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Subvertendo a Cartografia Escolar no Brasil

Resumo O presente artigo apresenta idéias sobre como repensar a cartografia para a escola. Aportes filosóficos e teóricos para uma cartografia crítica na prática são propostos. O exemplo da arte com mapas é usado como ponto de partida para refletir sobre novos caminhos na disciplina. Essa abordagem alternativa do estudo de mapas é ilustrado através de diversos exemplos da sala de aula (exercícios com mapas mentais, imagens na internet e a leitura crítica de livros didáticos de geografia). Argumenta-se que a cartografia não serve apenas para fazer a guerra, mas também para formar cidadãos. Palavras-chave: cartografia crítica; mapas na arte; cartografia na sala de aula. Abstract This article presents ideas about how to rethink cartography in school settings. Philosophical and theoretical principles for a critical cartography in practice are proposed. The example of map art is used as a starting point to reflect on new directions in the field. This alternative approach for the study of maps is illustrated by several examples from the classroom (exercises with mental maps, internet images, and the critical reading of geography textbooks). The main argument is that cartography does not only serve to make war, but also to form citizens. Keywords: critical cartography; map art; cartography in the classroom.

Artigo publicado em: 02/07/2012 Subvertendo a cartografia escolar no Brasil Subverting the cartography school in Brazil Subvertir la cartografía escolar en Brasil Jörn Seemann Doutor em Geografia Departamento de Geociências Universidade Regional do Cariri e-mail: [email protected] Resumo O presente artigo apresenta idéias sobre como repensar a cartografia para a escola. Aportes filosóficos e teóricos para uma cartografia crítica na prática são propostos. O exemplo da arte com mapas é usado como ponto de partida para refletir sobre novos caminhos na disciplina. Essa abordagem alternativa do estudo de mapas é ilustrado através de diversos exemplos da sala de aula (exercícios com mapas mentais, imagens na internet e a leitura crítica de livros didáticos de geografia). Argumenta-se que a cartografia não serve apenas para fazer a guerra, mas também para formar cidadãos. Palavras-chave: cartografia crítica; mapas na arte; cartografia na sala de aula. Revista Geografares, n°12, p.138-174, Julho, 2012 ISSN 2175 -370 Subvertendo a cartografia escolar no Brasil Seemann, J. Abstract 139 This article presents ideas about how to rethink cartography in school settings. Philosophical and theoretical principles for a critical cartography in practice are proposed. The example of map art is used as a starting point to reflect on new directions in the field. This alternative approach for the study of maps is illustrated by several examples from the classroom (exercises with mental maps, internet images, and the critical reading of geography textbooks). The main argument is that cartography does not only serve to make war, but also to form citizens. Keywords: critical cartography; map art; cartography in the classroom. Resumen Este artículo presenta algunas ideas acerca de cómo repensar la cartografía en el medio escolar. Los principios filosóficos y teóricos para una cartografía crítica, en la práctica se proponen. El ejemplo de mapa en la arte se utiliza como punto de partida para reflejar en nuevas direcciones en el campo. Este enfoque alternativo para el estudio de los mapas se ilustra con varios ejemplos de la sala de aula (ejercicios con mapas mentales, imágenes de Internet y la lectura crítica de los manuales de geografía). El principal argumento es que la cartografía no sólo sirve para hacer la guerra, sino también para formar ciudadanos. Palabras clave: cartografía crítica; mapa en la arte; la cartografía en la sala de aula. Revista Geografares, n°12, p.138-174, Julho, 2012 ISSN 2175 -370 Subvertendo a cartografia escolar no Brasil Seemann, J. do poder utilizavam para classificar o compor- Introdução tamento não-conformista dos que deveriam 140 O que são “cartografias subversivas”? No Bra- seguir as regras e leis do governo autoritário. sil, o termo “subversão” tem uma conotação No contexto da cartografia, subversão extremamente política e é frequentemente as- implica uma ideia crítica sobre o modelo nor- sociado ao regime militar que – de acordo com mativo da disciplina que é geralmente consi- o Ato Institucional Número Cinco (AI-5) de 13 derada como uma ciência exata baseada em de dezembro de 1968 – não media forças “no fatos objetivos, cálculos, medições e conven- combate à subversão e às ideologias contrá- ções (Harley, 1989). A produção de mapas se rias às tradições de nosso povo, na luta contra realiza de acordo com essas regras que defi- a corrupção”. No Michaelis Moderno Dicionário nem procedimentos, métodos e práticas. Nes- da Língua Portuguesa, “subversão” é definida te sentido, subverter a cartografia significa como “ato ou efeito de destruir ou perturbar; questionar e desafiar a visão (pre)dominante insubordinação, revolta contra a autoridade ou (e às vezes excludente) sobre o fazer carto- contra as instituições” ou até como “perversão grafia e procurar formas alternativas de repre- moral” sentar espaços, lugares e territórios. (http://michaelis.uol.com.br/moder- no/portugues/index.php). Na sua essência, a O geógrafo britânico David Pinder (1996) palavra tem um sentido negativo no Brasil de afirma que essa abordagem não se preocupa hoje e não representa o ponto de vista dos com convenções cartográficas ou como ma- que são “subversivos”, mas das autoridades pas têm sido utilizados estrategicamente para que visam suprimir “atividades subversivas”. o exercício de poder e o controle sobre o es- Em outras palavras, é um termo que os donos paço, mas representa uma postura contra a Revista Geografares, n°12, p.138-174, Julho, 2012 ISSN 2175 -370 Subvertendo a cartografia escolar no Brasil Seemann, J. 141 cartografia “oficial”, literalmente para “contra- produzir outros mapas e formas subversivas riar” as maneiras tradicionais de fazer, ver e da cartografia” (Pinder, 1996, p.406, tradução ler mapas. Para Pinder, existem basicamente minha). Para enfatizar a pluralidade de pen- duas estratégias de se opor às representações samentos nesse debate, usarei a forma “car- cartográficas dominantes. A primeira é a rejei- tografias subversivas” e não a expressão no ção total de qualquer tipo de mapa ou produto singular. cartográfico o que resultará na criação de ou- Sob essa premissa, este artigo tem como tras formas de ver e experimentar o espaço objetivo refletir sobre possíveis “cartografias nas quais os mapas são excluídos. O segundo subversivas” no ambiente escolar. A pergun- caminho é a utilização dos próprios métodos, ta central das minhas reflexões é como sub- recursos e práticas empregados na cartografia verter as convenções cartográficas e estimular para pensar como mapas existentes poderiam projetos alternativos e criativos para profes- ser “re-usados, refeitos, (re)virados ou rom- sores escolares e seus alunos. Para essa fina- pidos para abrir novas possibilidades sociais lidade, dividi o texto em três partes. Primeiro, e políticas” (Pinder, 1996, p.406). Trata-se de apresento algumas idéias fundamentais e ba- uma busca por formas diferentes de mapea- ses filosóficas e epistemológicas que norteiam mento que se baseiam em valores, desejos essa crítica da razão cartográfica. Em seguida, e necessidades diferentes e que desafiam o discuto o uso de elementos cartográficos em status quo da disciplina. Em outras palavras, obras de arte como exemplo de subversão. Na “subverter a cartografia (...) implica não ape- última parte, utilizo essas informações para nas tentativas de subverter mapas e conven- apresentar sugestões para estratégias subver- ções cartográficas existentes, mas também de sivas na sala de aula. Revista Geografares, n°12, p.138-174, Julho, 2012 ISSN 2175 -370 Subvertendo a cartografia escolar no Brasil Seemann, J. 142 Vale salientar que essas cartografias óricas da disciplina que definem o que é um subversivas não devem ser vistas como um mapa e que não é e uma reflexão sobre o “fa- novo paradigma para a “ciência e arte de fa- zer cartografia” que diz respeito às práticas zer mapas”, mas como maneiras alternativas e cartográficas. complementares de repensar representações Inicialmente, deve-se perguntar em que cartográficas (Dodge, Perkins e Kitchin, 2009). consiste uma atitude crítica. O geógrafo Jere- Ao discutir essas práticas, minha intenção não my Crampton (2009, p.16) menciona pelo me- é atacar, sabotear e corromper a cartografia nos quatro princípios que fazem parte dessa oficial e criar uma “guerrilha cartográfica”, crítica cartográfica. Primeiro, é preciso ques- mas mostrar essa “aventura cartográfica” (Se- tionar as bases dos conhecimentos e saberes emann, 2006a) como construção sociocultural cartográficos que determinam a produção e o pluralista e multivocal. Também não posso ne- uso de mapas e que frequentemente são da- gar que essas ideias estão implicitamente re- dos como fatos consumados que não precisam lacionadas com as minhas próprias pesquisas ser analisados. Segundo, qualquer conheci- como geógrafo cultural, formador de professo- mento sobre a cartografia deve ser situado res de geografia e docente na área de carto- no contexto da sociedade e do tempo em que grafia. foi concebido e aplicado. Por exemplo, mapas medievais só podem ser completamente compreendidos quando são inseridos no pen- Cartografia Crítica samento místico-religioso daquela época, enUma crítica à cartografia engloba pelo menos quanto cartas náuticas espanholas da Era dos duas dimensões: uma revisão das bases te- Descobrimentos devem ser lidas no contexto Revista Geografares, n°12, p.138-174, Julho, 2012 ISSN 2175 -370 Subvertendo a cartografia escolar no Brasil Seemann, J. 143 das políticas de sigilo da coroa hispânica. As- filósofo francês Michel Foucault (2008), essa sim, como terceiro princípio, as relações entre crítica pode ser considerada uma “arqueologia poder e conhecimento precisam ser reveladas. do saber”, na qual o propósito não é dizer que Isso inclui perguntas sobre a autoria e a pro- os conhecimentos cartográficos “não são ver- dução dos mapas e os motivos para a inclusão dades, mas que a verdade do conhecimento se ou exclusão de informações. O quarto e último estabelece sob condições que tem muito a ver aspecto diz respeito ao questionamento das com o poder. Por isso, crítica é uma política do concepções da disciplina e dos mapas. A aná- conhecimento” (Crampton, 2009, p. 16, tradu- lise crítica das nossas próprias práticas carto- ção minha, ênfase no original). gráficas pode resultar em uma reformulação Seria uma tentação estabelecer paralelos entre a cartografia crítica e a trajetória da dos nossos princípios. Desta maneira, a crítica cartográfica não geografia crítica no Brasil. Portanto, isso exigi- visa deflagrar mapas “ruins” ou fazer propostas ria uma análise minuciosa do movimento crí- para mapas “melhores”, mas procura descons- tico na disciplina desde a década de 60 para truir os pressupostos da cartografia como ci- poder gerar um retrato das relações entre os ência, disciplina acadêmica e área profissional geógrafos brasileiros e os mapas. Um estudo (Wood, 2010, p.120). Trata-se de uma releitura que abordaria esse tema ainda está a ser feito. dos conceitos e princípios cartográficos (esca- O geógrafo francês Yves Lacoste (1997) la, projeção e simbologia) e como essas ideias é frequentemente citado como porta-voz des- e categorias surgiram e se consolidaram, com sa atitude cautelosa acerca dos mapas e seus o intuito de pensar em possibilidades alterna- “defeitos”. Para Lacoste, mapas “são as repre- tivas (Crampton e Krygier, 2006). Aludindo ao sentações geográficas por excelência, mas não Revista Geografares, n°12, p.138-174, Julho, 2012 ISSN 2175 -370 Subvertendo a cartografia escolar no Brasil Seemann, J. 144 é possível considerar que elas [as cartas] são o panfletário, que pouco auxiliou para a cons- reflexo, o espelho ou a fotografia da realidade” trução de um cidadão pleno” (Katuta, 2002, (Lacoste, 1997, p.211-212). Mapas represen- p.137). tam a realidade, mas eles não são a realidade. Parecia que o mapa era um assunto tão No Brasil, os geógrafos críticos marxistas des- “quente” que os geógrafos preferiam descartar confiavam dos mapas como instrumentos de o seu uso no exercício da sua militância, por- controle e poder das autoridades nas configu- que eles o associavam às autoridades e o iden- rações do estado-nação. Eles acusavam a fun- tificavam como símbolo ou emblema naciona- ção ideológica e manipuladora dos mapas que lista. Havia uma preocupação com os mapas, se tornavam o símbolo da geografia tradicional mas os geógrafos não sabiam como utilizá-los ultrapassada. Portanto, a crítica se limitava à nos seus projetos. Milton Santos, um dos ge- rejeição da cartografia como um instrumento ógrafos brasileiros mais importantes do século de controle e opressão. As máscaras dos ma- XX, estava consciente da ambiguidade da car- pas como distorções ou falsificações da reali- tografia e chegou à conclusão de que dade foram desvendadas, mas não havia contrapropostas de como utilizar os mapas como recursos de protesto, subversão e resistência. Talvez seja ousado demais dizer que a geografia brasileira nos anos 70 se tornou “uma disciplina cuja preocupação maior era de militância de alguns partidos políticos da esquerda, contribuindo para a proliferação de um discurso [A] cartografia é uma representação. Então há a possibilidade de uma escolha. Num livrinho, meu ilustrador pôs o mundo de cabeça para baixo, sugerindo que era o Sul que estava em cima. E o editor, sem desejar perturbar, desobedecer à sugestão do arquiteto que bolou a ideia, pôs a representação costumeira. Porque a cartografia tem essa ideia de criar um costume, um hábito de viver que tem consequências políticas (Santos, 1998, p.2). Revista Geografares, n°12, p.138-174, Julho, 2012 ISSN 2175 -370 Subvertendo a cartografia escolar no Brasil Seemann, J. 145 Na geografia brasileira dos anos 70 e 80, como Michel Foucault, Jacques Derrida e Gilles havia uma base filosófica e teórica consolidada Deleuze. Eles conceberam mapas como tex- para deflagrar a injustiça social e transformar tos que precisavam ser lidos nos contextos da o espaço geográfico no país, mas não para re- sociedade em que foram produzidos para ler pensar e subverter mapas. Com o surgimen- entre as “linhas” das suas imagens e encontrar to de diversos “ismos” com o prefixo “pós” “ambivalências inerentes, agendas escondidas (pós-modernismo, pós- e visões de mundo contrastantes” (Harley, -marxismo e pós-colonismos entre outros) e 1990, p.4). Para esses geógrafos, mapas não o fortalecimento de teorias feministas, queer reproduziam, mas construíam mundos, mas- e étnicas foi criada uma plataforma teórica di- caravam os interesses atrás deles e naturali- versificada que permitiu a reaproximação en- zavam a realidade (Wood, 1992). pós-estruturalismo, tre o mapa e a geografia. Essa nova situação Sob essa perspectiva, o mapa se tornou abriu o caminho para fazer o segundo passo uma espécie de chave de acesso para estu- na crítica cartográfica que ainda está faltando dar “enredos” cartográficos e revelar contex- na geografia brasileira: a elaboração de prá- tos econômicos, políticos e socioculturais im- ticas que mostrariam essa “nova cartografia” portantes atrás da representação no papel. em ação. Desta maneira, o estudo dos mapas pode ser Nos anos 80 surgiram propostas para re- considerado um campo das ciências sociais, pensar a cartografia à luz de teorias sociais enquanto a cartografia seria vista como um críticas. Foram os geógrafos que começaram a conjunto complexo de elementos culturais ou analisar a disciplina cartográfica, os mapas e como “tradições cartográficas” em uma deter- os cartógrafos sob a ótica de filósofos críticos minada sociedade em um determinado perío- Revista Geografares, n°12, p.138-174, Julho, 2012 ISSN 2175 -370 Subvertendo a cartografia escolar no Brasil Seemann, J. 146 do. Neste contexto, vários autores dessa “nova Para ter uma ideia mais concreta dessa cartografia” (Harley, 1991) se apropriaram do abordagem cultural sobre a cartografia, Dod- conceito de genealogia do filósofo francês Mi- ge, Perkins e Kitchin (2009) elaboraram um chel Foucault. Originalmente, o termo era usa- “manifesto para o estudo de mapas” que se do para descrever o estudo de traçar a árvore baseia em três aspectos: modos, métodos e genealógica de uma família do passado lon- momentos. “Modos” se referem às formas al- gínquo até o presente. Aplicando-se essa ideia ternativas de pensamento através da história à cartografia, trata-se de uma “genealogia do da cartografia e das práticas contemporâneas mapa e seu papel social” (Pickles, 2004, p.19) e englobam mapas nas telas de computado- que visa investigar as “maneiras em que ma- res, a inserção da cartografia no contexto de peamentos e o olhar cartográfico têm codifica- cultura visual em geral, as questões de autoria do sujeitos e produzido identidades” (p.12) e e as infraestruturas institucionais na produção como categorias e princípios cartográficos se de mapas. O termo “métodos” diz respeito à estabeleceram no discurso científico, nas insti- criação de estratégias de pesquisa para estu- tuições e no saber popular. Há uma tendência dar práticas e contextos na cartografia como de questionar a ideia do mapa como uma mera as diferenças entre mapas virtuais/digitais e representação do espaço. Longe de serem es- materiais, a economia política da produção de pelhos da realidade, mapas podem ser propó- mapas e os aspectos emocionais e etnográ- sitos (Wood e Fels, 2008), inscrições (Pickles, ficos de mapeamentos. Finalmente, “momen- 2004) ou processos em criação constante que tos” são eventos, incidentes ou acidentes que resultam de práticas culturais (Kitchin e Dod- contribuíram para a compreensão de práticas ge, 2007). de mapeamento e que precisam ser estuda- Revista Geografares, n°12, p.138-174, Julho, 2012 ISSN 2175 -370 Subvertendo a cartografia escolar no Brasil Seemann, J. 147 dos em detalhe. Essas “histórias” podem ser gares, bairros e cidades (Perkins, 2007), atlas momentos de fracasso (por exemplo, quando indígenas (Harrington e Stevenson, 2005), algo deu errado durante a produção de ma- SIGs participativos (Elwood, 2006) e projetos pas), mudança, memória ou criatividade. de arte com mapas (Harmon, 2009) são ape- Todas essas abordagens têm um aspec- nas alguns exemplos de como os mapas po- to em comum: eles não concebem os mapas deriam ser empregados no cotidiano urbano, como produtos, mas como processos (Runds- como protesto político ou como expressão de trom, 1989; Seemann, 2002), algo em mo- emoções. Essa visão alternativa da cartografia vimento, dinâmico, quase vivo, contestado e abre espaço para uma nova agenda de pesqui- disputado. Desta maneira, o mapa pode se li- sa que não se restringe ao ambiente acadêmi- vrar da sua imagem como produto estático e co, mas que também permeia o cotidiano. imutável. Mapas se tornam mapeamentos que são processos políticos nos quais tomadas de decisões não se realizam exclusivamente de cima para baixo. Essas ações também podem partir da comunidade de base e garantir a democratização dos recursos cartográficos, o empowerment (fortalecimento e emancipação) de grupos marginalizados e mapeamentos alternativos da realidade que desafiam a “solução única” frequentemente proposta pelos mapas “oficiais”. Projetos comunitários de mapear lu- A arte de subverter mapas A arte é um campo de subversão cartográfica aplicada por excelência porque não se baseia em convenções nem obedece a um rigor de formas e conteúdos. Os artistas não precisam seguir regras para produzir suas obras e expressar suas ideias. Fazer arte com mapas é um ato criativo mais descontraído, subjetivo e ousado de representar o mundo sem muita Revista Geografares, n°12, p.138-174, Julho, 2012 ISSN 2175 -370 Subvertendo a cartografia escolar no Brasil Seemann, J. preocupação com os aspectos formais. 148 artografia”? O geógrafo americano Denis Wood Com as suas obras, os artistas não pro- (2006b) elaborou uma lista de mais do que curam rejeitar os mapas, mas a sua autorida- 200 nomes de artistas que incluem elementos de como maneira verdadeira, exata e única de cartográficos nas suas obras ou usam o espaço representar a realidade (Wood, 2006a, p.10). como cenário da sua produção, enquanto Ka- É um ato de subversão, porque os artistas therine Harmon (2009) compilou um catálogo intencionalmente ignoram os limites que os com 350 obras de arte cartográfica de mais cartógrafos estabeleceram para distinguir os do que 130 artistas para mostrar que o mapa seus modos de comunicação visual de outras se tornou um tema preferido na arte. Não há formas gráficas. A arte cartográfica aponta limites para a criatividade, forma de expres- para mundos que são diferentes daqueles ma- são ou escolha de tema. Os artistas expres- peados pela cartografia oficial (Wood, 2006a, sam as suas ideias como earth art (também p.10). Em outras palavras, chamado de land art – uma forma de arte na “[e]xiste um motivo tão maleável, tão rico para ser apropriado como os mapas? Eles [os mapas] podem servir como atalhos para metáforas prontas: procurando localidades e experimentando deslocamento, trazendo ordem ao caos, explorando relações de escala, mapeando novos terrenos. Mapas agem como pano de fundo para declarações sobre fronteiras politicamente impostas, territorialidades e outras ideias de poder e projeção” (Harmon, 2009, p.9, tradução minha). qual o ambiente ou a paisagem local são in- Como fazer cartografia com arte ou “(c) visuais dos mapas para estabelecer conexões tegrados na obra artística), arte conceptual, arte de instalação, performances artísticas, videoarte, ciberarte e muitos outros modos. Basicamente, existem três diferentes categorias de impulso cartográfico no mundo artístico (D’Ignacio, 2009, p.190-191): os “sabotadores de símbolos” que usam os aspectos Revista Geografares, n°12, p.138-174, Julho, 2012 ISSN 2175 -370 Subvertendo a cartografia escolar no Brasil Seemann, J. 149 com lugares pessoais, fictícios ou metafóricos, mais do que uma tonelada e meia de petecas os “agentes e atores” que produzem mapas de vidro espalhadas no chão para mostrar a e participam de atividades para desafiar as “instabilidade da geografia mundial”, inclusive condições vigentes ou para mudar o mundo das suas fronteiras (Wood, 2006b, p.63). Alfre- e os “mapeadores de dados invisíveis” que do Jaar, um artista chileno radicado em Nova utilizam metáforas cartográficas para visuali- Iorque, montou uma instalação de arte que zar “territórios informacionais” como a bolsa documentou um acidente químico com barris de valores, a internet ou o genoma humano. de lixo tóxico deixado por petroleiros italianos Essa “carto-arte” pode consistir em cola- em uma cidade pequena na costa da Nigéria gens, pinturas, manipulações digitais no com- no final dos anos 80. Jaar intitulou a sua obra putador, mapas estampados em luvas, dese- de Geography = War, indicando que a geogra- nhos pintados em cima do couro de uma vaca fia serve em primeiro lugar para fazer a guerra ou poemas em forma de mapas, só para men- (Lacoste, 1997). A instalação consistia em 55 cionar algumas das técnicas utilizadas. Uma barris de metal cheios de água sobre os quais exposição de arte pode se tornar um mapa por caixas iluminadas com fotos dos moradores da si mesmo. Portanto, nem sempre a mensagem cidade nigeriana foram penduradas. Os visi- principal fica obvia à primeira vista. Quantas tantes da obra podiam simultaneamente ver vezes, ficamos em frente de um quadro ou essas imagens e os seus próprios retratos re- de uma instalação fazendo cara de inteligente fletidos pela água nos barris (Drake, 1991). A sem entender nada? artista americana kanarinka, por sua vez, pro- Por exemplo, a artista libanesa Mona duziu uma série de gráficos (“Doze polegadas Hatoum produziu um mapa-múndi a partir de de tempo”, http://www.ikatun.com/kanarinka) Revista Geografares, n°12, p.138-174, Julho, 2012 ISSN 2175 -370 Subvertendo a cartografia escolar no Brasil Seemann, J. 150 nos quais registrou a perspiração do corpo hu- publicado em 1929 na revista belga Varieté é mano em dias quentes (Harmon, 2009, p.121- um mapa mental do mundo que omite e dis- 122). Ela coletou o suor do seu corpo em uma torce determinados países e lugares (Figura folha de papel quando fazia cooper e traçou à 1, http://bigthink.com/ideas/21308). O mapa mão os contornos e marcas do líquido em pa- está centrado no Oceano Pacífico de modo que pel de computador para mostrar que o corpo Alaska e o leste da Rússia literalmente se bei- humano também poderia criar o seu próprio jam. O restante do território estadunidense “tempo”. não aparece, enquanto a Ilha de Páscoa é de- Fazer arte com cartografia não é uma senhada em proporções gigantescas. O con- atividade tão recente. Na história da arte en- tinente africano, Austrália e a América do Sul contram-se diversos exemplos de artistas que “encolheram”. A Terra do Fogo é representada já tinham utilizado mapas nas suas obras na como ilha separada do continente sul-america- primeira metade do século XX. Por exemplo, a no. Alegoria de Gênero (1943) do artista surrea- O “Mapa Invertido da América do Sul” lista francês Marcel Duchamp foi feita de uma (1943) do artista uruguaio Joaquin Torres-Gar- mistura de tinta de iodo e óleo, papelão, gaze, cía é um simples desenho dos contornos do pregos e estrelas de metal douradas para re- continente de “cabeça para baixo” (Figura 2, presentar o território dos Estados Unidos na http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Joaquín_ forma da cabeça do seu primeiro presidente, Torres_García_-_América_Invertida.jpg). George Washington (http://en.wahooart.com/ autor usou o desenho como lembrete para os A55A04/w.nsf/Opra/BRUE-8EWLEE). O mapa artistas sul-americanos de que a América do surrealista do mundo (autor desconhecido) Sul tinha o seu próprio estilo de arte e não Revista Geografares, n°12, p.138-174, Julho, 2012 ISSN 2175 -370 O Subvertendo a cartografia escolar no Brasil Seemann, J. 151 Figura 1 Revista Geografares, n°12, p.138-174, Julho, 2012 ISSN 2175 -370 Subvertendo a cartografia escolar no Brasil Seemann, J. 152 Figura 2 Revista Geografares, n°12, p.138-174, Julho, 2012 ISSN 2175 -370 Subvertendo a cartografia escolar no Brasil Seemann, J. 153 precisava seguir as modas ditadas pela van- meos siameses territoriais. No projeto Mapas guarda parisiense, porque “en realidad, nues- de Musgo (1992), Katchadourian fotografou tro norte es el sur. No debe haber norte, para rochas com cobertura musgosa e identificou nosotros, sino por oposición a nuestro Sur” contornos de lugares como Austrália e o arqui- (Torres-García, 1941). pélago de Havaí. No começo dos anos 1990, Frequentemente, um artista inicia uma Joyce Kozloff escolheu o mapa como meio pre- obra a partir de um mapa pré-existente que ferido de expressar as suas ideias sobre o pa- é modificado, refeito, redesenhado, distorcido pel da cartografia para o conhecimento huma- digitalmente ou virado de cabeça para baixo. no e como instrumento de imposição para o Por exemplo, Nina Katchadourian recorta, cola imperialismo (Earenfight, 2009). Kozloff tem e combina mapas com diversos outros ma- experimentado com uma vasta gama de técni- teriais (http://www.ninakatchadourian.com/ cas desde mapas, globos, pinturas e colagens maps/index.php). No seu primeiro projeto com até esculturas, afrescos em muros e mosai- mapas em 1989, ela literalmente dissecou um cos de piso (http://www.joycekozloff.net). Em mapa do mundo e montou um “frankenstein 1991, Kim Dingle coletou mapas mentais dos cartográfico” ao colar determinados lugares e Estados Unidos de adolescentes de Las Vegas territórios em lugares “errados”: a bota da Itá- e desenhou os contornos dos desenhos com lia na costa oeste da África ou a Groenlândia tinta de óleo sobre uma superfície de madei- como anexo terrestre no extremo sul da Amé- ra. As dezenas de mapas mentais no quadro rica do Norte. Nas suas Patologias Geográfi- intitulado United Shapes of America (“Formas cas (1996), ela fundiu dois mapas idênticos Unidas da América”) pareciam mais como um de continentes e países como se fossem gê- rebanho de vacas do que um conjunto de ma- Revista Geografares, n°12, p.138-174, Julho, 2012 ISSN 2175 -370 Subvertendo a cartografia escolar no Brasil Seemann, J. 154 pas (http://bigthink.com/ideas/21110). Lilla de lazer e todos os seus demais motivos para a LoCurto e Bill Outcault usaram diversos sof- locomoção e ação” para se levarem “pela atra- twares e hardwares para escanear seus cor- ção do terreno e os encontros que acharam pos em 3D e projetá-los em uma superfície por aí” (Debord, 1956, tradução minha). Es- bi-dimensional com coordenadas igual a um sas experiências foram registradas em “mapas mapa psicogeográficos” que indicavam “atmosferas (http://www.locurto-outcault.com/pa- ges/ selfportrait.map.html). psíquicas distintas, o caminho de menor re- Entre 1957 e 1972, a Internacional Si- sistência que é automaticamente seguido em tuacionista atuava como um movimento po- um passeio sem rumo (...), o caráter atraente lítico, revolucionário e artístico para se opor ou repugnante de determinados lugares” (De- à sociedade consumista e capitalista. O nome bord, 1955, tradução minha). do grupo encetado pelo pensador francês Guy No projeto dos situacionistas, há dois as- Debord e outros intelectuais da época é de- pectos que merecem a atenção e que transfor- rivado de uma das características principais mam a cartografia em uma arte de performan- do movimento que era a construção de “si- ce: o mapeamento em movimento e o registro tuações”: isto é, criar ambientes, cenários ou de emoções. O primeiro ponto diz respeito à percursos para experimentar o cotidiano e re- captação de movimentos, trajetórias e fluxos velar as emoções e os desejos dos indivíduos. produzidos pelos seres humanos. Os mapas li- Através de uma técnica chamada de dérive, teralmente se fazem ao andar, enquanto o cor- os situacionistas vagavam ou flanavam pelo po humano e os cinco sentidos servem como espaço urbano e deixavam de lado “seus re- catalisador desse “conhecimento corporifica- lacionamentos, seu trabalho e suas atividades do” (Perkins, 2009). Um exemplo dessa prá- Revista Geografares, n°12, p.138-174, Julho, 2012 ISSN 2175 -370 Subvertendo a cartografia escolar no Brasil Seemann, J. 155 tica são os artistas britânicos Richard Long e phen Walter criou mapas narrativos de Londres Hamish Fulton que não apenas inseriram suas e Liverpool nos quais o leitor podia encontrar caminhadas em mapas, mas também criaram inúmeros comentários sobre ruas, praças, ca- obras de arte para serem caminhadas (http:// sas, moradores, incidentes etc. (http://www. www.richardlong.org; http://www.hamish-ful- stephenwalter.co.uk/home.php). Até desenhos efêmeros como rabiscos ton.com). O segundo aspecto se refere à expres- num guardanapo que são usados para dar di- são de atitudes, preferências e afetos para os reções ou descrever um lugar merecem olha- quais normalmente não há espaço nos mapas. res mais prolongados dos artistas “mapófilos”. Dando um exemplo, o artista e designer Chris- Em 2008, Kris Harzinski fundou a “Associação tian Nold (2009) usou equipamentos técnicos de Mapas Desenhados a Mão” (Hand Drawn como computadores e aparelhos GPS para Map Association, http://www.handmaps.org) criar cartografias emocionais de cidades. Os e chamou a atenção pela complexidade desses participantes dos projetos registraram suas desenhos acidentais: observações en route e os dados foram baixados em um computador para elaborar respectivos “mapas emocionais”. Esses mapeamentos também podem ser feitos sem tecnologia. Por exemplo, nos anos 70, o artista sueco-brasileiro Öyvind Fahlström produziu vários mapas-múndi nos quais inseriu textos sobre eventos políticos e históricos. Mais recentemente, Ste- “Queria que as pessoas vissem como esses pedacinhos de papel aparentemente insignificantes representavam histórias individuais nas vidas das pessoas e como esses desenhos simples de um lugar específico não continham apenas informações factuais, mas também personalidade” (Harzinski, 2010, p.8, tradução minha). A arte cartográfica também pode ir mais Revista Geografares, n°12, p.138-174, Julho, 2012 ISSN 2175 -370 Subvertendo a cartografia escolar no Brasil Seemann, J. 156 longe e servir como uma forma de crítica po- nal do Mercosul em Porto Alegre, mais do que lítica como no caso do artista argentino Mi- 50 artistas da América do Sul expuseram as guel Angel Rios que combina técnicas de arte, suas obras na categoria “Geopoéticas” (http:// dança e vídeo para cartograficamente denun- www.bienalmercosul.art.br/componentes/6). ciar as consequências devastadoras do “Des- Como já mencionei no início dessa se- cobrimento” para as populações indígenas da ção, a arte é um recurso por excelência para América Latina e do Caribe. Elin O’hara Sla- superar as barreiras impostas pelo rigor cien- vick (2007), por sua vez, pintou mais do que tífico da cartografia oficial. Portanto, vale lem- 50 quadros abstratos para deflagrar a “car- brar que a arte não é domínio exclusivo dos tografia violenta” dos Estados Unidos, isto é, artistas. Geógrafos, cartógrafos, professores os lugares que já foram bombardeados pelas universitários e escolares e os seus alunos forças armadas daquele país (http://www. também são artistas em potencial. Para muitos unc.edu/~eoslavic/projects/bombsites/index. dos exemplos de arte com mapas que mencio- html). nei acima, acrescentei um link para as obras A lista de artistas que se envolvem com para estimular o uso dessas fontes que pos- mapas é quase infinita e não há limites para sam servir como material didático na sala de a criatividade. Geograficamente, a produção aula. Não apresentei “respostas corretas” ou artística com a cartografia não se restringe “interpretações certas” desses trabalhos. Cabe aos Estados Unidos. Recentemente, artistas aos professores e alunos descobrir sentidos latino-americanos começaram a incluir cada e significados nessas representações carto- vez mais mapas e elementos cartográficos nas -artísticas, não apenas dentro do contexto das suas obras e ações (Leirias, 2011). Na 8ª Bie- sociedades que as produziram (“O que o autor Revista Geografares, n°12, p.138-174, Julho, 2012 ISSN 2175 -370 Subvertendo a cartografia escolar no Brasil Seemann, J. 157 quer dizer com isso?”), mas também dentro subversão da cartografia na sala de aula, tam- do contexto da nossa própria realidade. bém para salientar que a linguagem (carto) Cartografias Subversivas na sala de aula A cartografia na arte serve como incentivo e ponto de partida para desenvolver projetos subversivos no ambiente escolar. Essas atividades não são limitadas às aulas de educação e arte, mas também poderiam permear qualquer outra área. Portanto, antes de realizar essa subversão, os professores e alunos precisam ter um conhecimento básico dos princípios e convenções da cartografia. Como poderiam inverter, reverter ou subverter mapas quando não compreendem como a cartografia funciona e que mecanismos de abstração (escala, projeção, simbologia) operam por baixo da sua fachada? A crítica cartográfica começa com o questionamento das bases. Gostaria de dar alguns exemplos práticos para indicar possíveis caminhos para a gráfica possui um potencial imenso para os alunos e professores. Eles poderiam utilizar e fazer mapas para expressar suas ideias sobre o que acontece no mundo, no país, no bairro ou na própria escola de uma forma quase lúdica. Em 2003, organizei um concurso de mapas-múndi feitos por crianças e adolescentes no sul do Ceará. O tema geral era “salvar o mundo” e os alunos participantes tiveram que desenhar mapas que mostravam características cartográficas, possuíam uma certa estética e passavam uma mensagem sobre como resolver os problemas do nosso planeta. Coletei 200 mapas dos quais uma comissão julgadora selecionou os cinco melhores desenhos a serem mandados para o comitê organizador nacional. Essa comissão, por sua vez, escolheu os cinco melhores mapas do Brasil para o concurso internacional Barbara Petchenik, Revista Geografares, n°12, p.138-174, Julho, 2012 ISSN 2175 -370 Subvertendo a cartografia escolar no Brasil Seemann, J. 158 organizado pela Associação Internacional de http://children.library.carleton.ca/images/uni- Cartografia (ICA). De antemão, visitei escolas cefcard.jpg) ou em coletâneas de livros (An- das cidades de Crato e Juazeiro do Norte para derson et al., 2005; Bandrova et al., 2010). divulgar as regras do concurso e usava como Olhando nos mapas que obtive no Cariri referência o volumoso banco de dados da ICA cearense, não encontrei a mesma atitude po- com centenas de mapas infantis dos concursos sitiva. Alguns alunos me forneceram soluções anteriores desde 1993 (http://children.library. “radicais”, não para salvar o mundo, mas para carleton.ca). No site, o “internauta” pode fazer acabar com ele: o globo terrestre com uma uma busca por país, ano ou tema e visualizar e arma na mão prestes a cometer suicídio, o baixar os respectivos mapas. Na maioria, são mundo em um caixão, jogado no lixo ou como mapas coloridos e alegres que enfatizam vir- cenário de guerras, violência ou poluição (Fi- tudes como solidariedade, paz e tolerância. Os gura 4). desenhos mostram crianças de raças diferen- Ao analisar os resultados (Seemann, tes cercando o globo terrestre de mãos dadas, 2006b), descobri que as crianças e adoles- soluções bem humoradas como o “tapamento” centes não separavam o mundo “lá fora” da do buraco de ozônio com um pedaço de espa- sua própria realidade. Os desenhos incluíam radrapo ou o globo terrestre estampado por a escala local e global ao mesmo tempo e ex- inúmeras bandeiras de países sob a proteção pressavam emoções, preocupações e opiniões de uma pomba branca, símbolo da paz. Mui- que as crianças dificilmente poderiam descre- tos desses desenhos radiam com esperança e ver através de palavras. Infelizmente, não foi otimismo e alguns foram posteriormente pu- possível finalizar esse estudo. Devido a diver- blicados como postais da UNICEF (Figura 3; sos contratempos pessoais e acadêmicos, não Revista Geografares, n°12, p.138-174, Julho, 2012 ISSN 2175 -370 Subvertendo a cartografia escolar no Brasil Seemann, J. 159 Figura 3 Revista Geografares, n°12, p.138-174, Julho, 2012 ISSN 2175 -370 Subvertendo a cartografia escolar no Brasil Seemann, J. 160 Figura 4 Revista Geografares, n°12, p.138-174, Julho, 2012 ISSN 2175 -370 Subvertendo a cartografia escolar no Brasil Seemann, J. 161 pude fazer o último e mais importante passo: (Pinheiro, 1998) que se baseavam em deter- falar com os fazedores de mapas e perguntar minados mapas-chave como o planisfério na a eles por que desenharam os seus mapas em projeção de Mercator ao qual somos expostos tal maneira. com frequência. Alguns “erros” cartográficos Mais recentemente, usei procedimen- se repetiam: A América do Norte e a América tos similares para dar aulas sobre projeções do Sul ficavam enfileiradas na mesma longitu- cartográficas nas minhas turmas de gradua- de; o território da Groenlândia era do tamanho ção (o exercício pode ser feito em qualquer do Brasil ou maior; o continente africano pa- sala escolar a partir da quinta série). Cada recia como um país porque havia poucas fron- aluno recebeu uma folha de papel em bran- teiras e nomes nos desenhos, para mencionar co para desenhar um mapa mental do mundo. apenas algumas características e estereótipos. Alguns alunos ficaram inquietos e começaram A discussão com os alunos visava perguntar a copiar dos seus colegas ou colar clandesti- pelos por quês dos desenhos. O que levou os namente do mapa-múndi que se encontrava alunos a desenhar os seus mapas de tal ma- na sua agenda, enquanto outros preenchiam neira? Por que quase todos os alunos centra- o papel com contornos, fronteiras e nomes de vam o mapa no primeiro meridiano? Por que o países. Em seguida, os mapas foram prega- conhecimento sobre a África era muito parca? dos na parede da sala e a turma iniciava uma Por que alguns países e territórios ficaram ex- discussão sobre os resultados. A conversa so- tremamente distorcidos? Todas essas pergun- bre os mapas revelou muito sobre como con- tas já são material suficiente para duas ou três cebemos o mundo. Na maioria, esses mapas aulas, e o professor/a professora até poderia mentais eram re-representações do mundo gravar as conversas para analisar os conteú- Revista Geografares, n°12, p.138-174, Julho, 2012 ISSN 2175 -370 Subvertendo a cartografia escolar no Brasil Seemann, J. dos e os argumentos posteriormente. 162 identidades regionais. Esse tipo de exercício não se restringe à Esses estudos culturais sobre a carto- escala global. Em 2009, realizei uma pesquisa grafia mostram que o mapa não é necessaria- sobre mapas mentais em escala regional. Co- mente uma mera representação, mas também letei mais do que 300 mapas do sul do Ceará, pode servir como discurso, argumento ou vi- desenhados por alunos do curso de geografia são de mundo. Essa ressignificação dos mapas da Universidade Regional do Cariri (Seemann, fica mais óbvia no ambiente da internet. Ma- 2010). Como limites regionais são na maioria pas digitais podem ser facilmente editados, al- menos definidos do que fronteiras internacio- terados ou distorcidos. Um simples clique com nais, muitos dos mapas mentais não mostra- o mouse manda essas representações para vam contornos claros e definitivos. Alguns se uma rede internacional com bilhões de usu- restringiam a um mapa com divisas adminis- ários. Muitas vezes, os autores e as fontes fi- trativas, enquanto outros representavam uma cam no anonimato. Por exemplo, em 2002, um narrativa espacial completa da região. Através “mapa do mundo de acordo com os Estados de uma análise minuciosa dos polígonos, li- Unidos” começou a circular na internet (Figu- nhas, pontos e textos nos mapas, cheguei à ra 5, http://flatrock.org.nz/topics/money_po- conclusão de que “traçar uma linha em um de- litics_law/ americas_world.htm). senho espacial parece muito com a narração O desenho mostra um mapa esque- de uma história (Ingold, 2008, p.90). É preciso mático com poucas divisas internacionais no ler “entre as linhas” desses mapas e estabele- qual diversos rótulos foram associados a de- cer uma ligação entre produtos e processos e terminados países e continentes. O norte da os mapeadores e seus conhecimentos e suas África é descrito como “areia”, as suas regi- Revista Geografares, n°12, p.138-174, Julho, 2012 ISSN 2175 -370 Subvertendo a cartografia escolar no Brasil Seemann, J. 163 ões equatoriais como “floresta” e o sul como brasileiros na internet, inclusive um mapa do “diamantes”. O território estadunidense tem nosso país de acordo com a presidente Dilma um discreto pano de fundo nas cores da ban- (http://osqueridoes.blogspot.com/2010/08/ deira do país, enquanto as únicas localidades mapa-do-brasil-na-visao-da-dilma.html). En- mencionadas nas suas terras são Nova Iorque quanto alguns desses mapas subversivos são e Hollywood. A América do Sul foi reduzida a usados como piadas, outros não escondem seu “café” e “floresta”. A Colômbia foi representa- discurso político. da como símbolo de “drogas diabólicas”, Cuba A subversão também pode ter outra face. como “comunistas diabólicos” e México como No dia 24 de junho de 2011, o site do Instituto “tequila”. Seguindo as constelações das políti- Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) foi cas globais no começo do novo milênio, o mapa invadido por hackers que bloquearam o acesso mostrou os “amigos”, os “novos amigos” e os às informações da instituição. Na página prin- “ex-inimigos” dos Estados Unidos, o lugar de cipal do site figurava uma imagem com um permanência de Osama bin-Laden e os luga- olho humano nas cores da bandeira do Brasil, res bombardeados pela força aérea america- seguida de uma mensagem de protesto “de na. Não mencionei todos os detalhes do mapa um grupo que deseja fazer do Brasil um país que poderia ser assunto para uma discussão melhor” (Figura 6 (reprodução da imagem; sobre estereótipos nacionais e as consequên- http://www1.folha.uol.com.br/poder/934354- cias dessa visão limitada. Esse mapa “político” -site-do-ibge-e-invadido-por-hackers.shtml). pode ser feito por qualquer pessoa. Há inúme- O último assunto nas minhas reflexões ros outros mapas estereotipados e paródias diz respeito à leitura crítica de mapas e a sub- sobre a América do Sul, Brasil e os estados versão “involuntária” da cartografia. Recente- Revista Geografares, n°12, p.138-174, Julho, 2012 ISSN 2175 -370 Subvertendo a cartografia escolar no Brasil Seemann, J. 164 Figura 5 Revista Geografares, n°12, p.138-174, Julho, 2012 ISSN 2175 -370 Subvertendo a cartografia escolar no Brasil Seemann, J. 165 Figura 6 Revista Geografares, n°12, p.138-174, Julho, 2012 ISSN 2175 -370 Subvertendo a cartografia escolar no Brasil Seemann, J. 166 mente, havia pelo menos dois escândalos so- uma série de questionamentos: Como é o con- bre livros didáticos de geografia no Brasil. Em trole de qualidade dos mapas nos livros didá- março de 2009, muitos jornais brasileiros rela- ticos de geografia? Como esses erros podem taram o caso de um livro didático da sexta sé- passar despercebidos? Quem tem vez ou voz rie do ensino fundamental na rede pública do para criticar esses mapas e sugerir alternati- Estado de São Paulo que incluía um mapa inti- vas melhores? Quantos professores sequer re- tulado “fronteiras permeáveis” no qual o Para- pararam essas falhas? Como eles trabalharam guai estava localizado no Uruguai e vice-versa, com os respectivos mapas em sala de aula? Ao além de também aparecer na área geográfica responder a essas perguntas certamente vão da Bolívia. Professores escolares alertaram so- surgir novas cartografias subversivas para a bre esse erro gravíssimo de editoração, e a educação cartográfica no Brasil. Secretaria Estadual de Educação e a editora responsável pela publicação disponibilizaram Considerações finais as erratas on-line. Em maio de 2011, um livro didático de geografia da Editora Moderna, Esse artigo tem como objetivo apresentar al- que foi aprovado pelo Ministério da Educação gumas facetas do fascinante mundo dos ma- (MEC) e adotado pelo Programa Nacional do pas além da rotina do mundo austero da carto- Livro Didático, continha um mapa que mostra- grafia oficial. Essas formas subversivas tratam va o Rio São Francisco banhando a cidade de representações cartográficas de uma manei- Maceió. Mais uma vez, professores escolares ra mais lúdica, talvez irônica, mas não menos tiveram que avisar as autoridades e a edito- séria. A linguagem (carto)gráfica é uma fer- ra sobre a falha. Esses dois episódio levam a ramenta poderosa para democratizar o aces- Revista Geografares, n°12, p.138-174, Julho, 2012 ISSN 2175 -370 Subvertendo a cartografia escolar no Brasil Seemann, J. 167 so a mapas e estimular mapeamentos, sob a recurso essencial para a construção da cidada- premissa de que a educação cartográfica não nia. deve ser um ensino de cima para baixo, mas uma prática social integrada nas nossas vidas. Portanto, para trilhar novos caminhos na cartografia é preciso entender como a cartografia com a sua lógica e suas regras influenciam e moldam nossos modos de pensar e agir, antes de criticar seus fundamentos e produzir “contra-cartografias”. Ao mesmo tempo, também há a necessidade de estudos que documentem esses processos de mapeamento no Brasil para compreender melhor a nossa “cultura cartográfica” (Seemann, 2011). Ler e fazer mapas – oficiais ou subversivos, imaginários ou reais, materiais ou digitais, do bairro ou do mundo inteiro – são atividades imprescindíveis para transformar a educação cartográfica em um projeto pluralista. Em última instância, precisamos ter a consciência de que a cartografia não serve apenas “para fazer a guerra”, mas que ela também pode ser um Revista Geografares, n°12, p.138-174, Julho, 2012 ISSN 2175 -370 Subvertendo a cartografia escolar no Brasil Seemann, J. Referências Bibliográficas 168 ANDERSON, Jacqueline M. et al. Children map the world. Selections from the Barbara Petchenik Children’s World Map Competition. Redlands/Califórnia: ESRI Press, 2005. BANDROVA, Temenoujka. Children map the world. Selections from the Barbara Petchenik Children’s World Map Competition. Volume 2. 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