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FIFA: ASPECTOS HISTÓRICOS, ORGANIZACIONAIS E POLÍTICOS
Juliano Oliveira Pizarro1
Carmen Silvia de Moraes Rial1
RESUMO
ABSTRACT
Sendo o esporte um mecanismo cultural
utilizado ao longo do século como incentivo à
paz e à união dos povos, a FIFA possui um
papel fundamental na sua organização em
escala mundial. A presente pesquisa tem
assim o objetivo geral de analisar e
compreender o comportamento da FIFA na
questão histórica de desenvolvimento e seus
aspectos políticos. Busca-se especialmente
observá-la a partir dos anos 1990, devido ao
contexto mundial globalizado e ao contexto
interno ao qual fora submetido a organização
durante a presidência do brasileiro João
Havelange (1974-1998).
FIFA: historical, organizational and political
aspects
Palavras-chave: FIFA. História. Organização.
Política.
The sport is a cultural mechanism used
throughout the century as an incentive to
peace and union of peoples, and the FIFA has
a key role in your organization worldwide. This
research thus has the general objective to
analyze and understand the behavior of the
FIFA in the historical development and the
political aspects. The work aims to understand
especially from the 1990s, due to the
globalized world and the internal context in
which the organization had been subjected
during the presidency of the Brazilian João
Havelange (1974-1998).
Key words:
Policy.
1-Universidade Federal de Santa Catarina
(UFSC), Florianópolis-SC, Brasil.
FIFA.
History.
Organization.
E-mail do autor:
[email protected]
[email protected]
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INTRODUÇÃO
Com a “missão” de organizar o futebol
em âmbito internacional, a FIFA é uma
organização que se autodenomina nãogovernamental e sem fins lucrativos. Contudo,
possui uma gestão corporativa que comanda
um mercado bilionário a nível global,
principalmente a partir do mandato do expresidente João Havelange (1974-1998). Este
foi responsável por introduzir um legado de
cultura de mercado, como a de uma grande
corporação internacional, projetando o futebol
como um produto.
Cada vez mais, a organização cresce
em número de filiados, onde cada
confederação possui campeonatos em nível
interno, mas que são subordinadas às suas
regras internacionais.
A presente pesquisa tem assim o
objetivo geral de analisar e compreender o
comportamento da FIFA na questão histórica
de desenvolvimento e seus aspectos políticos.
Busca-se especialmente observá-la a
partir dos anos 1990, devido ao contexto
global e interno ao qual fora submetido a
organização durante a presidência do
brasileiro Havelange.
MATERIAIS E MÉTODOS
A pesquisa possui duas dimensões de
análise – histórica e organizacional – partindo
para uma discussão das questões políticas
que envolvem a FIFA, onde se busca entender
essa relação, baseando-se principalmente em
fontes bibliográficas, documentais, sites e
pesquisas acadêmicas publicadas.
Os procedimentos metodológicos que
norteiam a presente pesquisa são de caráter
exploratório-descritivo, estudando-se o caso
da FIFA com uma abordagem qualitativa,
buscando compreendê-la como o principal ator
da governança global desportiva, através de
suas características e comportamentos.
RESULTADOS
Em 1974, substituindo Stanley Rous,
tomou posse como presidente da FIFA o
brasileiro João Havelange, sendo o primeiro
presidente não europeu, ficando no cargo por
24 anos.
Foi na gestão de Havelange frente à
FIFA que a entidade passou a ter uma visão
comercial, sendo o futebol visto como um
negócio global.
Primeiramente, Havelange conquistou
a presidência da FIFA e anunciou que
venderia um produto chamado “futebol” ao
mundo, além de apontar como novos
protagonistas do futebol mundial países da
África, Oriente Médio e Ásia, o qual deram a
ele uma ampla base de apoio (Darn, 2011, p.
61-62).
João Havelange tinha um plano de
governança ambicioso para a FIFA. Visava
expandir o futebol para regiões até então
pouco atendidas, fazendo com que essas
ações lhe garantissem sua permanência na
presidência por muitos anos.
Porém, aliado a isso, trouxe à tona a
importância da instituição em possuir parceiros
comerciais, mantendo a parceria com a CocaCola e trazendo a Adidas como sua
patrocinadora e fornecedora de materiais
esportivos.
Sobre os patrocínios desse período,
Giglio (2013, p. 102) aponta que entre os
patrocinadores mais fiéis à FIFA estão a
Adidas e a Coca-Cola.
A Adidas tomou-se ao longo do tempo
uma grande aliada de Havelange (Jennings,
2011; Smit, 2007), porém, ele diz que nem
sempre foi assim: “Quando eu cheguei à FIFA
em 74, a Adidas já era [a patrocinadora] e ela
fez naquela ocasião uma campanha a favor do
Stanley Rous contra mim".
Já a Coca-Cola, muito atenta à
visibilidade e disseminação de sua marca por
meio do esporte, patrocina os Jogos Olímpicos
desde 1928 e segundo Soares e Vaz (2009, p.
488), o contrato com o COI vai até 2020 e ela
“[...] foi uma dessas empresas que nos anos
70 investiu na disseminação da imagem que o
gosto de seu produto atinge todas as culturas,
povos e etnias".
Para Sugden e Tomlinson (1998,
p.25), Havelange teve méritos resolvendo
tensões entre a FIFA e suas confederações
filiadas. Tensão com a Confederação SulAmericana de Futebol (CONMEBOL), por
exemplo, tiveram desfechos pacíficos, pois
Havelange
advogava
em
nome
dos
emergentes do Terceiro Mundo e em nome de
suas demandas, assim como lidava com
empresas e federações.
Além
disso,
outras
grandes
transformações ocorreram no período em que
Havelange assumiu o poder, fazendo com que
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houvesse uma grande mudança e um grande
aumento da entidade. Magalhães (2013, p. 43)
aponta que Havelange, presidente da FIFA
durante 24 anos, comandou um período de
profundas mudanças na organização.
Nadador e jogador de polo aquático
olímpico quando jovem, Havelange se
destacou como administrador de futebol pelo
aumento do número de participantes da Copa
do Mundo da FIFA de 16 para 32, pela criação
de novas competições (os Mundiais Sub-17 e
Sub-20 no final da década de 80; a Copa das
Confederações da FIFA e a Copa do Mundo
Feminina da FIFA no início da década de 90) e
pela maior participação de seleções da Ásia,
África, CONCACAF e Oceania, regiões que
juntas haviam tido apenas três vagas na Copa
do Mundo da FIFA 1974. O número de
funcionários da sede da FIFA em Zurique
passou de 12 para quase 120 em função das
maiores responsabilidades comerciais e de
organização.
Responsável por alguns dos maiores
eventos do planeta, utiliza o futebol como
produto e lucro para o turbo capitalismo
(Keane, 2001).
Principalmente com o ex-presidente
João Havelange, a FIFA inseriu o futebol no
processo
de
globalização,
adotando
planejamentos globais de marketing, através
da associação comercial da organização e do
esporte a corporações multinacionais (Cruz,
2010, p. 37).
Expandindo o futebol, com federações
espalhadas pelo mundo inteiro, o futebol se
tornou um negócio altamente rentável a partir
da gestão de Havelange. Giglio (2013, p. 103)
traz um trecho de uma entrevista com o exdirigente, mostrando que nem sempre foi
assim.
Nela, Havelange fala que em sua
primeira Copa do Mundo em 1978 o resultado
bruto foi de 78 milhões de dólares, 4 anos
depois, no seu segundo mundial à frente da
federação o resultado foi de 82 milhões de
dólares, sendo que hoje em dia a arrecadação
de uma copa do mundo passa dos 2 bilhões
de dólares.
E que, além disso, hoje a FIFA tem
210 países filiados, e com isso, analisando em
média o número de clubes com funcionários,
atletas, comissões técnicas, em média o
futebol emprega mais de 200 mil pessoas, que
esse é o seu maior legado.
Sobre as receitas da FIFA, Ramos
(2011, p.53) aponta em dados da sua
pesquisa que na Fifa, apesar das anuidades
pagas todo dia primeiro de janeiro por cada
uma das suas federações afiliadas - com valor
fixado a cada quatro anos, são iguais para
todos os membros e não devem exceder mil
dólares -, a parcela substancial dos recursos
da organização vem mesmo outras fontes
principais, como: da venda de direitos
televisivos; da venda de direitos de marketing
às empresas parceiras, como Coca-Cola,
Sony, Visa e Adidas; e das taxas pagas por
cada jogo disputado entre seleções nacionais
de qualquer categoria (principal, sub-15, sub20...) no mundo, que destinam à organização
2% de toda receita do jogo, incluindo venda de
ingressos, direitos de propaganda, direitos de
transmissão em rádio e televisão, direitos de
filme e vídeo etc, entre outras fontes.
Em seus 24 anos à frente da
presidência da FIFA, Havelange aumentou
também
os
contratos
publicitários,
transformando a entidade em um grande
modelo empresarial.
Em 2011, já ex-presidente, denúncias1
(1 - Em 2012, o dirigente respondeu às
denúncias sobre seu envolvimento e no
suborno recebido pela empresa Intemational
Sports Leisure (ISL), responsável pela
transmissão das Copas do Mundo e que
trabalhava com o marketing da FIFA) contra
Havelange foram tema de investigação pela
justiça suíça com ampla repercussão na
imprensa mundial. Tais acusações fizeram
com que Havelange renunciasse ao seu cargo
no COI em dezembro de 2011, e em julho de
2012 a justiça suíça tornou públicos os valores
das comissões que teriam sido recebidas,
assim como o processo envolvendo o expresidente (Magalhães, 2013, p. 43-44).
Atualmente, mesmo com os números
apresentados, modelo empresarial claro em
sua gestão e diversas denúncias contra seus
membros, a FIFA continua com o discurso de
ser uma organização sem fins lucrativos, típico
do 3º setor. Recentemente em entrevista, o
ex-secretário-geral Jérôme Valcke (Terra,
2013) disse que não sabe porque é tão difícil
compreender como a FIFA trabalha.
Ele diz que a Fifa vendeu os direitos
comerciais da Copa do Mundo por US$ 4
bilhões, que há mais 19 campeonatos
mundiais de outras categorias, que gastaram
US$ 1,4 milhões a US$ 1,5 milhões na Copa
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do Brasil e ainda ajudam federações em todo
o mundo. São custos que a Fifa que financia, e
afirma a Fifa ser uma instituição sem fins
lucrativos e que tem que investir muito no
futebol. Afirma ainda que gastaram mais de
US$ 350 milhões em outros torneios em todo
mundo, sendo a organização internacional
mais transparente do mundo.
É evidente que após a gestão de
Havelange o futebol transformou-se, que
houve uma grande valorização dos eventos
assim como de muitos profissionais do
esporte. O atual presidente, o suíço Joseph
Blatter, que já trabalhava na FIFA há 23 anos,
assumiu a presidência em 1998 e manteve o
mesmo tipo de gestão, ampliando ainda as
competições organizadas pela entidade, como
o Torneio de Clubes da FIFA, e os mundiais
de Futebol de praia (Beach Soccer) e de futsal
(Giglio, 2013, p. 103).
Contudo, ao final da presente
pesquisa, devido a diversas denúncias e
prisões de membros do alto escalão da FIFA,
mesmo sendo reeleito (Globo, 2015) no 65°
Congresso FIFA para seu 5° mandato à frente
da organização, Blatter convoca novas
eleições – de forma extraordinária – para 2016
e anuncia que não irá concorrer novamente
(Globo, 2015a).
DISCUSSÃO
Com o intuito de internacionalizar e
padronizar o esporte criado pelos ingleses, no
dia 21 de maio de 1904, dirigentes de diversos
países, como Bélgica, Dinamarca, Espanha,
França, Holanda, Suécia e Suíça, reunidos na
capital francesa, Paris, fundaram a Fédération
Internationale
of
Football
Association
(Federação Internacional das Associações de
Futebol), hoje mundialmente conhecida
simplesmente pela sigla FIFA.
Os fundadores criaram os primeiros
estatutos da FIFA, unificando as leis do jogo
para torná-lo justo e claro para todos, e
buscaram estabelecer a base para todo o
futuro desenvolvimento do futebol2 (2 - Favero
(2009, p. 21-22) mostra em seu estudo que:
“Talvez o maior dono do campo do mundo seja
a Fifa. Só para se ter uma ideia, a
Organização das Nações Unidas (ONU)
possui 192 filiados – já a Fifa pode ser
encarada como uma corporação que atua em
208 países [atualmente 210], e a cada ano
aumenta seu alcance global. De 1974 até
2006, houve um crescimento espantoso da
Fifa: ela conquistou 72 novos países (um
aumento de 53%), enquanto a ONU atingiu
mais 61 países (cerca de 46% de acréscimo).
Muitos países procuraram primeiro a entidade
que decide sobre os rumos do futebol, para só
depois pensar se querem fazer parte das
Nações Unidas. A Suíça, por exemplo, decidiu
integrar-se à ONU apenas em 2002, mas já
fazia parte da Fifa desde 1904. Na Oceania,
Tonga entrou em 1994 para a Fifa e somente
em 1999 para a ONU”).
Sob a perspectiva jurídica, Ramos
(2011, p. 40) diz que do ponto de vista
organizacional,
é
considerada
uma
organização internacional não-governamental
(ONGI), gerida segundo o artigo 60 do código
civil suíço – país no qual está sediada, mais
especificamente na cidade de Zurique –, a lei
que governa associações com objetivos
políticos, religiosos, científicos, artísticos, de
caridade, sociais ou qualquer outro que não
seja o industrial. Além da condição de ONGI, a
Fifa ainda beneficia-se da Suíça no que diz
respeito ao status de Offshore Financial
Centre (OFC) do país3 (3 - Artigo 60 do Código
Civil Suíço - Associações que tiverem objetivo
político, religioso, científico, artístico, de
caridade, social, ou qualquer outro além do
industrial, adquirem o status de pessoa assim
que mostrarem através das suas constituições
suas intenções de existirem como corporação.
A constituição deve ser redigida por escrito e
deve determinar o propósito, o capital e a
organização da sociedade. (Darn, 2011, p. 20).
considerável influência econômica da
FIFA confunde a noção de organização
internacional não-governamental com a da
OFC (Offshore Financial Centre), que foi
definido como um centro que acolhe as
atividades financeiras que são separados a
partir de unidades de regulação (Estados) pela
sua legislação. A autonomia política e fiscal da
FIFA (e seu não accountability) é sublinhada
pela localização da sede da FIFA, na Suíça, o
centro internacional de OFC (Sugden,
Tomlinson, 1998, p. 48).
Como qualquer outro esporte, o
futebol tem regras específicas para o jogo.
Contudo, as chamadas Leis do Jogo não são
apenas de responsabilidade da FIFA, são
mantidas pela chamada International Football
Association Board (IFAB).
A FIFA tem membros em seu conselho
(quatro representantes); os outros quatro são
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fornecidos pelas associações de futebol do
Reino Unido: Inglaterra, Escócia, País de
Gales e Irlanda do Norte. As alterações às
Leis do Jogo devem ser aprovadas por pelo
menos seis dos oito delegados4 (4 “Regulations Governing the Application of the
Statutes - V. Laws of the Game” (Fifa, 2015a).
Todas
essas
definições
estão
expressas no Estatuto da FIFA, que contém
toda a forma organizacional institucional e
desportiva da entidade.
Com o esporte sendo uma alternativa
para o bem-estar social, a massificação do
futebol torna-se cada vez maior, o consumo e
o investimento aumentam consideravelmente
a cada ano. A FIFA, com sua hegemonia no
cenário do futebol, surge como um novo e
poderoso ator dentro da governança global. A
partir daí, cabe a análise da governança da
entidade e a de seu controle do esporte. Além
do aspecto simbólico, Haesbaert (apud Darn,
2011, p. 19-20) apresenta outros fatores
importantes para a consolidação da FIFA no
cenário internacional, enfatizando aspectos
políticos e econômicos.
Em relação ao poder político, Darn
(2011, p. 20) versa que na primeira vertente,
do ponto de vista político, o espaço do futebol
é delimitado e controlado e sobre ele incide o
poder de vários atores, a depender de ser uma
prática lúdica ou profissional.
Como o recorte deste trabalho está no
futebol profissional, destacamos o poder
hegemônico da FIFA, que controla toda a
prática profissional do esporte no mundo,
através
das
confederações
regionais,
federações nacionais e estaduais e clubes
onde atuam os atletas.
A difusão da organização da entidade
por todos os continentes e vários países, a
obediência às suas leis e regulamentos, o
poder de movimentar bilhões de dólares em
todo o mundo conferem a ela um poder
soberano no território do futebol.
A autora traz o aspecto político pois o
futebol é um espaço delimitado e controlado
sobre o qual se exerce determinado poder. Em
relação ao aspecto simbólico, afirma que o
futebol é um espaço onde há a concepção de
aspectos culturais, sendo um produto da
apropriação subjetiva do imaginário.
Em relação ao poder simbólico, Darn
(2011, p. 27) aponta que na segunda vertente
sugerida por Haesbaert, a vertente simbólica,
os símbolos no futebol, sua formação e
afirmação, são construídos através das
memórias individuais e coletivas, como
apropriação de poder, que reforçam as
identidades sociais, patrimônios culturais
materiais e imateriais.
Configuram-se como singularidades
marcantes para um time ou seleção de um
país, podendo ser considerados como
“símbolos sagrados”. São exemplos hinos,
flâmulas, bandeiras, mascotes, uniformes,
logomarcas, entre outros.
E, por fim, em relação à ótica
econômica, o futebol é visto como fonte de
recursos no embate entre classes sociais e na
relação capital-trabalho.
No que tange à questão econômica do
futebol, Darn (2011, p. 29) diz que na terceira
vertente, do ponto de vista econômico, o
território do futebol caracteriza-se pela relação
capital-trabalho existente nele, explicada pelo
futebol como produtor que gera várias
possibilidades de emprego e renda, não só
para os atletas na sua prática, mas para uma
cadeia de profissionais que lhe dão suporte.
Bilhões de dólares são movimentados,
anualmente, na “indústria do futebol”.
O aspecto econômico que se insere o
futebol é complexo, fazendo-se necessários
estudos específicos sobre o tema para se
entender sua importância. Um desses estudos
foi o relatório do Plano de Modernização do
Futebol Brasileiro (2000, apud Leoncini; Silva,
2005), realizado pela Fundação Getúlio
Vargas em parceria com a Confederação
Brasileira de Futebol, que traz uma estimativa
que o futebol mundial movimenta, em média,
cerca de 250 bilhões de dólares anuais.
Nesse cenário, a FIFA tem grande
parte do controle, pois há regras para todo e
qualquer tipo de transferência de atletas ao
redor do mundo. A partir daí, cabe a análise da
governança da instituição.
A instituição cresceu muito nas últimas
décadas, tendo em vista sua inserção junto ao
processo de globalização e com o discurso de
valorização ao seu produto, o futebol, se
fazendo valer do soft power. Isso se deu a
partir de uma lógica empresarial, onde se
observa suas características híbridas.
De acordo com Cruz (2010, p. 36), um
dos maiores motores nesse processo de
transformação foi, sem sombra de dúvida, a
nova marca impressa ao esporte levada a
cabo pela FIFA (especialmente durante o
período da presidência do brasileiro João
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Havelange), uma entidade cujo tamanho e
alcance se desenvolveu ao passo da
transformação do futebol em um esporte
verdadeiramente global, tanto esportiva e
cultural quanto economicamente.
De uma organização que estava com
os cofres vazios em 1974 (Yallop, 2002, p.16),
quando Havelange é eleito presidente, a uma
organização que conta com mais filiados que
as Nações Unidas e que durante o período
2003-2006 (ou seja, os quatro anos
compreendidos entre uma Copa do Mundo
(Japão/Coréia do Sul 2002) e outra (Alemanha
2006), gerou recitas na ordem de R$5 bilhões
e 436 milhões, registrando um lucro final para
o período de R$1 bilhão e 369 milhões (Fifa
Financial Report 2006, p.14 e segs).
A FIFA também é quem controla e
decide como e onde serão feitos esses
grandes eventos. Muitas vezes, dita suas
regras, mesmo sendo essas diferentes da lei
do país sede.
Como afirma Favero (2009, p. 69), a
entidade se expande tanto verticalmente
quanto
horizontalmente.
Uma
outra
característica que torna a Fifa uma corporação
é sua ampla escala de operações.
A Fifa organiza torneios, vende cotas
de patrocínio, dita as regras do futebol no
mundo, negocia os direitos de televisão,
fornece produtos licenciados, faz parcerias
com multinacionais, age politicamente sobre a
negociação de jogadores, toma partido em
disputas entre países, proíbe certos tipos de
uniformes ou chuteiras, dispõe sobre os
estádios e os torcedores etc.
Tudo isso também dá à Fifa um
caráter multifuncional, pois ela tem suas
afiliadas espalhadas pelo mundo, participa de
diversos tipos de negócio dentro do futebol e
ainda escolhe onde investir mais ou menos.
Assim, a entidade se expande tanto
verticalmente quanto horizontalmente.
Aumentando o número de países que
disputam a Copa do Mundo para as
confederações que as apoiam, as federações
nacionais têm de seguir seu estatuto.
A FIFA hoje representa tanto seu
poder político como o sucesso do objetivo
principal de seus fundadores: unificar, sob
uma
entidade
mundial,
as
diversas
associações nacionais de futebol que se
formavam com a expansão do futebol
(Magalhães, 2013, p.37-38).
CONCLUSÃO
A FIFA, após o mandato do presidente
João
Havelange,
passou
por
uma
reestruturação e fez com que a entidade se
readequasse às políticas globalizadas de
mercado.
Em termos de número de países
filiados, ele ultrapassa o da própria ONU.
Impressiona
a
estrutura
interna
da
organização, com “divisão” de poderes
institucionais em executivo, legislativo e
judiciário.
Atualmente, o futebol possui um dos
mercados que mais movimenta a economia
mundial, sendo a FIFA responsável por
intermediar e fiscalizar muitas dessas
transações. Através da simbologia do futebol,
exerce influência nos âmbitos político,
econômico e cultural.
Em razão disso, torna-se relevante o
estudo do presente objeto de pesquisa para a
ciência política e para as relações
internacionais.
Identificou-se que a FIFA é uma
organização não-governamental que se auto
apresenta como uma instituição sem fins
lucrativos.
Apesar de seu comportamento oscilar
por
vezes
como
mercado,
expressa
características híbridas e contraditórias na
dinâmica da governança global – ora como
empresa multinacional, ora como organização
do Terceiro Setor, ora como instituição
internacional.
REFERÊNCIAS
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futebol: observações a partir do Brasil,
Argentina e uma Copa do Mundo. Tese de
Doutorado. Universidade Federal do Rio de
Janeiro. 2010.
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futebol e a copa do mundo FIFA 2014 no
Brasil. Tese de Doutorado. Universidade
Estadual Paulista. Rio Claro. 2011.
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e geopolítica do futebol. Monografia.
Universidade de São Paulo. 2006.
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Acesso
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25/06/2017.
Recebido para publicação em 26/08/2017
Aceito em 13/11/2017
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8-Globo. Blatter decide deixar presidência da
Fifa e convoca novas eleições. Acesso em 25
de
junho
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2017
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<http://globoesporte.globo.com/futebol/futebolinternacional/noticia/2015/06/blatter-colocacargo-disposicao-e-sugere-novas-eleicoesfifa.html>. 2015a.
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Revista Brasileira de Futsal e Futebol, São Paulo. v.10. n.37. p.186-192. Maio/Jun./Jul./Ago. 2018. ISSN 1984-4956