PORTUGÁLIA
UMA GALERIA MODERNA NO PORTO DOS ANOS 40
Sónia Carla da Cunha Melo Martins de Moura
PORTUGÁLIA
UMA GALERIA MODERNA NO PORTO DOS ANOS 40
Sónia Carla da Cunha Melo Martins de Moura
Dissertação para obtenção de grau de mestre em Estudos Artísticos
Estudos Museológicos e Curadoriais
Orientadora: Professora Doutora Lúcia Almeida-Matos
Porto, 2013
Palavras chave
Livraria, galeria, anos 40, Porto, Portugália
Resumo
A presente investigação documenta a atividade desenvolvida pela Livraria e Galeria
Portugália, um espaço dedicado à difusão das artes, que existiu no Porto entre 1945 e 1951.
Apesar da Galeria Portugália ser referenciada em alguma literatura da especialidade,
nomeadamente na que reporta à arte no Porto nos anos 40,1 não está ainda estudada a sua
atividade, sendo atualmente praticamente desconhecida tanto a sua participação na vida
cultural e artística do Porto, como, em última instância, o seu contributo para a divulgação da
arte moderna que à época procurava canais de visibilidade e airmação.
Esta investigação pretende constituir um levantamento de toda a sua atividade por forma
a instruir um documento o mais completo possível, que se espera, comprove o importante papel
que desempenhou na cena artística da época.
Com este estudo serão ampliadas as balizas cronológicas até hoje conhecidas e estudadas2,
dos espaços expositivos em Portugal. Assim, a data de abertura da primeira galeria de arte no
Porto deverá ser antecipada de 1953, data da abertura da galeria Alvarez, para 1945, data da
abertura da Portugália.
É para uma re leitura da história da arte na primeira metade do século XX no Porto e
em Portugal, à luz do papel das galerias e espaços expositivos enquanto intervenientes activos na
cena artística e análise das respetivas contaminações no meio onde se inscrevem, que este estudo
pretende contribuir.
1
Nomeadamente nas seguintes publicações: GUEDES, Fernando. Estudos sobre Artes Plásticas. Lisboa: Imprensa -Nacional
Casa da Moeda, 1985; Idem. Duas Comunicações Elementos para uma História da Pintura em Portugal no séc. XX. Lisboa: Academia
Nacional de Belas Artes, 1997; GALERIA DO PALÁCIO. [+de] 20 grupos e episódios no Porto do século XX. Porto: Galeria do
Palácio, 2001. e FUNDAÇÃO DE SERRALVES. Porto 60/70 Os Artistas e a Cidade. Porto: Fundação de Serralves, 2001.
2
PENA, Gonçalo.“Galerias, Instituições e Mercado” in RODRIGUES, António. Anos 60 Anos de Ruptura: uma perspectiva da
arte portuguesa nos anos sessenta. Lisboa: Livros Horizonte, 1994.
3
Keywords
Bookstore, gallery, ‘40’s , Oporto, Portugália
Abstract
This research documents the activity conducted by Portugália Bookstore and Gallery, a space
dedicated to the dissemination of the arts, which existed in Oporto between 1945 and 1951.
Despite Portugália gallery being referenced in some literature, particularly related to
art in Oporto in the ‘40’s, it’s activity has not yet been fully researched; it’s active role in the
cultural and artistic life in Oporto is still largely unknown, particularly it’s contribution for the
dissemination of modern art, which at the time, was seeking channels for it’s visibility and selfafirmation. This research aims to provide a complete as possible document, which is expected
to demonstrate it’s important role in the art scene of that time.
This study will expand the currently known chronological boundaries of the exhibition
spaces in Portugal. The opening date of the irst art gallery in Oporto, should therefore be
amended from 1953, the date of Alvarez Gallery’s opening, to 1945, when began the activity of
the Portugália Bookstore and Gallery.
This research aims to contribute to the revision of the history of art in the irst half of
the twentieth century in Oporto and Portugal, in light of the role of art galleries and exhibition
spaces as active players in the art scene, and the analysis of their inluence in surrounding
environment.
4
ÍNDICE
Local, Ano, Agradecimentos .......................................................................................................1
Resumo .......................................................................................................................................3
Abstract .......................................................................................................................................4
Lista de iguras, listas e tabelas ....................................................................................................7
Abreviaturas, siglas e sinais .......................................................................................................13
Introdução .................................................................................................................................15
Capítulo 1
Os lugares da arte (moderna) no Porto dos anos 40 .................................................................21
1.1 As galerias. .................................................................................................................22
1.2 A crítica .....................................................................................................................30
1.3 A Escola de Belas-Artes .............................................................................................35
Capítulo 2
O nascimento das Portugálias .........................................................................................................41
2.1 Agostinho Fernandes e a Portugália de Lisboa ..........................................................42
2.2 A Portugália do Porto ................................................................................................47
2.2.1 A inauguração: notas de imprensa ................................................................49
2.2.2 A encomenda: Artur Andrade e a Integração das Três Artes.......................52
2.2.3 O projeto .......................................................................................................55
2.2.3.1 A organização livreira e editorial: premissa base do projeto ............56
2.2.3.2 A livraria e a sala de leitura ..............................................................60
2.2.3.3 A galeria de arte................................................................................63
2.3 Galeria de imagens .................................................................................................. III
Capítulo 3
A galeria da Livraria Portugália ................................................................................................65
3.1 A exposição inaugural ...............................................................................................66
3.2 A direção artística e a produção gráica: Palla e Lanhas ...........................................68
5
3.3 Atividade permanente: as exposições e a crítica........................................................72
3.4 Galeria de imagens ....................................................................................................LI
3.5 Cronograma ilustrado ............................................................................................. LV
Conclusão
Uma galeria moderna para arte moderna ..............................................................................103
Referências bibliográicas ...............................................................................................107
6
Índice de Imagens
ig.1 -“Amanhã inaugura-se a Livraria Portugália Um estabelecimento verdadeiramente
novo ao serviço da cultura” .................................................................................................................... III
ig. 2 -“É inaugurada amanhã a Livraria Portugália notável empreendimento ao serviço
da cultura, das letras e das artes” ................................................................................................................IV
ig. 3 -“Uma nova Livraria a Livraria Portugália é inaugurada amanhã” .............................................. V
ig.4 - “A ilial da Livraria Portugália abriu hoje ao público” .................................................................VI
ig.5 -“A Livraria Portugália inaugura hoje a sua ilial na cidade do Porto” .........................................VII
ig.6 -“A Portugália, Livraria modelar” ............................................................................................... VIII
ig.7 -“Uma inauguração de sucesso A Livraria Portugália Uma casa que no próprio
dia da abertura marcou um grande lugar” ............................................................................................IX
ig.8 -“A imprensa visitou, ontem, a ilial portuense da Livraria Portugália que
abre, hoje, para o público” ...................................................................................................................... X
ig. 9 – Requerimento .............................................................................................................................XI
ig. 10 – Termo de responsabilidade .................................................................................................... XII
ig. 11 – Memória descritiva ................................................................................................................XIII
ig. 12 – Cálculo dos lintéis ................................................................................................................ XVII
ig. 13 – Fotos da fachada [antes da intervenção] ...............................................................................XIX
ig. 14 - Existente: Planta da cave, rés-do- chão e 1º piso..................................................................... XX
ig. 15– Proposta: Planta rés-do- chão, galeria e 1º piso......................................................................XXI
ig. 16 – Cortes longitudinais AB e BA, corte transversal CD e alçado frontal ................................. XXII
ig. 17 – Requerimento anexação planta topográica ......................................................................XXIII
Fig.18 - Pagamento de Taxas ...........................................................................................................XXIV
ig. 19 – Informação .......................................................................................................................... XXV
ig. 20 – Informação .........................................................................................................................XXVI
ig. 21 – Folha anexa ao alvará ....................................................................................................... XXVII
ig. 22 – Requerimento ..................................................................................................................XXVIII
ig. 23 – Requerimento ...................................................................................................................... XXX
ig. 24 – Pagamento de taxas. ...........................................................................................................XXXI
ig. 25 - Folha anexa ao alvará.......................................................................................................XXXIII
ig. 26 – Anúncio à Livraria Portugália .........................................................................................XXXIV
ig. 27 – Por um Novo Humanismo [capa retirada da internet] ...................................................XXXIV
ig. 28 – Terra com Sede [capa retirada da internet] ....................................................................XXXIV
ig. 29 - Benilde ou a Virgem Mãe [capa retirada da internet] .....................................................XXXIV
ig. 30 - Liberdade de Espírito [capa retirada da internet] ...........................................................XXXIV
ig. 31 - Histórias de Mulheres [capa retirada da internet] ...........................................................XXXIV
ig. 32 - Tragédia Florentina [capa retirada da internet] ..............................................................XXXIV
ig. 33 - Alçado principal da Livraria Portugália, 1945 .................................................................. XXXV
7
ig. 34 - Montra lateral direita da Livraria Portugália, 1945 .........................................................XXXVI
ig. 35 - Montra lateral esquerda da Livraria Portugália, 1945 .....................................................XXXVI
ig. 36 – Perspetiva interior da Livraria Portugália, 1945 ........................................................... XXXVII
ig. 37 - Interior da Livraria Portugália, 1945 ............................................................................XXXVIII
ig. 38 - Interior da Livraria Portugália, 1945 ............................................................................XXXVIII
ig. 39 – Iluminação (pormenor), 1945..........................................................................................XXXIX
ig. 40 - Iluminação (pormenor), 1945 ..........................................................................................XXXIX
ig. 41 - Escada exibindo pintura de Augusto Gomes, 1945 .................................................................XL
ig. 42 – Sala de reunião de escritores, 1945 ....................................................................................... XLI
ig. 43 - Vista sobre o varandim, 1945................................................................................................. XLI
ig. 44 - Vista sobre o varandim (pormenor), 1945 ............................................................................XLII
ig. 45 – Escada de acesso à galeria de arte, 1945 .............................................................................XLIII
ig. 46 – Carta a Hein Semke de 10 de Março de 1950 ................................................................... XLIV
ig. 47 – Carta a Hein Semke de 19 de Fevereiro de 1950 ................................................................. XLV
ig. 48 - Carta a Hein Semke de 25 de Janeiro de 1950 ....................................................................XLVI
ig. 49 - Pormenor da galeria de arte, 1945 ..................................................................................... XLVII
ig. 50 - Pormenor da galeria de arte, 1945 ..................................................................................... XLVII
ig. 51 - Estudo para artigos de papelaria da Livraria Portugália .......................................................... LI
ig. 52 - Estudo para artigos de papelaria da Livraria Portugália .......................................................... LI
ig. 53- Papel de embrulho para a Livraria Portugália .......................................................................... LII
ig. 54 - Marcador de livros para a Livraria Portugália ........................................................................LIII
ig. 55 - Marcador de livros para a Livraria Portugália ........................................................................LIII
ig. 56 – Marcador de livros para a Livraria Portugália .......................................................................LIII
ig. 57 - Estudo de lettering para a coleção Paralelo.................................................................................... LIV
ig. 58 - Maqueta para a capa do livro “Os últimos Homens da Lua” ................................................LIV
ig. 59 - Ex-Libris para a Livraria Portugália........................................................................................LIV
ig. 60 - Exposição de Pintura Portuguesa (séculos XIX e XX) [capa] ................................................. LV
ig. 61 - Ayres de Carvalho [capa] ......................................................................................................... LV
ig. 62 - Aguarelas de Júlio Resende [capa] ........................................................................................... LV
ig. 63 - Carlos Carneiro [capa] ............................................................................................................ LV
ig. 64 - Aguarelas e Desenhos de Paulo Ferreira [capa] ....................................................................... LV
ig. 65 - 50 desenhos a nanquim de Júlio [capa] ................................................................................... LV
ig. 66 - Desenhos de Maria Helena Cordeiro [capa] ........................................................................... LV
ig. 67 - Exposição de Gretchen Wohlwill [capa] .................................................................................. LV
ig. 68 - Carlos Ramos [capa]................................................................................................................ LV
ig. 69 - 4ª exposição Independente [capa] ........................................................................................... LV
ig. 70 - fotograia de grupo, 4ª Exposição Independente ..................................................................... LV
ig. 71 - Exposição de Anne Marie Jauss [capa] .................................................................................... LV
ig. 72 - Júlio Resende [capa] ................................................................................................................ LV
ig. 73 - 20 Anos de Pintura de Dordio Gomes [capa].......................................................................... LV
ig. 74 - António Soares[capa] ............................................................................................................... LV
8
ig. 75 - Exposição de David Sousa e Maria Júlia [capa] ...................................................................... LV
ig. 76 - Martin Maqueda Exposição de desenhos [capa] ..................................................................... LV
ig. 77- Exposição de Maria do Carmo Sequeira Cabral e Maria Madalena Sequeira Cabral
juntamente com Heitor Cramêz [capa]................................................................................................ LV
ig. 78 – A. Alcino [capa] ...................................................................................................................... LV
ig. 79- Carlos Carneiro [capa] ............................................................................................................. LV
ig. 80 – Exposição de pintura de António Silva [capa] ........................................................................ LV
ig. 81 - Exposição de Pedro Leitão [capa]............................................................................................ LV
ig. 82 – Exposição de pintura de António Fernandes [capa] ............................................................... LV
ig. 83 - Exposição de óleos aguarelas e guaches por Margarite Janes [capa]....................................... LV
ig. 84 - Exposição de Gretchen Wohlwill [capa] .................................................................................. LV
ig. 85 - Exposição de pintura de Maria Emília de Barbosa viana [capa] ............................................ LV
ig. 86 - Pomar expõe 25 desenhos [capa] ............................................................................................. LV
ig. 87 - Mãi e ilho, 1946 ...................................................................................................................... LV
ig. 88 - O Velho do saco, 1946 ............................................................................................................. LV
ig. 89 - Mulher deitada no cais [estudo], 1946..................................................................................... LV
ig. 90 - Música da Rua (Romaria), 1946 .............................................................................................. LV
ig. 91 - O Almoço [estudo], 1946......................................................................................................... LV
ig. 92 - O Miúdo da Água, 1946 .......................................................................................................... LV
ig. 93 - O Ardina, s.d ............................................................................................................................ LV
ig. 94 - A Farrapeira, 1947 ................................................................................................................... LV
ig. 95 - Lá fora é o Sol (Prisioneiro e Guarda), 1947 ............................................................................ LV
ig. 96 - O Estivador, 1947..................................................................................................................... LV
ig. 97 - Jovem, s.d ................................................................................................................................. LV
ig. 98 – À janela [estudo], s.d ............................................................................................................... LV
ig. 99 - Nú deitado [estudo], s.d. .......................................................................................................... LV
ig. 100 - A Vaga, 1947. ......................................................................................................................... LV
ig. 101 - O Eixo Corrido, 1947 ........................................................................................................... LV
ig. 102 - Menina com um cão, 1947 .................................................................................................... LV
ig. 103 - A Conidência, 1947 .............................................................................................................. LV
ig. 104 - Retrato de M.V., 1947 ............................................................................................................ LV
ig. 105 - Meninos dormindo, 1947....................................................................................................... LV
ig. 106 - Menina com um galo, 1947 ................................................................................................... LV
ig. 107 - Exposição de António Sampaio.[capa] .................................................................................. LV
ig. 108- Exposição de Neves e Sousa [capa] ........................................................................................ LV
ig. 109 - III Exposição Anual de Martins da Costa [capa] .................................................................. LV
ig. 110 - 5ª Exposição Independente [capa] ........................................................................................ LV
ig. 111 - Com Forma no atelier de Fernando Távora e Fernando Lanhas [foto] .................................. LV
ig. 112 – Inauguração (?) da 5ª Exposição Independente na galeria da Livraria Portugália [foto] ..... LV
ig. 113 - 5ª Exposição Independente [desenho] ................................................................................... LV
ig. 114 - Exposição de Pintura de Madame Bizet [capa] ..................................................................... LV
9
ig. 115 - Arthur da Fonseca [capa] ....................................................................................................... LV
ig. 116 - Carlos Carneiro [capa] .......................................................................................................... LV
ig. 117 – Convite para exposição de Carlos Carneiro.......................................................................... LV
ig. 118 - Aspectos de Paris [capa]......................................................................................................... LV
ig. 119 - Isolino Vaz [capa] .................................................................................................................. LV
ig. 120 - Aníbal Alcino ......................................................................................................................... LV
ig. 121 – Na galeria da Livraria Portugália [foto] ................................................................................ LV
ig. 122 - Exposição de desenhos e guaches de Raoul Deschamps.[capa] ............................................ LV
ig. 123 - Arthur da Fonseca [capa] ....................................................................................................... LV
ig. 124 - Exposição Infantil [capa] ....................................................................................................... LV
ig. 125 - Maqueta para a capa do catálogo Exposição Infantil ............................................................ LV
ig. 126 – Resende [capa] ...................................................................................................................... LV
ig. 127 - Exposição de Júlio Resende na galeria da Livraria Portugália [foto] .................................... LV
ig. 128 - Alguns Aspectos da Suíça. [capa] .......................................................................................... LV
ig. 129 - Nadir. [capa] .......................................................................................................................... LV
ig. 130 - Oddvard Straume. [capa] ...................................................................................................... LV
ig. 131 - Exposição de Amparo Palacios e Fernando Escrivá. [capa] .................................................. LV
ig. 132 - Maria Leonor Praça [capa].................................................................................................... LV
ig. 133 – Convite para exposição Maria Leonor Praça........................................................................ LV
ig. 134 - Inauguração da exposição de Maria Leonor Praça na galeria da Livraria Portugália [foto] LV
ig. 135- Exposição de pintura de Neves e Sousa [capa]....................................................................... LV
ig. 136- Óleos Antigos (1923 a 1934) e Desenhos Recentes (1943 a 1949) de Júlio [capa] ................. LV
ig. 137 - Exposição de Hein Semke e Margarida Schimmelpfennig [foto]......................................... LV
ig. 138 - Exposição de Hein Semke e Margarida Schimmelpfennig [foto]......................................... LV
ig. 139 - Exposição de Hein Semke e Margarida Schimmelpfennig [foto]......................................... LV
ig. 140 – Ainda estou vivo (Ich lebe noch), c. 1949 .............................................................................. LV
ig. 141 - O Poeta, c. 1949 ..................................................................................................................... LV
ig. 142 - O Torso Negro, c. 1947 ......................................................................................................... LV
ig. 143 - Peixe-máscara, c. 1946 ........................................................................................................... LV
ig. 144 - Máscara, 1939 ........................................................................................................................ LV
ig. 145 - Eduardo Luíz [capa] .............................................................................................................. LV
ig. 146 - s/título, 1950 [fresco] ............................................................................................................. LV
ig. 147 - s/título, 1950 [fresco] ............................................................................................................. LV
ig. 148 - s/título, 1950 [fresco] ............................................................................................................. LV
ig. 149 - s/título, 1950 [fresco] ............................................................................................................. LV
ig. 150 - s/título, 1950 [fresco] ............................................................................................................. LV
ig. 151 - Retrato de Júlia, 1950 [óleo] .................................................................................................. LV
ig. 152 - s/título, 1950 [óleo] ............................................................................................................... LV
ig. 153 - s/título, 1950 [desenho] ......................................................................................................... LV
ig. 154 - s/título, 1950 [desenho] ......................................................................................................... LV
ig. 155 - s/título, 1950 [desenho] ......................................................................................................... LV
10
ig. 156 - 6ª Exposição Independente [capa] ........................................................................................ LV
ig. 157 - António Sampaio. [capa] ....................................................................................................... LV
ig. 158 - Notas manuscritas .................................................................................................................. LV
ig. 159 – Carlos Carneiro [capa].......................................................................................................... LV
ig. 160 – Martins da Costa [capa] ........................................................................................................ LV
ig. 161 - Exposição Pomar [capa] ........................................................................................................ LV
ig. 162 - Em Portugal, 1ª Apresentação de Arte Abstracta de Joaquim Ferrer [capa] ......................... LV
ig. 163 - José Bastos expõe óleo e aguarela [capa] .............................................................................. LV
ig. 164 - Miniaturas e pequenos quadros de Maria das Dores [capa] ................................................. LV
11
12
Lista de Abreviaturas
ACMP – Arquivo da Câmara Municipal do Porto
AFBAUP – Arquivo da Faculdade de Belas-Artes da Universidade do Porto
BPMP – Biblioteca Pública Municipal do Porto
CMP – Câmara Municipal do Porto
EBAP – Escola de Belas-Artes do Porto
EGAP – Exposição Geral de Artes Plásticas
FCG – Fundação Calouste Gulbenkian
GEBAP – Grupo de Estudantes da Escola de Belas-Artes do Porto
INCM – Imprensa-Nacional Casa da Moeda
MNSR – Museu Nacional de Soares dos Reis
MUD – Movimento Unidade Democrática
PIDE – Polícia Internacional de Defesa do Estado
SNBA – Sociedade Nacional de Belas-Artes
SNI – Secretariado Nacional de Informação
SNIC- Secretariado Nacional de Informação e Cultura
SPN – Secretariado de Propaganda Nacional
13
Nota Prévia
Por questões técnicas, optamos por agrupar as imagens no inal do capítulo onde se inserem,
obedecendo a uma numeração distinta do texto. Assim, a paginação do texto é feita em
numeração árabe e a paginação das imagens, em numeração romana.
14
Introdução
A investigação que se realizou, e aqui se apresenta sob forma de dissertação de mestrado,
relativa à atividade desenvolvida pela Livraria e Galeria Portugália, cuja ação se desenvolve entre
os anos de 1945 e 1951, na Rua de Santo António (hoje 31 de Janeiro), nº 210, no Porto,
constitui uma oportunidade para completar e refazer a informação existente3 relativa à história
das exposições e galerias de arte no Porto e em Portugal.
Os anos 40, constituíram, na vida cultural e social portuguesa, uma época de grandes
contrastes4. Referimo-nos à geração que viveu a 2ª Guerra Mundial, assistiu às malogradas
esperanças do im da ditadura, uma candidatura falhada à Presidência da Republica5,
manifestações de caráter espontâneo por todo o país, e contestações várias de cariz político e de
intervenção levadas a cabo pela ação do MUD6.
No panorama artístico, prevalecia, além do anacronismo do gosto dominante7, um
certo isolamento face ao que se ia fazendo noutros centros artísticos. A falta de museus de
arte moderna, a escassez de espaços expositivos e a falta de crítica especializada - nesta época
resumida a alguns artigos na imprensa generalista, na maior parte das vezes por pessoas mal
informadas relativamente aos assuntos sobre os quais escreviam, fez com que hoje, haja uma
espécie de véu nebuloso em torno desta época, quando, muito do que acontecia na vida cultural
e artística, era construído em esferas paralelas, em dinâmicas internas que iam do atelier dos
artistas, aos debates nos cafés e uma vez por outra, em atividades organizadas pelos próprios,
em locais recetivos para o efeito.
No caso concreto do Porto, estas vivências constituem hoje um referencial no que
diz respeito à sua importância na instalação de um certo espírito livre e inquieto, à qual se
conjuga a sua especíica situação de distanciamento geográico face à capital: condições únicas
que proporcionaram o desenvolvimento de uma autonomia relativamente ao centralismo e à
“cultura oicial lisboeta.”8
O estudo das exposições realizadas na Portugália, constitui um barómetro através do
qual nos é permitida a observação de algumas das dinâmicas que foram determinando o
desenvolvimento da cena artística no Porto, durante estes anos.
A posição de neutralidade assumida durante os anos da 2ª Guerra por Oliveira Salazar,
assim como a ideia de segurança que daí adveio, colocou Portugal numa posição propícia ao
3
Nomeadamente, PENA, Gonçalo. “Galerias, Instituições e Mercado” in RODRIGUES, António. Anos 60, Anos de Ruptura:
Uma Perspectiva da Arte Portuguesa nos Anos Sessenta. Lisboa: Livros Horizonte, 1994.
4
GONÇALVES, Rui-Mário. “Artes plásticas Nova criatividade, novo espírito crítico” in Os Anos Quarenta na Arte Portuguesa.
Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1982. p. 43.
5
Candidatura à Presidência da República do General Norton de Matos, em 1949.
6
Exposições Gerais de Artes Plásticas.
7
GONÇALVES, Rui-Mário. “Artes plásticas ...” Op.cit., p. 47.
8
FUNDAÇÃO DE SERRALVES. Porto 60/70 Os Artistas e a Cidade. Porto: Fundação de Serralves, 2001. p.15.
15
acolhimento dos que procuravam asilo político.
Havia então no Porto um número considerável de artistas estrangeiros, uns por razões
políticas9; outros, como resultado de amizades travadas por artistas do Porto como Júlio Resende,
aquando das suas viagens ao estrangeiro.10
Estes artistas estrangeiros, hoje na sua maioria desconhecidos, icaram registados nos
catálogos da Galeria da Portugália, agora em estudo.
Movimentações várias viviam-se igualmente no seio da Escola de Belas-Artes do Porto: a
vinda do arquiteto Carlos Ramos para lecionar nesta escola11, onde viria mais tarde a exercer
funções cruciais na pedagogia e na renovação da instituição, iniciou uma época de maior frescura
e criatividade, uma verdadeira época de ouro, sobretudo na área da Arquitetura, resultando na
hoje internacionalmente conceituada, Escola do Porto.
Pela maior lexibilidade no acolhimento de “novas experiências e linguagens artísticas”12,
também, para esta instituição se transferiram alunos da Escola de Lisboa, oriundos por sua vez,
na sua maioria, da Escola de Artes Decorativas António Arroio”13: entre eles, Júlio Pomar e Victor
Palla, dois artistas que irão desempenhar um papel ativo na cena artística no Porto.
Todas estas dinâmicas artísticas e migrações que íam acontecendo no Porto, dentro e fora
da Escola, alargaram certamente o campo de ação e relexão em torno do debate artístico, e
criaram uma plataforma propícia, um terreno fértil, que segundo Alexandre Pomar, “constituíram
a base dos acontecimentos que dariam origem a uma geração de artistas modernos - a 3ª, que
a história dessa década ocultou, por ignorância, centralismo lisboeta, e implicação facciosa.”14:
é precisamente neste contexto que se desenvolve a ação da Galeria Portugália.
Numa época em que o panorama expositivo se caracterizava sobretudo pelo
conservadorismo ligado a “naturalismos tardios”15, o aparecimento de um espaço como o da
galeria Portugália, com uma atitude livre e desempoeirada, foi essencial na criação de uma bolsa de
liberdade, um campo de possibilidades, para a intervenção dos mais novos e dos mais ousados.
Pretende-se, através do registo, documentação e inventariação das atividades organizadas
nesta galeria, clariicar a natureza do seu papel na vida cultural e artística do Porto.
Numa perspetiva mais alargada, pretende-se ainda perceber até que ponto este espaço e
as dinâmicas aí estabelecidas contribuíram para uma maior aproximação entre artistas, público
e crítica, e em última análise, para a disseminação da arte moderna, numa altura em que,
9
Como a pintora alemã Gretchen Wohlwill e a húngara Sonia Horvath.
10
Pintor francês Pierre-Marie Dubois, pintor norueguês Oddvard Straume ou escultora americana Mabel Gardner.
11
O arquiteto Carlos Chambers Ramos assinou contrato para ingressar na EBAP em 1942.
12
FUNDAÇÃO DE SERRALVES. Porto 60/70 Os Artistas e a Cidade. Porto: Fundação de Serralves, 2001. p. 15.
13 A este respeito comenta Querubim Lapa, em conversa com a autora: “Os meninos que íam do liceu para a Escola de
Belas-Artes, não tinham os vícios dos alunos provenientes da António Arroio”, prosseguindo “Estes tinham uma formação
artística grande e já desenhavam muito bem, ao contrário dos outros. Os meninos do liceu [como ironicamente lhes chamavam]
mal desenhavam e tinham protecção e cunhas sobretudo do Cardeal Cerejeira.”
16
14
POMAR, Alexandre. “Geração de 45” in Expresso de 24 de Setembro de 2005.
15
CASTRO, Laura. Júlio Resende Tentações da Pintura Ocidental. Lisboa: Imprensa-Nacional Casa da Moeda, 1999. p.25.
embora a vontade de mudar e encetar novos caminhos estivesse já a acontecer no Porto, a
realidade artística e expositiva estava ainda ligada a valores passadistas.
Pretende-se também o resgate documental deste projeto de arquitetura, peça esquecida dos
respetivos compêndios, que atualmente apenas existe em folhas de papel e nas memórias de quem
o conheceu, uma vez que devido à volatilidade imobiliária, encontra-se hoje, irremediavelmente
alterado.16
O interesse que constitui esta documentação é importante não só para proissionais da
arquitetura, mas também para um qualquer apreciador de arte ou simples curioso, uma vez que
representa um belo exemplar no diálogo inter-artes, do qual Artur Andrade foi simpatizante. Será
um contributo para a divulgação da obra deste arquiteto que tanta obra realizou na cidade.
Pretende-se ainda, com este estudo, assinalar este espaço na historiograia da arte,
devolvendo-lhe o seu lugar – omitido -, no tempo e no lugar e na sua ação pioneira na mostra de
arte moderna de forma programada e regular: antecedente direto do que seria posteriormente
realizado pela Galeria Alvarez.
A diiculdade que subjaz à realização de um trabalho do qual não existe suporte
documental que lhe sirva de base, coloca à partida uma série de diiculdades nomeadamente no
que diz respeito à constituição de um referencial idedigno que suporte esse mesmo estudo. Esta
investigação assentou essencialmente em alguns vetores, que nortearam o processo, e que foram
construindo uma metodologia de trabalho, cujo esclarecimento consideramos importante.
Procedemos à consulta de fontes publicadas, nomeadamente imprensa, publicações
periódicas várias e algumas teses académicas - doutoramento e mestrado - assim como
monograias de artistas e catálogos das exposições; relativamente às fontes não publicadas
procedemos à realização de entrevistas, consulta de arquivos e correspondência.
Recolhemos então depoimentos de alguns dos intervenientes ativos na história da galeria
Portugália, os artistas Júlio Pomar, Margarida Schimmelpfennig, Querubim Lapa e Domingos
Lopes17 (lembro aqui o falecimento do arquiteto Fernando Lanhas durante a investigação, sem
que para ela tenha tido oportunidade de contribuir com o seu testemunho); complementamos
estes depoimentos com os de outros intervenientes, frequentadores da galeria e da livraria Alfredo Ribeiro dos Santos, Manuel Dias da Fonseca, Arnaldo Trindade, entre outros.
De facto, apesar das imprecisões e contradições que muitas vezes se veriicaram nestes
16 O nº 210 da Rua 31 de Janeiro, atualmente ocupado por um estabelecimento comercial, sofreu ao longo destes anos,
várias obras que gradualmente foram alterando o projeto inicial de Artur Andrade. A primeira, nos inícios dos anos 50, com a
intervenção do arquiteto Jorge Segurado, para a instalação da loja de discos Vadeca. Consultado o processo de licenciamento do
espaço, e apesar de na memória descritiva, mencionar apenas“obras de adaptação”, na realidade as alterações foram, substanciais.
Desta intervenção resultou, entre outros a alteração da montra; datam igualmente dessa época o desaparecimento das pinturas
de Augusto Gomes e dos baixos relevos de Américo Braga. Quando a Vadeca encerrou,o espaço foi intervencionado com
vista à instalação do comércio que atualmente lá existe. Do projeto inicial mantém-se o duplo pé direito, o varandim no piso
intermédio e a escada ao fundo.
17 Outros artistas expositores da Portugália, ainda em atividade foram contactados tendo embora negado qualquer
contribuição para este estudo.
17
depoimentos, não deixam, de se revestir de grande importância, constituindo testemunhos
essenciais para a construção de um determinado esprit du temps e de vivre, já de nós tão distante, e
cujo profundo signiicado apenas é passível de expressão nas palavras de um grande poeta:
“Não é ainda bastante ter recordações. É preciso saber esquece-las quando são muitas, e é
preciso ter a grande paciência de esperar que elas regressem.(...) Só quando elas se fazem
sangue em nós, olhar e gesto, quando já não têm nome e já se não distinguem de nós
mesmos, só então é que pode acontecer que, numa hora muito rara, do meio delas se erga
a primeira palavra de um verso (...).”18
Em segundo lugar, através da consulta de documentos nos arquivos pessoais do arquiteto
Artur Andrade, do arquiteto Fernando Lanhas, do escritor Alberto de Serpa19, do pintor
Eduardo Luíz e do escultor Hein Semke.
A procura de informação documental (fotograias, catálogos, correspondência), levou-nos
igualmente a contactar inúmeros familiares20 de artistas, assim como alfarrabistas, proissionais
livreiros, investigadores, colecionadores, leoloeiras e galerias de arte.
No que respeita à imprensa da época, foram consultados todos os exemplares diários de
O Primeiro de Janeiro e de O Comércio do Porto, entre os anos de 1945 e 1951. Foram consultados
igualmente todos os suplementos Arte do jornal A Tarde, assim como todas as edições das
publicações Mundo Literário, Vértice e Portucale. A consulta da imprensa teve a dupla função de
por um lado identiicar as exposições realizadas nesta galeria, através de uma ou outra nota ou
crítica, e observar o enquadramento crítico relativamente às mesmas.
A consulta dos catálogos da galeria da Portugália, incluindo os seus textos introdutórios
constituiu igualmente, uma importante base documental.
A distância cronológica, inicialmente considerada como adversidade, revelou-se à
posteriori uma ferramenta útil para a – importante - questão que é o discernimento entre o
essencial e o acessório (sem que, no entanto, este deixe de ser uma contribuição fundamental na
revelação do essencial); como também para uma análise pragmática e descomprometida - porque
já distante dos fatores condicionantes que na época vigoravam - da informação registada.
A dissertação encontra-se dividida em três capítulos: no primeiro, fazemos uma
abordagem ao panorama artístico e expositivo portuense na década de 40: quais eram os canais de
diálogo entre artistas e público - que oportunidades para ver arte? que oportunidades para mostrar arte? onde e
com quem discutiam os artistas os seus trabalhos e as suas ideias?
18
RILKE, Rainer Maria. Os Cadernos de Malte Laurids Brigge. Porto: Editorial Inova, 1974, p. 38.
19 A curiosidade pela pesquisa documental do arquivo de Alberto de Serpa, atualmente em depósito na BMP, surge após
a cedência por parte de Drª Teresa Balté, viúva do escultor Hein Semke, de correspondência entre os dois na qual combinam
exposição do último na galeria da Portugália, em Junho de 1950.
20 Entre artistas e familiares de artistas, ao todo somam-se aproximadamente 30 contactos que foram realizados; apesar de
muitos não terem surtido efeito algum.
18
No segundo capítulo, centramo-nos no próprio espaço, tentando compreende-lo à luz
de um projeto mais alargado, ao qual está ancorado: a casa-mãe, a Portugália de Lisboa. Referimos
as duas personagens centrais na fundação da Portugália: Agostinho Fernandes, o dono, e o
arquiteto Artur Andrade, autor do projeto.
A descrição da livraria e galeria é complementada com fotograias provenientes do
arquivo pessoal do arquiteto, assim como dos desenhos técnicos e outras peças instrutórias do
processo de licenciamento que, à época, deu entrada na Câmara Municipal do Porto.
O terceiro e último capítulo, foca unicamente a galeria de exposições, a sua direção
gráica e artística, assim como a sua atividade, ancorada em documentação iconográica e – em
alguns casos- complementada com a respetiva crítica na imprensa.
Sendo este o capítulo mais extenso, não só em texto como em imagens, para uma
consulta mais agilizada, anexamos, no inal, um cronograma ilustrado, onde elencamos, por ano e
mês, todas as exposições cadastradas, e - sempre que possível - os respetivos catálogos.
Para este capítulo, tentamos ainda proceder à reconstituição de algumas das exposições21
realizadas na galeria da Portugália, sendo as mais completas as de Eduardo Luíz, em Maio de
195022 e de Júlio Pomar, em Outubro de 194723 - as duas, primeiras exposições individuais de
cada um dos artistas.
Os inevitáveis prazos para a conclusão e entrega do trabalho colocaram termo
à investigação – cujo encerramento foi sendo adiado pelas novas informações que vão
permanentemente surgindo e pela insaciável vontade de mais descobrir.
Esperamos ter cumprido a tarefa que nos cabia quando nos disseram: “Tinha aqui este
material há muito tempo guardado, à espera que alguém quisesse fazer um trabalho sobre
ele”24.
Na certeza de que muitas perguntas continuam sem resposta, e que ainda muito ica por
dizer e documentar relativamente a esta Livraria e Galeria, percursora de tempos e atitudes, aqui
ica um contributo por forma a iniciar o seu estudo e a devolver o seu lugar na historiograia da
arte portuguesa, mostrando a sua importância e atitude pioneira na apresentação e divulgação
da arte moderna.
21 A diiculdade inerente a esta tarefa -além da óbvia que representa a distância cronológica de quase 70 anos entre a data
de estudo e a atualidade - residiu na nomeação simplista que à época atribuíam às obras, sendo que as designações paisagem,
estudo, retrato, ou simplesmente uma sequência numérica, diicultam a sua correta identiicação.
22 Nesta tarefa agradeço a ajuda essencial do Dr Mário Castro e da Drª Isabel Gomes, nomeadamente sobrinho e irmã do
artista, assim como da Professora Doutora Leonor Soares.
23
Para a reconstituição desta exposição agradeço a colaboração de Alexandre Pomar.
24
Referiu certa vez Dr António Cardoso aquando da cedência de documentação essencial para este estudo.
19
20
Os lugares da arte (moderna) no Porto dos anos 40
1º Capítulo
Os lugares da arte (moderna) no Porto dos anos 40
Em 1932, após entrevistar Mussolini, cuja ação de apoio às artes e à cultura admirava,
o escritor e jornalista António Ferro, em entrevista a Oliveira Salazar sugeria a criação de
uma estrutura de apoio à criação artística moderna, que, simultaneamente, estabelecesse a
propaganda das realizações do regime.25 Este duplo aspeto teria como inalidade e consequência
a passagem para o exterior de uma imagem do governo e do regime, que fosse, moderna.
A necessidade de uma política que, sob a ação do Estado protegesse os artistas, não
constituía novidade e havia já sido mencionada em 1933 por Diogo de Macedo na publicação
Seara Nova, onde airma que “hoje, em todo o mundo há apenas um poder com o qual os artistas
têm a contar, que por sua vez tem a contar com os artistas. É o Estado. Estímulos, orientações,
iniciativas, prémios, só ao Estado compete criá-los e oferecê-los com inteligência e liberdade.”26
Este papel de ação do Estado irá ser protagonizado por António Ferro, nomeado diretor
do S.P.N.- estrutura sob tutela da presidência do Conselho de Ministros- através da Política de
Espírito, que se baseava no pressuposto de que “não são apenas os artistas que necessitam do
Estado- este precisa dos artistas (…) para a sua propaganda”27
Pouco depois, em 1935, no discurso proferido no banquete comemorativo da I Exposição
de Arte Moderna realizada na Sociedade Nacional de Belas-Artes, era a vez de Ferro airmar:
“Os artistas portugueses queixaram-se durante muito tempo, da indiferença ou desprezo dos
governos pelas suas aspirações e realizações. Eram absolutamente fundamentadas as suas queixas.
O Estado português vivia, sem dúvida à margem dos problemas do Espírito, da verdades eternas
da Beleza.Faltaram poetas na governação, homens para quem a luta pela vida fosse ao mesmo
tempo, a luta pela arte.”28
Para empreender a sua Política de Espirito, inserida num âmbito mais alargado de
propaganda nacional, inicia então uma série de diligências, como a criação de prémios que
estimulassem uma arte e literatura nacionais, a colaboração com artistas e escritores assim
como a utilização de meios de comunicação como o cinema e o teatro.
O apoio traduzia-se, entre outros, em encomendas de obras a artistas modernos,
assim como a criação de um programa de exposições no estrangeiro ou a criação de Exposições
25 ALMEIDA-MATOS, Lúcia. Escultura em Portugal no século XX (1910-1969). Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, p.197.
Tese de doutoramento.
26 MACEDO, Diogo. “A Igreja e a Arte” in Seara Nova de 6 de Abril de 1933, p.12 citado por ALMEIDA-MATOS, Lúcia.
Escultura em Portugal … (Op. cit). p. 197.
27
ALMEIDA-MATOS, Lúcia. Escultura em Portugal … (Op. cit), p. 201.
28
FERRO, António. A Política do Espírito e a Arte Moderna Portuguesa. Lisboa: Edições SPN. 1935. p. 5.
21
Os lugares da arte (moderna) no Porto dos anos 40
Anuais de Arte Moderna. Também no Porto, criou a Exposição Anual dos Artistas Modernos do Norte.
Para todas estas exposições se estabeleceu a atribuição de prémios que, nas palavras de Ferro,
teriam ser atribuídos a artistas que “dentro de um indispensável equilíbrio, maior inquietação
revelem”.29
A ação de modernidade levada a cabo pela política de Ferro, teve a sua mais intensa
atividade nos anos 40, durante a qual estabeleceu uma sólida plataforma de contacto entre
artistas modernos e público. A ação do S.P.N. ao longo deste período, desempenhou um
importante papel na sedimentação e aceitação da arte moderna, e certamente abriu caminho
para a criação de espaços de exposição de arte moderna não oiciais.
A cidade do Porto, vivendo um certo distanciamento quer geográico, quer social,
político e económico relativamente à capital, desenvolveu mecanismos próprios, abrindo canais
paralelos aos patrocinados pelo Estado.
1.1.1
As Galerias
Fernando de Azevedo no artigo A Arte Moderna e a Falta de Galerias30, aponta como um dos
principais fatores de uma inadequada receção da arte moderna, por parte do público, a escassez
de galerias de arte que, de uma forma programada e regular, cumprissem essa função. Como, se
não havia espaços para um efetivo contacto entre artistas e público, escoava o artista a sua obra? E como mostrava
a sua arte? Por que meios o público tomava conhecimento da criação artística?
A necessidade, que no seio da comunidade artística se fazia sentir, de abertura de
canais alternativos aos estabelecidos pelo Estado para a exibição das suas obras, havia já sido
verbalizada por Júlio Pomar quando em 1942, através da publicação do texto: “Da necessidade
de uma Exposição de Arte Moderna”, inserido no quinzenário cultural Horizonte, airmou:
“Urge criar um salão isento de partidarismos, aberto a todos os artistas de alma jovem que
tragam uma mensagem a revelar”.31
Começavam então, os artistas a integrar-se em estruturas já existentes que se íam
adaptando às novas circunstâncias, pelo menos temporariamente, o que começou a desenhar
um novo padrão expositivo, contrariando, em certa medida, a ausência de acontecimentos
novos no panorama cultural e artístico a que na altura se assistia.
A propósito desta nova realidade, António Ramos de Almeida refere: “Nunca houve no
Porto tantas exposições de pintura como ultimamente. Além do “clássico” Salão Silva Porto, as
29 FERRO, António citado por FRANÇA, José Augusto. A Arte em Portugal no século XX . Lisboa: Livros Horizonte, 2009,
p.134.
30
AZEVEDO, Fernando. “A arte moderna e a falta de galerias” in Mundo Literário nº 41, de 14 de Fevereiro de 1947.
31 Júlio Pomar citado por GONÇALVES, Rui-Mário. Pioneiros da Modernidade. História da Arte em Portugal. Vol. 12. Lisboa:
Alfa, 1988. p.177.
22
Os lugares da arte (moderna) no Porto dos anos 40
exposições alastraram da Livraria Portugália, ao salão de Festas do Coliseu, da elegante casa
Fantasia, até aos “stands” de automóveis32 e aos átrios dos cinemas, etc., etc.”33
Embora inserido num diferente contexto34, não se referindo exclusivamente ao moderno,
não deixa este artigo de constituir um contributo para a construção do ambiente que à época
caracterizava o panorama expositivo portuense: se por um lado se assistia a uma proliferação
das exposições, por outro veriicava-se a ausência de critério subjacente à qualidade das mesmas,
que aliada à falta de vocação da maioria dos espaços, diicultavam a receção da arte moderna.
Aliado a estes fatores, o contacto aproximado entre arte, artistas e público, não constituía mais
do que um acontecimento isolado, que durava apenas o tempo da respetiva exposição ao que,
de seguida, o espaço regressava à sua atividade habitual.
Concluindo: continuavam “raras as oportunidades e deicientes as condições para
expor”,35facto também mencionado por Rui- Mário Gonçalves,36 quando aponta a ausência de
galerias, como uma das maiores causas das diiculdades com que se depara a cultura artística
portuguesa desta década. Por outro lado, a diiculdade de um artista mostrar e divulgar o seu
trabalho e do público interessado, poder ter conhecimento, frequentar e adquirir a arte que se
produzia na época, comprometia logo à partida o mercado da mesma.
Nos anos 40 a falta de um mercado da arte devidamente constituído e informado, tinha,
como consequência, um impedimento real à venda das obras. Para agravar a situação, aliada
à falta de compradores, a escassez de encomendas de entidades privadas e oiciais tornavam a
situação dos artistas desta época bastante difícil.37
Para uma mais nítida compreensão do panorama expositivo no contexto especíico do
Porto, neste estudo dos espaços expositivos dos anos 40, à semelhança do estudo de Gonçalo
Pena38, dividimo-los em categorias:
a) Entidades culturais de serviço público, o Museu Nacional de Soares dos Reis; b) Uma galeria de arte
cujas diretrizes se norteiam para a divulgação da cultura, a Livraria e Galeria Portugália; c) Uma
galeria e academia de ensino de iniciativa privada, o Salão Silva Porto; d) Associações culturais e
recreativas e outras instituições ains, Ateneu Comercial do Porto, Clube dos Fenianos Portuenses, Palácio
de Cristal, Palácio da Bolsa, S. João Cine, Misericórdia do Porto, Coliseu do Porto, Cooperativa S.E.N.; e)
32 A este respeito registamos uma exposição de pintura do humorista Roberto Santos num stand da Rua Magalhães Lemos,
nº 85, em Abril de 1949. O Comércio do Porto de 6 de Abril de 1949.
33
“A I Exposição de Primavera no Porto” in Mundo Literário nº10 de 13 de Junho de 1946.
34
Artigo relativo à I Exposição de Primavera no Porto realizada em 1946 no Ateneu Comercial do Porto.
35 ALMEIDA-MATOS, Lúcia. “Júlio Pomar no Porto” in MATOSINHOS Câmara Municipal. Fundação Júlio Pomar Primeira
escolha. Matosinhos: Câmara Municipal, 2007. p. 145.
36 “Uma das diiculdades maiores com que se debate a cultura artística portuguesa é a falta de museus de arte moderna, e
a falta de divulgação das obras portuguesas.” GONÇALVES; Rui Mário. In “Artes Plásticas Nova Criatividade, Novo Espírito
Crítico.” in Os anos 40 na Arte Portuguesa. Lisboa: FCG, Abril de 1982. p.44.
37 MOREIRA, Isabel M. Martins. Galerias de Arte e o seu Público. Lisboa: Centro de Estudos de História e Cultura Portuguesa.
Instituto Português de Ensino à Distância, 1985. p. 10.
38 PENA, Gonçalo. “Galerias, Instituições e Mercado” in Anos 60 Anos de ruptura Uma perspectiva da arte portuguesa nos anos
sessenta. Lisboa: Livros Horizonte, 1994.
23
Os lugares da arte (moderna) no Porto dos anos 40
Estabelecimentos comerciais que proporcionavam várias oportunidades de exposição, a Casa
Cipriano e a Casa Fantasia.
a) O Museu Nacional de Soares dos Reis, inaugurado em 1942, era, pois, a única instituição
de serviço público que nesta época existia no Porto, e tinha a sua sede no Palácio das Carrancas,
na Rua D. Manuel II.
Antigo Museu Portuense, criado durante o Cerco do Porto, por decreto do regente D.
Pedro IV, em 1833, no edifício de Santo António da Cidade, em S. Lázaro, este, que constituiu
o primeiro museu publico de arte do país,39teve como função primeira, a recolha, conservação
e inventariação dos bens que haviam sido coniscados à Igreja e aos Absolutistas, promovendo
a sua utilização para ins culturais e pedagógicos.40
No entanto, é durante o Estado Novo, que - após a classiicação do museu como Museu
Nacional em 1932 e do edifício como Imóvel de Interesse Público, em 1934 - por iniciativa legislativa
em 1937- o edifício do Palácio das Carrancas é incorporado no património do Estado para
nele se instalar o Museu Nacional de Soares dos Reis. Datam desta época importantes obras de
adaptação do edifício a museu, na qual foram seguidos os critérios e as normas da museograia
da época. As obras foram realizadas pela Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais
do Norte.
Datam também desta época as alterações na deinição de museu enquanto espaço útil,
por cujas funções passava a educação das massas, ao mesmo tempo que servia como instrumento
de propaganda de ordem moral e social: abriam-se, desta forma, novas dimensões à instituição
museológica agora também um instrumento de intervenção social.41
Em 1942, é iniciada a edição da revista Museu42, sob direcção de Vasco Valente, uma
publicação vocacionada para a difusão da atividade desenvolvida pela equipa do museu.43
Este espaço recebe entre Fevereiro de 1945 e 195744, por intermédio do Secretariado
Nacional de Informação e Cultura – S.N.I.C. - os Salões de Arte Moderna dos Artistas do Norte,45
para os quais seriam instituídos os prémios: “António Carneiro”, “Armando Basto”, “Pousão”,
“Teixeira Lopes” e “Marques de Oliveira”, atribuídos através da nomeação de um júri
previamente constituído para o efeito.
De um modo geral estas exposições tinham repercussão na crítica da imprensa, nem
sempre alinhada com as opções estéticas dos expositores, como é exemplo a crítica inserida
n’O Comércio do Porto de 21 de Maio de 1946, relativa à I Exposição de Arte Moderna dos Artistas do
24
39
SANTOS, Paula Mesquita. MNSR. Museu Nacional de Soares dos Reis: Roteiro da Colecção. Lisboa: IPM, 2001. p.13.
40
Ibd., Ibid.
41
Ibd., Ibid. p.16.
42
Numa edição do círculo Dr. José de Figueiredo.
43
Esta publicação incluía igualmente uma coletânea de artigos de História de Arte.
44
GUEDES, Fernando. Estudos sobre Artes Plásticas. Lisboa: Imprensa- Nacional Casa da Moeda, 1985. p. 45.
45
Ibd., Ibid.
Os lugares da arte (moderna) no Porto dos anos 40
Norte46, realizada no MNSR, em 1946, na qual estiveram presentes 15 pintores, reunindo na
totalidade, 32 trabalhos: “de entre essas três dezenas de quadros, apenas um pequeno número
constitui isso que se pode denominar pintura a sério.” Reforçando: “Mesmo que se teime em
julgar necessário deixar a paisagem somente esboçada, o retrato sem expressão isionómica e
tudo o mais por acabar para se fazer “arte moderna”, nós- e connosco todos quantos se sentem
arrepiados perante as monstruosidades q se oferecem sob essa designação - continuamos e
persistiremos na nossa na nossa irma convicção de que o caminho seguido é errado e não
levará qualquer artista à sonhada glória.”
Nestas exposições participaram vários dos “principais pintores”47 que integravam as
Exposições Independentes, tendo inclusive, entre 45 e 51 sido premiados, Aníbal Alcino, Arthur da
Fonseca, Fernando Lanhas e Júlio Resende.48
b) a Livraria e Galeria Portugália, o único espaço na cidade em cujas diretrizes -base,
assentava a divulgação programada e regular de exposições, sobre cuja ação se desenvolve o
presente estudo, que será apresentado em capítulos próprios.
c) o Salão Silva Porto, o espaço que assumia maior protagonismo, dentro e fora da cidade,
fundado em 1925 pelo pintor Alberto Silva, juntamente com Jacinto de Magalhães e Álvaro
Miranda. Este Salão e Academia de ensino, localizava-se numa das principais artérias da baixa,
na Rua de Cedofeita, nº 281-285.
O Salão Silva Porto constituía um espaço pouco inovador, dedicando-se sobretudo à
comercialização de antiguidades e à organização de exposições individuais de artistas mais
conservadores e aos já consagrados como Acácio Lino, Falcão Trigoso ou Abel Salazar.
Excecionalmente dava lugar aos mais novos49, como quando em 1929 recebeu uma exposição
do Grupo + Além, um grupo formado por estudantes de pintura, escultura e arquitetura da Escola
de Belas-Artes do Porto, unidos em contestação à tendência naturalista e ao ensino académico
personiicado por Marques de Oliveira50.
O Salão Silva Porto editou entre Janeiro de 1939 e Setembro de 1940, o Boletim do
Salão Silva Porto, num total de seis números, constituindo o último, uma edição especial em
homenagem ao seu fundador, o pintor Alberto Silva. Nestes boletins, era feita a apologia da
“arte como amor à natureza”, e a tomada de posição contra manifestações artísticas “mais
46 Encontramos ainda referência à V Exposição Moderna dos Artistas do Norte, realizada em 1949, e na qual participaram:
António Lino, António Cruz, António Soares, Arthur da Fonseca, Cândido Costa Pinto, Carlos Botelho, Carlos Carneiro,
Celestino Alves, Emérico Nunes, Estrela Faria, Fernando Lanhas, Martins da Costa, Neves e Sousa, Júlio Resende, Manuel
Bentes, Milly Possoz, Tom, Álvaro de Brée, António Duarte, Arlindo Rocha, Martins Correia, João Fragoso e Hein Semke.
Informação contida em GUEDES, Fernando. Estudos sobre Artes Plásticas. Lisboa: INCM, 1985. p. 54.
47
GUEDES, Fernando. Estudos sobre … (Op. cit.), p. 45.
48
FRANÇA, José-Augusto. A Arte em Portugal …. (Op. cit.), p.143.
49
GUEDES, Fernando. Estudos sobre … (Op. cit), p. 25.
50 Esta exposição integrou obras de Augusto Gomes, Guilherme Camarinha, Alvarez, Ventura Porfírio, Luís Reis Teixeira,
Artur Justino Alves, Adalberto Sampaio, Américo Braga, Cunha Leão, Fortunato Cabral, Januário Godinho, Laura Costa,
Arménio Losa, Lacerda Marques, Abel de Moura, J. Cruz Lima e Mendes da Silva.
25
Os lugares da arte (moderna) no Porto dos anos 40
avançadas”51; a proclamação do seu papel no panorama artístico e expositivo do Porto, é visível
através de expressões como : “(...) pulmão forte por onde respira a Arte no Porto (…).”52 Acerca
ainda deste papel proeminente referiu Júlio Resende: “ (...) o Salão Silva Porto, que era, na
altura, talvez a única galeria de arte da cidade e, sem dúvida a mais conceituada.”53 e a respeito
dos seus frequentadores: “Era um espaço frequentado por uma clientela de pessoas entendidas,
ou simplesmente amadores.”54
Durante as várias décadas em que esteve em atividade realizou inúmeras exposições e
ofereceu cursos de pintura “um ensino todo ele exigente em obediência aos métodos clássicos”55,
que foram frequentados por alguns pintores no início da sua aprendizagem como Jaime Isidoro
e Júlio Resende, que em 1944, realizou neste local a sua primeira exposição.
Apesar deste espaço se guiar por cânones conservadores, não estando focado nem
vocacionado para a organização de exposições de arte moderna, não deixa contudo de ser um
referencial de extrema importância para a cidade, no que refere à sua longa atividade no âmbito
das exposições e no ensino da pintura.
d) o Ateneu Comercial do Porto - Associação de Cultura, Instrução e Recreio, localizado na Rua
Passos Manuel, nº 44 - nesta sede desde 1885 - constitui o resultado da fusão de outras instituições
congéneres que não sobreviveram, criadas por comerciantes e caixeiros do Porto.56Associação
de cariz privado, desde a sua fundação organiza eventos de caráter lúdico e cultural, tendo
tradição os bailes e o famoso chá dançante; organiza igualmente, saraus e tertúlias culturais.
A instituição possui, a par de uma vasta coleção de pintura, cerâmica, escultura, desenho,
gravura, fotograia, mobiliário e outros57, uma das mais valiosas bibliotecas particulares de livros
camilianos e camoneanos.
A primeira exposição aqui realizada remonta a 1886, e surge através de uma proposta
de um grupo de artistas plásticos, constituído por Marques de Oliveira, Marques Guimarães,
Júlio Costa, Xavier Pinheiro e Adriano Ramos Pinto, que realizaram no Salão Nobre uma
“Exposição de Bellas Artes”.58
Nos anos 20 do século XX, assistimos à sua abertura a manifestações artísticas mais
avançadas, demonstrada sobretudo em duas exposições paradigmáticas que aqui foram
51
CASTRO, Laura. Júlio Resende Tentações da Pintura Ocidental. Lisboa: INCM, 1999. p.33.
52 Faria de Castro. “Um devoto da Arte” em Boletim do Salão Silva Porto número 6 de Setembro de 1940 - número
consagrado ao pintor Alberto Silva, fundador do espaço. p.34.
53
RESENDE, Julio. Autobiograia. Lisboa: Edições O Jornal, 1987. p.9.
54
RESENDE, Julio. … (Op. cit.) p. 9.
55
Ibd., Ibid.
56
Informação disponível em : http://www.ateneucomercialporto.pt
57 ATENEU COMERCIAL DO PORTO. Percursos: A Pintura do Ateneu Comercial do Porto. Porto: Ateneu Comercial do Porto,
2005.
58 ATENEU COMERCIAL DO PORTO. Percursos: A Pintura do Ateneu Comercial do Porto. Porto: Ateneu Comercial do Porto,
2005. p. 18.
26
Os lugares da arte (moderna) no Porto dos anos 40
realizadas59: a 2ª Exposição Independente, em Fevereiro de 1944, e a I [e única] Exposição de Primavera,
entre 15 e 25 de Junho de 1946.
A 2ª Exposição Independente, organizada pelo Grupo de Estudantes de Belas-Artes do Porto,
é realizada em 1944, pela primeira vez fora da Instituição, encontrando acolhimento no Salão
Nobre do Ateneu Comercial. Nesta exposição participam: Altino Maia, Arlindo Rocha, Eduardo
Tavares, Joaquim Meireles, Manuel da Cunha Monteiro, Maria Graciosa de Carvalho, Mário
Truta, Félix de Brito, Manuel Pereira da Silva, Seraim Teixeira, Arco, Martins da Costa,
Arthur da Fonseca, Victor Palla, Amândio Silva, Aníbal Alcino, António Lino, Armando Alves
Martins, Bento de Almeida, Henrique Mingachos, Israel Macedo e Nadir Afonso.
Relativamente à I Exposição de Primavera,60 organizada por Júlio Pomar,61constituiu
a primeira manifestação de carácter neo-realista no país62. Esta exposição, de forte conotação
política, ambicionava além de constituir uma “exposição colectiva de artistas independentes
e livres”, “novos e velhos”63, encerrar uma “tribuna privilegiada”64 no combate à causa neorealista. No catálogo, podia ler-se, a modo de advertência:
”A exposição que ides ver não é uma obra perfeita: é uma experiência. Não é uma
airmação só de palavras: o que ela vale, sois vós que o direis. Sois vós: a Arte não vive por
si. Precisa do contacto dos homens. Assim os homens precisam de cultura, assim precisam
de Arte. Cultura e Vida, Arte e Vida, são inseparáveis. O homem é a medida de tudo neste
mundo”.65
A par das exposições, são realizadas conferências por Armando Bacelar, Júlio Pomar “Arte e
Juventude”66, Júlio Gesta e Alfredo A. Magalhães.
Repercussão na crítica recebe esta exposição no Mundo Literário67 num artigo assinado
por António Ramos de Almeida, ele próprio um militante da causa neo-realista, que, revendo59
Registamos outras exposições, nomeadamente uma de faianças de Jorge Barradas, em Maio de 1949.
60 Na I Exposição de Primavera participaram: Abel Salazar, Amândio Silva, Américo Braga, A. Figueiredo, Rui Pimentel
(Arco), A. Alves Martins, A. Amarelhe, Armando Batista, Augusto Gomes, Costa Júnior, Cruz Caldas, David Souza, Eduardo
Tavares, Gouveia Portuense, Camarinha, Herculano Monteiro, Hernâni Tavares, J. Moniz Pereira, Jorge de Oliveira, Pomar,
Mamede Portela, Manuel Filipe, Margarida Schimmelpfennig, Maria Teresa Arriaga, Mário Truta, Octávio Sérgio, Manuel
Pereira da Silva e Rafael Abrantes. Salienta-se o apoio dos mais velhos: Abel Salazar, Augusto Gomes, Guilherme Camarinha
e Manuel Filipe. No entanto, o carácter político da exposição, resultou nas ausências de : Júlio Resende, Fernando Lanhas e
Dordio Gomes (que integrando o conselho escolar da EBAP havia suspendido alguns jovens envolvidos na organização desta
exposição). In ALMEIDA-MATOS, Lúcia. “Júlio Pomar no Porto” in Primeira Escolha … (Op.cit.), p. 151.
61 Poucos meses antes da I Exposição Geral de Artes Plásticas, organizada por iniciativa da comissão de jornalistas, escritores e
artistas democráticos, do MUD, na SNBA, em Julho desse mesmo ano de 1946.
62
FUNDAÇÃO DE SERRALVES. Porto 60/70 … (Op. cit), p.18.
63
FRANÇA, José-Augusto. A Arte em Portugal … (Op. cit.), p.243
64
Ibd.,Ibid.
65
Prefácio inserido no catálogo da I Exposição de Primavera, Porto, 1946.
66
Posteriormente publicada na revista Vértice, vol. 3, nº45, de Abril de 1947.
67
ALMEIDA, António Ramos de. “A I Exposição de Primavera no Porto” in Mundo Literário nº 10 de 13 de Julho de 1946.
27
Os lugares da arte (moderna) no Porto dos anos 40
se nestes ideais, tece elogiosos comentários a esta iniciativa que aqui encontra uma tribuna
privilegiada para a difusão deste ideal de oposição ao regime. Aproveita então para remeter
para as inúmeras exposições a que o Porto assiste, estas não trazem “nada de novo nem de
velho” – aproveitando para denunciar o marasmo expositivo em que a cidade se encontrava:
ou refém de “estafadas paisagens” ou à mercê de “estafados desvarios futuristas decalcados do
pintor A ou B”; ou seja, para além da manifestação neo-realista, nada de relevante acontecia.
Acidentalmente ou não, o Ateneu com a abertura das suas portas a estes dois episódios,
emblemáticos em duas posturas distintas nas artes plásticas, inaugurou igualmente - para os dois
casos- a respetiva mostra num local de caráter público, possibilitando uma maior visibilidade e
projeção de duas das tendências que viriam a protagonizar o panorama das artes plásticas nesta
época: o abstracionismo e o neo-realismo.
No cimo da Avenida dos Aliados, na Rua Clube dos Fenianos, nº 29, está localizado, o
Clube dos Fenianos Portuenses, fundado em 1904, localizado nesta sede desde 1935. Fundado sob
o lema “Pelo Porto!” é uma associação de vocação cultural, recreativa e desportiva. Conhecido
sobretudo pelos seus exuberantes festejos Carnavalescos, o Clube dos Fenianos, recebeu igualmente,
no seu Salão Nobre ao longo dos anos 40, várias exposições, entre as quais: Manuel Filipe, em
Maio de 194568, Adolfo Silva, ex-aluno da EBAP, e o Salão Internacional de Arte Fotográica, em
Maio de 1949. Neste local eram igualmente organizadas diversas palestras e tertúlias culturais.69
Incluímos neste grupo, os átrios de Instituições como do S. João Cine, na Praça da Batalha
e da Misericórdia do Porto, na Rua das Flores, onde ocasionalmente eram organizadas exposições.
Também, no Palácio da Bolsa ou Palácio da Associação Comercial do Porto, localizado na Rua Ferreira
Borges, espaço dedicado aos ofícios do comércio e da indústria portuenses, cuja fundação
recua a 1834, que, a par da sua atividade, editava O Tripeiro, uma publicação centrada na vida
comercial da cidade, onde se realizavam ocasionalmente exposições.
O Palácio de Cristal, inaugurado em 186570, projeto do arquiteto inglês Thomas Dillen
Jones e o Coliseu do Porto,construído no mesmo local onde existira anteriormente o Salão Jardim
Passos Manuel, (onde realizou a sua primeira exposição o pintor Amadeo de Souza Cardoso em
1915), constituíam duas possibilidades para a realização de exposições. Este último, tinha um
Salão de Exposições onde se realizou, entre outras, a 3ª Exposição Independente em Dezembro de
1944.
A Cooperativa Sociedade Editora Norte (S.E.N.)71 fundada em 1942 por vários elementos
que frequentavam as tertúlias no Café Majestic72, desenvolvia atividade cultural regular, norteada
68
Esta exposição recebeu um texto crítico na página Arte do jornal A Tarde de 9 de Junho de 1945.
69
Como por exemplo, a conferência proferida por João Gaspar Simões em Fevereiro de 1947.
70 O Palácio de Cristal foi demolido em 1951, dando lugar a um novo edifício, o Pavilhão dos Desportos, projeto do arquiteto
José Carlos Loureiro, hoje Pavilhão Rosa Mota.
71 A S.E.N. teve várias sedes: Avenida dos Aliados, Largo dos Poveiros, Rua de Santa Catarina, Rua Formosa e por último
na Rua do Bonjardim.
72
28
De entre os frequentadores destas tertúlias contam-se muitas personalidades do meio cultural e político como: pintor
Os lugares da arte (moderna) no Porto dos anos 40
por uma oposição ao regime e editava um jornal clandestino.73Esta Cooperativa além de ter
editado um grande número de livros, organizou encontros, colóquios, tertúlias e exposições,
entre as quais, uma do pintor António Sampaio no Salão do Coliseu do Porto.74
e) a Casa Cipriano, localizada no nº 34-44 da Praça de Carlos Alberto, havia sido fundada
em 1870 por Cipriano d’Oliveira e Silva, um artista marceneiro. Na época das grandes exposições
universais, ganhou vários prémios, que exibia nas paredes do seu estabelecimento75. Esta casa
possuía um grande salão de exposições e venda, que dedicava à exposição e comercialização de
mobiliário e outros artigos decorativos.76
Apesar de não possuirmos informação especíica que informe claramente acerca da sua
natureza nem da qualidade das exposições aí realizadas, o registo de duas exposições de artistas
expositores das Exposições Independentes, António Sampaio, em Junho de 1946 e de Arthur da
Fonseca77 em Maio de 194778, justiicaram a sua inclusão neste grupo.
A Casa Fantasia, localizada na Rua de Santo António, nº 220, era um estabelecimento
dedicado ao comércio de cristais e outros artigos de decoração79.
A regularidade das exposições e a seleção de artistas que se registou, (muitos deles, alunos
da Escola de Belas-Artes do Porto), assim como a regularidade de menções e recensões críticas
na imprensa, levantou algumas questões acerca da natureza deste estabelecimento, pelo que se
consultou o respetivo processo na Câmara Municipal do Porto.
De acordo com a memória descritiva que consta no processo de licenciamento80 que
deu entrada na CMP em Julho de 1943, a requerente solicita licença para obras de “alteração
na fachada”, alegando o “emprego de materiais de boa qualidade”, como o mármore; solicita
igualmente o “alinhamento das soleiras”.81Embora na memória descritiva nada conste que
identiique a atividade e a função a que se destinaria o espaço, a pretensão aí solicitada, tanto o
alinhamento das soleiras, assim como o emprego de materiais de qualidade como o mármore,
indiciam algum apuramento estético na imagem do espaço, facto que se pode constatar pela
observação da igura 33.
António Sampaio, Fernando Zenha, Eduardo Santos Silva, Cal Brandão, Eng. Virginia Moura, os arquitectos Artur Andrade,
Lobão Vital e Januário Godinho.
73
PORTO, Carlos. Livros e Livreiros do Porto. Porto: Livraria Leitura, 1994. p. 53.
74 ARVORE- COOPERATIVA DE ACTIVIDADES ARTÍSTICAS. António Sampaio O homem e a Obra (1916-1994). Porto:
Árvore- Cooperativa de Actividades Artísticas, 2004. p.188.
75 Exposição Internacional de Paris em 1878, na Exposição do Palácio de Cristal em 1887, nas do Rio de Janeiro em 1908,
1922 e 1923, na Exposição de Barcelona em 1929 e na Grande Exposição Industrial Portuguesa, em 1932.
76
COUTO, Júlio. A Praça de Carlos Alberto. Porto: Livraria Vieira, 2003. p. 62.
77 Arthur Lambert Barbosa da Fonseca (1922 - 2013). Pintor abstrato e surrealista. Pertenceu ao grupo de Estudantes de
Belas Artes do Porto. Integrou as Exposições Independentes.
78
Cf. O Comércio do Porto de 14 de Maio de 1947.
79
Cf. Anuário Comercial do Porto de Carvalho e Martino, Ltd. , de 1947.
80 “Memória descritiva” in [Processo de licenciamento nº 292/43], 1943. Acessível no Arquivo da Câmara Municipal do
Porto.
81 “Memória descritiva” in [Processo de licenciamento nº 292/43], 1943. Acessível no Arquivo da Câmara Municipal do
Porto.
29
Os lugares da arte (moderna) no Porto dos anos 40
Embora não tenhamos documentação suiciente que informe adequadamente acerca da
sua programação82, constatamos que, neste estabelecimento, eram organizadas regularmente
exposições, tendo exposto aqui, entre outros, ao artistas António Sampaio (1944), Jaime Isidoro
(1945 e 1947), Carlos Carneiro (1946), A. Neves e Sousa (1944 e 1950) e Nadir Afonso (1948). As
exposições aqui realizadas, e para as quais eram produzidos catálogos,83encontravam, embora
com maior ou menor destaque, eco na imprensa: ou através de uma simples nota a informar
acerca do respetivo encerramento ou inauguração, ou através de comentários críticos.
Terá provavelmente encerrado por volta de inais de 1951 ou inícios 1952, altura em
que nos surgem registos de um outro espaço de exposições nesse mesmo local: o Salão António
Carneiro.
No curso deste estudo, encontramos ainda, muitas outras referências a exposições e
espaços expositivos em vários locais84, embora pela falta de informação especíica acerca das
mesmas e pelo seu carácter avulso não tenhamos incluído neste estudo.
A agitação expositiva vivida durante os anos 40 no Porto e o esforço empreendido
pelos artistas desta década no rompimento com cânones passadistas, que os levou a ocupar
temporariamente as instituições, conquistando assim novos espaços para a airmação da sua
arte, no empenho para um incremento de ação cultural continuada, reletem um espírito
determinado e de realização desta geração.
A atitude empreendedora, traduzida nestas iniciativas, por certo criou condições à
experimentação e proporcionou uma maior abertura e ousadia no trilho de novos rumos e
possibilidades, pelo que sublinha a nossa convicção que os tempos e vontades em fazer a arte
comunicar com o publico e sair para a rua, além de uma necessidade era já uma realidade
manifestada na cidade do Porto durante a década de 40.
1.1.2
A crítica
À semelhança do abordado anteriormente, também a crítica de arte especializada,
era, nesta altura, praticamente inexistente, sendo a sua escassa atividade exercida por pessoas
oriundas das mais diversas áreas, o que se repercutia inevitavelmente na inconsistente qualidade
e rigor da própria crítica que dependendo do veículo onde se inscrevia era produzida por
82
Não foi efetuado um estudo exaustivo da programação deste espaço, por não constituir objeto deste estudo.
83
Alguns identiicados durante a investigação.
84 Nomeadamente Sala de Exposições Botão Cristal, na Rua de Cedofeita, nº 3, Galeria Molder (de Lisboa) que funcionava num
dos salões do Grande Hotel do Porto, e que publicava a revista ilustrada Artis. Encontramos ainda referências a outros locais
como um stand de automóveis na Rua Magalhães Lemos, nº 85 e uma sala na Rua Sá da Bandeira, nº 42. Também a Livraria
Figueirinhas expunha por vezes quadros nas suas montras (Dr. António Cardoso tem memória de ver nas montras desta livraria
quadros do pintor António Cruz).
30
Os lugares da arte (moderna) no Porto dos anos 40
jornalistas, ou, por vezes, por escritores, historiadores de arte ou artistas.
Na imprensa generalista, alguns dos principais diários portuenses - O Primeiro de Janeiro
e O Comércio do Porto, apresentavam uma coluna temática dedicada às artes plásticas, por via
da qual davam conta sobretudo das exposições promovidas pelos pintores naturalistas85 e dos
eventos que, certamente, teriam mais repercutibilidade.86 Não obstante, incluíam igualmente
informação acerca de uma ou outra exposição de “caráter mais avançado”, facto que, na
generalidade, não lhes despertava igual interesse. Aliado à parcialidade no que diz respeito às
tendências estéticas, a esta crítica nem sempre estava subjacente um conhecimento real nem
da matéria tratada, nem do processo criativo do artista. A crítica jornalística não constituía,
portanto, uma fonte idedigna; é no entanto um importante indicador no que reporta à opinião
da imprensa face à realidade artística.
A criação, em Abril de 1945 da nova página Arte no jornal A Tarde, que, entregue à
orientação de Júlio Pomar, esteve em atividade entre Junho e Outubro de 194587, inaugura um
“verdadeiro debate artístico”88; este, de feição, declaradamente, neo-realista, movimento do
qual o próprio Júlio Pomar foi um dos principais protagonistas. Nesta página, além de Júlio
Pomar, colaboram ainda Fernando Lanhas, Arco, Aníbal Alcino, Victor Palla e José Borrego.
Após o segundo número, colaboram igualmente os artistas e colegas de Lisboa, Cesariny, Pedro
Oom e Vespeira. No primeiro número recebeu contribuições de alunos da Escola do Porto:
textos de Victor Palla e Arco, reproduções de Júlio Resende e Nadir Afonso, e ainda uma notícia
da Exposição Independente na sua itinerância por Lisboa. Nas páginas d’A Tarde, a par da produção
escrita alinhada com a nova doutrina, reproduzem-se desenhos de Fernando Lanhas, Júlio
Pomar, Victor Palla, Manuel Filipe, Nadir Afonso e Júlio Resende. Durante os vinte números
em que a página foi publicada, constituiu um forte veículo da causa da arte útil, socialmente
interventiva, onde semanalmente eram apresentadas referências nacionais e internacionais,
nomeadamente os pintores mexicanos Orozco e Siqueiros e o brasileiro Portinari, assim como
reproduções das suas obras.89
A fundação da página Arte representou um ponto de viragem, uma oportunidade tanto
para os artistas exporem as suas ideias e a sua arte, como para se pronunciarem sobre a obra dos
seus pares.
A propagação da doutrina neo-realista encontrou nesta época, um outro veículo:
a revista Vértice, revista portuguesa de cultura e arte, sediada em Coimbra e fundada em 1942, e
que, a partir de 1945, assumindo uma nova direção se torna um instrumento de resistência
85
CASTRO, Laura. Júlio Resende … (Op. cit.), p. 25.
86
GALERIA DO PALÁCIO. [+ de] 20 Grupos e episódios no Porto do século XX. Vol. II. Porto: Galeria do Palácio, 2001. p. 8.
87 Esta colaboração surge por intermédio de Fernando Lanhas, que apresenta Júlio Pomar e Victor Palla a António Cruz,
que na altura dirigia a revista. Cf. ALMEIDA-MATOS, Lúcia. Júlio Pomar Primeira Escolha. Fundação Júlio Pomar e Galeria
Municipal de Matosinhos. p. 149.
88
ALMEIDA-MATOS, Lúcia. “Júlio Pomar no Porto” in Primeira Escolha. …(Op.cit), p. 147.
89
GUEDES, Fernando. Estudos sobre Artes Plásticas … (Op. cit), p. 48.
31
Os lugares da arte (moderna) no Porto dos anos 40
política. Colaboradores assíduos são Júlio Pomar, Victor Palla (simultaneamente autor do design
gráico das vinhetas e das capas da revista), Arco, Manuel Ribeiro de Pavia, Abel Salazar entre
outros. Nas páginas da Vértice reproduzem-se desenhos de Pomar90, que no ano seguinte seriam
publicados no álbum Pomar XVI Desenhos, com um texto de Mário Dionísio. No campo poético e
literário, as páginas da revista eram enriquecidas com poesias de Joaquim Namorado, João José
Cochofel, Eugénio de Andrade, José Borrego e Afonso Duarte.
A par da atividade escrita nomeadamente para a Vértice e A Tarde, a realização de
conferências e palestras constituiu uma outra forma de propagação e contaminação da
crítica, nomeadamente da ideologia neo-realista, que posteriormente era transmitida por via
escrita nestas publicações. Pomar e Palla protagonizam alguns desses episódios, por ocasião
designadamente da 3ª Exposição Independente, na sua itinerância por Lisboa no IST, em 1945. Aqui
Pomar profere a conferência “Caminho da Pintura”, que depois repetiria no Porto na exposição de
Manuel Filipe e que seria ainda publicada na revista Vértice91. Nas páginas desta revista podemos
ainda encontrar a conferência proferida por Júlio Pomar na I Exposição de Primavera, com o
tema “Arte e Juventude”.92
A revista Mundo Literário - Semanário de crítica e informação literária, cientíica e artística, de
Lisboa, com corpo diretivo constituído por Adolfo Casais Monteiro, Emil Andersen e Jaime
Cortesão Casimiro, esteve em atividade durante os anos de 1946 e 1947, tendo ainda editado
mais um número em 1948.
Com um design gráico cuidado e sóbrio, os textos que a integravam estavam estruturados
em três colunas intercaladas com reproduções de obras de vários artistas modernos e neorealistas. Esta publicação editava artigos da intelectualidade literária e artística, quer a nível
nacional como internacional, inserida nas suas várias rubricas: teatro, crítica literária, arte, etc.
Faziam parte do seu grupo de colaboradores, vários intelectuais escritores, artistas e críticos
como João Gaspar Simões, António Ramos de Almeida, Adolfo Casais Monteiro, António
Pedro, Jorge de Sena, Júlio Pomar, António Pedro, Diogo de Macedo, Cal Brandão, etc. Nestas
páginas encontramos artigos sobre Picasso complementados com ilustrações, numa apologia
à arte moderna, mas também sobre Cândido Portinari e outros em defesa do neo-realismo.
Aqui encontramos também críticas literárias e a exposições, escritas por artistas e por críticos
literários, como Júlio Pomar, onde evoca a exposição 20 Anos Depois de Dordio Gomes e de
Aníbal Alcino realizadas na galeria da Portugália ou António Ramos de Almeida, sobre a I
Exposição de Primavera no Porto. Provavelmente pelo seu caráter avançado, a censura colocou
termo a esta publicação em 1948.
Sediada no Porto, a revista Portucale - revista ilustrada de cultura literária cientíica e artística
32
90
Nomeadamente Cabouqueiro (Dez. 1946) e A Pedra (Dez. 1946) na Vértice Vol. III, nº 45, de Abril de 1947.
91
Vértice Vol. I nº 12-16 de Maio de 1945. p. 60-65.
92
Vértice Vol. III, nº 45 de Abril de 1947. p. 373-375.
Os lugares da arte (moderna) no Porto dos anos 40
(1928-1962), com direcção de Claudio Basto e Pedro Vitorino, foi a descendente do ideário
da revista Águia- Orgão da Renascença Portuguesa (1910- 1932), com a qual partilhou sede na Rua
Mártires da Liberdade, nº 174 a 178, no Porto.
Em Fevereiro de 1946, a Portucale inaugurou uma nova série com o objetivo de “dar
o panorama de todas as correntes sadias que sulcam o pensamento humano” e de “todas as
actividades do espirito.”93Na direção teve Amorim de Carvalho, Kol d’Alvarenga, Pina de
Moraes, Sebastião Pestana e Veiga Pires. Para esta segunda série, a sua imagem gráica foi
renovada, à qual se atribuiu uma linha mais estilizada e contemporânea, mantendo no entanto
os motivos decorativos que intercalavam os textos, de feição mais tradicional. A Portucale,
constituída por várias rubricas entre as quais poesia, crítica literária, ensaio e temas tradicionais
portugueses, apresentava na parte inal um apanhado das principais publicações e novidades
literárias do momento. Nesta nova série, que corresponde aos anos em estudo, colaboram Abel
Salazar, Adolfo Casais Monteiro, António Sérgio, Aquilino Ribeiro, Carlos de Oliveira, Jorge
de Sena, Papiniano Carlos, António de Sousa, Castelo Branco Chaves, Fernando Guedes, JoséAugusto França, José Fernandes Fafe, Júlio Pomar e Mário Dionísio e Arco. Nas suas páginas
são reproduzidos desenhos de Fernando Lanhas94, Arthur da Fonseca, Júlio Pomar, Lima de
Freitas, Laura Costa, poesias e desenhos de Neves e Sousa, entre outros.
Embora a renovação efetuada na 2ª série tenha dado origem a uma estrutura editorial
mais contemporânea, as referências a aspetos modernos são ainda tímidas, sobressaindo ainda o
seu caráter mais tradicionalista, traduzido sobretudo na rubrica Artes e ofícios nas tradições populares,
onde é dado destaque a temas de cariz vernacular, como as capuchas, os moinhos, trajes
regionais, etc. No entanto, nesta publicação, podemos ainda encontrar críticas a exposições
de cariz abstrato ou neo-realista: Exposições Independentes e Exposições Gerais de Artes Plásticas. Em
1949, a partir do nº21/22 é iniciado o novo suplemento literário sob direção de Álvaro Bordalo,
um dos mais carismáticos biblióilos portugueses: a Gazeta do Biblióilo, onde dava conta das
novidades literárias, leilões e outras curiosidades de que um um biblióilo se deveria enteirar.
Os catálogos das exposições constituem, frequentemente, um outro veículo de informação
no que diz respeito à crítica artística; quando inserida neste veículo é redigida habitualmente
por alguém a pedido do artista expositor que possua entendimento tanto da sua obra como do
seu processo artístico. É realizada geralmente por um outro artista, ou então por historiadores
de arte ou escritores. Constitui pois, o veículo mais informado de crítica a que podemos aceder;
também constitui um indicador acerca de como era entendida a obra do artista pelos seus pares
ou pela crítica mais culta.
A respeito da escassez de escritos – especializados - que esta época realizou, Rui-Mário
Gonçalves, comenta: “Se não houve muitos escritos, houve, sem dúvida muitas trocas de ideias
93
http://www.infopedia.pt/$portucale.-revista-ilustrada-de-cultura
94
Nomeadamente em: ARCO. “Artistas Modernos Fernando Lanhas” in Portucale, nº 15 de Junho de 1949.
33
Os lugares da arte (moderna) no Porto dos anos 40
em conversas e discussões, nos cafés e nos ateliers.”95 No Porto, o Café Rialto, o Palladium, o Majestic,
e a Confeitaria Primus, todos localizados num curto raio de proximidade, eram centros de discussão
e debate em torno dos assuntos que agitavam a intelectualidade artística.
Era então entre a crítica formal, de caráter público, redigida muitas vezes pelos que
eram exteriores ao processo criativo do artista e a crítica informal que em modo de conversa
ou brincadeira existia nas esferas paralelas - cafés, ateliers dos artistas e a própria escola - que
de forma natural e espontânea residiam as opções estéticas da criação artística. Esta crítica
informal, por fazer parte de uma vivência individual ou de um grupo dos artistas, pertence a
um universo de mais difícil apreensão.
Fernando Guedes traça um relato, do quotidiano de um grupo de artistas cujas aventuras
acompanhava:
“O que então acontecia, nenhum dos protagonistas, nem os que de mais perto os acompanhavam,
podia avaliar. Na minha memória misturam-se ecos da Sagração da Primavera, ouvida pela
primeira vez em casa do Pimentel, com as primeiras cerâmicas de Júlio Pomar, vidradas, quase
por favor, numa fábrica de Gaia, e os serões intermináveis na casa do Lanhas, na Rua José Falcão,
e a chegada do Resende à Estação de S. Bento, vindo de Paris ( e a nossa ânsia de saber novidades),
e as excursões a S. Pedro da Cova em busca de fósseis, e a escultura abstracta de Arlindo Rocha,
premiada dez anos mais tarde, e o Nadir a pedir que lhe dissesse o salve Rainha e a extasiar-se ante
a singela beleza daquelas palavras sagradas, e os requintados cafés tomados no requintadíssimo
estúdio de Arthur da Fonseca, na Rua da Fábrica. Ninguém se dava conta do que se construía.
Os acontecimentos marginais eram, ainal, os que entretinham mais as discussões (…). Só que,
na verdade, o que se ía passando de menos espectacular era a abertura organizada da pintura
portuguesa a uma modernidade rigorosa e actuante.”96
Sabemos hoje, por exemplo, que Lanhas expôs as suas primeiras experiências abstratas
encorajado por Júlio Pomar e Fernando Távora, “que pressentindo a importância da peça”97,
que lhe terão dito: “Pode ser importante!”98
Nesses anos de aprendizagem e experimentação de novos caminhos, a necessidade de
relexão que subjaz à criação artística, necessita de um campo de diálogo e discussão entre pares,
que, por tão intrínseca ao acto criativo, constitui uma realidade inatingível para o crítico. No
entanto, não pode ser subestimada, aquando da análise e relexão sobre a obra desses mesmos
artistas, como observa Lúcia Matos99: “Não será exagerado admitir que uma importante parte
95 GONÇALVES, Rui Mário. “Artes Plásticas Nova Criatividade, Novo Espírito Crítico.” in Os anos 40 na Arte Portuguesa”.
Lisboa: FCG, Abril de 1982. p.44
96
GUEDES, Fernando. Estudos sobre Artes Plásticas... (Op. cit,), p. 59.
97 Neste caso concreto, referimo-nos a Forma, escultura realizada por Lanhas, exposta na 5ª Exposição Independente em 1948.
Cf. 3º Capítulo – As exposições e a crítica e Cronograma Ilustrado.
34
98
ALMEIDA-MATOS, Lúcia. Escultura em Portugal … (Op. cit.), p. 450.
99
ALMEIDA-MATOS, Lúcia. “Júlio Pomar no Porto”... (Op. cit), p. 159.
Os lugares da arte (moderna) no Porto dos anos 40
do destino da pintura em Portugal se jogou nesse breve mas intenso diálogo quotidiano entre
Pomar e Lanhas. “Fazíamos um risco e precisávamos da opinião do outro: ó pá, isto não está
bem...”
1.1.3
A Escola de Belas-Artes
Em 1946, Dordio Gomes, precedido já por uma chamada de atenção do jovem Júlio
Pomar, que tecendo duras críticas ao ensino, “todo ele feito à base de ausência de verdadeiro
conhecimento”, e que “conduzia à formação de autómatos, sem desenvolvimento do espírito
crítico e da capacidade de julgar” - anuncia publicamente as suas preocupações ao constatar
que “os nossos artistas mais representativos ou são auto-didactas (…) ou têm de abjurar de
todos os preceitos adquiridos”, uma vez que os métodos de ensino, - se “limitavam ao estudo de
modelo vivo”, o que conduzia a um “objetivismo denso”, acabando por condicionar “ grandes
valores escolares”.100
Não obstante todos estes anacronismos, na Escola de Belas-Artes do Porto vivia-se uma
época de abertura e inovação relativamente aos velhos hábitos académicos, personiicados
pelos professores e pintores naturalistas Acácio Lino, Marques de Oliveira ou José de Brito.
Mais aberta que a sua congénere lisboeta, integrava um corpo docente de excecional qualidade
pedagógica101: Carlos Ramos (desde 1940, em substituição de Marques da Silva, que atingira o
limite de idade)102, no ensino da Arquitectura; Aarão de Lacerda, no ensino da História da Arte;
Barata Feyo (desde 1949), no ensino da Escultura, mas principalmente Dordio Gomes (desde
1934), “personalidade equilibrada e generosa”103 o professor de Pintura e Anatomia Artística.104
O ensino inovador de Dordio Gomes, aliado ao interesse que ao alunos despertava a
sua vivência passada105, fomentava a criatividade dos jovens, que, atribuindo-lhe um estatuto
particular, o olhavam como um verdadeiro Mestre e um “representante do sonho Parisiense.”106
A superioridade da Escola do Porto relativamente à de Lisboa, havia sido já referenciada
100 Ibd, p.143-145.
101 PEREIRA, Paulo. História da Arte Portuguesa do Barroco à Contemporaneidade. Vol. III. Lisboa: Círculo de Leitores, 1995. p. 394.
102 FUNDAÇÃO CALOUSTE GULBENKIAN. Carlos Ramos: Exposição retrospectiva da sua obra. Lisboa: FCG, 1986. p.
103 ALMEIDA-MATOS, Lúcia. Escultura em Portugal … (Op cit.), p. 380.
104 A respeito ainda do trabalho desenvolvido por Dordio Gomes, este havia sido já referenciado a propósito da IX Missão
Estética de Férias em Évora, que dirigiu entre Agosto e Setembro de 1945, da qual resultou Gadanheiro, que despertou interesse na
obra de Júlio Pomar, e quando segundo Ernesto de Sousa Júlio Pomar faz-se pintor in Ernesto de Sousa citado por ALMEIDAMATOS, Lúcia. “Júlio Pomar no Porto”… (Op. cit.), p. 149. Nesta Missão Estética participaram: Júlio Pomar, Nadir Afonso,
António Lino Pedras, Maria Luísa Sousa Tavares, Vasco Conceição, Israel Macedo, Arlindo Rocha, João Raul David, Júlio
Resende e Maria da Conceição da Silva Dias.
105 Dordio Gomes havia estado em Paris como bolseiro entre 1910 e 1911. Após um interregno de 10 anos, regressou à
capital francesa para uma estadia de 5 anos, onde frequenta a Escola Nacional de Belas-Artes de Paris.
106 Cf. RESENDE, Júlio. Autobiograia. Lisboa: O Jornal, 1987, p. 11.
35
Os lugares da arte (moderna) no Porto dos anos 40
por Diogo de Macedo em 1939107, quando comentou a exposição que resultou da III Missão
Estética de Férias, referindo uma maior ”liberdade de interpretação”, “composições imaginativas
e sagazes”, utilização da paleta de cores de acordo com as temáticas abordadas e coragem na
estilização dos desenhos da primeira, em contraponto com a “objetividade dos modelos visuais ”
e “construção de motivos isolados apegados aos efeitos dos coloridos de museu”, da segunda.108
A Escola do Porto tornava-se apelativa para muitos alunos que para aqui se transferiam,
afastando-se também das perseguições políticas de que alguns eram alvo, como é o caso de Júlio
Pomar, Querubim Lapa e Victor Palla.
A respeito desta época recorda Júlio Resende: “Na escola, e fora dela, o meu olhar de ver
a vida e as coisas tonar-se-ia cada vez mais exigente. Na escola, durante o trabalho, aguardava
com grande expectativa, a análise crítica de Mestre Dordio, a possível ponte referencial com
aquilo que entendíamos como os nossos limites geográicos”.109
Entretanto, começa a gerar-se um sentimento de insatisfação face a compromissos
estéticos há muito estabelecidos e tidos como cânones referenciais: “Entre os camaradas geravase um movimento de inconformismo face à passividade do burgo.”110O crescente fervilhar de
ideias que estes alunos, de uma exigência cada vez mais aguçada experimentavam, fomentou a
insatisfação face à passividade generalizada, levando a que de forma espontânea se começasse
constituir um grupo sob um ideário comum, e um “despertar de uma consciência colectiva para
a realidade”111.
Por volta de 1942, iniciam-se reuniões em casa de Júlio Resende, das quais se forma
um grupo heterogéneo constituído por alunos de Pintura, Escultura e Arquitectura, o Grupo
de Estudantes da Escola de Belas-Artes do Porto (GEBAP), cujo principal animador seria Manuel
Guimarães112, colega “mais experiente e desenvolto, que parecia olhar o mundo de um outro
plano”.113 Este grupo, embora heterogéneo, unia-se em oposição às limitações que a Escola
impunha; muito à semelhança do que anos antes havia sido realizado pela geração anterior, o
Grupo + Além114.
Integravam o GEBAP, entre outros, os estudantes: António-Lino, Israel Macedo, Martins
da Costa, Amândio Silva, Júlio Resende, Arlindo Rocha, João Raúl David, Fernando Lanhas,
107 MACEDO, Diogo citado por ALMEIDA-MATOS, Lúcia. A escultura em Portugal … (Op.cit.), p. 380.
108 Cf. ALMEIDA-MATOS, Lúcia. A escultura em Portugal … (Op.cit.), p. 380.
109 RESENDE, Júlio. … (Op. cit.) p.13.
110 RESENDE, Júlio. … (Op. cit.) p.13.
111 Ibd., Ibid.
112 Manuel Fernandes Pinheiro Guimarães (1915-1975). Cineasta, decorador teatral, ilustrador, caricaturista. Em 1931
ingressou na EBAP, no curso de pintura, Durante esta época, e numa primeira fase, foi um dos principais impulsionadores do
GEBAP. Posteriormente dedicou-se à sétima arte, onde aplicou as ideologias do neo-realismo, até ser sujeito à sua proibição,
pelo Governo de Oliveira Salazar. Informação obtida em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Manuel_Guimarães
113 RESENDE, Júlio. … (Op. cit.), p. 16.
114 O Grupo + Além formou-se no Porto, em 1929, em contestação às homenagens póstumas a Marques de Oliveira,
representante de tendências naturalistas nas artes plásticas e do ensino tradicionalista da Academia de Belas-Artes do Porto.
36
Os lugares da arte (moderna) no Porto dos anos 40
Nadir Afonso, Victor Palla, Júlio Pomar, etc. Pela natureza abrangente e democrática deste
grupo, nele também encontravam lugar Fernando Guedes, António Reis, Abel Salazar, Dordio
Gomes e Barata Feyo.115
Durante os quatro anos em que esteve em atividade, o GEBAP organizou vários eventos:
exposições, conferências, saraus artístico-musicais com audição de discos (entre os quais, de
Shostakovich), recitais de poesia, um sarau literário com leituras de Saroyan116, Fernando
Namora e neo-realistas de Coimbra, leitura de textos marxistas, de autores russos e portugueses
e sessões de cinema117 - contribuindo para o enriquecimento tanto da vida académica como da
vida cultural da própria cidade.118 Algumas destas atividades tinham repercussão na imprensa:
“Realizou-se ontem à noite na Escola de Belas-Artes do Porto, por iniciativa do Grupo de Estudantes
daquele estabelecimento de Ensino, um Sarau artístico-musical. Colaboraram o sr. Dr. Júlio Costa,
que leu um trabalho subordinado ao título “A arte e a técnica” e o estudante José Borrego, que
leu poemas de Fernando Pessoa e Joaquim Namorado, e Júlio Pomar que comentou as projecções
de algumas obras de pintura, escultura e arquitectura. Foram igualmente apresentadas algumas
obras musicais em íntima relação com a conferência. Seguiu-se a inauguração duma exposição de
reproduções de pintura japonesa, que estará patente ao público durante toda a semana.” 119
Ou então:
“Promovida pelo Grupo de Estudantes da Escola de Belas Artes do porto, realizar-se-á amanhã,
pelas 18 horas, no salão nobre daquele estabelecimento escolar, a primeira sessão de 2 ecran”ciclo de cultura cinematográica- na qual serão exibidos alguns ilmes do período silencioso,
apresentados e comentados pelo jornalista Manuel de Azevedo. Aquela sessão, marcada para
ontem, teve de ser adiada por motivos de força maior.”120
Por iniciativa do GEBAP é organizada, em Abril de 1942, na própria Escola, uma
exposição coletiva; a primeira das nove que até 1950 iriam animar a cena artística do Porto e
que seriam batizadas de Exposições Independentes. Nesta primeira exposição participaram: Altino
Maia, Amândio Silva, Aníbal Alcino, António Lino, Armando Alves Martins, Bento de Almeida,
Henrique Mingachos, Israel Macedo, Nadir Afonso, Arlindo Rocha, Fernando Lanhas.
115 RESENDE, Júlio. … (Op. cit.), p. 14.
116 “Um lindo idílio à antiga, com versos de amor e tudo” lida por José Borrego, numa sessão do GEBAP, na EBAP. In
Portucale, nº 10-11 de Jul- Set de 1947. Nesse mesmo ano, Victor Palla e José Borrego iriam editar pela Editora Atlântida de
Coimbra uma Selecção de contos de William Saroyan, com tradução e prefácio de sua autoria.
117 Ainda a respeito das atividades desenvolvidas por este grupo, há referência de terem convidado Almada Negreiros a ir à
EBAP, realizar uma conferência. in RESENDE, Júlio. Op cit. p. 15.
118 Cf. MARTINS, João Palla. Victor Palla (1922-2006) Um Levantamento crítico. Lisboa: IADE, 2004, p.29. Tese de mestrado
não publicada.
119 O Comércio do Porto de 11 de Dezembro de 1945.
120 O Comércio do Porto de 26 de Fevereiro de 1946.
37
Os lugares da arte (moderna) no Porto dos anos 40
Aos alunos, juntou-se o professor Dordio Gomes, numa manifestação de apoio e
solidariedade fora do comum.
Novos e velhos, alunos e professores, estavam unidos em aliança que ía muito para além
de ideologias ou compromissos estéticos; tinha a ver com uma profunda vontade de mudança;
todas estas transformações estavam a acontecer não só na escola, mas com a Escola.
A partir da 2ª Exposição Independente, é percetível a presença de um “núcleo duro”,
cujo elemento central é Fernando Lanhas; é a partir desta altura que estes alunos começam a ser
comummente designados por Grupo dos Independentes.121Na 3ª Exposição Independente, (na qual
se juntam aos alunos, os professores Carlos Ramos, Aarão de Lacerda e Dordio Gomes), desta
vez no Salão de Festas do Coliseu do Porto, durante a respetiva itinerância por Coimbra, em
Janeiro de 1945, iria ser irmada a declaração de princípios do grupo, esclarecendo desta forma
as opções que presidiam ao nome Independente: ”Exposição Independente- não é um nome ao
acaso. Signiica porta aberta a todas as correntes, tribuna acessível às variadíssimas tendências
plásticas, alheia a compromissos estéticos.(...)” Estava irmada a carta de princípios destes que
eram “talvez os mais independentes de quantos agrupamentos de artistas têm tomado essa
denominação”122
Estas exposições assumiriam outros contornos, ao serem organizadas fora da escola, e
fora da cidade, começando a animar cidades como Coimbra, Leiria, Braga e Lisboa. Este papel
inédito que consiste na vontade e empenhamento em descentralizar a atividade expositiva,
animando cidades periféricas, “não evitará porém, uma certa marginalização dos artistas do
Porto em relação aos acontecimentos e iniciativas de maior visibilidade e impacto na capital.”123
As atividades empreendidadas pelo GEBAP, a par da adesão à Juventude Comunista
de alguns dos seus membros, teve como resultado, em 1946, a sua extinção pelo Conselho
Escolar da EBAP, seguida de inquérito e penalização de três meses com suspensão das aulas e de
todas as atividades na escola124. É então que Júlio Pomar e José Borrego são expulsos da Escola
de Belas-Artes. Estas sanções disciplinares não impedem ainda a realização da I Exposição
de Primavera, no Ateneu Comercial do Porto, em Junho de 1946, como já referimos, uma
exposição de acentuado cariz político, motivo que acabou por ditar a ausência de alguns dos
artistas que integravam as Exposições Independentes.
A presença do arq. Carlos Ramos na Escola de Belas-Artes do Porto onde viria a exercer
funções de direção a partir de 1952 (mantendo-se até 1967), em substituição de Joaquim Lopes,
esteve ainda na base de muitas alterações no seio da Academia. Enquanto diretor, Carlos
121 De acordo com GUEDES, Fernando em “Vinte Anos depois” … (Op. cit.). p. 60, o GEBAP nunca se auto designou de Os
Independentes; a crítica assim o batizou, enquanto organizadores de Exposições Independentes.
122 VASCONCELOS. Flórido. Historia da Arte em Portugal. Lisboa: Editorial Verbo, 1972, p.126.
123 ALMEIDA-MATOS. Lúcia. Escultura em Portugal … (Op. cit.), p. 449.
124 Carlos Ramos foi o único professor a votar contra a suspensão dos alunos.
38
Os lugares da arte (moderna) no Porto dos anos 40
Ramos criaria uma “cultura provincial independente”125, de grande proissionalismo, que de
certo modo surgia em contestação com as determinações oiciais de Lisboa, polémica e “mal
considerada.”126
Realiza as Exposições Magnas, de periodicidade anual, ininterruptamente até 1968.
As Exposições Magnas habitualmente realizadas no início do ano letivo, proporcionavam uma
relexão sobre a atividade da própria escola, dando a conhecer publicamente os trabalhos
que eram realizados dentro da academia tanto pelos alunos com melhor classiicação do ano
anterior, como pelos seus professores, procurando dar-lhes ”visibilidade pública”127. Nas várias
Magnas, Carlos Ramos aproveitava ainda para exaltar diferenciados aspetos e tendências que
considerava importantes, como o Pacto das Três Artes, que salientou na III Exposição Magna.
Um outro relexo da abertura da Escola, é a instauração das Exposições Extra Escolares, em
1951, tendo sido realizadas até 1968. Estas exposições eram organizadas por alunos da Escola,
que desenhavam os catálogos e integravam o júri de admissão, no qual participavam, também
docentes. A inalidade das Exposições Extra Escolares, era distinta das Magnas: enquanto nestas
últimas estava em causa o resultado dos trabalhos académicos; nas primeiras, era pretendido
que os alunos dessem a conhecer o seu trabalho resultado da sua investigação pessoal.128
Jorge Pinheiro recorda:
“... À porta do salão de exposições, recebendo as entidades oiciais, Carlos Ramos (….) tinha escrito
momentos antes, a lápis, (…) um discurso relatando o que havíamos conseguido e solicitando, com
a prudência que o regime impunha, algo do muito que nos faltava. Lê-lo-ía na inauguração de
mais uma Exposição Magna perante um Américo de Deus Rodrigues Tomás cabisbaixo, silencioso
e básico. Expor-se-ía uma amostra do que, no ano anterior, em cada disciplina prática, de melhor
se havia feito nas “três irmãs de leite”, como dizia o Mestre: uma seleção que, para o público e para
as excelentíssimas entidades fosse mais compreensível e mais aliciante.”129
125 FRANÇA, José-Augusto. A Arte em Portugal … (Op. cit.), p. 302.
126 Ibd., Ibid.
127 FUNDAÇÃO DE SERRALVES. Porto 60/70 … (Op. cit.), . p.19.
128 Ibd., Ibid.
129 PINHEIRO, Jorge. “Rememoração” in ÁRVORE COOPERATIVA DE ACTIVIDADES ARTÍSTICAS. Pintura ou
Não? Porto: Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto e Cooperativa Árvore, 2012. p. 8-9.
39
Os lugares da arte (moderna) no Porto dos anos 40
40
O nascimento das Portugálias
2º Capítulo
O nascimento das Portugálias
O nascimento da Livraria Portugália do Porto não constitui um acontecimento isolado
no panorama nacional. Enquadra-se num projeto mais alargado e ambicioso, que encontra
referencial na casa-mãe: a Livraria e Editora Portugália de Lisboa.
O caminho para uma compreensão das circunstâncias da sua fundação, levou-nos a um
estudo da casa primeira, a de Lisboa. Consideramos esta incursão necessária para responder às
questões que desde o início nos colocámos:
Que ideia ou projeto esteve na base da criação deste espaço? Quem o idealizou? Quem o concretizou? Em que
circunstâncias? Com que objetivo? Qual era o seu papel?
No encalço dessas respostas, identiicámos dois protagonistas que considerámos peçaschave e em cujo entendimento residiriam muitas das respostas a estas questões: Agostinho
Fernandes, industrial e colecionador de arte - o fundador das Portugálias; e Artur Andrade,
arquiteto ainda em formação quando aceitou realizar o projeto130 desta Livraria e Galeria.
Para esse entendimento, várias abordagens foram feitas: num primeiro momento, uma
incursão pela biograia de Agostinho Fernandes, para um conhecimento mais próximo do seu
caráter, da sua rede de amizades, das suas ambições e inluências que o terão conduzido à
fundação da Portugália de Lisboa.
Num segundo momento - indissociável do primeiro - o estudo da atividade desenvolvida
pela casa-mãe: estudo que constitui uma ferramenta essencial para um entendimento do universo
especíico desta casa, nomeadamente para mergulhar no vasto mundo dos livros e das edições, do
qual a Portugália era um dos principais representantes.
As várias aproximações desenvolvidas, contributos para um entendimento mais amplo
do contexto em que se fundou a Portugália-Porto, não respondem porém a todas as questões
que se aloram desde o início, pelo que entre a ordem de relações, pontos de contacto e as
histórias que se cruzam, para muitas das questões, apenas podemos levantar hipóteses, pois
muitas delas continuam ainda sem resposta.
130 Cf. 2.2.3 do 2º Capítulo.
41
O nascimento das Portugálias
2.1.
Agostinho Fernandes e a Portugália de Lisboa
Quando em Setembro de 1942, Agostinho Fernandes (1886-1972) funda a Portugália
Editora, na Rua do Carmo, nº 75, em Lisboa, no mesmo prédio existia já, no rés do chão e
primeiro andar a homónima Livraria Portugália131, local de referência da intelectualidade lisboeta
desde os anos 20. O seu Gabinete de Leitura que funcionava na sobreloja, era frequentado
por assinantes; aqui eram muito conhecidas as tertúlias que reuniam frequentemente escritores
como os poetas Armindo Rodrigues, Cabral do Nascimento, António de Navarro, Manuel da
Fonseca, Jorge de Sena, Tomaz Kim, Ruy Cinatti, Mário Beirão, António Sérgio, João Gaspar
Simões, José Osório de Oliveira e muitos outros escritores, políticos, artistas plásticos e músicos,
como Diogo de Macedo, António Duarte, Martins Correia e Fernando Lopes Graça.132
Agostinho Fernandes era cliente da Livraria, no entanto não frequentava estes encontros;
aparecendo de vez em quando para se enteirar das novidades literárias, “por um ou outro
recorte de notícia guardado na carteira, ou por indicação avulsa.”133
Quando Agostinho Fernandes funda, como sócio capitalista a Editora Portugália, Raúl
Dias134 e Pedro de Andrade135 - a quem a livraria havia sido traspassada136 cinco anos antes
- icam como sócios gerentes. É apenas alguns anos mais tarde que A. Fernandes compra as
quotas aos seus sócios icando como único proprietário da Livraria Portugália.
Agostinho Fernandes, nasce em 1886, na aldeia algarvia da Mexilhoeira Grande, no
seio de uma família rural de poucos recursos. Aos 13 anos, em busca de melhores condições de
vida, sai do Algarve e ruma a Lisboa, onde vai viver para uma pensão na Rua da Saudade, onde
também se encontra hospedado Armando Leça137, que viria a tornar-se seu amigo.
Estuda no Ateneu Comercial em regime noturno. Com apenas dezasseis anos vai trabalhar,
como contabilista, para a empresa britânica Harker Sumner, que fornecia equipamentos para
fábricas de conservas. Familiarizado com este negócio, em 1920, com 34 anos, funda a empresa
Algarve Exportador, que constituirá a base do seu futuro império.
Nos anos 30 era já dono do maior grupo nacional no setor da produção e exportação
131 A Livraria Portugália havia sido fundada em 1918 por Heitor Antunes e José António Correia.
132 AMARO, Luíz. “Agostinho Fernandes, as Portugálias” em SANTOS, José da Cruz (coord.). Agostinho Fernandes Um Industrial
Inovador, Um Coleccionador de Arte, um Homem de Cultura. Lisboa: José Domingos da Cruz Santos e Portugália Editora, 2008. p.12.
133 Ibd., Ibid.
134 Raúl Luis Dias havia sido funcionário da Portugal-Brasil.
135 Pedro de Andrade havia sido funcionário da Livraria França Amado, em Coimbra e também bibliotecário particular
de António Maria José de Melo César e Meneses, 9º Conde de Sabugosa, amigo de Eça de Queirós e cuja obra era editada
pela Portugália de Lisboa. Em 1941, juntamente com Pedro de Andrade e Henrique Pinto abriria, na Rua do Carmo nº 70, a
Livraria Portugal.
136 Nesta altura, Heitor Antunes estabelece-se no Brasil, enquanto José António Correia vai trabalhar para a Livraria
Bertrand.
137 Armando Leça, pseudónimo de Armando Lopes (1891-1977). Compositor, folclorista e etnomusicólogo. Pai de Mécia de
Sena e Óscar Lopes. Informação obtida em: http://www.cm-matosinhos.pt/pages/561?poi_id=9
42
O nascimento das Portugálias
de conservas de peixe, detentor das marcas de renome mundial, Nice e Flora. A Algarve Exportador
teria fábricas138 espalhadas por toda a costa portuguesa, desde Lagos, passando por Setúbal,
Lisboa, Peniche, Nazaré e Matosinhos; encomendando os seus projetos a arquitetos, como
o projeto da Fábrica de Conservas de Matosinhos (1939), de autoria do seu amigo139, o arquiteto
António Rodrigues Varela140 , e que viria a ser um dos principais projetos modernistas para a
indústria.141
A sua atividade industrial alarga-se a outras áreas para as quais cria unidades
fabris: chocolate, azeite e óleo vegetal, farinha de peixe, embalagens, bolachas, estanho,
contraplacado,etc., construíndo um verdadeiro império industrial e empregando milhares de
pessoas por todo o país.
Constrói uma frota com 48 embarcações e exporta para os Estados Unidos, Reino Unido,
França, Suíça, Bélgica, Suécia, Finlândia, Alemanha, Hungria, Polónia e Checoslováquia.
O seu gosto pelas artes, leva-o a apoiar a criação artística em diferentes áreas. Começou
por interessar-se pela atividade editorial, tendo editado os primeiros nove números da revista
Contemporânea142, “a primeira revista literária a fazer entrar o movimento moderno nos hábitos
nacionais”143, na altura dirigida por José Pacheko. A este respeito refere José-Augusto França,
“(...) a Contemporânea, que José Pacheko sonhara lançar em 1915, com um número- espécime
que fez sucesso, mas que só em Maio de 1922, encontrado um editor mecenas, o industrial
coleccionador Agostinho Fernandes, foi viável.”144
Por esta altura, inicia uma convivência cada vez mais intensa com escritores e
artistas, entre os quais Almada Negreiros145 e José Malhoa. Começou também a colecionar
arte portuguesa, predominantemente naturalistas de oitocentos e modernistas das primeiras
138 Às unidades fabris associa bairros habitacionais para os operários.
139 Cf. CERQUEIRA, Hugo Nazareth Fernandes de. Contributo para uma hermeneutica de tradição no modernismo português. António
Varela e o legado do Invisível. Composição, traçado e simbólica de um arquitecto à sombra de gigantes (1930-1940). Lisboa: Universidade
Lusófona de Humanidades e Tecnologias, 2009. p.140. Tese de doutoramento não publicada.
140 António Jorge Rodrigues Varela (1902-1962). Arquiteto, pintor e professor. Frequentou a Escola de Belas-Artes do Porto
(1919-1924), com o apoio inanceiro de Agostinho Fernandes [Cf. CERQUEIRA, Hugo. op. cit, p. 140]. Aí estudou desenho com
António Carneiro, Acácio Lino e José de Brito e arquitetura com Marques da Silva. Foi professor na Escola Industrial Marquês
de Pombal e Machado de Castro em Lisboa. Entre as suas obras contam-se: a Casa da Rua de Alcolena, no Restelo (1955), em
colaboração com Almada Negreiros e o escultor António Paiva, a Fábrica de Conservas de Matosinhos (1939), o Mercado de
Coimbra (1937) e a Casa da Moeda (em colaboração com arq. Jorge Segurado). Participou na 1ª Exposição do Salão do Independentes
de Lisboa em Maio de 1930. Informação obtida em: http://casadaruadealcolena.blogspot.pt/2009/12/151-antonio-
jorge-rodrigues-varela.html
141 CASTRO, Laura. “Agostinho Fernandes e o Algarve Exportador” in SANTOS, José da Cruz (coord.)... (Op.cit), p.129.
142 Revista publicada em Lisboa entre 1922 e 1926, em doze números. Dirigida por José Pacheco, nela colaboraram artistas
do modernismo como Almada Negreiros, Mário de Sá Carneiro, Fernando Pessoa, António Botto, entre outros. Agostinho
Fernandes editou os primeiros nove números (de Maio de 1922 a Março de 1923), deixando depois a edição a cargo de José
Pacheko.
143 POMAR, Júlio. “Agostinho Fernandes” in SANTOS, José da Cruz (coord.) ... (Op.cit.), p.71.
144 FRANÇA, José Augusto. A Arte em Portugal … (Op. cit.), p.80.
145 Agostinho Fernandes terá pago a Almada Negreiros a tipograia da primeira edição da sua obra “A Engomadeira”.
AMARO, Luís. “Agostinho Fernandes e as Portugálias” in SANTOS, José da Cruz (coord.)... (Op.cit.), p.11.
43
O nascimento das Portugálias
décadas do século, “por gosto, ou vício”.146 Sobre este assunto, menciona José-Augusto França:
“Agostinho Fernandes fez o que ninguém fez, da sua espécie, no seu tempo, que foram os anos
20 até aos anos 60: coleccionou pintura contemporânea, sem preocupação de grandes peças,
mas pelo gosto de ir juntando testemunhos da arte que à sua volta se realizava.”147A sua coleção,
considerada das maiores e mais valiosas em Portugal - a primeira coleção de arte contemporânea
portuguesa, a par da do médico Anastácio Gonçalves148- reunía aproximadamente seis mil
quadros149, espalhados pelas suas casas e escritórios, “(...) em sua casa na Avenida da Liberdade
ou no seu escritório, não longe do Tejo do seu negócio, ou na Praia da Rocha, no coração do
Algarve, que era a sua industria de conservas, se multiplicassem quadros e desenhos que iam
cabendo pelas paredes acima, em acasos de compra e de arrumação. Uma galeria compósita
e atrabiliária, de variadíssimas origens, quando não havia marchands estabelecidos nem vida
artística de exposições que os criasse ou justiicasse.”150
Pela amizade com o pintor José Malhoa tornou-se seu testamenteiro e foi um dos
principais impulsionadores na criação do Museu José Malhoa nas Caldas da Rainha, para o
qual doou muitas obras.151 Por múltiplos serviços prestados como organizador do Museu, foi
decretada a 29 de Julho de 1944, a atribuição a Agostinho Fernandes do Diploma de GrãoMestre das Ordens Portuguesas - Grau de Cavaleiro da Ordem de Instrução Pública.
O seu entusiasmo no apoio às artes leva-o a uma incursão em 1943 pelo universo
cinematográico apoiando inanceiramente a produtora Cinelândia152, dirigida pelo seu amigo,
o pintor e cineasta algarvio Carlos Porfírio.153 Torna-se um fervoroso colecionador de livros,
formando uma biblioteca com mais de 75 000 exemplares de primeiras edições.154
Na época em que esteve à frente da Portugália, teve sempre a inteligência de se rodear
por pessoas cultas e competentes, o que resultou numa exigente e rigorosa qualidade editorial.
Entregou a João Gaspar Simões a primeira direção literária da editora, sucedendo-lhe Jorge de
146 FRANÇA, José Augusto. “Nota sobre Agostinho Fernandes Coleccionador” em SANTOS, José da Cruz (coord.) ...(Op.
cit.), p.27.
147 Ibd., Ibid.
148 FRANÇA, José Augusto. “Nota sobre Agostinho Fernandes Coleccionador” em SANTOS, José da Cruz (coord.). … (Op.
cit.), p.28.
149 CASTRO, Laura. Em SANTOS, José da Cruz (coord.) ... (Op. Cit.), p. 105.
150 FRANÇA, José Augusto. “Nota sobre Agostinho Fernandes Coleccionador” em SANTOS, José da Cruz (coord.). … (Op.
cit.) p.27.
151 Neste museu depositou, em 1951, obras de Silva Porto, Eduardo Malta, Luciano Freire, Dordio Gomes, António Ramalho,
Mário Augusto, Varela Aldemira, Constantino Fernandes, Albino Cunha, Martinho da Fonseca, Estrela Faria, Eduardo Viana
e João Santiago.
152 A produtora Cinelândia situava-se na Avenida António Augusto de Aguiar. Estreou-se com o ilme Ave de Arribação do
realizador Armando Miranda.
153 Carlos Filipe Poririo (Faro, 1895-1970). Pintor, cineasta, museólogo e etnólogo. Frequentou a Escola de Belas Artes de
Lisboa. Entre 1924 e 1939 faz uma viagem pelo mundo. Durante esta viagem, em Paris conhece o realizador Marcel L’Herbier
que terá sido responsável pelo seu gosto pela realização. Já em Portugal, realiza os ilmes Sonho de Amor em 1945 e Um Grito na
Noite em 1948. Informação obtida em: http://republica-sba.webnode.com.pt/products/carlos-ilipe-poririo1/ e em
http://pt.wikipedia.org/wiki/Faro.
154 NAZARETH FERNANDES, Diniz. in SANTOS, José da Cruz. … (Op. cit.), p. 317.
44
O nascimento das Portugálias
Sena, em 1956, e posteriormente António da Costa Dias. O convite a Costa Dias para dirigir
praticamente toda a programação da editora, apesar das suspeitas que o seu nome suscitava à
polícia política, demonstra a sua postura de independência. Costa Dias manteve-se em funções
até 1968.155
Com atividade editorial particularmente ativa durante os anos cinquenta e sessenta,
publicou autores portugueses como Jaime Cortesão, Manuel Teixeira Gomes, Vergílio Ferreira,
José Régio, António Ramos Rosa, Carlos de Oliveira ou Mário Dionísio. Na literatura estrangeira,
contando sempre com a colaboração de bons tradutores (como Cabral de Nascimento), editou
autores como John dos Passos, Stendhal, Tolstoi, etc. Criou várias coleções, entre as quais, a
Coleção Romances Universais vocacionada para as reedições, a Contemporânea na área da novelística,
Poetas de Hoje na área da poesia, Os Pequenos Pioneiros na literatura infantil e a Biblioteca dos Rapazes na
literatura infanto-juvenil. Inserido na coleção Poetas de Hoje iniciada nos anos sessenta, publicou
cerca de quarenta autores, desde António Gedeão, Eugénio de Andrade, António Reis, Alberto
de Lacerda, Manuel Bandeira, Herberto Helder, José Gomes Ferreira, Manuel da Fonseca, José
Fernandes Fafe, António Salvado, Mário Dionísio, João Rui de Sousa, entre outros.156
As capas dos livros editados pela Portugália Editora são também exemplo de cuidado
rigor estético, resultado da colaboração com muitos e considerados artistas como Maria Keil,
Tóssan157 (pseudónimo de António Fernando dos Santos), Fred Kradolfer158, João da Câmara
Leme, Júlio Pomar,159Bernardo Marques, Paulo Ferreira, Manuel Ribeiro de Pavia, Sarah
Afonso, entre outros. Pela sua apurada estética e forte identidade gráica muitas das capas da
Portugália Editora, tornaram-se clássicos do design editorial, sendo hoje referência para muitos
designers gráicos, constituindo objeto de estudo ou de culto.
Embora opositor ao regime160, as boas relações que o industrial tinha com o poder e a
sua forte posição no meio industrial permitiram-lhe gozar de certa liberdade editorial, o que
lhe permitiu a publicação de escritores da oposição161, como Manuel Teixeira Gomes, que
Agostinho Fernandes chegou inclusivamente a visitar no exílio na Argélia162, onde se encontrava
desde 1931 e posteriormente publicar as suas obras “à sua responsabilidade”163: Obras completas
de M. Teixeira-Gomes, em catorze volumes ilustrados com desenhos de Bernardo Marques e com
155 CASTRO, Laura. in SANTOS, José da Cruz (coord.) ... (Op. cit.), p. 216.
156 SOUSA, João Rui de. in SANTOS, José da Cruz (coord.) … (Op.cit.), p. 61.
157 Ilustrou o livro Não só quem nos odeia de Yvette Centeno.
158 Ilustrou entre outros: Páscoa Feliz de José Rodrigues Miguéis e Canções de António Botto.
159 Ilustrou a capa para O Barão de Branquinho da Fonseca e realizou uma série de pequenas pinturas para Os Emigrantes de
Ferreira de Castro.
160 TENGARRINHA, José. “Em memória de Agostinho Fernandes”. in SANTOS, José da Cruz. … (Op. cit.), p. 67.
161 Cf. L.M.Q. “O industrial que gostava de livros” em Publico de 28 de Abril de 2000.
162 Agostinho Fernandes foi o único próximo do regime de Salazar a fazê-lo. NAZARETH FERNANDES, Diniz. in
SANTOS, José da Cruz. … (Op. cit.), p. 317.
163 CASTRO, Laura. “Agostinho Fernandes (1886-1972) Apontamentos para uma cronologia” in SANTOS, José da Cruz
(coord.). … (Op.cit.), p.111.
45
O nascimento das Portugálias
prefácio de Urbano Tavares Rodrigues. Publicou também as obras completas de Bertolt Brecht
- caso invulgar numa época ingrata para os intelectuais, escritores e artistas que não estavam
alinhados com o poder.
A Portugália contribuiu, com as suas edições, para que toda uma geração contactásse
com o que de melhor se fazia a nível literário, dentro e fora do país. Como refere António
Alçada Batista: “um catálogo da Portugália é um panorama daquilo que mais signiicativamente
aconteceu na literatura e é possível dizer que que ela se contava entre as duas ou três editoras
que contribuíram para podermos conhecer em língua portuguesa, algumas das grandes iguras
da literatura mundial.”164
Não sendo o lucro a todo o custo o seu principal objetivo165, nunca Agostinho Fernandes
desistiu do seu papel na divulgação de valores da literatura e das artes, o que ainda hoje suscita
admiração mesmo entre aqueles que não o conheceram pessoalmente como José Carlos de
Vasconcelos, que airma: “Ganhar dinheiro em negócios de sardinhas de conserva e outros,
e gastá-lo a fazer uma editora de qualidade ou uma bela colecção de arte, só pode suscitar
admiração.”166
Agostinho Fernandes manteve-se na editora até 1971, altura em que transferiu o controlo
do negócio para o seu neto, Diniz.167
164 BATISTA, António Alçada. “A Portugália Editora e Agostinho Fernandes” in SANTOS, José da Cruz (coord.)....(Op. Cit.),
p.39.
165 COELHO, António Borges. “Agostinho Fernandes”. in SANTOS, José da Cruz. … (Op. cit.), p. 41.
166 VASCONCELOS, José Carlos. “Agostinho Fernandes em minha casa” in SANTOS, José da Cruz.(coord.). … (Op. cit.), p.
63.
167 NAZARETH FERNANDES, Diniz. in SANTOS, José da Cruz. … (Op. cit.), p. 319.
46
O nascimento das Portugálias
2.2
A Portugália do Porto
Dois meses antes do im da 2ª Guerra Mundial, é inaugurada no Porto, a Livraria
Portugália. Filial da Portugália de Lisboa, apresentava porém uma característica que a distinguía
da primeira: possuía no piso superior, um espaço inteiramente vocacionado para a realização
de exposições de arte. Na génese da criação de uma galeria de arte como complemento da
livraria, estaria uma sugestão de Victor Palla, na altura colaborador no atelier do arquiteto Artur
Andrade.168
A ideia de que a convivência entre literatura e artes plásticas, favorece uma atmosfera
cultural e artística interessante, provém de uma época em que se assistia a uma estreita
colaboração entre estas duas áreas do saber.169 Aliado a este fator, e dada a diiculdade em que
consistia na época assegurar a viabilidade económica de um espaço exclusivamente vocacionado
para a venda de arte moderna, a criação de um novo núcleo de interesse nas livrarias permitia a
diversiicação da sua atividade, ao mesmo tempo que garantia a sua sustentabilidade económica
com a venda dos livros.
Em Portugal, esta tipologia já havia sido experimentada, nomeadamente em Lisboa,
na Galeria UP170(1933 -1936), a primeira galeria comercial de arte moderna171 independente do
Estado.
Situada na Rua Serpa Pinto, nº 16/A, esta galeria foi gerida, num primeiro momento
por António Pedro, um dos seus proprietários juntamente com Castro Fernandes, e numa fase
posterior por D. Thomaz de Mello (Tom).172
Na UP, a proposta de António Pedro foi a dinamização da cena artística através da
promoção de exposições de uma modernidade distinta das que o S.P.N. promovia.173
De entre as exposições que integraram a programação da UP destacamos: a exposição
inaugural (que integrou obras de Almada Negreiros, Jorge Barradas, Bernardo e Ofélia Marques,
Eloy, Botelho, Sarah Afonso, Abel Manta, Clementina Carneiro de Moura, Diogo de Macedo,
Hein Semke, Gameiro e Altberg), a primeira exposição individual de Maria Helena Vieira da
168 Sobre este assunto ver: MARTINS, João Palla. Victor Palla (1922- 2006) Um Levantamento Crítico. Lisboa: IADE, 2007. p.
25. Tese de mestrado não publicada.
169 PENA, Gonçalo. … (Op. cit.).
170 UP, cuja letras devem ler-se de forma independente “o pê” , que deram nome à galeria, advêm do diminutivo com que
António Pedro era tratado em criança.
171 PENA, Gonçalo. … (Op. cit.)
172 Projeto de autoria de Jorge Segurado, a sua fachada art deco revelava um acentuado sentido gráico, apreendido no
recorte geométrico que os vários materiais encerram§: placas de mármore, cujo topo superior era rematado por uma peça em
alumínio polido, onde estava inscrita a publicidade UP/Tabacaria/Revistas/Jornais/Livraria/Galeria de Arte/Decoração/Publicidade/
Tipograia. Esta publicidade remetia logo à partida para a atividade diversiicada do espaço, que além das atividades mencionadas
comercializava pintura e escultura, dedicando-se igualmente à prática editorial, tendo editado 2 números da revista UP .
173 PERNES, Fernando. Panorama Arte Portuguesa no século XX. Porto: Fundação de Serralves, 1999. p. 121.
47
O nascimento das Portugálias
Silva em 1935174, a exposição dos “poèmes dimensionnels”175 de António Pedro, em Janeiro de 1936
e ainda duas exposições da responsabilidade da Sociedade de Geograia: uma, em 1929 sobre
arte decorativa indígena, que “mereceu a admiração dos artistas modernos” e outra em 1936, de
estatuetas nalus e bijagós, organizada por João Augusto176. Apesar da sua curta existência, esta
galeria marcou o panorama artístico nacional, tendo “integrado exposições que as colocaram
na História da Arte em Portugal”177 e constituíram uma“lufada de ar fresco no panorama dos
salões habituais.”178
A primeira galeria desta tipologia que abriu no Porto, foi a Livraria e Galeria Portugália, em
1945.179
Neste capítulo refere-se a sua inauguração - um evento profusamente publicitado em
toda a imprensa da época - e apresenta-se o arquiteto, nas suas vertentes pessoal, social e política;
a sua formação na EBAP, a sua determinação e trabalho. Faz-se também a documentação do
projeto de arquitetura da Portugália, que consideramos fazer parte de uma tríade, juntamente
com o Café Rialto e o Cinema Batalha, que nessa altura concedeu a Artur Andrade reconhecimento
público. A informação relativa à atividade livreira e editorial da Portugália do Porto é escassa.
Veriica-se contudo um aspeto que consideramos particularmente relevante: os autores das
capas dos livros, eram artistas expositores na galeria de arte da Portugália.
A qualidade na apresentação dos livros, traduzido nas ilustrações das suas capas, de
autoria de artistas oriundos da pintura ou das artes gráicas e o apurado cuidado gráico que
daí resulta, contribui para que as edições da Portugália sejam ainda hoje livros de referência do
design gráico e editorial.
174 GONÇALVES, Rui-Mário. Pioneiros da Modernidade História da Arte (vol.12). Lisboa: Alfa, 1986. p. 160.
175 FRANÇA, José-Augusto. “António Pedro Pintor“ in Portuguese Cultural Studies. 5 Spring , 2013. p. 5.
176 João Augusto Silva (1910-1990). Artista plástico, investigador e escritor. Escreveu vários livros entre os quais, “Africa- da
vida e do amor na selva”, prefaciado por Eduardo Malta, que foi distinguido com o 1º prémio de literatura colonial. Decorou a
representação portuguesa na secção colonial da exposição de Paris em 1937. Informação obtida em: http://almanaquesilva.
wordpress.com/ e em http://malomil.blogspot.pt/2012/05/joao-augusto-da-silva-1910-1990.html
177 OLIVEIRA; Leonor. Museu de Arte Contemporânea de Serralves Os antecedentes. Lisboa: INCM, p.45.
178 CASTRO, Laura. História da Arte Portuguesa Época contemporânea. Lisboa: Universidade Aberta, 1997.
179 No Porto, alguns anos após o encerramento da Portugália, abriria em 1958 um outro espaço nesta tipologia, a Livraria
Divulgação por iniciativa do livreiro Fernando Fernandes, na Rua de Ceuta.
48
O nascimento das Portugálias
2.2.1
A inauguração: notas de imprensa
“Às 16 horas quando foi completamente tirado o tapume, já uma aglomeração de
pessoas rodeava a simpática casa da Rua de Santo António.”180
Foi esta curiosidade e entusiasmo que presidiu, no primeiro dia da Primavera do ano de 1945,
à inauguração, no número 210 da Rua de Santo António (atual Rua 31 de Janeiro), da ilial no
Porto da Livraria Portugália.
Na véspera, o evento era já noticiado com destaque nos principais periódicos portuenses:
O Comércio do Porto [ig.1] elogiava o arquiteto do projeto, Artur Andrade: “Amanhã inaugurase a Livraria Portugália Um estabelecimento verdadeiramente novo ao serviço da cultura em
que sobressai o trabalho do arquiteto Artur Andrade”181, enquanto que o Jornal de Notícias [ig.
2] focava a vocação cultural do espaço: “É inaugurada amanhã a Livraria Portugália notável
empreendimento ao serviço da cultura, das letras e das artes”.182Palavras mais prudentes
reservava o jornal A Tarde [ig.3], traduzidas no título meramente informativo: “Uma nova
livraria, a Livraria Portugália é inaugurada amanhã”.183
Os diferentes títulos nos jornais, embora atribuindo maior ou menor ênfase, demonstram
uma posição curiosa e expectante relativamente à abertura deste espaço cultural, no centro da
cidade, como se pode ler no Comércio do Porto: “A notícia de que a “Livraria Portugália” abria
as sua portas ao público por estes dias, despertou a mais justiicada curiosidade, mormente no
sector que se interessa vivamente pelas coisas do espírito”.184
No dia anterior, precedendo o ato inaugural, um Pôrto de Honra havia sido oferecido aos
representantes da Imprensa do Porto e de Lisboa assim como aos livreiros da Invicta: nesta
ocasião foram proferidos vários discursos e saudações, nomeadamente por parte do sócio
gerente, Pedro de Andrade, que após saudar a imprensa, dedicou vários elogios ao arquiteto enaltecendo sobretudo as suas qualidades de lealdade e cooperação185- e aos seus colaboradores.
A inalizar o discurso, dedica palavras de amizade aos seus consórcios, Alfredo Resende, Raúl
Dias e Luiz Queiróz Botelho de Sousa.
Toma também a palavra, nesta pré-inauguração, o arquiteto que homenageia os seus
colaboradores: o pintor Augusto Gomes, que a seu cargo teve a execução de duas pinturas
no interior do espaço, Américo Braga que executou dez baixos relevos no átrio da montra
e Victor Palla, que tendo colaborado no projeto de arquitetura, teve também a seu cargo a
180 “Uma inauguração de sucesso” in O Comércio do Porto de 22 de Março de 1945.
181 “Amanhã inaugura-se a Livraria Portugália” in O Comércio do Porto de 20 de Março de 1945.
182 “É inaugurada amanhã a livraria Portugália” in Jornal de Notícias de 20 de Março de 1945.
183 “Uma nova Livraria a Livraria Portugália é inaugurada amanhã” in A Tarde de 20 de Março de 1945.
184 “Amanhã inaugura-se a Livraria Portugália” in O Comércio do Porto de 20 de Março de 1945.
185 “A imprensa visitou, ontem, a ilial portuense da Livraria Portugália que abre, hoje, para o púlico” in O Comércio do Porto,
de 21 de Março de 1945.
49
O nascimento das Portugálias
decoração das montras. Transversais em toda a imprensa são os elogios a Artur Andrade “esse
notável arquitecto portuense”186, que com o seu génio criador, concebeu um “lindo templo de
espírito”.187 Elogios estendidos também aos seus colaboradores artistas.
A descrição do espaço arquitetónico ocupa grande parte do corpo de texto nas diversas
notícias publicadas. O Comércio do Porto188 enfatiza a grandeza da fachada e a imponência do
átrio. Realça igualmente o trabalho dos seus colaboradores, nomeadamente os baixos relevos
de Américo Braga, os painés de Augusto Gomes e o trabalho de Victor Palla. Por im, a
magniicência dos interiores, a escolha dos materiais e a sobriedade de linhas e volumes.
O jornal A Tarde189, enaltece as instalações luxuosas, chamando a atenção para as
alegorias esculpidas por Américo Braga, alusivas às categorias que a casa iria representar, assim
como as montras decoradas por Palla. Enaltece o salão de vendas, relexo de um “bom gosto
inexcedível que honra o arquiteto/artista”, por último referencia o carácter único desta livraria
nas suas linhas modernas de bom gosto. O Jornal de Notícias, além de elogiar o trabalho dos
artistas reitera o ambiente próprio para a dignidade da função a que se destina.
Toda imprensa elogia a modernidade e o carácter inovador do espaço, desde o jornal
A Tarde190[ig.4], que em proclamação destes valores remete para as suas diversas funções:
compartimento de leitura, instalações de venda, “recantos para o cavaco”191, e a inclusão de
duas novidades: a adaptação de um sistema decimal para a colocação dos livros e a inclusão de
uma sala para exposições - aspetos que estariam ao serviço do que seria de esperar de um local
em sintonia com as exigências da vida moderna, representando “a última palavra do mercado
livreiro português.”192
A respeito desta modernidade O Primeiro de Janeiro [ig.5], foca o interesse citadino e cultural
da livraria, espaço facilmente integrado na moderna urbanização da capital do Norte.193 Por sua
vez, O Comércio do Porto começa por apelidar esta livraria de “livraria-modelo”194,“que honraria
qualquer cidade progressiva”195e, enfatizando o caráter cosmopolita da obra, airma que esta
“honra não só a cidade, como o país”,196 remetendo para a opinião de muitos estrangeiros, após
uma visita ao estabelecimento. O Jornal de Notícias [ig.6] airma que este é um dos melhores e
mais bem organizados espaços em todo o país.197
186 “Uma nova Livraria a Livraria Portugália é inaugurada amanhã” in A Tarde de 20 de Março de 1945.
187 “Uma nova livraria a livraria Portugália é inaugurada amanhã” in A Tarde, de 20 de Março de 1945.
188 “Amanhã inaugura-se a livraria Portugália” in O Comércio do Porto de 20 de Março de 1945.
189 “Uma nova Livraria a Livraria Portugália é inaugurada amanhã” in A Tarde de 20 de Março de 1945.
190 “ A ilial da Livraria Portugália abriu hoje ao público” in A Tarde de 21 de Março de 1945.
191 Ibd., Ibid.
192 “ A ilial da Livraria Portugália abriu hoje ao público” in A Tarde de 21 de Março de 1945.
193 “ A Livraria Portugália inaugura hoje a sua ilial na cidade do Porto” in O Primeiro de Janeiro de 21 de Março de 1945.
194 “Amanhã inaugura-se a livraria Portugália” in Comércio do Porto de 20 de Março de 1945.
195 Ibd., Ibid.
196 “Uma inauguração de Sucesso” in O Comércio do Porto de 22 de Março de 1945.
197 “ A Portugália Livraria Modelar” in Jornal de Notícias de 21 de Março de 1945.
50
O nascimento das Portugálias
Nas notas de imprensa, e como remate inal das notícias, referia-se a exposição inaugural
patente na sala de exposições, no último piso: Exposição de Pintura Portuguesa (séculos XIX e XX),
coleção particular do seu sócio – gerente, Agostinho Fernandes. A imprensa elogia o serviço que
a Livraria Portugália prestará no apoio às artes, começando o exemplo dentro a própria casa,
através da mostra da coleção particular do seu sócio – gerente, que desta forma proporciona aos
portuenses o deleite de apreciar obras primas da pintura portuguesa.
Depois de todas estas ações, a inauguração realizou-se no dia 21 de Março, quando, às
16 horas, a livraria abriu as portas ao público.
A ordem de trabalhos começou pela receção aos elementos oiciais: Dr. António Joyce,
em representação do Governador civil; Dr. Luís de Pina, Presidente da Câmara Municipal
do Porto; Dr. Tavares de Almeida, do S.N.I.C.P, representante do Comandante da I Região
Militar; Dr. Magalhães Basto, chefe dos serviços culturais da C.M.P; Dr. Joaquim Costa, diretor
da Biblioteca Municipal; Mister Hawkins, diretor do Instituto Britânico do Porto, etc.198Após as
visitas oiciais, seguiram-se as visitas dos “representantes do Porto culto”199, artistas, escritores,
médicos, advogados, professores e outros amadores de bons livros.
Com as devidas notas de louvores, estava inaugurada aquela “casa que no próprio dia de
abertura havia já marcado um grande lugar”200[ig. 7], considerada, à data da sua inauguração
como “o mais sumptuoso estabelecimento do país”.201[ig.8]
A apresentação à cidade deste novo espaço de cultura, havia sido realizada com a
formalidade e os preceitos de boa educação e elegância, afetos a uma casa de bom nome, já
irmada no mercado, denunciando logo à partida o caráter proissional e arrojado, características
da Portugália de Lisboa, cuja direção era comandada por uma equipa sólida constituída por
pessoas cultas e informadas, na sua maioria provenientes do ramo livreiro.
Acompanham Agostinho Fernandes neste projeto, além dos sócios que já tinha em
Lisboa, mais duas pessoas: Luís Queirós Botelho de Sousa, que também dirigia a Editorial
Saber de Coimbra202 e um sócio capitalista, o industrial nortenho, Alfredo Resende Gomes de
Almeida, sócio-gerente da Empresa Industrial de Santo Tirso, L.da, uma sociedade constituída
por capitalistas e comerciantes do Porto e Santo Tirso.
Depois da implementação de várias indústrias a norte, a abertura de um espaço de
cultura veio apresentar neste meio o rosto por trás da Algarve Exportador, o amante das artes e
divulgador de cultura, Agostinho Fernandes.
198
“Uma inauguração de Sucesso” in O Comércio do Porto de 22 de Março de 1945.
199 Ibd., Ibid.
200 Ibd., Ibid.
201 “A imprensa visitou, ontem, a ilial portuense da Livraria Portugália que abre, hoje, para o público” in O Comércio do Porto,
21 de Março de 1945.
202 Informação obtida em: MARTINS, João Palla. O Lugar do Desenho na obra de Victor Palla. Lisboa: Universidade de Lisboa
Faculdade de Belas Artes: 2012. p. 54. Tese de doutoramento não publicada.
51
O nascimento das Portugálias
2.2.2
A encomenda: Artur Andrade e a Integração das Três Artes
Artur Vieira de Andrade nasceu no Porto, na freguesia de Cedofeita em Maio de 1913.
Desde muito cedo, ainda aluno no Liceu Rodrigues de Freitas, envolve-se em questões políticas,
desempenhando um papel ativo ao serviço do partido comunista, o que desencadeou vários
confrontos familiares que culminaram com a sua saída de casa aos 18 anos.
Foi frequentador assíduo das tertúlias do café Brasileira onde pontiicavam entre outros,
os intelectuais António Sérgio e Jaime Cortesão, que se reuniam em volta de ideias comuns de
oposição ao regime. A atividade política desde cedo lhe custa a liberdade, tendo sido encarcerado
pela primeira vez aos 22 anos, altura em que foi levado para o estabelecimento prisional do
Limoeiro, na Cadeia da Relação.203
Após uma breve carreira como desenhador, em 1937, candidata-se com sucesso, ao
Curso Especial de Arquitetura da EBAP. Durante o curso, as suas qualidades de desenhador
proporcionam-lhe um lugar como colaborador no gabinete do arquiteto Arménio Losa,
com quem viria, alguns anos mais tarde, a integrar a ODAM - Organização dos Arquitetos
Modernos204.
Em 1941 conclui o Curso Especial de Arquitetura e no mesmo ano matricula-se no Curso
Superior.205 Em 1948, solicita autorização para se apresentar ao concurso para obtenção de
diploma de arquiteto para o qual apresenta um projeto cujo tema é “Um Palácio para Exposições
e Desportos na Cidade do Porto”.206
Nesses anos de frequência na EBAP, eram docentes do Curso de Arquitetura os
arquitetos Rogério de Azevedo, Carlos Ramos e Cândido de Brito. Dos colegas de curso de
Artur Andrade faziam parte os arquitetos: Agostinho Ricca, João Andresen, José de Almeida
Segurado, Fernando Tudela, Fernando Lanhas e Fernando Távora. Na escola, foi igualmente
contemporâneo dos pintores Augusto Gomes, Júlio Resende e Dominguez Alvarez e do escultor
Arlindo Rocha.
Em 1942, ainda enquanto aluno, no Curso Superior, funda a Empresa FÓRUM207
Empresa Técnica de Construções Civis, L.da, com sede na Avenida dos Aliados, nº142, 2º andar.
203 Informações biográicas de Artur Andrade em: SILVA, Pedro Soares da. Vida e Obra de Artur Andrade. Porto: Universidade
Fernando Pessoa, 2008. Tese de mestrado não publicada.
204 Organização criada por um grupo de arquitectos do Porto entre 1947 e 1952, em defesa dos pressupostos da arquitetura
moderna. Realizou em 1951 uma exposição no Ateneu Comercial do Porto. Entre os seus membros contavam-se os arquitetos:
Artur Andrade, Agostinho Ricca, Arménio Losa, Fernando Távora, Viana de Lima, Rui Pimentel, Cassiano Barbosa, Fernando
Lanhas, Fernando Tudela, José Carlos Loureiro, José Borrego, Luís Praça, Octávio Lixa Filgueiras, etc.
205 Informações sobre o percurso escolar de Artur Andrade obtidas através da consulta do processo individual do aluno e do
livro de classiicações do arquivo da biblioteca da FBAUP.
206 Idem.
207 A FORUM situava-se no 2º andar do nº 142 da Avenida dos Aliados. Entre os seus colaboradores contavam-se Arq.
Fernando de Sousa, Eng.º Bernardino Machado e o Eng.º Oswaldo Santos Silva.
52
O nascimento das Portugálias
Em 1944, durante o processo do projeto da Livraria e Galeria Portugalia,208 Artur
Andrade inaugura o moderno Café Rialto. Localizado na Praça D. João I, ocupava o rés do
chão de um edifício homónimo de autoria do arquiteto portuense Rogério de Azevedo.209 De
linhas modernistas e sóbrias, este espaço era a par do Café Majestic e da Brasileira, lugar de
eleição para encontros da elite inteletual210, que aí realizava tertúlias e reuniões de caráter
político. Intervieram igualmente no espaço os artistas Abel Salazar, Dordio Gomes, Guilherme
Camarinha e João Fragoso.
A respeito da modernidade do café e das intervenções aí realizadas pelos artistas, no
jornal O Século de 28 de Novembro de 1944, pode ler-se:
“O novo café representa um magníico empreendimento, não só pelas suas amplas e modernas
instalações, mas também pelas suas características artísticas. É constituído por dois pavimentos
ligados por uma imponente escadaria a mármore, em que a luz natural, conjugada com a colocação
de espelhos, lhe dá um ambiente alegre e acolhedor. No pavimento superior avulta um desenhomural a carvão, da autoria do sr. dr. Abel Salazar, em que, a traço vigoroso, está simbolizado o
esfôrço da Humanidade através da História. Junto á escadaria, vê-se um baixo relevo - cerâmica
policromada do escultor João Fragoso, que historia, por assim dizer, o Douro, da sua nascente à
foz. Este artista assina também outro baixo-relevo, que tem por motivo o café.
No salão inferior, vêem-se três pinturas murais, a fresco: a central, da autoria do pintor Guilherme
Camarinha, e as laterais, do mestre da Escola de Belas Artes desta cidade, sr. Dordio Gomes. Ao
lado, no salão de chá, chamam a atenção do visitante quatro painéis pintados em contraplacado,
igualmente da autoria de Guilherme Camarinha, tendo por motivo as quatro estações do ano. Os
dois salões - ligados por uma e mesma harmonia de conjunto, a que um enorme painel formado por
44 espelhos, com 72 metros quadrados, dá unidade visual - estão apetrechados com luz indirecta
e instalação sonora, dividida. A imponência deste estabelecimento é aumentada por mármores de
Leiria, de ricas e raras tonalidades.”211
A descrição do Café Rialto e das peças artísticas para aí executadas,212 apontam para a
208 A data mais antiga que consta nas peças escritas e desenhadas que instruem o processo de licenciamento que deu entrada
na CMP, reporta a Maio de 1944, pelo que supomos que o projeto terá sido entregue no início desse ano ou em meados do ano
anterior .
209 Rogério de Azevedo (1898- 1983). Arquiteto. Frequentou a Escola de Belas-Artes da Universidade do Porto. Discípulo de
Marques da Silva. Dirigiu, entre 1936 e 1940, a secção do Porto da Direcção Geral dos Edifícios e dos Monumentos Nacionais.
Foi professor na Escola de Belas-Artes do Porto. Entre as suas obras contam-se: Edifício de garagem do jornal O Comércio do
Porto (1932), Edifício de O Comércio do Porto, Avenida dos Aliados, Porto(1933), reconstrução do Paço Ducal de Guimarães
(1940). Informação obtida em: http://sigarra.up.pt/up/pt/web_base.gera_pagina?p_pagina=1005752 e em , http://
pt.wikipedia.org/wiki/Rogério_de_Azevedo
210 Entre os seus assíduos frequentadores contavam-se a escritora Ilse Losa e o seu marido, o arquitecto Arménio Losa, os
poetas Daniel Filipe, Pedro Homem de Mello, Papiniano Carlos, Luis Veiga Leitão, António Rebordão Navarro assim como
membros do TEP como António Pedro, Dalila Rocha, João Guedes, Augusto Gomes, Fernanda Alves, Vasco Lima Couto e
Egito Gonçalves.
211 O Século de 28 de Novembro de 1944. p.3.
212 Destas obras, estão hoje visíveis os frescos, integrados na arquitectura da agência bancária Millennium BCP, para a qual
53
O nascimento das Portugálias
elegância e modernidade do espaço, facto que granjeou a Artur Andrade o reconhecimento,
tanto do público como da crítica, pelo seu “real e invulgar talento de artista”.213O Café Rialto
marcou um início promissor na carreira proissional do arquiteto; com esta intervenção, deixou
a sua assinatura tanto na arquitetura como na vida cultural da cidade. Apenas dois anos depois,
a sua carreira teria um outro ponto alto com a abertura do Cinema Batalha,214 em 1947,
implantado em praça homónima. A fachada, apresenta um longo plano em curva rasgado por
um grande vão onde se insere um vitral em vidro duplo, interrompido unicamente por um baixo
relevo de autoria de Américo Braga. Ao nível do rés do chão, um recuo relativamente ao plano
de fachada, marca num plano inferior, um embasamento, que demarca uma área para aixação
de publicidade e programação, sendo por aí também, realizada a entrada no edifício. A obra
contou com a colaboração de cinco artistas: os pintores Augusto Gomes, Antonio Sampaio e
Júlio Pomar e os escultores Américo Braga e Arlindo Gonçalves Rocha.
A colaboração com artistas, encontrou neste caso, grande eco na imprensa,
nomeadamente pela polémica215 que envolveu os frescos de autoria de Júlio Pomar, os primeiros
de grandes dimensões na carreira do artista. Nos anos 40, em torno da colaboração entre
arquitetos e artistas estava na ordem do dia. A este respeito escreve Manuel de Azevedo:
“Ultimamente tem-se veriicado uma colaboração muito louvável dos arquitectos com os pintores
e escultores.(...) A pintura de cavalete passa para segundo plano e, para só falarmos dos pintores,
os artistas lançam-se à factura de painéis de grandes dimensões, patentes à multidão anónima,
que vai tomando contacto com a arte, familiarizando-se com ela, num permanente e educativo
contacto.”216
Esta integração harmoniosa das três artes: arquitetura, pintura e escultura numa mesma
obra, representa uma tendência muito comum na época, desenvolvida sobretudo nos anos
50. Segundo Ana Tostões: “é resultado da desejada integração das três artes, em que tanto
a arquitectura, como a escultura ou a pintura, contribuíam com a sua especiicidade para a
formalização da obra total.”217
O Café Rialto, a Livraria Portugália e o Cinema Batalha, três obras construídas num
curto período temporal - entre 1944 e 1947- e localizadas num raio de poucos metros, marcaram
o espaço foi convertido, após o seu encerramento em 1972.
213 O Século de 28 de Novembro de 1944. p.3.
214 O Cinema Batalha estava localizado no local onde anteriormente se situava o Salão High Life.
215 Para o cinema Batalha, Júlio Pomar, na altura já envolvido no combate político, pintou dois frescos: um de
6X3 m e outro de 11X6 m. Neste, representou a festa de S. João, na qual atribuiu ao povo o papel principal, ao que
não tardou a PIDE a atribuir um signiicado político, pelo que poucos meses após a inauguração do cinema, foram
destruídos pela censura.
216 AZEVEDO, Manuel. “Um escândalo artístico” em Mundo Literário nº 37 de 18 de Janeiro de 1947.
217 TOSTÕES, Ana. .. (Op.cit.).
54
O nascimento das Portugálias
a vida cultural e artística na baixa da cidade nos anos 40.
As três reletem uma mesma forma de olhar e intervir na cidade, de uma forma
colaborada, integrada e participada: as três revelam a marca do seu autor.
2.2.3
O projeto de arquitetura
De acordo com o projeto de licenciamento218[ig. 9 a 25] que deu entrada nos serviços da
Câmara Municipal do Porto no dia 8 de Junho de 1944, cujo requerente foi Dr Luís Queirós
Botelho de Sousa, gerente desta ilial, a atividade principal a ser desenvolvida neste espaço seria
o negócio de Livraria. Na memória descritiva que acompanha o projeto [ig.11], lê-se: “No prédio
nº 210 da Rua de Santo António, desta cidade, pretende-se proceder a obras de adaptação para
a instalação de um estabelecimento comercial cujo im é o negócio de livraria”.219
No entanto, mais adiante explicita: “Propriamente dita, a parte pública da livraria
encontrar-se-á apenas no rés-do-chão, porquanto o 1º andar se destina a salão de exposições
de livros com signiicado especial e eventual, para exposição de gravura e ilustração e para
exposições mais ou menos permanentes de pintura ou escultura. A sala que se pretende criar no
pavimento intermédio, ao fundo do estabelecimento, embora sendo a continuação da livraria,
tem também inalidade diferente pois se destina a sala de leitura ou sala de reunião de escritores,
artistas e intelectuais.”220
A intenção de dotar o espaço de valências complementares ao negócio que lhe dá o
nome - livraria- é clariicada na memória descritiva que acompanha o processo: “A livraria
encontrar-se-á no rés do chão, funcionando as restantes salas como complementos necessários
e indispensáveis a uma boa e moderna livraria.”221
Todo o projeto, pois, estaria pensado por forma a proporcionar dinâmicas transversais e
complementares.
Referindo-se aos materiais de revestimento da livraria, menciona: “os pavimentos da
galeria, da sala de leitura e as respectivas escadas serão de boa madeira, continuando a ser de
madeira os pavimentos existentes. Apenas a parte exterior da escada que liga o segundo andar
com o rés do chão será em ferro, com o respectivo envidraçado para o abrigo das intempéries”.
Relativamente ao revestimento da fachada: “O material de revestimento da fachada principal
será o mármore com possíveis aplicações ornamentais de bronze nos topos de lado.” Projeto
ambicioso no programa e na arquitetura, ocupa um prédio numa das mais movimentadas
218 ANDRADE, Artur [Projeto de licenciamento nº 12449/44] 1944, Janeiro. 17f. Porto. Acessível no Arquivo da Câmara
Municipal do Porto.
219 “Memória descritiva” in ANDRADE, Artur … (Op. cit.), p. XIII.
220 Idem.
221 “Memória descritiva” in ANDRADE, Artur [Projeto de licenciamento nº 389/44], 1944, Janeiro. Porto. Acessível no
Arquivo da Câmara Municipal do Porto., p. XIV.
55
O nascimento das Portugálias
ruas da baixa portuense. O projeto foi seguido por Victor Palla, que entre os anos de 1944 e
1945, durante a sua permanência no Porto, enquanto estudante da Escola de Belas-Artes, foi
colaborador do arquiteto Artur Andrade no atelier FORUM. Nessa qualidade, foi-lhe entregue o
projeto da Livraria Portugália, do qual fez os desenhos técnicos e cuja obra acompanhou.222
2.2.3.1
A organização livreira e editorial: premissa base do projeto
Na memória descritiva pode ler-se:
”Nesse espírito se estudou, por exemplo, a solução da colocação das estantes para a
exposição dos livros, pela qual vai ser possível ter exposto ao público um total de mais de
20 000 volumes, o que representa uma capacidade que ultrapassa de longe aquilo que as
melhores livrarias do país conseguem ter em exposição. Além disso a solução de arranjo
é também uma solução de organização223 que permitirá também ao público aperceber-se
facilmente do lugar em que deve encontrar-se o género de livros que procura.”224
Adianta ainda:
“A decoração do interior será sóbria, resumindo-se praticamente aos móveis estritamente
necessários. O livro será o principal elemento de decoração.”225
A organização dos livros seria então a maior condicionante do projeto de arquitetura,
mas também a sua permissa essencial, a partir da qual se pautariam todas as opções projetuais
do arquiteto. Apesar das questões que seriam ainda levantadas, o livro assumiria sempre o papel
de principal protagonista neste espaço.
A venda de livros, a par da edição, eram duas atividades que ocupavam grande parte das
tarefas diárias da Portugália [ig. 26]. Não obstante, a informação que possuímos relativamente
à programação da livraria é escassa: a imprensa pouco anunciava as suas atividades e não
possuímos nenhum documento informativo acerca do que aqui acontecia226. No entanto,
222 Cf. MARTINS, João Palla. Victor Palla (1922-2006) ...(Op. cit.) p. 25.
223
Sublinhado meu.
224 “Memória descritiva” in ANDRADE, Artur [Projeto de licenciamento nº 389/44], 1944, Janeiro. Porto. Acessível no
Arquivo da Câmara Municipal do Porto. p. XIV.
225 “Memória descritiva” in ANDRADE, Artur [Projeto de licenciamento nº 389/44], 1944, Janeiro. Porto. p. XV. Acessível
no Arquivo da Câmara Municipal do Porto.
226 No âmbito desta investigação, centramo-nos quase em exclusivo no projeto de arquitetura e na galeria de arte, por
constituir o cerne desta pesquisa.
56
O nascimento das Portugálias
informam-nos acerca da sua atividade, alguns artigos e notícias publicadas na imprensa,227 que,
de forma irregular e esporádica, dão conta de algum evento ou então de uma ou outra edição
de sua responsabilidade. Concluímos que a sua programação estaria articulada à atividade
editorial que desenvolvia. Num anúncio datado de Outubro de 1945, às recém inauguradas
instalações da Livraria Portugália, no Porto, incluído n’O Comércio do Porto, pode ler-se:
LIVRARIA PORTUGÁLIA
Porto
As mais modernas instalações de livraria da cidade
Recebe todas as novidades de obras de Medicina, Engenharia, Arte, Literatura, Sociais, etc.
etc.
Obras inglesas, americanas, espanholas, brasileiras, francesas, etc., que se publicam no país e
no estrangeiro: livros de estudo.
Das obras primas dos grandes autores nacionais aos modernos escritores. O mais escolhido
sortido de bons livros posto à disposição dos nossos prezados clientes.
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Editora”, “A. M. Teixeira”, “Guimarães & Cª”.
Visite a nova “Livraria Portugália” onde encontrará sempre livros que o satisfazem e de que
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LIVRARIA PORTUGÁLIA
Rua de Santo António, 210- Porto
A gerência da livraria da Portugália estava a cargo do Dr. Joaquim Teixeira da Rocha228,
que numa primeira fase, a teria partilhado com o Dr. Leite de Faria.229.
Teixeira da Rocha, a par da gerência, teria também atividade editorial: em 1947,
juntamente com Dr. Alberto Uva,230 edita a Colecção Nova Cultura, uma série de volumes de
ensaio, abrangendo as mais diversas áreas da cultura. Inauguram esta coleção, dois autores,
inteletuais, militantes activos do Partido Comunista Português e participantes do movimento
neo-realista: Rodrigo Soares, com o livro Por um Novo Humanismo [ig.27], uma série de ensaios de
cariz marxista, e António Ramos de Almeida, com o livro Para um Novo Realismo.
Em 1946 é editada, a coleção: Gente Nova, direcionada para romances, contos e novelas
(sob esta insígnia publicou-se o livro de contos Terra com Sede, primeira obra de icção do escritor
227 Nomeadamente nos jornais O Comércio do Porto e O Primeiro de Janeiro e em SANTOS, José da Cruz (coord.). … (Op. cit.).
228 Teixeira da Rocha era professor no Liceu Alexandre Herculano.
229 CASTRO, Laura. “Agostinho Fernandes (1886-1972) Apontamentos para uma cronologia” in SANTOS, José da Cruz
(coord.). … (Op. cit.), p. 216.
230 Alberto Dias de Sousa Uva, natural do Algarve, era professor de Inglês no Instituto Comercial do Porto. Foi director do
Ateneu Comercial. Sucedeu a Manuel Pinto de Azevedo Júnior na direcção d’O Primeiro de Janeiro entre 1976 e 1978.
57
O nascimento das Portugálias
portuense Papiniano Carlos231, cuja capa continha uma ilustração de autoria de Júlio Pomar
[ig. 28]) e as coleções Teatro, Nova Cultura e Pensamento (na área de ensaio) e Paralelo na área das
antologias.
No mesmo ano, e sob a mesma direção literária seriam publicados, Benilde ou a Virgem
Mãe, peça de teatro de José Régio [ig.29], edição com capa ilustrada por João Tavares e Liberdade
de Espírito, um livro de ensaios de João Gaspar Simões [ig. 30], este último inserido na colecção
Pensamento; Histórias de Mulheres de José Régio [ig. 31], obra com capa ilustrada por Júlio Resende
também é editado e colocado à venda nessa altura.
O ano de 1947 vê publicada a tradução em verso da Tragédia Florentina de Oscar Wilde
de autoria de Villa Lobos Machado [ig. 32] - a capa seria ilustrada com um desenho de Joaquim
Mirão; e ao abrigo da colecção Fénix é editado o romance Os pobres são malucos de autoria do
humorista italiano Cesare Zabatini. De autoria de Alberto Uva, é publicado em Novembro
de 1947 o seu livro de estreia, o livro de poesia Segredos de Polichinelo. Este autor seria publicado
novamente em 1949 a com o livro Poesias desta Paz Ausente.
Em 1948, é editada a obra Plano de Salvação do Mundo do escritor Raul Leal (Henoch)232,
antigo colaborador do Orpheu e da Presença, e companheiro de Fernando Pessoa que a obra
homenageia, tendo sido posta à venda no dia 30 de Novembro, 13º aniversário da morte do
poeta. No mesmo ano é editado o poema Retrato e Lição de Gomes Leal, de Alberto de Serpa.
No ano de 1949 é editado Requiem às Glorias do Mundo e outros poemas, o primeiro livro
do arquiteto portuense Octavio Lixa Filgueiras,233 numa edição com interior ilustrado com
desenhos de Arco e também Optimistas e Pessimistas de Dr Vasques Calafate234 assim como poesias
de Alvaro de Campos ilustradas pelo pintor António da Fonseca.
231 Papiniano Manuel Carlos de Vasconcelos Rodrigues (1918-2012). Poeta e escritor. Dirigiu a revista Notícias do Bloqueio
com Egito Gonçalves, Luís Veiga Leitão, António Rebordão Navarro e Daniel Filipe. Colaborou nas revistas Seara Nova e Vértice,
sendo nesta o responsável pela secção de crítica e poesia. Militante ativo do Partido Comunista Português, desenvolvendo a sua
acção na clandestinidade, o que o levou a ser preso três vezes pela PIDE. De entre as suas obras mais relevantes contam-se: A
menina gotinha de água, na literatura infanto-juvenil, e A Ave sobre a Cidade na poesia. Informação obtida em: http://pt.wikipedia.
org/wiki/Papiniano_Carlos.
232 Raul d’Oliveira Sousa Leal (1886- 1871). Poeta e escritor. Um dos introdutores do futurismo em Portugal, através da
publicação no segundo número da Orpheu da novela Atelier. Colaborou igualmente na revista Athena de Fernando Pessoa e Sudoeste:
cadernos de Almada Negreiros. Em 1923 publica Sodoma Divinizada, pela editora Olisipo de Fernando Pessoa. A polémica causada por
esta edição- considerada imoral- levou a que posteriormente todas as suas edições fossem apreendidas e queimadas por ordem
do Governador Civil de Lisboa.Informação obtida em: http://www.infopedia.pt/$raul-leal e http://pt.wikipedia.org/
wiki/Raul_Leal.
233 Octávio Lixa Filgueiras (1922- 1996). Arquitecto, etnógrafo e arqueólogo. Frequentou a Escola de Belas-Artes do Porto,
concluindo o curso em 1954. Participou no Inquérito à Arquitectura Popular em Portugal, integrando a equipa da Zona II
(Trás os Montes e Alto Douro), juntamente com Arnaldo Araújo e Carlos Carvalho Dias. Entre 1962e e 1991 foi professor
na ESBAP. Realizou diversos estudos sobre arqueologia e marinha e etnograia naval. Doou um grande arquivo pessoal
sobre cultura marítima para o Museu Marítimo de Ílhavo. Informação obtida em: http://sigarra.up.pt/up/pt/web_base.
gera_pagina?p_pagina=1001357 e em http://www.infopedia.pt/$octavio-lixa-ilgueiras.
234 Caetano Vasques Calafate (1890- 1963). Professor, escritor e jornalista. Foi colaborador d’O Comércio do Porto.
Dedicou-se à defesa da classe piscatória, lançando uma forte campanha para a construção de um porto de pesca na Póvoa
de Varzim (o que veio a acontecer na década de 60) e pela construção da Casa dos Pescadores que foi ediicada em 1923,
tendo sido a primeira no país. Publicou vários livrosInformação obtida em: http://ww.cm-pvarzim.pt/biblioteca/index.
php?op=h_personalidades&id=39 e em http://www.infopedia.pt/$vasques-calafate.
58
O nascimento das Portugálias
A 18 de Março de 1950, a Livraria Portugalia comemora os 50 anos sobre a morte de
António Nobre, lançando um pequeno volume de Alberto de Serpa, intitulado Vida, Poesia e
Males de António Nobre. Edição de tiragem reduzida e de “apurado gosto, será acompanhada de
reproduções de retratos e autógrafos do grande poeta.”235 No mesmo ano, há registo ainda de
o pintor Arthur da Fonseca ter entregue na Portugalia uma série de ilustrações para poesias de
Alvaro de Campos.236
Na Portugália havia também leituras de ensaios e poesias, que tinham lugarprovavelmente- na sala de reunião de escritores.
Temos indicação237 de, a 14 de Março de 1947, no dia em que se comemorava o
centenário do nascimento do poeta brasileiro Castro Alves,238 de António Ramos de Almeida
ter lido na Portugalia o seu ensaio Castro Alves Génio Poético do Brasil, que viria a ser posteriormente
editado.
Também nesta sala terá tido lugar uma conferência proferida por Teixeira de Pascoaes a
29 de Outubro de 1950, onde leu excertos do seu livro O Empecido, que seria brevemente editado
pela Gazeta do Biblióilo. Também, este escritor, realizou uma sessão de autógrafos nesta Livraria
em 1951, um ano antes da sua morte.
Na livraria, comercializavam publicações periódicas que aceitava à consignação como
é o caso da revista dedicada à poesia Távola Redonda, publicação fundada em 1950 por David
Mourão- Ferreira, António Manuel Couto Viana, Ruy Cinatti , Fernanda Botelho e Alberto
de Lacerda, e que o arquitecto Carlos Carvalho Dias239 aqui deixava, indo depois recolher os
exemplares que não fossem vendidos para devolver para os seus amigos de Lisboa ...240
As edições lançadas sob a insígnia da Portugália e as atividades culturais que organizavam,
assim como a aposta numa gerência culta e informada eram uma mais valia para esta livraria,
o que a tornava um centro da elite intelectual, acerca da qual recorda Egito Gonçalves: “A
livraria Portugália (…) foi um lugar de frequência na melhor zona da cidade, com gerentes
sabedores e amáveis que estimulavam a presença dos clientes para além do tilintar da caixa
235
O Primeiro de Janeiro de 15 de Março de 1950.
236
O Primeiro de Janeiro de 3 de Maio de 1950. p. 3
237
O Primeiro de Janeiro de 30 de Abril de 1947.
238 António Frederico de Castro Alves (1847-1871). Poeta brasileiro. Ficou conhecido sobretudo pela sua poesia em defesa
da abolição da escravatura. Publicou entre outros: Espumas lutuantes (1870), O Navio Negreiro (1869), e postumamente, Os Escravos
(1883) e A Cachoeira de Paulo Afonso (1876) e uma compilação de suas obras completas, Hinos do Equador (1921). Informação obtida
em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Castro_Alves
239 Carlos Carvalho Dias (n.1923). Arquiteto. Frequentou a Escola de Belas-Artes do Porto, inalizando o curso em 1957.
Participou, em 1955, no Inquérito à Arquitectura Popular em Portugal, integrando a Zona II (Trás-os-Montes e Alto Douro), juntamente
com Arnaldo Araújo e Octávio Lixa Filgueiras, do qual resultou a publicação em dois volumes de Arquitectura Popular em Portugal,
edição do Sindicato Nacional dos Arquitectos. Na C.M.P., foi co-autor do Plano Director Municipal (Plano Auzelle). Foi secretárioadjunto do governo de Macau (1986-1987). Membro fundador da Associação Internacional de Urbanistas e da Associação
dos Urbanistas Portugueses. Professor Universitário. Membro honorário da Ordem dos Arquitectos. Informação obtida em:
http://ephemerajpp.com/2011/12/08/agradecimento-5/
240
Carlos Carvalho Dias em conversa com a autora.
59
O nascimento das Portugálias
registadora.”241Adianta ainda: “Para a gente jovem que se iniciava na escrita, e necessitava
travar conhecimentos, encontrar pessoas a quem mostrar, com quem discutir, a Portugália foi
um momento precioso.”242 - referindo-se certamente não só à gerência informada e culta como
ao publico frequentador deste espaço, alegando que “a grandeza de uma livraria somente o é,
quando em si reúne compradores e escritores formando uma espécie de clube.”243
2.2.3.2
A livraria e a sala de leitura
A entrada na Portugália fazia-se por um amplo átrio em forma de U, que para além
de criar um efeito aparatoso, permitia uma maior área de montra, necessária a uma boa
exposição dos livros [ig. 33]. Esta montra, em contínuo, era apenas interrompida pela porta de
entrada, a meio; acima do primeiro nível, nas laterais, as paredes eram revestidas a grandes
painéis de mármore decorados com as palavras desenhadas em tipograia estilizada, executadas
a bronze244e grampeadas, relativas aos diversos ramos de especialidade que a livraria iria
representar (Direito, Filosoia, Belas-Artes, etc.), ao lado, as respetivas alegorias, em baixos relevos
de autoria do escultor Américo Braga. “Um hall magníico, que vai do passeio ao segundo
andar, decorado com alegorias dos principais ramos das especialidades de obras que a casa
vai representar (…) A decoração deste átrio em que se destacam dez altos relevos foi feita pelo
escultor Américo Braga.”245
Por cima da porta, a toda a largura do edifício, a continuação do vitral resultava numa
grande fonte de iluminação natural que servia os vários pisos. No centro, por cima da entrada, dois
grupos de letras, grampeadas à fachada, formavam as palavras: LIVRARIA PORTUGÁLIA.
[ig. 16] A respeito deste recuo da fachada [ig. 33], menciona a memória descritiva:
“Pareceu-nos necessário resolver o seu consequente efeito estético. O recuo praticado na
fachada, deu, supomos a apropriada solução, como deu também uma possibilidade de
desenvolvimento de vitrinas para o exterior, que o ramo de negócio exigia e a exígua
largura da fachada não permitia. Mas o recuo da fachada poderia resultar uma solução
estética do exterior mesquinha e inadequada se fosse praticado apenas correspondente
ao pavimento do rés-do-chão. Por isso o recúo abrangeu também o primeiro andar e o
241
GONÇALVES, Egito. “Agostinho Fernandes e a Portugália” in SANTOS, José da Cruz (coord.). … (Op. cit.), p.51.
242
Ibd., ibid.
243
Ibd., ibid.
244 “O material de revestimento da fachada principal será o mármore com possíveis aplicações ornamentais de bronze nos
topos de lado.” Memória descritiva. in ANDRADE, Artur [Projeto de licenciamento nº 389/44 / CMP] 1944, Janeiro. Porto.
p. XVI.
245 A Tarde, 20 de Março de 1945.
60
O nascimento das Portugálias
resultado foi obter-se uma “devanture” de efeito aparatoso, melhor integrada no aspecto
das “devantures” visinhas 246e imprimir-se um certo carácter académico a um género de
negócio que o admite e solicita muito bem.”
Numa observação atenta das montras [ig. 34 e 35] veriicámos que estas estavam dotadas de um
sistema de furação a vários níveis, o que permitia, o re-posicionamento das peças de apoio das
prateleiras, de acordo com a decoração pretendida. A imprensa informa-nos por várias vezes
acerca do papel interventivo de Victor Palla na decoração das vitrines da galeria. Não sendo
claro este papel por si desenvolvido, analisámos a informação contida nas fotograias acima
mencionadas [ig. 34 e 35].
Observamos então que ambas estão ordenadas segundo as mesmas regras de simetria:
nas duas montras laterais (tanto na direita como na esquerda), nas estantes, a colocação ordenada
e alinhada de uma coleção de livros, exibindo as respetivas capas para os vidros da montra; a
meio, a colocação de duas pinturas, e na parte debaixo, pousados, alguns livros abertos, exibindo
gravuras e estampas coloridas. A diferença reside em duas peças, situadas de ambos os lados
da porta da livraria: à direita [ig. 34], a colocação de uma interessante composição de várias
cartolinas (?) coloridas, de feição eminentemente gráica e estilizada, onde está representado
um personagem e uma prensa, remetendo para o respetivo ofício de imprensa. Em cima da peça
pode ler-se: “A imprensa tornou possível a divulgação da Cultura” e “O livro está ao alcance de
todos”; à esquerda [ig. 35], a existência de uma outra composição de semelhantes características,
representado um monge copista, e onde se pode ler: “O livro medieval escrito à mão pelos
copistas”.
Estas duas peças parecem fazer parte de um mesmo discurso, cuja temática remete para a
prática e arte da escrita. Cada uma destas obras está situada de ambos os lados da porta de
entrada, o que lhes atribui grande protagonismo, principalmente para quem entra na livraria.
Analisando a obra de Victor Palla nomeadamente a sua vertente gráica, supomos que
a “decoração das montras” à qual a imprensa remete e elogia, se refere a estas duas peças, das
quais ainda não encontramos outro registo exceto nestas fotograias.
Os slogans que aí estão colocados “A imprensa tornou possível a divulgação da Cultura”
e “O livro está ao alcance de todos”, [ig.34] sublinham a ambição do espaço em levar a cultura
a todas as pessoas.
Entrando na sala principal de vendas, destaca-se de imediato o duplo pé direito [ig. 36 e
37]. Efeito de grande impacto247, do qual resulta uma grande amplitude espacial.
Aqui, um grande e moderno candeeiro em suspensão ilumina a entrada proporcionando
246 Referência à Casa Fantasia, que possuía também um grande recorte na fachada à qual Artur Andrade foi buscar referência
no alinhamento.
247 O pé direito duplo da Portugália era tão aparatoso, que todos os entrevistados no âmbito deste estudo se recordam dele,
apesar de já não recordarem de outros aspetos relativos ao espaço.
61
O nascimento das Portugálias
uma luminosidade baixa, acolhedora e confortável. Não obstante, toda a livraria está dotada
de iluminação difusa, sendo reforçada pontualmente, de acordo com as necessidades, como por
exemplo, junto às estantes dos livros [ig. 38]. O reforço de iluminação em certos pontos com a
aplicação de candeeiros, marca momentos chave num percurso que se estudou luído248 - como
a entrada na livraria, a entrada na sala de reunião de escritores, onde se situa outro lustre e,
como veremos de seguida, na galeria de arte. [ig. 36, 39 e 40]
O ambiente confortável e acolhedor encontra reforço na escolha dos materiais: a
madeira, tanto no pavimento249, como nas estantes, o cobre e o bronze.250 À esquerda, a
inclusão de uma galeria/varandim no piso intermédio, rebaixa o pé direito na zona do balcão
de atendimento, ao mesmo tempo que, com a inclusão de blocos de estantes na perpendicular,
(onde estavam organizadas as revistas e jornais literários portugueses e estrangeiros, literatura
francesa, literatura inglesa, literatura italiana e literatura americana), assim como a colocação
de sofás e cinzeiros, vai criando vários recantos de leitura e conversa [ig. 38]; do lado direito,
situava-se a estante geral que ocupava a totalidade do duplo pé direito, onde se organizavam
os livros das áreas de medicina, literatura brasileira, literatura portuguesa e ciências sociais; à
frente da estante, num plano mais baixo, alguns expositores exibiam diversos destaques [ig. 37 e
38].
À esquerda da entrada principal, situava-se uma escada de acesso à galeria/varandim
do piso intermédio. Pensamos que nesta parede lateral à escada, estaria localizada uma das duas
pinturas251 executadas por Augusto Gomes; a outra estaria ao fundo da livraria, na lateral da
escada que ligava ao andar superior, correspondente à galeria de arte [ig. 41]. A este respeito,
é referido na memória descritiva: “… far-se-ão, no entanto umas aplicações de contraplacado
pintado por pintor de arte, à maneira de lacas, que darão nota colorida e embelezamento ao
ambiente acentuadamente funcional.”252 Tudo indica, pois, que Augusto Gomes terá executado
uma pintura “a óleo?” sobre o contraplacado, após o que, e como acabamento de toda a
superfície, lacou, atribuindo uniformidade ao suporte [ig 41].
Na galeria/varandim à esquerda, sobre a livraria, localizava-se uma contínua estante de
madeira que percorria todo o espaço até à sala de leitura [ig 42], onde podiam ser consultados
os livros relativos às áreas de religião, ilosoia, ciências puras e aplicadas, tudo devidamente
identiicado com etiquetas [ig. 43 e 44]. Daqui, podia ter-se uma visão tanto da livraria como da
sala de leitura e reunião de escritores (ao fundo).
248
Ver memória descritiva.
249 Segundo informação obtida por intermédio de sr. Francisco Vasconcelos, gerente da Vadeca, o pavimento era em tábuas
de pinho de riga.
250 “Os painéis de Augusto Gomes enquadram-se perfeitamente com os bronzes, os cobres e as madeiras raras.” in Jornal de
Notícias de 20 de Março de 1945.
251 “O salão principal (…) vendo-se nele dois belos painéis do pintor portuense Augusto Gomes.” em A Tarde de 20 de
Março de 1945.
252
62
“Memória descritiva” in ANDRADE, Artur [Projeto de licenciamento nº 12449/44 / CMP] 1944, Janeiro. Porto. p. XV.
O nascimento das Portugálias
Ainda no piso intermédio, ocupando a zona tardoz do espaço, situava-se a sala de leitura
e de reunião de artistas e escritores [ig 42]. Neste espaço havia a possibilidade de consulta de
icheiros e catálogos mundiais. “Em poucos segundos terá ao seu alcance qualquer volume, seja
qual for.”253 Isto, porque os cerca de 40 000 volumes de livros da Livraria Portugália, estavam
devidamente organizados segundo um sistema de classiicação decimal adaptado pela primeira
vez em Portugal pelo seu sócio e gerente, o Dr. Luís Queirós Botelho de Sousa. Nas estantes
desta sala estavam organizados os temas de belas-artes, obras gerais, história, geograia, ilologia,
biograias e as principais coleções de divulgação. A inclusão de mobiliário, mesas, cadeiras e
sofás contribuíam para o aconchego personalizado deste recanto de leitura e tertúlia. Sobre o
ambiente acolhedor da livraria lembra Óscar Lopes:254
“A livraria tinha uma organização espacial singular: era muito longa e os livros estavam à vista,
tinha vários níveis, tinha diversas reentrâncias, com as suas secções de livros e cadeiras para os
clientes se sentarem a conversar ou a ver os livros que lhes interessavam. Tratava-se de uma livraria
que fora imaginada para permitir a convivência entre os seus frequentadores.”
2.2.3.3
A galeria de arte
O acesso à galeria de arte, podia ser feito de duas formas: subindo, do lado esquerdo da
entrada, para a galeria/varandim que teria de ser percorrida até ao inal, passando pela sala de
leitura e subindo mais um lanço de escadas; ou de uma forma mais directa, indo até ao fundo
da livraria e subindo dois lanços de escadas [ig. 41 e 45].
Aqui se situava a galeria de arte que a Livraria Portugália reservava no último piso,
apetrechada “com todos os requisitos indispensáveis ao seu im” encontrando os artistas
“ambiente propício para apresentarem as suas produções.”255
O grande envidraçado do alçado frontal (virado para a Rua de Santo António), assim
como a janela virada a sul -consequência do remate entre o telhado do corpo principal com a
posterior, permitiam uma grande fonte de iluminação natural, essencial para a exposição das
obras. Na memória descritiva, Artur Andrade revela a preocupação em criar entradas de luz
que fossem compatíveis com as futuras funções do espaço: “ O corte no pavimento praticado
nas traseiras do 1º andar com im a relacionar e incorporar melhor a inalidade da sala de
exposições no âmbito da livraria e principalmente a criar uma fonte de luz natural no topo do
fundo - contribui para atenuar a sensação de desmedida profundidade do estabelecimento.”256
253 Jornal de Notícias de 20 de Maio de 1945.
254 PORTO, Carlos. Livrarias e Livreiros (1945-1994) Histórias Portuenses. Porto: Livraria Leitura, 1994, p. 42.
255 O Comércio do Porto de 20 de Março de 1945.
256 “Memória descritiva” in ANDRADE, Artur [Projeto de licenciamento nº 12449/44 / CMP] 1944, Janeiro. Porto. p. XV.
63
O nascimento das Portugálias
Quanto à iluminação artiicial, o arquiteto optou por, no centro do teto, em sentido
longitudinal, colocar uma faixa ligeiramente curva e rebaixada (um teto falso), o que por um
lado permitia a inclusão de iluminação direta através de candeeiros circulares, que aí estavam
metricamente colocados; e por outro, a inclusão oculta de iluminação ao longo de toda a lateral
que resultava numa faixa de luz contínua proporcionando uma iluminação difusa [ig. 36 e 40].
Com três tipos de iluminação, o espaço estaria adequadamente iluminado em diferentes
ocasiões e horas do dia, qualidade elogiada na imprensa: “(...) Bem delineado, optimamente
situado, dispondo de excelente luz natural e de magníico processo de iluminação artiicial
(...)”257
Através da leitura da correspondência enviada por Alvaro de Serpa a Hein Semke258,
a propósito da sua exposição a realizar nesta galeria259[ig. 46, 47 e 48], podemos depreender
que as paredes da sala estavam dotadas de um sistema apropriado para a colocação das obras:
“Na sala de exposições poderá pregar quantos pregos queira, pois tem um dispositivo próprio
para não afectar as paredes.” Não sabemos de que dispositivo estaria a falar Alberto de Serpa,
mas através das fotograias a que tivemos acesso, podemos observar dois aspetos importantes
no que refere à colocação das obras; primeiro, a existência de uma calha junto ao teto, onde
se situavam os ganchos que sustentavam as obras, que icariam suspensas por ios; por outro
lado, o revestimento das paredes da sala com uma tela especial de malha consistente e maleável
possibilitava a colocação de pregos, sem prejuízo das mesmas. Provavelmente seria este aspeto a
que Alberto de Serpa se referia.
As paredes eram rematadas junto ao pavimento com um rodapé em ardósia. O mobiliário
era adaptável às necessidades, facto que podemos observar na igura 49, onde as mesas são
utilizadas como expositores.
Todo o mobiliário da galeria, desenhado pelo próprio arquiteto,260 constituído por mesas,
cadeiras e sofás, em madeira, contribuía para todo um conceito que se pretendia para o espaço:
um local acolhedor, que proporcionásse conforto e bem estar a todos os que o frequentássem;
a existência de um recanto com uma mesa, dois sofás e cinzeiro permitia que quem visitasse
as exposições, o izesse descontraídamente, podendo sentar-se, conversar um pouco e inclusive,
fumar um cigarro, como se estivesse na sua própria sala de estar.
257 O Comércio do Porto. Sábado, 24 de Março de 1945, p. 4.
258 SERPA, Alberto – [carta] 1950 Março 10, Porto [a] Hein Semke [manuscrito]. 1950. 1f. Acessível no Arquivo
de Hein Semke. p. XLIV.
259 Exposição em conjunto com a escultora Margarida Schimmelpfennig realizada em Junho de 1950.
260 Segundo informação fornecida por sua ilha, D. Laura Rodrigues.
64
Galeria de Imagens
O nascimento das Portugálias . Imagens
Fig.1
“Amanhã inaugura-se a
Livraria Portugália
um estabelecimento
verdadeiramente novo
ao serviço da cultura”
in O Comércio do Porto de
20 de Março de 1945
III
O nascimento das Portugálias . Imagens
Fig. 2
“É inaugurada amanhã
a Livraria Portugália,
notável empreendimento
ao serviço da cultura, das
letras e das artes.”
in Jornal de Notícias de 20
de Março de 1945
IV
O nascimento das Portugálias . Imagens
Fig. 3
“Uma nova Livraria,
A Livraria Portugália, é
inaugurada amnhã”
in A Tarde de 20 de
Março de 1945
V
O nascimento das Portugálias . Imagens
Fig. 4
“A ilial da Livraria
Portugália abriu hoje ao
público”
in A Tarde de 21 de
Março de 1945
VI
O nascimento das Portugálias . Imagens
Fig. 5
“A Livraria Portugália,
inaugura hoje a sua ilial
na cidade do Porto”
in O Primeiro de Janeiro de
21 de Março de 1945
VII
O nascimento das Portugálias . Imagens
Fig. 6
“A Portugália, Livraria
modelar”
in Jornal de Notícias de 21
de Março de 1945
VIII
O nascimento das Portugálias . Imagens
Fig. 7
“Uma inauguração
de sucesso, a Livraria
Portugália uma casa
que no próprio dia de
abertura marcou um
grande lugar”
in O Comércio do Porto de
22 de Março de 1945
IX
O nascimento das Portugálias . Imagens
Fig. 8
“A Imprensa visitou,
ontem, a ilial portuense
da Livraria Portugália
que abre, hoje, para o
público”
in O Comércio do Porto de
21 de Março de 1945
X
O nascimento das Portugálias . Imagens
Fig. 9 - Requerimento
XI
O nascimento das Portugálias . Imagens
Fig. 10 - Termo de responsabilidade
XII
O nascimento das Portugálias . Imagens
Fig. 11 - Memória descritiva
XIII
O nascimento das Portugálias . Imagens
XIV
O nascimento das Portugálias . Imagens
XV
O nascimento das Portugálias . Imagens
XVI
O nascimento das Portugálias . Imagens
Fig. 12 - Cálculo dos lintéis
XVII
O nascimento das Portugálias . Imagens
XVIII
O nascimento das Portugálias . Imagens
Fig. 13 - Fotos da fachada antes da intervenção
XIX
O nascimento das Portugálias . Imagens
Fig. 14 - Existente: Planta da cave, rés-do-chão e 1º piso
XX
O nascimento das Portugálias . Imagens
Fig. 15 - Proposta: Planta do rés-do-chão, galeria e 1º piso
XXI
O nascimento das Portugálias . Imagens
Fig. 16 - Cortes logitudinais AB e BA, corte transversal CD e alçado frontal
XXII
O nascimento das Portugálias . Imagens
Fig. 17 - Requerimento anexação planta topográica
XXIII
O nascimento das Portugálias . Imagens
Fig. 18 - Pagamento de taxas
XXIV
O nascimento das Portugálias . Imagens
Fig. 19 - Informação
XXV
O nascimento das Portugálias . Imagens
Fig. 20 - Informação
XXVI
O nascimento das Portugálias . Imagens
Fig. 21 - Folha anexa ao alvará
XXVII
O nascimento das Portugálias . Imagens
Fig. 22 - Requerimento
XXVIII
O nascimento das Portugálias . Imagens
XXIX
O nascimento das Portugálias . Imagens
Fig. 23 - Requerimento
XXX
O nascimento das Portugálias . Imagens
Fig. 24 - Pagamento de taxas
XXXI
O nascimento das Portugálias . Imagens
XXXII
O nascimento das Portugálias . Imagens
Fig. 25 - Folha anexa ao alvará
XXXIII
O nascimento das Portugálias . Imagens
Fig. 26
Anúncio à Livraria Portugália
in O Comércio do Porto de 31 de
Março de 1945
XXXIV
Fig. 27
Por um Novo Humanismo
Rodrigo Soares
Porto: Portugália Editora, 1947
Fig. 30
Liberdade de Espírito
João Gaspar Simões
Porto: Portugália Editora, 1946
Fig. 28
Terra com Sede
Papiniano Carlos
Porto: Portugália Editora, 1946
Fig. 31
Histórias de Mulheres
José Régio
Porto: Portugália Editora, 1946
Fig. 29
Benilde ou a Virgem Mãe
José Régio
Porto: Portugália Editora, 1946
Fig. 32
Tragédia Florentina
Oscar Wilde
Porto: Portugália Editora, 1947
O nascimento das Portugálias . Imagens
Fig. 33
Alçado principal da Livraria Portugália, 1945
XXXV
O nascimento das Portugálias . Imagens
Fig. 34
Montra lateral direita da Livraria Portugália, 1945
Fig. 35
Montra lateral esquerda da Livraria Portugália, 1945
XXXVI
O nascimento das Portugálias . Imagens
Fig. 36
Perspectiva interior da Livraria Portugália, 1945
XXXVII
O nascimento das Portugálias . Imagens
Fig. 37
Interior da Livraria Portugália, 1945
Fig. 38
Interior da Livraria Portugália, 1945
XXXVIII
O nascimento das Portugálias . Imagens
Fig. 39
Iluminação (pormenor)
Fig. 40
Iluminação (pormenor)
XXXIX
O nascimento das Portugálias . Imagens
Fig. 41
Escada exibindo pintura de Augusto Gomes, 1945
XL
O nascimento das Portugálias . Imagens
Fig. 42
Sala de reunião de escritores, 1945
Fig. 43
Vista sobre a galeria/varandim, 1945
XLI
O nascimento das Portugálias . Imagens
Fig. 44
Vista sobre a galeria/varandim (pormenor), 1945
XLII
O nascimento das Portugálias . Imagens
Fig. 45
Escada de acesso à galeria de arte, 1945
XLIII
O nascimento das Portugálias . Imagens
Fig. 46
Alberto de Serpa
Carta a Hein Semke datada de 10 de Março de 1950
XLIV
O nascimento das Portugálias . Imagens
Fig. 47
Alberto de Serpa
Carta a Hein Semke, datada de 19 de Fevereiro de 1950
XLV
O nascimento das Portugálias . Imagens
Fig. 48
Alberto de Serpa
Carta a Hein Semke datada de 25 de Janeiro de 1950
XLVI
O nascimento das Portugálias . Imagens
Fig. 49
Pormenor da galeria de arte ,1945
Fig. 50
Pormenor da galeria de arte,1945
XLVII
A galeria de arte da Livraria Portugália
3º Capítulo
A galeria de arte da Livraria Portugália
Nesta investigação, procurámos identiicar as linhas programáticas e as metodologias
reservadas à galeria por forma a clariicar as intenções que lhes deram origem: Como era a sua
programação? Por quem era organizada? Que arte aí se mostrava? Com que frequência? Quem a frequentava?
A falta de informação acerca da programação da galeria, condicionou esta narrativa
cuja construção teve de se suportar na análise atenta dos catálogos, fotograias, informação na
imprensa e outros, que lhe serviram de base. O estudo desta documentação assim como, mais
especiicamente, das exposições revelou-se essencial para um entendimento das várias dinâmicas
geradas em volta da galeria. A par desta informação, muito do que se escreveu resulta de
deduções resultantes de cruzamentos de dados cronológicos, biográicos, documentais, a partir
de fatos que nos foram apresentados no decorrer da investigação e que, ou pela sua evidência,
recorrência ou semelhança, se veriicaram óbvios.
Por meio deste método e posterior análise dos dados obtidos, constatámos uma série de
interacções e colaborações entre a casa de Lisboa e a do Porto, nomeadamente entre os seus
artistas, escritores e capistas. Exemplo desta interacção, o artista João da Câmara Leme261, que
em Lisboa era capista quase em exclusivo da Portugália Editora262, e que expôs nesta galeria por
duas vezes. Também constatámos uma ligação estreita entre vários protagonistas da galeria
e alguns dos colaboradores do jornal portuense O Primeiro de Janeiro, como Martin Maqueda,
cronista e ilustrador tauromáquico neste jornal e que aqui expôs por várias vezes. Também
Jaime Brasil, escritor e crítico literário responsável pela página cultural d’O Primeiro de Janeiro,
Das Artes das Letras, prefaciou alguns catálogos de exposições, como o de Carlos Carneiro em Maio
de 1945; também João Gaspar Simões, colaborador deste jornal, prefaciou para a Portugália
alguns catálogos como o da exposição Óleos Antigos e desenhos recentes de Júlio em Novembro de
1945 (na altura em que o crítico dirigia o programa de traduções da Portugália de Lisboa) e
de Anne Marie Jauss em Fevereiro de 1946. Caso idêntico veriicámos em Alberto de Serpa263,
261 João da Câmara Leme (Moçambique, 1930- Lisboa, 1984). Chegado a Lisboa nos anos 50, onde se ixou, exercendo
funções de capista e ilustrador na Portugália Editora. É considerado por muitos, um dos ilustradores mais talentosos dos anos
60, tendo abordado diferentes estilos gráicos. Entre as suas ilustrações de capas para a Portugália Editora contam-se: as capas
da coleção Poetas de Hoje e Os Pequenos Pioneiros, A Menina Gotinha de Água de Papiniano Carlos, Sob Céus Estranhos de Ilse Losa,
etc. Também fez publicidade e direcção artística. Informação obtida em: http://almanaquesilva.wordpress.com/joao-da-
camara-leme/
262 SANTOS, José da Cruz. ... (Op. cit.), p. 17.
263 Alberto de Serpa Esteves de Oliveira (Porto, 1906-1992). Poeta da Presença da qual foi secretário, assim como da Revista de
Portugal, que fundou juntamente com Vitorino Nemésio. Coordenador do suplemento literário d’O Primeiro de Janeiro após a saída
de Jaime Brasil. Organizou vários volumes de inéditos e dispersos entre os quais Música Ligeira e Colheita da Tarde, livros póstumos
de José Régio. Publicou vários livros entre os quais: A Vida é o dia de hoje (1939), Drama e Lisboa é longe (1940), Retrato e Lição de Gomes
Leal (Porto: Portugália, 1948), e juntamente com José Régio, Poesia de Amor (Porto: Livraria Tavares Martins, 1945) e Na Mão de
Deus (Porto: Portugália Editora, 1948). Informação obtida em: http://www.cm-matosinhos.pt/pages/561?poi_id=3 .
65
A galeria de arte da Livraria Portugália
que organizou (ou serviu de intermediário) na realização de algumas exposições (como de
Hein Semke e Margarida Schimmelpfennig, em Abril de 1950), escreveu igualmente prefácios
(Aguarelas e desenhos de Paulo Ferreira em Maio de 1945) e editava através da Portugália Porto;264 Júlio
Pomar que aqui expôs duas vezes, desenhava capas para algumas das suas publicações.265
Para nos documentarmos de forma rigorosa no que respeita à atividade desenvolvida pela
galeria de arte da Portugália, assim como pelos seus intervenientes, após a recolha anteriormente
referida, efetuamos uma abordagem a várias frentes, incidindo nos aspetos nos quais, nos parece
residir a sua singularidade.
Iniciámos então com uma análise à primeira exposição, a exposição inaugural: Em que
contexto especíico se realizou? Que obras integrou? Qual o seu propósito?
De seguida, tentamos compreender o papel desenvolvido tanto por Victor Palla como
por Fernando Lanhas e qual o contributo especíico de cada um enquanto responsável pela direção
gráica assim como pela programação artística da galeria.
O subcapítulo Atividade permanente: as exposições e a crítica, inclui o levantamento possível
de toda a programação do espaço por forma a instruir uma narrativa que, através de uma
exposição sistemática e analítica das opções programáticas e estilísticas, lhe deinisse o peril o
mais ielmente possível. Este levantamento foi, em alguns casos, complementado com a respetiva
repercussão na crítica, por forma a ancorar estas exposições ao panorama intelectual e artístico
da época.
3.1
A exposição inaugural
A exposição inaugural da galeria da Livraria Portugália, abriu ao público no dia 21 de
Março de 1945, e consistiu na mostra da coleção particular do seu sócio-gerente e fundador,
Agostinho Fernandes - coleção que havia sido iniciada há mais de trinta anos e seria pela
primeira vez mostrada na cidade do Porto.
Esta exposição intitulou-se Exposição de Pintura Portuguesa (séculos XIX e XX). No prefácio do
catálogo que acompanhava a exposição [ig. 60], Diogo de Macedo felicitava a Livraria Portugália
pela iniciativa da abertura de um espaço de vocação artística na cidade do Porto, referindo:
“Também nos é grato notar a iniciativa da Livraria Portugália – Porto – casa de comércio e de
cultura- , que, ao abrir as suas montras novas aos leitores do Porto, quis, a par da exposição de
literatura e de ciência, fundar nesse meio o hábito espiritual e deleitoso da comunhão da arte,
expondo proveitosamente e em homenagem à cultura dos portuenses, tão ignorado e escolhido
264 Cf. 2º Capítulo.
265 Cf. 2º Capítulo.
66
A galeria de arte da Livraria Portugália
agrupamento de quadros, que aí não vão por negócio, mas sim por simpatia de seu dono.”266.
A exposição, integrava uma seleção de 36 quadros: de Columbano, Sarau; de José
Malhoa, Basta, Meu Pai!; de Silva Porto, Barcos do Douro e Vacas (estudo); de Carlos Reis, Casal na
Lousã; de António Ramalho, Peril de Senhora; de Sousa Pinto, Porto (pastel); de Veloso Salgado,
Carreta de Bois; de João Vaz, Barcos em Setúbal; de Alfredo Keil, Caminho Arborizado; de Ezequiel
Pereira, Paisagem; de Alves Cardoso, Baixa de Chaves; de Mário Augusto, Conidências; de Falcão
Trigoso, Salgados (Algarve); de Frederico Ayres, Fragatas no Tejo; de Simão da Veiga, Touro; de
Portela Júnior, Maiorais; de Henrique Pousão, Rapariguinha; de Marques de Oliveira, Paisagem; de
Artur Loureiro, O Guarda (Fox Terrier); de João Augusto Ribeiro, Aldeão; de António Carneiro, Cão
(pastel); de Aurélia de Sousa, Interior; de António José da Costa, Camélias; de Júlio Costa, Pêros e
Camélias; de Cândido da Cunha, Paisagem; de Acácio Lino, Praia; de Júlio Ramos, Paisagem; de
José de Brito, Paisagem; de Joaquim Lopes, Minhotas (estudo); de Soia de Sousa, Paisagem; de Abel
Salazar, Mercado; de Agostinho Salgado, Lavadeiras; e de Ernesto Condeixa, Retrato.
A escolha de artistas consagrados267 na historia de arte portuguesa, na sua maioria
provenientes da escola naturalista de oitocentos e ar-livrista, apesar de evidenciar o gosto pessoal do
colecionador, não terá sido inocente: a seleção de obras, os artistas e as temáticas representadas,
correspondiam aos parâmetros artísticos que à época vigoravam e a que ao público, certamente,
agradaria. Reforçando esta intenção, a inclusão de artistas oriundos da Escola de Belas-Artes
do Porto, como Henrique Pousão, Sousa Pinto, Aurélia e Soia de Sousa, mais contribuía para,
enaltecendo a Academia na formação destes artistas, lhe prestar homenagem, agradando de
novo e simultaneamente, o público desta cidade.
A forma como esta exposição foi apresentada – “não por negócio mas por simpatia de
seu dono” - remetendo para o facto de o intuito da mostra não ser comercial, mas simplesmente
a “contemplação pura e o deleite” de obras - primas da pintura portuguesa, remete para a
bondade de seu dono (que as cedeu para o efeito), e serve o propósito de apresentar à cidade do
Porto Agostinho Fernandes, como um benemérito, patrono e amante das artes.268
Esta aposta certeira teria repercussões na imprensa, cuja crítica, lhe foi muito favorável,
tecendo elogios à valiosa colecção, à seleção dos trabalhos e - principalmente - à generosidade
do industrial que cedera à contemplação do público a sua coleção particular, fazendo desta
forma propaganda aos artistas.
266 MACEDO, Diogo de. Prefácio do catálogo da Exposição de Pintura Portuguesa (séculos XIX e XX). Porto: Livraria
Portugália, 1945.
267 “Nenhum destes artistas, uns consagrados pelo tempo – a história – e outros pela crítica, precisa de qualquer
esclarecimento. A sua obra nos museus, louvada pelo público e pelos sabedores na especialidade, é mais do que
bastante explicação dos seus privilégios.” in MACEDO, Diogo in prefácio do catálogo da Exposição de Pintura
Portuguesa (séculos XIX e XX). Porto: Livraria Portugália, 1945.
268 “ … não vimos apresentar os pintores, mas tão somente o coleccionador que os agrupou em sua galeria,
sabendo escolher, preferir, defender e... de vez em quando, abrir as portas egoístas de posse, para proporcionar aos
estudiosos e amadores a ocasião de os examinar e o regalo de os admirar. Assim mesmo é que deve proceder um
coleccionador civilizado, se quer merecer o título e a familiaridade com a arte!...” MACEDO, Diogo in prefácio do
Catálogo da Exposição de Pintura Portuguesa (séculos XIX e XX). Porto: Livraria Portugália, 1945.
67
A galeria de arte da Livraria Portugália
Na imprensa pode ler-se: “(...) trabalhos estão agrupados com proiciência, apurada
selecção e nítido sentimento artístico - distraiu o Sr Agostinho Fernandes algumas telas e
cedeu-as para com elas, com essa formosa e notável galeria de arte, ser inaugurado o Salão
Portugália, novo recinto para exposições que, nas modernas e sumptuosas instalações da Livraria
Portugália, é mais um precioso auxiliar para a propaganda dos artistas.” Acrescenta ainda: “A
sua inauguração foi das mais brilhantes- pois deu-nos logo na sua primeira exposição, uma
belíssima galeria de arte, precioso conjunto de quadros que não são para vender, mas apenas
para ver e admirar num fervoroso culto à pintura.”269
Estas opções, que presidiram à organização da exposição, conduziram certamente ao
sucesso da inauguração da Livraria e às suas boas-vindas por parte do público. Airmativa logo no
ato inaugural, com segurança e proissionalismo, a Portugália expôs desde o início a sua ambição
de alcançar uma posição de relevo na arte e na cultura desta cidade.
3.2
A direção artística e a produção gráica: Palla e Lanhas
Ao que tudo indica, a direção artística da Portugália não seria formal nem convencional.
Apesar desta informalidade e de falta de informação concreta que clariique o papel desempenhado
por cada um dos intervenientes, identiicam-se nesta direção dois períodos distintos, sob
responsabilidade de dois protagonistas: o primeiro, durante o ano de 1945, em que este cargo
esteve sob responsabilidade de Victor Palla; o segundo, nos anos que se seguiram, a cargo de
Fernando Lanhas.
Relativamente ao tempo passado no Porto e ao seu papel na galeria recorda Victor Palla:
“1944- A guerra vai acabar no próximo ano. Estou no Porto a acabar o curso, a viver num quarto
de pensão, casado [com Zulcides Saraiva270] e com duas ilhas. Meu pai mandava-me o que chegava
estritamente para dar ao im do mês à D. Ana (era a dona da pensão). Eu tinha de me arranjar
para o resto. Dirigia uma Galeria de Arte (iz a primeira exposição do Júlio Resende271); e cá estou
a falar de graismo, porque projectava os catálogos e ía à tipograia fazê-los(...)”272
O papel que Victor Palla desempenhou na galeria de arte da Portugália, não se limitou à
programação das exposições, à produção do design gráico e à impressão dos respetivos catálogos;
269 O Comércio do Porto de Sábado, 24 de Março de 1945. p.4.
270 Leocádia Zulcides Saraiva Baptista Nunes (1915-1999). Escultora, frequentou a Escola de Belas-Artes do
Porto. Integrou as Exposições Independentes.
271 Exposição individual de aguarelas, realizada em Abril de 1945 na galeria da Livraria Portugália.
272 Mello, Thomaz, AZEVEDO, Fernando, PALLA, Victor, Lima de Freitas, Octávio Clérigo, Sebastião
Rodrigues. Falando do Ofício. Lisboa: Soctip Editora, Novembro 1989.
68
A galeria de arte da Livraria Portugália
a seu cargo estava também o design de todos os produtos de papelaria de apoio à Livraria [ig.
51 e 52]: o papel de embrulho [ig. 53], para o qual além do lettering, também desenhou logotipos
para as diversas temáticas de que a livraria dispunha - Filosoia, Direito, Música, Cinema, Teatro,
Medicina e Farmácia, Ciências Naturais, Poesia, Artes Plásticas e Decorativas, Livros Nacionais e Estrangeiros,
Exposições de Arte, etc. e os marcadores de livros [igs. 54, 55 e 56], assim como uma série de estudos
para o layout gráico de coleções que a editora pretendia editar [igs. 57 e 58].
A linha gráica adotada para o material de papelaria, a escolha por um desenho estilizado
e sóbrio e por uma tipograia linear, deiniam um caráter uno e identitário que marcava a
assinatura do local, reletindo uma intenção clara de airmação de uma imagem publicitária
forte.
Para a inauguração, Victor Palla fez a decoração das montras da livraria [ig. 34 e 35],
assumindo o papel de vitrinista, que lhe valeu vários elogios na imprensa: “(...) impressiona
a grandeza da fachada em forma de átrio imponente, em que andam de mãos dadas a visão
do arqto. Artur Vieira de Andrade e a sensibilidade do escultor Américo Braga e dos pintores
Augusto Gomes e Victor Palla.”, ou então: “A decoração deste átrio (…) foi feita pelo escultor
Américo Braga. As montras que o circundam foram compostas por outro apreciado artista:
Victor Palla.”273
Victor Palla, ainda enquanto aluno da Escola de Belas-Artes, desenvolve diversas atividades
paralelas: a par da sua colaboração no atelier de Artur Andrade e da direção artística da Portugália,
pinta óleos e gouaches, que oportunamente vende, ao mesmo tempo que faz embalagens de
cosméticos e produtos de farmácia.274Algumas destas encomendas surgem por intermédio e
sugestão do professor Carlos Ramos275, que desta forma incentiva o aluno em trabalhos extra
escolares, o que terá, muito provavelmente, contribuído para a carreira que posteriormente
construiria enquanto designer gráico.
Uma análise atenta aos catálogos das exposições realizadas durante o seu primeiro ano
de atividade, revela semelhanças notórias entre alguns deles, tanto no layout gráico como na
organização dos conteúdos, nomeadamente nos correspondentes aos meses de Março a Maio.
Relacionando esses catálogos e respetivas datas com a biograia de Victor Palla, concluímos
que, estes correspondem aos meses em que Palla esteve no Porto e terá dirigido a galeria (entre
Março e Julho de 1945, altura em que conclui o curso276e abandona a cidade).
Observando os catálogos, no rigor do seu layout gráico - de grande sobriedade e
equilíbrio - assim como os respetivos conteúdos, todos eles integrando um prefácio, (sempre
redigido por historiadores de arte ou artistas) com a inclusão de várias reproduções das obras,
273 A Tarde 20 de Março de 1945.
274 Cf. Falando do Ofício (Op. cit.) e MARTINS, João Palla. O Lugar do Desenho na obra de Victor Palla … (Op cit.). p.54. Tese de
doutoramento não publicada.
275 MARTINS, João Palla. Victor Palla (1922-2006) Um Levantamento Crítico. p.28. Tese de mestrado não publicada.
276 MARTINS, João Palla. Victor Palla (1922- 2006) ... (Op cit.). p. 30
69
A galeria de arte da Livraria Portugália
constituindo um pequeno livro, rico em informação complementar às exposições, sobressai um
registo pessoal de cuidada composição e conteúdo, próprio de um proissional/arquiteto como
Victor Palla; pelo que supomos que estes catálogos serão de sua autoria.
Victor Palla terá desta forma realizado o design gráico e organizado as exposições
correspondentes aos catálogos em questão: Exposição de Pintura portuguesa sécs. XIX e XX [ig. 60],
em Março; Ayres de Carvalho [ig. 61] e Aguarelas de Júlio Resende [ig. 62], em Abril; Carlos Carneiro
[ig. 63]277 em Maio. Da época Palla, icam alguns exemplares em catálogos/livro, prefaciados por
críticos de prestígio ou artistas278, ilustrados com reproduções de algumas obras em exposição e
de cujas edições foram feitas tiragens especiais, numeradas e assinadas pelo artista expositor, que
depois eram colocadas à venda.279 Para os catálogos terá desenhado igualmente uma insígnia,
um ex-libris da Portugália que surgia na primeira página [ig. 59].
Quando Palla abandona o Porto, uma nova etapa se inicia na galeria. É neste contexto
que surge a igura de Fernando Lanhas. Ao que tudo indica280, Lanhas é a peça central que
estabelece a “ponte” entre a galeria de arte e os estudantes da Escola de Belas-Artes. Organiza
exposições dos colegas que habitualmente o acompanham nas Exposições Independentes, e desenha
catálogos para as suas exposições individuais; aqui, incluem-se Nadir Afonso [ig. 129], Aníbal
Alcino [ig. 78 e 120], Arthur da Fonseca [ig. 115 e 123], Neves e Sousa [ig. 108] e Isolino Vaz [ig.
119].
O design dos catálogos assume então, uma identidade única e inconfundível que
denuncia o seu autor; a simplicidade da composição, consiste no desenho/retrato dos artistas
expositores, desenhado por Fernando Lanhas. Aliada à simplicidade do retrato, a sobriedade
da tipograia, o enquadramento do desenho na capa: toda a estrutura geral é reveladora de um
equilíbrio compositivo e geométrico que em muito contribui para a boa imagem gráica de toda
a produção complementar às exposições. Este rigor que transparece de toda a linha gráica,
não só confere unidade, como demonstra rigor e proissionalismo – contribuindo para a boa
imagem da galeria.
Pela sua qualidade gráica e artística, o núcleo de catálogos desenhado por Lanhas ou
que tiveram a sua participação, é facilmente reconhecível, destacando-se entre as dezenas de
outros catálogos que foram realizados para as exposições aqui organizadas.
Embora não tenhamos dados que o comprovem, além dos catálogos citados, parecenos que os catálogos Resende [ig. 72 e 126], Oddvard Straume [ig. 130], Aspetos de Paris [ig. 118], Neves e
Sousa [ig. 108], assim como os catálogos Exposição Infantil [ig. 124] e Maria Leonor Praça [ig. 132], 277 Embora tenha sido realizada ainda durante a época Palla, o catálogo da exposição Aguarelas e Desenhos de Paulo Ferreira poderá
não ser do mesmo autor, uma vez que apresenta algumas diferenças no respetivo design gráico.
278 Nomeadamente Diogo de Macedo, Fernando de Pamplona, Júlio Pomar e Jaime Brasil.
279 “A mesma livraria teve a iniciativa de fazer, para venda ao público, brochuras com reproduções das obras expostas, uma
notícia biográica do expositor e alguns excertos de críticos, tudo antecedido por um prefácio” in O Primeiro de Janeiro de 11 de
Abril de 1945. p.3.
280 Dedução a partir da observação comparada de todas as exposições e catálogos da galeria da Portugália.
70
A galeria de arte da Livraria Portugália
exposições por si organizadas - atendendo às suas características, também serão de sua autoria.
A propósito do cunho pessoal que Fernando Lanhas imprimia aos catálogos, refere
Fernando Guedes: “a marca do agente catalisador de entusiasmos e energias icou marcada nos
catálogos, quer pelo retrato do artista quer pelo simples arranjo gráico.”281
Da sua autoria eram igualmente os catálogos das Exposições Independentes que, por
seu intermédio, aqui começaram a ser realizadas a partir de 1946. A insígnia do grupo, foi
desenhada por Lanhas: um i, inscrito num rectângulo, desenhado com o auxílio de um traçado
geométrico de proporção áurea.
Durante os anos em que colaborou com a Portugália, organizou inúmeras exposições
realizando o desenho dos catálogos ou para estes contribuindo; no entanto parece-nos que a sua
atividade esteve particularmente ativa nos anos de 1948 e 1949, após a conclusão do curso de
arquitetura.
No que se refere à restante programação que compunha o calendário mensal, supomos
que, naturalmente,282estaria a cargo do gerente, o Dr. Teixeira da Rocha que colocaria a galeria
à disposição de quem lá quisesse organizar exposições.283 Talvez seja este o motivo pelo qual se
veriica uma grande variedade e diversidade de exposições: quer na temática, quer na qualidade.
Para estas exposições, de um modo geral, os convites e os catálogos estavam a cargo dos
artistas expositores284:
“Na Portugália, os catálogos são por conta dos expositores, de forma que terá o meu Amigo de
os fazer aí.”285 adverte o poeta e escritor Alberto de Serpa a Hein Semke, em carta datada de 25
de Janeiro de 1950 [ig. 48], quando estaria a organizar a vinda do escultor ao Porto para uma
exposição nesta galeria. Acrescenta ainda:
“E será conveniente imprimir convites, que a Portugália manda aos ieis visitantes das exposições,
mais ou menos nos seguintes termos:
H.S.
Convida V. Ex.a a visitar a exposição de cerâmica que estará patente na galeria da Livraria
Portugália, à Rua de Santo António, nº 210, do dia 21 ao dia 31 de Março.”
Remata: “Isto nuns cartõezinhos pequenos, para meter num envelope.” O motivo da existência
281 GUEDES, Fernando. “Vinte anos depois” in [+ de] 20 Grupos e episódios ... (Op. cit),. p. 61.
282 Cf. SERPA, Alberto – [carta] 1950 Fevereiro 19, Porto [a] Hein Semke [manuscrito]. 1950. 1f. Acessível no Arquivo de
Hein Semke. p. XLV e GUEDES, Fernando. Duas Comunicações … (Op. Cit.). p.22.
283 Victor Palla, Fernando Lanhas, Alvaro Bordalo e Alberto de Serpa terão sido alguns dos que aqui organizaram exposições.
Cf. 3.4. Atividade permanente: as exposições e a crítica.
284 Sobre o pagamento dos catálogos concretamente das Exposições Independentes, refere Querubim Lapa em conversa com a
autora em Dezembro de 2012: ”Quem pagava os catálogos devia ser o Lanhas, porque depois vinha pedir-nos uma pequena
importância...”
285 SERPA, Alberto – [carta] 1950 Março 10, Porto [a] Hein Semke [manuscrito]. 1950. 1f. Acessível no Arquivo de Hein
Semke. p. XLIV.
71
A galeria de arte da Livraria Portugália
dos mais variados formatos de catálogos, desde a simples folha dobrada a meio, impressa a uma
só cor, a catálogos em livro contendo várias páginas, com prefácios e ainda algumas reproduções
das obras expostas, residia na escolha do expositor, que faria os seus catálogos de acordo com a
quantia que estivesse disposto a gastar: motivo pelo qual várias exposições aqui foram realizadas
sem que delas se izesse catálogo algum286.
3.3
Atividade permanente: as exposições e a crítica
A ocupação da galeria da Portugália era permanente, não havendo intervalo entre
exposições temporárias, que tinham duração, na sua maioria, de 10 dias.287A lacuna de registos
relativa aos meses de Julho, Agosto e Setembro, indica que a galeria faria um interregno na
programação,288que posteriormente seria retomada em Outubro, com uma Inauguração da época
de Outono289, habitualmente assinalada com “manifestações culturais de vária ordem, como
concertos, conferências, exposições de arte e outras.”290
Durante os sete anos de existência da galeria, muitos foram os artistas que aqui passaram,
conhecidos ou não, provenientes das mais diversas áreas, da pintura à escultura, passando pela
arquitetura e pelas artes decorativas. Esta diversidade expositiva291, como já foi referido, resultava
do fato de o gerente colocar o espaço à disposição de quem aí quisesse realizar atividades.292
Apresentamos a seguir o calendário da programação que foi possível construir e organizar
mediante a informação que reunimos durante esta investigação, pelo que foi condicionado pela
disponibilidade da mesma.
A seleção de algumas exposições para mais detalhadamente pormenorizar em detrimento
de outras, obedeceu a dois critérios: as exposições mais noticiadas na imprensa (ainda que de
artistas hoje para nós desconhecidos); e as exposições de artistas hoje reconhecidos, ainda que
na altura não o fossem, nem despertassem o interesse da crítica. Incluímos ainda exposições
286 É o caso das três exposições que o pintor Domingos Lopes aqui realizou, das quais nunca existiu catálogo.
287 Informação deduzida após consulta de todos os jornais diários O Comércio do Porto e O Primeiro de Janeiro entre 1945 e
1951.
288 Muito à semelhança do que ainda hoje se pratica.
289 Exposição de Hébil a Inauguração da época de Outono.
290 O Comércio do Porto de 12 de Outubro de 1945.
291 O professor Álvaro Bordalo organizou aí (pelo menos) duas exposições de caráter bibliográico e documental: uma sobre
Teixeira de Pascoaes integrando toda a sua bibliograia, e outra de livros com dedicatórias que ele encontrava nos alfarrabistas
e que teriam sido vendidos pelos “ditos” a quem tinham sido dedicados – “exposição algo cómica e subversiva à volta da qual
houve muitas surpresas”. In GONÇALVES, Egito. “Agostinho Fernandes e a Portugália” in SANTOS, José da Cruz (coord.).Op.
cit. p. 51.Na Portugália houve ainda lugar a manifestações artísticas de ordem vária como as palestras proferidas por António
Reis sobre Van Gogh (in PORTO. Carlos. Livrarias e Livreiros Histórias Portuenses (1945-1994). Porto: Livraria Leitura, 1994.) ou
sobre Da Personalidade na Arte (proferida em Maio de 1950.)
292 GUEDES, Fernando. Duas Comunicações …. (Op. cit.). p. 22.
72
A galeria de arte da Livraria Portugália
que pela sua especiicidade -Exposição Infantil- ou pela sua importância histórica -Exposições
Independentes-, se tornasse um imperativo a sua inclusão.
Analisando o universo das exposições cujo registo possuímos, sobressai de imediato um
grande número de exposições de mulheres, artistas estrangeiros, estreias de jovens artistas, arte
infantil, alunos da Escola de Belas-Artes, artistas conhecidos e outros desconhecidos, artistas
auto didatas e ainda outros, provenientes das mais diversas áreas.
Esta diversidade desenha um padrão, revelador da identidade desta galeria que importa,
neste capítulo, imprimir, pelo que procurámos que da programação enunciada articulada com
os destaques, sobressaíssem as características mais especíicas, que consideramos que deinem o
peril da galeria da Portugália.
A adoção de um sistema de ordenação cronológica, iniciando em 1945 e terminando em
1951, pareceu-nos a mais indicada, uma vez que agiliza a perceção, da verdadeira ordem dos
acontecimentos, do percurso efetuado desde a primeira à última exposição.
Em segundo lugar, o agrupamento por anos, foi favorável, uma vez que nos permitiu a
realização de um balanço para cada ano. Este balanço, a par das exposições detalhadas, ajudam
a ter uma perceção geral das atividades mais relevantes da galeria.
Na seleção que efectuámos e na apresentação detalhada de algumas exposições,
associámos sempre que possível, informação sobre o acolhimento da crítica da época, na
imprensa, ou noutras publicações.
1945
exposições identiicadas
A assinalar o primeiro ano de atividade da Portugália, em 1945293, nos seis meses em que a
galeria realizou programação (uma vez que iniciou atividade a 21 de Março à que se seguiu um
interregno durante os três meses que correspondem ao Verão), registámos onze exposições,294
nomeadamente: Exposição de Pintura Portuguesa (séculos XIX e XX)295[ig 60] em Março; Ayres de
Carvalho296(óleos e desenhos) [ig. 61] e Aguarelas de Júlio Resende [ig. 62] em Abril; Carlos Carneiro
(óleos, desenhos, desenhos aguarelados, gouaches e aguarelas)[ig. 63] e Aguarelas e Desenhos de Paulo
Ferreira [ig. 64], em Maio; Exposição de Pintura de Alberto Hébil (óleos e pastéis) em Outubro; Exposição
50 desenhos a nanquim de Júlio [ig. 65] e Desenhos de Maria Helena Cordeiro [ig.66] em Novembro;
Martins da Costa, Exposição de Gretchen Wohlwill (aguarelas, desenhos e arte gráica) [ig. 67] e Mart
293 Cf. Cronograma Ilustrado. p. LV.
294 Exposições registadas após consulta dos jornais diários O Comércio do Porto e O Primeiro de Janeiro. É provável que se tenham
realizado mais exposições e que não tenham sido anunciadas na imprensa; icando portanto por registar.
295 Cf. 3.1 do 3º Capítulo.
296 Ayres de Carvalho (1911-1997). Discípulo de Veloso Salgado e Varela Aldemira.
73
A galeria de arte da Livraria Portugália
Huguenin297, em Dezembro.298
exposições destacadas
01. Ayres de Carvalho 02. Aguarelas de Júlio Resende 03. Carlos Carneiro 04. Exposição de Pintura de
Alberto Hébil 05. Exposição 50 desenhos a nanquim de Júlio.
01. Após a exposição inaugural, profusamente noticiada na imprensa, (sem outra igual, durante
os sete anos em que esteve em atividade), é iniciada a programação regular, com uma exposição
de Ayres de Carvalho, realizada entre 7 e 20 de Abril.
Este artista, discípulo de Veloso Salgado, paisagista e pintor de igura,299era natural do
Porto embora residisse em Lisboa, onde se havia diplomado pela Escola de Belas-Artes. Para a
estreia nesta cidade, traz 40 trabalhos, entre os quais, alguns já integrados na colecção do Museu
de Arte Contemporânea de Lisboa: Gente do Mar - Matozinhos (1940) e Pastores da Serra da Estrela
(1938).
Tanto O Primeiro de Janeiro como O Comércio do Porto, saúdam as qualidades do pintor. Todos
referem a sua modernidade, embora profundamente assente numa sólida base académica,
airmando que este “não enileira no grupo de mediocridades que pretende dar novas formas
à arte de pintar”300 Acerca da modernidade e do desenho, O Primeiro de Janeiro, refere: “Os seus
quadros, dentro dos moldes modernos, agradam. Têm sobretudo desenho; revelam delicada
sensibilidade; distinguem-se pelas tonalidades vibrantes, austeras, verdadeiras”. O Comércio do
Porto, por sua vez, elogia o “pintor-intelectual, profundo psicólogo, penetrante observador,
meio ilósofo e sociólogo, de sensibilidade lírico-romântica.” O desenho, enquanto disciplina
fundamental, na base de qualquer bom e rigoroso óleo é também elogiado - mais uma vez
remetendo à sólida base académica. O cunho social presente em algumas obras como Mineiros
ou Regresso à Terra, é visto com agrado, assim como o espírito de observação denunciado nas
paisagens como Primavera sem sol, e nos retratos.
Em sintonia com a crítica jornalística, está o texto de Fernando de Pamplona, inserido
297 Mart Huguenin. (?-?). Artista estrangeira residente em Portugal. Discípula de Jean Camus em Paris e de Aldo Carpi em
Itália. Expôs obra nas Exposições de Arte Moderna organizadas pelo S.N.I. Em Lisboa e no Porto, onde obteve em 1950, o
prémio Armando de Basto. Informação obtida em: PAMPLONA, Fernando. Dicionário …. (Op. cit.) vol. III, p. 123.
298 Através da leitura da rubrica ECOS inserida n’O Primeiro de Janeiro de 17 de Outubro de 1945 e de 12 de Dezembro do
mesmo ano, temos indicação da realização de mais duas exposições, acima não mencionadas pela falta informação adicional,
não foi possível o seu registo. São elas respetivamente dos artistas Marthe Huguenin e António Cruz; Referem os artigos: “Na
excelente Galeria de Arte da Livraria Portugália, desta cidade, realizam nos próximos meses, exposições individuais dos seus
trabalhos, os artistas Júlio dos Reis Pereira, Maria Helena Cordeiro, Martins da Costa e Marthe Huguenin. Oportunamente
indicaremos as datas exactas em que se realizam essas exposições.” e “Na segunda quinzena deste mês, exporá na Galeria de
arte da Portugália, desta cidade, os seus trabalhos de aguarela, desenho, agua forte e linóleo, a artista Gretchen Wohlwill. A
seguir exporá no mesmo local as suas aguarelas o pintor António Cruz.”, respetivamente.
299 PAMPLONA, Fernando. Dicionário de Pintores e Escultores Portugueses ou que trabalharam em Portugal .Vol. II. Barcelos: Livraria
Civilização Editora, 1991. p. 61.
300 O Primeiro de Janeiro de 8 de Abril de 1945.
74
A galeria de arte da Livraria Portugália
no catálogo301, onde enfatiza o aprendizado dos mestres e o poder de síntese que a partir daí o
pintor soube realizar. A importância do desenho enquanto elemento fundamental que confere
solidez de estrutura das telas302; na qualidade de paisagista, o destaque vai para obras como: Velho
castanheiro, A Caseira “soberba interpretação psicológica tocada de dramatismo”, Gente do Mar,
Primavera sem sol “traduz esparsa melancolia e integra bem as iguras na unidade ambiente”. O
sentido social é novamente evocado, nas obras: Pastores, Mineiros, Regresso à Terra e Pobres.
As temáticas de paisagem e retrato são também da preferência do historiador, apontando
na primeira categoria os trechos da Serra da Estrela e na segunda, Elda.
02. Este ano assinala a estreia de Júlio Resende, artista recém diplomado, numa exposição
individual constituída por 23 aguarelas; 6 das quais reproduzidas num catálogo303 (nomeadamente,
Veleiro, Arvores da Alfândega, Margens do Rio, Sinaleiro, Homens do Rio, Movimento na Ribeira), com
prefácio de autoria de Júlio Pomar, que também lhe reservou pela mesma altura, uma entrevista
no jornal A Tarde304, aquando da montagem da exposição na Portugália.
No catálogo, Pomar tece elogiosos comentários às aguarelas realçando que “Resende
sabe que a expressão não se atinge pela acumulação de pormenores - de desenho ou cor - mas
pela sua eliminação”, remetendo para a depuração de detalhe e simpliicação de formas que as
pinceladas rápidas e largas e a própria condição do material impõem e que Resende tão bem
terá compreendido. Conclui ainda lançando um apelo a todos os visitantes: “Vejam-se, sem
pressas nem desconianças, antes com sincera vontade de compreensão, todas as aguarelas de
Júlio Resende. Percorramo-las atenta e honestamente. Tão honestamente como ele as pintou.”
Contraponto à opinião de Pomar encontramos na imprensa nomeadamente n’O Comércio
do Porto305, onde são igualmente reconhecidas ao artista “qualidades e sentimento artístico”, mas
pelos motivos opostos aos que estiveram na génese dos elogios de Júlio Pomar: precisamente por
Resende “parecer desprezar os modernismos que em tempos havia cultivado”, e neste momento
enveredando pelo “bom caminho da arte”. Finaliza o artigo com uma advertência num maior
cuidado no desenho que o artista, embora possuindo, por vontade própria não estaria a praticar.
Refere ainda que “a exposição foi muito visitada” e foram adquiridos diversos trabalhos.
03. Carlos Carneiro (1900-1971), que nesta altura era já um artista experiente, inicia a temporada
do mês de Maio, expondo óleos, aguarelas, desenhos e gouaches, num total de 33 obras.
O catálogo306, com prefácio de Jaime Brasil contém 6 reproduções de obras expostas:
301 Desta edição foi feita uma tiragem especial de 300 exemplares, numerados e rubricados pelo artista expositor.
302 Prefácio do catálogo Ayres de Carvalho.
303 Deste catálogo foi feita uma edição especial de 300 exemplares, numerados e rubricados por Júlio Resende.
304 A Tarde de 20 de Abril de 1945.
305 O Comércio do Porto de 29 de Abril de 1945.
306 Deste catálogo foi feita uma edição especial de 150 exemplares numerados e rubricados por Carlos Carneiro.
75
A galeria de arte da Livraria Portugália
Retrato de minha mulher (óleo), Retrato de Nuno António (desenho aguarelado), Barca do Lago (aguarela),
Catedral de Viena (aguarela), Retrato de Enrico Montorcelli (desenho) e Posada de la Sangre- Toledo (gouache).
Relativamente aos títulos dos restantes trabalhos expostos, sugerem locais por onde o
pintor terá passado, desde Paris, Salamanca e Madrid, no estrangeiro; e Fão, Leça, Santo Tirso
e Porto, em Portugal.
O artista é neste prefácio, elogiado em todas as suas vertentes: a de aguarelista, desenhador,
retratista e pintor de óleos. Não negando a herança de seu pai, ao qual são igualmente dirigidas
elogiosas notas, mas construindo a sua própria identidade, Carlos Carneiro airma-se como
artista individual: “O pai era um místico, abismado na vida interior, criando iguras de sonho e
ambientes do passado; o ilho é um encantado contemplador e realizador da vida que o cerca,
das paisagens claras onde repousam os olhos, das iguras fugitivas, dos recantos de belas cidades
tocadas de poesia de certas horas, dos interiores cheios de intimidade em que as coisas parecem
falar.” Termina lançando um repto ao visitante, no sentido deste não se limitar a esta exposição
para conhecer a obra do seu autor, mas a ir vê-lo ao seu atelier onde está a quase totalidade
da sua obra: “Quem sabe se no que não chega a ser exposto estará o quadro desejado pelo
coleccionador?” E acrescenta: “Se ao artista veio deixar-nos o seu cartão nesta sala, parece mal
não o irmos cumprimentar ao seu atelier.”
O Comércio do Porto aplaude igualmente a obra deste pintor, sobretudo na qualidade
de aguarelista, “estamos perante um artista de vulto, espontâneo, consciencioso e seguro.”
Elogiosas notas no que refere aos ambientes bem observados e pormenorizados “cheios de
justeza e de nítida e irme observação” e para o enquadramento da paisagens “lançadas com
justas perspectivas”.307 A preferência pela vertente de retratista é evidente: ”O retratista, embora
fugidiamente representado, é que se airma, ali, brilhantemente. Magníicos os dois retratos mormente o dum rapaz estrangeiro que o Porto bem conhece, trabalho primoroso sob todos
os aspectos e que tem carácter, expressão, lagrância - e raça.”No entanto, aponta reparos,
nomeadamente: “excessivo cunho de estilização no retrato da esposa do artista”, e “certos
descuidos no desenho, injustiicáveis, condenáveis mesmo, em quem tantas boas provas de
desenhador tem dado”, nas aguarelas.
04. Cabe a Alberto Hébil308, artista de Coimbra, a rentrée da época de Outono, numa exposição
patrocinada pelo Secretariado de Informação e Cultura (S.N.I.C.), constituída por 28 óleos e 78
pastéis.
307 O Comércio do Porto de 9 de Maio de 1945.
308 Alberto Pinto Hébil (Arouca, 1913 - Coimbra, 1998). Pintor. Em 1929 foi aluno de Marcel Thuillier da Academia de
Belas-Artes de Paris. Fixa-se em Coimbra em 1930 para seguir a carreira de pintor. Em 1968 inaugura, em Nova Iorque a sua
galeria que designou por Coimbra Gallery Modern Art. Considerado por muitos um inovador das artes, o seu percurso artístico
passa pelo igurativo, paisagístico, expressionismo e abstracto. Considerado por muitos um renovador das artes plásticas
de Coimbra e do país. Está representado em galerias, colecções particulares e em vários museus nacionais e estrangeiros.
Informação obtida em: http://calhabecirculacao.blogspot.pt/2012/09/alberto-pinto-hebil.html e em https://sites.google.
com/site/memoriadecoimbra/dicionario/h/de.
76
A galeria de arte da Livraria Portugália
O Primeiro de Janeiro309 evoca a a excelente técnica de desenho e as tonalidades suaves
que o pintor aplica. Refere as composições decorativas dos trabalhos a pastel, assim como nos
quadros a óleo em que o artista se afasta das formas clássicas e apresenta “manchas de vibrante
colorido”. Demonstra ainda preferência pelos quadros de paisagem, referindo a feliz escolha e
ainda o “recorte rústico de movimento e serenidade.” Refere ainda que a exposição “está a ser
muito visitada.”
O Comércio do Porto310 elogia os trabalhos do artista, tanto nos óleos como nos pastéis,
mostrando maior agrado e destacando aqueles que retratam temas sociais. Dedica igualmente
palavras de apreço a este artista auto didacta referindo que: “na sua modéstia e no seu estudo,
insatisfeito, com a sua obra, procurando fazer mais e melhor.”
05. Este ano registamos ainda a exposição 50 desenhos a nanquim de Júlio, o pintor/ poeta, na
altura já a residir em Évora. Para a exposição, que se realizou entre 3 e 15 de Novembro, foi
produzido um catálogo prefaciado pelo crítico literário João Gaspar Simões.
Dos 50 desenhos apresentados, 47 estão divididos em grupos segundo a mesma temática.
Assim, 23 fazem parte da colecção Poeta (que o artista posteriormente continuaria a desenvolver);
8 têm a designação: Interior; 3, a designação Circo; 3, Nocturno; 4, Rua; 2, Pobre; 2, Menina; 2, Mulher;
e os restantes 3, têm os títulos nomeadamente: Carnaval, Mulher Sentada e Criança.
No belo texto metafórico que acompanha o catálogo, João Gaspar Simões evoca o
poeta e visionário William Blake, também na sua qualidade de poeta/pintor, como o artista
expositor que, enquanto poeta, assina Saúl Dias. Remete para a qualidade primordial do
desenho, elemento essencial das artes plásticas “Estamos perante um artista que fez da linha, da
imaginação e da abstracção os fundamentos da sua arte”e ainda: “Júlio é um artista para quem
a imaginação existe, coisa bem pouco vulgar num país onde os artistas plásticos julgam quasi
criminoso servir-se de tal faculdade.” Lança ainda uma provocação: “Singular condição: numa
pátria de poetas, dir-se-á que os pintores têm medo da poesia.” Remata, airmando: “Não há
linha nos seus trabalhos que não lhe tenha saído simultaneamente da cabeça e do coração.”
As palavras de Gaspar Simões encontram eco na imprensa, nomeadamente n’O Primeiro
de Janeiro311, que a respeito da sua “sólida base de desenho”, que “saindo dos moldes clássicos
aprendidos nas escolas”, liga a sua “inquieta imaginação de poeta e o espírito de observador
atento”. Da série Poeta, referencia a visões oníricas que encontram forma nos seus desenhos, diz:
“(...) reproduz em imagens o sonho, visões e abstracção de um poeta (...)”. Referencia ainda aos
“interiores silenciosos e a certos “momentos trágico-cómicos na pista de um circo ambulante.”
Este artigo dá-nos ainda uma indicação acerca da aluência à exposição mencionando:
309 O Primeiro de Janeiro de 11 de Outubro de 1945.
310 O Comércio do Porto de 12 de Outubro de 1945.
311 O Primeiro de Janeiro de 4 de Novembro de 1945.
77
A galeria de arte da Livraria Portugália
“foi ontem muito apreciada, especialmente pela sua realização, que se afasta da vulgaridade.”
balanço anual
Num balanço do primeiro ano de atividade da galeria, observámos alguns aspetos cujo
registo considerámos importante: em primeiro lugar, a presença de alguns artistas vindos de
Lisboa- Ayres de Carvalho, Paulo Ferreira, Gretchen Wohlwill e Maria Helena Cordeiro; assim
como a inclusão de outros, do Porto: Carlos Carneiro, Júlio Resende e Martins da Costa (os dois
últimos da Escola de Belas-Artes); registamos ainda a presença de um artista de Coimbra- Hébil
e outro de Évora- Júlio.
De referência também a inclusão de duas artistas estrangeiras, residentes em Portugal:
Gretchen Wohlwill312 e Mart Huguenin; a realização de uma exposição patrocinada pelo S.N.I.,
à qual foi dada o destaque de inaugurar a época de Outono - Hébil.
Apresentação de alguns artistas à cidade do Porto: Ayres de Carvalho e Paulo Ferreira;
a primeira exposição individual de outros: Júlio Resende.
Relativamente à produção escrita realizada para os catálogos destas exposições, entre
artistas, historiadores de arte, críticos, escritores e jornalistas, foi assegurada por: Julio Pomar,
Diogo de Macedo, Fernando de Pamplona, João Gaspar Simões, Alberto de Serpa e Jaime
Brasil, nomes de relevância no panorama artístico e literário.
1946
exposições identiicadas
No ano de 1946, registámos quinze exposições313: em Janeiro, Carlos Ramos (50 quadros
a óleo)[ig. 68]314 e a 4ª Exposição Independente (pintura a óleo e escultura)[ig. 69]315; em Fevereiro,
António Fernandes (50 trabalhos)316 e Exposição de Anne Marie Jauss (desenhos, gravuras “ponta seca”
e gravuras “ponta seca” coloridas à mão)[ig. 71]317; em Março, Júlio Resende (óleo, desenho,
aguarela)[ig. 72]; 20 Anos de Pintura de Dordio Gomes [ig.73]318 em Abril; Frederico George, António Soares
312 Gretchen Wohlwill (1878-1962). Pintora. Oriunda de uma das mais importantes famílias de Hamburgo. Membro da
Secessão dessa cidade. Discípula de Matisse, na Academia Matisse de Paris. Em 1940 ixou-se em Portugal. Onde permaneceu
12 anos no exílio. Durante a sua estadia em Portugal, integrou várias exposições. Recebeu, em 1948 e 1952 o prémio Francisco de
Holanda. Regressou a Hamburgo em 1952. Informação obtida em: http://www.phg-hh.de/PP_PDF/Portugal_Post/PP28/s_
pp28_gretchenWohlwillP.html.
313 Cf. Cronograma Ilustrado. p. LV.
314 O Comércio do Porto de 8 de Janeiro de 1946.
315 O Primeiro de Janeiro de 18 de Janeiro de 1946. p. 3 e de 30 de Janeiro de 1946, p.3.
316 O Primeiro de Janeiro de 3 de Fevereiro de 1946.
317 O Comércio do Porto de 24 de Fevereiro de 1946.
318 O Comércio do Porto de 6 de Abril de 1946. p. 4.
78
A galeria de arte da Livraria Portugália
(óleo)[ig. 74]319 e Magalhães Filho320 (15 quadros a óleo referentes aos anos de 1938 a 1946)321 em
Maio; em Setembro, Exposição de aguarelas de João Tavares (aguarelas com aspetos de Portalegre,
Castelo de Vide, Montalvão e Porto), com catálogo com prefácio de José Régio322; em Novembro,
Exposição de óleo pastel e escultura de David Sousa e Pirogravura e óleo de Maria Júlia [ig. 75]323 e Martins
da Costa324; em Dezembro, António Dinis (72 quadros a óleo)325, Exposição de Desenhos de Martin
Maqueda (retratos, gravuras e desenhos)[ig. 76] 326 e Exposição de Maria do Carmo Sequeira Cabral e
Maria Madalena Sequeira Cabral (desenhos e aguarelas) juntamente com Heitor Cramêz (óleos)[ig.
77]327
exposições destacadas
01. 4ª Exposição Independente 02. 20 Anos de Pintura de Dordio Gomes
01. Sábado, 19 de Janeiro, marca o início da realização das Exposições Independentes na galeria
da Portugália. A realização das Independentes na galeria da Portugália a partir de 1946, terá sidomuito provavelmente- responsabilidade de Fernando Lanhas, que, enquanto diretor artístico
da galeria, e como elemento de ligação entre esta e a EBAP, para aqui transferiu as exposições
do grupo do qual era igualmente o principal dinamizador. Nesta exposição é apresentada
unicamente Pintura e Escultura.
Na véspera, O Primeiro de Janeiro anunciava: “Inaugura-se amanhã, sábado, pelas 15
horas, a 4ª Exposição Independente, no Salão da Livraria Portugália. Esta exposição comportará
pintura a óleo e escultura. Conforme o ano passado, a exposição seguirá depois para Coimbra e
outras localidades. Esta manifestação dos Independentes é esperada com o maior interesse.”328
Na capa do catálogo, de cor verde, é destacada a insígnia do grupo, também por si
desenhada329. Na primeira categoria participam: Aníbal Alcino com as obras Fernando Lanhas
e Sé; Arco, com a obra Ceifeiros; Cândido da Costa Pinto, com as obras Anoitecente e Introdução;
319 O Comércio do Porto de 13 de Maio de 1946.
320 Manuel Magalhães Filho (1913-1973). Pintor diplomado pela Escola de Belas-Artes de Lisboa, pertence à segunda
geração de pintores modernistas portugueses. Participou nas exposições de Arte Moderna do S.P.N. /S.N.I., tendo recebido o
prémio Amadeo de Sousa Cardoso em 1945. Está representado em colecções publicas e privadas, nomeadamente em: Museu
Nacional de Arte Contemporânea, Museu Municipal de Lisboa e Museu do Abade de Baçal em Bragança. Informação obtida
em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Magalhães_Filho
321 O Comércio do Porto 24 de Maio de 1946.
322 O Primeiro de Janeiro de 1 de Setembro de 1946. p. 3.
323 O Comércio do Porto 13 de Novembro de 1946. p. 4.
324 O Primeiro de Janeiro de 22 de Novembro de 1946. p. 3.
325 O Comércio do Porto 5 de Dezembro de 1946.
326 O Comércio do Porto 11 de Dezembro de 1946.
327 O Primeiro de Janeiro de 22 de Dezembro de 1946. p.3.
328 O Primeiro de Janeiro de 18 de Janeiro de 1946.
329 Cf. 3.2 A direção artística e a produção gráica.
79
A galeria de arte da Livraria Portugália
Fernando Lanhas, com Mulher, Escada e Pintura; Israel Macedo, com Má Lingua e Arraiolos; Jorge
Oliveira com Descarregadores e Figuras; Júlio Resende com Fantoches e El Cristobito; Maria Moutinho
com Fonte da Porta D’Aviz; Martins da Costa com Sobre os telhados do Porto; Nadir com Évora, Moinhos,
Foz e Lisboa Nocturna330; Neves e Sousa com Enterro e Batuque. Na segunda categoria participam:
Arlindo Gonçalves da Rocha com Ana e Escultura; Eduardo Tavares com Toupeira Duriense; M.
Febos com Santo António e Eça de Queirós e Maria Graciosa M. de Carvalho com Busto.331
Na página cultural das Artes das Letras, d’O Primeiro de Janeiro332, num longo artigo
assinado por L. , é elogiada a iniciativa destes jovens expositores, aos quais se atribui o mérito
de “traduzirem as inquietações de alguns artistas jovens”, trabalhadores, ainda à procura
do seu caminho, ainda que alguns já “possuidores de uma técnica segura”. Refere ainda o
menor número de expositores, relativamente a edições anteriores apesar de quantidade
não signiicar qualidade, uma vez que cada artista estaria bem representado em obras pelos
próprios escolhidas. Aníbal Alcino, é apresentado como um adolescente que, ainda não tendo
encontrado o seu caminho, tudo dependerá de trabalho aincado numa determinada via. São
ainda referenciados alguns trabalhos que constituem resultado da IX Missão Estética de Férias em
Évora, como Ceifeiros de Arco, do qual resulta um trabalho que não revela uma forte personalidade por
se inluenciar demasiado em Portinari e Orozco, e Fonte da porta de Aviz, de Maria Moutinho. De
Israel Macedo e de Jorge Oliveira, é referido o trabalho com manchas largas e esquemáticas,
embora expressivas. Martins da Costa apresenta “boas qualidades de pintor”; no entanto Neves
e Sousa parece “não ter evoluído muito nos temas etnográicos africanos.”
Mas são os artistas Cândido Costa Pinto, Fernando Lanhas e Resende que mais são
elogiados neste artigo. Dos dois primeiros, refere, são os que “mais se alinham com a corrente
abstracta”, aos quais reconhece elevadas qualidades compositivas e cromáticas; do terceiro, “a
grande atracção do certame”, no qual marca um progresso evidente que ultrapassa em muito os
êxitos anteriores, facto que atribui ao estágio que o artista fez em Espanha. Das duas pinturas,
de inspiração hispânica, diz, só se fazerem depois de se ver Goya ou Solana. Sobre Resende
conclui ainda que: “Ou nos enganamos muito ou este artista há-de ir longe.”
Na escultura, o destaque vai para Ana, o busto apresentado por Arlindo Rocha, “rica de
carácter e modelada com vigor”, assim como o nú juvenil que está “modelado com maestria”. De
Eduardo Tavares, acusa uma imagem demasiado Rodinesca e em M. Febos, aponta o exagerado
acabado das iguras.
Referência ainda para o caráter harmónico da exposição, que advém não de uma
unidade compositiva mas da harmonia de valores complementares e de conjugação dos esforços.
330 Esta obra, embora não conste do catálogo, esteve igualmente em exposição. Informação obtida em : “Exposição
Independente” in O Primeiro de Janeiro de 30 de Janeiro de 1946.
331 Apesar de constar no catálogo, não expôs. Informação obtida em: “Exposição Independente” in O Primeiro de Janeiro de 30
de Janeiro de 1946.
332 O Primeiro de Janeiro de 30 de Janeiro de 1946, p.3.
80
A galeria de arte da Livraria Portugália
02. A exposição que Dordio Gomes inaugura na Portugália, no dia 1 de Abril intitulada 20
Anos de Pintura, surge como uma retrospectiva dos últimos 20 anos da sua actividade de pintor.333
Nesta exposição apresenta obras de 1923 a 1946, num total de 34 trabalhos, que são no
catálogo (onde também são identiicados os respetivos colecionadores) divididos em três grupos:
o primeiro grupo, intitulado Paris, contém obras realizadas entre 1923 e 1926: Auto-retrato, Grande
Auto-retrato e Velhas Casas em Malakof; o segundo grupo, intitulado Alentejo, com obras realizadas
entre 1926 e 1943, entre as quais destacamos uma série cuja temática é cavalos , outros sobre
Évora e o terceiro grupo, intitulado Porto, com obras realizadas entre 1934 e 1946, dos quais
destacamos alguns retratos e paisagens sobre o Porto.
É com Proclamação, que Diogo de Macedo abre o catálogo da exposição, texto no qual
dedica palavras de estima e apreço ao pintor. Num texto evocativo da modernidade intrínseca às
obras “feitas no seu tempo que, quando feita com sinceridade, exprime as ansiedades plásticas,
estéticas numa linguagem formal que deine o sentimento de visão, interpretação e imaginação
do artista que a criou espontaneamente”. Adianta ainda: “Dordio Gomes é um artista moderno
e sério nos princípios simples e naturais de quanto airmo.” Conclui, aplaudindo o artista:
“Raros são os artistas de hoje que com a sua obra de aspecto fragmentário, de buscas, rebuscas
e conquistas, sensacional, viril e harmónico no carácter, agressivo ou atraente, incompleta por
insatisfação, mas completa na expressão total do bloco pujante, autónoma e festiva nos contrastes
cromáticos, raros serão, repito, que tão incontestavelmente representem nos congressos futuros
a pintura actual na nossa terra.”
Júlio Pomar, adota uma posição mais crítica, e na revista Mundo Literário334, expõe, num
longo e estruturado texto, dividido em duas partes, a sua relexão pessoal acerca do necessário
trabalho auto-crítico que um artista necessita desenvolver para, através da resolução de conlitos
e contradições, evoluir com irmeza na sua carreira, alcançando a desejada síntese (que o autor
classiica de: o contrário de pochade). Inicia o artigo evocando a igura prestígio e a sua importância
no pioneirismo a desbravar caminho por entre os academismos vigentes, “o único grito de
vida a quebrar a miséria das tradições académicas”. Porém o inicial tom elogioso dá lugar
a um outro, algo dececionado de quem não observa neste “balanço de carreira”, os avanços
próprios da evolução do homem e do artista, que deviam acusar-se com nitidez, na sua obra.
Porque “quando um artista passa o tempo das promessas, e cria a responsabilidade de produzir
obra madura, localiza-se, deine-se.” Considera que a atitude de constante auto-crítica deveria
ser fundamental em todos os artistas: “cada nova obra questionando todas as anteriores.”
Constata no entanto que nesta exposição “não se sente que se tenham passado vinte anos”,
uma vez que a evolução do artista não se acusou, persistindo a lacuna da resolução do problema que
333 Na mesma sala, o pintor António Soares expõe igualmente alguns quadros do início da sua carreira.
334 Mundo Literário nº6 de 15 de Julho de 1946. p. 1 e 9.
81
A galeria de arte da Livraria Portugália
se alorou no início de carreira: o conlito entre o aprendizado académico e tradicionalista e a
esquematização linear e cromática visível na coexistência das duas na sua obra.- diiculdade em
atingir a unidade. Dá então lugar a uma sensação de “promessa ainda por cumprir“– a respeito
da qual, remata: “Somente hoje a promessa perdeu o seu tom natural e a oportunidade.”
À diferença dos discursos adotados por Diogo de Macedo e Júlio Pomar, em que para
o primeiro estamos perante um génio revelado, e para o segundo perante um génio que não
cumpriu a sua genialidade, acrescentamos ainda um terceiro, o da imprensa,335 com uma opinião
declaradamente antagónica; aqui, o moderno evocado por Diogo de Macedo não é alvo de elogio,
mas de crítica e onde as pinceladas largas são apontadas: “(...) diicilmente poderemos chegar a
crer, que a chamada arte pictórica moderna, prescinda das mais elementares regras do desenho
e da pintura, e ainda, despreze o conhecimento da anatomia (...) ” adianta ainda que: “Assim,
não podemos achar beleza alguma em quadros que apresentam verdadeiras deformações de
espécies da fauna e da lora a que a natureza concedeu proporções harmónicas, simetria e
graciosidade.”
Conclui ainda que: “a pintura modernista está longe, imensamente longe de corresponder
a um ideal de beleza e de satisfazer um espírito normal.”
balanço anual
Num balanço anual, registamos os seguintes factos: pela primeira vez é aqui realizada
uma Exposição Independente. Houve ainda lugar para uma exposição retrospetiva, de um professor
da Escola Belas-Artes, duas exposições de artistas estrangeiros residentes em Portugal: Anne Marie
Jauss336 e Martin Maqueda.337 Alguns artistas de Lisboa: Magalhães Filho,338António Soares,
Frederico George339, e Maria do Carmo Sequeira Cabral e Maria Madalena Sequeira Cabral,
alunas do pintor Heitor Cramêz, com quem expuseram.
A presença de artistas mulheres foi neste ano, signiicativa e representada por: Anne Marie Jauss,
Maria Júlia, Maria do Carmo e Maria Madalena Sequeira Cabral. Apenas dois dos catálogos
335 O Comércio do Porto de 6 de Abril de 1946, p. 4 e em O Primeiro de Janeiro de 4 de Janeiro de 1947, p.3.
336 Anne Marie Jauss (Munique, 1902 -Nova Iorque, 1991). pintora. Em 1942 veio para Lisboa, refugiada da guerra,
onde permanece até 1946, ano em que parte para Nova Iorque. Em Portugal, pinta, modela cerâmica e ilustra livros. Foi
colaboradora da revista Panorama, editada pelo SPN. Em Nova Iorque, inicia uma carreira de escritora e ilustradora de livros
infantis. Informação obtida em: http://galeria-lambertini.blogspot.pt/2011/02/anne-marie-jauss-munique-1902-nova_19.
html e em http://www.nytimes.com/1991/09/15/obituaries/anne-marie-jauss-author-89.html.
337 Martin Maqueda (Sevilha, 1900- ?). Pintor, jornalista, crítico tauromáquico e gravador. Estudou na Escola de Artes
e Ofícios de Sevilha, tendo como professores Andrés Canova, Gonzalo Bilbao, Rico Cejudo, Gonzales Santos e Santiago
Martinez. Frequentou a Escola de San Fernando em Madrid, onde obteve o título de professor de desenho. Após uma passagem
por Valencia, veio para Portugal em 1942, onde viveu em muitas cidades. Começou por ixar-se no Porto, onde foi colaborador
d’O Primeiro de Janeiro, onde assinava uma rubrica de críticas taurinas ilustradas com os seus desenhos. De seguida foi para Lisboa
onde foi colaborador do Diário Popular.
338 Manuel Magalhães Filho (1913-1975). Pintor da segunda geração de artistas modernos portugueses.:http://
pt.wikipedia.org/wiki/Magalhães_Filho
339 Frederico Henrique George (1915-1994). Arquiteto e pintor, diplomado pela Escola de Belas-Artes de Lisboa, onde exerceu
funções de docência no Curso de Arquitetura. Informação obtida em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Frederico_George.
82
A galeria de arte da Livraria Portugália
encontrados incluíam texto associado de autoria de João Gaspar Simões e Diogo de Macedo.
1947
exposições identiicadas
Em 1947 registamos dezoito exposições340: A. Alcino (óleos de paisagens e igura)[ig. 78] 341 e Carlos
Carneiro (óleos, aguarelas e desenhos)[ig. 79]342 em Janeiro; em Fevereiro, Exposição de Pintura de
António Silva, discípulo do Mestre Joaquim Lopes (paisagens marinhas e naturezas mortas a óleo
e pastel) [ig. 80]343, Exposição de Pedro Leitão (retratos a óleo e desenhos)[ig. 81]344 e Armengol Terrés
(aguarelas)345; em Março, Exposição de Pintura de António Fernandes (óleos de paisagens e motivos
arquitectónicos) [ig. 82]346; em Abril, Alberto Hébil347 e Exposição de óleos, aguarelas e gouache por Margarite
Janes [ig. 83]; em Maio, Alfredo Furiga (desenhos)348 e Exposição de Gretchen Wohlwill (aguarelas de
panorâmicas, naturezas mortas, marinhas, lores, interiores, retratos) [ig. 84]349; em Junho, Carlos
Carneiro; em Outubro, Exposição de Pintura de Maria Emília de Barbosa Viana350 pequenos quadros)
[ig. 85]351 e Pomar expõe 25 desenhos [ig. 86]; em Novembro, Exposição de António Sampaio (óleos,
aguarelas, apontamentos de viagem e desenhos) [ig. 107]352; em Dezembro, Exposição de Neves e
Sousa (aguarela, pastel e óleos de grandes dimensões)[ig. 108]353, Martin Maqueda (60 trabalhos,
entre os quais, escultura em bronze, retratos a carvão, gravuras, guaches e desenhos)354 e III
Exposição Anual de Martins da Costa (óleos e aguarelas) [ig. 109].355
exposições destacadas
01. A. Alcino 02. Pomar expõe 25 Desenhos
01. A exposição que Aníbal Alcino realizou na Portugália e que foi inaugurada a 3 de Janeiro,
integrou 14 óleos: Barbearia, Sé, Terra Brava, Paisagem, Pinheiro Manso, Cadeira e Vaso, Pintora Maria da
340 Além das enumeradas acrescentamos uma exposição de Jaime Isidoro; porém não conseguimos apurar em que mês se
realizou.
341 O Comércio do Porto de 5 de Janeiro de 1947. p. 4.
342 O Comércio do Porto de 22 de Janeiro de 1947. p. 4.
343 O Comércio do Porto de 4 de Fevereiro de 1947. p. 6. e em O Primeiro de Janeiro de 3 de fevereiro de 1947, p. 6.
344 O Primeiro de Janeiro de 14 de Fevereiro de 1947, p. 3.
345 O Primeiro de Janeiro de 22 de Fevereiro de 1947.
346 O Primeiro de Janeiro de 6 de Março de 1947.
347 O Primeiro de Janeiro de 3 de Abril de 1947. p.3.
348 O Comércio do Porto de 7 de Maio de 1947. p. 6.
349 O Comércio do Porto de 14 de Maio de 1947. p. 4.
350 Maria Emília de Barbosa Viana. Pintora de Lisboa, discípula de Frederico Ayres.
351 O Primeiro de Janeiro de 13 de Outubro de 1947. p. 4.
352 O Comércio do Porto de 25 de Novembro de 1947 e em O Primeiro de Janeiro de 24 de Novembro de 1947, p.6.
353 O Comércio do Porto de 5 de Dezembro de 1947 e em O Primeiro de Janeiro de 26 de Novembro de 1947, p. 3.
354 O Comércio do Porto de 13 de Dezembro de 1947. p.6.
355 O Comércio do Porto de 25 de Dezembro de 1947. p.3.
83
A galeria de arte da Livraria Portugália
Conceição, Dia Triste, Árvores, Velho Camponês, Évora, Guitarristas, Irmãs e Auto-Retrato.356 No catálogo,
com retrato do artista por Fernando Lanhas, pode ler-se a dedicatória: “Dedico esta exposição
a todos os meus amigos que de algum modo têm contribuído para a minha formação artística.”
Esta exposição teve repercussão na crítica por diversos meios, quer na imprensa diária,
quer na publicação cultural Mundo Literário, no artigo A Propósito de uma Exposição,357 assinado
por Júlio Pomar. Neste longo texto, Julio Pomar, referindo-se à qualidade que o trabalho de
Aníbal Alcino poderá vir a alcançar, remete para uma profunda relexão sobre o trabalho
desamparado e solitário de cada artista e todas as diiculdades que este terá de ultrapassar se
ambicionar tentar “expressar-se pela pintura.” Enumera as qualidades que um artista deverá
possuir para perseguir o seu objetivo: obstinação, amor crescente pelo trabalho, aprendizado
dos meios técnicos que o levarão a esse im, para então “ir ao encontro das necessidades do seu
tempo e do lugar onde vive.” Ainda a respeito do trabalho árduo e da qualidade do trabalho do
artista refere: “De nada servem a cada um as qualidades natas, se não forem amadurecidas, se
não encontrarem possibilidades de se desenvolver de um modo coerente.”
O Primeiro de Janeiro358 salienta a vontade do artista em “irmar a sua personalidade”,
salientando igualmente os progressos na sua obra,“visíveis nas composições que revelam
segurança de técnica e cuidados de observação”; enquanto O Comércio do Porto359, critica a
“dureza e contrastes violentos dos quadros, que resultam da vontade do artista em fazer algo
de novo, diferente e invulgar“- fato ainda não alcançado. Contudo, lança palavras coniantes
relativamente à carreira deste artista, referindo que os retratos Pintora Maria da Conceição e AutoRetrato, dão provas do seu “traço seguro” e “boas expressões”, atestando que o artista “(...) é bem
capaz de nos dar mais e melhores provas do seu talento em futuras exposições.”
02. Em Outubro, pouco tempo após a saída da prisão360, realiza-se a primeira exposição
individual de Júlio Pomar, intitulada Pomar expõe 25 desenhos,361. A exposição integra 25 desenhos
executados a tinta da china sobre papel vegetal, (realizados sobre estudos a lápis) e montados
sobre cartolinas362. Alguns destes desenhos haviam sido realizados durante a cárcere, no Forte
de Caxias363.
356 Por altura da exposição, os primeiros seis quadros já estavam vendidos: os coleccionadores estão identiicados no catálogo.
357 Mundo Literário de 18 de Janeiro de 1947.
358 O Primeiro de Janeiro de 4 de Janeiro de 1947, p. 3.
359 O Comércio do Porto, de 5 de Janeiro de 1947, p. 4.
360 Devido ao envolvimento com o MUD juvenil, é detido pela PIDE em Évora a 27 de Abril de 1947, sendo levado para o
Forte de Caxias onde se manteve- juntamente com toda a direcção do MUD juvenil- até 26 de Agosto do mesmo ano. Quando
regressa, além da exposição na Portugália, acaba os frescos do Cinema Batalha.
361 A montagem da exposição esteve a cargo do artista expositor e de Fernando Lanhas. Informação obtida em conversa com
Júlio Pomar a 25 de Abril de 2012.
362 Agradeço a informação a Alexandre Pomar.
363 Nomeadamente: Música da Rua, Lá fora é o sol, O Estivador, Jovem, A vaga, O Eixo corrido, Menina com um cão, A Conidência,
Meninos dormindo, Menina com um galo, Retrato de M.V., Retrato de C.M.F.
84
A galeria de arte da Livraria Portugália
No levantamento efetuado para a reconstituição da exposição, identiicaram-se 12
desenhos (publicados no álbum XVI Desenhos); dos restantes, não localizados (entretanto vendidos
ou dispersados), recebemos informação364 de desenhos a lápis (estudos) que poderão estar na
origem de alguns deles, e que são reproduzidos a seguir, em Cronograma ilustrado.
O catálogo da exposição foi constituído por um simples desdobrável, no qual se
identiicava os títulos dos desenhos com o respetivo preçário, cujos valores variavam dos 300
aos 500 escudos. A exposição integrou os desenhos:365 Mãi e Filho [ig. 87], A Rua Sem Sol, O Velho
do Saco [ig. 88], Mulher deitada no Cais [ig. 89], Música da Rua [ig. 90], O Almoço [ig. 91], O Miúdo da
Água [ig. 92], O Ardina [ig. 93], Farrapeira [ig. 94], Lá Fora é o Sol [ig. 95], O Estivador [ig. 96], Jovem [ig.
97], Come-se, À Janela [ig. 98], Nú Deitado [ig. 99], A Vaga [ig. 100], O Eixo Corrido [ig. 101], Menina
com um Cão [ig. 102], A Conidência [ig. 103], Despertar, Intimidade, Retrato de M.V. [ig. 104], Retrato de C.
M. F., Meninos Dormindo [ig. 105], Menina com Um Galo [ig. 106].
Esta exposição encontrou ressonância, tanto na imprensa, nomeadamente n’O Comércio
366
do Porto , como em várias publicações literárias e culturais, em textos assinados por diversos
autores: Arco, seu colega e expositor das Exposições Independentes, na revista Portucale367;
António Ramos de Almeida, na revista Vértice368; e Mário Dionísio, primeiro incluindo dois
versos no catálogo da exposição, e no ano seguinte, com a publicação do álbum XVI Desenhos.369
Arco elogia a capacidade de síntese atingida pelo artista que, após um processo de dois
anos de estudo, relexão e trabalho, soube encontrar a técnica mais adequada no serviço das
suas intenções. Encontra então nestes desenhos, a “expressão máxima da sua vida artística”.
Divide a exposição em dois grupos: no primeiro, constituído pelos primeiros nove desenhos,
“onde se observa uma dolorosa galeria dos habitantes das nossas cidades”, sublinhando “os
traços inos, angulosos”; no segundo grupo, que “inclui os desenhos de crianças e de motivos
instantâneos”; deste núcleo refere o abandono da angulosidade dos anteriores, e a utilização de
uma nova técnica, “de linhas arredondadas, num ritmo largo, num cursivo serpenteante”.
António Ramos de Almeida airma que a exposição de Pomar na Portugália “vale
como uma lição”, enfatizando a “permanente busca do real e do humano” evocando o neorealismo da obra e do artista que “Ve a realidade para lá de todas as mistiicações; exprime a
realidade desmistiicada.” Também destaca o grupo dos primeiros nove desenhos, “abundante
de linhas e traços”, e “composto por formas geométricas de forma variável” que “substituindo
as sombras (…) dão singular efeito às iguras desenhadas.” Relativamente a este primeiro grupo
remata que “estes são sem dúvida os melhores dos 25 desenhos expostos.” Quanto aos restantes,
364 Agradeço a Alexandre Pomar o acesso a estes estudos.
365 Cf. Cronograma Ilustrado. p. LV.
366 O Comércio do Porto de 28 de Outubro de 1947.
367 Portucale nº 10/11, de Julho/Outubro de 1947.
368 Vértice Vol. IV, nº 51 de Outubro de 1947.
369 Pomar XVI Desenhos, Coimbra: 1948.
85
A galeria de arte da Livraria Portugália
sublinha a simpliicação do processo traduzida numa redução ao mínimo das linhas e dos
traços; no entanto, reclama que neste segundo processo, “o que ganhou em forma perdeu em
profundidade.” Acerca dos desenhos de nús femininos “de uma angústia reprimida e serena”,
refere constituírem resultado da solidão, representando “Amor frustrado”- a única explicação
possível para estes desenhos de caráter esporádico na obra deste artista “que não se deixa
ludibriar pelas mistiicações sedutoras”.
Conclui airmando que “Pomar é um artista da
sua época, vivendo no clima geral da cultura europeia, e que no seu caso é com verdade” que
Mário Dionísio pode lançar o apelo poético do catálogo “Vai lá ao fundo e verás lá bem no
fundo o sentido da hora e o amor do mundo.”
A imprensa diária370 tece largos elogios à exposição e, pelo facto de constituir uma mostra
unicamente de desenho, aproveita para enaltecer a disciplina que é a pedra basilar da pintura:
“Pertencendo nós a esse número de inconformistas que não transige em considerar a arte do
desenho independente da arte da pintura, antes pelo contrário, considera aquela como basilar
desta, foi com grande satisfação que vimos esses belos desenhos cheios de espontaneidade”.
Relativamente aos desenhos em exposição, o interesse recai sobretudo pelos números 15 e 18,
que correspondem a Nú deitado e Menina com o cão, pela “singeleza e sentido de síntese”; pelos
números 1, 19 e 24, que correspondem a Mai e ilho, A Conidência e Meninos Dormindo, pela
“riqueza de expressão”; e pelo sentido anímico, os números 22 e 23, respetivamente Retrato de
M.V. e Retrato de C.M.F.
No ano seguinte, em Abril de 1948, dezasseis dos vinte e cinco desenhos expostos na
Portugália, viriam a ser publicados no álbum Pomar XVI Desenhos371, prefaciado por Mário
Dionisio.
balanço anual
No balanço anual, registamos a estreia de Júlio Pomar numa exposição individual. Houve
algumas estreias de artistas de Lisboa, no Porto: Pedro Leitão e Maria Emília de Barbosa Viana;
várias exposições de artistas do Porto, na maioria da Escola de Belas-Artes, nomeadamente de
Aníbal Alcino, Carlos Carneiro (2 vezes), António Sampaio, Neves e Sousa e Martins da Costa;
Os artistas estrangeiros continuam com bastante representação: Armengol Terrés, Alfredo
Furiga372, Margarite Janes, Gretchen Wohlwill e Martin Maqueda. Regresso de Alberto Hébil,
370 O Comércio do Porto de 28 de Outubro de 1947.
371 Pomar XVI Desenhos, Coimbra: 1948. Esta publicação integrava um texto de Mário Dionisio os dezasseis desenhos
consistiam numa série de folhas soltas dentro de uma capa. Este catálogo foi reeditado em 2004 pela editora Artemágica,
incluindo uma nota prévia de Alexandre Pomar.
372 Alfredo Furiga (1903-1972). Cenógrafo italiano de renome internacional. Estudou cenograia, pintura e arquitectura na
Academia de Belas-Artes de Milão. Possuindo formação técnica no Teatro Scala de Milão, o seu trabalho está representado
nos principais teatros de ópera do mundo (Ópera de Roma, Fenice de Veneza, Arona de Verona, Covent Garden de Londres,
Ópera de Sidney, Teatro Cólon de Buenos Aires, Argentina). Em 1946 ixou-se em Lisboa, num asilo político, onde se tornou
cenógrafo residente do Teatro de S. Carlos, tornando-se depois director cénico. Foi professor do Conservatório Nacional até
1970, data em que regressa deinitivamente a Itália. Informação obtida em: http://www.obidos.pt/CustomPages/ShowPage.
aspx?pageid=d764e097-61dc-45c5-bf17-fde4be660086
86
A galeria de arte da Livraria Portugália
Carlos Carneiro, António Fernandes, Gretchen Wohlwill, Martin Maqueda e Martins da Costa.
Relativamente a mulheres artistas, registamos a presença de: Margarite Janes, Maria Emília de
Barbosa Viana e Gretchen Wohlwill. A produção escrita em catálogo esteve a cargo de Mário
Dionísio.
1948
exposições identiicadas
No ano de 1948 registamos dezoito exposições: em Janeiro, Jorge Pais Mamede (trabalhos
ao ar livre e paisagens)373 e Alberto Hébil374; em Fevereiro, a 5ª Exposição Independente [ig. 110 a
113],375 José Bastos (pintura a óleo)376 e Aníbal Alcino377; em Abril, Carlos Ramos (37 pinturas a
óleo)378, Exposição de Pintura de Madame Bizet, organizada pela Aliança Francesa379 (naturezas
mortas e aspectos de França e de Lisboa) [ig. 114]380, Exposição de desenho e pintura de Gretchen Wolhwill
(óleos, aguarelas, desenhos e gravuras da paisagem de Oir)381e Arthur da Fonseca (óleo, tempera e
aguarela)[ig. 115]; em Maio, Carlos Carneiro (óleos e aguarelas)[ig. 116], António Fernandes (quadros
a óleo de temática de ar livre)382 e Portela Júnior383; em Junho, Dimas Macedo (aguarelas)384; em
Outubro, Alejandro Alfonso (28 quadros a óleo, representando paisagem espanhola e pormenores
de paisagem de Portugal, assim como seus usos e costumes, naturezas mortas e interiores)385; em
Novembro, Joan Kendall386, Aspectos de Paris (realizada de 11 a 21 de Novembro, integrou obras de
Emler, Gabriel Maguin, Pierre Marie Dubois, António Sampaio, Moutinho e Júlio Resende)387
[ig. 118] e Isolino Vaz [ig. 119] (primeira exposição de retratos executados a lápis - dedicada aos
373 O Comércio do Porto de 15 de Janeiro de 1948, p. 4.
374 O Comércio do Porto de 15 de Janeiro de 1948, p. 6.
375 O Comércio do Porto de 4 de Fevereiro de 1948, p. 3.
376 O Comércio do Porto de 27 de Fevereiro de 1948.
377 Exposição dedicada ao seu mestre Dordio Gomes. Paralelamente a esta exposição, Aníbal Alcino proferiu, no dia 14 uma
palestra subordinada ao tema: O Artista e o Crítico, e no dia 15, uma outra com o tema A Arte e a Vida.
378 O Comércio do Porto de 3 de Abril de 1948.
379 Madame Andrée Bizet (1888- 1970). Pintora impressionista francesa, antiga aluna da Escola de Belas-Artes de Paris.
Frequentou os ateliers de de pintura de Othon Friesz e de escultura de Bourdelle. Representada em muitos museus da Europa,
nomeadamente em Paris, Grenoble, Praga, Viena, Budapeste e representada em muitas colecções particulares da Europa e da
América Latina. Uma das principais animadoras das exposições das “mulheres pintoras” no Petit Palais de Paris.
380 O Comércio do Porto de 13 de Abril de 1948. p. 5.
381 O Comércio do Porto de 23 de Abril de 1948. p. 5.
382 O Comércio do Porto de 25 de Maio de 1948. p. 5.
383 Severo Portela Júnior (Coimbra,1898-1985). Estudou escultura na Escola de Belas Artes de Lisboa, onde foi discípulo de
Simões de Almeida (sobrinho). No entanto foi na prática da pintura que ganhou notoriedade. Tem murais na Faculdade de
Letras da Universidade de Coimbra, na Câmara Municipal de Beja, no Palácio da Justiça do Porto, Tribunal de Bragança, etc.
A sua obra está representada em várias coleções públicas e privadas como o Museu do Chiado, Museu Nacional de Soares dos
Reis, na Casa Museu Anatácio Gonçalves, no Museu Grão Vasco, etc.
384 O Comércio do Porto de 13 de Junho de 1948. p. 5.
385 O Primeiro de Janeiro de 22 de Outubro de 1948. p. 3.
386 O Comércio do Porto de 31 de Outubro de 1948. p. 6.
387 O Comércio do Porto de 12 de Novembro de 1948. p. 4 e em O primeiro de Janeiro de 11 de Novembro de 1948, p.3.
87
A galeria de arte da Livraria Portugália
seus mestres Joaquim Lopes e Dordio Gomes)388; em Dezembro, Aníbal Alcino (óleos de paisagem
e motivos alentejanos)389 [ig. 120] e Exposição de pintura de Joaquim Ascencio.390
exposições destacadas
01. 5ª Exposição Independente
01. A 5ª Exposição Independente [ig. 110 a 113], realizada em Fevereiro de 1948, integra obras de:
Arthur Barbosa da Fonseca com Monumento à Hélice e Circunvoluções e Pórticos; Amândio Silva com
Desenho (prova litográica), Desenho e Pintura; Arlindo Gonçalves com Juventude e Escultura; Fernando
Lanhas com duas aguarelas, dois desenhos, Gravura e Forma [ig. 111 e 112]; Garizo do Carmo com
dois gouaches; Israel Macedo com Notre Dame, Sena e Douro, Júlio Resende com três desenhos,
Paisagem italiana, Notre Dame de Paris, Barcos no Sena e duas gravuras com o título Marselha; Mabel
Gardner, com Menina, Martins da Costa com Douro em Massarelos, Afurada e Várzea de Colares, M.
Febos com duas esculturas, Nadir com dois desenhos; Neves e Sousa com duas aguarelas; Nuno
Tavares com Casas do Porto e Pierre Dubois com Paisagem e Desenho aguarelado.
Na revista Vértice391, é publicado um artigo de Aníbal Alcino, ele próprio um membro dos
Independentes, embora não tendo integrado esta 5ª Exposição. O pintor traça um panorama geral
da mostra dividindo-a em dois grandes grupos: o expressionista e o abstracto, nos quais lideram
respetivamente, Júlio Resende e Fernando Lanhas. No primeiro grupo insere: Júlio Resende,
Israel Macedo, Pierre Marie Dubois, Mabel Gardner, Nuno Tavares e Martins da Costa; no
segundo grupo, Fernando Lanhas, e em menor grau, Neves e Sousa e Garizo do Carmo.
Acusa na obra de Amândio Silva e Barbosa da Fonseca alguma deiciência técnica, referindo:
“parecem não estar cientes do caminho que fazem”; de Nadir, artista já revelado, pelo que
não lhe dedica considerações, refere que “deixa transparecer o contacto que tem com o meio
europeu.” A Arco acusa uma abordagem demasiado próxima à arquitetura nomeadamente na
preocupação da linha e da proporção, essenciais na arquitectura mas não para o desenho de
igura, aqui presente. Salienta o papel preponderante assumido pela escultura nesta exposição,
alinhada com os pressupostos abstratos - referindo Pereira da Silva, Fernando Lanhas e Arlindo
Gonçalves, que apresentam trabalhos em gesso e em madeira colorida. Conclui airmando: “É
uma exposição audaciosa, séria e de grande interesse para a nossa cultura artística.”
Nesta exposição, Fernando Lanhas, encorajado por Júlio Pomar e Fernando Távora,
“pressentindo a importância da peça”, que “podia ser importante”392 expõe uma escultura393
388
O Comércio do Porto de 22 de Novembro de 1948. p. 4 e em O Primeiro de Janeiro de 23 de Novembro de 1948, p.5.
389
O Comércio do Porto de 4 de Dezembro de 1948. p. 4 e em O Primeiro de Janeiro de 4 de Dezembro de 1948, p.3.
390 O Primeiro de Janeiro de 17 de Dezembro de 1948, p.3.
391 Vértice Vol. V, nº 55 de Março de 1948.
392 ALMEIDA-MATOS, Lúcia. Escultura em Portugal … (Op. cit.), p. 450.
393 Acerca desta designação refere Lanhas: “Eu chamei àquilo Forma”. Não era na realidade uma escultura. O lado táctil dos
escultores nunca me interessou.” LANHAS, Fernando citado por ALMEIDA-MATOS, Lúcia. Escultura em Portugal ...(Op. cit), p.
88
A galeria de arte da Livraria Portugália
que intitula Forma394. Executada por um carpinteiro, esta peça em madeira, que Lanhas pintaria
a óleo rosa sombrio e a base em cinzento esverdeado, tinha de 60 cm de altura e 70 cm de base
e estava segura por tirantes de corda de violino.395
Na imprensa, a exposição encontra referência n’ O Comércio do Porto396 cujo artigo acusa
os jovens organizadores das Exposições Independentes de serem “iconoclastas desejosos de
celebridade”, acrescentando ainda que “têm passado de moda os métodos de extravagância
da forma e da cor, e que os artistas que de facto possuem talento-recuam e submetem-se às leis
normais da estética, identiicados com os clássicos processos ...” Reprova ainda obras como a de
Arthur da Fonseca: “(... ) quadros como os de A. Barbosa da Fonseca e outros, incompreensíveis e
inaceitáveis pelas pessoas normais habituadas ou não a admirar o esplendor do belo.” Considera
“mais aceitáveis” as obras de Júlio Resende, Martins da Costa e Nuno Tavares que “apresentaram
obra espiritualmente comunicativa.” Termina, em tom de indignação relativamente às obras –
abstratas - de Fernando Lanhas, Neves e Sousa e Arlindo Rocha: “Que representará “Forma”
de Fernando Lanhas? E ”Escultura” de Arlindo Gonçalves? Porque é que Neves e Sousa, artista
bolseiro, com valor e responsabilidades traiu a sua personalidade, apresentando dois desenhos
geométricos, coloridos, sem signiicado e sem beleza, denominando-os aguarelas?”
Balanço anual
O ano de 1948, registou a realização da 5ª Exposição Independente e algumas exposições individuais
de alguns membros do grupo como Aníbal Alcino e Arthur da Fonseca, António Sampaio e outros
alunos da EBAP como Isolino Vaz. As exposições de artistas estrangeiros foram representadas
por Madame Bizet, Gretchen Wohlwill, Alejandro Alfonso, Joan Kendall, Joaquim Ascencio,
Emler, Pierre Marie Dubois e Gabriel Maguin.
Artistas recorrentes: Alberto Hébil, Gretchen Wohlwill, Aníbal Alcino, Carlos Ramos, Carlos
Carneiro e António Fernandes.
A representação feminina icou a cargo de Madame Bizet, Gretchen Wohlwill e Joan Kendall e
a produção escrita para catálogo a cargo de Alberto de Serpa.
1949
exposições identiicadas
Em 1949 registamos vinte e duas exposições: em Janeiro, Exposição de desenhos e guaches
de Raoul Deschamps (desenhos e guaches da costa marroquina e do litoral português) [ig. 122]397
451.
394 Esta peça só existe atualmente através de registo fotográico. Cf. Cronograma ilustrado. p. LV.
395 Cf. ALMEIDA-MATOS, Lúcia. Escultura em Portugal ...(Op. cit), p. 451.
396 O Comércio do Porto de 4 de Fevereiro de 1948, p. 3.
397
O Primeiro de Janeiro de 5 de Janeiro de 1949, p. 6 e em O Comércio do Porto de 5 de Janeiro de 1949.
89
A galeria de arte da Livraria Portugália
e Exposição de pintura de Túlio Vitorino398; em Fevereiro, Exposição de pintura de António Fernandes (30
quadros a óleo, na sua maioria executados no Alentejo durante a Missão Estética de Férias
no Verão anterior)399 e Arthur da Fonseca (óleo e desenho)[ig. 123]400; em Março, Domingos Lopes401
(pintura a óleo)402, Jaime Isidoro (quadros a óleo e aguarela, representando paisagens marítimas, de
neve e citadinas; 7 destes trabalhos foram executados na XXII Missão Estética de Férias, tendo
merecido o prémio Rocha Cabral da Academia Nacional de Belas Artes)403 e Exposição Infantil
(40 trabalhos executados por crianças dos 4 aos 14 anos)[ig. 124 e 125]404; em Abril, Exposição de
óleos e aguarelas de José Bastos 405, Resende [ig. 126 e127]406 e Exposição de aguarela, desenho e cerâmica de
Beatriz Campos 407; em Maio, Exposição de Maria das Dores Alves Afonso (miniaturas a óleo)408, Alguns
Aspectos da Suíça de Carlos Carneiro (aguarelas representando paisagens da Suíça desde Zurique
a St. Moritz) [ig. 128]409 e Exposição de pintura de Martins da Costa, patrocinada pelo S.N.I.C.410;
em Junho, Exposição de Melo Júnior411 (quadros a óleo)412 e Nadir [ig. 129]413; em Outubro, Oddvard
Straume (30 desenhos e aguarelas de Portugal, contemplando motivos do Porto, Braga, Moledo,
Vila do Conde, Mira, Évora e outras)[ig. 130]414, Exposição de pintura de Fernando Pereira (28 trabalhos
a óleo e aguarela)415 e Exposição de Amparo Palacios e Fernando Escrivá, patrocinada pelo S.N.I.C.
(apresentam respetivamente 10 e 14 trabalhos)[ig. 131]416; em Novembro, Exposição de Martins da
Costa (20 quadros a óleo e 12 desenhos e aguarelas)417e Maria Leonor Praça (desenhos, aguarelas,
óleos) [ig. 132 a 134]418; em Dezembro, Exposição de pintura de Neves e Sousa, patrocinada pelo S.N.I.
(trabalhos a óleo e em cerâmica pintada)419 e Óleos Antigos( 1923 a 1934) e Desenhos Recentes (1943
398 O Primeiro de Janeiro de 21 de Janeiro de 1949.
399 O Comércio do Porto de 3 de Fevereiro de 1949.
400 O Primeiro de Janeiro de 23 de Fevereiro de 1949. p. 3.
401 Domingos Lopes (Porto, 1929). Pintor, desenhador e escultor autodidata. Fundou a Galeria D, no Porto.
402 O Comércio do Porto de 5 de março de 1949.
403 O Primeiro de Janeiro de 14 de Março de 1949. p.3 e em O Comércio do Porto de 17 de Março de 1949.
404 O Primeiro de Janeiro de 25 de Março de 1949 e em O Comércio do Porto de 25 de Março de 1949.
405 O Primeiro de Janeiro de 3 de Abril de 1949. p.3.
406 O Primeiro de Janeiro de 12 de Abril de 1949. p.2.
407 O Primeiro de Janeiro de 24 de Abril de 1949. p.3. e em O Comércio do Porto de 25 de Abril de 1949.
408 O Primeiro de Janeiro de 30 de Abril de 1949.
409 O Primeiro de Janeiro de 12 de Maio de 1949 e em O Comércio do Porto de 14 de Maio de 1949.
410 O Comércio do Porto de 21 de Maio de 1949.
411 Aluno da EBAP.
412 O Primeiro de Janeiro de 31 de Maio de 1949.
413 O Primeiro de Janeiro de 11 de Junho de 1949 e em O Comércio do Porto de 11 de Junho de 1949.
414 O Primeiro de Janeiro de 28 de Setembro de 1949 e em O Comércio do Porto de 5 de Outubro de 1949
415 O Comércio do Porto de 15 de Outubro de 1949.
416 O Comércio do Porto de 22 de Outubro de 1949.
417 O Comércio do Porto de 2 de Novembro de 1949.
418 O Comércio do Porto de 22 de Novembro de 1949.
419 O Comércio do Porto de 3 de Dezembro de 1949.
90
A galeria de arte da Livraria Portugália
a 1949) de Júlio [ig. 135]420.
exposições destacadas
01. Exposição Infantil 02. Maria Leonor Praça
01. Iniciativa única em Portugal421, teve esta galeria, ao organizar exposições dedicadas à arte
feita por crianças. A 24 de Março de 1949, é inaugurada a primeira Exposição Infantil do Porto,
organizada por Fernando Lanhas e Albano Neves e Sousa. Nesta exposição participam 24
crianças dos 4 aos 14 anos, entre as quais, António Manuel L. Resende Dias422 e Maria Leonor
Praça, numa estreia que seria preparatória para a sua primeira exposição individual que ainda
nesse mesmo ano aí realizaria.423
A imprensa referia: “No salão da Portugália, foi inaugurada ontem, por iniciativa dos
estudantes de pintura da Escola de Belas-Artes do Porto, Arlete da Silva, Aníbal Alcino, Melo
Júnior, Neves e Sousa e arquitecto Fernando Lanhas, uma interessante exposição infantil que,
servindo para revelar vocações, pode servir também para de estímulo para outras crianças com
sensibilidade e tendência para as artes plásticas.”424
Na capa do catálogo [ig. 124] está representado um desenho com o título, Comboio com
Máquina Antropomorizada425, de autoria do menino Manuel Morais da Costa, de 7 anos, residente
na Trofa, Santo Tirso426.
O prefácio, constituído por dois textos de autoria dos dois organizadores, enfatiza a
necessidade da abertura de horizontes, deixando entrar alguma frescura nas mentes e nas almas
dos visitantes da exposição. Fernando Lanhas apresenta a arte das crianças como uma arte
sincera uma vez que, pela sua própria natureza, está afastada do “convencionalismo adulto”; ao
passo que A. Neves e Sousa faz um apelo para que os visitantes “abram as suas almas” e observem
a exposição não com o mesmo olhar com que observam as outras mas com “entendimento e
carinho”, pois que representa uma “janela aberta de frescura” por entre as exposições habituais
“cheias de efeitos fáceis”, “belezas de ocasião” e “máscaras”, advertindo que “Não interessam
somente molduras”427.
420 O Comércio do Porto de 13 de Dezembro de 1949.
421 GUEDES, Fernando “Vinte Anos Depois” em [+ de] 20 grupos e episódios no Porto do século XX. Porto: Galeria do Palácio,
2001. p. 61.
422 Sobrinho de Júlio Resende, ilho de seu irmão, o Maestro Resende Dias e da meia irmã de Fernando Lanhas, que
faleceu aos 11 anos, vítima de uma pneumonia.
423 Exposição de Maria Leonor Praça em Novembro de 1949.
424 O Comércio do Porto de 25 de Março de 1949.
425 Desenho feito a lápis de cores azul e vermelho, de acordo com prova para a capa do catálogo. Arquivo Arq. Fernando
Lanhas.
426 De acordo com prova para a capa do catálogo. Arquivo Arq. Fernando Lanhas.
427 NEVES e SOUSA, Albano in prefácio do catálogo Exposição Infantil. Porto: Livraria Portugália, 1949.
91
A galeria de arte da Livraria Portugália
A exposição de arte infantil encontra eco nos dois principais jornais da época, tanto n’O
Comércio do Porto como n’ O Primeiro de Janeiro.
Quanto ao primeiro, elogia o pioneirismo da iniciativa, estabelecendo um paralelismo
com o sucedido noutros países estrangeiros, onde este tipo de eventos é já frequente, devido ao
empenho e iniciativa dos organismos oiciais, que após uma selecção promovem os trabalhos
das crianças no estrangeiro. Opina ainda acerca da frequência que estas iniciativas deveriam ter
em Portugal. Destaca ainda as obras de algumas das crianças como Manuel Tavares Júnior (de
4 anos), Tomásia Garrido (de 12 anos), Maria Cremilda (de 11 anos) e A.S. Menéres, enfatiza
porém aquele que na sua opinião é o trabalho revelação do certame- Maria Leonor Praça,
cujos “trabalhos de igura dariam glória a muitos dos nossos pretensos intelectualizados pintores
modernistas.”428 Deixa ainda no ar uma observação a jeito premonitório: “Maria Leonor Praça
(Noi) deve vir a ocupar lugar destacado na pintura portuguesa...a menos que se perca no
caminho.”
O Primeiro de Janeiro remete para a simplicidade e sinceridade dos trabalhos e o estímulo que a
iniciativa proporciona às crianças.429
02. Em Novembro de 1949, Fernando Lanhas organiza a primeira exposição individual da
então criança Maria Leonor Praça430, de diminutivo familiar Noi, na altura com 13 anos. No
convite para a exposição [ig. 133], um cartão de medidas 8X10 cm, com tipograia sóbria, a duas
cores (título a azul, texto a preto), pode ler-se:
MARIA LEONOR PRAÇA
Convida V. Exª a Visitar a Exposição das suas obras que se inaugura pelas 16 horas de 21 de Novembro na
Galeria Portugália, no Porto.
A exposição integrou 37 trabalhos: 17 desenhos e aguarelas e 19 óleos. O catálogo teve prefácio
do pintor e ceramista Jorge Barradas, que além de seu admirador, era amigo do pai da criança.431
No texto introdutório elogia a alma pura desta artista-menina: “Esta menina não brinca com
428 O Comércio do Porto de 25 de março de 1949.
429 O Primeiro de Janeiro de 25 de Março de 1949.
430 Maria Leonor Guimarães Praça (1936-1971). Pintora e ilustradora de livros infantis. Despertou o interesse a vários
críticos e artistas portugueses que lhe dedicaram artigos, como Lima de Freitas, António Lucena Quadros e Rocha de
Sousa. Frequentou a Academia de Desenho e Pintura Dominguez Alvarez, sendo a sua primeira aluna. Após o seu falecimento, os
seus amigos, em sua homenagem fundaram, em Lisboa na zona do Chiado, a Livraria Opinião e uma sala de exposições - um
projeto que a pintora sempre ambicionara. Informação obtida em: http://ainocenciarecompensada.blogspot.pt/2009/03/
recordar-leonor-praca-e-o-seu-album.html
431 José Augusto Rodrigues Praça (1900-1952). Engenheiro civil, formou, juntamente com os Engenheiros Manuel
Godinho e Luís Soares, a Sociedade de Engenharia de Obras Públicas e Cimento Armado, OPCA. Esta empresa construiu,
entre outros, a reconstrução do Paço dos Duques de Bragança em Guimarães, o Monumento ao Cristo Rei, em Almada e o
Frigoríico do Bacalhau do Porto, obra do Arq. Januário Godinho, onde também colaborou o pintor Guilherme Camarinha
e o escultor Henrique Moreira. Foi um dos principais membros dinamizadores das tertúlias do Ateneu Comercial do Porto.
Informação obtida em: RIBEIRO DOS SANTOS, Alfredo. “A Tertúlia de José Praça no Ateneu Comercial do Porto”. Porto, 1991.
92
A galeria de arte da Livraria Portugália
um arco, como as meninas de certas estampas antigas, brinca antes com o Arco-Iris, fá-lo correr
por todos os papéis e cartões que tem, onde as cores conduzidas pelos seus dedos sem artifícios,
numa pureza só igual à sua alma se transformam numa multidão de igurinhas preciosas que
só os seus olhos descobriram e que, só através dos seus olhos de Artista-Menina nos é dado a
ver.”432 Jorge Barradas exalta ainda a sensibilidade e a singularidade desta criança/prodígio que
“não brinca com bonecas e que vive recolhida em algo que parece tristeza, mas que não é este
o seu mal: mas Poesia e cor o seu único cuidado.”433
O catálogo identiica as obras através de uma simples numeração e respectiva data.
Nenhuma tem título diferenciado; identiica porém os seus proprietários, o que indica que à
data da exposição, a quase totalidade das peças expostas já tinha proprietário: eram eles, os
seus familiares, nomeadamente o arquitecto Luis Praça434, seu irmão, o engenheiro José Praça,
seu pai, D. Cândida Praça, sua mãe, os pintores Jorge Barradas e Fernando Lanhas, e ainda
o arquiteto Januário Godinho, o Comandante Sarmento Rodrigues, o pintor Guilherme
Camarinha, arquiteto Carlos Chambers Ramos, engenheiro Manuel Godinho, pintor Heitor
Cramêz, todos estes amigos de seu pai e frequentadores assíduos das tertúlias do Ateneu.435
A aposta nesta criança, é em certa medida, premonitória, uma vez que a menina viria
a tornar-se uma pintora e ilustradora que despertará o interesse tanto dos seus pares como da
crítica e do público, sendo nesta época já conirmada nas críticas à sua primeira exposição: “No
género, a exposição é interessante e digna de ser visitada, dando-nos a impressão de que Maria
Leonor Praça, virá a ser, no futuro uma grande artista”436.
balanço anual
O ano de 1949, foi o que registámos o maior número de exposições: 22.
Ano singularmente plural no que diz respeito às opções programáticas, que assistiu desde
à realização de uma exposição infantil coletiva e uma individual, a exposições de artistas já
revelados, como Carlos Carneiro e Júlio ou os ainda jovens Nadir Afonso, Resende, Jaime
Isidoro e Neves e Sousa. Também neste ano aqui se realizaram exposições de auto didatas
como Domingos Lopes.
A representação de artistas estrangeiros teve este ano a entrada do belga Raoul Deschamps437,
432 Catálogo de exposição de Maria Leonor Praça. Porto: Livraria Portugália, Novembro de 1949.
433 Ibidem.
434 Luís Manuel Guimarães Praça (1927-2004). Arquitecto, autor de entre outros, do projecto do Teatro de Algibeira – depois
Teatro de Bolso, do Teatro Experimental do Porto (TEP) - localizado na Travessa de Passos Manuel,- do qual foi membro dos
corpos gerentes. Este Teatro, inaugurado a 8 de Maio de 1956, foi o primeiro de semelhantes características construído na
Península Ibérica. Foi destruído em Janeiro de 1981.
435 As tertúlias do Ateneu eram dinamizadas pelo Eng.º José Praça que em seu redor motivava um grupo que se reunia ao im
da tarde na sala do café do Ateneu Comercial do Porto, que unidos na oposição ao regime, lutavam em torno de ideias comuns
de Igualdade, Liberdade e Fraternidade. Sobre este assunto ver: RIBEIRO DOS SANTOS, Alfredo. “A Tertúlia de José Praça no
Ateneu Comercial do Porto”. Porto, 1991.
436 O Comércio do Porto de 22 de Novembro de 1949.
437 Raoul Deschamps (1903-1958). Pintor francês.
93
A galeria de arte da Livraria Portugália
dos espanhóis Amparo Palacios, Fernando Escrivá e do norueguês Oddvard Straume.
Relativamente aos artistas que regressaram a esta galeria: António Fernandes, Arthur da
Fonseca, Carlos Carneiro, Martins da Costa e Júlio.
As estreias do ano, na cidade do Porto couberam a Oddvard Straume, Maria Leonor Praça.
Houve ainda três exposições patrocinadas pelo S.N.I.C., nomeadamente Martins da Costa,
Amparo Palacios e Fernando Escrivá e Neves e Sousa. A produção escrita dos catálogos
encontrados esteve a cargo de Fernando Lanhas e Neves e Sousa, Augusto Pinto, Jorge Barradas
e Adriano de Gusmão.
1950
exposições identiicadas
Em 1950 registamos vinte exposições: em Janeiro, João da Câmara Leme (desenhos)438 e
Mendes da Silva (trabalhos a óleo)439; em Fevereiro, António Silva (pintura e desenho)440; em Março,
Exposição de Pintura, Escultura e Desenho de António Aires, Lagoa Henriques e Querubim Lapa 441, Exposição
de pintura de Carlos Ramos (50 trabalhos a óleo)442 e Exposição de miniaturas de Maria das Dores Alves
Afonso (83 trabalhos de miniaturas e pequenos quadros a óleo)443; em Abril, Domingos Lopes444,
Exposição de cerâmicas de Hein Semke e Margarida Schimmelpfennig [ig. 136 a 138] (cerâmica abstracta
e igurativa)445 Arthur da Fonseca (desenho e pintura inspirada em temas religiosos)446 e Maria
Júlia (trabalhos em carneira)447; em Maio, Aníbal Alcino (óleos, aguarelas e desenhos a nanquin
aguarelados e guache)448, Eduardo Luíz (frescos, óleos, desenhos)[ig. 144 a 154] e Exposição de pintura
de Costa Júnior449; em Junho, Exposição de pintura de Alberto Hebil450 e 6ª Exposição Independente [ig.
155]451; em Outubro, António Sampaio [ig 156 e 157](38 aguarelas e 9 óleos)452 e Carlos Carneiro (74
trabalhos de óleos, aguarelas, e desenhos aguarelados executados durante a sua estada na Grã-
438 O Primeiro de Janeiro de 5 de Dezembro de 1950, p.8.
439 O Comércio do Porto de 30 de Janeiro de 1950 e em O Primeiro de Janeiro de 29 de Janeiro de 1950, p.7.
440 O Primeiro de Janeiro de 8 de Fevereiro de 1950, p.7.
441 O Comércio do Porto de 6 de Março de 1950, p.7.
442 O Comércio do Porto de 12 de Março de 1950, p.6.e em O Primeiro de Janeiro de 9 de Março de 1950, p.3.
443 O Comércio do Porto de 23 de Março de 1950 e em O Primeiro de Janeiro de 21 de Março de 1950, p.3.
444 O Primeiro de Janeiro de 29 de Março de 1950.
445 O Comércio do Porto de 12 de Abril de 1950.
446 O Primeiro de Janeiro de 25 de Abril de 1950. p. 3.
447
O Primeiro de Janeiro de 27 de Abril de 1950, p.3.
448 Como programação paralela à exposição, o poeta António Reis proferiu no sábado seguinte, pelas 18.30 h, uma palestra
subordinada ao tema: Da Personalidade na Arte. Informação obtida em: O Primeiro de Janeiro de 3 de Maio de 1950, p.3.
449 O Comércio do Porto de 11 de Maio de 1950 e em O Primeiro de Janeiro de 11 de Maio de 1950, p. 3.
450 O Comércio do Porto de 3 de Junho de 1950.
451 O Primeiro de Janeiro de 21 de Junho de 1950. p. 3.
452 O Comércio do Porto de 12 de Outubro de 1950. p. 7.
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A galeria de arte da Livraria Portugália
Bretanha)[ig. 158] 453; em Novembro, Isolino Vaz (retratos executados a lápis)454, Hanide Vila-Novas
(bonecos e abat-jours)455e Exposição anual de pintura de Martins da Costa (47 trabalhos, entre os quais,
óleos, aguarelas e desenhos de Mira, San Sebastian, Hendaye, Paris e Porto)456[ig. 159]; em
Dezembro, César Augusto Abbott (trabalhos em aguarela e desenho)457e Exposição de pintura de Maria
Luíza da Costa Cruz Lima (miniaturas)458.
exposições destacadas
01. Exposição de Pintura, Escultura e Desenho de António Aires, Lagoa Henriques e Querubim Lapa 02.
Exposição de cerâmicas de Hein Semke e Margarida Schimmelpfennig 03. Eduardo Luíz o4. 6ª Exposição
Independente.
01. Acerca da Exposição de Pintura e Desenho de António Aires, Lagoa Henriques e Querubim Lapa,
realizada na galeria da livraria Portugália, Aníbal Alcino escreve um artigo, que seria publicado
na revista Vértice459, onde analisa os trabalhos dos artistas expositores, todos eles seus colegas,
alunos da Escola de Belas-Artes.
De Querubim Lapa - para A. Alcino, o mais expressivo e brilhante dos três artistas
expositores - enaltece a “riqueza de matéria e de colorido” dos seus trabalhos a óleo pintados em
papel; também a “busca geométrica e a unidade formal entre o volume esferóide e escultórico
de Henry Moore e a graia geométrica de Portinari, que imprimem às suas obras um cunho
acentuadamente pessoal.” Refere ainda um conhecimento profundo da técnica airmando
“Querubim sabe mexer os pincéis e a espátula”, rematando “...onde se sente tão à vontade que,
por vezes, encontramo-lo a brincar com a riqueza cromática da matéria.” Embora acusando
“altos e baixos” e uma certa dispersão proveniente da indecisão dos caminhos ainda a seguir,
Aníbal Alcino dedica a António Aires palavras de esperança numa promissora carreira, para a
qual apenas dependerá o grau de “persistência no trabalho”. Refere ainda alguma fragilidade
tanto nos conhecimentos técnicos, como na falta de rigor e consciência que advém da utilização
de tons suaves, quentes e claros na pintura. De Lagoa Henriques, que apresenta várias esculturas,
na sua maioria bustos, que embora os considerando “ao nível” dos colegas expositores, lhe acusa
uma postura mais cautelosa, ancorada ao equilíbrio das formas clássicas; destaca contudo, o
retrato de António Aires, que considera o seu melhor trabalho.
453 O Comércio do Porto de 22 de Outubro de 1950.
454 O Primeiro de Janeiro de 2 de Novembro de 1950. p. 5.
455 O Primeiro de Janeiro de 10 de Novembro de 1950. p. 5.
456 O Comércio do Porto de 23 de Novembro de 1950. p.6 e em O Primeiro de Janeiro de 23 de Novembro de 1950, p.3.
457 O Primeiro de Janeiro de 1 de Dezembro de 1950, p.5 e em O Comércio do Porto de 5 de Dezembro de 1950, p. 8.
458 Maria Adelaide Lima Cruz (1908-1985). Pintora, cenógrafa, igurinista e cartoonista. Discípula de Carlos Reis e de sua
mãe, a pintora Adelaide Lima. Registo da exposição obtido em: O Primeiro de Janeiro de 12 de Dezembro de 1950.
459 Vértice Vol. IX, nº 81 de Maio de 1950, p.326 e 327.
95
A galeria de arte da Livraria Portugália
A imprensa460 por sua vez elogia os trabalhos de Lagoa Henriques, referindo: “há
que prestar homenagem ao autor dos bustos ali expostos”, adiantando que estes possuem
“boas expressões, harmonia e certa beleza.”; no entanto mais reservas revela relativamente
aos outros dois artistas, alegando que “Ainda que um ou outro desses trabalhos acusem um
esforço (...) acontece que somente resulta de tudo isso uma coisa incaracterística, nas quais
certas semelhanças com padrões já bastante conhecidos não podem passar, sequer, por meras
coincidências.” Conclui referindo que “(...) sem se produzir obra aceitável e capaz de impor
méritos cuja existência não pomos em duvida, mas que desta vez, não foram orientados no
verdadeiro sentido e por isso mal se revelaram.”
02. De 11 a 20 de Abril, Hein Semke461, escultor alemão a residir há mais de vinte anos
em Portugal, e Margarida Schimmelpfennig462, escultora portuguesa de ascendência alemã,
realizam uma exposição conjunta na galeria da Portugália, na qual expõem cerâmica abstracta
e igurativa.
Apesar da advertência de Alberto de Serpa463, e de acordo com as informações que
obtivemos464, não foi produzido catálogo para esta exposição; no entanto, através da observação
atenta das fotograias de que dispomos [ig. 136, 137 e 138], é possível a identiicação de algumas
das peças expostas, de autoria de Hein Semke, nomeadamente: Ainda Estou Vivo (Ich lebe noch) ,c.
1949 [ig. 139], O Poeta, c.1949 [ig. 140], Torso negro, c.1947 [ig. 141], Peixe- Máscara, c. 1946 [ig. 142],
Máscara, 1939 [ig. 143].
A análise das fotograias informa-nos que a grande quantidade de obras que os artistas
selecionaram para trazer a esta exposição, ocuparam toda a sala de exposições, pelo que o
próprio mobiliário serviu de expositor para as peças, pelo que observamos uma diversidade de
esculturas e cerâmicas dispostas sobre as mesas.
As paredes da sala, estavam igualmente preenchidas com esculturas, máscaras e pratos
decorativos, alternando com a aixação de alguns trabalhos em papel,465 muito provavelmente
460 O Comércio do Porto de 6 de Março de 1950, p.7.
461 Hein Semke (Hamburgo, 1899- Lisboa, 1995). Escultor alemão. Estudou na Academia de Belas Artes de Hamburgo,
onde foi aluno de Jan Bossard em escultura e de Wunche em cerâmica. Em Estugarda, frequenta a Academia de Belas Artes
onde foi aluno de Ludwig Habich em escultura. Em 1932 regressa deinitivamente a Portugal, ixando-se em Linda-a Pastora,
onde permanecerá até 1949. Em Portugal participou em inúmeras exposições. O seu trabalho está representado em colecções
particulares em Portugal e no estrangeiro. In MUSEU DE JOSÉ MALHOA. Hein Semke Esculturas 1899- 1995. Lisboa: Instituto
Português de Museus, 1997.
462 Margarida Maria Emmy Schimmelpfennig (n. Porto, 1930). Escultura portuguesa de origem germânica, diplomou-se em
escultura pela Escola de Belas-Artes do Porto. Ao longo da sua carreira artística, fez joalharia com Hermann Junger mestre e
artista pioneiro de joalharia contemporânea nos anos 60 do século XX. Fez também painéis cerâmicos, nomeadamente para o
Hotel Ritz em Lisboa (1957), vitrais e esculturas. Reside em Lisboa. Informação em: http://www.pin.pt/index.php/relexoesteoricas/criticas/2542-schmuck-2013-munique
463 Cf. SERPA, Alberto – [carta] 1950 Janeiro 25, Porto [a] Hein Semke [manuscrito]. 1950. 1f. Acessível no Arquivo de
Hein Semke. p. XLVI.
464 Informação obtida através de Dra. Teresa Balté, viúva do escultor.
465 Apesar de as notícias relativas a esta expsoição apenas reiram a exposição de cerâmicas, pelas fotograias observamos a
inclusão igualmente de algumas gravuras, cuja autoria desconhecemos.
96
A galeria de arte da Livraria Portugália
aqueles a que se referia Alberto de Serpa466, quando escreveu: “Acho muito bem que venham os
desenhos e as fotos, e permita-me sugerir, que venha para presidir a tudo uma daquelas grandes
e formidáveis esculturas saídas das suas prodigiosas mãos...” 467
Toda esta quantidade e diversidade de obras, que literalmente preencheu todo o espaço
disponível da galeria (incluindo o pavimento e outro mobiliário suplementar) confere a esta
mostra um carácter de “oicina de artista”, que por certo conferiu um carácter intimista à
exposição.
Na imprensa, a exposição teve repercussão n’O Comércio do Porto468, onde é referido o
interesse na visita à exposição na qual se pode observar o “trabalho sincero de duas pessoas
que procuram dar expressão artística à cerâmica, quer se trate do género considerado louça
decorativa, quer se trate de peças escultóricas em barro modelado e pintado para a criação de
objetos considerados “arte abstrata” ou de simples interpretação pessoal dos motivos clássicos
e eternos.” Salienta ainda a obra de Hein Semke, justiicando que o artista “prova conhecer
a técnica da cerâmica embora a utilize na confeção de muitos trabalhos que estão longe de
merecer incondicional e unânime aprovação.”
03. A primeira exposição individual do pintor Eduardo Luíz [ig. 144 a 154]469, na altura com
apenas 17 anos, realizou-se na galeria da Portugália em Maio e integrou cinco frescos [ig. 145 a
149], cinco óleos [ig. 150 e 151] e quatro desenhos [ig. 152 a 154].
O prefácio do catálogo, assinado por António Reis470, um dos seus amigos mais próximos,
evoca o espírito inquieto e inventivo do artista, que, apesar de precoce idade, começava já a
lutar “contra doentes mas inlexíveis cânones passadistas e pirrónicos”.471
Os frescos, aplicados sobre suporte de madeira, de grandes dimensões, são apresentados
no catálogo, numerados de 1 a 5. Neles estão representados dois jovens adolescentes (uma igura
masculina e uma feminina), em várias poses, lembrando iguras de um bailado: ou tocando
lauta ou comendo uma maçã, sentados numa manta.
Dos cinco óleos apresentados, identiicamos três472: Retrato de Júlia [ig. 150], uma
representação de um peril feminino, Garoto de Afurada, e um outro que embora não tenhamos
conseguido apurar o título, representa uma igura feminina caminhando junto a um muro,
466 Cf. SERPA, Alberto – [carta] 1950 Janeiro 25, Porto [a] Hein Semke [manuscrito]. 1950. 1f. Acessível no Arquivo de
Hein Semke. p. XLVI.
467 Analisando as fotograias da exposição, não observamos a inclusão de fotograias, pelo que os expositores podem ter
decidido não as exporem.
468 O Comércio do Porto de 12 de Abril de 1950.
469
Cf. Cronograma ilustrado. p. LV.
470 António Reis (Valadares, 1927- Lisboa, 1991). Pintor, escultor, poeta e cineasta. Era, juntamente com Aníbal Alcino,
Pina Cabral e Lagoa Henriques um dos amigos mais próximos de Eduardo Luíz.
471 António Reis in catálogo da exposição de Eduardo Luíz na Portugália, 1950.
472 Agradeço a colaboração da Professora Doutora Maria Leonor Soares na identiicação dos óleos e ao Dr. Mário Gomes
e à Drª. Isabel Gomes, respetivamente sobrinho e irmã do artista, na identiicação dos frescos e dos desenhos.
97
A galeria de arte da Livraria Portugália
sustentando uma ânfora na cabeça [ig. 151].
Relativamente aos três desenhos identiicados [ig. 152 a 154], todos eles de dimensões
consideráveis, o artista explora a técnica do graite e do carvão em composições nas quais dois
jovens assumem, de novo, protagonismo, e cuja temática remete para a dos frescos; embora
neste caso, o artista abandone as situações de convívio e isole as iguras em composições em que
elas únicas personagens representadas. Os objetos aparecem de novo aliados às iguras; neste
caso uma ânfora à cabeça da rapariga.
As obras apresentadas nesta exposição, revelam uma procura estética, explorada nas três
técnicas (fresco, óleo ou graite) que denunciam já algumas das opções plásticas que viriam a ser
continuadas no seu percurso artístico: iguras esguias, modeladas, formas puras, combinação
entre iguras e objetos, e o confronto/polaridade entre a bidimensionalidade da tela e a
airmação do espaço além dela, indicadoras de “valores plásticos insubmissos à iguração”473,
antevendo o mundo de tensões característica da sua obra. Relativamente ao desenho elogia as
“linhas luentes como rios474 que retas, quase, modelam paradoxalmente um corpo de alto a
baixo”. Remata o texto com um brinde à beleza e à inquietação, e num presságio a uma futura e
promissora carreira, escreve: “cedo a humanidade virá emaranhar-se nas suas linhas e nas suas
cores.”475
A exposição realizada na Portugália, constituiu um momento importante na carreira do
jovem artista; não só lhe proporcionou uma primeira experiência expositiva, como também,
reconhecimento público, que seria concretizado nas primeiras encomendas: uma pintura mural
com o título A História de Pedro e o Lobo para a antiga Sapataria Primor476 e um mural para o Café
Aviz.477
04. A 6ª (e última) Exposição Independente, realizada em Junho de 1950, integrou obras de: Américo
Braga, Escultura; António Cruz, Escultura (cabeça) e Aguarela; Arlindo Rocha com Abstracção e Torso,
Arthur da Fonseca com Pintura e Orbitas e Embriões; Augusto Gomes com O pequeno actor, Pintura
e O Constructor; Dordio Gomes com Gadanheiro; Eduardo Tavares com três peças designadas de
Escultura; Fernando Lanhas com retrato de Carlos F, e duas obras com a designação de abstracção;
Júlio Resende com Rapazes com Rede, A tigela Azul e Ponta Seca; Martins da Costa, com duas obras
com designação de Pintura; Nadir Afonso com três obras sob a designação de Pintura; Neves e
Sousa com Pintura, Querubim Lapa com Pintura478, Rui Pimentel com Mulher e Carro de Bois e
473 SOARES, Maria Leonor Barbosa. “Eduardo Luíz Na ordem a desordem: ampliando a experiência da representação
em pintura”. Em Revista da Faculdade de Letras Ciências e Técnicas de Património. I Série, vol.III. p. 111. Porto: 2004. Disponível em:
http://ler.letras.up.pt/uploads/icheiros/4086.pdf
474 António Reis in prefácio do catálogo da exposição Eduardo Luíz. Porto: Livraria Portugália, 1950.
475 Ibidem.
476 A Sapataria Primor situava-se no Largo dos Lóios,nº 60, no Porto.
477 Cf. SOARES, Leonor. Eduardo Luíz Uma obra síntese de lições e de Tempos. Porto: Tese de Mestrado não publicada.
478 “A peça que no catálogo está designada de Pintura, lembro-me muito bem, na verdade era um guache. Representava uma
98
A galeria de arte da Livraria Portugália
Amândio Silva com Retrato e Pintura.
Fernando Guedes assina um texto, publicado na revista Portucale,479 onde traça o panorama
geral desta exposição, referindo que no “capítulo da arte moderna, representa o acontecimento
mais importante do ano.” Começa então por enfatizar as qualidades do pintor Júlio Resende e
as suas “extraordinárias faculdades plásticas” nos óleos apresentados. Relativamente a Lanhas
e Nadir, que embora seguindo caminhos distintos, aponta-lhes o mesmo domínio da temática:
“nas formas, cores, superfícies e volumes – sabedores dos imperativos formais da abstracção.”
Adianta ainda: “o que em Lanhas é inteligência, relexão, linha adivinhadamente estudada
até à saturação, em Nadir é sangue, ímpeto, luxuria e cor, excesso consciente.” Relativamente
a Artur da Fonseca, considera estar ainda no ponto intermédio da abstração, no entanto com
interesse no que diz respeito ao desenho e ao colorido. De Rui Pimentel, refere “trazer obras
interessantes”, apesar de ainda estar demasiado vinculado ao mestre, assim como Martins da
Costa que embora interessante, acusa de se colar à obra Árvores de Roualut . Acusa ainda Neves
e Sousa Querubim e Amândio de exporem obras abaixo das suas possibilidades. Para a parte
inal do texto remete Augusto Gomes e Dordio Gomes, dois pintores “mais velhos”, com lugar
já conquistado no panorama artístico português a quem estende largos elogios. Na escultura,
o relevo vai para as quatro esculturas em cerâmica de Américo Braga, em detrimento das de
António Cruz e Eduardo Tavares.
balanço anual
Este ano assinalou a estreia do jovem pintor Eduardo Luíz. Ainda a realização da 6ª [e última]
Exposição Independente, exposição coletiva assim como exposições de vários alunos da EBAP:
António Aires, Querubim Lapa e Lagoa Henriques, Martins da Costa, Arthur da Fonseca,
Aníbal Alcino.
A representação de artistas estrangeiros, menor que nos outros anos, esteve a cargo de Hein
Semke, Margarida Schimmelpfennig e Hanide Vila Novas.
O grupo de artistas que regressou à galeria, neste ano é constituído por: João da Câmara Leme,
Carlos Ramos, Maria das Dores, Domingos Lopes, Arthur da Fonseca, Aníbal Alcino, Hébil,
Carlos Carneiro, Isolino Vaz. Dos catálogos encontrados, o único que integrava texto de artista
era o da exposição de Eduardo Luíz de autoria de António Reis.
mulher, uma igura muito esguia, comendo um pão. Foi comprada pelo Mestre Dordio Gomes”. E remata: “1 000$00 naquela
altura foi uma loucura!Foi uma festança enorme!” Querubim Lapa em conversa com a autora em Dezembro de 2012.
479 Portucale nº 28-30 de Out. a Dez. de 1950.
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A galeria de arte da Livraria Portugália
1951
exposições identiicadas
No último ano de atividade da galeria, registamos entre Janeiro e Junho (data do último
registo encontrado), treze exposições: Exposição Pomar (pintura, pequenos estudos, desenho,
escultura, cerâmica)[ig. 160]480 e Em Portugal 1ª Apresentação de Arte Abstracta de Joaquim Ferrer
(pintura) [ig. 161]481 em Janeiro; Domingos Lopes, Sonia Horvath482(pintura de retratos)483e Exposição
de trabalhos arquitectónicos484 (projectos e anteprojectos para restaurante/balneário/dancing)485 em
Fevereiro; José Contente (pintura, desenho e gravura) 486e José Bastos expõe óleo e aguarela [ig. 162] em
Março; Costa Júnior, José Penicheiro487 (bonecos em madeira policromados)488 e Miniaturas e pequenos
quadros de Maria das Dores [ig. 163] em Abril; João da Câmara Leme em Maio; Exposição de Hansi Stael
e Hein Semke489(respetivamente, desenhos e cerâmicas), e Exposição de Maria Paulina Teixeira Botelho
de Carvalho (Chanceleiros), em Junho.
exposições destacadas
01. Exposição Pomar 02. Em Portugal, 1ª Apresentação de Arte Abstracta de Joaquim Ferrer.
01. Neste ano, Júlio Pomar, já a residir em Lisboa, regressa ao Porto para uma segunda exposição
na Portugália, realizada entre 10 e 15 de Janeiro. Apresenta uma produção diversiicada perfazendo
um total de 77 obras, entre as quais: 16 pinturas, 5 pequenos estudos, 20 desenhos, 8 esculturas,
24 cerâmicas, e 4 peças sobre poemas de Armindo Rodrigues - peças únicas executadas na
Cerâmica Bombarralense, L.da.. Parte desta produção diversiicada, foi realizada ainda durante os
anos de permanência no Porto490. Apresenta as pinturas491: Carvoeiras, O Golo, Menina com um galo,
480
Jornal de Notícias de 11 de Janeiro de 1951, p. 3.
481 Jornal de Notícias de 23 de Janeiro de 1951, p. 3.
482 Sonia Horvath (?- 2009). Pintora húngara exilada em Portugal, desde a ocupação da Hungria pela Alemanha. Residia em
Malveira da Serra. Informação disponível em: http://m.dn.pt/m/newsArticle?contentId=3266716&related=no
483
Jornal de Notícias de 11 de Fevereiro de 1951, p.6.
484 Inaugurada a 21 de Fevereiro de 1951, esta exposição, fez parte do concurso Lusalite foi organizada pela revista Arquitectura
em colaboração com a Corporação Mercantil Portuguesa, na qual participaram vários arquitectos das gerações modernas. Os
trabalhos foram expostos, depois de devidamente apreciados por um júri, com o intuito de promover o emprego de determinados
materiais na construção fabricados em Portugal e de grande valor na construção civil. Os projetos e ante-projetos apresentados,
surgem como resposta a um programa que incluía o projeto de um restaurante/balneário/dancing. Informação obtida em: Jornal de
Notícias de 23 de Janeiro de 1951, p.3.
485
Jornal de Notícias de 21 de Fevereiro de 1951. p. 3.
486 Jornal de Notícias de 28 de Fevereiro de 1951. p. 3.
487 José Penicheiro (n. 1921). Caricaturista e ilustrador, colaborou em vários jornais como A Bola, Os Ridículos, O Sempre
Fixe, A Bomba. Fez publicidade, projetos de stands e pavilhões de feiras e exposições em Portugal e no estrangeiro. Em 1971, foi
co-fundador do Círculo Experimental dos artistas Plásticos de Aveiro – Aveiroarte. Desde 1971, dedica-se exclusivamente à
pintura. Informação obtida em : http://www.galeriaalima.com/products/ze-penicheiro/
488 Jornal de Notícias de 13 de Abril de 1951, p. 3.
489
Hein Semke expôs 53 cerâmicas, segundo lista de obras expostas cedida pela viúva do artista.
490 ALMEIDA-MATOS, Lúcia. “Júlio Pomar no Porto” … (Op. cit), p.153.
491 Os óleos estão todos identiicados em: POMAR, Alexandre, PLEYNET, Marceline. Júlio Pomar, Catálogo Raisonné I.
Pinturas, Ferros e Assemblages 1942-1968. Paris, Lisboa: Editions de la Différence/Artemágica, 2004.
100
A galeria de arte da Livraria Portugália
Subúrbio 1, Subúrbio 2, Meninos num jardim, Varina Comendo Melancia, O Alcantra, Cabouqueiro, Mulheres
do Porto, Mulheres na praia, Na Cozinha, Mulheres no cais, O carro na calçada, Na estrada de Aveiro, Cabeça
de Mulher. Nestas pinturas, registam-se “ensaios que variam de quadro para quadro”492. Por um
lado, uma abordagem à temática infantil, protagonizada pelas crianças, intérpretes principais em
cenas de grande dinamismo;493 por outro lado, cenas de âmbito mais familiar como Na cozinha e
Mulheres no cais; ainda outras obras onde a predominância da composição geométrica assume o
principal papel - Cabouqueiro e O Alcantra e, explorando esta vertente, Varina comendo melancia, numa
notória aproximação a Picasso, que o artista tantas vezes referira nos seus textos.494
Embora não tenhamos procedido à identiicação dos desenhos, os seus títulos apontam
para temáticas semelhantes às dos óleos e a trabalhos mais antigos do artista, nomeadamente
numa recorrente alusão às crianças com os trabalhos Menina com tigela, Menina assustada e Menina
com peixe; remetendo para ofícios e trabalhos populares, com Varina e Pescador com fateixa, e ainda
com alusões à fruta com As mãos e os frutos. A inclusão dos retratos do arquitecto Viana de
Lima e da escritora Ilse Losa enriquecem este leque de possibilidades temáticas. No trabalho
cerâmico, veriica-se, a par da temática infantil - Menina quieta, Menina solta, Menino correndo,
alusões ao mar com as obras Peixe, Sereia e ao universo animal com Cavalo vendado, Ave heráldica,
Tourada ou Abutre.
O Jornal de Notícias495 elogia o artista, airmando que este “caminha intencionalmente
na vanguarda”, consequência do seu talento, que lhe proporciona enveredar por diversas
“modalidades plásticas.” A respeito da variedade de meios e técnicas utilizadas pelo artista
nas obras expostas, refere que estes “devem ser a linguagem nova que traduza o que de outro
modo se não pode dizer, e porque é subjetiva, deve procurar aquela Harmonia- principio e
im – fogo sagrado de todo o movimento criador.” Acerca da heterogeneidade presente na
exposição, “No atelier da sua intimidade é tão natural que brotem espontâneas as concepções
equilibradas e límpidas como as mais tresloucadas tentações na interpretação da Beleza; quantas
vezes a Verdade pode encontrar-se na loucura...” Adverte porém para os inconvenientes que
a diversidade dos trabalhos pode trazer, pelo que o artista terá de ser sensato na distinção:
“conjunto de trabalhos deste expositor onde a par de “Subúrbio”, Mulheres no Cais”, “Galo”,
“O carro na Calçada”, sem duvida de um equilíbrio construtivo à altura, do espirito com que
foram realizados, se vêm outros em que aliás as faculdades pictóricas se mantêm mas airmam
pelo menos aparentemente certa indisciplina aparentemente dispensável.” Quanto às qualidades
do artista enquanto ceramista, refere: “Como ceramista, ou melhor, como pintor cerâmico, Julio
Pomar revela-se um realizador de grande interesse sendo algumas das produções apresentadas
- Menina Quieta, O Abutre, Tourada, prova inequívoca da sua requintada sensibilidade.”
492 POMAR, Alexandre, citado por ALMEIDA-MATOS, Lúcia. “Júlio Pomar no Porto” … (Op. cit), p. 153.
493 ALMEIDA_MATOS, Lúcia. “Júlio Pomar no Porto” … (Op. cit),p. 153.
494 ALMEIDA-MATOS, Lúcia. “Júlio Pomar no Porto” … (Op. cit),p. 153.
495 Jornal de Notícias de 11 de Janeiro de 1951, p. 3.
101
A galeria de arte da Livraria Portugália
02. Como pintor auto-didata, Joaquim Ferrer,496 um escritor ligado à corrente neo-realista e
ao movimento literário e artístico de Coimbra, apresenta na Portugália uma exposição de arte
abstrata. Supomos que, pela proximidade das datas, tratar-se da mesma (ou sobre a mesma
temática) que nesse mesmo ano apresentaria na galeria do Diário de Coimbra (em itinerância)
e referenciada já por Rui-Mário Gonçalves,497 como uma “exposição incipiente, com alguns
quadros abstractos com títulos irónicos”. Esta exposição, viria a provocar escândalo na época.
O escritor, recém regressado de Paris após um exílio de 3 anos, supondo ser o primeiro
em Portugal a apresentar arte abstrata, no catálogo anuncia: “Em Portugal, 1ª apresentação de
arte abstracta - com uma introdução de temas igurativos”.
A exposição integra 50 obras, cujos títulos diversiicados remetem para cenários bem
distintos e desconcertantes como: Uma ponte do Sena, O Chateau de Guilherme Tell, Paisagem com
Piscina, O Jovem Conde de Barcelos Cavaleiro e Poeta ou A maravilhosa viagem a parte nenhuma. O catálogo,
um desdobrável em papel de embrulho, integra, além da enumeração das obras expostas, dois
textos: um de Pablo Picasso, outro de Leon Degand, crítico de arte e um dos maiores defensores
da arte abstracta. Em relação aos trabalhos expostos, O Jornal de Notícias498, referia: “devem
causar sensação entre os apreciadores da moderna arte de pintar.”
balanço anual
O ano de 1951 marca o regresso de Júlio Pomar à Portugália numa grande e
multifacetada exposição onde o artista mostra o resultado de vários anos de trabalho utilizando
diversas técnicas e meios. Registamos ainda exposições de três artistas estrangeiros residentes
em Portugal: Sonia Horvath, Hein Semke e Hansi Stael.499 A inclusão de uma exposição de
trabalhos arquitetónicos, organizada pela revista Arquitectura, marca ainda um momento de
exceção na restante programação. Artistas autodidactas: Joaquim Ferrer, Domingos Lopes e
José Penicheiro. Artistas que regressaram: Júlio Pomar, Domingos Lopes, José Bastos, João da
Câmara Leme e Hein Semke. A única produção escrita em catálogo encontrada para este ano
foi de Joaquim Ferrer no seu próprio catálogo.
496 Joaquim Falcão Marques Ferrer (1914-1994). Escritor ligado ao movimento literário e artístico de Coimbra, Lisboa,
inserido na corrente neo-realista. O seu primeiro romance Rampagodos, foi apreendido pela censura. De 1943 a 1949 vive em
Paris. Em 1951 foi para o Brasil, instalando-se primeiro em S. Paulo, onde dirigiu a revista Atlante e depois no Rio de Janeiro.
Regressa a Portugal após o 25 de Abril, onde viria a exercer funções na Secretaria de Estado da Cultura, no Gabinete de
Relações Culturais Externas e no Instituto Português do livro, até 1984, ano da sua aposentação. Informação obtida em: http://
notascomentarios.blogspot.pt/2013/02/milhares-de-paginas-ineditas-de-um.html
497 GONÇALVES, Rui- Mário. De 1945 à Actualidade … (Op. cit.). p. 64.
498
Jornal de Notícias de 23 de Janeiro de 1951, p. 3.
499 Hansi Stael (1913-1961). Artista húngara, formada em Artes Gráicas pela Escola de Artes e Ofícios de Viena. Depois
da chegada a Portugal em 1946, vinda de Estocolmo, onde havia permanecido durante a Guerra, colaborou com a Fábrica
de cerâmicas Secla entre 1950 e 1957, tendo fundado o Estúdio Secla. In PAMPLONA, Fernando. …. vol V. (Op. cit). p. 257. e
em http://ceramicamodernistaemportugal.blogspot.pt/2012/03/jarro-hansi-stael-secla.html
102
Galeria de Imagens
A galeria da Livraria Portugália . Imagens
Fig.51
Estudo para artigos de papelaria da
Livraria Portugália, 1945
graite s/ papel
16,4 x 20 cm
col. particular
Fig.52
Estudo para artigos de papelaria da
Livraria Portugália, 1945
graite s/ papel
16,4 x 20 cm
col. particular
LI
A galeria da Livraria Portugália . Imagens
Fig.53
Papel de embrulho da
Livraria Portugália, 1945
impressão em azul s/ papel
de embrulho
29,5 x 43,5 cm
col. particular
LII
A galeria da Livraria Portugália . Imagens
Fig.54, 55 e 56
Marcadores de livros para a
Livraria Portugália, 1945
impressão s/ cartão
4,2x15,4 cm.
5000 ex. - Imp. Portuguesa, Porto.
LIII
A galeria da Livraria Portugália . Imagens
Fig.57
Estudo de lettering para a coleção
“Paralelo” a ser integrada na
Livraria Portugália, 1945
tinta da china e guache s/ papel
vegetal
17 x 10 cm
Obs.: nunca foi editado
Fig.59
Ex-Libris para a Livraria
Portugália, 1945
Fig.58
Maqueta para capa do livro
“Os últimos homens da
lua” de Lorenzo di Poppa,
Portugália Editora, 1945
tinta da china e guache e
colagem s/ papel couché
13,6 x 19,6 cm
Obs.: não foi publicado com
esta capa
LIV
Março
Abril
Jul-Ago-Set
Junho
Maio
Novembro
Outubro
Dezembro
21 de Março
Inauguração da
Livraria Portugalia.
Fevereiro
1945
Janeiro
ig 61. Ayres de Carvalho
Porto: Livraria Portugalia,
1945.
ig 62. Aguarelas de
Júlio Resende
Porto: Livraria Portugalia,
1945.
ig 63. Carlos Carneiro
Porto: Livraria Portugalia,
1945.
Exposição de Pintura
de Alberto Hébil
ig 64. Aguarelas e
Desenhos de Paulo Ferreira
Porto: Livraria Portugalia,
1945.
ig 65. Exposição Júlio
50 desenhos a nanquin
Porto: Livraria Portugalia,
1945.
ig 66. Desenhos de
Maria Helena Cordeiro
Porto: Livraria Portugalia,
1945.
Exposição de
Martins da Costa
ig 67. Exposição de
Gretchen Wohlwill
Porto: Livraria Portugalia,
1945.z
Exposição de
Mart Huguenin
1946
ig 60. Exposição de
Pintura Portuguesa
(séc. XIX-XX)
Porto: Livraria Portugalia, 1945.
O
Exposição de António
Fernandes
ig 71. Exposição de
Anne Marie Jauss
Porto: Livraria Portugalia,1946
ig 73. 20 anos de pintura
Exposição Dordio Gomes
Porto: Livraria Portugalia,1946
ig 72. Júlio Resende
Porto: Livraria Portugalia,1946
Exposição de Frederico
George
Exposição de pintura
ig 74.Exposição de
a óleo de Magalhães
António Soares
Filho
Porto: Livraria Portugalia,1946
ig 75.Exposição de óleo, pastel e escultura Exposição de Martins
de David Sousa e pirogravura e Maria Júlia
da Costa
Porto: Livraria Portugalia,1946
Exposição de aguarelas
de João Tavares
Exposição de pintura a ig 76. Exposição de desenhos de ig 77. Exposição de Maria do Carmo e
Martin Maqueda
Maria Madalena Sequeira Cabral
óleo de António Dinis
Porto: Livraria Portugalia,1946
Porto: Livraria Portugalia,1946
1947
ig 68. Carlos Ramos
ig 69. 4ª Exposição Independente
Porto: Livraria Portugalia,1946 Porto: Livraria Portugalia,1947
ig 87. Júlio Pomar
Mãi e Filho, 1946
Tinta de china
ig 70. 4ª Exposição Independente.Porto, galeria da Livraria Portugalia, Janeiro de 1946
s/ papel vegetal
Da esq para a dir: ?, Júlio Resende, Martins da Costa, Maria da Conceição,
27,5 x 21,5 cm
Israel Macedo[?], Rui Pimentel, ?, Dordio Gomes, Neves e Sousa, Aníbal
Col. particular
Alcino, Fernando Lanhas, Nadir Afonso, Eduardo Tavares, Arlindo Rocha
ig 88. Júlio Pomar
ig 89.
O Velho do Saco, 1946
Tinta de china
s/ papel vegetal
27,5 x 21,5 cm
Col. particular
ig 90.
Júlio Pomar
Mulher deitada no cais, 1946 [estudo]
Lápis s/papel
21,5 x 27,5 cm
Col. particular
ig 93. Júlio Pomar ig 94. Júlio Pomar
ig 91. Júlio Pomar
ig 92. Júlio Pomar
Farrapeira, 1947
O Almoço, 1946 [estudo]
O Miúdo da Água, 1946 Ardina, s.d.
Tinta de china
Tinta de china
Lápis s/ papel
Tinta de china
s/ papel vegetal
s/ papel vegetal
21,5 x 27,5 cm
s/ papel vegetal
27,5 x 21,5 cm
27,5 x 21,5 cm
Col. particular
27,5 x 21,5 cm
Col. particular
Col. particular
Col. particular
Júlio Pomar
Música da rua
(Romaria),1946
Lápis s/ papel
27,3 x 21,7 cm
Col. particular
ig 95. Júlio Pomar
La fora é o sol
(Prisioneiro e guarda), 1947
Lápis s/papel
21,5 x 27,5 cm
Col. particular
ig 96. Júlio Pomar
ig 97.
O estivador, 1947
Caneta s/ papel vegetal colado s/ cartolina
25,5 x 21 cm
Col. particular
Júlio Pomar
Jovem, s.d.
Tinta de china
s/ papel vegetal
27,5 x 21,5 cm
Col. particular
ig 98. Júlio Pomar
À janela [estudo], s.d.
Lápis s/ papel vegetal
c. 21 x 27,5 cm
Col. particular
ig 99. Júlio Pomar
Nú deitado [estudo], s.d.
Tinta de china
s/ papel vegetal
21,5 x 27,5 cm
Col. particular
ig 100. Júlio Pomar
A vaga, 1947
Tinta de china
s/ papel vegetal
27,5 x 21,5 cm
Col. particular
ig 101. Júlio Pomar
O eixo corrido, 1947
Tinta de china
s/ papel vegetal
27,5 x 21,5 cm
Col. particular
ig 102. Júlio Pomar
ig 103.
Menina com um cão, 1947
Tinta de china
s/ papel vegetal
27,5 x 21,5 cm
Col. particular
ig 105.Júlio Pomar
Júlio Pomar
ig 106.
ig 104. Júlio Pomar
Meninos dormindo, 1947
A conidência, 1947
Retrato de M.V., 1947
Tinta de china
Tinta de china
Lápis s/ papel
s/ papel vegetal
s/ papel vegetal
27,6 x 21,8 cm
21,5 x 27,5 cm
27,5 x 21,5 cm
Col. particular
Col. particular
Col. particular
Júlio Pomar
Menina com um galo,1947
Tinta de china
s/ papel vegetal
27,5 x 21,5 cm
Col. particular
O
ig 79. Carlos Carneiro
Porto: Livraria Portugalia,1947
ig 80. Exposição de pin- ig 81. Exposição de Pedro Exposição de aguarelas
de Armengol Terrés
tura de António Silva
Leitão
Porto: Livraria
Porto: Livraria
Portugalia,1947
Portugalia,1947
ig 82. Exposição de pintura de António Fernandes
Porto: Livraria
Portugalia,1947
Exposição de Alberto Hébil
ig 83. Exposição de óleos,
aguarelas e gouche de
Margarite Janes
Porto: Livraria Portugalia,1947
Exposição de desenhos de
Alfredo Furiga
ig 84. Exposição de
Gretchen Wohwill
Porto: Livraria
Portugalia,1947
ig 107. Exposição de
António Sampaio
Porto: Livraria
Portugalia,1947
ig 85. Exposição de pintura de ig 86. Pomar expõe 25 desenhos
Maria Emilia de Barbosa Viana Porto: Livraria Portugalia,1947
Porto: Livraria Portugalia,1947
Exposição de Carlos
Carneiro
ig 108. Exposição de
Neves e Sousa
Porto: Livraria
Portugalia,1947
Exposição de Martin
Maqueda
ig 109. III Exposição
Anual de Martins da Costa
Porto: Livraria
Portugalia,1947
1948
ig 78. A. Alcino
Porto: Livraria Portugalia,1947
Exposição de pintura
de Alberto Hébil
ig 110. 5ª Exposição
Independente
Porto: Livraria Portugalia,
1948
Exposição de pintura a
óleo de José Bastos
Exposição de pintura a ig 114. Exposição de pin- Exposição de desenho ig 115. Arthur da Fonseca
óleo de Carlos Ramos
tura de Madame Bizet e pintura de Gretchen Porto: Livraria Portugalia,
1948
Porto: Livraria Portugalia,
Wohlwill
1948
Exposição de pintura a
óleo de Anibal Alcino
ig 116. Carlos Carneiro
Porto: Livraria Portugalia,
1948
Exposição de
pintura a óleo de
António Fernandes
Exposição de
Portela Júnior
Exposição de
aguarelas de
Dimas Macedo
Exposição de
pintura a óleo de
Alejandro Alfonso
Exposição de Joan
Kendall
ig 118. Aspectos de Paris
Porto: Livraria Portugalia,
1948
ig 119. Isolino Vaz
Porto: Livraria Portugalia,
1948
ig 120. Aníbal Alcino
Porto: Livraria Portugalia,
1948
Exposição de
pintura de
Joaquim Ascencio
1949
Exposição de
trabalhos ao ar livre e
paisagens de Jorge Pais
Mamede
ig 111. Com Forma no atelier de Fernando
Lanhas e Fernando Távora.
Da esq. para dir: Nadir Afonso,
Fernando Lanhas Rui Pimentel e
Fernando Távora. Porto, 1948
ig 117. Convite para exposição de Carlos Carneiro
Porto: Livraria Portugalia, Maio 1948
ig 113. Desenhos realizados na 5ª Exposição Indepedente
Porto, galeria da Livraria Portugalia, 1948
ig 112. 5ª Exposição Independente.
Porto: galeria da Livraria Portugalia, 1948
Da esq. para dir: ?, Martins da Costa, Amândio Silva,
Fernando Lanhas, Neves e Sousa, ?
ig 121. Porto: galeria da Livraria Portugalia.
Da esqª para a dirª: Amândio Silva, Pierre-Marie Dubois, Carlos
Figueiredo, Fernando Guedes, Fernando Lanhas, Júlio Resende.
À frente, sentado, Arlindo Rocha.
ig 127. Exposição de Júlio Resende
Porto, galeria da Livraria Portugalia, Abril 1949
Da esq para a dir; atrás, em pé: Teixeira da Rocha, Amândio
Silva, Rui Pimentel, Nadir Afonso.
À frente: Fernando Lanhas, Júlio Resende e Alberto de Serpa
ig 125.Maqueta para catálogo de Exposição Infantil
ig 133. Convite para exposição de Maria Leonor Praça
Porto: Livraria Portugalia, Novembro 1949
ig 134. Inauguração da exposição de Maria Leonor Praça.
Porto: galeria da Livraria Portugalia, 21 de Novembro de 1949
Da esq para a dir: Fernando Lanhas, ?, Luís Praça, Cândida Praça,
Eng. Godinho, Maria Leonor Praça, Jorge Barradas, ?, Francelina
Rodrigues, Jaime Isidoro e Martins da Costa
X
Exposição de
pintura a óleo de
Domingos Lopes
Exposição de óleo e
aguarela de
Jaime Isidoro
ig 124. Exposição Infantil
Porto: Livraria Portugalia, 1949
Exposição de óleos e
ig 126. Resende
aguarelas de José Bastos Porto: Livraria Portugalia,
1949
Exposição de aguarelas,
desenho e cerâmica de
Beatriz Campos
ig 128. Alguns Aspectos da Suíça Exposição de miniatu- Exposição de pintura
Porto: Livraria Portugalia, 1949 ras a óleo de Maria das de Martins da Costa
Dores Alves Afonso
Exposição de pintura a
óleo de Melo Júnior
ig 129. Nadir
Porto: Livraria Portugalia,
1949
ig 130: Oddvard Straume Exposição de pintura ig 131. Exposição de Amparo
Porto: Livraria Portugalia, a óleo de Fernando Palacios e Fernando Escrivá
Pereira
Porto: Livraria Portugalia,
1949
1949
Exposição de
óleos,desenhos e
aguarelas de Martins
da Costa
ig 132. Maria Leonor Praça
Porto: Livraria Portugalia,
1949
Fig135. Exposição de
pintura de Neves e
Sousa
ig 136. Óleos antigos e
desenhos recentes de Júlio
Porto: Livraria Portugalia,
1949
1950
Exposição de pintura
ig 123. Arthur da Fonseca
de António Fernandes Porto: Livraria Portugalia, 1949
Exposição de
pintura de Túlio
Vitorino
X X
Exposição de
Desenhos de João da
Câmara Leme
Exposição de
Mendes da Silva
Exposição de
António Silva
Exposição de
Exposição de pintura
Lagoa Henriques, António Aires e Carlos Ramos
Querubim Lapa
Exposição de
miniaturas de Maria
das Dores Alves Afonso
Exposição de
Exposição de
Domingos Lopes Cerâmicas de Hein
Semke e Margarida
Schimmelpfennig
Exposição de
Exposição de
Arthur da Fonseca trabalhos em carneira
de Maria Júlia
Exposição de
Aníbal Alcino
ig 145. Eduardo Luíz
Porto: Livraria Portugalia,
1950
Exposição de pintura
de Costa Júnior
Exposição de pintura
de Alberto Hébil
ig 156. 6ª. Exposição
Independente
Porto: Livraria Portugalia, 1950
ig 157. António Sampaio
ig 159. Carlos Carneiro
Porto: Livraria Portugalia, 1950 Porto: Livraria Portugalia, 1950
ig 138. Exposição de Hein Semke e Margarida Schimmelpfennig
Porto, galeria da Livraria Portugalia, Abril de 1950
ig 139. Exposição de Hein Semke e Margarida Schimmelpfennig
Porto, galeria da Livraria Portugalia, Abril de 1950
ig 140. Hein Semke
ig 141. Hein Semke
ig 142. Hein Semke
Ainda estou vivo
O Poeta, c.1949
O Torso Negro, c.1947
(Ich lebe noch),c.1949
cerâmica vidrada
cerâmica vidrada
terracota
34,5 x 16 x 12 cm
82 x 27 x 25 cm
48,6 x 19 x 12 cm
Col. particular
Col. Museu de Évora
Col. particular
ig 144. Hein Semke
Máscara,1939
Exposição de aguarela
e desenho de César
Augusto Abbott
Exposição de pintura de Mária Luíza da
Costa Cruz Lima
ig 158. António
Sampaio.
Manuscrito/
relação de obras e
preçário para exposição a realizar
em Outubro de
1950
ig 143.Hein Semke
Peixe-Máscara,c.1946
ig 137. Exposição de Hein Semke e Margarida Schimmelpfennig
Porto, galeria da Livraria Portugalia, Abril de 1950
Exposição de retratos
Exposição de
ig 160. Exposição Anual de
de Isolino Vaz
bonecos e abat-jours
pintura de Martins da Costa
de Hanide Vila-Novas Porto: Livraria Portugalia, 1950
ig 146. Eduardo Luíz
s/título, 1950
pintura a fresco
s/ placa de madeira
124 x 70 cm
Col. particular
ig 147. Eduardo Luíz
s/título, 1950
pintura a fresco
s/ placa de madeira
124 x 70 cm
Col. particular
ig 148. Eduardo Luíz
s/título, 1950
pintura a fresco
s/ placa de madeira
124 x 70 cm
Col. particular
ig 149. Eduardo Luíz
s/título, 1950
pintura a fresco
s/ placa de madeira
124 x 70 cm
Col. particular
ig 150. Eduardo Luíz
s/título, 1950
pintura a fresco
s/ placa de madeira
70 x 124 cm
Col. particular
ig 151. Eduardo Luíz
ig 152.
Retrato de Júlia, 1950
óleo s/ tela
100 x 50 cm
Col. particular
Eduardo Luíz
s/título, 1950
óleo s/ tela
75,5 x 35 cm
Col. particular
ig 153. Eduardo Luíz ig 154. Eduardo Luíz
s/título, 1950
s/título, 1950
graite e carvão
graite e carvão
sobre papel
sobre papel
115 x 53 cm
100 x 40 cm
Col. particular
Col. particular
ig 155. Eduardo Luíz
s/título, 1950
graite e carvão sobre papel
117 x 85 cm
Col. particular
O
X
X
ig 161. Exposição Pomar
ig 162. Em Portugal 1ª AprePorto: Livraria Portugalia, 1951 sentação de Arte Abstracta de
Joaquim Ferrer
Porto: Livraria Portugalia, 1951
Exposição de
Domingos Lopes
O
Exposição de
Sonia Horvath
O
Exposição de
trabalhos arquitectónicos
Exposição de
José Contente
ig 163. José Bastos
expõe óleo e aguarela
Porto: Livraria Portugalia, 1951
Exposição de
Costa Júnior
Exposição de
José Penicheiro
ig 164. Miniaturas e pequenos
quadros de Maria das Dores
Porto: Livraria Portugalia, 1951
Exposição de
João da Câmara Leme
existe catálogo
não foi feito catálogo
O
Exposição de desenhos e Exposição de Maria Paulina
cerâmicas de
Teixeira Botelho de Carvalho
Hansi Staël e Hein Semke
(Chanceleiros)
Créditos fotográicos: Miguel Oliveira, 2012
1951
ig 122. Exposição de desenhos
e guaches de Raoul Deschamps
Porto: Livraria Portugalia,
1949
Conclusão
uma galeria moderna para arte moderna
Ao longo desta narrativa a três tempos, percorremos, todos os universos que conseguimos
alcançar relativamente a este espaço plural, que embora pensado em Lisboa, se ixou no Porto,
numa das mais prestigiadas artérias da baixa.
No inal desta investigação ancorada em documentação escrita e testemunhos orais,
constatámos a evidência de estarmos perante um espaço pioneiro na mostra de arte moderna,
de forma regular e programada, no Porto.
Num primeiro tempo, num enquadramento do panorama expositivo da época, traçámos
um percurso pelos diversos canais de que, nos anos 40, os artistas dispunham para o contacto
com o seu público: Que oportunidades e de que condições dispunham para expor? E o público, que oportunidades
tinha para ver a arte que se fazia à época?
Num segundo tempo, numa tentativa de reconstituir o diagrama de relações que deu
forma a este projeto, estudámos a atividade desenvolvida pela casa-mãe e traçámos o peril
biográico do seu principal protagonista, um industrial de sucesso, determinado nos negócios
e no seu gosto pelas artes; expusemos o projeto e apresentámos o seu arquiteto: um jovem e
ambicioso estudante e proissional em início de carreira.
Num terceiro momento, constatámos, após investigação exaustiva e consequente
relexão, a regularidade e a diversidade da programação; a direção artística, que pela ação
respetivamente de Victor Palla e Fernando Lanhas, correspondeu a dois momentos de destaque
nos anos de que nos ocupa este estudo, traduzidos numa realização programática e produção
gráica de qualidade, que ainda hoje podemos aferir.
A construção destes três momentos, foi feita com a precaução que re-apreciações como
esta exigem.
Os cerca de 70 anos que separam o tempo da ação e o do presente estudo, ao contrário
do que se poderia supor, não facilitou o distanciamento sempre necessário a uma investigação;
antes pelo contrário, o progressivo conhecimento dos factos, aguçou o respeito por esta geração
e pela notável obra que, juntos, conseguiram concretizar.
Inaugurada numa altura em que a realidade expositiva não apresentava grandes
perspectivas para os jovens artistas em início de carreira, principalmente para os que
enveredassem por uma “arte mais avançada”, a abertura da Portugália representou uma saída
do marasmo expositivo a que a cidade assistia.
Sublinhamos a abertura e disponibilidade que a Portugalia sempre teve, por meio de uma
atitude despreconceituosa e arejada, para que de forma sistemática, regular e programada se
abrissem as portas a manifestações artísticas mais avançadas, que na época procuravam canais
para a sua airmação.
103
A respeito desta postura descontraída da Portugália, lembra o poeta Pedro Homem de
500
Mello , frequentador da Livraria e da Galeria:
“Enquanto na “Tavares [Martins]” só param os com mais de trinta anos, e na “Figueirinhas”
os com mais de quarenta, a “Portugália” chama a si a juventude. Os “novos” lá entram e saem,
sentam-se fumam e discutem, sem que ninguém procure afastá-los.”
Esta postura, que desde o início da investigação se revelou uma característica essencial e
identitária da Portugália, permitiu que este lugar se tornasse simultaneamente palco e protagonista,
de alguns dos acontecimentos mais marcantes do início da abstracção portuguesa: a realização
das Exposições Independentes501, assim como diversas exposições individuais dos membros que as
compunham, alguns ainda estudantes da Escola de Belas-Artes do Porto.
A programação cruzada que encerra a tipologia Livraria/Galeria, conferiu-lhe ainda
outras qualidades, outras vocações que enriqueceram em larga medida a vivência deste espaço;
pela presença, interligação e colaboração estreita entre artistas, escritores e poetas, assim como
outras iguras da intelectualidade que aqui encontraram, a par dos cafés, dos ateliers e da própria
escola, um espaço de diálogo, convívio e discussão, tão necessária para a actividade relexiva
desta época de experimentações e transformações...
A importância deste espaço é neste momento inegável, sobretudo pelo trabalho com que
se ocupou durante os seus sete anos de existência, a preparar, informar e cultivar um público,
e, simultaneamente, criando um mercado que permitiu o aparecimento (e a sobrevivência) das
galerias de arte que depois surgiram no Porto nos anos 50: a Alvarez e a Divulgação.
A Portugália no desempenho da sua atividade, cumpriu o seu papel de divulgadora da
cultura, revelando novos talentos e contribuindo de forma ímpar, para a formação intelectual e
artística de toda uma geração, incluindo daqueles que viriam a ser designados por José-Augusto
França, de 3ª geração de artistas modernos502.
Sabemos à partida das ininitas abordagens que um assunto proporciona, pela
possibilidade de enfoques e re-enfoques vários de acordo com o discurso pretendido e os meios
disponíveis. Resta-nos porém a convicção de que todas as possibilidades de aproximação ao
tema que estavam ao nosso alcance foram abordadas, questionadas e estudadas - exceção ao
que se refere à atividade livreira e editorial, que, por não constituir o cerne desta investigação,
não foi aprofundada pelo que poderá constituir matéria para investigação futura.
Acerca da emergência de um pensamento novo, gerador de atitudes pioneiras, como as
protagonizadas pela Portugália, lembramos, em jeito de homenagem, algumas palavras de um
dos seus intervenientes mais ativos, Fernando Lanhas:
500 HOMEM DE MELO, Pedro, citado por VIALE MOUTINHO, José in ARVORE- COOPERATIVA DE ACTIVIDADES
ARTÍSTICAS. Antonio Sampaio O Homem e a Obra. Porto: Cooperativa Árvore, 2004. p. 42.
501 Nomeadamente a 4ª, a 5ª e a 6ª, em 1946, 1948 e 1950.
502 FRANÇA, José-Augusto. A Arte em Portugal … (Op cit.), p.271.
104
“O mundo já foi outro do que foi.
Entre a lógica de ser e o decepcionante acaso,
Falta o pensamento novo.
Depois que o mar caiu, o surgimento da vida.
O mais aconteceu no mar, que o mundo é muito de mar.
Na terra está o homem e, num instante, as maiores bibliotecas.
Mal reparamos na existência fabulosa que nós somos.
O homem será um dia algarismo?”
Fernando Lanhas, Câmbrico, Porto, 1997.
P.S- [Sobre o encerramento da Portugália]
Os motivos da rápida extinção da Portugália do Porto são desconhecidos: nenhum registo foi
encontrado que indique a data ou os motivos que levaram ao seu encerramento.
Carlos Porto503, no livro Livrarias & Livreiros Histórias Portuenses [1945-1994]504, aponta o
“desequilíbrio entre as elevadas apetências culturais da livraria, e a retração dos clientes”, como
estando na origem da sua extinção.
Esta leitura encontra eco nas palavras do poeta e escritor Alberto de Serpa em carta
enviada a Hein Semke já referida505, advertindo-o para a real situação económica vivida na
cidade do Porto, por forma a que este não fosse surpreendido pela falta de vendas.
“Mais uma vez o aviso de que não conte vender. Por mais acessíveis que sejam os preços,
no Porto hoje ninguém tem dinheiro para os Artistas. É do meu dever mostrar-lhe claramente
a situação, pois seria doloroso ser colhido de surpresa.”
A última exposição identiicada data de Junho de 1951506, antes do encerramento para
a época de Verão: supomos que depois das férias nunca mais tenha aberto.
503 José Carlos da Silva Castro, de pseudónimo Carlos Porto (Porto, 1930 – Lisboa, 2008). Poeta, dramaturgo e tradutor. Um
dos fundadores da Livraria Divulgação.
504 PORTO, Carlos. Livrarias e Livreiros Histórias Portuenses (1945-1994). Porto: Livraria Leitura,1994. p.42.
505 SERPA, Alberto – [carta] 1950 Março 10, Porto [a] Hein Semke [manuscrito]. 1950. 1f. Acessível no Arquivo de Hein
Semke. p. XLIV.
506 Cf. Cronograma Ilustrado. p. LV.
105
O último registo507 que diz respeito a esta morada, foi encontrado no Arquivo da
Câmara Municipal do Porto508e data de Fevereiro de 1953: refere-se a um pedido de licença
para obras de adaptação a um novo espaço, projeto de autoria do arquitecto Jorge Segurado,
cujo requerente é a irma J. C. Donas, L.da. Na verdade, trata-se da discoteca Vadeca que aí esteve
instalada até inais dos anos 80.509
Atualmente, no nº 210 da Rua 31 de Janeiro, está instalada uma loja de pronto a vestir.
507 “Requerimento” in [Projeto de licenciamento nº 121/53], 1953. Porto. Acessível no Arquivo da Câmara Municipal do
Porto
508 Os documentos escritos datam de Dezembro de 1952, apesar de o processo só ter dado entrada na Câmara Municipal
do Porto em Fevereiro de 1953.
509
106
Agradeço a informação ao Sr. Francisco Vasconcelos, gerente da Vadeca.
Referências bibliográicas
A Tarde [Todas as edições da página cultural Arte do ano de 1945]. Acessível no Arquivo da
BPMP.
AFONSO, Laura. A Crítica na Obra de Nadir Afonso. O caso das obras de título citadino. L i s b o a :
Universidade aberta, 2010. Tese de mestrado não publicada.[consultado em 10 de Outubro de
2012]. Disponível em: https://repositorioaberto.uab.pt/handle/10400.2/1724
ALMEIDA, Bernardo Pinto de. Introdução à História da Pintura Portuguesa no século XX. Porto:
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1949 . Acessível no arquivo de arq. Fernando Lanhas.
5ª Exposição Independente. [visual gráico]. Porto: Livraria Portugália, 1948 . Acessível no
arquivo de arq. Fernando Lanhas.
Com Forma no atelier de Fernando Távora e Fernando Lanhas.[visual gráico]. Porto: Livraria
Portugália, 1948 . Acessível no arquivo de arq. Fernando Lanhas.
Desenho realizado na 5ª exposição Independente. [visual gráico]. Porto: Livraria Portugália, 1948.
Acessível no arquivo de arq. Fernando Lanhas.
PALLA, Victor. Papel de embrulho para a Livraria Portugália [visual gráico]. [consult. a 10 de
Março 2013] Disponível em http://repositorio.ul.pt/handle/10451/6903
PALLA, Victor. Marcadores de livros para a Livraria Portugália [visual gráico]. [consult. a a 10
de Março 2013] Disponível em http://repositorio.ul.pt/handle/10451/6903
PALLA, Victor. Estudo de lettering para a colecção Paralelo a ser integrada na Livraria Portugália.
[consult. a a 10 de Março 2013] Disponível em http://repositorio.ul.pt/handle/10451/6903
PALLA, Victor. Estudo para artigos de papelaria para a Livraria Portugália. [consult. a a 10 de
Março 2013] Disponível em http://repositorio.ul.pt/handle/10451/6903
PALLA, Victor. Maqueta para a capa do livro”Os últimos homens da Lua” para a
Livraria Portugália. consult. a 10 Março 2013]Disponível em http://repositorio.ul.pt/
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PALLA, Victor. Ex Libris da Livraria Portugália.[visual gráico]. Porto: Livraria Portugália.
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