KUEHN, Frank Michael Carlos in Adorno e o jazz: uma questão de gosto, desgosto ou miopia?, disponível em http://www.academia.edu/7874978/ADORNO_E_O_JAZZ_uma_quest%C3 %A3o_de_gosto_desgosto_ou_miopia, Acessado em 28/05/2015 65 CADUS – Revista de História, Política e Cultura, São Paulo, v.1,n.1, Julho/2015