Avaliação comportamental de éguas estabuladas em período reprodutivo
Behavioral evaluation of housed mares in reproductive period
Mábio Silvan José da Silva1*, Rodrigo da Silva Lima2, Messias José dos Santos Silva3, Jorge Eduardo
Cavalcante Lucena4, Gustavo Ferrer Carneiro4, Willian Gonçalves do Nascimento4 e Clóves Cabreira
Jobim1
Recebido em 29/11/2013 / Aceito para publicação em 04/07/2014.
RESUMO
Objetivou-se avaliar a expressão das características
comportamentais de éguas em período de estro e diestro,
estabuladas e submetidas a técnicas de inseminação artiicial
e transferência de embriões em clínica de reprodução
equina. Utilizaram-se 16 éguas doadoras das raças
Mangalarga Marchador, Quarto de Milha e Campolina,
com idades entre 3 e 12 anos, e pesos entre 490 e 740
kg. Os animais foram estabulados em baias individuais
de dimensões 4 x 4 metros, tendo acesso ao piquete de
exercício durante algumas horas do dia. As éguas foram
observadas pelo período de 24 horas, anotando, a cada dez
minutos, as atividades e o tempo gasto por cada animal
nessas atividades, nas fases de estro e diestro, e analisando
os parâmetros comportamentais de: frequência de micção,
frequência de defecação, tempo em ócio, tempo gasto
com alimentação, frequência de consumo de água, tempo
caminhando, tempo dormindo em pé, tempo dormindo
deitado, tempo dormindo em decúbito total e presença de
vícios. Não foram observadas grandes disparidades entre
os comportamentos externados pelas éguas nos diferentes
períodos, diferindo estatisticamente (P<0,05) apenas para
frequência de micção e tempo dormindo deitado, que foi
maior em éguas no estro. Assim, éguas em estro urinam
com maior frequência e, devido a maior agitação diurna,
necessitam de maior tempo de descanso.
PALAVRAS-CHAVE: comportamento, equino, etologia,
inseminação artiicial, transferência de embriões.
ABSTRACT
The objective was to evaluate behavioral characteristics of
mares in estrus and diestrus period that were subjected to
techniques of artiicial insemination and embryo transfer, in
an equine reproductive clinic. 16 Mangalarga Marchador,
Quarter Horse, and Campolina, aged between 3 and 12
years, and weighing between 490 and 740 kg were used.
They were housed in individual stalls 4 x 4 meters in size,
having access to a paddock for a few hours of exercise each
day. The mares were observed for a period of 24 hours,
noting every ten minutes the activities and the time spent
by each animal in these activities, at the stages of estrus and
diestrus, analyzing the behavioral parameters: frequency of
urination, frequency of defecation, resting time, time spent
feeding, frequency of water consumption, walking time,
time sleeping standing up, time sleeping lying down, time
sleeping in total decubitus, and deviations from the norm.
There was no difference between the external behavior
mares during different periods, differing (P<0.05) only
for frequency of urination and time sleeping lying down,
which were higher in mares in estrus. Thus, mares in estrus
urinate more frequently and, due to higher daytime anxiety,
need more time to rest.
KEYWORDS: behavior, equine, ethology, artiicial
insemination, embryos transfer.
INTRODUÇÃO
Historicamente, o cavalo faz parte da vida
do ser humano há 5.000 anos. Quando o homem
montou pela primeira vez, não havia ninguém
para lhe servir de modelo, devendo ter aprendido a
partir de suas próprias observações. Assim, fez-se
necessário estudar o cavalo, ou seja, entender o seu
comportamento físico-mental (OLIVEIRA 2008), o
que também se justiica, segundo REZENDE et al.
(2006a), pela retirada do cavalo do campo, de onde
era levado para cidade, que, a priori, oferecia espaço
para sua colocação em piquetes, com ampla área para
se movimentar e pastar. Entretanto, como o espaço
reservado para esse animal tornou-se cada vez menor,
o cavalo foi obrigado a viver em coninamento em
pequenas baias, acarretando modiicações em seu
1
Universidade Estadual de Maringá, Maringá, PR, Brasil.
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sertão Pernambucano, Salgueiro, PE, Brasil.
3
Universidade Federal da Paraíba, Areia, PB, Brasil.
4
Universidade Federal Rural de Pernambuco, Garanhuns, PE, Brasil.
*
Autor para correspondência <
[email protected]>.
2
46 Revista de Ciências Agroveterinárias, Lages, v.14, n.1, p.46-54, 2015
ISSN 1676-9732 (edição impressa)
ISSN 2238-1171 (edição on-line)
Silva et al.
comportamento, diante da necessidade de adaptação
a esse ambiente reduzido. Consequentemente, duas
características da vida do cavalo que vive em ambiente
natural estão ausentes quando estabulados, a vida em
grupo e o tempo de pastejo, o que pode afetar seu
comportamento (REZENDE et al. 2006a).
O comportamento dos animais desempenha
importante papel na reprodução, afetando tanto o
sucesso do acasalamento, quanto a sobrevivência da
prole. Padrões comportamentais estão associados à
corte e cópula, ao nascimento, ao cuidado materno
e às tentativas de amamentação do animal recémnascido. Esses padrões comportamentais têm sido
abandonados pela domesticação e restringidos ou
modiicados pelas condições impostas de acordo com
as necessidades do empreendimento zootécnico. Tais
necessidades incluem coninamento em piquetes,
currais ou baias, segregação sexual, coberturas
controladas, partos por cesariana, desmame forçado,
proximidade imposta com outros indivíduos e a
inevitável presença de humanos, cães e maquinário
(HAFEZ & HAFEZ 2004).
Com a expansão no estudo da etologia,
nos últimos anos, graças às novas metodologias
empregadas nos processos de observação e de
etogramas especíicos, montados principalmente
entre os animais domésticos, a Etnozootecnia tem
demonstrado que, desde os tempos da domesticação
das espécies, o advento do aprisionamento dos animais
alteraria para sempre questões do comportamento
da estrutura social ao comportamento reprodutivo
destas espécies em função da melhor produtividade
entre outros amplamente estudados (TRAVASSOS &
CAJU 2005).
Distúrbios emocionais ou psicológicos
produzidos pelo coninamento prolongado, em
oposição à ocorrência de fenômenos isiológicos ou
orgânicos, são frequentes. Sendo que os problemas
de comportamento mais comumente encontrados
nos equinos podem ser divididos em três categorias:
vícios, agressividade e distúrbios sexuais, no qual os
dois primeiros ocorrem principalmente em animais
estabulados e o terceiro presente em animais, na
sua maioria, independente do sistema de criação
(MCCALL 1993, LEWIS 2000).
O uso de metodologias cientíicas aliado
ao conhecimento histórico ou etnozootécnico tem
permitido informações à produção animal que vão
desde questões de hábitos alimentares, hábitos de
pastejo, conduta social e reprodutiva que estão
sendo incorporados nos manejos especíicos de cada
espécie no dia-a-dia das propriedades rurais. Dentre
os animais domésticos, o Equus caballus L. tem tido
destaque mundial em estudos de comportamento,
provavelmente, por ser a única espécie que promove
a perfeita interação do trinômio homem-animalambiente (TRAVASSOS & CAJU 2005).
Conhecer a distribuição percentual do tempo,
através da observação do comportamento animal, e
obter avaliação objetiva dos sistemas gerenciais sobre
animais e efeitos associados à saúde e o bem-estar
animal têm demonstrado ser oportuna com relação
aos cavalos estabulados (MCGREEVY et al. 1995).
Devido à baixa quantidade de trabalhos publicados
abordando o comportamento reprodutivo de equinos
estabulados, objetivou-se analisar os aspectos
comportamentais de éguas estabuladas nos períodos
reprodutivos de estro e diestro.
MATERIAL E MÉTODOS
A pesquisa foi desenvolvida em clínica de
reprodução de equinos, localizada na região agreste
do Estado de Pernambuco. Utilizaram-se 16 éguas
doadoras das raças Mangalarga Marchador, Quarto de
Milha e Campolina, em períodos de estro e diestro,
em delineamento inteiramente casualizado, com
quatro repetições; as éguas tinham idades e pesos
variando entre 3 e 12 anos e 490 e 740 kg de peso
vivo, respectivamente.
As éguas, oriundas de outros criadores e locadas
em regime de hospedagem na clínica, foram alojadas
em baias individuais, medindo 4,00 x 4,00 m (16 m2),
com cama de maravalha, apresentando engradado
de madeira como delimitador da frente da baia, o
que permitiu a comunicação desses animais com
aqueles das baias vizinhas. As éguas tinham acesso ao
piquete de exercício, com área aproximada de 2.000
m2, topograia plana e cercas de madeira, durante
parte do dia, sendo agrupadas em dois lotes (um era
direcionado ao piquete de exercício no período da
manhã, 7h00 as 11h00, e o outro no período da tarde,
13h00 as 17h00).
No manejo nutricional, utilizou-se capimelefante picado (Pennisetum purpureum Schum.),
feno de tífton-85 (Cynodon dactylon L. Pers.) e ração
concentrada (Max Equinos Reprodução, da empresa
DuRancho). O arraçoamento foi efetuado nos
seguintes horários: as 7h00 (capim-elefante picado
+ ração); 11h00 (capim-elefante picado + ração
Revista de Ciências Agroveterinárias, Lages, v.14, n.1, 2015
47
Silva et al.
concentrada); 13h00 (feno de tífton-85); e 17h00
(capim-elefante picado + ração concentrada).
A camada suja da cama foi removida diariamente
e foi adicionada ina camada de reposição, sendo que,
quando notado a necessidade de troca, toda a cama foi
substituída por uma nova, de acordo com o horário no
qual as éguas foram ao piquete de exercício.
As éguas foram ruiadas diariamente, nas
primeiras horas do dia e ao entardecer, de forma que,
quando se detectava a expressão dos comportamentos
característicos do estro (cio), as respectivas éguas
foram encaminhadas para o brete de contenção
individual, onde se realizou a palpação transretal e
o acompanhamento do desenvolvimento folicular,
via aparelho de ultra sonograia. Quando as éguas se
apresentaram em estro prolongado ou em condições
que se objetivava induzir a ovulação, fez-se a
administração de hormônio a base de gonadotroina
coriônica humana (hCG) (Vetecor® – Hertape Calier)
para induzir um pico artiicial do tipo LH, levando a
égua a iniciar o processo recrutamento, crescimento
folicular e ovulação. A utilização de hCG foi preferida
em relação aos demais hormônios indutores da
ovulação, hormônio liberador de gonadotroinas
(GnRH) e prostaglandinas (PGF2α), por apresentar boa
resposta e com apenas uma administração (PICKETT
et al. 1989).
A inseminação ocorreu quando o folículo estava
com diâmetro aproximado de 30 mm, objetivando
aumentar a possibilidade de fecundação. Este diâmetro
foi menor que o relatado por WINTER (2007), que
observou que folículos com 40,1 mm, um dia antes
da ovulação em éguas Crioulas, apresentavam
taxa de ovulação de 90,1% em 24 horas. Depois de
inseminadas, as doadoras retornaram às baias, e sete
dias depois, tempo sugerido por SQUIRES & SEIDEL
(1995), fez-se a coleta e transferência dos embriões
das éguas doadoras para as receptoras.
O acompanhamento das éguas para estudo
do comportamento teve como parâmetro de início
da observação o desenvolvimento folicular, o
qual quando atingiu o diâmetro médio de 30 mm,
observado com aparelho de ultrassonograia, iniciouse a observação referente ao período de estro. Após
sete a oito dias da observação do estro, fazia-se a
observação do diestro. As éguas foram observadas
por um período de 24 horas (das 7h30min as 7h30min
horas do dia seguinte), tanto no período de estro como
no período do diestro, de forma que, tomou-se nota
do comportamento a cada dez minutos, em etogramas
48
previamente elaboradas, discriminado o tempo que
o animal passava desempenhando os parâmetros
avaliados, conforme a metodologia adaptada de
JOHNSON & COMBS (1991).
Os parâmetros comportamentais avaliados
foram: frequência de micção (MIC), frequência de
defecação (DEF), tempo em ócio (O), tempo gasto se
alimentando (ALI), frequência de consumo de água
(H2O), tempo caminhando (CAM), tempo dormindo
em pé (DP), tempo dormindo deitado (DD), tempo
dormindo em decúbito total (DDT) e presença de
vícios (VIC).
O tempo em ócio compreende o período em
que o animal encontra-se acordado e em posição
quadrupedal, porém estagnado. Esse parâmetro
é fundamental para determinar a agitação e/ou
inquietação do animal no ambiente ao qual está
submetido.
Durante o período noturno, uma lâmpada
incandescente de 60 watts permaneceu acesa para
permitir melhor visualização dos comportamentos
expressados pelas éguas.
Para a observação do comportamento, o
observador posicionou-se à distância de 2 metros das
baias das éguas observadas e a distância de 0,5 metros
da cerca, quando as éguas estavam no piquete de
exercício. Observou-se uma égua por dia por período
reprodutivo.
Os dados foram submetidos à análise de
variância utilizando o programa estatístico SAS
(2009). As diferenças entre as médias foram analisadas
pelo teste Tukey (P<0,05), utilizando-se do seguinte
modelo estatístico:
Yij = µ + Ti + εij
em que: Yij = valores observados para os diferentes
períodos reprodutivos; µ = constante referente a todas
as observações; Ti = efeito do i-ésimo tratamento,
onde i = 1 a 3; εij = erro aleatório associado a cada
observação.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Observou-se que os parâmetros MIC e DD
diferiram estatisticamente (P<0,05) entre os dois
períodos reprodutivos avaliados (Tabela 1). Para
MIC, veriicou-se maior frequência nas éguas em
estro. Segundo HAFEZ & HAFEZ (2004), as éguas
no cio tendem a urinar frequentemente na presença do
Revista de Ciências Agroveterinárias, Lages, v.14, n.1, 2015
Silva et al.
Tabela 1 - Valores médios dos diferentes parâmetros comportamentais de éguas em dois períodos reprodutivos.
Table 1 - Mean values of different behavioral parameters of mares in two reproductive periods.
Parâmetros
1
MIC
DEF
1
H 2O
1
VIC
2
O
2
ALI
2
CAM
2
DP
2
DD
2
DDT
1
Período reprodutivo
Estro
Diestro
a*
13,66
8,83b
10,66
11,83
10,16
10,66
0,33
0,5
35,3
35,53
35,45
39,97
3,57
2,94
14,8
15,27
a
8,13
3,80b
2,75
2,48
Média
11,25
11,25
10,08
0,41
35,41
37,71
3,25
15,04
59,65
2,62
♦
CV(%)
R2
12,19
24,63
24,46
69,28
16,21
8,65
37,5
47,55
50,01
120,15
0,94
0,66
0,71
0,93
0,74
0,79
0,79
0,41
0,67
0,18
*Médias na linha, seguidas de letras diferentes, diferem entre si pelo teste Tukey (P<0,05).
1
Expressos em número de vezes/dia; 2Expressos em % de horas/dia. MIC = micção; DEF = defecar; H2O = consumo de água;
VIC = número de vícios; O = ócio; ALI = alimentação; CAM = caminhando; DP = dormindo em pé; DD = dormindo deitado;
DDT = dormindo em decúbito total; ♦CV = coeiciente de variação.
garanhão, caracterizando o comportamento natural de
cio. O mesmo geralmente não acontece nas éguas em
diestro, pois elevadas concentrações de progesterona,
através de mecanismos isiológicos, inibem a
produção e a liberação de estrógeno (estradiol) que,
quando em concentrações elevadas, é o hormônio
responsável pelo comportamento de cio.
Os parâmetros DEF, H2O e VIC não diferiram
(P>0,05) para os dois períodos reprodutivos avaliados
(Tabela 1). Observou-se, ainda, que não houve
diferença estatística (P>0,05) para ALI e CAM entre os
períodos de estro e diestro, indicando que, apesar das
éguas em estro demonstrarem comportamento mais
ativo (HAFEZ & HAFEZ 2004), esse comportamento
não foi veriicado, pelos animais sofrerem ação do
efeito de coninamento (estabulação), já que, quando
estabulados, os animais icam condicionados ao
manejo que lhes é aplicado (FRAPE 2007). Segundo
TRAVASSOS & CAJU (2005), o aprendizado do
cavalo dá-se através da repetição dos estímulos ou
exercícios e que estes estímulos o inluenciaram por
toda a sua vida, sendo processo de troca que tem como
resultado um animal com comportamento estável em
seu ambiente. É um modelo de como o animal adaptase ao meio no qual está exposto.
Para as éguas em estro e diestro, observouse ALI de 35,44 e 39,96% do tempo total (1 dia),
respectivamente, (Tabela 1). Valores superiores
(57,58%) foram observados por SANTOS et al.
(2006) em animais em sistema de pastejo, enquanto
REZENDE et al. (2006a) observaram valores médios
inferiores (9,10%) para animais coninados das raças
Bretão e Percheron, demonstrando que animais em
pastejo demandam mais tempo na alimentação por ter
que caminhar mais em busca do alimento.
Apesar da semelhança estatística (P>0,05) entre
os valores de CAM e O, para os diferentes períodos
reprodutivos, observou-se que O foi maior que CAM,
com valores de 35,29 contra 35,53% dia-1 e 3,57%
contra 2,93% dia-1, para as éguas em estro e diestro,
respectivamente (Tabela 1). Alguns pesquisadores
acreditam que o tédio, relacionado principalmente
ao maior tempo de ócio, é um dos principais fatores
desencadeadores de distúrbios comportamentais em
equinos (JACKSON et al. 1984, TURNER et al.
1984, KRZAK et al., 1991).
O parâmetro DD foi mais frequente nas
éguas em estro, com variação de 117,07 minutos
dia-1 (8,13% dia-1) no estro e de 54,72 minutos dia-1
(3,80% dia-1) no diestro. Esse comportamento ocorreu
devido às éguas em estro tenderem a apresentar
maior inquietação durante o dia, mesmo estando
condicionadas as rotinas de manejo, chegando ao im
do dia com maior desgaste físico, necessitando dormir
para obtenção de descanso físico-metabólico, já que
o sono é essencial para repor as energias e assegurar
o funcionamento normal do metabolismo animal
durante as horas que passam acordados (MILLS
& NANKERVIS 2005). REZENDE et al. (2006b),
estudando o comportamento de cavalos estabulados
Revista de Ciências Agroveterinárias, Lages, v.14, n.1, 2015
49
Silva et al.
do exército brasileiro, em Brasília, encontraram para
o parâmetro DD, em cavalos Mestiços, Puro Sangue
Inglês, Lusitano e Brasileiro de Hipismo, valores de
45,50; 6,62; 0,00 e 16,41 minutos por dia, para cada
raça, respectivamente, demonstrando o menor DD
para animais não submetidos ao efeito de hormônios
estrogênicos.
Segundo CINTRA (2003) o equino gasta entre
seis e oito horas por dia dormindo. Comportamento
semelhante foi observado, pois o total de horas que as
éguas passaram dormindo (DP + DD + DDT) foi de
6h16min e 5h16min para os períodos reprodutivos de
estro e diestro, respectivamente (Tabela 1).
O sono profundo ocorre quando o animal está
dormindo em decúbito total, e é comumente observado
em animais jovens. Nos animais observados houve
maior incidência (P>0,05) deste tipo de comportamento
(DDT) no grupo em estro. Da mesma forma ocorreu
com o sono médio (quando o animal está dormindo
deitado – DD), porém diferindo estatisticamente
(P<0,05), sendo que as éguas no diestro apresentaram
menor incidência desse comportamento, conforme
discutido anteriormente. Quanto ao sono supericial
(dormindo em pé – DP), observou-se semelhança
estatística (P>0,05), apresentando, no entanto, valores
numericamente maiores nas éguas em estro. O tempo
total (% de horas por dia) despendido pelas éguas no
período de estro para a soma dos parâmetros dormindo
(ΣDP, DD, DDT) foi maior (P<0,05) que para os animais em
diestro, com valores de 25,68 e 21,55% de horas dia-1,
respectivamente (Tabela 1). O que se explica devido a
maior atividade desses animais durante o dia.
Os demais parâmetros avaliados não
apresentaram diferença signiicativa (P<0,05) entre
os períodos reprodutivos de estro e diestro.
Analisando os valores dos coeicientes de
correlação dos parâmetros (Tabela 2), observou-se
interação (P<0,05) de -0,64; -0,61; -0,59; -0,57 e -0,63
entre MIC e ALI; DEF e VIC; VIC e ALI; O e CAM;
O e DP, respectivamente. Todas as demais correlações
não foram signiicativas (P>0,05).
Observou-se que os comportamentos DD e DDT
ocorreram sempre no período noturno, sendo o horário
que as éguas apresentaram este comportamento, em
torno das 20 horas até 4 horas do dia seguinte (Figura
1), externando grande frequência no ato de deitar e
levantar durante esse período noturno, corroborando
resultados de RESENDE et al. (2006a), pois, segundo
estes autores, os equinos são animais essencialmente
noturnos, instinto herdado de cavalos selvagens que,
por serem presas na natureza, só se sentiam seguros, à
noite, período em que se deitavam.
Para o parâmetro DDT entre as fases do ciclo
estral estudas, veriicaram-se valores de 39,45 e 35,71
minutos por dia no estro e diestro, respectivamente
(Figura 1). Observando-se que as éguas apresentaram
esse comportamento de forma mais acentuada no
horário entre 01h00 as 04h00.
Veriicou-se que, apesar das éguas apresentarem
o comportamento DP durante o dia, a maior
Tabela 2 - Coeicientes de correlações entre os diferentes parâmetros comportamentais analisados em éguas
nos períodos de estro e diestro.
Table 2 - Correlation coeficients between the different behavioral parameters analyzed in mares during estrus and
diestrus periods.
MIC
DEF
H2O
VIC
O
ALI
CAM
DP
DD
DDT
MIC
1,00ns
DEF
-0,32ns
1,00ns
H2O
0,18ns
0,18ns
1,00ns
VIC
0,29ns
-0,61*
-0,47ns
1,00ns
O
0,29ns
-0,10ns
-0,41ns
0,43 ns
1,00ns
ALI
-0,64*
0,45ns
0,46ns
-0,59*
-0,39ns
1,00ns
CAM
0,07ns
0,48ns
0,29ns
-0,40ns
-0,57*
0,14ns
1,00ns
DP
-0,15ns
-0,10ns
-0,21 ns
0,02ns
-0,63*
-0,14ns
0,33ns
1,00ns
DD
0,31ns
-0,25ns
0,28ns
-0,06ns
-0,21ns
-0,10ns
0,06ns
-0,33ns
1,00ns
DDT
0,28ns
-0,34ns
0,27ns
0,20ns
0,00ns
-0,39 ns
-0,20 ns
-0,15ns
0,23ns
1,00ns
* signiicativo (P<0,05); ns = não signiicativo; MIC = micção; DEF = defecação; H2O = consumo de água; VIC = número de vícios;
O = ócio; ALI = alimentação; CAM = caminhando; DP = dormindo em pé; DD = dormindo deitado; DDT = dormindo em decúbito
total.
50
Revista de Ciências Agroveterinárias, Lages, v.14, n.1, 2015
Silva et al.
Figura 1 - Comportamento dormindo deitado (A), dormindo em decúbito total (B) e dormindo em pé (C),
expressos em minutos/hora, de éguas no estro e no diestro, durante o período de um dia.
Figure 1 - Lying sleeping behavior (A), sleeping in total decubitus (B), and sleeping standing up (C), expressed in minutes/
hours, of mares in estrus and diestrus, during the period of one day.
frequência desse comportamento ocorreu durante
a noite. Os valores de tempo encontrados para este
comportamento foram 213,12 min dia-1 (14,8% dia-1)
para as éguas em estro e 219,74 min dia-1 (15,26%
dia-1) para as éguas em diestro (Figura 1). Segundo
RESENDE et al. (2006b), o tempo gasto dormindo
em pé, por cavalos das raças Mestiços, Puro Sangue
Inglês, Lusitano e Brasileiro de Hipismo, foi de 45,21;
71,56; 98,49 e 40,32 minutos por dia, respectivamente.
Para o comportamento alimentar, observouse que as éguas no período de estro apresentaram
frequência e tempo com a alimentação elevada,
conforme esperado, já que os equinos apresentam
estômago relativamente pequeno, representando
cerca de 10% do trato gastrointestinal (FRAPE 2007),
sendo necessário, para um melhor aproveitamento,
que os animais tenham a sua ração dividida em várias
refeições. O pico de tempo gasto com a alimentação
ocorreu as 17h00, horário em que foi fornecida
a última refeição do dia (Figura 2). O alimento
dessa refeição permaneceu no cocho durante toda a
noite, de forma que com o passar das horas, e com
a alimentação das éguas, a quantidade de alimento
foi diminuída, e, consequentemente, a frequência
e o tempo de alimentação também o foram. Ao se
aproximar do horário da próxima refeição, as 7h00,
os animais começaram a buscar mais frequentemente
o cocho para se alimentar. Percebeu-se, também,
que ALI diminuiu, possivelmente pelo fato citado
anteriormente, da quantidade de alimento, bem
como, por ser o horário em que os animais dormiam.
RIBEIRO et al. (2009) veriicaram comportamento
Revista de Ciências Agroveterinárias, Lages, v.14, n.1, 2015
51
Silva et al.
Figura 2 - Comportamento alimentar e comportamento de ócio, expressos em minutos/hora, de éguas no estro
e diestro, durante o período de um dia.
Figure 2 - Feeding behavior (A) and resting time behavior (B), expressed in minutes/hours, of mares in estrus and diestrus,
during the period of one day.
semelhante em equinos machos estabulados, os quais
concentraram o período de alimentação durante o dia.
A frequência e o tempo de alimentação das
éguas em fase de diestro apresentaram comportamento
similar ao observado nas éguas em estro, porém
com menor amplitude de variação, o que se deve
a uma menor agitação, já que éguas nessa fase não
apresentam a ansiedade pela busca do garanhão, bem
como não aceitam mais a monta, apresentando-se
mais calmas que éguas no período do estro (HAFEZ
& HAFEZ 2004). Segundo MILLS & NANKERVIS
(2005) o coninamento restringe a alimentação dos
equinos e, além disso, estes podem desenvolver
estereotipias.
Após a alimentação, os animais tenderam
a entrar em ócio, já que o foco metabólico foi
direcionado para a digestão dos alimentos ingeridos,
assim, observou-se comportamento antagônico entre
o tempo e frequência de alimentação e ócio.
O tempo que as éguas em diestro passaram
em ócio não sofreu grandes variações de amplitudes
quanto ao observado nas éguas em estro, comportandose de forma mais uniforme, dentro de uma faixa de
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máximo e mínimo, porém apresentando pico pouco
antes do momento que antecede a primeira refeição
da manhã.
Normalmente,
espera-se
que
animais
estabulados apresentem o comportamento de ócio
de forma mais acentuada, devido às limitações de
espaço para desenvolverem alguma atividade, fato
esse observado quando as éguas foram liberadas no
piquete de exercício. Quando no piquete de exercício
as éguas apresentaram menor tempo em ócio. Assim,
pode-se airmar que o tempo dos animais em ócio pode
variar de acordo com o espaço onde estão alocados,
de forma que animais criados em regime extensivo,
possivelmente, apresentam gasto de tempo maior com
exercício, com consequente menor tempo em ócio.
O coninamento excessivo, a falta de companhia
e o manejo alimentar inadequado provocam nos
animais a frustração profunda e o tédio, levandoos a expressarem alguns distúrbios de estabulagem
(CINTRA 2003). Dentre as éguas observadas,
veriicou-se que duas delas apresentaram distúrbios
comportamentais, sendo que uma delas apresentou o
vício de escavar a baia durante várias vezes no decorrer
Revista de Ciências Agroveterinárias, Lages, v.14, n.1, 2015
Silva et al.
do dia. Esse comportamento, segundo CINTRA
(2003), é comum em animais próximo ao momento
do fornecimento da alimentação, seja por inquietação,
ou para chamar a atenção do tratador. Assim, como
esse comportamento não ocorreu apenas próximo aos
horários do arraçoamento, pode-se airmar que foi por
motivos de solidão e coninamento excessivo. Porém,
a égua apresentou ferimento na perna direita, o que
pode ser indício do comportamento externado, já que
foi submetida a alguns tratamentos durante o dia, e
assim quis chamar a atenção dos tratadores.
Outro animal apresentou dois vícios orais,
sendo um deles o de morder a madeira, o que,
segundo CINTRA (2003), é um dos vícios mais
comum, podendo ser considerado um comportamento
normal, já que não ocorreu de forma compulsiva e
repetitiva. KRZAK et al. (1991) observaram maior
incidência de morder madeira durante à noite, o que
pode ser explicado, possivelmente, pelo término da
dieta ou do material ibroso, de forma que os animais
apresentaram maior parte do tempo total de ócio
neste período. O outro vício expressado, observado
com maior intensidade de acontecimento no período
do estro, foi a aerofagia sem apoio, que consiste no
animal engolir ar. Esse comportamento observado
corrobora resultados de CINTRA (2003) que airma
que esse vício apresenta maior incidência em equinos
hiperativos e nervosos, tendo como prováveis causas
o tédio, a frustração e o coninamento excessivo, de
forma que o animal pode permanecer com o vício
mesmo quando eliminada a causa. Os riscos da
aerofagia para o animal podem estar relacionados
com o aumento na incidência de ulcerações gástricas
e outras importantes doenças gastrointestinais
(STEINER et al. 2013).
Algumas medidas podem ser tomadas visando
sanar o problema que, na maioria dos casos, não causa
incomodo ao animal, mas muito mais a quem está
ao seu redor. Dentre as medidas, além de eliminar a
causa do problema, recomenda-se o uso de coleiras
de couro, com ou sem parte metálica, colocada ao
redor da garganta do animal. Porém, esse método não
é eicaz em 100% dos casos (MILLS & NANKERVIS
2005). Em alguns animais podem ser obtidos bons
resultados com tratamento homeopático.
CONCLUSÕES
Éguas coninadas, em período de estro, urinam
com maior frequência devido, possivelmente, à ação
dos estrógenos (estradiol), responsável pela expressão
do comportamento de cio e maior inquietação do
animal. Atrelado a este fato, devido à necessidade de
compensar o desgaste físico-metabólico, por estarem
em fase de grande atividade hormonal e reprodutiva,
as éguas no estro passaram mais tempo dormindo.
As éguas submetidas ao coninamento
não expressam, de forma esperada, as diferenças
comportamentais possíveis entre as fases reprodutivas
de estro e diestro, porém as diferenças observadas
são indícios de comportamento bem diferenciado
entre os animais nessas duas fases reprodutivas,
quando em ambiente que lhes permite expressar
seu comportamento natural, uma vez que animais
estabulados, na maioria dos casos, são privados
de externarem seu comportamento natural, sendo
moldados a nova realidade de habitat.
O comportamento mais característico das
fases reprodutivas pode ser observado, com maior
frequência, nos momentos em que as éguas estão no
piquete de exercício.
Existe a necessidade de novos estudos de
comportamento, em equinos estabulados, para
consolidação do conhecimento sobre os efeitos do
estabulamento nas características etológica.
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