ferramentas métodos
BPMS
Ferramentas
integradas de
apoio à gestão
por processos
Existe um vasto conjunto de ferramentas BPM (Business Process Management), algumas baseadas em software
open source, de suporte à gestão por
processos, que contribuem para a qualidade de um produto ou serviço da organização. As Business Process Management Suites (BPMS) são um exemplo
dessas ferramentas tecnológicas que
permitem aos gestores controlar e gerir os seus processos. A aquisição de
uma BPMS é um processo complexo que
deve atender a vários critérios como a
rentabilidade, o custo total de propriedade, o valor potencial e o risco.
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A
gestão por processos, na sigla inglesa
Business Process Management (BPM),
sustenta que uma organização pode ser
vista como um conjunto de processos que,
quando bem orquestrados, maximizam os
seus resultados. Existem várias definições
para o ciclo de vida do BPM. A que aqui se
apresenta (ver figura 1) é a proposta por Wil
van der Aalst (2013), provavelmente a mais
concisa e interessante, em que o ciclo de vida
do BPM é composto por três fases: a fase de
(re)desenho do processo, em que se desenha
e modela o processo em questão; a fase de
implementação/configuração, em que o modelo
é transformado em código executável; e a
fase de execução/ajuste em que o processo
em questão é executado e monitorizado. No
caso de se necessitar de reajustes, inicia-se
novamente um novo ciclo de vida com nova
entrada na fase de (re)desenho.
A figura 1 apresenta ainda dois tipos de
análise distintos, um baseado no modelo e
outro nos dados. Enquanto o processo está em
execução são recolhidos dados que permitem
António Trigo é professor adjunto na área
de Sistemas de Informação de Gestão
no Instituto Superior de Contabilidade e
Administração de Coimbra, onde leciona
as unidades curriculares de Análise de
Sistemas de Informação, Business Intelligence e Sistemas de Informação de Gestão.
Licenciou-se em Engenharia Eletrotécnica
e doutorou-se em Informática. Trabalhou
como engenheiro de software e gestor de
projetos em várias empresas.
NOME
António Trigo
MAIL
[email protected]
analisar os processos, como por exemplo
possíveis estrangulamentos, desperdícios
ou desvios e que podem ser utilizados na
fase de re(desenho) dos processos tendo
em vista o seu aperfeiçoamento. Na fase de
re(desenho) podem utilizar-se técnicas de
análise dos processos, como a simulação,
que permitem analisar questões do tipo “e
se?” (van der Aalst, 2013).
as bpms
Para suportar o ciclo de vida do BPM são
necessárias ferramentas que permitam
suportar as diferentes fases do ciclo de
vida. Existem dois tipos de abordagem
para a seleção das ferramentas, uma é a
de encontrar ferramentas para cada uma
das fases do ciclo de vida, a outra é adotar
ferramentas tecnológicas que suportem
todo o ciclo de vida do BPM, conhecidas
como Business Process Management Suites
(BPMS), que permitam aos gestores controlar
e gerir os seus processos. A maior vantagem
das BPMS é a definição passo-a-passo dos
BPMS — Ferramentas integradas de apoio à gestão por processos
NOME
Fernando Belfo
1
Figura
Ciclo de vida do BPM
Adaptado de van der Aalst, 2013
MAIL
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Análise
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Fernando Belfo é professor adjunto na área de
Sistemas de Informação de Gestão no Instituto
Superior de Contabilidade e Administração
de Coimbra. É licenciado em Engenharia
Electrotécnica e doutorando em Tecnologias
e Sistemas de Informação. Participou no
desenvolvimento, suporte e consultoria em
sistemas de informação de gestão, onde é
crucial a orientação para os processos de
negócio. Tem publicadas duas dezenas de
artigos, alguns na área do BPM.
ba s
ea
da
[email protected]
Implementação/Configuração
processos, incluindo atividades manuais e
automatizadas, permitindo ter os processos
claramente definidos (Hill, Sinur, Flint, &
Melenovsky, 2006).
No site Business Process Incubator1, dedicado à temática do BPM, é possível encontrar
mais de centena e meia de fornecedores de
soluções BPMS, pelo que a escolha de uma
BPMS é tudo menos simples, a começar pelo
preço da implementação e manutenção da
solução (nem sempre é fácil obter dos fornecedores as políticas de preços das licenças).
Se se tratar de uma empresa de média ou
grande dimensão, as BPMS mais populares
abordadas por consultoras, como a Gartner
ou a Forrester, serão à partida as mais apropriadas. Também é possível encontrar no site
do Instituto Português de Business Process
Management2 uma lista de BPMS.
A consultora Gartner emite todos os anos
relatórios sobre os fornecedores das mais
diversas tecnologias, designados de Magic
Quadrants, que classificam os fornecedores
em quatro quadrantes. O relatório de 2010
da Gartner para as BPMS, denominado “Magic
Quadrant for Business Process Management
Suites”, analisa 25 fornecedores segundo
duas dimensões, capacidade de execução e
abrangência da solução, colocando-os em
quatro quadrantes: líderes, visionários,
desafiadores e os de nicho. No quadrante dos
líderes, que é aquele em que as soluções dos
fornecedores são melhores nas duas dimensões, estão, por esta ordem: Pegasystems,
IBM, Savvion, Appian, Metastorm, Software
AG, Global 360, Adobe e Oracle (Ras, Note,
Sinur, & Hill, 2010).
A consultora Forrester, por seu lado, identificou no primeiro trimestre de 2013 cerca de
52 fornecedores diferentes de BPMS, tendo
selecionado os seguintes 10 para análise
(Richardson & Miers, 2013): Appian 7, Bizagi
Go, Cordys Business Operations Platform,
BizFlow Plus da HandySoft, IBM Business Process Manager, NBPM da OpenText, Oracle BPMS
11g, Pega BPM da Pegasystems, webMethods
BPMS da Software AG e ActiveMatrix BPM da
Tibco Software. Destas, a BPMS mais importante foi a da Pegasystems, seguida depois
pela da IBM e pela Appian. Neste documento,
intitulado “The Forrester Wave™: BPM Suites”,
a Forrester apresenta ainda as principais
características das BPMS estudadas.
Outros dois relatórios da consultora Lustratus,
um que compara as BPMS da Appian, Oracle e IBM
e outro que compara as BPMS da Pegasystems,
IBM e TIBCO, apresentam as BPMS segundo
quatro critérios ou dimensões na perspetiva
dos compradores ou clientes e que são:
› Rentabilidade (time-to-value), entendida
como o tempo que irá demorar a implementar
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Figura
2
Critérios a considerar
na aquisição de uma BPMS
Redução
de custos
Manutenção
Fazer mais
com menos
Alterações
Assistentes de
configuração
rápida de
processos
Licenças
Rentabilidade
Valor
Potencial
Funcionalidades
Custo
Total de
Propriedade
Formação
Risco
Operacional
Financeiro
Caraterísticas
Estratégico
Extensões das
funcionalidades
Fornecedor
Cenários cobertos
Otimização
um projeto BPM com a BPMS escolhida (p.
ex.: a disponibilização de assistentes de
configuração rápida de processos conhecidos) e quando é que os benefícios se irão
começar a notar, por exemplo ao nível da
redução de custos;
› Custo total da propriedade (TCO – Total
Cost of Ownership), ou seja, qual a solução
que tem o menor custo de utilização (em
todas as etapas do ciclo de vida do BPM),
que inclui, entre outros, custos de manutenção, licenças e formação;
› Risco, que inclui não só os riscos operacionais, financeiros e estratégicos ao
nível da implementação e execução dos
processos, mas também o risco ao nível do
fornecedor designadamente no que toca à
sua longevidade e cumprimento dos níveis
de serviço acordados;
› Valor potencial da BPMS, ou seja, o que
é que é possível fazer com a solução em
causa; que tipo de situações são suportadas; quais as funcionalidades é que podem
ser estendidas; quais as possibilidades de
otimização dos processos em execução,
entre outros.
Em ambos os relatórios a Lustratus identifica
a solução da IBM como a mais abrangente,
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Níveis de serviço
Situações
de exceção
suportando tanto os processos de índole
operacional como os de índole estratégica,
bem como a que dá mais garantias de retorno.
A solução da Appian é ainda identificada como
sendo a mais rápida e eficaz na implementação de projetos ao nível departamental, em
que o foco está na otimização da interação
humana para melhorar a produtividade e
eficácia, especialmente com a ajuda das
mais recentes tecnologias de redes sociais
(Craggs, 2011a, 2011b).
as ibpms
A consultora Gartner propôs em 2012 um novo
conceito de BPMS, as iBPMS, em que o i é de
inteligente (em inglês intelligent) e pretende
focar um novo tipo de BPMS, que resultam
da evolução das atuais BPMS, mas focadas
na necessidade de adicionar inteligência às
operações de negócio através da introdução
de mais capacidade analítica nos processos
e nas ferramentas que os suportam. Esta
nova definição pressupõe a existência de
10 componentes fundamentais (Jim Sinur,
Schulte, Hill, & Jones, 2012):
› Um motor de orquestração de processos;
› Uma aplicação para a modelação de processos;
› Um componente para a gestão das alterações
dos conteúdos que suportam as instâncias
dos processos;
› Um componente para a gestão das interações das pessoas com os processos em
que estão envolvidas;
› Conectividade dos processos aos recursos
utilizados;
› Auditoria contínua aos processos;
› Ferramentas analíticas para suporte à
decisão assistida ou autónoma;
› Um componente para a gestão das regras
de negócio;
› Um componente para a monitorização e
ajuste dos aspetos técnicos da iBPMS;
› Um repositório de processos e componentes
de processos reutilizáveis.
Neste novo conceito, as BPMS de topo propostas
no “Magic Quadrant for Intelligent Business
Process Management Suites”, são: a versão
6.3 da PegaRULES Process Commander (PRPC)
da Pegasystems; a versão 6.6.1 da Appian
BPMS; a versão 7.5.1 da IBM Business Process Manager e a versão 7.5 da WebSphere
Operational Decision Management (ODM) da
IBM (Jim Sinur et al., 2012).
soluções open source
No caso das pequenas e médias empresas,
dependendo da sua dimensão, a abordagem
pode passar pela utilização de soluções mais
pequenas ou até gratuitas dos fornecedores
acima identificados. Um exemplo é a BizAgi,
que tem uma edição do seu software, designada de Bizagi BPM Suite Xpress Edition,
cuja utilização é gratuita até um máximo de
dez utilizadores.
O crescente interesse pelo BPM e pelo open
source levou a que nos últimos anos tenham
surgido e sejam ativamente mantidas muitas
soluções de BPMS (Wohed, Russell, ter Hofstede,
Andersson, & van der Aalst, 2009). Entre as
mais populares encontram-se: Bonita Open
Solution da BonitaSoft; jBPM da Red Hat; Activiti
da Alfresco; ProcessMaker e Intalio|BPMS da
Intalio. A título de curiosidade foram feitos
2.098.926 downloads da BPMS jBPM, desde
o seu lançamento em janeiro de 2003 até
setembro de 2013, no site sourceforge, um
site dedicado ao software open source, o
que mostra o interesse pelo software open
source nesta área, que pode também ser uma
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opção viável para as organizações. Convém
ainda realçar que alguns fornecedores de
software, como por exemplo a BonitaSoft
e a ProcessMaker, têm sistemas duplos de
licenciamento, ou seja, têm soluções open
source disponíveis, mas também têm outras
soluções proprietárias, tipicamente com mais
funcionalidades e capacidade, funcionando
as primeiras como fonte de captação de
clientes para as segundas.
Não obstante as consultoras Gartner e
Forrester serem os barómetros no mercado das BPMS, os seus conselhos podem
não chegar para que o decisor tome uma
decisão acertada, devendo ser entendidas
apenas como o início do caminho a percorrer na escolha de uma BPMS. Esse caminho
poderá passar também por sites dedicados
ao assunto, alguns de cariz social, como a
secção comunidade no site do BPM Institute3; Business Process Incubator1; ARIS
Community 4; IBM – Blueworks Live5; BP
Trends6, entre outros.
A escolha de uma BPMS deve ter em conta
um conjunto de critérios que podem organizar-se de acordo com a figura 2. Nesta
escolha é também fundamental conhecer
os requisitos do negócio e das tecnologias
de suporte. Conhecer os requisitos do negócio da organização inclui saber se esta
está organizada de acordo com a lógica dos
processos e, caso não esteja, saber se está
disponível a abordar este novo tipo de gestão
por processos. Por último, mas não menos
importante, convém realçar que a escolha
de uma BPMS, como qualquer outra solução
integrada de TI, conduz a um custo de fidelização sempre significativo, pelo que convém
ter o maior cuidado na escolha da mesma
para assegurar a sua adequação e retorno
económico. Se, por exemplo, uma BPMS que
fornece assistentes para a automatização dos
processos, como a da Pegasystems, é muito
útil e eficaz na implementação de processos
conhecidos (standard), já a sua customização
é um processo mais complicado, onde uma
equipa de profissionais experientes poderá
fazer a diferença.
Apenas uma nota relativa à importância do
alinhamento estratégico dos processos, para
referir o papel fundamental das arquiteturas
organizacionais (Business Architectures),
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que expressam a estratégia organizacional,
na ligação entre a estratégia do negócio e
os processos. Para modelar uma Business
Architecture é necessário escolher ferramentas apropriadas, com critérios diferentes
dos usados para selecionar ferramentas de
processos. Não é fácil as BPMS integrarem
funcionalidades adequadas à modelação
estratégica das organizações.
Numa breve abordagem ao impacto do BPM
na Qualidade, destaca-se o facto da norma NP
EN ISO 9000:2008 promover a adoção de uma
abordagem por processos para o desenvolvimento, implementação e melhoria da eficácia
de um Sistema de Gestão da Qualidade (SGQ).
Esta abordagem é essencial para que uma
organização possa ter confiança no seu SGQ
e consequentemente no produto ou serviço
que fornece, pois permite compreender e gerir
a maneira como as atividades se combinam
e interagem para gerar valor (APCER, 2010;
Lecom S/A, 2011). Existem ainda na norma
outras referências à gestão por processos,
como nos princípios da abordagem sistémica
da organização e da melhoria contínua baseada no ciclo PDCA (Plan, Do, Check, Act).
Existe uma clara convergência entre a gestão
da qualidade e a gestão por processos, pelo
que as ferramentas existentes no domínio
da gestão dos processos, como as BPMS,
também são importantes para a qualidade
e para a implementação de um Sistema de
Gestão da Qualidade.
Em resumo, poderemos dizer que as
abordagens BPM são fundamentais para
proporcionar à gestão das organizações
e da qualidade um melhor desempenho
e alinhamento com a estratégia dessas
organizações. A escolha de uma ou mais
ferramentas tecnológicas para apoiar a
prática do BPM nas organizações não é
tarefa simples, pelo que antes de iniciar a
sua escolha é fundamental conhecer bem a
organização e as metodologias BPM a adotar.
Existe um conjunto de critérios que deverão ser considerados na aquisição de uma
BPMS. Em particular, com base numa lista de
requisitos gerais das ferramentas de apoio
às abordagens BPM, deverá ser selecionado
um conjunto restrito de funcionalidades e
requisitos-chave que deverão orientar a
comparação das várias soluções.
bibliografia
› APCER. (2010). Guia Interpretativo NP EN
ISO 9001:2008 (p. 116). APCER.
› Craggs, S. (2011a). Comparing BPM from
Pegasystems, IBM and TIBCO, (August).
› Craggs, S. (2011b). Comparing BPM from
Appian, Oracle and IBM, (December).
› Hill, J. B., Sinur, J., Flint, D., & Melenovsky, M.
J. (2006). Gartner’ s Position on Business
Process Management, 2006.
› Jim Sinur, Schulte, W. R., Hill, J. B., & Jones, T.
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Process Management Suites. Retrieved from
http://www.gartner.com/technology/reprints.
do?id=1-1C86TEL&ct=120928&st=sb
› Lecom S/A. (2011). Gestão de Processos, Tecnologia e Gestão da Qualidade Total, 25.
› Ras, G., Note, G., Sinur, J., & Hill, J. B. (2010).
Magic Quadrant for Business Process Management Suites, (October).
› Richardson, C., & Miers, D. (2013). The
Forrester WaveTM : BPM Suites. Retrieved
from http://www.forrester.com/The+Forres
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› Van der Aalst, W. M. P. (2013). Business
Process Management: A Comprehensive
Survey. ISRN Software Engineering, 2013,
1–37. doi:10.1155/2013/507984
› Wohed, P., Russell, N., ter Hofstede, A. H.
M., Andersson, B., & van der Aalst, W. M.
P. (2009). Patterns-based evaluation of
open source {BPM} systems: The cases of
jBPM, OpenWFE, and Enhydra Shark. Information and Software Technology, 51(8),
1187–1216. doi:http://dx.doi.org/10.1016/j.
infsof.2009.02.002
A visit
ar:
1 › www.businessprocessincubator.com
2 › www.ipbpm.pt
3 › www.bpminstitute.org
4 › www.ariscommunity.com
5 › bpmwiki.blueworkslive.com
6 › www.bptrends.com