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Selos do humor e da arte crítica

2024, Jornal A Tarde

Artigo de opinião sobre crítica social a partir das artes, especialmente cinema e cartoon humorístico

OPI N IÃO SALVADOR SEXTA-FEIRA 6/9/2024 DESTAQUES DO PORTAL A TARDE Suposto 4º filho de Gugu avança em disputa por herança atarde.com.br/entretenimento Ex-BBB Nego Di é denunciado pelo MP por estelionato A3 www.atarde.com.br 71 3340-8991 (Cidadão Repórter) 71 99601-0020 atarde.com.br/brasil (WhatsApp) Reprodução / Record EDITORIAL O perigo da arraia Empinar arraia – como se diz em baianês castiço – exercita a imaginação, em atividade movida a energia limpa, alegrando de crianças a idosos, especialmente neste período do ano, quando as correntes de vento são convidativas, mas recomenda a prudência acautelar-se nas manobras dançantes, em desenhos riscados ao céu. Uma boa ideia é a de manter distância da rede elétrica, por risco de acidente com potencial de gerar ferimentos e até levar a óbito o adepto do esporte de lazer, com boa inclinação de unir pessoas em convívio agradável ao ar livre. O Parque dos Ventos, na Boca do Rio, é um endereço da prática espalhada por todaacidade,privilegiando-seaslajeseos locais onde as “decolagens” e os “voos” geram a beleza dos movimentos e dos coloridos dos brinquedos de baixo custo. Uma boa ideia é a de manter distância da rede elétrica, por risco de acidente com potencial de gerar ferimentos e até óbito Há quem acrescente à ditosa arte um quêdecompetição,aofazerdalinhauma arma, com o tempero de vidro moído ou outro artifício qualquer, visando “cortar” o barbante de um outro aficionado, comemorando-se aos gritos de “lá vai ela!” ou similares, o fato de ter desestabilizado o colega de entretenimento. Estescomportamentosreprodutoresde ações de combate, superando a plena harmonia, geram prejuízos, conforme apurou A TARDE junto à concessionária de energia: somente nestes oito meses de 2024, mais de 83 mil pessoas sofreram interrupção de luz artificial a partir de danos causados em 221 ocorrências. A aventura inspirou os deputados federais a aprovarem o texto de um projeto de lei proibindo o uso de cerol ou assemelhado em “pipas” e ”papagaios”, como preferem nomear os habitantes de outras regiões, notadamente o Sul e o Sudeste, onde somente no Estado de São Paulo, 3.658 casos foram confirmados. Caso o Senado aprove a proposta na íntegra, serão estabelecidas penas de detenção e multas para os desvios de ludicidade, representados em perigo para grupos sociais, como motociclistas, ameaçados de serem atingidos com gravidade no pescoço, quando a velocidade dos veículos encontra o fio envenenado. As charges publicadas neste espaço expressam as opiniões de seus autores CAU GOMEZ A maior invenção da humanidade Armando Avena Escritor, jornalista e economista, membro da Academia de Letras da Bahia – ALB [email protected] A Selos do humor e da arte crítica Antonio Carlos da Silva Centro de Estudos Globais da Universidade Aberta Vanessa Cavalcanti Programa de Pós-Graduação de Estudos Interdisciplinares sobre Mulheres, Gênero e Feminismo, Universidade Federal da Bahia E m 1957, no Festival de Cannes, o diretor e roteirista sueco Ingmar Bergman recebeu o prêmio especial do júri com o filme “O sétimo selo”. Nele, a alegoria da morte é sutilmente caracterizada pela incerteza com relação ao futuro. Sem negligenciar a insegurança frente ao presente (cada vez mais tênue e fluido através de guerras travadas em nome da religião e sob a máscara do poder) e o fenômeno da caça às bruxas para encobrir as raízes históricas da xenofobia, do racismo e da intolerância com respeito ao Outro. O cavaleiro Antonius Block e seu fiel escudeiro Jöns retornam à casa atormentados pela dúvida e remoídos pelas ci- Fundado em 15/10/1912 Presidente: JOÃO DE MELLO LEITÃO catrizes do remorso – que somente encontra alívio, não redenção, nos desencontros dos caminhos. Afinal, conforme puderam constatar nas Cruzadas, a crença acrítica pode resultar na maior atrocidade contra a humanidade. Assim, a fé perdida na providência é parcialmente reencontrada na beleza de uma trupe itinerante (um casal de acrobatas e seu bebê) que representa, na essência, a comédia humana. Uma indulgência para protelar a própria morte, pois o quixote bergmaniano tinha consciência de que não era Sísifo para enfrentar a Morte neste inelutável xadrez da Vida. Com o espírito apocalíptico fomos visitar a IX Bienal de Humor Luiz D’Oliveira Guimarães, em Penela (Portugal). O evento, que contou com artistas dos mais diversos países – independente de gênero, raça, etnia, credo e culturas – abarcou a resistência e a resiliência humana contra a barbárie. A pretensão inicial era finalmente conhecer o albanês Agim Sulaj, homenageado na bienal juntamente com “o António” a maior referência do cartoon em Portugal. No entanto, grata surpresa, logo na entrada da CONTROLLER: Lucas Lago RELAÇÕES INSTITUCIONAIS: Luciano Neves COMERCIAL: Marluce Barbosa MARKETING: Izabelly Nunes A TARDE E MASSA!: Luiz Lasserre CONTEÚDOS E PROJETOS ESPECIAIS: Mariana Carneiro PORTAL A TARDE: Caroline Gois RÁDIO A TARDE FM: Eduardo Dute exposição encontramos duas obras do brasileiro Cau Gomez: “A Lenda” e “Fêmeas e a Resistência” (2024). A primeira conduz para uma reflexão tipicamente bergmaniana. O traçado de Gomez – sua marca registrada, pois domina os efeitos inebriantes de luz e sombras – apresenta a morte a ler para duas crianças, cada qual a representar na sutileza da vestimenta sua origem judaica/palestina. O cenário, um abrigo de bombas, está parcialmente iluminado não por fugas de luz, mas pelo rastilho da esperança. A Morte – não a ceifadora de vidas, mas o Hades grego – ao substituir o xadrez de Bergman pela mística dos contos/das parábolas apresenta na alegoria da Paz a possibilidade de alçar voos de/para Liberdade expressa nas faces contamplativas dos miúdos. Sábio Cau Gomez, grandioso Bergman. É com humor (humore em latim) que conseguiremos suplantar as idiossincrasias da condição humana sob a égide da discórdia. Por isso, se vale a pena viver neste Mundo, não perguntes por quem os sinos dobram, eles dobram por nós. ASSOCIADA À SIP SOCIEDADE INTERAMERICANA DE IMPRENSA MEMBRO FUNDADOR DA ANJ - ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE JORNAIS ASSOCIADA AO IVC INSTITUTO VERIFICADOR DE COMUNICAÇÃO PREMIADA PELA SOCIETY FOR NEWS DESIGN maior das invenções humanas foi a lei. Sem ela não haveria civilizações, mas, apesar disso, uma parte da humanidade parece desejar ardentemente o retorno a um mundo sem leis, ou seja, ao caos. Recentemente, um cidadão, recém-emancipado pelas redes sociais, indagou-me, desafiador: Por que preciso cumprir a lei? A fadiga às vezes domina-me o espírito ao ver as bobagens que andam por aí e pensei em apenas informar ao meu interlocutor que o Estado, que possui a prerrogativa de fazer, julgar e executar a lei, detém o poder de polícia e que só isso já explicaria por que ele precisa cumprir a lei. Mas fui adiante e tentei lhe fazer ver que a evolução humana que, já sabemos, não segue em linha reta, pelo contrário, tem avanços e retrocessos ao longo dos séculos, não pode prescindir do mais importante instrumento civilizatório criado pelo homem: a lei. Nada se pode construir, quando não existe um código de regras que orientem a comunidade e que impeçam, no dizer de Thomas Hobbes, que “o homem se torne o lobo do homem”. A lei é a maior invenção humana e sem ela ainda seríamos neandertais. O que buscava o profeta Moisés quando, em meio ao caos em que se encontrava seu povo, subiu ao Monte Sinai para orar ao seu Deus? Buscava leis, leis que pudessem limitar o homem, que dessem limites aos homens e mulheres do seu povo. E Deus lhe deu as tábuas da lei, com as quais vai fundar uma nação. Muito antes dele, em 1750 a.C., o rei babilônico Hamurabi criou um código para governar a Mesopotâmia e, desde então, as civilizações foram criadas sob o manto protetor das leis. E ainda hoje as civilizações mais avançadas estão abrigadas sob esse manto, que se constitui num código de leis, não mais dado por Deus, mas pelo povo e que se chama Constituição. Meu interlocutor não ficou satisfeito: Se é assim, por que dividir o poder? Lembro-lhe, então, do rei Salomão, que concentrava todo o poder, e das duas mulheres que a ele se apresentam dizendo, cada uma, ser mãe de uma mesma criança e pedindo sua deliberação. Salomão desembainha sua espada e decreta que vai cortar a criança ao meio e dar metade a cada uma. Uma das mulheres prefere então que o rei dê seu filho à outra, mas não o mate. E então ele dá a criança à mulher que renunciou ao filho. Salomão faz a lei, julga e ele mesmo executa. Mas, imagine o leitor, qual seria o final da história bíblica se nenhuma das mulheres renunciasse à criança. É assim, quando se concentra o poder na mão de um só homem ou de uma só instituição, não há ninguém para ponderar, para propor uma decisão mais razoável, para contrariar a vontade do todo-poderoso, para impedir que uma criança seja cortada ao meio. É preciso dividir o poder, para que o poder limite o poder, diria Montesquieu. E assim, dividido, o poder nunca será total, será independente, mas terá que buscar a harmonia. SEDE: RUA PROFESSOR MILTON CAYRES DE BRITO, N.º 204, CAMINHO DAS ÁRVORES, CEP: 41.820-570, SALVADOR/BA, FALE COM A REDAÇÃO: (71)3340-8800, (71)3340-8500, FAX: (71)3340-8712 OU 3340-8713, DE SEGUNDA A SEXTA-FEIRA DAS 6:30 À MEIA-NOITE. SÁBADOS, DOMINGOS E FERIADOS: DAS 9:00 ÀS 21 HORAS; SUGESTÃO DE PAUTA: [email protected], (71)3340-.8991. CLASSIFICADOS POPULARES: (71)3533-0855; CIRCULAÇÃO: (71)3340-8603; CENTRAL DE ASSINATURA: (71)3533-0850.