CULTUR, ano 13 - nº 02 – Jun/2019
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AL-MUTAMID: de Rei-Poeta, a Rota Turística e Cultural
ALEXANDRA RODRIGUES GONÇALVES1
Recebido em 31.07.2019
Aprovado em 30.09.2019
Resumo
Al-Mutamid é uma personagem mítica na história do al-Andalus cuja vida despertou o
interesse de especialistas e do público em geral. Viveu em Portugal, Espanha e Marrocos,
onde acabou por morrer no exílio imposto pela poderosa dinastia Almorávida. A rota alMutamid estende-se de Lisboa a Granada, passando por Huelva e Sevilha. É uma das
estradas mais ricas do al-Andalus, uma vez que a herança monumental da Andaluzia é
adicionada à de Portugal do período muçulmano. Esta rota, com dois ramos, abrange o
canto sudoeste da Península Ibérica fazendo um percurso pelas terras portuguesas até à
capital da Andaluzia. Portugal muçulmano era uma parte consubstancial do al-Andalus. As
fronteiras entre a Espanha muçulmana e os reinos cristãos do norte mudaram ao longo dos
séculos. Durante o califado chegaram ao Douro, mas no período Almoada já estavam a sul
do Tejo. Nada separava as áreas do al-Andalus que mais tarde se tornaram parte de
Portugal. A rota estrutura uma narrativa baseada numa herança cultural comum a Portugal
e Espanha, tendo na sua origem a convicção de que as rotas culturais são um elemento
fundamental na construção de uma relação de benefícios mútuos entre cultura e turismo.
Este trabalho resulta de uma estreita colaboração com a Fundação Pública Andaluza- El
Legado Andaluzi, no período de 2013 a 2018 , e discute boas práticas com vista ao
desenvolvimento de rotas turísticas e culturais.
Palavras-chave: Rota Cultural. Rota Turística. Rota de al-Mutamid. Turismo Cultural.
Universidade do Algarve, Escola Superior de Gestão, Hotelaria e Turismo. Centro de Estudos Comparatistas
da Universidade do Algarve,
[email protected]
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Introdução
“Al-Mutamid is so fascinating that sometimes we do not know well
where legend and myth end and the real man begins.”
Adalberto Alves, 1999.
Em 1987, o Conselho da Europa iniciou a programação de um conjunto de rotas culturais
com o objetivo principal de demonstrar como as raízes da identidade europeia podem estar
na base da fundação de uma visão de cidadania partilhada. Este programa tem hoje mais
de 30 rotas certificadas que promovem a diversidade e a identidade cultural da Europa.
Entre as rotas do Legado Andalusi está a rota Al-Mutamid, apontada como um estudo de
caso de boas práticas. São muitos quilómetros que ligam os dois países, locais, cidades e
bens culturais (tangíveis e intangíveis) sob temas comuns. É uma rota cultural
transfronteiriça, que une dois países a partir da diversidade de um legado de origem árabe.
O presente trabalho estrutura-se em quatro pontos principais e estabelece uma relação
estreita com a história comum entre o património de origem árabe nas regiões do Algarve
e da Andaluzia, aborda a importância dos valores do Conselho da Europa e do
reconhecimento desta Rota Cultural neste âmbito.
Os valores patrimoniais e a cultura comum são amplamente refletidos na personagem do
rei-poeta Al-Mutamid, que nasceu em Beja em 1040 e morreu em Agma (Marrocos) em
1095, tendo sido designado governador de Silves com apenas 12 anos de idade. Adalberto
Alves, um dos mais consagrados arabistas portugueses, apelidou Al-Mutamid como o poeta
do destino. É uma personagem tão fascinante que algumas vezes se torna difícil definir os
limites entre o que será a realidade e o mito (Alves, 1996 e 1999).
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1. Breve enquadramento conceptual
Perante uma massificação da atividade turística, com o seu apogeu na segunda metade do
século XX, associada ao turismo balnear, que se caracterizou nos países do Mediterrâneo
pela monocultura, pela degradação do meio ambiente, pela sazonalidade da procura e pela
associada banalização do produto, surgiu a necessidade de proteção do património natural
e cultural (Gonçalves, 2005). É deste período a Carta Internacional do Turismo Cultural
(ICOMOS, 1976). Com a produção deste documento, o International Council of Monuments
and Sites vem determinar a importância de associar benefícios para as comunidades,
resultantes do desenvolvimento do turismo cultural. O desenvolvimento sustentado da
atividade turística relacionada com a cultura e o património está diretamente associado à
cooperação entre os diferentes agentes e atores da comunidade (ICOMOS, 1976). De facto,
o património cultural e o turismo têm vindo a transformar o seu inter-relacionamento,
assistindo-se à emergência da preocupação em assegurar que o turismo seja respeitador
das culturas e do ambiente, e que a receita gerada seja utilizada para a preservação dos
recursos patrimoniais, e para o reforço do desenvolvimento cultural. O desenvolvimento de
rotas e itinerários é um dos princípios recomendados também na Carta Internacional do
Turismo Cultural. Uma breve nota para reconhecer que a criação e o desenvolvimento de
rotas turísticas e culturais é uma das formas mais adequadas para fazer circular os fluxos
turísticos pelo território e conduzir os visitantes (nacionais e estrangeiros) a visitar lugares
menos reconhecidos internacionalmente, contribuindo assim para um desenvolvimento
equilibrado e sustentado do turismo nos territórios.
As rotas culturais do Conselho da Europa enquadram-se nas tendências de
desenvolvimento do turismo cultural:
[…] alcançaram um impacto e progresso notáveis nas últimas duas décadas e mostraram
um enorme potencial para a geração, o agrupamento, a criação de redes (diálogo
intercultural) e a promoção da imagem do Conselho da Europa e da Europa em geral.
As Rotas Culturais incentivam a ampla participação da comunidade em atividades culturais,
sensibilizando para um património cultural comum. Estabelecidas em princípios culturais e
sociais, as Rotas Culturais representam um recurso para a inovação, a criatividade, a
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criação de pequenas empresas e o desenvolvimento de produtos e serviços de turismo
cultural. (Conselho da Europa e Comissão Europeia, 2011, p. 6)
Estima-se que quatro em cada dez turistas escolhem o seu destino com base na sua oferta
cultural: "O turismo cultural foi recentemente reafirmado pela UNWTO como um elemento
importante do consumo turístico internacional, representando mais de 39% das chegadas
turísticas " (Richards, 2018, p. 12). Também outros estudos têm revelado que o turismo
cultural é importante para reduzir a sazonalidade, como é o caso do de Cisneros-Martinez
e Fernández-Morales (2015), sobre a Andaluzia.
Os recursos patrimoniais possuem uma forte ligação com o território, que emerge como
espaço em que se desenvolveu a atividade humana ao longo dos tempos (Martos e Santos,
2004). A proteção e a dinamização destes recursos têm conduzido à procura de soluções
que possibilitem um desenvolvimento sustentado do potencial destes recursos. Num
relatório de 2009, a OCDE reconhecia, sobre os impactos da cultura no turismo, que tem
havido um uso excessivo da cultura para afirmar distintivamente alguns destinos e que o
surgimento de uma “economia simbólica” pode trazer novos impulsos de criatividade e uma
renovação da competitividade que emerge sobretudo como oportunidade para destinos
sem património cultural construído relevante ou monumental.
No planeamento estratégico, em turismo, as recomendações são diversas, incluindo:
estruturar e desenvolver itinerários experienciais; desenvolver ações de sensibilização;
garantir um sistema eficaz de sinalização das principais atrações; manter uma boa rede de
informações turísticas; melhorar as condições do turismo acessível em termos de
infraestruturas, equipamentos e serviços; estruturar e divulgar um calendário de eventos
regionais (Jamal & Getz, 1995).
O rápido crescimento a que o turismo cultural assiste impõe que se verifique o seu
planeamento de forma integrada e inclusiva, para que se possa alcançar os desejados
resultados positivos. Os itinerários culturais possibilitam ao Homem a partilha de
conhecimento, a concretização de emoções e a procura de uma dimensão transcendente
nas suas vidas (Trono & Oliva, 2017). O sucesso das rotas e itinerários culturais não tem a
ver com o facto isolado de existirem monumentos, museus e outros elementos patrimoniais,
mas envolve cooperação, trabalho em rede entre os diferentes atores da cultura e do
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turismo (Pattanaro & Pistocchi, 2016).Para o Conselho da Europa uma rota cultural é: “um
projeto de cooperação cultural, educacional e de turismo, visando o desenvolvimento e a
promoção de um itinerário ou de uma série de itinerários com base numa rota histórica,
num conceito cultural, numa figura ou fenómeno com importância e significado
transnacional para a compreensão e o respeito de valores europeus comuns” (Conselho da
Europa, 2013, p. 3, Appendix to Resolution CM/Res(2013)66).
Os critérios que determinam a certificação de uma rota pelo Conselho da Europa estão
estabelecidos na mesma resolução e incluem:
1)
o tema ter que ser representativo dos valores comuns a pelo menos 3 países da
Europa;
2)
o tema ter que ser investigado e desenvolvido por grupos de especialistas de
natureza multidisciplinar de diferentes regiões da Europa para assegurar que as atividades
e os projetos possuem o consenso dos parceiros;
3)
o tema dever ser ilustrativo da memória, história e património da Europa e contribuir
para uma interpretação da diversidade da Europa atual;
4)
o tema dever proporcionar intercâmbios culturais e educacionais para jovens e,
portanto, estar em consonância com as ideias e preocupações do Conselho da Europa
nestes campos;
5)
o tema dever permitir o desenvolvimento de iniciativas e projetos exemplares e
inovadores no campo do turismo cultural e do desenvolvimento cultural sustentável;
6)
o tema dever possibilitar o desenvolvimento de produtos turísticos em parceria com
agências e operadores turísticos que trabalham diferentes públicos, incluindo grupos
escolares.(ver Conselho da Europa, 2013, p. 9, Appendix to Resolution CM/Res(2013)66).
As rotas culturais assumem-se assim como plataformas de inovação e desenvolvimento de
turismo sustentado. No Algarve, num estudo sobre o turismo cultural desenvolvido para a
Região de Turismo do Algarve, a Rota do Rei Al-Mutamid é referida como um dos recursos
ou produtos identificados como sustentando a identidade da região (RTA, 2014).
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Tabela 1- Recursos e produtos culturais que sustentam a identidade da região do Algarve
Categoria
Património histórico
Gastronomia e Vinhos
Rotas
Usos e costumes
Subcategoria
Fortaleza de Sagres /Promontório de
Sagres
Ruínas de Milreu
Monumentos megalíticos de Alcalar
Centros históricos urbanos
Fortificações e castelos
Património religioso
Cataplana
Peixe fresco
Xerém
Doçaria diversa
Dieta Mediterrânica
Pedestres (via Algarviana, Rota
Vicentina)
Rota dos Descobrimentos
Rota de Al-Mutamid
Rota da Cortiça
Folclore
Artesanato
Tradições
Fonte: Adaptado de RTA, 2014, p.191.
2. Investigação e metodologia
Foi utilizado o método de pesquisa descritiva com a finalidade de analisar os valores
culturais e patrimoniais do legado histórico associado ao rei al-Mutamid em ambas as
regiões - Algarve e Andaluzia. Para o efeito verificou-se um estudo profundo de documentos
e obras de natureza histórica e literária, com o apoio de técnicos especialistas em
património, história da herança árabe e turismo, partindo de uma revisão bibliográfica
composta pelos principais arabistas e estudiosos destas temáticas. A finalidade foi
estabelecer um “padrão” que possibilitasse a aplicação junto aos objetos empíricos. Como
objeto empírico, ficou definida a rota al-Mutamid e os locais incluídos no itinerário da região
do Algarve. Esta rota foi escolhida por estar enquadrada como itinerário cultural do
Conselho da Europa e merecer ampla referência no setor turístico, pelo passado comum
entre as duas regiões, e por possuir um reconhecido potencial de desenvolvimento.
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Partindo dos conceitos apresentados pelos historiadores e técnicos de património, bem
como da literatura disponível, o trabalho analisa assim o desenvolvimento destes objetos
empíricos, abrangendo o potencial e a importância que estas rotas assumem para o
crescimento do mercado de turismo cultural na Bacia do Mediterrâneo.
O estudo terá caráter essencialmente qualitativo, com ênfase na observação e estudo
documental, ao mesmo tempo que será necessário o cruzamento dos levantamentos com
toda a pesquisa bibliográfica já feita. Existem diferentes caminhos para se fazer uma
pesquisa qualitativa, todavia, uma vez que fomos parte no desenvolvimento do projeto, o
acesso ao objeto de pesquisa e aos dados secundários demonstrou-se facilitado. A
metodologia utilizou indicadores determinados pelo Conselho da Europa e Comissão
Europeia (2011, 2013), mas também outros estudos de caso existentes (Pattanaro &
Pistocchi, 2016).
3. História e inventário de recursos
Al-Mutamid, ou Muhammad Ibn Abbad, foi filho e sucessor do rei de Sevilha al-Mutadid.
Para a História, ficou conhecido como rei-poeta, pelo seu amor à poesia. Os seus versos
chegaram até nós e neles podemos apreciar a capacidade dos sevilhanos para rimar.
Nomeado governador de Silves com apenas doze anos, teve uma cuidadosa educação que
incluía tanto as artes guerreiras quanto as belas artes. Em Silves, passou talvez os seus
melhores anos. Em 1069 ascendeu ao trono de Sevilha, o reino mais forte entre os que
surgiram no al-Andalus após a queda do califado de Córdoba. Excelente poeta, al-Mutamid
cercou-se em Sevilha dos melhores escritores da época e afirmava-se que seria na corte
sevilhana de al-Mutamid onde era preciso procurar os “melhores engenhos” do mundo
árabe ocidental, de acordo com o arabista Juan Vernet (1958). No entanto, a sua estrela
terminou rapidamente com um convulsivo e frágil al-Andalus. Em 1088, foi destronado pelos
almorávidas e teve de se exilar em Agmat, a sul de Marrakesh, sorte que compartilhou com
AbdAllah, o último rei zirí de Granada, outro homem de letras.
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Figura 1 – Mapa da Rota de Al-Mutamid
Fonte: http://rutadealmutamid.com/pt-pt/
3.1 A rota em Portugal
Lisboa (Figura 1) é o ponto de partida desta rota. As paisagens vigorosas da foz do rio Tejo,
na costa atlântica, abrigam a grande cidade de Lisboa. Os seus alargamentos e estreitos
fundem-se no estuário do Tejo. As montanhas têm vista para o mar, as planícies proliferam
e as margens são densamente povoadas. Apesar das dimensões da grande cidade que
hoje é, Lisboanão pode esconder o seu passado. Na direção leste, fica Évora, nas planícies
do Alto Alentejo, onde predominam planícies pontilhadas de azinheiras e sobreiros, campos
de trigo e colinas cobertas de mato e montanhas mediterrâneas. A cidade universitária de
Évora tem uma longa história.
Na estrada para o sul, Beja aparecerá pela primeira vez nas planícies alentejanas. Nos
tempos islâmicos, Beja, que antes era romana, era uma das cidades mais importantes de
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Garb al-Andalus, principalmente durante os primeiros séculos. Al-Mutamid nasceu aqui,
quando a cidade dependia do reino de Sevilha. No entanto, o símbolo representativo de
Beja não lembra o rei-poeta, mas o rei cristão Dom Dinis, cuja torre do Tributo construiu e
permaneceu como emblema da cidade. Aqui existem abundantes planícies de culturas de
cereais, olivais e pastagens que se expandem em direção à costa atlântica, até ao curso
do rio Sado, junto ao qual está localizada Alcácer do Sal, no distrito de Setúbal. O estuário
possui a classificação de reserva natural devido aos seus valores ambientais. Esta é uma
população que tem uma conversa extraordinária e incessantemente com o rio Sado. Mais
ao sul, no Baixo Alentejo, fica Mértola. Para chegar à cidade não há nada melhor do que ir
de barco, navegando rio acima pelo Guadiana. Após uma confortável navegação a 70
quilómetros do mar, esta localização privilegiada como porto de exportação de produtos
agrícolas e de mineração do interior do al-Andalus permite ao viajante ver a cidade
estendida do castelo até a margem do rio, o que a torna compreensível a forma como a sua
alma foi moldada e a sua história determinada. Para nós, a cidade foi tomada pelos Abades
de Sevilha nos dias de al-Mutadid (século XI), pai do al-Mutamid a que é dedicada a rota.
A seção que estamos interessados em comentar agora, e que foi marcada, liga a região do
Algarve português, o al-Garb dos árabes, à província de Huelva.
A povoação de Aljezur deve ter sido nos tempos muçulmanos quase uma ilha cercada por
uma lagoa marítima, pois corre ao longo da costa portuguesa na direção leste. A região do
Algarve tinha características especiais nos tempos islâmicos que a diferenciavam resto de
al-Andalus. De certa forma, teve um caráter levantino desde os primeiros momentos da
chegada dos árabes à Península Ibérica, talvez também devido à sua localização
geográfica. Existem três cidades que o geógrafo al-Idrisi destaca nessa região: Silves,
Santa Maria do Algarve (Faro) e Mértola. Aljezur foi fundada pelos árabes que ocupavam a
área mais ocidental de al-Andalus. Chamavam-lhe al-Yazira (a ilha) no século X. Foi a
cidade que permaneceu mais tempo nas mãos árabes, e cuja influência regional cai no
século XIII com o avanço cristão. Desde então evidencia-se o Castelo de Aljezur, que foi o
último reduto árabe conquistado pelos cristãos em 1249. Um passeio pelas ruas sinuosas
e labirínticas da cidade, algumas ainda com uma estrada medieval, transporta o visitante
para os tempos distantes da medina árabe.
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A cidade de Sagres está localizada no canto sudoeste da Europa, onde a Serra do
Espinhaço de Cão delimita o leste do Algarve e separa o resto da região, cujas encostas
marítimas, cortadas por falésias, terminam na Ponta da Piedade para o sudeste, e na Ponta
da Carrapateira para o noroeste. O seu vértice sudoeste bifurca-se em várias cabos, como
Cabo São Vicente, Ponta de Sagres e Ponta de Atalaia. É conveniente saber que o Infante
Dom Henrique obteve a permissão real para fundar uma cidade na ponta de Sagres no ano
de 1443. Aqui o Navegador viveu os seus últimos dias. Da sua Vila do Infante, podia ver as
águas selvagens do Atlântico, provavelmente sonhando com uma última viagem. Al-Idrisi,
sempre preciso na descrição das cidades andaluzas, conta que Madinat Xilb (Silves)
possuía uma grande muralha que a protegia, importantes infraestruturas e que sua
economia se baseava no comércio de madeira. Isso no século XII. O nosso protagonista,
al-Mutamid, foi nomeado governador de Silves ainda criança. Nesta cidade, descobriu a
poesia com Abu Bakribn Ammar, que acabou por se tornar o favorito do jovem príncipe.
Esta cidade é um marco na biografia do “nosso” rei e uma paragem obrigatória na rota.
Albufeira, Paderne e Loulé, são os pontos seguintes de paragem. A primeira é uma cidade
costeira conhecida, um destino tradicional para portugueses e estrangeiros durante o verão.
Nas terras do interior, Paderne aparece como património e tesouro natural. Esta localidade
faz parte desse Algarve secreto e único que às vezes passa despercebido ao visitante. A
atual localização de Paderne remonta ao século XVI, quando o castelo que deu origem à
cidade no século XII foi abandonado. O Castelo de Paderne, outra paragem obrigatória,
ainda pode ser visitado a dois quilómetros ao sul da cidade. Para fechar o triângulo, o
passeio termina em Loulé, al-UIya, de acordo com as crónicas árabes. Esta cidade teve
que emergir numa fase tardia do domínio islâmico e teve o seu tempo de esplendor na era
Almohad, um período ao qual pertencem a maioria dos restos arqueológicos encontrados
na cidade. O recinto amuralhado de Loulé tem cerca de 5 hectares e abrangeu a Alcazaba
desaparecida.
O Algarve tem uma antiga tradição comercial marítima que remonta à era fenícia. A cidade
de Tavira era um importante enclave fenício, localizado ao redor do rio Gilão. A importância
do centro populacional tornou necessária a construção de um muro fenício no final do
século VII a.C. e no início do século III a. C. a colina de Tavira foi abandonada por razões
que até hoje desconhecemos. Vários séculos se passaram antes de Tavira recuperar o seu
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papel passado no comércio marítimo. Com a chegada dos árabes ao Ocidente islâmico,
que era o Algarve para seus novos habitantes, o pequeno centro urbano existente acabou
por se tornar uma cidade de maior projeção, especialmente desde o século XI.
No seu lado português, o itinerário distingue-se por uma orografia, na costa, pontilhada de
cavernas e pequenas grutas, além das suas muitas praias, como a Falésia ou as da Ria
Formosa, na cidade de Tavira. A região é protegida ao norte pelas montanhas de
Monchique e Caldeirão, para que a costa do Algarve desfrute de um clima tipicamente
mediterrâneo, com baixas chuvas ao longo do ano e temperaturas bastante amenas no
inverno. Na parte oriental, o Algarve inclui o Parque Natural da Ria Formosa, com mais de
18.000 hectares e uma das zonas húmidas mais importantes da Europa.
3.2 A rota em Espanha
A seção espanhola começa em Huelva, ainda sob a influência atlântica, e sobe em direção
ao interior da província de Huelva, parando em Niebla e Almonaster la Real até chegar a
Cortegana. O contraste entre a costa de Huelva, a confluência dos rios Tinto e Odiel, a
depressão bética e o interior não pode ser mais claro. Na subida para norte, continuamos
em Niebla, nas margens do rio Tinto, através das terras planas da província de Huelva.
O mar, como saída dos recursos de mineração através de Huelva, foi uma atração para a
instalação em suas terras de civilizações como os fenícios, gregos, púnicos e romanos e,
acima de tudo, a ascensão do reino de Tartesos, que deixou uma marca indelével no chão
de toda a cidade e cujos restos podem ser vistos no Museu de Huelva. Mas Huelva também
ganhou destaque na descoberta da América em 1492. Porém, não foi até os tempos
contemporâneos, com a venda das minas de Rio Tinto para os ingleses, que determinaram
a visão que ainda podemos contemplar hoje desta cidade tranquila. Huelva é marcada por
um grande número de edifícios, religiosos e civis, que merecem uma visita tranquila. A
Igreja de San Pedro é a mais antiga da capital Huelva, construída sobre os restos de uma
mesquita primitiva em estilo gótico mudéjar. A Catedral de Nossa Senhora da Misericórdia,
do século XVII, é uma sede episcopal e, como curiosidade, é preciso dizer que está
originalmente associada à mansão da casa de Medina-Sidonia, a família nobre mais rica e
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poderosa da Europa. O bairro Reina Victoria é um bom exemplo da influência inglesa na
cidade. Construído para abrigar os trabalhadores da Companhia Rio Tinto, ocupa um total
de oito hectares em uma pequena elevação. É uma caminhada pitoresca que nos faz sentir
em outro mundo e em outra época. O outro marco monumental do passado “minerador” da
cidade é o cais da empresa Rio Tinto. A sua presença imponente ergue-se em frente ao
mar e essa estrutura de metal pesado não passa despercebida. Inaugurado em 1876, foi
realizado pelo engenheiro George Barclay Bruce. Todas as estradas conduzem ao mar, e
a gastronomia não poderia ser melhor, por isso não poderíamos deixar a cidade sem provar
os seus frutos do mar e peixes.
Graças à sua posição privilegiada nas margens do rio Tinto e sua proximidade com o
Atlântico, Ilipla (hoje Niebla), consolidou-se na época romana e ganhou importância ao
tornar-se numa sede episcopal e um dos principais núcleos visigodos da região. Mas é claro
que os poderosos habitantes de Tartesos e Cartagineses já haviam passado por aqui,
certamente atraídos pela riqueza mineradora da área e sua proximidade com o mar. A
conquista muçulmana em 712 não fez nada além de reforçar o papel da cidade. Chamado
Labla, abrigava linhagens árabes aristocráticas e tornou-se na capital de uma província cuja
superfície cobria uma grande parte do Garb al-Andalus. Em 1262, foi para a coroa de
Castela do rei Afonso X após um longo cerco. A cidade de Niebla é uma das poucas cidades
da Andaluzia que preservou o seu recinto amuralhado, praticamente intacto. Poucos
enclaves urbanos oferecem uma aparência geral tão surpreendente. Dentro do recinto
amuralhado, destaca-se o Castelo dos Guzmanes, do século XV. Fora dos muros, a ponte
de origem romana sobre o rio Tinto marca o caminho a seguir.
No centro do Parque Natural da Serra de Aracena e dos Picos de Aroche fica Almonaster
la Real. O polígrafo de Huelva al-Bakri, que viveu nos dias de al-Mutadid, pai de al-Mutamid,
refere-se a esta cidade quando descreve a área. Poucas localidades na área se podem
orgulhar de um património histórico tão rico e diversificado. Os primeiros vestígios de
colonatos datam da Idade do Bronze, porém os mais abundantes correspondem à era
romana. Quando os muçulmanos chegaram à Península Ibérica, os berberes
estabeleceram-se principalmente nessa área, assim como em outras áreas montanhosas
da península sul. No século IX, al-Munastir era a população mais importante da região,
capital de um distrito militar e fiscal. Tinha uma cerca murada, uma medina, uma aljava e,
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possivelmente, uma fortaleza da qual não havia vestígios. Dois edifícios emblemáticos
lembram o passado muçulmano e cristão de Almonaster. Por um lado, a Mesquita de
Almonaster, no topo da colina que coroa o Castelo, que foi erguida na época de Abd alRahman II, no século X. E, por outro, a igreja gótica mudéjar de São Martinho, que possui
uma bela capa manuelina do século XVI.
Cortegana, Qartasana ou Qatchana referiram-se a esta cidade montanhosa. O cronista
nascido em Córdoba, al-Hayyan de Qartasana; também é citado no trabalho de al-Bakri
como Qatchana; e ainda mais, o almerianoal-Udri fala dela como Yabal Qatrachana (Sierra
de Cortegana). Parece que a cidade deu o seu nome às montanhas que a cercavam, ou foi
o contrário? O complexo monumental de maior valor patrimonial e que representa, como
nenhum outro, a cidade de Cortegana, é o castelo. Dentro deste edifício fortificado situa-se
o Ermitério de Nossa Senhora da Piedade. A cidade possui inúmeros pontos para
contemplar o seu complexo urbano, que parece perfeitamente integrado no ambiente
natural onde a cortiça é rainha.
Na província de Sevilha, a capital de Taifa, governada por al-Mutamid, é a cidade de Tocina.
A cavalo entre Sevilha e Córdoba, este município é encantador. A sua localização no
coração da Vega Media do Guadalquivir coloca a cidade num local privilegiado para a
agricultura e indústrias derivadas. Na sua paisagem predominam as árvores frutíferas, que
se tornam um espetáculo de cores e fragrâncias na primavera: podemos apreciar as
grandes extensões da flor branca das laranjeiras e da flor rosada dos pessegueiros, árvore
da mesma família que as amendoeiras. Tocina é a terra ideal para o cultivo, e assim tem
sido ao longo da história. Portanto, não é incomum que, após a conquista muçulmana, as
tribos árabes melhor colocadas na escada social se tenham ido estabelecer nessas terras
férteis. Tocina, a Tussana Árabe, adquire relevância especial na rota, pois ai se estabeleceu
o Banu Abbad no século VIII e por muito tempo teve a honra de ser a origem de uma nobre
dinastia, o berço dos Abadíes: o “dos reis patronos e poetas”.
E com Sevilha, brilhante e aberta, a amada capital de al-Mutamid encerram-se os lugares
deste itinerário fascinante. A morada onde o rei produziu os seus poemas mais famosos e
amou a filha de Rumiac, a última companheira Rumaikiya na sua desventura. Nesta cidade,
escavações arqueológicas recentes confirmaram a localização do palácio do Abbadi no
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pátio sevilhano de Banderas, o lendário Al-Qasr al-Mubarak (o Palácio da Bênção), nos
restos de um palácio omíada. Não muito longe, onde hoje se encontra a Torre del Oro, AlMutamid ordenou a construção de Al-Qasr al-Zahi, um pequeno palácio frequentado por
nosso protagonista e onde ele teria conhecido Itimad, que todos conheciam como
Rumaikiya.
4. Análise Empírica do Desenvolvimento da Rota Cultural, recurso-base para um
turismo sustentado?
A criação de itinerários culturais está associada a vários benefícios na relação com o
turismo, pelo que é afirmativa a resposta à questão das rotas culturais como recursos
principais para um turismo sustentado.
O turismo é uma atividade global que se baseia numa descoberta de novos destinos e
novas experiências. Estas rotas culturais têm dado um contributo fundamental para a
alteração da relação que se estabelece ao longo de toda a Europa entre a cultura, o
património e o turismo.
Uma reflexão importante sobre a pressão e os efeitos nefastos do turismo tem sido
acompanhada de um pensamento técnico e científico sobre a conservação e a preservação
do património cultural. A procura dos benefícios económicos e sociais do turismo junto das
comunidades envolvidas, bem como, de uma maior disseminação por todo o território dos
fluxos turísticos tem estado no centro destas rotas. Ainda que os países envolvidos
possuam diferenças (culturais, religiosas, políticas, entre outras) há recursos e
oportunidades partilhadas que estão a construir pontes para o seu desenvolvimento.
Tendo por base a informação disponível e os nove elementos identificados para o
desenvolvimento de rotas culturais (Pattanaro & Pistocchi, 2016), procedemos a uma
análise empírica que nos permite concluir que a Rota de Al-Mutamid carece de uma maior
atenção pelas entidades locais e regionais, ainda que seja uma rota certificada pelo
Conselho da Europa:
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1)
Tema: possui um tema bem identificado e de grande apelo, em face dos recursos
patrimoniais existentes nas duas regiões e do legado também imaterial que
permanece vivo nas tradições e costumes do Algarve e da Andaluzia;
2)
Objetivo: reconhece que o itinerário pretende manter e promover o turismo de
qualidade, baseado num desenvolvimento sustentável e que aposta forte numa
história comum;
3)
Destinos: estabelece pontos de passagem e de paragem que incluem paisagens e
pontos de referência da gastronomia e música tradicional (no Algarve passa em 7 dos
16 concelhos que compõem a região);
4)
Inventário: os recursos foram cuidadosamente identificados, mapeados e registados
ao longo da rota, com a colaboração dos vários municípios;
5)
Acessibilidade: na determinação do percurso não são definidos graus de dificuldade
no acesso físico mas na escolha dos locais a envolver verificou-se essa preocupação.
Faltará determinar com precisão para cada um dos sítios os diferentes níveis de
acessibilidade;
6)
Comunicação: foi desenvolvida uma imagem para a Rota e uma página de internet
onde consta o folheto bilingue da Rota (Figura 2) (http://rutadealmutamid.com/pt-pt/),
assim como foi produzido um guia (em Português e Espanhol). Nos municípios
parceiros foram colocados painéis interpretativos da rota e desenvolvidas visitas de
familiarização com profissionais do turismo, de Portugal e Espanha;
7)
Suporte político: a rota envolveu parceiros como a Confederação Empresarial de
Comércio da Andaluzia (CECA), a Direção Regional de Cultura do Algarve, as
Câmaras Municipais de Silves e de Tavira, e a Associação de Defesa do Património
Histórico e Arqueológico de Aljezur do lado Português; a entidade coordenadora foi a
Fundação Pública Andaluza, El Legado Andaluzi. A rota transfronteiriça une Sevilha à
de Washington Irving e à data era a primeira rota do legado al-Andaluz que chegava
a Portugal. Não se verifica qualquer dinâmica em torno da valorização desta proposta
de visita por outras entidades para além destes parceiros. No sítio da internet do
visitalgarve, sítio online promocional do Turismo do Algarve, faz-se uma ligação na
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divisória
das
rotas
culturais,
para
a
página
do
Rota
de
al-Mutamid.
(https://www.visitalgarve.pt/pt/941/rota-al-mutamid.aspx);
8)
Financiamento: desde o encerramento do projeto europeu (2014) não se conhece que
ocorra outro tipo de financiamento à Rota, para além de apoio pontuais. Alguns
eventos para evocar o poeta têm surgido associados a festivais de música islâmica,
inclusive em municípios que não estiveram no desenvolvimento da rota, como é o
caso de Lagos e Albufeira;
9)
Monitorização: seria fundamental que se verificasse uma monitorização não só do
número de visitantes associados à rota, mas de indicadores que permitissem avaliar
os impactos económicos, sociais, culturais e ambientais da rota, como preconizado
pelo Conselho da Europa e pela Comissão Europeia (Conselho da Europa e Comissão
Europeia, 2011).
Figura 2 – Folheto da Rota de Al-Mutamid
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As dificuldades identificadas estão estreitamente relacionadas com as capacidades de
monitorização dos impactos gerados, com a dificuldade de cooperação para desenvolver
uma agenda de eventos sob o tema da rota envolvendo os seus lugares e com encontrar
novos modelos de financiamento. Contudo, identificam-se também oportunidades que
devem ser evidenciadas, que se traduzem: na emergência de novas narrativas (inovação);
na identificação de um passado comum a conhecer e a valorizar; na interpretação do
património e na sua sinalização; na criação e qualificação de novas ofertas culturais e
turísticas; na criação de novas oportunidades de intercâmbio; em novas dinâmicas e
investimentos, que podem resultar da rota.
William Smith sugere que a interpretação “face-to-face” é a mais poderosa e efetiva, mas
defende que a introdução de tecnologias deve ser bem programada, tendo em conta se é
realmente necessária, bem como os custos de investimento e de manutenção que envolve
(Smith, 2006).No caso de se estar perante um conjunto de atrações, de equipamentos ou
locais que se estabelecem em rede (ou rota, percurso, itinerário, ou eventualmente outro
tipo de articulação para promoção e comercialização do património cultural), será
fundamental a conceção de um sistema de referências nos locais a visitar, para que haja
consistência no projeto e nas mensagens que são passadas ao visitante (Smith, 2006).
Conclusão
O Conselho da Europa possui um conjunto de indicadores definidos para avaliar a
sustentabilidade social, económica e ambiental, das rotas culturais que é fundamental que
comecem a ser utilizados na avaliação das rotas em desenvolvimento e incluem: o grau de
proteção do local; a frequência de turistas (números de visitantes); a intensidade de
utilização da área, por épocas do ano; o rácio de turistas por habitante (considera a média
e o número na época alta); a existência de mecanismos de controlo no planeamento e na
intensidade de utilização; o controlo do desenvolvimento; a gestão do lixo e dos resíduos;
o processo de planeamento; a monitorização da fragilidade dos ecossistemas (espécies e
habitats); o grau de satisfação dos visitantes; a satisfação dos residentes e a sua qualidade
de vida; o contributo do turismo para a economia local (receitas geradas pelo turismo); a
capacidade de carga dos lugares; a frequência da existência de distúrbios; o nível de
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interesse (avaliação da manutenção da atratividade dos lugares) (Conselho da Europa e
Comissão Europeia, 2011; Pattamaro & Pistocchi, 2016, p. 88).
Como recomendação chave propõe-se o desenvolvimento de estratégias de base territorial,
mas que sejam definidas a partir desses recursos e dos seus responsáveis de gestão, com
base em auscultação de públicos e das comunidades locais. As equipas profissionais para
a gestão de projetos serão cada vez mais uma necessidade, assim como, começam a surgir
em várias rotas transnacionais e regionais, a criação de associações para gerir os recursos
envolvidos e potenciar um planeamento em conjunto mais eficaz (vide Conselho da Europa
e Comissão Europeia, 2011).
O diálogo encetado tem sido profícuo e o Conselho da Europa aponta as rotas culturais
como boas práticas de desenvolvimento sustentado. Existe ainda um processo em fase de
implementação que necessita de maior união de esforços entre os agentes da cultura, do
património e do turismo, do sector público, do privado e do terceiro sector, convocando e
envolvendo a comunidade em geral. Este esforço conjunto trará a criação de novo valor e
aumento de capacidade de atração das nossas regiões, pelo que, continuaremos neste
processo e a trabalhar para a sua concretização, bem como, a partilhar e a implementar
novos projetos.
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