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Resenha do Livro O Lugar No/Do Mundo

Paulo. Na geografia é conhecida por suas diversas obras que falam sobre urbanismo, embora no livro O Lugar No/Do Mundo, sua contribuição seja no âmbito epistemológico da geografia. A obra se apresenta como uma disciplina marcante e imprescindível, por isso é utilizada nos períodos iniciais da graduação de Geografia da Fundação Educacional Unificada Campograndense -FEUC, para fundamentar a discussão do conceito de lugar,

Resenha do Livro O Lugar No/Do Mundo Esther Cristina Santos Pereira1 ______________________________ CARLOS, Ana Fani A. O Lugar no/ do Mundo. São Paulo, FFLCH, 2007. In: http://www.controversia.com.br/uploaded/pdf/12759_o-lugar-no-do-mundo.pdf Ana Fani Alessandrini Carlos, escritora, geógrafa e professora da Universidade de São Paulo. Na geografia é conhecida por suas diversas obras que falam sobre urbanismo, embora no livro O Lugar No/Do Mundo, sua contribuição seja no âmbito epistemológico da geografia. A obra se apresenta como uma disciplina marcante e imprescindível, por isso é utilizada nos períodos iniciais da graduação de Geografia da Fundação Educacional Unificada Campograndense – FEUC, para fundamentar a discussão do conceito de lugar, A obra em análise está dividida em oito capítulos, a saber: I. Definição do Lugar? II. O lugar na “era das redes” III. A guerra dos lugares IV. A natureza do espaço fragmentado V. Os lugares na metrópole: A questão dos guetos urbanos VI. Rua: Espacialidade, Cotidiano e Poder VII. A produção do não - lugar e VIII. A construção de uma “nova urbanidade”. Percebemos, a partir da leitura, o objetivo de discutir o lugar na chamada “modernidade” tendo o cenário da cidade de São Paulo como pano de fundo. Aparece de forma clara nesta leitura, uma orientação da autora pela geografia crítica sendo assim as referências utilizadas aproxima-se de geógrafos, sociólogos, filósofos e jornalistas como Milton Santos, Henri Lefebvre, David Harvey Edgard Soja, Walter Benjamim, José Saramago entre outros autores ligados ao pensamento crítico e/ou marxista. O capitulo Definir o Lugar? Inicia com um resgate do conceito de lugar, e do pensamento geográfico, como a partir da geografia humanística e cultural ocorre uma resignificação do conceito, principalmente dos locais em que cada sujeito, a partir de seu cotidiano estabelece vínculos. Para CARLOS (2007): Pensar a história particular de cada lugar se desenvolvendo, ou melhor, se realizando em função de uma cultura/tradição/língua/hábitos que lhe são próprios, construídos ao longo da história e o que vem de fora. (p.17) 1 Graduanda em Geografia pelas FIC/FEUC; Bolsista no Projeto de Iniciação à Docência – PIBID/Geografia/FIC. Todas essas mudanças que vem ocorrendo ao longo do tempo, modificam as relações socioespaciais, no entanto, o lugar continua sendo compreendido através da vivência cotidiana, dos usos do corpo, como esclarece a autora (14): Isto é, o lugar guarda em si e não fora dele o seu significado e as dimensões do movimento da vida, possível de ser apreendido pela memória, através dos sentidos e do corpo. Carlos aponta que a metrópole na sociedade capitalista tem como objetivo impor outros usos aos espaços, que “limitam” a atuação dos sujeitos nos lugares, a titulo de exemplificação podemos citar o caminhar pelas ruas e bairros que está cada vez mais extinto, em uma lógica de planejamento urbano que prioriza avenidas em detrimentos de espaços de encontros e trocas, de exercício da cidadania. Os pontos relevantes tratado nos capítulos O Lugar na “Era das Redes” e A Guerra dos Lugares é a velocidade das informações que podem chegar a qualquer local no mundo, aumentando nossa sensação de compressão do tempo e do espaço, este processo a partir da lógica de organização do mundo globalizado, por vezes, compromete as relações do lugar, seja em um processo de desenraizamento das populações, ou a partir da perda de referências territoriais, como aponta Carlos (21): As comunicações diminuem as distâncias tornando o fluxo de informações contínuo e ininterrupto; com isso, cada vez mais o local se constitui na sua relação com o mundial. Nesse novo contexto o lugar se redefine pelo estabelecimento e/ou aprofundamento de suas relações numa rede de lugares. Sendo assim, verificam-se visíveis mudanças no(s) lugar (res), e que estão diretamente ligadas ao “mundo moderno” e ao aprofundamento do sistema capitalista, impondo sua forma de domínio do espaço global, como afirma IANNI (apud CARLOS pág.27, 1993) “à globalização tende a desterritorializar coisas, gente e ideias”. O capítulo A Natureza do Espaço Fragmentado trata da metrópole, pois é ela quem determina as normas de controle do espaço, dividindo-a em parcelas que são “vendidas” como produto das atividades urbanas que priorizam a reprodução do capital. Transformando bruscamente o lugar fazendo com que este perca suas características centrais, tais como a solidariedade. Para CARLOS esta fragmentação ocorre através da dissolução das relações sociais que liga os homens entre si (p.36). A descaracterização do lugar/bairro ocorre com as desapropriações do mesmo e modificando os hábitos de quem vive nele. BENJAMIM (apud CARLOS pág.39, 1985) nos alerta que o mundo moderno traz ausência de memória, pois com toda essa tecnologia o sujeito acaba se tornando individualista, porém SARAMAGO (apud CARLOS pág. 39, 1990) afirma que a memória é o resgate do lugar, porque é através dela que nos lembramos do passado, de como o lugar era antigamente. O capítulo Os Lugares da Metrópole: A Questão dos Guetos Urbanos trata da questão de pertencer a um lugar, as diferenças sociais, culturais e econômicas como a principal formação dos guetos urbanos; que são comunidades definidas por características que ligam pessoas a um grupo e a um lugar, para Carlos (41): Nesses sentidos os lugares são submetidos à dominação da troca através da aplicação de um rigoroso critério de rentabilidade. Assim as trocas fragmentam o espaço, processo que altera profundamente a vida cotidiana, através da sua institucionalização que cria uma vida programada e idealizada pelo consumo manipulado. Essas áreas que se diferenciam e multiplicam simultaneamente na metrópole, hierarquizam-se formando “guetos”. A metrópole contribui para a exclusão da sociedade, essa nova “territorialidade”, caracteriza o individualismo, e cria assim um novo sujeito o denominado “homo urbanus”. PAQUOT (apud CARLOS pág. 44,1990) desenvolve a ideia de que emerge hoje, na sociedade urbana, um novo personagem o homo urbanus, fruto do processo de urbanização do mundo que provém da eclosão da cidade e do indivíduo. O capítulo A Rua: Espacialidade, Cotidiano e Poder são dedicados à rua, que é caracterizada como dimensão espacial das relações sociais, com as apropriações do lugar e da cidade. Para CARLOS a rua se contrapõe da extensão da casa, pois nos dias de hoje as pessoas vivem trancadas dentro de suas casas, cultivando assim o individualismo. A autora cita as duas faces da rua, o lado da socialização que é o conversar com os vizinhos, sentar na calçada nas tardes, a criação de vínculos comunitários, da solidariedade, como aparece na pagina 51: Podemos afirmar que a vida aí é inesgotavelmente rica e plena de energia — é o nível do vivido. Na rua encontra-se não só a vida, mas os fragmentos de vida é o lugar onde o homem comum aparece ora como vítima, ora como figura intransigente e subversiva. Por outro lado, a intensificação do comércio, como os calçadões, shoppings, onde o movimento é incessante, produz um “des-lugar” ou um “não-lugar”. A modernidade impõe a forma que o sujeito deve se portar controlando, o nosso cotidiano através da propaganda, porém mesmo com todas essas mudanças, ainda é possível encontrar nas ruas, as atividades que caracterizam as relações sociais cotidianas, tais como o uso dos espaços públicos para brincadeiras, festas e encontros. Assim, a autora apresenta um conflito na produção dos lugares, onde o espaço é produzido a partir de modos de produção e apropriação. A evolução do capitalismo derruba fronteiras e o espaço torna-se mercadoria, pois no mundo moderno a reprodução do espaço é realizada através da indústria do turismo, tornando assim o espaço como atração causando um “estranhamento” em quem habita naquela área. CARLOS diz que o espaço se torna um espetáculo e os turistas tornam-se espectadores. O turismo transforma o lugar em algo artificial, com a contribuição da mídia e da internet, em geral o espaço que a indústria do turismo produz é o presente sem historia, sem identidade, tornando o sentido do espaço vazio. Com isso essa “indústria” impõe uma rotina controladora que não é diferente do processo de trabalho na fábrica, tornando o lazer como uma rotina vigiada. No capitulo final a autora aponta a contradição da afirmação da modernidade como um modelo de vida a ser seguido, ou seja, um estilo de vida programado, até os modos errados como jogar lixo no chão é considerado uma situação moderna. A individualidade é cada vez mais frequente, pois não precisamos sair de casa para conhecer novas pessoas, resolver assuntos bancários ou fazer compras, a modernidade se encarrega de fazer tudo isso, e se constrói assim o vazio. A atenuação da sociabilidade é marcada pelo fim de atividades que aconteciam nos bairros, com o fim das relações de vizinhança provocado pela televisão, num primeiro momento, e pelo adensamento dos automóveis, em outro, que tirou as cadeiras das calçadas. A autora chama a atenção para o perigo das descaracterizações do espaço/lugar pelo capital. Contribuiu com perguntas e afirmações que podem ser analisadas e discutidas, mas que abrem caminhos para novas pesquisas. Considerações Finais Não é fácil iniciar uma discussão sobre o lugar, o tema é amplo, porém a obra nos permite construir um panorama concreto de como nos portar diante de mudanças que sempre vão ocorrer. O conceito de lugar, assim como território, região, paisagem e espaço, tornam-se primórdios para a geografia contemporânea, pois sem o conhecimento destes conceitos não somos capazes de compreender o mundo e todas as suas especificações.