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A Religiosa e a liberdade feminina no pensamento de Diderot

2019, Texto Aberto

https://doi.org/10.5281/zenodo.7027539

Este artigo trata da mulher no pensamento do enciclopedista Denis Diderot (1713-1784), por meio da análise do romance A Religiosa, escrito em 1760 e publicado após a morte do filósofo em 1796, no qual podemos destacar os efeitos dos claustros sobre a constituição psicofisiológica feminina e também discutir os cerceamento da liberdade feminina na sociedade francesa do século da luzes, uma questão recorrente na obra do filósofo. Texto Aberto: https://www.uc.pt/fluc/ief/publica/texto_aberto/

A RELIGIOSA E A LIBERDADE FEMININA NO PENSAMENTO DE DIDEROT FABIANA TAMIZARI RESUMO Este artigo trata da mulher no pensamento do enciclopedista Denis Diderot (1713-1784), por meio da análise do romance A Religiosa, escrito em 1760 e publicado após a morte do filósofo em 1796, no qual podemos destacar os efeitos dos claustros sobre a constituição psicofisiológica feminina e também discutir os cerceamento da liberdade feminina na sociedade francesa do século da luzes, uma questão recorrente na obra do filósofo. PALAVRAS-CHAVE Iluminismo; Diderot; mulheres; religião; sociedade. Em 1796[1] foi publicado pela primeira vez o romance[2] A Religiosa,[3] de Denis Diderot (1713-1784), escrito vinte anos antes, fruto de uma brincadeira do filósofo com um grupo de amigos. Diderot, Grimm e um grupo ligado à Correspondance Litteraire, saudosos da presença do Marquês de Croismare, que passava uma temporada no campo, decidiram se aproveitar do interesse do nobre em um caso de grande repercussão ocorrido há dois anos para sensibilizá-lo e trazê-lo de volta à capital francesa.[4] Uma jovem religiosa do convento de Longchamp, que abraçou a vida [1] A obra foi publicada após a morte de Diderot, tal precaução foi adotada pelo filósofo devido aos temas polêmicos apresentados por elas, como destaca Matos: “Na verdade, o que achava é que esses textos, aos quais por vezes confiou suas teses mais ousadas, estavam por assim dizer, acabados ‘demais’ para opinião contemporânea e deveriam, pois, ficar reservados para um público futuro” (Franklin de Matos, O filósofo e o comediante: ensaios sobre literatura e filosofia na Ilustração, (Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2001) 125. [2] Como destaca Matos, no século das Luzes, a filosofia abrangeu várias formas de expressão, buscando realizar o seu ideal de transformar a sociedade: “(...) no século XVIII, a filosofia se acomoda não apenas ao tratado rigoroso, mas também ao diálogo, ao romance, ao conto, à carta, ao ensaio, à peça de teatro, ao verbete de dicionário. Tal diversificação exprime a certeza de que a filosofia não deve ser uma controvérsia entre especialistas, mas intervenção nos destinos da cidade, na vida e na felicidade dos homens” (Matos, O filósofo, 196). [3] O romance, fruto da brincadeira de Diderot e os amigos, foi escrito em 1760, e vinte anos mais tarde o filósofo encaminhou os manuscritos revistos a Meister, responsável pela Correspondance Littéraire, uma publicação restrita, como descreve Bénac: “Como os jornais diários não existiam, no século XVIII, as pessoas ricas e distantes de Paris pediam a escritores que lhes mandassem ‘notícias em mão’. Esta, a finalidade da ‘Correspondance Littéraire’, que Grimm dirigia aos duques de Deux-Ponts, de Saxe-Gotha, aos príncipes de Hesse-Darmstadt, de Nassau-Sarrebruck, à rainha da Suécia, ao rei da Polônia e à imperatriz da Rússia. Redigiu-a de 1753 a 1773 e frequentemente utilizou a colaboração de Diderot. A partir de 1773, confiou a ‘Correspondance Littéraire’ a Meister”. Henri Benac, Introdução a A Religiosa (São Paulo: Círculo do Livro, 1973). [4] Friedrich Melchior von Grimm, “Correspondance Littéraire”, in Denis Didertot, A Religiosa (São Paulo: Círculo do Livro, 1973) 06. n.º 6 | 2019 ISSN: 2184-2388 06 | 2019 TEXTO ABERTO lhe sobreviveram.”[6] Mas durante a troca de cartas entre os amigos e o marquês de Croismare, Diderot[7] decidiu narrar em forma de romance a história desta religiosa. A princípio o seu objetivo era dar veracidade às cartas que redigia, mas no seu desenvolvimento a obra se transformou em uma expressão do pensamento filosófico diderotiano[8], se destacando em primeiro plano o caráter anticlerical da obra - não por acaso que Grimm, ao definir o romance, o chamou de “obra de utilidade geral e pública, a mais cruel sátira já feita contra os claustros”[9]. religiosa por imposição familiar, reclamava na justiça o direito de revogar os seus votos. Mesmo sem conhecer pessoalmente a jovem, o marquês decidiu defendê-la, como relata Grimm: “[...] sem saber-lhe o nome, sem mesmo assegurar-se da verdade dos fatos, foi pleitear em seu favor junto a todos os conselheiros de primeira instância do Parlamento de Paris”[5]. Os apelos do marquês e dos demais defensores não causaram efeito, a jovem perdeu o processo e foi obrigada a continuar no convento. Diderot e os amigos, porém, decidem trazer a jovem de volta à cena, inventando que ela tinha conseguido fugir do convento. Como uma personagem escrita a várias mãos, passam a se corresponder com o marquês como se fossem a jovem, pedindo a ele socorro e proteção. A brincadeira termina com a morte da personagem, uma vez que o marquês ofereceu toda a ajuda possível, mas ela deveria seguir para o campo. Assim, o objetivo de trazer o amigo de volta à Paris tinha falhado. No retorno do marquês a Paris, os amigos esclarecem o ocorrido e, como detalha Grimm, o episódio não abalou a amizade dos envolvidos: “Depois que voltou a Paris, nós lhe confessamos a iníqua conspiração; ele riu-se, como podeis imaginar; e a felicidade da pobre religiosa não fez senão estreitar os laços de amizade entre os que As projeções de Grimm se confirmaram, e o romance provocou repercussões. No século XIX, a obra foi proibida duas vezes, em 1824, por Luís XVIII, e em 1826, por Carlos X, e seus críticos a consideravam obscena e anticlerical. No século XX, resgatada por marxistas como Henri Lefebvre, é considerada um exemplo da dominação empreendida pela religião, além de discutir posições sobre a temática feminina, como a homossexualidade e a dominação.[10] Mas mesmo após mais de um século e meio após sua publicação as reações contrárias também ocorrem, quando um filme inspirando no romance é lançado em 1966 e enfrenta um movimento liderado pela Igreja Católica, que o considerava uma blasfêmia, inclusive a [5] Grimm, “Correspondance Littéraire”, 07. [6] Grimm, “Correspondance Littéraire”, 07. [7] Conforme pondera Wilson, responsável pela biografia do filósofo, um fato pessoal pode também ter influenciado na elaboração: “Talvez Diderot, com os olhos banhados, estivesse soterrado pela memória de sua irmã mais nova, a freira que morreu demente num convento de Ursulinas”. Wilson, Diderot, 433. [8] Wilson, Diderot. [9] Grimm,“Correspondance”, 08. [10] Wilson, Diderot, 437. 2 06 | 2019 TEXTO ABERTO película chegou a ser proibida, porém o governo francês revogou a medida e o filme concorreu à Palma de Ouro do Festival de Cannes daquele ano. O interesse na obra manteve-se vivo, um novo filme foi lançado em 2013 e o livro já foi traduzido para mais de nove línguas, sendo que em francês teve mais de 73 edições.[11] DIDEROT E A RELIGIÃO CRISTÃ Para Diderot, a religião era responsável por grande parte dos males devastadores da história humana, uma vez que em nome da supremacia das suas divindades e crenças religiosas, os homens tratam seus semelhantes como inimigos, como vemos explicitado neste trecho da obra “Colóquio com a Marechala”, na fala do personagem Crudeli, ao que tudo indica, representante do pensamento diderotiano no diálogo: “Pensai que ela criou e perpetua a mais violenta antipatia entre as nações. Não há um só muçulmano que não imaginasse um ato agradável a Deus e ao seu profeta, exterminando todos os cristãos, os quais, de seu lado, não são muito mais tolerantes.”[12] Neste artigo, dividiremos a nossa apresentação em três partes. Na primeira, fundamentaremos de forma breve a posição anticlerical do filósofo, uma vez que este cenário norteará as ações desenvolvidas no romance. Na sequência, apresentaremos os efeitos provocados pelo isolamento do homem do convívio com os seus pares, uma vez que o privamos da sua condição natural, o que certamente desequilibrará sua estrutura psicofisiológica. Para Diderot, esses efeitos serão maiores para o sexo feminino, considerado pelo filósofo mais frágil, como lemos nesta passagem do romance “[...] sou mulher, tenho o espírito frágil, como é próprio do meu sexo”. Na última parte, discutiremos as vocações forçadas, tema a partir do qual Diderot demonstra que a mulher no seu tempo é subjugada e dominada pelo universo masculino, tanto na vida clerical como em sua vida social. Para Diderot, a religião era uma farsa e como tal deveria ser combatida por meio do conhecimento racional.[13] O filósofo considerava que, além de fomentar as guerras e a discórdia entre os homens, as religiões pouco contribuíam com o seu desenvolvimento, pois os devotos agiam de forma virtuosa para barganhar com a divindade, esperando uma recompensa futura, como a vida após a morte, como [11] Conforme as pesquisas levantadas para a elaboração deste artigo, encontramos como edição mais antiga em português uma edição portuguesa, de 1912. Já a primeira versão brasileira ocorreria em 1976, publicada pelo Círculo do Livro, da Editora Abril. [12] Denis Diderot, “Colóquio com a Marechala”, in: Obras I – Filosofia e Política (São Paulo: Editora Perspectiva, 2000), 236. [13] Esta postura diderotiana o distancia de outros dois expoentes do Iluminismo: Voltaire e Rousseau. Schmitt exemplifica essa diferença, comparando o posicionamento de Diderot ao de Voltaire, que defendia a religião como meio de controle social: “Diderot se opõe aos filósofos que, como Voltaire, acreditavam que o cristianismo tivera a virtude de inspirar medo no coração dos homens.” Éric-Emmanuel Schmitt, Diderot ou la philosophie de la séduction (Paris: Albin Michel, 1997), 67. Já em relação ao pensamento do filósofo genebrino, Piva estabelece o padrão de comparação: [...] a filosofia diderotiana se enquadra na vertente que imputava à religião todos os sofrimentos e toda a miséria histórica da humanidade, distinguindo-se, portanto, da tendência que visava a repensar e reformar a religião adaptando-a às novas exigências intelectuais do período, como foi o caso de Rousseau. Paulo Jonas de Lima Piva, O Ateu Virtuoso: materialismo e moral em Diderot (São Paulo: Discurso Editorial; Fapesp, 2003), 111. 3 06 | 2019 TEXTO ABERTO podemos ler neste trecho dos Princípios Filosóficos sobre a Matéria e o Movimento, de 1770[16]: “A suposição de um ser qualquer situado fora do universo material, é impossível. Não se deve jamais fazer semelhantes suposições, porque delas não se pode jamais inferir algo.”[17] Para Diderot, a matéria que compõe o universo se encontra em eterno fluxo, regido pelos conceitos de energia e de movimento. Nesse novo contexto, conforme destaca Lepape, não há mais uma projeção objetiva sobre o mundo e temos, inclusive, uma alteração na percepção do tempo. Isso leva Diderot a definir que toda ciência, estética e filosofia produzidas são interpretações do mundo e não versões definitivas sobre ele.[18] Romano acrescenta que isso ainda não significa uma negação do conhecimento científico:[19] “[...] Se tudo está em fluxo (o que poderia conduzir à impossibilidade de pensar o mundo), nem por isso ele deixa de apresentar sucessivas formas que podem ser conhecidas, desde que não sejam elevadas ao estatuto de absolutamente universais.”[20] atesta a personagem cristã do diálogo: “Como a questão é ganhar o céu, ou por destreza ou pela força, cumpre levar tudo em conta e não descuidar de nenhum proveito. Infelizmente, em vão nos esforçaremos, nossa aplicação será sempre muito mesquinha em comparação ao rendimento que esperamos.”[14] Diderot não acreditava haver uma conexão necessária entre virtude e prática religiosa; acreditava que os homens poderiam ter outros motivos para agir de forma virtuosa e comprometida, como a inclinação natural para a prática do bem, educação ou experiência.[15] Diderot se coloca radicalmente contra a tradição metafísica de inspiração religiosa, em especial a cristã, uma vez que esta defendia o dualismo, que separa a alma do corpo, além de apregoar a existência de uma divindade que seria ao mesmo tempo criadora e ordenadora do universo. Para o filósofo, há apenas uma matéria que compõe o universo, sem que exista um ser externo ao mundo e seu criador, como [14] Diderot, “Colóquio”, 234. [15] Diderot, “Colóquio”, 235. [16]Como destaca Olivier Bloch, os materialistas são naturalmente os seguidores e propagadores mais extremos da crítica antirreligiosa do século: criticam dos preconceitos aos fatores psicológicos envolvidos na crença (ilusão, imaginação, credulidade) e seus impostores, relacionados com os tiranos que promovem o poder. Esse tema, com base em libertina tradição, toma a forma particular do padrão, muito antigo, dos “três” impostores (Moisés, Jesus, Maomé), que ilustra a tese da estreita relação da religião com a política aos interesses dos poderosos e ricos. O pensamento materialista de Diderot não foi uma voz isolada no Século das Luzes; ele fez coro com um grupo de pensadores, entre eles Meslier, La Mettrie, Helvétius, Holbach, que utilizaram a concepção materialista para questionar a dominação religiosa nas diversas esferas do conhecimento que influenciava os valores e as crenças do seu tempo. Ver Olivier Bloch, Le Matérialisme (Paris : Presses Universitaires de France, 1995), 68. [17] Denis Diderot, “Princípios Filosóficos sobre a Matéria e o Movimento”, in: Obras I – Filosofia e Política (São Paulo: Editora Perspectiva, 200), p. 251. [18] Pierre Lepape. Diderot. Paris: Flammarion, 2000, p. 344. [19] Roberto Romano, na obra Moral e Ciência, destaca a aproximação do pensamento diderotiano com a interpretação de Bacon sobre o conhecimento da natureza (ver Roberto Romano, Moral e Ciência, A Monstruosidade no século XVIII (São Paulo: Senac, 2002), 55). A título de exemplo desta aproximação podemos citar o aforismo X do Novum Organum: “A natureza supera em muito, em complexidade, os sentidos e o intelecto. Todas aquelas belas meditações e especulações humanas, todas as controvérsias são coisas malsãs. E ninguém disso se apercebe” (Francis Bacon, Novum Organum (São Paulo: Editora Abril, 1973) 20). [20] Romano, Moral, 54. 4 06 | 2019 TEXTO ABERTO discussão sobre o papel da Igreja Católica no mundo contemporâneo, como salienta Franklin de Mattos: “Na figura de Simonin, ele descreve a monstruosidade oferecida por uma instituição cujo alvo seria salvar o corpo e a alma, mas que, diante da primeira recusa, prende, tortura e mata.”[23] Para Diderot, será necessário pensar o homem no interior de uma natureza em que nada é permanente. Neste cenário, sua proposta será conciliar as transformações que caracterizam a natureza, algo que definitivamente não é levado em conta pela religião, pois esta exige do ser humano uma constância e um comportamento não condizentes com a ordem natural. No romance A Religiosa esses aspectos ficam explicitados nas críticas instituídas aos claustros, que contrariam a tendência à sociabilidade natural dos homens, tema constante na vasta obra do autor, como podemos ler nas palavras de Crudelli: “Acontece às religiões, como às constituições monásticas, as quais todas se esmorecem com o tempo. São loucuras que não podem manter-se contra o impulso constante da natureza, que nos reconduz à sua lei.”[21] Para Diderot, esse conflito transforma o cristianismo em uma religião impraticável, pois, além de almejar o controle das ações das pessoas, propõe o domínio dos seus pensamentos e das suas intenções. Para ilustrar essa posição vamos recorrer novamente ao porta-voz de Diderot, que aponta de forma irônica quais seriam os resultados da prática integral dos princípios cristãos pelos devotos: “Sim, senhora, se desse na veneta de vinte mil habitantes de Paris de conformarem estritamente sua conduta ao Sermão da Montanha [...] E tantos loucos, que o lugartenente da polícia não saberia o que fazer, pois nossos asilos não bastariam.”[22] O romance também possibilita uma Dentro deste contexto, as instituições religiosas, principalmente as que privam os seres humanos do convívio com a sociedade, como os conventos e mosteiros cristãos, ganham um destaque maior por parte do filósofo, uma vez que provocariam desequilíbrios psicofisiológicos irremediáveis aos seres humanos, principalmente às mulheres, como os descritos no romance A Religiosa, que na teoria materialista diderotiana eram os seres mais frágeis. A MULHER NA TEORIA MATERIALISTA DIDEROTIANA No texto Sobre as Mulheres, de 1772, Diderot, imbuído do espírito iluminista, propõe uma reflexão sobre a condição feminina: “Não basta falar das mulheres, e falar bem delas, Senhor Thomas, fazei ainda com que eu as veja, suspendei-as diante de meus olhos como outros tantos termômetros das menores vicissitudes dos mores e dos usos.”[24] [21] Romano, Moral, 239. [22] Romano, Moral, 239. [23] Matos, F. O filósofo e o comediante, p. 200. [24] Denis Diderot, “Sobre as Mulheres”, in: Obras I – Filosofia e Política (São Paulo: Editora Perspectiva, 2000), 228. 5 06 | 2019 TEXTO ABERTO As mulheres foram figuras constantes não apenas em Sobre as Mulheres, mas em toda sua vasta obra, principalmente nos textos que discutiam a teoria materialista, como Sonho de D’Alembert; Continuação do Diálogo; Isto não é um conto; Mme. De La Carlière; A Religiosa; Colóquio com a Marechala; e Suplemento à Viagem de Bougainville. Acrescenta que durante a vida adulta, do início da menstruação à menopausa, há uma forte influência do órgão sobre a vida das mulheres, e compara essa atuação uterina à de um animal em cólera, pois “fica furioso, aperta e sufoca as outras partes.”[28] Ao afirmar que o útero seria o responsável pelas especificidades femininas, Diderot estaria apoiando suas teorias nos estudos médicos desenvolvidos na época sobre as características que determinavam a constituição psicofisiológica feminina.[29] A pesquisadora Ginette Kryssing-Berg afirma que para tanto, Diderot valeu-se dos estudos desenvolvidos na Escola de Medicina de Montpellier: “Para os professores desta escola, as mulheres estavam sujeitas ao ‘estresse uterino’, ao qual elas não podem resistir. Assim, o comportamento feminino é explicado por um desequilíbrio no corpo devido à energia concentrada no útero.”[30] A propósito, Gabrielle Houbre destaca que os iluministas buscaram, por meio da ciência médica, estabelecer um estudo da natureza humana. Para ele, o papel das mulheres era definido pela natureza, que fora cruel em sua formação psicofisiológica, tendo-as feito seres frágeis, de vida marcada pelos ciclos da reprodução, mais suscetíveis aos sentimentos, com uma maior propensão ao histerismo e ao fanatismo religioso. Dentro desse contexto, a mulher é definida por Diderot como um ser de paixões e emoções comandadas pelo útero,[25] uma vez que este define sua identidade, seus pensamentos e experiências. Na obra Elementos de Fisiologia, retoma a questão e define o útero[26] como um “órgão ativo dotado de um instinto particular.”[27] [25] Diderot, “Sobre as Mulheres”, 223. [26] Diderot utilizará o termo matriz para se referir ao útero na obra Elementos da Fisiologia. (Denis Diderot, Éléments de physiologie (Paris : Honoré Champion, 2004) 229). [27] Diderot, Éléments, 230. [28] Diderot, Éléments, 230. [29] Segundo Évelyne Berriot-Salvadore, encontramos duas correntes que discutiam a característica psicofisiológica feminina: uma que argumentava que a mulher era um homem “falho”, ou seja, que a forma feminina não tinha a plenitude alcançada pela masculina, e outra que reduzia a identidade feminina ao seu útero; ambos os discursos remetem à Antiguidade e, mesmo adotando versões diferentes, estiveram presentes até o século XIX: “Na realidade, os fundamentos teóricos deste discurso foram postos em prática a partir dos finais do século XVIII: tudo parece dever jogar-se entre um aristotelismo que reduz o feminino a uma incompletude e um galenismo que o encerra na especificidade inquietante do útero. Da Idade Média ao século XIX, a medicina feminina continua enredada nesta dialética, certamente em prejuízo de mais rápidos progressos tanto em anatomia como em biologia. Mas a perenidade dos estereótipos e a aparente reprodução do discurso mascaram evoluções e rupturas tanto mais difíceis de analisar quanto não seguem necessariamente a cronologia das descobertas científicas: o que muda talvez não seja tanto o conhecimento da natureza e da função de cada sexo – o qual só será dominado no século XIX – mas, sobretudo, a maneira de pensar as suas diferenças na ordem do mundo e da sociedade.”[2]( Évelyne Berriot-Salvadore, “O discurso da medicina e da ciência”, in: Georges Duby e Michelle Perrot, História das Mulheres – Do Renascimento à Idade Moderna (Porto: Editora Afrontamento, 1991) 409.) [1] Ginnete Kryssing-Berg, “A imagem da mulher em Diderot”, Revue Romane, 20 (1985), 103. Disponível em <https://tidsskrift.dk/index.php/revue_romane/article/view/11791/22422 > captado em 20/07/2013. 6 06 | 2019 TEXTO ABERTO Em suas palavras: “Livrando-se pouco a pouco da influência dos antigos e da Igreja, estes se propõem a elaborar uma ciência médica racional fundada na observação da anatomia e da fisiologia que permitisse descobrir a verdade sobre a natureza humana.”[31] Diderot, em Sobre as Mulheres, ilustra as palavras de Houbre, ao desenhar um quadro sobre a natureza feminina tendo como princípio norteador a ideia da mulher ser comandada pelo útero. Este aspecto é salientado por Elisabeth Badinter: “A tese de Diderot é de uma clareza luminosa: a mulher é um ser de paixões e emoções, comandada por seu útero. Todo o resto deduz-se a partir disso.”[32] estremecer.” Piva, em O Ateu Virtuoso, afirma que Diderot considerava a relação das mulheres com a religião uma manifestação histérica: “O fato de terem paixões mais fortes do que as dos homens torna as mulheres mais propensas ao fanatismo religioso. No entender de Diderot, a relação delas com a religião era histérica, sobretudo na juventude. Quando velhas, tornam-se beatas e até loucas.”[35] Nas palavras do próprio Diderot: “Só uma cabeça de mulher pode exaltar-se a ponto de pressentir seriamente a aproximação de um deus, de agitar-se, de descabelar-se, de espumar, de gritar [...].”[36] Este tipo de posicionamento reforçava a ideia de que estaria inscrita na natureza a diferença entre os sexos. Para Diderot, o determinismo biológico não só estabeleceria uma relação mais intensa das mulheres com os sentimentos, mas também explicaria certas doenças consideradas, na época, exclusivas do universo feminino, como o caso do histerismo.[33] Nesta passagem de Sobre as Mulheres, Diderot estabelece um paralelo entre a intensidade dos sentidos femininos e a doença: “Nada é mais contíguo que o êxtase, a visão, a profecia, a revelação, a poesia fogosa e o histerismo.”[34] Em outra passagem, ele também reforça esta visão: “A mulher dominada pelo histerismo experimental tem não sei o quê de infernal ou de celeste. Às vezes, ela me faz Para Diderot, as desvantagens impostas pela natureza, ou seja, pela constituição psicofisiológica. se agravam quando as mulheres eram privadas da liberdade. Assim o filósofo mostra uma das faces da dominação a que as mulheres estão submetidas na sociedade franco-europeia do iluminismo, a face moldada pela moralidade religiosa. Nesse sentido, a obra soma-se a crítica de Diderot sobre a condição feminina desenvolvida em Sobre as Mulheres, mas agora dando foco a como uma instituição poderosa na sociedade de sua época é capaz e moldar a vida feminina. [31] Gabrielle Houbre, “Inocência, saber, experiência e seu corpo no fim do século XVIII e começo do XX” in: Maria Izilda S. de Matos e Rachel Soihet, O corpo feminino em debate (São Paulo: UNESP, 2003) 94. [32] Elizabeth Badinter, O que é uma mulher? (Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1991) 25. [33] No romance Joias Indiscretas Diderot já havia vinculado o histerismo às mulheres, como lemos no seguinte trecho: “- Pois sim, vapores! – disse um petimetre - Cicogne chama-os de histéricos. É como que uma coisa que provém da região inferior.” Diderot, Joias Indiscretas, (São Paulo: Editora Global, 1999), p. 31. [34] Diderot, Joias, 223. [35] Piva, O Ateu, 276. [36] Diderot, “Sobre as Mulheres”, 221. 7 06 | 2019 TEXTO ABERTO tantas virgens loucas? E a espécie humana, de tantas vítimas? Não se sentirá jamais a necessidade de constringir as entradas desses abismos onde as raças futuras vão perder-se? Todas as orações de rotina que aí se fazem valem o óbolo que a comiseração dá a um pobre? Deus, que fez o homem sociável, aprovará que o segreguem? Deus, que o criou tão inconstante, tão frágil, pode autorizar a temeridade de semelhantes votos? Votos que ferem a inclinação geral da natureza poderão ser alguma vez bem observados, a não ser por criaturas desprovidas de bom senso, em que emurcheceram os germes das paixões, e que alinharíamos com justa medida entre os monstros, se nossas luzes nos permitissem conhecer tão facilmente, e tão bem, a estrutura do homem quanto a sua forma exterior? [...] Onde é que a natureza, revoltada contra uma sujeição para a qual não foi dotada, rompe os obstáculos que se lhe opõem, torna-se furiosa, lança a economia animal em uma desordem para a qual não há remédio?[39] A NATUREZA ENCLAUSURADA Para Diderot, a liberdade era uma condição inalienável do ser humano: “[...] O homem nasceu para a sociedade; separai-o, isolaio, suas ideias desunir-se-ão, seu caráter transfigurar-se-á, mil afeições ridículas elevar-se-ão em seu peito; ideias extravagantes germinar-lhe-ão no espírito, como os espinheiros em terra selvagem.”[37] Sendo assim, a instituição dos claustros era um atentado contra a natureza e provocava efeitos colaterais que poderiam desarranjar a “frágil máquina humana”. Como destaca Raquel de Almeida Prado, Suzanne é submetida ao “processo de socialização brutal, que encontra no claustro o símbolo mais forte da submissão do indivíduo.”[38] Em uma das passagens mais célebres do texto encontramos a crítica contundente de Diderot à privação da liberdade promovida pelas religiões e seu alerta quanto às possíveis consequências que ela poderia ter sobre a constituição psicofisiológica: Diderot retomará essa mesma questão em um trecho do diálogo entre o Capelão, representante da moral tradicional, e Oru, porta-voz das ideias diderotianas: Jesus Cristo instituiu frades e freiras? A Igreja não pode absolutamente prescindir deles? Que necessidade tem o esposo de [37] Diderot, “Sobre as Mulheres”, 145. [38] Raquel de Almeida Prado, A Jornada e a Clausura (São Paulo: Ateliê Editorial, 2003), 143. [39] Denis Diderot, A Religiosa (São Paulo: Círculo do Livro, 1973), 111. 8 06 | 2019 TEXTO ABERTO vida reclusa: a loucura. Uma das religiosas, pressionada pela vida enclausurada, enlouquece e põe fim à própria vida. Recorremos às palavras de Suzanne, que descreve a situação: “Desgrenhada e quase sem roupa, ela arrastava cadeias de ferro, tinha olhos desvairados, arrancava os cabelos, batia com os punhos no peito, corria, uivava, lançava, a si mesma e aos outros, às mais terríveis imprecações; buscava uma janela por onde precipitarse.”[42] Oru – Sabes ao menos por qual razão, sendo homem, te condenastes livremente a não sêlo? Capelão – Seria muito comprido e muito difícil explicar-te. Oru – E esse voto de esterilidade, o monge é-lhe realmente fiel? Capelão – Não. Oru – Eu estava certo disso. Tendes também monges mulheres? Capelão – Sim. Oru – Tão recatadas como os monges homens? Capelão – Mais enclausuradas, elas secam de dor, perecem de tédio. Oru – E a injúria feita à natureza é vingada. Oh! Miserável país! Se tudo aí é ordenado como o que contaste, sois mais bárbaros que nós.[40] No convento de Longchamp Suzanne vive os dois extremos da vida religiosa, representados pelas duas superioras que dirigiam a casa em momentos distintos. A primeira, irmã Moni, religiosa por vocação, vivenciava os valores da piedade e da indulgência para com as suas semelhantes, como enfatiza a descrição que Suzanne faz dela: “Era uma mulher consciente, e que conhecia o coração humano, embora ninguém a necessitasse menos; éramos todas as suas filhas. Não via, nunca, senão as faltas que não podia deixar de perceber, ou cuja importância não lhe permitia fechar os olhos.” Em um romance que pretende demonstrar os efeitos maléficos da clausura, a personagem da Irmã Moni parece uma contradição; porém, sua presença se justifica em outra passagem do texto, na qual Suzanne, porta-voz de Diderot na obra, defende a possibilidade de existirem vocações verdadeiras e indica as condições para que isso não fosse considerado um atentado contra a liberdade: Como podemos observar no final dos dois trechos acima, Diderot acredita que, ao isolarmos o homem do convívio com os seus pares, o privamos da sua condição natural, o que certamente desequilibrará sua estrutura psicofisiológica. No romance A Religiosa encontramos vários exemplos dessas consequências no sexo feminino, considerado por Diderot mais frágil do que o masculino, como lemos nesta passagem do romance: “[...] sou mulher, tenho o espírito frágil, como é próprio do meu sexo.”[41] No primeiro convento, Saint-Maire, Suzanne testemunha um dos efeitos da [40] Denis Diderot, “Suplemento à Viagem de Bougainville”, in: Textos Escolhidos. (São Paulo: Abril Cultural, 1979), 151. [41] Diderot, A Religiosa, 110. [42] Diderot, A Religiosa, 40. 9 06 | 2019 TEXTO ABERTO Mas esse apoio, apesar de consolador, será muito pouco para as duras provas que Suzanne enfrentará nas mãos da irmã Sainte-Christine, sucessora da irmã Moni, que, movida por preconceitos religiosos, faz toda sorte de maldades contra suas subalternas, em especial contra Suzanne, que ousara desafiar a Igreja ao pedir na justiça civil a anulação de seus votos. No trecho abaixo Suzanne narra o momento em que, acusada por Sainte-Christine de estar possuída pelas forças do mal, recebe a punição da sua congregação: “[...] religiosas verdadeiras senão as que ficam aqui por seu gosto pela vida retirada, e que aqui permaneceriam mesmo que não vissem em torno de si grades nem muralhas que as guardassem.”[43] Sobre a presença deste personagem na obra, argumenta Raquel Almeida Prado: “A simpatia concedida à Madre Moni, no contraste com a sua sucessora, parece uma concessão rara, no radical anticlericarismo de Diderot, e deve-se não ao repúdio da tirania jesuítica, mas também a um sentimento estético, ainda sensível a manifestações de fervor místico.”[44] E estendi os braços. Suas companheiras os seguraram. Arrancaram-me o véu; despojaram-me sem pudor. Encontram, em meu seio, o retratinho da antiga superiora; tomaram-no; supliquei a permissão de beijá-lo ainda uma vez, recusaram-no. Enfiaram-me uma camisa, tiraram-me as meias, cobriram-me com um saco e conduziram-me, cabeças e pés nus, através dos corredores. Gritei, pedi socorro; o sino soara, porém, advertindo que ninguém aparecesse. Eu invocava o céu e caía por terra, arrastavam-me. Quando cheguei ao fim da escada, tinha os pés ensanguentados e as pernas feridas, meu estado comoveria almas de bronze. Abriram então com grossas chaves a porta de um pequeno lugar subterrâneo, obscuro, onde me atiraram sobre uma esteira que a umidade começara a apodrecer. [...] Meu primeiro movimento foi para matar-me: levei as mãos à Para Diderot, a vocação verdadeira era rara, e somente mais uma personagem - a irmã Ursula - a manifestará no romance, apoiando Suzanne em seus momentos mais difíceis: Se, nos dois últimos dias de minha retratação pública, eu não ferira os pés, fora ela que tivera o cuidado de limpar furtivamente os corredores, e de espalhar, à esquerda e à direita, os cacos de vidros. Nos dias em que estive condenada a jejuar, a pão e água, privava-se de uma parte de sua porção que envolvia em um guardanapo branco e jogava dentro de minha cela. Tiraram a sorte para a religiosa que conduziria pela corda, e fora ela a escolhida; teve a firmeza de procurar a superiora e protestar que preferiria morrer a prestar-se àquela tarefa infame e cruel.[45]. [43] Diderot, A Religiosa, 87. [44] Prado, A Jornada, 147. [45] Diderot, A Religiosa, 121. 10 03 | 2018 TEXTO ABERTO garganta; rasguei as vestes com os dentes; soltei gritos terríveis; uivava como um animal feroz; batia a cabeça contra as paredes; cobri-me de sangue; procurava aniquilar-me antes que as forças me faltassem, o que não demorou acontecer. Passei aí três dias; acreditava-me presa pelo resto da vida.[46] enganava-se, encontravam-se as três atrás de mim, desfeitas em lágrimas; não haviam ousado interromper-se, esperavam que eu saísse, por mim mesma, do estado de transporte e de efusão em que me viam.[47] Em Sobre as Mulheres, Diderot relaciona esse mesmo tipo de delírio à influência do útero na constituição psicofisiológica feminina e narra um caso semelhante sobre os suplícios adotados pelas mulheres quando adeptas da religião: Como podemos ver, a religião aliada aos efeitos provocados pelo cerceamento da liberdade transformava mulheres em carrascos capazes de impingir dor em seu semelhante, por meio da tortura física e psicológica, sem a manifestação de nenhum remorso ou culpa. Segundo elas, agiam em nome de um Deus, que exigia, por sua vez, acima de tudo, obediência e sacrifício. E em nossos dias não vimos uma dessas mulheres que representavam no suplício a infância da Igreja, com os pés e as mãos pregados numa cruz, o flanco trespassado por uma lança, guardar o tom de seu papel em meio às convulsões de dor, sob o suor frio que escorria de seus membros, com os olhos obscurecidos pelo véu da morte e, dirigindo-se ao diretor desse bando de fanáticos, dizer-lhe, não com voz sofredora: “Meu pai, quero dormir”, mas com uma voz infantil: “Papai, eu quero fazer naninha?”[48] Ainda no convento de Longchamp, Suzanne vivencia os delírios religiosos que, segundo Diderot, acometiam as mulheres devido à sua constituição psicofisiológica: Acreditava não me haver dirigido a Deus com mais consolação e fervor, o coração palpitava-me com violência; esqueci em um instante tudo o que me rodeava. Não sei quanto tempo permaneci nessa posição, nem quanto ainda permaneceria; fui um espetáculo bem tocante, porém, pode-se acreditá-lo, por minha companheira e pelas duas religiosas que me sucederam. Quando me levantei, pensei estar sozinha; No último convento por onde Suzanne passa, o Saint-Eutrope de Arpajon, ela vivencia a questão da repressão da sexualidade nos claustros. Diderot já havia tratado dessa questão no romance Joias Indiscretas, em que um sultão detentor de um anel intima vaginas a confidenciar suas aventuras. Encontramos nessa obra o [46] Diderot, A Religiosa, 76. [47] Diderot, A Religiosa, 82. [48] Diderot, “Sobre as mulheres”, 222. 11 06 | 2019 TEXTO ABERTO seguinte trecho sobre as instituições religiosas: achava que eu tinha o hálito puro, dentes alvos, lábios frescos e rubros.[50] O sultão aproveitou a oportunidade para conhecer algumas particularidades da vida daquelas moças. Seu anel interrogou a joia de uma jovem reclusa chamada Cleanta, e a joia, pretensamente virginal, confessou dois jardineiros, um brâmane e três cavaleiros, e contou que evitou um escândalo graças a um medicamento e duas sangrias. Zeferina confessou por intermédio da sua joia, que devia ao moço de recados do convento o honorável título de mãe. Uma coisa, porém, surpreendeu o sultão: que, embora estas joias sequestradas se explicassem em termos assaz indecentes, as virgens a quem pertenciam ouviam-nas sem enrubescer. Isto levou-o a conjeturar que se naqueles retiros havia falta de exercícios, em contrapartida havia muita especulação.[49] Diderot descreve em A Religiosa intensas trocas de carícias entre a madre superiora e Suzanne, que por duas vezes as levam ao orgasmo. A relação das duas provoca ciúme na preterida da madre superiora, irmã Thérèse, o que demonstra que as relações amorosas e sexuais dentro do convento tinham o mesmo enredo das vivenciadas no mundo livre. No desenrolar da trama, encontramos uma Suzanne confessando os encontros com a madre superiora e todo o julgamento do ponto de vista religioso sobre o assunto. A madre superiora, em conflito com a sua tendência sexual e atormentada pela culpa imposta pela religião cristã, adoece e morre, sendo assim mais uma vítima dos tormentos provocados pelo claustro. É importante observar que o filósofo apresenta uma posição ambígua sobre o tema. Diderot não via na homossexualidade[51] um mal em si, como podemos atestar na obra Continuação do Diálogo. Entretanto, especificamente em A Religiosa, a interpreta como a manifestação de um corpo em desequilíbrio. Fazia parte da constituição psicofisiológica da madre superiora uma tendência para a volúpia que, confinada e moldada por uma doutrina religiosa defensora da continência e da castidade Na obra A Religiosa, Suzanne tem relações homossexuais com a madre superiora, que tinha por hábito trocar benefícios por favores sexuais: Desde então, logo que uma religiosa cometia alguma falta, eu intercedia por ela e tinha certeza de obter a graça pedida mediante qualquer favor inocente: era sempre um beijo, ou na testa ou no pescoço, ou nos olhos, na face, na boca, nas mãos, no colo ou nos braços, mais frequentemente na boca, [49] Diderot, Joias Indiscretas, 41. [50] Diderot, A Religiosa, 142. [51] Neste ponto, podemos acrescentar que Diderot repete um preconceito da época, que considerava os conventos locais de práticas homossexuais, como afirma Houbre: “[...] Diderot de La religieuse [...] renova a crítica tradicional dos universos unissexuados que são os conventos e o internato, considerados lugares de práticas homossexuais.” Houbre, “Inocência”, 100. 12 06 | 2019 TEXTO ABERTO como valores norteadores da conduta feminina,[52] a desequilibrou. Vejamos este trecho do romance: “Ela não foi feita para o estado, eis o que ocorre, cedo ou tarde, quando nos opomos aos pendores gerais da natureza: tal constrangimento a conduz a afeições desregradas, tanto mais violentas quanto são tanto mal fundadas, é uma espécie de loucura.”[53] Roland Desné, em sua análise sobre a relação homossexual entre Suzanne e a madre superiora, diz que ela completa o quadro desenhado por Diderot dos efeitos provocados pelo cerceamento da liberdade nos claustros: “Os três grandes retratos das madres superioras, a visão exaltada (Irmã Moni), a sádica (Irmã SanteiChristine) e a lésbica (Abadessa de Arpajon), ilustram um processo de desumanização que varia e afeta necessariamente a pessoa sem o seu ambiente natural, seus pais, seus amigos e seus concidadãos.”[54] Para Diderot, esse quadro era marcado pelo sofrimento e demonstrava como o afastamento da natureza tinha efeitos devastadores sobre a constituição psicofisiológica, vivendo-se um estado constante de desespero e dor, como conclui Suzanne quando descreve a situação dos religiosos que tomam consciência da sua situação: “[...] então se percebe toda a profundidade dessa miséria, se detesta a si próprio, e detestase aos outros, chora-se, geme-se, grita-se, sente-se a aproximação do desespero.”[55] A PERDA DA LIBERDADE COMO CONDIÇÃO FEMININA Diderot utilizou a história de Suzanne não apenas para explorar os efeitos dos claustros sobre a estrutura psicofisiológica das mulheres, como já vimos anteriormente, mas também para demonstrar que na sociedade francesa do seu tempo poucas jovens entravam na vida reclusa por vontade própria. Sobre isso Franklin de Matos, na obra O Filósofo e o Comediante, afirma: “[...] não é por um movimento espontâneo que a maioria das moças entra para a vida monástica, mas por coação, a fim de resolver questões de honra e dinheiro que afligem certas famílias.”[56] Essa análise diderotiana é um diferencial em sua obra, uma vez que o filósofo sempre buscou demonstrar a situação de opressão vivenciada pelas mulheres. Para ele, desde os primórdios da história humana o sexo feminino foi subjugado pelos interesses masculinos, situação que relegava as mulheres a um plano inferior na sociedade, marcando-as pelo desprezo e rejeição. Elisabeth Fontenay ressalta este aspecto da análise diderotiana sobre as mulheres: “mesmo aceitando com demasiada facilidade a ideia [52] Piva, O Ateu, 270. [53] Diderot, A Religiosa, 186. [54] Roland Desné, La Religieuse (Paris : Garnier-Flammarion, 1968), 10. [55] Diderot, A Religiosa, 186. [56] Franklin de Matos. O Filósofo e o Comediante (Belo Horizonte: UFMG, 2001), 202. 13 06 | 2019 TEXTO ABERTO de uma inferioridade natural da mulher, [...] tomou abertamente, e em todos os planos, o partido das mulheres”[57] , opinião esta compartilhada por Elisabeth Badinter[58] e Paulo Jonas de Lima Piva, que afirma: “Levando rigorosamente em consideração a atmosfera cultural do século XVIII, podemos dizer que Diderot muito se solidarizou com a condição da mulher.”[59] odiosa da parte do outro, cuja ideia não posso tolerar; esse homem surge sem cessar entre nós duas, repugna-me, e o ódio que lhe devo estende-se a ti. Minha filha, pois é malgrado meu, tuas irmãs obtiveram da lei o nome, que do crime te adveio; não aflijas uma pobre mãe que expira, deixa-a descer tranquilamente ao túmulo; que se possa dizer, a si mesma, quando estiver na eminência de comparecer perante o grande juiz, que reparou a falta tanto quanto de si dependia, que pode louvar-se porque após sua morte não trarás novas perturbações à casa e não reivindicarás direitos que não tens.[62] A personagem central do romance, Suzanne, é exemplar dessa condição opressiva. Fruto de uma aventura amorosa da mãe, foi encaminhada para o convento[60] para não partilhar da herança que cabia às irmãs. Sua progenitora, profundamente influenciada pelos dogmas religiosos,[61] a via como um pecado que, para ser redimido, deveria ser isolado, esquecido atrás dos muros dos conventos, como lemos em seu discurso, em que confessa a traição e pede à filha que se resigne com a sua situação: Diderot também aborda o destino de filhos frutos de adultério ao narrar o nascimento de D’Alembert no Diálogo entre D’Alembert e Diderot. O geômetra era filho ilegítimo do Cavalheiro Destouches e da Marquesa de Tencin: “[...] ei-lo nascido, exposto sobre os degraus de Saint-Jean-Le-Rond, que lhe deu seu nome; retirado dos Enjeitados; aferrado à mama da boa vidraceira, Sra. Rousseau.”[63] E reconheço também, minha filha, que me recordas uma traição, uma ingratidão [57] Elisabeth de Fontenay, Diderot y el materialismo encantado (México: Fondo de Cultura Económica, 1988), 136. [58] Badinter, O que é, 18. [59] Piva, O Ateu, 278. [60] Suzanne também havia sido educada no convento, tratava-se de um hábito da época que sofria modificações na sociedade iluminista, como destaca Paulo Jonas de Lima Piva: “Assim, para conter o usufruto do corpo feminino infantil ou juvenil, para não entreter nenhuma escapatória que não a religiosa sobre a sua finalidade matrimonial e maternal, para confiná-lo no espaço conventual e submetê-lo a uma disciplina cronométrica que pontua, uma a uma, as posturas esperadas e convenientes, os usos da sociedade iluminista tem o cuidado de proporcionar interstícios de liberdade que permitem às jovens apropriarem-se parcialmente, se não do futuro de sua identidade corporal, pelo menos de certas variáveis que contribuirão para talhá-lo.” Ver Piva, O Ateu, 96. [61] A ideia de casamentos obrigados é uma constante na obra diderotiana, como podemos ler nesta passagem de M.M. de La Carlière: “Quem não ouviu falar da Sra. de La Carlière? Quem não ouviu falar de suas complacências sem limites para com um velho marido ciumento, a quem a cupidez de seus pais havia sacrificado à idade de catorze anos?” DIDEROT, D. “Madame de La Carlière” in DIDEROT, D. Obras II – Estética, Poética e Contos: Editora Perspectiva, 2000, p. 331. [62] Diderot, A Religiosa, 53. [63] Denis Diderot, “Diálogo entre D’Alembert e Diderot”, in: Denis Diderot, Obras I – Filosofia e Política (São Paulo: Editora Perspectiva, 2000), 154. 14 06 | 2019 TEXTO ABERTO Nas duas situações, verificamos que as crianças nascidas de relacionamentos ilegítimos eram vistas como párias, que deveriam ser isoladas. Roberto Romano comenta que essas crianças eram rejeitadas pela ideologia cristã, apesar desta pregar o amor ao próximo: Entrei nesta nova prisão [referência à sua volta para casa após se recusar a professar os votos], em que passei seis meses, solicitando diariamente, inutilmente, a graça de falar-lhe, de ver meu pai ou de lhe escrever. Levaram-me comida, serviam-me, uma criada acompanhava-me à missa nos dias de guarda, e tornava a trancar-me. Eu lia, trabalhava, chorava, às vezes cantava; e assim é que meus dias se escoavam. Sustentava-me um sentimento secreto: o de que era livre, e que minha sorte, por dura que fosse, poderia modificar-se. Mas estava decidido que eu seria religiosa e o fui.[65] O fato de Suzanne ser filha adulterina não diminui a violência da monstruosidade a que é submetida, com plena cumplicidade materna. Como o bebê jogado para as amas de leite, ela é expulsa de casa para ser controlada por três “mães” de aluguel, as madres superioras. Visto ser a ilegitimidade algo monstruoso, na cabeça do coletivo hipócrita dos bons cristãos ela é monstro. [...] A caridade permanece apenas no discurso, é negada às vítimas inocentes do descontrole sexual.[64] A jovem também ilustra, pela repercussão da sua recusa, o posicionamento da sociedade da época a tal ato: “não se concebe nunca de que maneira pode uma jovem de dezessete para dezoito anos levar as coisas a tal extremo, com firmeza incomum, os homens elogiam muito esta qualidade, mas creio que passam bem sem ela nas que pretendem para esposas.”[66] Diderot também demonstra, na obra A Religiosa, que as mulheres que se opõem à ordem social vigente eram duramente perseguidas. Selecionamos três passagens que ilustram essa situação e também citamos como ela aparece em outras obras do autor, destacando assim a sua perspectiva a respeito da posição de opressão sobre o sexo feminino. A primeira é a do momento em que Suzanne se recusa a professar os votos e, por tal ato de rebeldia, é mantida reclusa em sua casa por seis meses, isolada dos demais membros da família, que não aceitam sua decisão e voltam a impor a vida religiosa à jovem, como lemos no excerto abaixo: A segunda passagem é aquela em que, durante o processo para anular votos, sua ousada atitude provoca duras represálias das demais religiosas: perseguições, torturas e falsas acusações. No relato de Suzanne encontramos a represália da fé cristã contra aqueles que ousavam enfrentá-la. A religiosa, acusada de bruxaria, sofre duras penas por sua posição de rebeldia. Não faltam, no desenrolar da história, cenas que demonstram como tal ato de resistência à vida religiosa era [64] Roberto Romano, Introdução para A Religiosa (São Paulo: Perspectiva, 2008), 35. [65] Romano, Introdução, 47. [66] Romano, Introdução, 51. 15 06 | 2019 TEXTO ABERTO considerado uma afronta que deveria ser exemplarmente punida, como lemos neste trecho: bairro, de casa em casa, e obrigaram-na, por vários anos, a viver só e escondida.[68] Já no final do romance, após conseguir fugir do convento, Suzanne encontra a condenação da opinião pública, que a julga como leviana, por ter trocado a vida religiosa pela mundana: Duas religiosas levantaram o sudário, apagaram os círios, e lá me deixaram, encharcada até os ossos, da água de que me haviam maliciosamente aspergido. Meu hábito secou no corpo. Não tinha o que mudar. A esta mortificação, seguiu-se outra. A comunidade reuniu-se, olharam-me como se olha uma réproba, minha iniciativa foi chamada de apostasia; proibiu-se a todas as religiosas, sob pena de desobediência, de me falar ou acudir, de aproximar-se de mim e até de tocar as coisas de que eu me tivesse servido.[67] Parece que minha evasão tornou-se pública. Esperava-o. Uma das camaradas de trabalho falou-me ontem a respeito, acrescentando circunstâncias odiosas, e reflexões desoladoras. Por felicidade, ela estendia lençóis molhados na corda, voltada de costas para a lâmpada; e não podia notar-me a perturbação; entretanto, a patroa, vendo chorar, perguntou: “Marie, o que tem?” “Nada”, respondi. “Ora”, continuou, “será tola assim, que vá se apiedar de uma religiosa má, sem costumes, sem religião, e que se embeiçou por um monge vilão, com o qual fugiu do convento? Deve ter compaixão de sobra. Ela precisava apenas beber, comer, rezar a Deus e dormir; estava bem onde estava; o que lhe faltava? Se tivesse ido umas três ou quatro vezes ao rio, com o tempo que anda fazendo teria se adaptado a seu estado...” A isso retruquei que só conhecemos bem as nossas penas; melhor faria calando, pois ela não teria acrescentado: “Ora, é uma libertina, que Deus castigará...”[70] Ele também retoma o tema no texto Isso não é um conto. A personagem Srta. La Chaux,[68] por não obedecer aos protocolos sociais e seguir somente seus instintos, entregando-se à paixão por Gardeil, foi perseguida pela família e pela Igreja: Mas esqueço de uma de suas primeiras desgraças; é a perseguição que teve de sofrer de parte de sua família, indignada com a afeição pública e escandalosa. Empregaram a verdade e a mentira para dispor de sua liberdade de uma maneira infamante. Seus pais e os padres a perseguiram de bairro em [67] Romano, Introdução, 93. [68] Segundo Franklin de Matos, na situação que envolve os personagens La Chaux e Gardeil, Diderot assumiu a postura de defesa da sua situação: “[...] na cena com Gardeil e la Chaux, o narrador, como personagem, mostra muita inquietação pela moça, toma seu partido sem qualquer hesitação e argumenta veementemente a favor dela.” Matos, O Filósofo, 101. [69] Denis Diderot, “Isso não é um conto” in: Denis Diderot, Obras II. (São Paulo: Editora Perspectiva, 2000), 316. [70] Diderot, “Isso não”, p. 192. 16 06 | 2019 TEXTO ABERTO Em uma passagem de Suplemento à viagem de Bougainville, os personagens A e B relatam a história de Miss Polly Baker, moradora de uma colônia inglesa na América do Norte, também demonstrando o peso do julgamento da sociedade sobre a mulher. Segundo as leis da colônia, as mulheres que tivessem filhos ilegítimos frutos de relações extraconjugais ou da prostituição - deveriam ser julgadas pelo tribunal. A pena prevista para esse tipo de crime era o pagamento de uma multa e, caso a ré não tivesse condições de quitá-la, eram aplicadas punições corporais em praça pública. Miss Baker comparecia ao tribunal pela quinta vez. Em suas palavras encontramos algumas das exigências morais impostas às contemporâneas de Diderot. A primeira delas diz respeito ao casamento: a mulher reconhecida e valorizada na sociedade é aquela que preserva a sua virgindade até o enlace, resistindo às investidas masculinas. Porém, aquelas que cedem, deixando-se seduzir, sofrem duras consequências: são desprezadas pela sociedade, condenadas pela religião e tornam-se párias sociais. Vejamos um trecho da autodefesa da jovem: consentimento à primeira e única proposição que me foi feita; eu era virgem ainda; tive a simplicidade de confiar minha honra a um homem que não tinha honra alguma; ele me fez meu primeiro filho e me abandonou. Esse homem, todos vós o conheceis; é atualmente magistrado como vós e senta-se ao vosso lado; eu esperava que aparecesse hoje no tribunal e interessasse vossa piedade em meu favor, em favor de uma infeliz que só o é por causa dele; então eu seria incapaz de expô-lo ao rubor da vergonha, lembrando o que se passou entre nós. Estou errada em me queixar hoje da injustiça das leis? A primeira causa de meus extravios, meu sedutor, foi elevada ao poder e às honras pelo mesmo governo que puniu minhas desgraças com o açoite e com a infâmia. Responder-me-ão que transgredi os preceitos da religião; se minha ofensa é contra Deus, deixai-lhe o cuidado de me punir; vós já me excluístes da comunhão da Igreja, isso não basta? Por que, ao suplício do inferno, que acreditais me esperar no outro mundo, juntais o das multas e açoites? Na sequência do diálogo, os personagens A e B contam que a súplica de Miss Baker surtiu efeito e que aquele que a seduzira sentiu remorso e lhe propôs casamento, alterando sua situação perante a sociedade. Na fala do personagem: “convertendo em mulher honesta aquela que cinco anos antes convertera em rapariga pública.”[71] O último trecho evidencia outro ponto fundamental do Mas é minha culpa? Eu invoco vosso testemunho, senhores; vós me supondes certamente com bastante bom senso para estardes persuadidos de que preferiria a harmonia conveniente a uma esposa, assim como tenho a sua fecundidade. Desafio quem quer que seja a dizer que me recusei a aceitar essa condição. Dei meu [71] Diderot, Suplemento, p. 147. 17 06 | 2019 TEXTO ABERTO código moral que atingia as mulheres naquela época: a dependência do juízo masculino. Retornando à Religiosa, mesmo que se trate de uma obra de ficção e, portanto, esteja repleta de cenas dramáticas e até mesmo exageradas, não podemos esquecer que o romance, segundo comentadores, teve inspiração em fatos da vida real. O primeiro deles foi a história da religiosa Marguerite Delamarre, que tentou a revogação dos seus votos e não obteve êxito e o segundo, o fato de Diderot ter tido uma irmã que entrou para a vida religiosa e morreu louca. Assim, podemos observar que se a ficção teve inspiração na realidade, ela não deixa de demonstrar o quanto, para as mulheres do Século das Luzes, a liberdade ainda era um sonho e não uma realidade de fato. Ou seja, o que Diderot mostra em A Religiosa é uma face da clausura feminina que se expressa de forma mais ampla na vida social. Outro ponto que podemos destacar, é que por meio do retrato pintado por Diderot sobre a condição feminina em seu tempo é que existe uma demanda por liberdade, não somente nos claustro, mas também que as mulheres contestam a forma de vida a que estão submetidas, assim ele se apresenta como um porta voz delas, como ele apresenta na obra Sobre as Mulheres: “Não basta falar das mulheres, e falar bem delas, Senhor Thomas, fazei ainda que as veja, suspendei-as dos meus olhos com tantos termômetros das menores vicissitudes dos mores e costumes”.[72] [72] Diderot, Sobre as Mulheres, p. 220 18 06 | 2019 TEXTO ABERTO REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS - Bacon, Francis. Novum Organum. São Paulo: Editora Abril, 1973. - Badinter, Elizabeth. O que é uma mulher? Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1991. - Benac, Henri. “Introdução”, in: Diderot, Denis. A Religiosa. São Paulo: Círculo do Livro, 1973. - Berriot-Salvadore, Évelyne. “O discurso da medicina e da ciência”, in: Duby, Georges e Perrot, Michelle. 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Coordenador: Joaquim Braga Coordenadores de edição: Bernardo Ferro, José Beato Assistentes de edição: Fernando Santor e João Emanuel Diogo Como citar este texto: Tamizari, Fabiana, “A Religiosa e a liberdade feminina no pensamento de Diderot”, Texto Aberto IEF 6 (2019), 1-19. DOI: 10.5281/zenodo.3479211 n.º 6 | 2019 ISSN: 2184-2388