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Estresse e Fatores
Psicossociais
Stress and PsychosocialFactors
Stress y Factores Psychosociales
Ana Lúcia Pellegrini
Pessoa dos Reis
Universidade Estadual do
Sudoeste da Bahia
Sônia Regina Pereira Fernandes
Universidade Federal da Bahia
Artigo
Almiralva Ferraz Gomes
Universidade Estadual do
Sudoeste da Bahia
PSICOLOGIA CIÊNCIA E PROFISSÃO, 2010, 30 (4), 712-725
PSICOLOGIA
CIÊNCIA E PROFISSÃO,
2010, 30 (4), 712-725
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Ana Lúcia Pellegrini Pessoa dos Reis, Sônia Regina Pereira Fernandes & Almiralva Ferraz Gomes
Resumo: O interesse pelo estudo do estresse no trabalho tem sido crescente na literatura científica,
particularmente nos últimos anos. Uma razão para o aumento de pesquisas sobre esse tema está
nas repercussões das condições e da organização do trabalho na saúde e no bem-estar dos empregados e,
em consequência, no funcionamento e na efetividade das organizações. Na economia, o impacto negativo
dessa variável tem sido estimado com base na suposição e nos achados de que trabalhadores estressados
diminuem seu desempenho e aumentam os custos das organizações com problemas de saúde, com o
aumento do absenteísmo, da rotatividade e do número de acidentes no local de trabalho. Tendo em vista a
importância do tema, o presente trabalho se propõe a analisar os modelos teóricos sobre estresse ocupacional
e fatores psicossociais. Neste artigo, portanto, apresentaremos os princípios dos principais modelos que
discutem a relação entre os fatores psicossociais do trabalho e o estresse ocupacional: modelo demandacontrole, modelo demanda-controle-apoio social, modelo do desequilíbrio esforço-recompensa, modelo
ecológico e a proposta do National Institute for Occupational and Health (NIOSH).
Palavras-Chave: Estresse. Fatores psicossociais. Saúde do trabalhador. Trabalho.
Abstract: The interest for the study of the stress in the labor world has been growing in the academic
literature, particularly in the last years. A reason for the increase of research on this theme is the negative
impact of the occupational stress in the health and in the satisfaction of employees and, consequently, in
the operation and in the effectiveness of the organizations. In the economy, the negative impact of this
variable has been estimated based on the supposition and on the evidence that stressed workers reduce
their acting and increase the costs of the organizations with health problems, increase of absence, employee
turnover and the number of accidents in the labor environment. The present work proposes to analyze the
theoretical models about occupational stress and psychosocial factors. For this, we will present approaches
that study the occupational stress and the psychosocial factors in the labor environment. In this article,
therefore, we will present the principal models that discuss psychosocial factors and occupational stress:
job-demand-control, job demand control support model, effort-reward imbalance model, ecological model
and the National Institute for Occupational and Health (NIOSH) proposal.
Keywords: Stress. Psychosocial factors. Occupational health. Work.
Resumen: El interés para el estudio del stress en el trabajo ha estado creciendo en la literatura académica,
particularmente en los últimos años. Una razón para el aumento de investigaciones sobrelas repercusiones
de las condiciones y lorganizacion de trabajo para la salud y bienestar de los empleados y, por consiguiente,
en el funcionamiento y en la efectividad de las organizaciones. En la economía, el impacto negativo de esta
variable se ha estimado con la base en la suposición y en la evidencia de que trabajadores tensos reduzca
su desenpeño y aumenten los costos a las organizaciones con los problemas de salud, con el aumento de
lo absentismo, de la variación constante de los empleados y del número de accidentes en el ambiente
laboral. El presente trabajo propone analizar los modelos teóricos sobre la stress ocupacional y el factores
psychosociales. Para tanto, nosotros presentaremos los principios de los principales modelos que estudian la
relación entre los factores psychosociales del trabajo y lo stress ocupacional: el Modelo Demanda-controle;
el Modelo Demanda-Controle-Apoyo Social; el Modelo del Desequilibrio Esfuerzo-Recompensa; el Modelo
Ecológico y la propuesta del National Institute for Occupational and Health (NIOSH).
Palavras clave: Stress. Factores psychosociales. Salud del trabajador. Trabajo.
As transformações econômicas, tecnológicas
e institucionais que vêm ocorrendo,
principalmente nas três últimas décadas, têm
impactado profundamente a forma de gerir as
organizações, inclusive no que diz respeito à
gestão de pessoas. Tais mudanças têm gerado
repercussões diferenciadas na saúde e na
integridade do trabalhador.
Para sobreviver, as organizações desenvolvem
um novo patamar organizacional coerente
com o seu novo ambiente, que se caracteriza
por ser cada vez menos previsível e por
apresentar crescente instabilidade; além
disso, alteram sua organização do trabalho
para uma estrutura que privilegia a integração
e a flexibilidade, incentivando o dinamismo,
a participação do trabalhador, o trabalho
cooperativo e em equipe, o incremento da
velocidade, a polivalência e a rotação de
tarefas. Tais práticas têm como filosofia a
superação constante, e visam a melhorar e a
modificar sempre a organização da força de
trabalho para, permanentemente, promover a
evolução tecnológica e obter competitividade.
Essa busca frenética por um lugar e uma
posição melhor no mercado denuncia
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CIÊNCIA E PROFISSÃO,
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De acordo com
Couto e Moraes
(2000), o atual
ambiente de
negócios é
caracterizado
por profundas
racionalizações,
corte de pessoal
e alta velocidade
de mudanças
tecnológicas.
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a existência de um descompasso entre
a evolução dos modelos de gestão e as
políticas de gestão em saúde e segurança.
Pesquisadores escandinavos (Doef & Maes,
1999; Karlquist, Hagberg, Koster, Wenemark,
& Nell, 2003; Marmot, 1999; Piko, 2003;
Tsutsumi, Kayaba, Theorell, & Siegrist,
2001) apresentam resultados de estudos
sobre os impactos das novas tecnologias
informacionais na saúde física e mental,
indicando consequências como problemas
musculoesqueléticos e visuais e doenças
cardiovasculares e mentais relacionados
ao trabalho. Os estudos sugerem que
tanto fatores físicos quanto psicossociais
devem respeitar as necessidades e as
demandas física e mental do trabalhador.
Os autores mencionam aspectos psicossociais
relativos à investigação de várias causas de
insatisfação, identificando fatores como baixo
controle sobre o trabalho, tensão causada
pelo ritmo acelerado, grande demanda
quantitativa e qualitativa, impedimento de
contatos e conflitos interpessoais, ausência
de apoio social, baixa possibilidade de
desenvolvimento, pressão ocasionada pelo
controle automatizado, tarefas rotineiras e
fragmentadas, monotonia e tédio.
De acordo com Couto e Moraes (2000), o
atual ambiente de negócios é caracterizado
por profundas racionalizações, corte de
pessoal e alta velocidade de mudanças
tecnológicas. Nesse ambiente, evidencia-se
a existência de trabalhos de alta densidade,
que envolvem o uso permanente de
sistemas computadorizados. Esses trabalhos
apresentam como características o uso
constante da memória imediata, o grande
número de microdecisões e também a
possibilidade de existência de carga afetiva
na tarefa, favorecendo, assim, a fadiga.
São sintomas decorrentes desses trabalhos:
esquecimentos, erros, incapacidade de
solução de vários problemas simultaneamente
e, em consequência, frustração para o
indivíduo, com ansiedade e temor do fracasso.
Por conseguinte, a organização também
sofre prejuízos decorrentes dessas falhas.
Um aspecto do trabalho de alta densidade
que chama a atenção é a autoaceleração.
Esse mecanismo leva as pessoas a acelerar
cada vez mais o seu ritmo, gerando uma
grande dificuldade de reduzi-lo e chegando
ao ponto de o indivíduo se negar, por
exemplo, a tirar férias. Essa autoaceleração
é especialmente importante no trabalho
de gerentes e executivos, e pode gerar a
síndrome obsessivo-compulsiva denominada
workaholism.
Em geral, os novos modelos de gestão, além
de incorporarem características da tecnologia
informacional por alterarem as formas
de controle do trabalho mediante maior
espaço de participação dos trabalhadores
na formulação das estratégias gerais das
empresas, ampliam a co-responsabilidade
com os resultados. Esses trabalhadores, que,
geralmente, ficam em ambientes mais limpos,
com eliminação das cargas de trabalho físicas
e mecânicas, entre outras, e que, portanto,
teoricamente teriam a possibilidade de gozar
de melhor saúde, estão expostos a novas
cargas de trabalho, tanto no aspecto cognitivo
como no psicoemocional.
Dentro desse enfoque, a relação entre gestão
do trabalho e saúde, ainda que em número
insuficiente, tem sido estudada sob diversos
ângulos, variando conforme as áreas de
conhecimento e a natureza da problemática
analisada, sendo a abordagem do estresse
largamente utilizada para avaliar trabalho e
saúde.
Deve-se ressaltar a importância da análise sobre
estresse ocupacional e fatores psicossociais
uma vez que esses elementos poderão
subsidiar programas de intervenção nos
ambientes de trabalho visando à promoção
de saúde do trabalhador.
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Estresse Ocupacional
As estimativas da Organização Mundial
da Saúde – OMS – ressaltam que os
transtornos mentais menores acometem
aproximadamente 30% dos trabalhadores
ocupados, e os transtornos mentais graves,
entre 5 e 10%. No Brasil, dados do Instituto
Nacional do Seguro Social – INSS – referentes
à concessão de benefícios previdenciários
de auxílio-doença, por incapacidade
para o trabalho superiores a 15 dias e de
aposentadoria por invalidez ou incapacidade
definitiva para o trabalho, demonstram que
os transtornos mentais ocupam o terceiro
lugar entre as causas dessas ocorrências
(Brasil, 2002).
Com base em dados como esses, o Ministério
da Saúde (Brasil, 2002) sugeriu atenção para
as condições de insegurança no emprego,
subemprego e segmentação crescente do
mercado de trabalho, pois entende que o
surgimento de novas formas de adoecimento
mal caracterizadas como o estresse, a fadiga
física e mental e outras manifestações de
sofrimento relacionadas ao trabalho tem
forte relação com os processos internos
de reestruturação da produção, com o
enxugamento de quadro de funcionários
e com a incorporação tecnológica. Para
melhor entender esse fenômeno, o Ministério
da Saúde tem incentivado a realização de
pesquisas para que propostas coerentes e
efetivas de intervenção possam ser traçadas.
Codo, Soratto e Vasques-Menezes (2004)
enfatizam que, embora a imprecisão do
termo estresse se estenda ao meio científico,
as várias áreas que o adotam defendem a
concepção de que o estresse é o resultado de
um estado de desequilíbrio tanto da relação
indivíduo-ambiente de trabalho quanto
da relação demanda-recursos. Ainda que
existam diversos modelos teóricos, verificase uma certa concordância na definição do
estresse ocupacional. Segundo Codo et al.
(2004), alguns modelos concordam que a
relação entre estímulos externos e estresse
pode ser moderada por características
individuais e situacionais. Essa abordagem
busca a aproximação dos possíveis efeitos
do trabalho sobre o indivíduo trabalhador,
possibilitando a avaliação de modos de
intervenção mesmo em situações em que as
fontes de estresse não possam ser eliminadas.
É interessante salientar que o estudo do
estresse tem sido dominado pela perspectiva
clínica, como um fenômeno psicofisiológico
decorrente da percepção individual de
desajustes entre as demandas do ambiente e a
capacidade de respostas do indivíduo. Nessa
perspectiva, o estresse tem consequências
fisiológicas, psicológicas e comportamentais
que são mediadas pela percepção, com
foco na susceptibilidade do indivíduo,
cujas intervenções são dirigidas para o
desenvolvimento de estratégias individuais de
enfrentamento. Por outro lado, estudos sobre
a saúde do trabalhador enfatizam a prevenção
primária no local de trabalho por meio de
identificação e de modificação de condições
laborais que possam constituir perigo para a
saúde. De acordo com essa visão, a chave da
questão do estresse no trabalho é reconhecer
a dinâmica da sua etiologia (Kalimo, 1988;
National Institute for Occupational and
Health [NIOSH], 2004).
Ao se considerar que o estresse tem etiologia
múltipla, têm-se formulado e validado
diferentes modelos para explicar suas causas
e, na atualidade, tem crescido a preocupação
com os fatores psicossociais no trabalho.
Vários estudos enfatizam que constantes
mudanças ocorridas nos locais de trabalho
provocam mudanças no meio psicossocial,
funcionando como precipitador de doenças.
Independentemente do modo de vida e da
vulnerabilidade dos trabalhadores, fatores
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Ana Lúcia Pellegrini Pessoa dos Reis, Sônia Regina Pereira Fernandes & Almiralva Ferraz Gomes
psicossociais associados a novos métodos de
trabalho têm-se apresentado como uma das
causas principais do comprometimento da
saúde da população trabalhadora (Benach et
al., 2002; Borg & Kristensen, 1999; Fernandes,
1999; Figueiras & Hippert, 2002; Kalimo,
1988; Lima, 2002; Marmot, 1999; SeligmanSilva, 1997). Nesse sentido, os estudos
sobre estresse ocupacional, geralmente,
têm incorporado fatores psicossociais como
elementos presentes nesse processo.
Fatores Psicossociais No Trabalho
Há consenso entre alguns autores (ElBatawi, 1988; Levi, 1988; Kalimo, 1988;
Fernandes, 1999; Villalobos, 2004) quanto
à concepção de os fatores psicossociais no
trabalho constituírem elementos do ambiente
organizacional que, ao serem experienciados
pelos trabalhadores, sofrem influências de
variáveis de caráter individual. Ainda que haja
concordância entre os autores, ao abordálos, tratam diferentemente de tais fatores,
situando-os por vezes dentro de um macro
contexto histórico e social ou enfatizando
suas origens e efeitos.
Ao estudar a relação entre estresse e trabalho,
Villalobos (2004) considera que os fatores
psicossociais do trabalho representam um
conjunto de percepções e experiências,
ou seja, consistem em interações entre o
trabalho, o ambiente laboral, as condições
da organização e as características pessoais
do trabalhador, suas necessidades, cultura,
experiências, estilo de vida e sua percepção
de mundo. Inclui, entre os principais fatores
psicossociais do trabalho geradores de
estresse, aspectos da organização, gestão e
processo de trabalho e as relações humanas.
O autor situa a organização em um contexto
histórico, com o seu conjunto de problemas
demográficos, econômicos e sociais, no qual
interage; contempla, portanto, as variáveis
do macrocontexto, sua interação com os
elementos do ambiente organizacional, e o
indivíduo, com sua multideterminação.
Já Fernandes, ao avaliar os fatores psicossociais
do trabalho e sua relação com a saúde
psíquica, evidencia também a influência de
aspectos intrínsecos ao indivíduo na produção
do estresse, considerando que, nessa relação,
intervêm as atitudes, o estilo de vida, as
estratégias de cooping e apoio social assim
como a vulnerabilidade e a resistência ao
estresse. Embora não desconsidere os fatores
externos à organização, enfatiza mediadores
da situação ou do indivíduo que podem
fortalecer ou debilitar a influência de fatores
do ambiente de trabalho.
Kalimo, assim como Fernandes, ao discorrer
sobre os fatores psicossociais e suas
implicações na saúde do trabalhador, enfatiza
a interação de aspectos do ambiente de
trabalho e de variáveis de caráter individual e
subjetivo, como as experiências passadas, os
fatores genéticos e as condições de vida, que
vão influenciar o modo como os indivíduos
experimentam e interpretam suas vivências.
Embora também considere as diferenças
individuais como fatores que intervêm na
relação trabalho-saúde, ressalta a importância
de avaliar tais aspectos com enfoque no
grupo, já que julga que, quando a influência
de um fator psicossocial é intensa, é menor
a importância da vulnerabilidade individual.
Levi (1988) identifica a origem dos estímulos
psicossociais em processos sociais que se
situam em uma estrutura social e afetam
o organismo por meio da sua percepção
e experiência. Considera, em seu modelo
teórico, no que se refere aos aspectos
psicossociais, a influência de variáveis
interatuantes extrínsecas e intrínsecas,
sociais, mentais ou físicas que têm como
função modificar a ação dos fatores causais
na fase do mecanismo, do precursor ou da
enfermidade, promovendo ou evitando o
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Ana Lúcia Pellegrini Pessoa dos Reis, Sônia Regina Pereira Fernandes & Almiralva Ferraz Gomes
processo que culmina com a doença. Esse
autor amplia as concepções anteriores na
medida em que situa os fatores psicossociais
em um enfoque sistêmico, portanto, dotado
de retroalimentação contínua.
Embora a abordagem dos fatores psicossociais
no trabalho tenha sido o tema do seu estudo
como precipitador do estresse, El-Batawi
classifica esses fatores em duas categorias: os
que têm efeitos negativos na saúde e os que
podem contribuir positivamente para o bemestar dos trabalhadores. Esse autor enfatiza
o trabalho como fator de fomento à saúde,
não se devendo, portanto, subestimar os seus
aspectos positivos e efeitos estruturadores.
Ainda que não façam referência direta a
fatores psicossociais, outros autores, ao
abordarem os impactos dos elementos
do ambiente organizacional na saúde
mental do trabalhador (Figueiras & Hippert,
2002; Lima, 2002; Monteiro & Gomes,
1998; Seligman-Silva, 1997), discutem a
sua interação com variáveis individuais,
conquanto os estudos desenvolvidos utilizam
abordagens diferenciadas, que variam entre
a quantitativa, a qualitativa e a mista.
Fatores Psicossociais e
Estresse Ocupacional
Neste artigo, apresentaremos os princípios
dos modelos mais conhecidos que discutem
fatores psicossociais e estresse ocupacional.
O modelo demanda controle e o modelo
do desequilíbrio esforço-recompensa
são os modelos mais adotados em se
tratando de fatores psicossociais do estresse
no trabalho (Marmot, 1999; Tsutsumi
et al., 2001). Esses modelos têm sido
predominantes, possivelmente, em função
das evidências empíricas e, principalmente,
por contemplarem fatores do ambiente
psicossocial de trabalho nas organizações
em contextos globalizados e que valorizam
as novas tecnologias. Levi (1998) considera
que esses modelos são complementares
ao modelo ecológico, apresentado por
Kagan e Levi, em 1978, que também será
discutido aqui. Não obstante a importância
desses modelos, a despeito dos desafios
metodológicos a serem transpostos no campo
de estudo do estresse e trabalho, incluiremos
a proposta do NIOSH, por se tratar de
uma abordagem integradora que enfatiza
o enfoque coletivo para compreensão do
estresse no ambiente de trabalho. Ressaltamse, também, como determinantes principais,
os fatores do ambiente, sem ignorar variáveis
moderadoras e modificadoras de efeito que
possam influenciar a relação trabalho e saúde.
O modelo demanda-controle e o
modelo demanda-controle-apoio
social
O modelo demanda controle (job-demandcontrol – JDC ou job strain model), proposto
por Karasek (1979), considera que o strain
resulta da interação das demandas de
trabalho e da latitude de decisão no trabalho.
A latitude de decisão é definida como o
controle do trabalho pelo indivíduo sobre
suas tarefas e sua conduta durante o dia
de trabalho. Duas medidas compõem
esse controle: autoridade para decidir
e uso de habilidades, que representam
medidas agregadas de aspectos diferentes
do controle no trabalho – habilidade para a
realização de tarefas, organização da tarefa
(aprendizagem de coisas novas, criatividade,
iniciativa, realização de tarefas repetidas
ou variadas, uso e desenvolvimento de
habilidades especiais), influência na política
organizacional, controle sobre incertezas
potenciais e recursos para decisão. O uso
de habilidades intelectuais representa uma
oportunidade para realizar julgamento. Como
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enfatiza o autor, isso fortalece o sentimento
de eficácia e a habilidade para enfrentar o
ambiente, e funciona como fator protetor do
estresse. No entanto, constrangimentos na
tomada de decisão representam problemas
para o indivíduo que trabalha com poucas
oportunidades para tomar decisões em face
da pressão de produção, o que constitui fonte
de tensão no trabalho.
Quanto às demandas de trabalho, referemse a estressores psicológicos envolvidos na
realização da carga de trabalho, tais como:
tarefas inesperadas, volume de trabalho,
nível de atenção e concentração requerida,
pressão de tempo, interrupção das tarefas,
dependência da realização de tarefas por
outros e conflito de papel. Por sua vez, um
conjunto de indicadores avalia os sintomas de
tensão agrupados em dois fatores: exaustão
e depressão. O indicador de exaustão
constitui resposta de cansaço pela manhã
e completa exaustão à noite. Já o indicador
de depressão consiste de aspectos como
nervosismo, ansiedade, problemas com
o sono, preocupação e depressão, com
previsão na variação nos níveis de tensão
mental.
Conforme Karasek (1979), os estudos têm
registrado associação entre medidas de
satisfação e depressão, indicando relação
com o nível de atividade do trabalho. Assim,
trabalhos mais ativos (alta demanda e alto
controle) estão associados a satisfação e
depressão reduzida, mesmo que sejam mais
demandadores. Ainda para o autor, uma
implicação importante desses estudos é que
pode ser possível melhorar a saúde mental
no trabalho sem sacrificar a produtividade,
aumentando o controle do trabalho
independentemente das mudanças nas
demandas. Além disso, mudanças na estrutura
administrativa são importantes para melhorar
a habilidade do trabalhador na tomada
de decisão e para aumentar sua influência
em decisões organizacionais, permitindo o
uso de seu potencial. Além dos trabalhos
caracterizados como de alta exigência e
trabalhos ativos, o autor também distingue
duas outras experiências decorrentes ainda
da combinação entre controle do trabalho
e demandas: os trabalhos passivos, aqueles
com baixa demanda e baixo controle, e os
de baixa exigência, assim denominados em
função da combinação de baixas exigências e
alto controle. Karasek prevê também que os
trabalhos de alta exigência são geradores de
riscos psicológicos e de adoecimento psíquico,
com indicação de reações adversas como
fadiga, ansiedade, depressão e doenças físicas
(Karasek & Theorell, 1990). O autor sugere
também que há motivação para desenvolver
novos comportamentos no trabalho ativo, ao
contrário do trabalho passivo, que pode levar
à redução da atividade do indivíduo e da
sua capacidade de produzir soluções para as
atividades e os problemas enfrentados.
Tal proposta tem sofrido críticas, ainda que
agregue contribuições para melhoria da
vivência do indivíduo no trabalho e seja
largamente utilizada. Embora demonstre
o impacto das demandas e o controle do
trabalho no estresse, o JDC não identifica
estressores específicos do ambiente de
trabalho dentro dessas categorias, que
poderiam ser modificados para reduzir o
estresse. Tanto as demandas de trabalho
como o controle do trabalho são compostos
de muitos estressores potenciais. Esse modelo
delineia a interação entre estes grupos
de estressores, mas não indica os que são
críticos dentro de cada grupo. Embora o
JDC enfatize a interação de características
do trabalho que são responsáveis pelo
desenvolvimento do estresse, também
não focaliza especificamente a interação
entre o indivíduo e o ambiente nem avalia
características individuais e valores. Também
há inconsistências na aplicação do modelo,
atribuídas ao uso inadequado dos conceitos
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Ana Lúcia Pellegrini Pessoa dos Reis, Sônia Regina Pereira Fernandes & Almiralva Ferraz Gomes
de controle do trabalho e demandas de
trabalho e à realização de estudos com
análises de nível ocupacional, com potencial
confusão com variáveis socioeconômicas.
Sugere-se, a partir dos resultados obtidos com
o modelo de Karasek (1979), a ampliação
do foco para além de duas características
do trabalho, como a avaliação de suportes
interpessoais e outros aspectos do trabalho.
Críticos salientam que os fatores que
influenciam na tensão no trabalho não
provêm apenas do ambiente laboral. Esses
aspectos interagem com características
individuais que constituem fatores relevantes
(Bliese & Castro, 2000; Rodríguez, Bravo,
Pieró, & Eschoufeli, 2001).
Ao modelo teórico proposto por Karasek
(1979), baseado em uma dupla matriz
de demanda e controle, foi incorporado
posteriormente o fator apoio social (Karasek
& Theorell, 1990). O papel do apoio social
no job demand control support model
(JDCS) foi teoricamente desenvolvido por
Jeffrey V. Johnson, em 1986 (Theorell, 1998),
para quem o apoio social de superiores e
colegas de trabalho pode funcionar como
amortecedor, buffer, na relação entre
demandas e controle do trabalho. O apoio
social caracteriza o clima social do ambiente
de trabalho e tem como componente tanto a
relação emocional que o trabalho comporta
quanto o suporte instrumental.
Martinez (2004) enfatiza que tanto o apoio
social quanto o controle do trabalho são
fatores que têm sofrido influência das
mudanças na organização do trabalho, e
as intervenções preventivas que buscam
modificar os riscos psicossociais, em geral,
afetam essas duas dimensões.
Testes do modelo JDCS encontram evidências
para sugerir a inclusão do apoio social como
importante extensão do JDC, com dados de
que, na relação interativa entre controle do
trabalho e demandas de trabalho, o apoio
social tem papel moderador no controle
do impacto negativo da combinação dessas
variáveis (Bliese & Castro, 2000; Doef &
Maes, 1999).
O modelo do desequilíbrio esforçorecompensa
A suposição núcleo do modelo do
desequilíbrio esforço-recompensa (effortreward imbalance model – ERI), desenvolvido
por Siegrist (1998), sustenta que a função
do trabalho na vida adulta é crucial entre
as funções autorregulatórias como a
autoestima, a autoeficácia e a estrutura
social de oportunidades. Nessa perspectiva,
a disponibilidade de status ocupacional
está associada com opções recorrentes de
contribuir e atuar, de ser recompensado
ou estimado e de pertencer a um grupo.
O esforço no trabalho é despendido como
parte de um processo de troca, organizado
socialmente, cujas recompensas sociais
constituem três dimensões de gratificação
ocupacional – dinheiro, estima e status – que,
nessa abordagem, se referem às condições de
controle. O modelo do desequilíbrio esforçorecompensa defende o ponto de vista de que
a falta de reciprocidade entre custos e ganhos,
como condições de alto custo e baixo ganho,
gera um estado de aflição que pode levar a
reações associadas de tensão com efeitos de
longo prazo adversos para a saúde física e
mental. Quanto ao controle de status, esse
modelo considera que ameaças são prováveis
de ocorrer quando é interrompida ou perdida
a continuidade das funções ou dos papéis
sociais. Sob essas circunstâncias, o controle
sobre recompensas interpessoais básicas é
restrito e, como consequência, a autoestima
e o bem-estar emocional são prejudicados.
O modelo apresenta como exemplo
situações de desligamento ou instabilidade
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Ana Lúcia Pellegrini Pessoa dos Reis, Sônia Regina Pereira Fernandes & Almiralva Ferraz Gomes
no trabalho, como também condições de
baixa recompensa e baixa segurança na vida
ocupacional verificadas em situações de
mudança ocupacional forçada, mobilidade
para baixo, falta de perspectiva de promoção
ou trabalhos mantidos com condição
inconsistente de status. Portanto, ter um
emprego demandador, mas instável, que
não oferece perspectiva de promoção, é
exemplo de contexto de trabalho estressante.
Siegrist chama a atenção para o mercado de
trabalho na economia globalizada, que se
caracteriza pelo baixo controle de status como
reflexo crescente de carreiras de trabalho
fragmentadas, de instabilidade no trabalho,
de redundância e de mobilidade ocupacional
forçada (Siegrist, 1998). Assim, o autor
define duas fontes de alto esforço: a fonte
extrínseca, demandas no trabalho, e uma
fonte intrínseca, motivações dos indivíduos
trabalhadores. Quanto à motivação dos
indivíduos, ele considera que a necessidade
de controle funciona como uma estratégia
de coping para lidar com as demandas de
trabalho.
é dirigido a um nível somático ou psíquico
para reduzir a sensação física desagradável de
um estado de estresse. Já o coping focalizado
no problema constitui um esforço para
atuar na situação que originou o estresse,
buscando alterá-la e, assim, diminuir a
tensão. O coping focalizado no problema
pode ser direcionado externamente, e inclui
estratégias tais como negociar para resolver
um conflito ou solicitar ajuda de outra pessoa,
ou internamente, que, em geral, compreende
reestruturação cognitiva como, por exemplo,
a redefinição de um elemento estressor. A
escolha da estratégia pelo indivíduo depende
da avaliação da situação estressora, em que
são julgados o risco envolvido e as opções
para lidar com o problema. Se as situações
forem avaliadas como modificáveis, o
coping focalizado no problema tende a ser
mais utilizado, enquanto aquele focalizado
na emoção tende a ser empregado nas
situações consideradas inalteráveis. Para os
autores, qualquer tentativa para lidar com o
estressor é vista como estratégia de coping,
independentemente de seu resultado.
Folkman e Lazarus (1980) conceituam coping
como um conjunto de esforços cognitivos e
comportamentais utilizados pelos indivíduos
como estratégia para lidar com demandas
internas ou externas em situação de estresse,
avaliadas como sobrecarga ou excesso
aos recursos pessoais. Constituem ações
deliberadas que podem ser aprendidas,
usadas e descartadas, e funcionam como
mediador entre um estressor e o resultado
dele advindo.
Com base na teoria de Folkman e Lazarus
(1980) e Siegrist (1998) prevê ajustes
cognitivos e comportamentais, estratégias de
coping para lidar com uma condição de alto
custo e baixo ganho como consequência dos
processos de avaliação cognitiva; evidencia,
entretanto, que uma limitação dessa
abordagem é a submissão dos processos de
informação afetiva à consciência. Esse autor
considera que o efeito negativo associado à
experiência de desequilíbrio entre esforço e
recompensa no trabalho não necessariamente
está submetido ao despertar da consciência,
especialmente em experiências diárias
cronicamente recorrentes.
Folkman e Lazarus ainda propõem duas
categorias de coping: uma que é focalizada
no problema, e outra, na emoção. O coping
focalizado na emoção é definido como um
esforço para regular o estado emocional que
é associado ao estresse ou que é o resultado
de eventos estressantes, tem como função
alterar o estado emocional do indivíduo e
O modelo ERI difere do JDC em dois aspectos.
O primeiro enfatiza mais a recompensa que
o controle, e inclui aspectos do mercado de
trabalho (salário, perspectiva de promoção,
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segurança no trabalho), aspectos do local de
trabalho e também um componente intrínseco
pessoal. O modelo ERI prevê também um
estilo pessoal de coping para lidar com as
demandas, denominado overcommitment,
que define como um conjunto de atitudes,
comportamentos e emoções que refletem um
esforço excessivo em combinação com um
forte desejo de ser reconhecido e estimado.
Pessoas caracterizadas por overcommitent
exageram seus esforços além dos níveis
considerados apropriados. Adicionalmente,
o modelo ERI incorpora duas fontes de
informação, a situacional (extrínseca) e a
pessoal (intrínseca) para avaliar experiências
de estresse no trabalho (Tsutsumi et al., 2001).
O modelo ecológico
frequência ou duração. Nessa perspectiva,
torna-se importante, então, identificar os
componentes desse sistema, assim como
sua interação dinâmica, que determinam,
aceleram o curso ou disparam o sintoma,
para intervir preventiva ou terapeuticamente.
Levi (1988) considera ainda que esse processo
constitui um sistema cibernético com contínuo
feedback, e que é preciso conhecer o conteúdo
de cada um desses aspectos, suas interações e
a dinâmica de todo o sistema para que ações
sejam implementadas. O autor também leva
em conta o fato de os modelos de Karasek e
Theorel – JDCS – e o modelo proposto por
Siegrist – ERI – serem complementares ao
modelo ecológico e suplementares entre si.
O modelo do NIOSH
A ideia central do modelo proposto por Levi
e Kagan (Levi, 1998), denominado modelo
ecológico (ecological model), é de que as
situações ocupacionais ocorrem em uma
estrutura e em um processo social, enquanto
os estímulos psicossociais atuam sobre o
trabalhador, que se caracteriza por seu
programa psicobiológico, ou seja, pela sua
propensão a reagir segundo certos padrões
que podem ser modificados, e interagir com
variáveis como o apoio social e o repertório
de coping, que podem funcionar como
protetores.
O NIOSH define estresse no trabalho como
as nocivas reações físicas e emocionais que
ocorrem quando as exigências não se igualam
à capacidade, aos recursos ou às necessidades
do trabalhador, como resultado da sua
interação com as condições de trabalho, o
que pode levá-lo a doenças. Apoia a ideia de
que as condições laborais têm papel principal
nas causas do estresse, ainda que não se
possa ignorar a importância das diferenças
individuais e de outras situações que podem
intervir para fortalecer ou debilitar a influência
desses fatores (NIOSH, 2004).
Para Levi (1988), as reações são provocadas
pela ação recíproca ou por desajustes entre
as oportunidades e as exigências inerentes
ao meio e às necessidades e expectativas
individuais. Quando o ajuste não é bom,
quando não se atende às necessidades ou
quando há esforço em excesso, o organismo
reage através de diversos mecanismos
patógenos, que podem ser cognitivos,
afetivos, comportamentais ou fisiológicos,
e em certas condições de intensidade,
O NIOSH (2004) distingue um conjunto
de condições que pode causar o estresse
ocupacional: o desenho do trabalho (trabalho
pesado, descansos infrequentes, turnos e
horas de trabalho longos, trabalhos frenéticos
e de rotina, que têm pouco significado ou que
não usam as habilidades dos trabalhadores
que provêm pouco sentido de controle), o
estilo da gestão (ausência de participação na
tomada de decisão, falta de comunicação
na organização, ausência de uma política
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favorável à vida da família), relações
interpessoais (ambientes sociais inadequados,
falta de apoio e ajuda de companheiras e
supervisores), papéis no trabalho (expectativas
de trabalho mal definidas ou impossíveis de
alcançar, demasiada responsabilidade e
funções múltiplas), preocupações com a
carreira (insegurança no trabalho e falta de
oportunidade para o crescimento pessoal,
o fomento ou a ascensão, mudanças
rápidas para as quais os trabalhadores não
estão preparados) e condições ambientais
(condições desagradáveis e perigosas).
Embora essa proposta do NIOSH (2004)
não constitua um modelo consensual, não
especifique o efeito da interação entre as
várias condições de trabalho, nem explicite
minuciosamente as capacidades, os recursos
ou as necessidades dos trabalhadores,
apresenta um modelo genérico que integra as
abordagens anteriores e enfatiza as condições
laborais como importantes elementos a serem
priorizados em uma abordagem coletiva.
A proposta considera também as variáveis
mediadoras do indivíduo ou da situação,
como as estratégias de coping e o apoio
social, que intervêm no processo entre as
condições estressoras de trabalho e o risco
de doenças, também concebendo o estresse
ocupacional como decorrente de fatores
psicossociais presentes no ambiente de
trabalho, que evidenciam desajustes entre as
características das pessoas e o seu ambiente
laboral.
em consequência, condições de trabalho
que favorecem a utilização das habilidades
do trabalhador bem como possibilitam o
controle do trabalho e oferecem apoio social
podem proporcionar saúde e bem-estar. Por
outro lado, situações de fracasso, mudanças
de posição na hierarquia, impossibilidade de
comunicação espontânea e manifestação de
descontentamento relativa à organização ou
ao trabalho, fatores relacionados ao tempo e
ao ritmo, níveis de atenção e concentração
para a realização de tarefas, combinados com
o nível de pressão exercida, podem provocar
tensão e, por conseguinte, sofrimento
e distúrbios mentais. Esse sofrimento é
evidenciado não apenas pelas doenças mas
também pelos indicadores de absenteísmo e
pelos conflitos interpessoais e extratrabalho
(Brasil, 2002).
Considerações Finais
As abordagens aqui apresentadas constituem
importantes modelos explicativos do estresse
ocupacional e enfatizam, em uma perspectiva
de saúde coletiva, que a sua prevenção deve
focar a adaptação do trabalho às expectativas,
habilidades e necessidades do trabalhador,
através do monitoramento dos fatores
psicossociais no trabalho. Verificamos que
os modelos sequencialmente apresentados
se complementam, incorporando
gradativamente elementos que interagem,
que vão desde aspectos do contexto de
trabalho às características do indivíduo ou
da situação, e que podem funcionar como
moderadores ou determinantes do estresse
ocupacional.
O trabalho funciona como importante medida
de integração social tanto pela dimensão
de subsistência quanto pela dimensão
simbólica, essencial na constituição das
pessoas. Também ocupa um espaço central
na dinâmica do seu investimento afetivo e,
Apesar da evolução desses modelos de
compreensão do estresse ocupacional,
no sentido de concebê-los como
multideterminados, ainda não se incorporam
fatores externos ao ambiente de trabalho que
podem influenciar na sua constituição.
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Contrariamente ao que poderíamos esperar,
alguns autores (Aguiar, 2002; Antunes,
2002) registram que as novas técnicas de
gestão empresarial não se diferenciam, na
essência, das práticas antigas. Ao que parece,
essas práticas aumentam o controle sobre os
indivíduos pela adesão e pela interiorização
de regras. Mesmo as políticas que convidam
à participação e à autonomia têm os mesmos
objetivos que as antigas práticas disciplinares,
entretanto, possuem uma aparência mais
sofisticada, lógica e científica quanto à
gestão de pessoas. Os procedimentos são
disciplinadores por ampliarem o controle
sobre o indivíduo, e têm impacto na ordem
política, econômica, ideológica e psicológica.
As práticas de gestão de pessoas implementadas
na nossa realidade, que incorporam estratégias
de participação dos trabalhadores, têm
sido bastante questionadas, visto que essa
participação tem sido visualizada quase
sempre na perspectiva da adesão aos modelos
organizacionais. Nesse sentido, é necessário
que as organizações desenvolvam práticas de
gestão que adotem a efetiva participação dos
trabalhadores nos processos de trabalho de
forma a possibilitar o bem-estar e a promoção
da saúde psíquica.
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Ana Lúcia Pellegrini Pessoa dos Reis, Sônia Regina Pereira Fernandes & Almiralva Ferraz Gomes
Ana Lúcia Pellegrini Pessoa dos Reis
Doutoranda em Saúde Coletiva pela Universidade Federal da Bahia, Bahia, BA – Brasil.
E-mail:
[email protected]
Sônia Regina Pereira Fernandes
Doutora em Saúde Coletiva pela Universidade Federal da Bahia, Bahia, BA – Brasil.
E-mail:
[email protected]
Almiralva Ferraz Gomes
Doutora em Administração pela Universidade Federal de Lavras, Bahia, BA – Brasil.
E-mail:
[email protected];
[email protected]
*Endereço para envio de correspondência:
Av. Paulo VI, 2240, AP 604 Itaigara, Salvador – Bahia – Brasil CEP 41810-001.
Recebido 5/2/2009, 1ª Reformulação 29/3/2010, 2ª Reformulação 20/5/2010, Aprovado 24/5/2010.
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